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Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 50 Módulo 2: Intervenção nas Pastagens No primeiro módulo do curso, você pôde compreender o que é degradação de pastagens, suas causas e seus diferentes graus ou estágios. Nosso foco agora, no Módulo 2, será o estudo da intervenção nas pastagens, com objetivo de entender como recuperar áreas degradadas. Fonte: CNA Brasil / Foto: Wenderson Araujo. Acompanhe os assuntos de cada aula: Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 51 Aula 1 - Formas de intervenção nas pastagens • Recuperação e renovação de pastagens, de forma direta e indireta • Os graus de degradação e as estratégias de intervenção Aula 3 - Intervenção nas pastagens – Etapa 3 • A escolha das espécies forrageiras • A escolha das sementes • O cálculo da taxa de semeadura • Os implementos de semeadura e plantio Aula 2 - Intervenção nas pastagens – Etapas 1 e 2 • O diagnóstico inicial da área • Um modelo de diagnóstico para sua propriedade • Como realizar a amostragem e coleta de solos Aula 4 - Passo a passo para intervenção na área • Mecanização da área • Construção de terraços • Gradagem • Nivelamento do terreno • Calagem e gessagem • Adubação de base Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 52 Aula 1: Formas de intervenção nas pastagens Para recuperar uma área degradada, existem diferentes formas de intervenção nas pastagens, como a recuperação, a renovação e a reforma. Vamos começar entendendo cada um desses termos: A recuperação de uma pastagem caracteriza-se pelo restabelecimento da produção de forragem, mantendo-se a mesma espécie ou cultivar. A renovação consiste no restabelecimento da produção da forragem com a introdução de uma nova espécie ou cultivar, em substituição àquela que está degradada. A reforma da pastagem é um termo mais apropriado para designar correções ou reparos após o estabelecimento da pastagem (MACEDO et al., 2000). Reforma Renovação Recuperação A recuperação ou renovação pode ser efetuada de forma direta ou indireta. A forma direta é quando no processo utilizam-se apenas práticas mecânicas, químicas e agronômicas, sem cultivos com pastagens Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 53 anuais ou culturas anuais de grãos. Já a forma indireta de recuperação ou renovação de pastagens é quando há o uso intermediário de lavouras ou de pastagens anuais (MACEDO et al., 2000; MACEDO, 2001). Recuperação direta Na maioria de suas modalidades, esta prática apresenta o menor risco para o produtor. Ela é aconselhada quando a pastagem degradada está localizada em regiões: • de clima e solo desfavoráveis para a produção de grãos; • com falta ou pouca infraestrutura de máquinas, implementos, estradas e armazenagem, condições de comercialização e aporte de insumos; • menor disponibilidade de recursos financeiros; • dificuldades de se estabelecer parcerias ou arrendamentos e necessidade de utilização da pastagem em curto prazo. Em geral, a recuperação direta pode ser categorizada pela forma como se atua na vegetação da pastagem degradada: sem destruição da vegetação, com destruição parcial da vegetação ou com destruição total da vegetação. Mão na terra Dependendo do estágio de degradação da pastagem, pode-se escolher entre vários métodos de recuperação direta. Em estágios iniciais, apenas ajustes na lotação e manejo da pastagem, ou ainda alguma adubação para corrigir alguma deficiência nutricional, podem ser suficientes. Mas quanto mais avançado o processo de degradação, mais drástica deverá ser a intervenção, com maior número de operações e custos mais elevados. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 54 Recuperação indireta Este processo pode ser utilizado quando a pastagem degradada estiver nas mesmas condições que o caso anterior, mas uma pastagem ou cultura anual será plantada como intermediária no processo de recuperação. Pastagens anuais Como o milheto, a aveia ou o sorgo forrageiro. Culturas anuais De arroz, milho ou sorgo granífero. Pode-se plantar imediatamente, após o preparo do solo, a mesma espécie forrageira – como reforço ao banco de sementes já existente – em plantio simultâneo ou não com pastagens anuais ou com culturas anuais. Nesse caso, o pastejo animal temporário ou a venda de grãos podem ser utilizados para amortizar os custos. Esse sistema tem muitas vantagens, pois permite: • elevação da fertilidade do solo, com amortização parcial dos custos; • quebra de ciclo de pragas, doenças e plantas invasoras; • otimização da mão de obra, máquinas, equipamentos e instalações; • diversificação do sistema produtivo; • maior fluxo de caixa para o produtor; e • criação de novos empregos. Por outro lado, ele exige maior investimento financeiro, infraestrutura e conhecimento tecnológico. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 55 O plantio solteiro de culturas anuais de soja, milho e outras também pode ser realizado, com a pastagem sendo plantada ao final do ciclo das mesmas, no ano subsequente ou após dois ou três anos, dependendo da análise econômica da situação específica. Em culturas como milho e sorgo, a pastagem pode ser semeada juntamente com o último cultivo das mesmas. Não é necessário que seja estabelecido, após a recuperação, um sistema de ILP, mas as condições já foram iniciadas para tal. Renovação direta Esta opção, na maioria dos casos, é de sucesso mais duvidoso, pois tem como objetivo substituir uma espécie ou cultivar outra forrageira, sem utilizar uma cultura intermediária. Baseia-se, principalmente, em tratos mecânicos e químicos, com o uso de herbicidas para o controle da espécie que se quer erradicar. De olho nos valores A substituição de espécies do gênero Brachiaria por cultivares de Panicum, que são forrageiras de melhor qualidade, nem sempre é bem-sucedida, dado o elevado número de sementes das braquiárias existentes no solo. O gasto com sucessivas aplicações de herbicidas e tratos mecânicos pode encarecer demais o processo. A substituição de espécies como Andropogon e Panicum por espécies de Brachiaria, no entanto, oferece melhor possibilidade de êxito. Outra troca potencial é a substituição de espécies de Brachiaria por espécies de Cynodon. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 56 O produtor também recorre a esta alternativa quando deseja trocar de espécie ou cultivar. É de custo mais elevado e exige co- nhecimento tecnológico, infraestru- tura ou necessidade de parceiros e/ ou arrendamento. Renovação indireta Esta alternativa é recomendada quando o estágio de degradação da pastagem é bem avançado, apresentando: • baixa produtividade de forragem; • solo descoberto; • elevada ocorrência de espécies indesejáveis; • grande quantidade de cupins e formigas; • solo com baixa fertilidade e alta acidez; • compactação e/ou erosão do solo. Infraestrutura Máquinas, equipamentos, armazenagem e acesso de estradas. