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6 PROJETO DE TCC ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONCRETO COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE POLIPROPILENO Cabo Frio 2020/2 7 ANDRÉ LUIZ CARVALHO MACHADO Projeto de TCC, realizado como requisito para obtenção de nota para aprovação – apresentado ao Professor Fernando Luiz Coelho Senra, Universidade Estácio de Sá – Campus Cabo Frio, - Curso de Graduação – Engenharia Civil. Cabo Frio 2020/2 8 RESUMO Apesar do concreto ser um material amplamente utilizado na indústria da construção civil, as estruturas construídas com este material podem apresentar sérias patologias devido ao seu comportamento frágil. Inúmeras pesquisas têm sido realizadas com o intuito de minimizar essa característica do material. Uma das alternativas atualmente é a adição de fibras randomicamente dispersas no material. Pisos industriais são casos muito importantes dentro da realidade da construção civil e, devido a sua relação entre área e espessura, podem vir a apresentar sérios problemas. Dentre as principais patologias, podem ser destacadas as fissuras, a abrasão, o desgaste e o esborcinamento (fraturamento junto às bordas). Um piso industrial sofre a ação de diversos tipos de carregamentos, além de problemas de retração e variação térmica. Esses fatores influem para que a vida útil seja minimizada. Desta forma, esta pesquisa visa colaborar para o avanço dos estudos dos concretos reforçados com fibras, com uma atenção especial para os pisos industriais reforçados com fibras de polipropileno Este trabalho pretende abordar a influência da adição de fibras sintéticas nas primeiras idades em concretos empregados na confecção de pisos industriais e pavimentos rígidos, procurando mostrar as diferenças que têm ocorrido nesses materiais nas últimas décadas e a influência que essas mudanças afetam o seu comportamento, basicamente no estado fresco e nas primeiras idades. Apresenta de modo resumido alguns resultados de pesquisas desenvolvidas no exterior, bem como pretende apresentar alguns resultados de aplicações práticas conduzidas no Brasil. 9 ABSTRACT Although concrete is a material widely used in the construction industry, structures built with this material can present serious pathologies due to its fragile behavior. Numerous researches have been carried out in order to minimize this characteristic of the material. One of the alternatives today is the addition of fibers randomly dispersed in the material. Industrial floors are very important cases within the reality of civil construction and, due to their relationship between area and thickness, they may come to present serious problems. Among the main pathologies, cracks, abrasion, wear and gutting (fracturing near the edges) can be highlighted. An industrial floor suffers the action of several types of loads, in addition to problems of retraction and thermal variation. These factors influence the useful life to be minimized. In this way, this research aims to collaborate for the advancement of fiber reinforced concrete studies, with special attention to industrial floors reinforced with polypropylene fibers. This work intends to address the influence of the addition of synthetic fibers in the early ages in concretes used in the manufacture of industrial floors and hard floors, trying to show the differences that have occurred in these materials in the last decades and the influence that these changes affect their behavior, basically in the fresh state and in the early ages. It briefly presents some results of research carried out abroad, as well as intends to present some results of practical applications conducted in Brazil. 10 Sumário 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS............................................................................................................ 13 3. REVISAO BIBLIOGRAFICA.................................................................................13 3.1. HISTÓRIA DO CONCRETO ............................................................................13 3.2. PISOS INDUSTRIAIS EM CONCRETO ..........................................................14 3.3. O CONCRETO PARA PISOS ...........................................................................15 4. A INFLUENCIA DAS FIBRAS DE POLIPROPILENO NAS PROPRIEDADES DO CONCRETO ............................................................................................................ 