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DOENÇAS AUTO IMUNES O sistema imune do ser humano é essencial para a sobrevivência, mas se assemelha a uma “faca de dois gumes”, pois ao mesmo tempo que tem função de proteger o corpo de doenças, ele causa doenças atacando o próprio organismo. Ele pode se apresentar alterado em dois estados: - Imunodeficiência – sistema imune danificado, ineficiente na proteção do organismo, podendo ser adquirida ou congênita. - Hiperatividade – hipersensibilidade, ou seja, sistema imune com grande resposta desencadeando uma condição ruim. Então, o estado do indivíduo de ser incapaz de desenvolver uma resposta imune a um antígeno específico é chamado de Tolerância imunológica. Autotolerância é a falta de responsividade aos antígenos de um indivíduo. As doenças auto-imunes representam a perda da tolerância imunológica. São enfermidade voltadas a formação de anticorpos. As doenças geram inflamação, levando a destruição tecidual e liberação de mais antígenos, ou seja, a doença se “auto-alimenta”. Podem ser órgão-específicas (doença de Hashimoto – auto-anticorpos direcionados para a glândula tireóide) ou sistêmicas/não órgão-específicas (lúpus eritematoso sistêmico). E podem ocorrer devido a: Fatores genéticos – relações familiares que podem ser atribuídas a fatores ambientais; Influências hormonais – mais frequente em mulheres devido as diferenças nos padrões hormonais (níveis mais elevados de estrógeno). Fatores ambientais – fármacos (reação com proteínas próprias estimulando o SI e ocasionando uma inflamação), radiação UV, infecção bacteriana ou virose. Reatividade cruzada de antígenos próprios com antígenos de patógenos. Considerações: são, na maioria das vezes, lesões vesiculobolhosas, com diagnóstico desafiador. As manifestações bucais precedem as manifestações cutâneas, e por isso o CD é fundamental no diagnóstico. LÍQUEN PLANO É uma doença mucocutânea crônica, de fatores desconhecidos, que afeta a mucosa oral. É comum em mulheres +40 anos Placas brancas assintomáticas com radiações/estrias de entrelaçadas semelhantes a um rendilhado que acometem a mucosa jugal, gengiva ou língua BILATERALMENTE. Não tem tratamento, apenas um acompanhamnto. Pode ocorrer associada a estresse (psicossomática) ou as hepatites B ou C. Todo líquen plano requer análise microscópica. Líquen plano reticular: HP: Espessamento, uma placa com ceratose. Linfócitos abaixo do epitélio, e que alguma coisa nesse epitélio está desencadeando essa faixa de linfócitos que acaba estimulando o epitélio a produzir ceratina. Podem sofrer modificações de local, tamanho. Líquen plano atrófico: É a variedade sintomática. Se apresenta como áreas eritematosas, atróficas, com graus variáveis de ulceração central. A periferia das regiões atróficas costuma ser circundada por finas estrias brancas irradiadas. Se a atrofia e ulceração for confinada na gengiva, denomina-se gengivite descamativa. Condição de diagnóstico diferencial com pênfigo vulgar e penfigoide, diferenciando através de biopsia. Se a condição for mais grave, pode ocorrer separação entre o epitélio e o tecido conjuntivo subjacente, resultando em líquen plano bolhoso. Essa variedade de líquen plano é considerada mais preocupante sobre transformação maligna. Manifestações cutâneas: nas extremidades (dedos das mãos e pés) esbranquiçadas ou lesões arroxeadas/avermelhadas com estrias na pele. Períodos de oscilação, não existe regressão total. A fase sintomática é tratada para se tornar assintomática. A biopsia deve ser feita em um local da lesão que compreenda a parte pior da alteração e tecido normal. O laudo microscópico deve ser interpretado adequadamente para que se trace uma terapêutica adequada. Tratamento e prognóstico: No reticular, nenhum tratamento é necessário. Já no atrófico, usa-se corticosteroides. PÊNFIGO Doença auto-imune mucocutânea, com