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 57 Mão na terra As condições de solo e clima também devem ser adequadas para o plantio de lavouras anuais. No verão, ela pode ser feita utilizando pastagem anual de milheto, aveia, sorgo granífero ou forrageiro, entre outras, ou culturas anuais de soja, milho, arroz etc. E, no outono/inverno, deve-se utilizar apenas pastagens anuais. O tempo, em anos ou ciclos, será determinado pelas circunstâncias econômicas locais e desejo do produtor. Ao utilizar a soja ou o milho, você pode lançar mão de cultivares resistentes ao glifosato. Isso permite que as invasoras que retornam à área após a mecanização inicial sejam controladas de forma barata – com o herbicida glifosato – e sem comprometer a cultura agrícola. Esse procedimento pode ser repetido ao longo das rotações entre grãos e pastagem, desde que não haja consórcios, pois os capins não são resistentes ao glifosato! Após o cultivo sucessivo de pastagens anuais e lavouras e controle da forrageira a ser substituída, a nova espécie ou cultivar é implantada. Aqui também não é necessário estabelecerum sistema de ILP se o produtor não o desejar. Definição da estratégia de intervenção A definição da estratégia que será utilizada para retomar a capacidade produtiva da área depende do grau de degradação em que esta se encontra, o que influenciará diretamente no custo, tempo de isolamento e impacto ambiental da ação. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 58 Grau 1 No grau 1, a pastagem perdeu vigor e capacidade produtiva. Este estágio é provocado pela falta de reposição nutricional, então é visível a condição de amarelecimento das plantas de capim. Para recuperar este estágio, deve-se fazer a reposição nutricional necessária, conforme recomendação técnica subsidiada pelos resultados da análise de solo. Havendo o equilíbrio nutricional dos demais elementos, as doses de nitrogênio e potássio devem ser recomendadas em função dos índices produtivos desejados por cada produtor. Para retomar os bons índices produtivos da área que se encontra neste estágio, é fundamental que haja bom manejo da pastagem, evitando ainda que a degradação se agrave. Algumas ações, como o controle da carga animal, o tempo de pastejo e a altura do capim na entrada e saída dos animais na área, são de fácil condução e trazem grandes benefícios. De acordo com a análise do solo, caso necessite também de calagem e/ou gessagem, esta poderá ser feita em cobertura, conforme recomendação técnica e implementos disponíveis. Quanto maior o grau de degradação, mais caro, demorado e impactante é o processo de recuperação. Por isso, deve-se intervir na área assim que os primeiros sinais de degradação forem observados. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 59 Não há “duração” temporal determinada para uma área de pastagem! Se esta for bem manejada, seu tempo de uso é inestimável com a devida reposição de nutrientes e sua utilização poderá ser ao longo de muitos anos. Grau 2 Reconhecido facilmente pela presença de plantas daninhas nas áreas, indica que houve supressão da planta forrageira por meio do superpastejo. O processo é bastante simples: altas cargas animais provocam pastejo excessivo na área, reduzindo a capacidade de rebrote das plantas forrageiras, permitindo assim que ocorram aberturas no pasto e penetração de luz, estimulando a germinação ou rebrote de plantas nativas e/ou invasoras. Nesses casos, é importante que se realize a análise do solo para determinar a recomendação quanto à calagem e gessagem e também adubação de cobertura. Esta fase ainda é reversível com pouca mecanização, desde que haja boa quantidade de plantas forrageiras na área. Pouca mecanização Executa-se o processo de recuperação. Boa quantidade de plantas forrageiras na área Pelo menos 15 plantas de braquiária ou Panicum por m². Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 60 No caso de haver baixas densi- dades de plantas forrageiras, po- de-se fazer o replantio da mes- ma após o controle das plantas daninhas, preferencialmente em plantio direto. Neste estágio, são comuns as ero- sões laminares, muitas vezes im- perceptíveis, mas que removem toda a camada orgânica da super- fície do solo, agravando a coloniza- ção pelas espécies nativas. Área de pastagem com infestação de espécies invasoras e erosão laminar retirando a camada orgânica superficial do solo. Muitas recomendações apontarão para quantidades de elemento por hectare, e não de produto comercial. Por exemplo: 100 kg de N, e não 100 kg de ureia. Para se conseguir 100 kg de N com ureia, que apresenta 45% de N, deve-se utilizar 220 kg do produto e fertilizantes. Além da análise do solo, outra medida que deve ser tomada é a retirada do gado da área imediatamente e a realização da capina química das plantas invasoras por meio de pulverização em área total ou catação. Capina química das plantas invasoras Os produtos mais utilizados são o glifosato, 2,4-D + picloran, 2,4-D e outros, nas doses recomendadas na bula ou pelo profissional que assiste o produtor. É muito comum que a vegetação nativa do Cerrado possua cutícula foliar cerosa quando as plantas estiverem adultas. Neste caso, pode-se roçar a área e aguardar que surja brotação tenra e juvenil para que se faça a aplicação dos herbicidas. Para certas plantas invasoras do Cerrado, pode ser necessária a aplicação no toco, já que o controle das mesmas não é possível por meio da aplicação foliar. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 61 Deve-se sempre diferenciar a grama-mato-grosso dos capins forrageiros. Veja, na foto, o aspecto geral de uma área colonizada por grama-mato-grosso. Outra dica é, no caso da necessidade de replantios, procurar utilizar plantadeiras em vez de semeadoras a lanço, minimizando a mecanização da área. Graus 3 e 4 Ambos são casos de degradação acentuada da área, atingindo não somente a pastagem em si, mas também o solo, cursos de água, fauna e flora por meio de erosões mais severas. Nesta fase, há perda quase que total da capacidade produtiva e, mesmo nas regiões com bons índices pluviométricos, a produção da área não ultrapassa 5 arrobas/hectare/ano. Erosão em área de pastagem com acentuada degradação. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 62 A intervenção nessas áreas é urgente por meio da recuperação ou renovação completa da pastagem, construção de terraços e isolamento das grandes erosões. Além disso, nota-se sempre a presença dos sulcos de erosão iniciados nos carreadores do gado. Há forte colonização de plantas invasoras, baixas densidades de forrageiras e fertilidade do solo muito reduzida, aliada a altos índices de acidez. Mão na terra Nessas situações de degradação das pastagens do solo e do ambiente, a recuperação é muito custosa. Em alguns locais, é necessário fazer inclusive o controle das voçorocas. Esta ação deve iniciar acima e no entorno das mesmas, com a construção de terraços e recuperação da pastagem, de forma a evitar a chegada da água no início da voçoroca. É de fundamental importância realizar o trabalho de contenção das voçorocas. Em muitas situações não tem outro jeito, elas devem ser transformadas em APPs! Nas próximas aulas, você verá as etapas para intervenção nas pastagens. Ansioso(a)? Então, siga em frente! Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 63 Aula 2: Intervenção nas pastagens – Etapas 1 e 2 Na primeira aula deste módulo, você viu as diferentes formas de intervenção nas pastagens. Agora, você vai ver que essa intervenção ocorre em etapas. Esse será o assunto desta e da próxima aula! Etapa 1 – Diagnóstico inicial da área O primeiro passo para se executar uma intervenção positiva, de for- Unidade produtiva Talhão, pasto ou piquete. ma viável, é conhecer a proprieda- de e também a unidade produtiva a ser trabalhada. Muitas vezes, nem mesmo o proprietário da área fez o esforço de juntar todas as informações do seu patrimônio de forma ordenada, como será proposto aqui! Disponibilizamos um modelo de diagnóstico bastante simples e objetivo, que visa coletar a maioria das informações básicas da propriedade rural, auxiliando a tomada de decisões e orientando a reforma ou recuperação das pastagens. Ele é organizado em quatro partes, acompanhe as informações que são coletadas em cada uma: Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 64 1. Identificações da propriedade rural • Proprietário / Arrendatário • Propriedade Rural 2. Caracterização dos recursos produtivos da propriedade • Caracterização da propriedade • Dados de precipitação • Declividade • Levantamento dos recursos hídricos • Descrição do rebanho • Estrutura da propriedade • Controle do rebanho • Avaliação do desempenho • Pastagens da fazenda 3. Descrição dos sistemas de produção • Sistema pecuário • Sistema de pastejo • Manejo da pastagem 4. Diagnóstico por unidade de produção • Data • Talhão • Análise de solo • Histórico da área • Espécie atual • Estimativa de lotação • Estado atual da área • Topografia • Sistema de conservação• Impedimentos físicos • Disponibilidade de água • Pragas • Plantas invasoras Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 65 Confira um modelo de diagnóstico no Anexo e realize o diagnóstico de sua propriedade, preenchendo todas as informações. Mão na terra Nesta etapa, é importante levantar o maior número de informações que conseguir sobre a área que será trabalhada, tais como: utilizações anteriores, adubações realizadas, sistema de utilização, taxas de lotação e histórico de chuvas. De posse dos dados do diagnóstico acima, você pode iniciar o planejamento e a definição de qual método será utilizado como forma de intervenção na pastagem. É importante destacar que, pelo diagnóstico, é possível determinar as áreas com prioridade de intervenção e avaliar as ações e custos envolvidos. Fique atento, pois não necessariamente deve-se atacar as áreas mais degradadas, e sim aquelas que podem dar um retorno na produção e econômico mais rapidamente, viabilizando a recuperação daquelas áreas mais custosas! Etapa 2 – Amostragem e coleta de solos A análise de solo inicia-se com uma boa amostragem. As amostras devem ser representativas dos piquetes que se pretende manejar. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 66 Divisão de uma área de interesse em talhões homo- gêneos de manejo, considerando diferenças prová- veis no solo. O procedimento inicia- -se com a identifica- ção de glebas homo- gêneas para a coleta do solo. Para separar a terra em talhões se- melhantes, são utiliza- dos os seguintes pa- râmetros: cor do solo, topografia, uso atual e anterior, profundidade efetiva do solo, textura e vegetação original. Topografia Posição na paisagem. Uso atual e anterior Histórico de uso: sequência de culturas, adubações, correções do solo etc. A coleta de solos é a primeira atividade no processo de intervenção nas pastagens. Deve ser feita antes de qualquer mecanização ou utilização de fertilizantes. Como fazer Tradicionalmente, as amostragens são feitas da seguinte forma: 1. Coletam-se subamostras em 10 a 15 pontos escolhidos, de forma aleatória, dentro de cada talhão homogêneo. 2. As subamostras são combinadas, misturadas bem e então uma porção de 300 a 500 g é retirada para representar o referido talhão (amostra composta). Subamostras Amostras simples. Cada série de subamostras deve ser coletada em uma área de, no máximo, 40 hectares. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 67 3. Esta amostra completa deve ser devidamente identificada e encaminhada para análise laboratorial. Esquema para coleta de solo em profundidades de 20 a 40 cm. Quanto à forma de amostragem, as amostras podem ser tiradas com pá reta, trados de rosca, trados de caneco ou sondas. Quando as amostragens são feitas também de 20 a 40 cm, recomenda- se primeiro a coleta de 0 a 20 cm com qualquer um dos equipamentos. Em seguida, faz-se uma pequena trincheira de até 20 cm, de forma que as amostragens possam ser feitas por trado ou sonda no fundo da trincheira. Tenha sempre consigo sacos de plástico virgem (de preferência, embalagens fornecidas pelos laboratórios de solo), trado ou sonda, pá de corte e baldes plásticos específicos para coleta de solos. Jamais utilize baldes da fazenda, a menos que sejam novos. Histórico da área Para realizar a amostragem, é desejável que se conheça o histórico da área que será trabalhada, tendo em mãos informações sobre a última correção feita na área, eventuais adubações, formação anterior, cultivar, sistema de utilização, capacidade de suporte, entre outras. Estes dados auxiliam na interpretação da análise de solo. Eventuais adubações Quando foi feita, qual a fonte e dose utilizada. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 68 Quer ver um exemplo da importância de se conhecer o histórico da área? É sabido que, em áreas de pastagens que tenham recebido adubação de manutenção superficial, deve-se fazer amostragens estratificadas de 0 a 10 cm e de 10 a 20 cm. Época do ano e frequência Lá na Fazenda Rio Novo Já estava decidido a fazer a amostragem do solo da fazenda Rio Novo quando me bateu aquela dúvida... Qual seria a melhor época do ano pra fazer a amostragem? E com que frequência preciso fazer? Confira mais uma explicação do Marcos. Ele foi superesclarecedor. Dica do Técnico Para áreas de pastagens, eu recomendo realizar as amostragens no final de março, início de abril. É porque, nessa época, geralmente o solo ainda tá com certo teor de umidade, e isso pode facilitar a retirada e a homogeneização do solo. Agora, para áreas de lavoura ou em sistemas integrados de produção, o mais interessante é realizar a amostragem depois da colheita da segunda safra. Fazendo as amostragens nessas épocas, lá pra abril ou início de maio, o produtor terá os resultados do laboratório em mãos. Assim, vai ter tempo hábil para adquirir os corretivos e os fertilizantes que precisarão ser aplicados. Com relação à frequência de amostragem, ela também não tem uma programação específica. Vai depender do manejo da propriedade e da intensidade em que são realizadas as adubações. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 69 Em sistemas mais intensivos, a frequência deve ser maior. Por outro lado, sistemas menos intensivos de produção toleram frequências menores. Percebe que não existe uma resposta pronta? É preciso analisar cuidadosamente a realidade de cada propriedade antes de tomar uma decisão. Propriedades físicas do solo Além de problemas de qualidade química, o solo também pode apresentar deficiências em relação às propriedades físicas, como: • aumentos excessivos na densidade do solo; • selamento superficial; • maiores valores de resistência do solo à penetração; e • dificuldades de infiltração de água. Nesta situação, a aplicação de corretivos e fertilizantes pode não surtir o efeito desejado, sendo necessária a utilização de práticas de manejo que minimizem esses efeitos negativos da degradação física do solo. Subsolador. Em tais casos, podem ser necessários a utilização de rotação de culturas e o uso de implementos que tenham hastes, tais como subsoladores e es- carificadores. Com isso, aumenta-se a rugosi- dade do solo, diminuindo a com- pactação, aumentando a porosi- dade e facilitando a infiltração de água no solo (ARAÚJO, 2016). Porosidade Principalmente a macroporosidade. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 70 Geralmente, a compactação em áreas de pastagem é superficial, de até 10 cm, não necessitando subsolagens profundas. Encaminhamento das amostras De posse das amostras, elas devem ser encaminhadas para um laboratório de análises de confiança. Dê preferência aos laboratórios que possuam selos de certificação pela Embrapa, ESALQ/USP, IAC, SBCS e outros. Atente-se também para o prazo de entrega dos resultados das análises. É comum que alguns laboratórios levem até 60 dias para fornecê-los, e o técnico/produtor deve se planejar em função disso – lembrando que depende delas para efetuar a recomendação e posterior compra dos insumos. Pronto(a) para conhecer a terceira etapa para intervenção nas pastagens? Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 71 Aula 3: Intervenção nas pastagens - Etapa 3 Nesta aula, daremos continuidade ao estudo da intervenção nas pastagens. Falaremos sobre a Etapa 3, onde ocorre a escolha e implantação das espécies forrageiras. Escolha das espécies forrageiras No momento da formação ou renovação de uma área de pastagem, escolher a espécie forrageira correta, adaptada à condição ambiental local e ao sistema de utilização do produtor, é fator decisivo para o sucesso do sistema. Lá na Fazenda Rio Novo São tantas opções de forrageiras disponíveis que a gente fica até em dúvida de qual a melhor escolha pra nossa realidade. Achei melhor pedir umas dicas pro Marcos. Dica do Técnico Essa é uma questão muito importante, Seu Antônio. A escolha de variedades que não são adaptadas à região é um erro muito comum dospecuaristas, que Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 72 pode resultar em pastagens pouco produtivas e com ritmo acelerado de degradação. Por isso, antes de escolher a espécie ou cultivar a ser plantada, é fundamental consultar a recomendação agronômica para cada uma. Essas informações aparecem nos folhetos e publicações dos fornecedores idôneos de sementes. Além disso, ter experiência prévia no uso daquele material no local também faz toda a diferença. Existem muitas opções de forrageiras, que são classificadas de acordo com seu potencial genético, aspectos de solo e clima e outros. Quanto à fertilidade do solo, estas podem ser classificadas desde espécies pouco exigentes, adaptadas a solos de baixa fertilidade, até espécies muito exigentes, que podem ser cultivadas em solos de fertilidade natural elevada ou em solos corrigidos. Veja alguns exemplos na tabela a seguir. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 73 Espécie Grau de adaptação à baixa fertilidade Saturação por bases a. Grupo 1 – Espécies pouco exigentes a. Grupo 2 – Espécies exigentes Brachiaria humidicola Alto Andropogon gayanus Alto 30 - 35 Brachiaria decumbens Alto Brachiaria ruziziensis Médio Brachiaria brizantha cv. Marandu Médio Brachiaria brizantha cv. Xaraés V Médio Brachiaria brizantha cv. Piatã Médio Hyparrhenia rufa (Jaraguá) Baixo Setaria anceps Baixo Panicum maximum 40 - 45 cv. Vencedor Baixo cv. Centenário Baixo cv. Tobiatã Baixo cv. Massai Baixo cv. Mombaça Muito baixo Tabela 2 – Graus de adaptação, em gradiente decrescente, das principais forrageiras às condições de fertilidade do solo para a região dos Cerrados e saturações por base recomendadas Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 74 Fonte: Adaptado de Macedo et al. (2008). Espécie Grau de adaptação à baixa fertilidade Saturação por bases cv. Colonião Muito baixo cv. Tanzânia-1 Muito baixo 40 - 45 a. Grupo 2 – Espécies exigentes a. Grupo 3 – Espécies muito exigentes Pennisetum purpureum Napier, Taiwan A-146 Muito baixo 45 - 55 Cynodum spp. Coast-cross, Tifton As principais forrageiras utilizadas na região do Cerrado são as dos gêneros Brachiaria e Panicum. Das braquiárias de uso mais comum, a B. brizantha cv. Marandu (braquiarão) e a B. decumbens cv. Basilisk (braquiarinha) podem ser utilizadas nas três fases da pecuária: cria, recria e engorda. Assim como as de lançamento mais recente, B. brizantha cv. Xaraés, Piatã e a cv. Paiaguás. Brachiaria brizantha. Gênero Brachiaria Por apresentarem valor nutritivo inferior, porém mais adaptadas à baixa fertilidade, as cultivares de B. humidicola são mais utilizadas na fase de cria. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 75 As cultivares de P. maximum são altamente produtivas e exi- gentes em solo, mas proporcio- nam melhores ganhos de peso. São adaptadas a solos bem dre- nados e exigentes a altas tempe- raturas, repercutindo em cresci- mento adequado. Panicum maximum. Gênero Panicum Podem ser recomendadas para todas as fases de criação, tais como as cultivares Tanzânia, Mombaça, Massai, Vencedor e Aruana. Em 2015, foram lançadas duas novas cultivares: a Zuri, de porte intermediário entre a Tanzânia e a Mombaça, além da Tamani, de porte baixo, semelhante a Aruana e Massai, mas com forragem de melhor qualidade. A cultivar Massai é mais recomendada para a fase de cria, por apresentar teor nutritivo inferior às demais cultivares. Esta cultivar pode ter grande importância para a região amazônica, especialmente para bovinos, pela sua melhor cobertura do solo, tolerância à cigarrinha e por ser menos exigente em fertilidade do solo que as outras cultivares de Panicum. Altas temperaturas Em torno de 30 ºC. Utilização de leguminosas As leguminosas, em função da sua capacidade de fixação simbiótica de nitrogênio (N) e melhor valor nutricional, podem contribuir para aumentar a qualidade e a quantidade de forragem para os animais. Este aspecto é especialmente importante em regiões com uma estação seca pronunciada, pois, nesse período do ano, a disponibilidade de forragem em pastos de gramíneas puras não atende às exigências nutricionais de bovinos. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 76 Embora essas vantagens sejam de amplo conhecimento entre técnicos e pecuaristas, o uso de leguminosas forrageiras tropicais na alimentação do rebanho brasileiro tem sido pouco significante. Atualmente, no entanto, existem claros sinais de que essa situação esteja mudando e há um renovado interesse por leguminosas. O avanço tecnológico da produção pecuária, a necessidade de redução de custos de produção e, principalmente, a busca por fontes mais eficientes de nitrogênio para uso na recuperação de pastagens degradadas têm levado muitos pecuaristas a se interessar por leguminosas. Lá na Fazenda Rio Novo Você sabia que a utilização de leguminosas é benéfica inclusive ao meio ambiente, influenciando positivamente nas mudanças climáticas? Essas forrageiras podem contribuir de forma significativa para reduzir o efeito dos GEEs. Pela fixação simbiótica de N, contribuem para diminuir o gasto energético na produção de fertilizantes nitrogenados e menor emissão de N2O. Também podem contribuir significativamente para amenizar as emissões de metano por ruminantes, devido a melhora na dieta e, consequentemente, melhor desempenho animal. Venho me esforçando para adotar essa prática na fazenda Rio Novo, mas gostaria de deixar claro que essa potencialidade pouco explorada deve ser suportada por informações técnicas que forneçam aos produtores uma visão crítica e realista das vantagens e desvantagens do uso dessas plantas. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 77 Dentre as diversas alternativas de recuperação de pastagens, a recuperação direta com repo- sição de nutrientes, associada à introdução de uma leguminosa para fornecimento de nitro- gênio, pode ser bastante atraente e facilmente adotada pela maioria dos produtores. As espécies de Stylosanthes são as principais alternativas de legumino- sas para a recuperação de pastagens degradadas, devido a características como: • resistência à seca; • adaptação a solos de baixa fertilidade; e • alta capacidade de associação com rizóbios nativos. Nutrientes Principalmente fósforo. Stylosanthes hamata (L.) Taub. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 78 Outra espécie muito promissora é o guandu. Ele tem adaptação idêntica a estilosantes e sempre foi mais utilizado como banco de proteína, mas, atualmente, vem sendo utilizado na recuperação de pastagens degradadas de gramíneas. Guandu (Cajanus cajan). Guandu Cajanus cajan. Em solos arenosos de baixa fertilidade, o estilosantes- campo-grande (ECG), em consórcio com gramíneas na proporção de 20-40% da leguminosa, fixa de 60 a 80 kg de N/ha/ano. Apenas parte deste nitrogênio é liberada para as gramíneas no primeiro ano, quando seu efeito maior é na melhoria da dieta dos animais. A partir do segundo ano, quando ocorre a ciclagem de nutrientes pela morte de parte das plantas, o N orgânico fixado é mineralizado, tornando-se disponível para a gramínea em consorciação, melhorando a disponibilidade total de forragem em até 50%, como também a qualidade da dieta para o animal. O que chama atenção na tabela acima é a manutenção da lotação e do desempenho ao longo dos anos. Seguramente, em pastagem recuperada sem uma leguminosa e sem reposição nutricional, os índices não seriam mantidos ao longo dos anos, mas haveria queda nos mesmos. Ano 1 kg/ha/anog/animal/diaanimais/haUA/ha Lotação Desempenho animal 2 3904632,311,62 5393644,062,84 3 52047532,1 Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 79 As vantagens da utilização de pastagens consorciadas, formadas por gramíneas e leguminosas, são amplamente conhecidas. Vários são os resultados positivos obtidos com a presença da leguminosa na pastagem, decorrentes de sua participação direta na dieta do animal. O melhor desempenho animal nessas pastagensé explicado por apresentarem, em geral, melhor valor alimentício em relação às gramíneas exclusivas. Outra vantagem diz respeito aos efeitos indiretos relacionados com o aumento do aporte de nitrogênio ao ecossistema da pastagem. Em sistemas menos intensivos, as leguminosas tropicais, quando presentes em proporções satisfatórias, são capazes de suprir quantidades de nitrogênio suficientes para garantir a sustentabilidade da pastagem, bem como a produção animal (CARVALHO; PIRES, 2008). A cultivar BRS Mandarim tem como destaque a alta produtividade de forragem, alta retenção de folhas no inverno e baixo teor de taninos. Apresenta como principais características a facilidade de implantação, alto teor proteico, digestibilidade e sistema radicular profundo e pivotante (GODOY; MENEZES, 2008). Alto teor proteico De até 20%. Valor alimentício Maiores teores de proteína bruta e maior digestibilidade são parâmetros marcantes. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 80 Carvalho e Pires (2008) citam diversos dados de ganho de peso animal em pastagens consorciadas. Por exemplo: Esses incrementos na produtividade de bo- vinos foram observados pelos autores quan- do a pastagem consorciada variou entre 18 e 20%. Quanto à produtividade em termos de produção de leite, foram observados aumentos de 20,3 e 12,4% na produ- ção de leite de vacas do rebanho comercial, mantidas em pastejo rotacionado em pastagens de Brachiaria dictyo- neura consorciada com o Arachis pintoi e em pastagens exclusivas de Brachiaria brizantha e Brachiaria decum- bens, respectivamente. Produtividade (kg/ha/ano) Pasto consorciado Produtividade (kg/ha/ano)Pasto solteiro 568 Brachiaria humidicola + Arachis pintoi 475Brachiaria humidicola 422 Brachiaria brizantha + Leucena leucocephala 354Brachiaria brizantha 342 Brachiaria decumbens + Stylosanthes cv. Campo Grande 289Brachiaria decumbens Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 81 Lá na Fazenda Rio Novo Quer conhecer mais a fundo as técnicas de utilização leguminosas nas pastagens? Inscreva-se no curso Fixação Biológica de Nitrogênio. Estamos implantando esta técnica lá fazenda Rio Novo, do meu avô Antônio. Ficarei muito feliz em poder compartilhar essa experiência com você! Escolha das sementes É muito importante que o produtor sempre opte por sementes de boa qualidade, certificadas, com análise feita em laboratório credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, proveniente de empresa idônea e com bom histórico no mercado. A qualidade das sementes é expressa por um índice chamado valor cultura (%VC), que mede o percentual de sementes puras capazes de germinar desse lote. Esse índice é calculado com base na percentagem de pureza física, que indica quanto há de agentes contaminantes nesse lote de sementes, e também na percentagem de germinação. O VC é expresso pela equação: Agentes contaminantes Sementes de outras espécies, sementes chochas, restos de palha ou resíduos inertes, como terra. Sugere-se que, para espécies de braquiária, o VC mínimo utilizado seja de 80% e, para os Panicum, de 50%. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 82 De olho nos valores A melhor compra será o menor valor resultante do cálculo: Fique atento, pois caso o VC não esteja disponível pela empresa comercializadora, significa que a semente não é certificada e, portanto, é de qualidade duvidosa! Pode-se ainda utilizar sementes revestidas, peletizadas, incrustadas ou perolizadas. Tais recobrimentos garantem a homogeneidade do tamanho dos grânulos, facilitando a operação de plantio. No entanto, deve-se observar atentamente as garantias de valor cultural ou outro indicativo que demonstre a quantidade de sementes que está realmente sendo comercializada. Cálculo da taxa de semeadura Para calcular a quantidade mínima de sementes que deverá ser distribuída na área de pastagem, é necessário conhecer: • o VC do lote utilizado; • o tamanho da área; e • o método de semeadura. De posse dessas informações, cal- cula-se a quantidade mínima de se- mentes com base na recomenda- ção de kg de sementes puras viáveis por hectare para cada espécie (ver tabela), dividida pelo VC do lote. Método de semeadura A lanço ou em sulco. sementes puras viáveis Sementes sem resíduos contaminantes. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 83 Tabela 3 – Quilogramas por hectare de sementes puras viáveis de alguns capins, em função do método de semeadura e profundidade de plantio Fonte: Dias Filho, 2012. Capim No sulco (kg/ha) A lanço (kg/ha) Profundidade desemeadura (cm) Marandu 3,2 5,2 3 a 6 Piatã 3,2 5,2 3 a 6 Xaraés 3,2 5,2 3 a 6 Humidícola 3,2 5,2 3 a 6 Mombaça 2,7 4,5 2 a 5 Tanzânia 2,7 4,5 2 a 5 Massai 2,7 4,5 2 a 5 A tabela acima se refere à quantidade (kg) de sementes puras viáveis necessárias para o plantio de um hectare. Para saber a quantidade de produto a ser adquirido (mistura de sementes com torrões e outros elementos contaminantes) para cada hectare, deve-se considerar o valor cultural, que expressa o percentual dessas sementes no produto. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 84 Mão na terra Vamos ver um exemplo prático pra ficar mais claro. Imagine que você deseja realizar o plantio em sulco de capim piatã, adquirida com VC de 80%. De acordo com a tabela, a taxa de semeadura recomendada é de 3,2 kg de sementes puras viáveis por hectare (SPV/hectare). Devemos calcular da seguinte forma: Portanto, deve-se utilizar 4 kg das sementes adquiridas. Agora, imagine se o mesmo lote de capim fosse plantado a lanço. Considerando que a taxa de semeadura recomendada, neste caso, é de 5,2 kg de SPV/hectare (como indica a tabela), o cálculo seria o seguinte: Portanto, neste segundo caso, deve-se utilizar 6,5 kg das sementes adquiridas. Sementes adquiridas ementes + agentes inertes. Na semeadura em linha, o espaçamento não deve ser superior a 30 ou 35 cm para evitar a formação de trilheiros. Preferencialmente, deve-se utilizar espaçamentos menores. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 85 Implementos de semeadura e plantio As sementes de forrageiras podem ser adicionadas ao sistema de duas formas: utilizando-se plantadeiras específicas para sementes finas ou semeadura a lanço. a) Plantadeiras específicas para sementes finas O plantio utilizando plantadeiras específicas para sementes finas são comuns para o plantio de aveia ou arroz. A utilização deste implemento faz com que, na mesma ope- ração, as sementes sejam in- corporadas, com regulagem de profundidade de semeadura, mais precisão na quantidade de semente/hectare e distribuição mais uniforme no terreno. Nesta forma, há semeadu- ra a lanço e posterior in- corporação com grade ni- veladora fechada ou pouco aberta, ou rolo compactador para espécies, como andropogon e estilosantes. Plantadeira de sementes finas. Semeador a lanço para sementes. Nesta operação também é possível fazer uma adubação, tanto no caso de plantio convencional quanto em plantio direto. b) Semeadura a lanço Pouco aberta Dois furos da regulagem. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 86 Com a utilização de um distribuidor de sementes a lanço, estas são distribuídas na área por meio de seu arremesso pelo implemento. Esse método confere mais agilidade ao plantio, apesar de demandar duas operações; no entanto, a precisão do plantio é menor e geralmente sua eficiência também. Após o lançamento das sementes, estas devem ser cobertas com uma operação de grade niveladora fechada – o rolo compactador. Existem ainda distribuidoras elétricas, acopladas à frente do trator, e as sementes são incorporadas pela grade niveladora que segue atrás. Na aula seguinte, veremos um passo a passo para a intervenção na área. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 87 Aula 4: Passo a passo para intervenção na área Ao longo do módulo, vimos as formas e etapas de intervenção nas pastagens. Agora, de posse desse conhecimento, veremos um passoa passo para realizar a intervenção na área. Mecanização da área No processo de intervenção, a mecanização é a fase que mais demanda tempo e dinheiro. Por isso, merece muita atenção, planejamento e profissionalismo. Deve-se dimensionar exatamente a quantidade de máquinas e implementos disponíveis, bem como o tempo hábil para a execução das atividades. Geralmente, esta etapa inicia-se ainda no período seco, evitando assim que o solo recém-mecanizado fique exposto às fortes chuvas. No entanto, podem haver variações em cada região do Brasil. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 88 Construção de terraços Os terraços são peças fundamentais na utilização sustentável de qualquer área agropecuária no Brasil. O objetivo, com a sua construção, é evitar o escoamento superficial da água, o que gera erosões, carreamento de nutrientes e perda da camada orgânica do solo. Sua construção é a primeira etapa da mecanização para a reforma de pastagens e deve ser feita sempre com bases largas e boa altura – geralmente, a maior altura possível. Terraço de base larga construído em área de pastagem. O terraceamento deve ser iniciado antes mesmo das operações de preparo do solo. Em áreas onde não seja necessário este preparo, devem ser alocados terraços se houver indícios e possibilidade de erosão. A intenção é reduzir a velocidade da água das chuvas torrenciais por meio da contenção nos terraços. Desde que bem planejado, o terraceamento é a mais importante prática mecânica de controle da erosão. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 89 A prática consiste na locação e construção de estruturas no sentido transversal à declivida- de do terreno, com o objetivo de reduzir a velocidade de enxurra- da e seu potencial de destruição dos agregados do solo, causan- do erosão. Elas também subdividem o volu- me do escorrimento superficial, possibilitando a infiltração da água Terraço contendo água da chuva em área de pastagem. no solo, impedindo a formação de sulcos que geralmente se transformam em voçorocas. Mão na terra Antes do início da construção dos terraços, o técnico já deverá ter em mãos os dados sobre a textura do solo e a declividade média da área que será terraceada. Com esses dados, os espaçamentos horizontal e vertical serão definidos. Uma vez determinado o espaçamento vertical, que é mais fácil e preciso para se locar no terreno, os pontos das linhas deverão ser locados com um nível óptico ou teodolito, demarcando-se os pontos com estacas de 1 m de altura e espaçadas de 20 em 20 m. Este trabalho é feito, normalmente, no final do período chuvoso, e a área não deve estar preparada para que não se obtenha falsas cotas (RESCK, 2002). Os terraços podem ser de retenção ou escoamento: • os de retenção são construídos sobre as niveladas básicas demarcadas com nível ou teodolito e, portanto, são sem gradiente; Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 90 • os de escoamento são construídos com gradiente e têm uma ou duas das extremidades abertas por onde deve escoar a água coletada (exigem a construção de um canal ou bacia para se retirar a água excedente). Para os latossolos e as areias quartzosas (solos da maioria das áreas de pastagens), geralmente devem ser construídos os terraços de retenção, pois seus declives situam-se entre 0 e 8% (RESCK, 2002). Mão na terra Evite a construção de terraços de base estreita, pois eles são mais sensíveis às chuvas torrenciais, que têm ocorrido com frequência nos últimos anos em todo o Brasil. Eles também dificultam o trânsito dos animais e das máquinas na área. O ideal é que se utilize terraceador de arrasto com controle remoto e discos de, no mínimo, 26 polegadas. Terraceador de controle remoto para construção de terraços com base larga. E quanto à diferença de nível, geralmente se utiliza a diferença de 1,5 m entre os terraços. No entanto, esse valor pode ser de 1,0 m para área de solo muito arenoso ou de acordo com a recomendação do profissional habilitado que está orientando os trabalhos. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 91 Além do terraceamento, é de suma importância que, na recuperação de pastagens, se faça também um bom estabelecimento da forrageira, seguido de um manejo correto ao longo do tempo. Uma boa cobertura do solo é fundamental para reduzir o escorrimento de água e perdas de solo. Os terraços são um complemento para este efeito. Lá na Fazenda Rio Novo Se quiser se aprofundar mais nesta técnica, me acompanhe no curso Sistema Plantio Direto! Lá você vai ver que estamos construindo terraços na fazenda Rio Novo, tentando resolver os problemas de erosão. Gradagem O uso da gradagem tem como objetivos: • eliminar a compactação do solo, pelo menos na camada de 0 a 20 cm; • agredir fisicamente as plantas invasoras, com o intuito controlá-las; • eliminar imperfeições do terreno, tais como carreadores provocados pelo gado, pequenas erosões, buracos e tocos. Antes da primeira gradagem, pode-se aplicar uma parte do calcário necessário e, posteriormente, no momento em que o gesso for aplicado, o restante. Este procedimento geralmente é repetido, principalmente se houver torrões e plantas indesejáveis na área após a primeira gradagem. Repetido Duas mãos de grade. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 92 Grade aradora de controle remoto. Para se obter bons resultados, deve-se utilizar grades aradoras de controle remoto com discos de pelo menos 28 polegadas e em bom estado de conservação. Nivelamento do terreno Após a aplicação dos adubos, deve-se incorporá-los com o auxílio de uma grade niveladora, que também fará o trabalho de correção do terreno, finalizando o destorroamento iniciado pela grade pesada, preferencialmente algumas semanas após a calagem. Aspecto geral da área após duas mãos de grade niveladora. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 93 Em seguida, parte-se para a semeadura da forrageira previamente escolhida. Deve-se sempre fazer a aplicação de calcário na ausência de vento. Muitas vezes, a aplicação ocorrerá à noite, reduzindo assim as perdas provocadas pelas correntes de ar. Calcário sendo carreado pelo vento para fora da área da propriedade. Calagem Após a finalização da primeira mão com a grade pesada, deve-se ini- ciar a aplicação da primeira parce- la da dose recomendada de calcá- rio. Desta forma, o tempo de reação será maior e também a incorporação será mais eficiente. Esta operação é feita com calcarea- deira tipo lancer, que espalha homo- geneamente o produto na superfície. Após a aplicação, é fundamental que o calcário seja incorporado com uma grade pesada ou, pelo menos, intermediária. Trator pulverizando calcário no solo. Fonte: CNA Brasil / Foto: Tony Oli- veira. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 94 Como o calcário tem baixa mobilidade no solo, deve-se incorporá-lo de forma bastante eficiente, levando-o para a camada mais profunda possível. Gessagem Após a incorporação da primeira parcela de calcário, pode-se proceder à aplicação do gesso agrícola, com as mesmas recomendações para os horários e formas de aplicação do calcário. A resposta das gramíneas ao gesso se dá devido à melhora no ambiente radicular propiciada pela melhor distribuição das raízes, especialmente em profundidade, o que propicia às plantas o melhor aproveitamento de água quando ocorrem veranicos. O principal diferencial do gesso é que não necessita ser incorporado com a grade pesada, somente com uma niveladora ou intermediária. Aplicação da adubação de base Após a aplicação do gesso, procede-se à adição dos adubos no sistema, também a lanço, com lancer ou calcareadeira. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 95 No caso da utilização das matérias- -primas, cada uma deverá ser apli- cada em uma operação distinta. Se a opção for pelo uso de adubos formulados (NPK), a adição dos três elementos poderá ser feita de uma só vez. Além disso, faz-se a aplica- ção dos micronutrientes, tais como zinco,cobre, boro e molibdênio, que normalmente são deficitários e tão necessários nos solos de Cerrado. E com isso fechamos o assunto sobre intervenção nas pastagens. No próximo módulo, falaremos sobre manejo da pastagem e sistemas de integração. Matérias-primas Superfosfato simples, triplo, DAP, MAP ou KCl. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 96 Atividade de aprendizagem As questões a seguir são baseadas na história que apresentamos no Módulo 1. Se desejar, releia a história abaixo antes de iniciar a atividade. A história do Seu Mario Seu Mario é proprietário da fazenda “Chão Batido”, em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Ele herdou essa fazenda de seu pai, assim como o amor ao cerrado e à pecuária. Não obstante, seu Mario precisou apren- der a lidar desde cedo com as exigências e necessidades da região: o latossolo de baixa fertilidade natural e a alta lixiviação. O clima tropical sazonal caracteriza-se pela chuva concentrada na primavera e no verão, e a seca no inverno. Seu Paulo, pai de Mario, criava gado nelore em sistema extensivo, deixava os animais soltos, sem controle do manejo da pastagem e também não suplementava os animais. Na época que seu Mario assumiu a fazenda, percebeu que precisaria se atualizar e modificar a forma como seu pai vinha conduzindo as atividades para melhorar o rendimento do negócio, bem como para a sustentabilida- de dos recursos ambientais que ele usufruía. Então, seu Mario decidiu procurar a ajuda do Senar, come- çou a frequentar palestras sobre técnicas conservacionis- tas do solo, foi a dias de campo e também recebeu a visita da assistência técnica. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 97 As atividades aqui na apostila servem apenas para você ler e respondê-las com mais tranquilidade. Entretanto, você deverá acessar o AVA e responder lá as questões. Você terá duas tentativas para responder cada questão e só desbloqueará o próximo módulo depois que: (1) acertar as questões; ou (2) usar todas as suas tentativas. Questão 1 Agora que seu Mario entendeu as características das pastagens degradadas e seus benefícios de intervenção, ele quer entender quais providências deve tomar. Em uma palestra do Senar, ele aprendeu que, para recuperar uma área degradada, existem diferentes formas de intervenção nas pastagens, como a recuperação, a renovação e a reforma. Ele sabe que quanto antes for realizada a intervenção, mais rápida é a recuperação. Quanto às formas de intervenção, analise as sentenças a seguir: 1. Na recuperação da pastagem ocorre o restabelecimento da produção de forragem, por meio da introdução de novas espécies ou cultivares. 2. Na renovação há restabelecimento da produção da forragem mantendo-se a mesma espécie ou cultivar. 3. A reforma da pastagem consiste nas correções ou reparos efetuados após o estabelecimento da pastagem. Assinale a alternativa que contém as sentenças corretas: a) Afirmativas 1 e 2. b) Afirmativas 2 e 3. c) Apenas a afirmativa 3 está correta. d) Apenas a afirmativa 1 está correta. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 98 Questão 2 Agora que seu Mario entendeu as formas de intervenção nas pastagens degradadas, ele quer entender quais estratégias deve adotar para que sua propriedade possa retomar a capacidade produtiva da área, e isso dependerá do grau de degradação em que esta se encontra, o que influenciará diretamente no custo, tempo de isolamento e impacto ambiental da ação. Quanto aos graus de degradação, com o auxílio do técnico do Senar, foi identificado que alguns pontos da propriedade de seu Mario encontram- se no grau 4. O que isso quer dizer? 1. Para recuperar este estágio, basta realizar a adubação (conforme recomendação técnica), o manejo da pastagem e controlar a carga animal. 2. Este grau de degradação é facilmente reconhecido pela presença de plantas daninhas nas áreas, que indicam que houve supressão da planta forrageira por meio do superpastejo. 3. Neste grau, há degradação acentuada da área, atingindo a pastagem, o solo, os cursos de água, fauna e flora por meio de erosões mais severas. 4. A intervenção nessas áreas é urgente por meio da recuperação ou renovação completa da pastagem, construção de terraços e isolamento das grandes erosões. Assinale a alternativa que contém as sentenças que descrevem corretamente ao grau 4 de degradação: a) Apenas 1 e 2. b) Apenas 2 e 3. c) 1, 2, 3 e 4. d) Apenas 3 e 4. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 99 Questão 3 Seu Mario, aos poucos, está aprendendo sobre a intervenção de pastagens, mas ainda tem muitas dúvidas sobre os próximos passos. Agora o técnico do Senar vai auxiliá-lo a realizar as etapas 1 e 2 para intervenção nas pastagens degradadas. A etapa 1 consiste em um diagnóstico da área, por meio de um levantamento de dados de toda a propriedade, para isso é importante conhecer bem a unidade produtiva. Qual a vantagem de reunir todas essas informações que o modelo de diagnóstico sugere? a) Traz informações para que o produtor tenha noção de bens, de patrimônio. Já a tomada de decisão depende unicamente do produtor. b) Melhorar o pasto, independentemente da espécie cultivada. Os dados do diagnóstico ajudam em informações básicas, que pouco interferem nos custos. c) Melhorar o planejamento e as prioridades de intervenção, bem como as ações e os custos envolvidos. d) De qualquer maneira, o pecuarista terá que realizar reforma, ou recuperação de pastos, de modo que o diagnóstico não influencia na tomada de decisão. Questão 4 Passadas as etapas 1 e 2, nas quais se realizou o diagnóstico da propriedade e a amostragem e a coleta de solos, podemos ir para a etapa seguinte: escolha e implantação das espécies forrageiras. Sabendo que sua área apresenta baixa fertilidade do solo, com saturação por bases de 35%, e teor de fósforo de 5 ppm, qual seria a espécie de forrageira mais recomendada para o seu Mario realizar o plantio, visto que planeja trabalhar com bovinocultura de corte em sistema extensivo? a) Pennisetum purpureum. b) Panicum maximun cultivar massai. c) Brachiaria brizantha. d) Cynodon spp. Módulo 2 – Intervenção nas Pastagens 100 Questão 5 Após o passo 3 da escolha e implantação das espécies forrageiras, chegou a hora de entender como realizar a mecanização da área. A mecanização é a fase mais demorada e onerosa do processo. Deve ser realizada com critérios e planejamento, executando com máximo de perfeição, porque não haverá como refazer depois do pasto implantado. A não ser, claro, que queira trocar o capim. Desta forma, os procedimentos de conservação de solo devem ocupar tempo e ser bem executados. A primeira etapa da mecanização é a construção de terraços, a seguir é realizada a gradagem, seguida pelo nivelamento do solo. Então vem a correção do solo pela distribuição de corretivo, a adubação de base e, por fim, o plantio. Tendo como base todo o processo desde o início da mecanização no terreno até o plantio, assinale a alternativa correta: a) Ao realizar a aplicação de calcário, por ter baixa mobilidade no solo, ele deve ser molhado. b) Deve-se evitar a construção de terraços de base estreita, pois são mais sensíveis às chuvas torrenciais, além de dificultarem o trânsito dos animais e das máquinas na área. c) Um dos objetivos de utilizar a grade é descompactar o solo em camadas profundas de 0 - 80 cm. d) O gesso, caso seja necessária sua aplicação, deve ser, para diminuir as operações, misturado à semente no plantio.
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