17 4.1. EFEITO DA ADIÇÃO DE FIBRAS ..................................................................21 5. MATERIAIS E METODO .........................................................................................22 5.1. MATERIAIS ........................................................................................................ 23 5.2. ENSAIO DE EXSUDAÇÃO ............................................................................... 24 5.3. ENSAIO DE COMPRESSÃO UNIAXIAL ........................................................ 24 6. RESULTADOS ....................................................................................................... 25 6.1. EXSUDAÇÃO .................................................................................................... 25 6.2. RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO UNIAXIAL ................................................ 26 6.3. DUREZA SUPERFICIAL ................................................................................... 27 7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 28 8. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ....................................................................29 11 1. INTRODUÇÃO A indústria da construção civil está em constante aperfeiçoamento de suas técnicas e de seus materiais, criando alternativas que atendam às suas necessidades. Neste sentido, observa-se um amplo desenvolvimento em relação ao aperfeiçoamento dos materiais com base cimentícia (concretos, argamassas e groutes). Dentre todas as melhorias já realizadas, apresenta grande destaque a incorporação de fibras. Através da incorporação de fibras, o concreto, caracterizado por um comportamento frágil, passa a apresentar um comportamento pseudodúctil. Assim, a técnica de inserção de fibras na matriz cimentícia é utilizada nos casos em que existe a necessidade de melhorias nas propriedades do compósito, resultando em alguns ganhos, como o aumento no comportamento à tração na flexão e a resistência à abrasão. Desde a Antiguidade, a técnica de incorporar fibras para reforçar materiais de comportamento frágil na ruptura, como o concreto, tem sido utilizada. Porém, no último século, isto começou a ser feito em escala industrial, sendo desenvolvidos vários produtos comerciais com fibras (MEHTA; MONTEIRO, 1994). É possível observar esta tendência em casos como os de concretos projetados e peças pré-fabricadas. Em diversos tipos de pisos se pode utilizar o acréscimo das fibras, como é o caso de pisos de aeroportos e em pavimentos de ruas. Neste contexto, este trabalho interessa-se por dar um enfoque à análise da utilização de fibras para a melhoria do comportamento de pisos industriais de concreto. Pisos industriais em concreto são elementos de grande importância em obras de Engenharia. Por esta razão, fatores como desempenho estrutural, estética, durabilidade e economia devem ser observados a fim de se tomar os melhores cuidados para um bom desempenho do piso. Nestes pisos existem esforços em várias direções, causando diferentes reações. Contudo,ou as propriedades fundamentais devem permanecer inalteradas, ou os danos devem ser mínimos para que o comportamento global do piso industrial não fique comprometido. Existem muitos tipos de pisos industriais, entre eles os pisos em concreto: simples sem armaduras, simples com armadura descontínua de retração, estruturalmente armado, protendidos e reforçados com fibras (CHODOUNSKY; VIECILI, 2007). Neste trabalho, estão em foco os pisos reforçados com fibras. O concreto apresenta grande resistência à compressão. Porém, quando submetido a esforços de tração, ele não se comporta de maneira eficaz. Se um piso industrial não for 12 corretamente dimensionado, podem surgir manifestações patológicas comprometedoras devido a esta deficiência da matriz cimentícia. Além desse problema, um piso industrial é apoiado em um meio compressível e não-uniforme, que são os solos. Os solos podem ter diferentes geomorfologias e apresentar diferentes comportamentos, também contribuindo para diminuir a vida útil de um piso. Todos os pisos sofrem com os problemas relacionados