formação de bolhas intra-epiteliais (entre os ceratinócitos que rompem o epitélio - hemidesmossomos), e causada por fatores genéticos associados a fatores externos (drogas, queimaduras, viroses, radiação UV). Existem quatro tipos: vulgar, foliláceo, eritematoso e vegetante. O pênfigo vulgar é o que acomete a mucosa oral. Pênfigo vulgar: É uma condição importante pois leva a morte do paciente se não for tratada. As lesões orais são o primeiro sinal. Os auto anticorpos são dirigidos contra as desmogleínas 3 e 1, componentes dos desmossomos (adesão célula-célula), se aderem nas mesmas e inibem a aderência entre as células, resultando em uma fenda dentro do epitélio e na formação de uma bola intraepitelial. Aspectos clínicos: É comum em adultos (50 anos), causa dor na mucosa oral (por exposição a trauma – fala e alimentação) e no exame clinico exibe ulcerações dolorosas, sendo dificilmente relatado ou visto a formação de vesículas ou bolhas intraorais devido a ruptura precoce. As bolhas, quando presentes são esbranquiçadas, com bordas irregulares que podem cicatrizar e retornar. Sinal de nikolsky positivo – bolha induzida em pele normal por pressão lateral firme/jato de ar, devido deslocamento da camada superficial do epitélio. Possíveis associações – lúpus, artrite reumatoide, síndrome de sjögren. Multidisciplinar – CD e dermatologista. Tratamento e prognóstico: O diagnóstico deve ser feito em fase inicial por facilitar o controle da doença. O tratamento é feito com corticoides sistêmicos, muitas vezes em associação a outros medicamentos imunossupressores. Pode ser resolvido completamente, mas pode recidivar. PENFIGOIDE DAS MEMBRANAS MUCOSAS (PENFIGOIDE CICATRICIAL; PENFIGOIDE BENIGNO DAS MEMBRANAS MUCOSAS) É um grupo de doenças autoimunes muco cutâneas bolhosas crônicas, no qual anticorpos ligados aos tecidos são dirigidos contra um ou mais componentes da membrana basal (laminina e BP 180) e provocam o deslocamento do epitélio e a formação da bolha sub-epitelial (entre epitélio e conjuntivo). Clinicamente é semelhante ao pênfigo, mas difere no prognóstico e na microscopia. Afeta predominantemente a mucosa ocular e oral (principalmente a gengiva) com bolhas mais consistentes. Aspectos clínicos: Comum em adutos (mulheres 50-60 anos). As lesões orais se inicam como vesículas ou bolhas que, na maioria, é identificada clinicamente, diferindo do pênfigo. Essa diferença se explica devido as bolhas do penfigoide serem subepiteliais, produzindo um teto mais espesso e resistente do que a bolha intraepitelial do pênfigo. Eventualmente, quando se rompem, deixam uma área de ulceração superficial, frágeis e de curta duração. As lesões são crônicas, dolorosas e tendem a cicatrizar. O local mais comum é a gengiva, produzindo um padrão de reação clinica denominado gengivite descamativa. Mas outros locais podem ser afetados, como conjuntiva, laringe, genitália, esôfago e pele. Sinal de Nikolsky – é positivo, não diferenciando do pênfigo. É autolimitante: ⅔ anos ativos e depois regride completamente. Diagnóstico: biópsia e imunofluorescência DD: líquen plano eritematoso, LES. LÚPUS ERITEMATOSO Se apresenta em dois tipos: Lúpus Eritematoso Sistêmico: Doença grave que envolve diversos sistemas, com uma variedade de manifestações cutâneas e orais. Ocorre aumento na atividade dos linfócitos B em conjunto com função anormal dos linfócitos T. Aspectos clínicos: É comum em mulheres (31 anos). Os achados comuns são febre, perda de peso, artrite, fadiga e mal-estar. Em metade dos pacientes afetados, aparece um eritema característico em padrão de borboleta sobre a região malar e nasal ou os rins são afetados, podendo levar a insuficiência renal. As lesões orais são comuns no palato, na mucosa jugal e na gengiva, com áreas atróficas, gengivite descamativa, aftas, gengivas e placas vermelhas. Graus variáveis de ulceração, dor, eritema e