anteriormente, porém as cargas estáticas e dinâmicas são as principais causas de patologias. Grandes pallets com cargas na ordem de 10 ou 20 tf/m² são cargas estáticas que causam fissuras. Existem também as cargas dinâmicas, que são o impacto de materiais sobre o piso e veículos como empilhadeiras e carretas, causando também graves danos. Os pisos podem sofrer problemas de expansão. A dilatação do piso é classificada como um grande problema estrutural. Em cidades com uma grande variação térmica, como é o caso de Porto Alegre, este tipo de patologia pode causar danos irreversíveis (CHODOUNSKY; VIECILI, 2007). Devido às características geométricas citadas anteriormente, o concreto utilizado em pisos industriais deve seguir algumas especificações técnicas. Desta forma buscando um melhor desempenho. Algumas destas características como: o tamanho do agregado, a espessura do piso, o teor de argamassa, o slump, a resistência característica, o fator de água cimento e o consumo de cimento, estimadas em valores e percentuais corretos podem melhorar o desempenho da matriz cimentícia. Com base na bibliografia foram escolhidos os melhores fatores para um melhor desempenho do concreto (DAL-MASO, 2008; POLISSENI, 2008). Alguns dos problemas descritos anteriormente podem ser solucionados com a incorporação de fibras à matriz cimentícia, pois a sua inserção melhora muitas propriedades, como a resistência à compressão, à tração na flexão, ao impacto e à abrasão (BERNARDI, 2003). As fibras têm a capacidade de absorver a energia necessária à ruptura, atuando como pontes de transferência de tensões. As fibras também podem colaborar para o controle das fissuras, tornado-as mais estáveis (NUNES; AGOPYAN, 1998). 13 2. OBJETIVOS O objetivo principal deste trabalho é a verificação de teores ótimos de fibras de polipropileno através de ensaios mecânicos (tração na flexão, compressão e impacto), para utilização em projetos de pisos industriais. 3. REVISAO BIBLIOGRAFICA 3.1. HISTÓRIA DO CONCRETO Concreto é um material de construção feito pelo homem que se assemelha a uma pedra. Combinando cimento, agregado graúdo e água obtém-se o concreto. A água permite a fixação e união dos materiais. Diferentes misturas são adicionadas para que o concreto obtenha específicas características. O concreto é geralmente reforçado com o uso de barras de aço, antes de ser lançado nos moldes. De forma interessante, a história do concreto tem as primeiras evidências em Roma, a aproximadamente 2000 anos atrás. Concreto era essencialmente utilizado em aquedutos e estradas em Roma. Diz-se que os romanos usavam uma matéria prima especial para seus concretos. Tal mistura consistia de cascalho e areia grossa misturados com cal quente e água, e, às vezes, até mesmo sangue de animal. Para reduzir retrações, eles utilizavam cabelo de cavalo. Evidências históricas constatam que sírios e babilônios usavam argila como material ligante. Mesmo os Egípcios antigos são conhecidos por utilizar cal e cimento para o concreto. Argamassa de cal e cimento também foram usadas nas construções das pirâmides mundialmente aclamadas. Contudo, Romanos são conhecidos por terem feito amplo uso de concreto para construir estradas. É interessante notar que eles construíram aproximadamente 5.300 milhas de estradas utilizando concreto. Concreto é um material de construção muito resistente. Evidências históricas também apontam que Romanos usavam pozolana, gordura animal, leite e sangue como aditivos em construções de concreto. O primeiro fato registrado aponta para o ano 1756, quando John Smeaton fez concreto misturando agregado graúdo e cimento. Em 1793, ele construiu o Eddystone Lighthouse in Cornwall (Inglaterra) com o uso de cimento hidráulico. Outro grande desenvolvimento aconteceu no ano 1824. O inventor inglês Joseph Aspdin desenvolveu 14 o cimento portlant. Ele fez concreto queimando giz com terra e finalmente argila, em um forno até que o dióxido de carbono evaporasse, resultando em um forte cimento. Foi na Alemanha que o primeiro teste sistemático de concreto aconteceu em 1836. O teste media a resistência à tração e à compressão do concreto. Outro importante ingrediente do concreto é agregado e isso inclui areia, brita, argila, cascalho, escolha e xisto. Concreto que faz uso de aço/metal é um concreto reforçado ou concreto armado. Foi Joseph Monier quem inventou o primeiro concreto armado em 1849. Ele foi quem quem fez cubas e tubos de concreto armado com o uso de aço. O concreto armado, portanto, combina a capacidade à tração do metal e à compressão do concreto para suportar elevadas cargas. Ele recebeu a patente por essa invenção em 1867. Em 1886, o primeiro forno rotatório foi introduzido na Inglaterra e tornou constante a produção de cimento. Em 1981, George Bartholomew fez a primeira rua em concreto em Ohio, USA. Por volta de 1920, concreto foi largamente utilizado em construções de estradas e construções. Foi em 1936 que as barragens de concreto Hoover e Grand Cooley foram construídas. Concreto, desde a idade moderna, é um caminho sem volta. Conhecido como o mais resistente material de construção, o concreto encontrou maior emprego em represas, rodovias, prédios, entre outros diferentes tipos de edificações e construções. 3.2. PISOS INDUSTRIAIS EM CONCRETO Analisando a evolução dos pisos e pavimentos nos últimos vinte anos, observa-se que as dimensões dos panos destes pisos e pavimentos aumentaram, exigindo dos projetistas, construtores e fabricantes de materiais, novas tecnologias, novos métodos de cálculo, novos materiais e novos equipamentos que aliados às boas técnicas, são responsáveis por vencer vãos maiores objetivando atender às necessidades atuais. Frente a este cenário, pode se dizer que toda a evolução baseia-se na busca de uma maior vida útil de um piso industrial, sendo que entre os principais fatores que contribuem para isto estão: a redução do número de juntas de retração, utilização de concreto com adequada resistência à abrasão e características compatíveis da sub-base. Segundo Vasconcelos (1979), pode-se afirmar que: 15 “que a durabilidade de um piso ou pavimento de concreto diminui quando aumenta o número de juntas, seja pelas condições extremas de impacto devido ao trânsito de equipamentos e veículos, seja pela infiltração de água pelas juntas, que percolando pelo terreno, provocando saída das partículas finas, tornando a base mais recalcável e, portanto, favorecendo o aumento das solicitações da placa sob a ação dos carregamentos a que esta está submetida. Os defeitos que aparecem nos pisos e pavimentos de concreto quase sempre aparecem nas juntas ou em fissuras de retração”. Segundo Bina e Teixeira (2002), pode-se afirmarque: “se a maioria das futuras patologias dos pisos e pavimentos está ligada diretamente às juntas, e se as juntas são as principais responsáveis pelas interdições e redução da vida útil do piso, criou-se a necessidade pela busca de uma solução capaz de atender a esse requisito, neste caso a solução está diretamente relacionada a um melhor método construtivo que permite a redução do número de juntas”. Segundo Schmid (1997), “as juntas de dilatação, maior fonte de quebras na placa convencional, podem ser distanciadas de até 150 m umas das outras, sendo, porém de execução mais sofisticada”. Frente a estas considerações, a utilização do concreto com fibra sintética para execução de pisos industriais, constitui-se de tecnologia que pode oferecer uma alternativa tecnicamente superior, com elevada durabilidade e economicamente competitiva. 3.3. O CONCRETO PARA PISOS Quando falamos em concreto para pisos, procuramos caracterizá-lo como um concreto diferente do concreto empregado em estruturas, o que realmente ele é, pois apresenta distintas formas de aplicação e sempre tem uma grande área, em relação ao seu volume, em contato com o ar, permitindo que ocorra uma perda de água muito mais severa, quer em velocidade como um resultado global, do que o concreto convencional. Como parâmetros mínimos de dosagem, temos: a) Consumo de cimento: 320 kg/m3; 16 b) Teor de argamassa entre 49% e 52%; c) Abatimento mínimo entre 80mm e 100mm; d) Ar incorporado inferior a 3%. A fixação do consumo mínimo de cimento está associada à resistência superficial do piso, pois na fase de acabamento deve haver uma quantidade de pasta suficiente para o fechamento e alisamento superficial, embora este fator não seja o único responsável pela resistência à abrasão. Resumidamente a resistência superficial pode ser correlacionada diretamente com a resistência à compressão, mas pode ser fortemente afetada pela exsudação do concreto, que