hiperqueratose podem estar presentes. SÍNDROME DE SJÖGREN É uma doença autoimune crônica sistêmica, de etiologia desconhecida, que envolve principalmente as glândulas salivares e lacrimais,resultando em xerostomia e xeroftalmia. Também pode estar associada a distúrbios reumáticos. Se apresenta de duas formas: Síndrome de sjögren primária – xerostomia e xeroftalmia (síndrome sicca); Síndrome de sjögren secundária – síndrome sicca associada a outra doença autoimune (mais comum = artrite reumatoide). Aspectos clínicos: É mais comum em mulheres (9:1) na 4ª década de vida. Para que seja classificada como síndrome de sjögren, tem-se alguns critérios: - Sintomas oculares – secura ocular, sensação de areia, uso de colírios; - Sintomas orais – boca seca, inchaço das glândulas salivares, ingestão de líquidos para facilitar deglutição; - Sinais oculares – teste de schirmer < 5mm em 5 minutos; - Histopatologia – sialodenite focal linfocitica nas glândulas salivares menores; - Envolvimento da glândula salivar – fluxo < 1,5ml, sialografia exibindo sialectasia na parótida. O principal sintoma oral é a xerostomia. A saliva do paciente pode estar espumosa e escassa no assoalho, com queixas de dificuldades na deglutição, de alterações no paladar ou dificuldade no uso da prótese. A língua se torna fissurada com atrofia das papilas linguais, além de estar seca e grudar na luva durante o exame, igualmente a outros locais da cavidade oral. Na xeroftalmia, o paciente se queixa de sensação de arranhadura, de ter areia nos olhos. Desenvolvem-se defeitos no epitélio da superfície ocular, resultando em visão embaçada. Avaliação da saliva – é realizado um teste estimulado e um não-estimulado: Estimulado: paciente mastiga um pedaço de elático por 5 minutos para induzir a produção de saliva e vai cuspindo em um copo, após isso é coletado com uma seringa e avaliado. Não-estimulado: paciente apenas cospe em um copo a quantidade produzida durante um tempo, e após é colocado numa balança de precisão. Papel do CD: Dar suporte ao paciente com fármacos e saliva artificial. Trabalha em associação a um oftalmologista (receita lagrima artificial) e um reumatologista. ESTOMATITE AFTOSA RECORRENTE (ULCERAÇÕES AFTOSAS RECORRENTES; ULCERAÇÕES DOLOROSAS) Condição que acomete locais principalmente com menos queratinização. As causas podem ser: deficiência de Fe, ácido fólico e complexo B, trauma, alterações hormonais, alergia, predisposição hereditária, imunológico, psicológico, sensibilidade alimentar (glúten), deficiência na barreira mucosa. Ulcerações aftosas menores: é a variante com menor duração. As lesões surgem na mucosa não queratinizada e podem ser precedidas por uma macula eritematosa, tendo como sintomas a queimação, prurido ou pontadas. A ulceração demonstra uma membrana fibrinopurulenta removível, branco-amarelada, circundada por um halo eritematoso. Os locais comuns da cavidade oral são a mucosa jugal, mucosa labial, superfície ventral da língua, fundo do vestíbulo, assoalho da boca e palato mole. Ulcerações aftosas maiores: são maiores e mais profundas que as aftas menores, tem maior duração e podem causar cicatriz. Os locais comuns são a mucosa labial, o palato mole e as fauces amigdalianas. Ulcerações aftosas herpetiformes: são pequenas e se apresentam em grande número, o que leva a semelhança a uma infecção primaria pelo HSV. Acomete qualquer parte da mucosa oral. São diagnosticadas como aftas simples (pacientes com poucas lesões, que se curam em 1-2 semanas) ou aftas complexas (ulcerações orais múltiplas). OBS: herpes oral aparece em áreas queratinizadas (PD e gengiva). Tratamento e prognóstico: Não tem cura, mas deve-se identificar a possibilidade causadora da alteração, como doenças sistêmicas associadas as ulcerações. Por isso, a história medica do paciente deve ser revisada.
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