levaria a uma maior relação água-cimento gerando, portanto, uma menor resistência superficial. A fixação do consumo mínimo de cimento é, muitas vezes polêmica, mas vamos ver o que dizem as normas: a da ABNT (ABNT, 1986) fixa o consumo mínimo de 320kg/m3 ; o ACI 302-1R (ACI, 1996) estabelece valores entre 280kg/m3 , quando a dimensão máxima do agregado for 38mm e 360kg/m3 , quando a referida dimensão for 10mm. Mais objetiva esta norma fixa valores de resistência mecânica entre 21MPa e 31MPa, dependendo da classe do piso. O teor de argamassa está associado a trabalhabilidade necessária nas operações com o rodo de corte e outros equipamentos, para garantir o índice de planicidade do piso. Teores baixos deixam os agregados graúdos muito próximos da superfície tornando-os visíveis em função da alteração de coloração a argamassa que está sobre ele; teores muito elevados podem causar a delaminação da camada superficial. O abatimento, da mesma forma que o teor de argamassa, e função das necessidades de lançamento e acabamento superficiais. Misturas mais rígidas tornam difíceis as operações com régua vibratória, fazendo com que o lançamento seja muito lento, além do que a baixa potência de vibração desse equipamento não permita que a quantidade de argamassa superficial seja suficiente às operações de acabamento. Por outro lado, misturas excessivamente plásticas, com abatimento superior a 12 são facilmente segregáveis quando não se emprega critérios de dosagens adequados e normalmente essas misturas mais fluidas exigem quase sempre o emprego de aditivos mais caros e não justificando o seu emprego. Finalmente, a limitação do teor de ar incorporado é relativamente recente e é imposta em função da ocorrência da delaminação, patologia muito séria e que tem como uma de suas causas o teor de ar incorporado na mistura. Essa limitação tem causado alguma confusão junto aos especificadores, pois no Brasil é comum o emprego de ar 17 incorporado em concretos de pavimentação e não há ocorrência de delaminação nessas obras; a diferença fundamental é que nos pavimentos a textura superficial é aberta – acabamento vassourado – permitindo a saída do ar, enquanto nos pisos ela é fechada – acabamento vítreo – retendo o ar sob essa camada superficial mais densa. 4. A INFLUENCIA DAS FIBRAS DE POLIPROPILENO NAS PROPRIEDADES DO CONCRETO O concreto reforçado com fibras de polipropileno é um tipo de compósito fibroso. Conforme sugerido nas seções anteriores o concreto e as fibras de polipropileno são materiais que se complementam porque ao serem combinados formam um material mais completo e versátil. Procura-se nas próximas seções, com base no arcabouço teórico anteriormente apresentado, justificar os efeitos das fibras de polipropileno em algumas das propriedades do concreto no estado plástico. As fibras plásticas são empregadas no concreto de piso, sendo que a propriedade mais facilmente notada é o aumento da coesão da mistura fresca. Sua função principal é minimizar a fissuração que ocorre no estado plástico e nas suas primeiras horas de endurecimento, não devendo substituir os habituais reforços para o combate da retração hidráulica, pois apresentam pouca influência sobre as propriedades do concreto endurecido (ACI, 1996). A Portland Cement Association (PCA, 1995) desenvolveu gráficos para estimar a nível de evaporação em função da umidade relativa do ar, temperatura do concreto e velocidade do vento. Segundo esse trabalho, se a taxa de evaporação atingir 1litro/m2 /hora é recomendada que sejam tomadas precauções contra a fissuração por retração plástica. Para exemplificar, a condição climática com temperatura do ar em 250C, umidade relativa dor ar de 40%, temperatura do concreto de 30 0C e velocidade de vento de 15 km/h é suficiente para se atingir um nível de evaporação de 1litro/m2 /hora. As fissuras de retração plástica são causadas pela mudança de volume do concreto no estado plástico. As retrações que ocorrem no concreto antes do seu endurecimento podem ser dividias em quatro fases (Wang et al, 2001): Primeira fase - assentamento plástico: ocorre antes da evaporação da água do concreto; quando do lançamento, o espaço entre as partículas sólidas está preenchido com água; assim que essas partículas sólidas assentam, existe a tendência da água subir para a 18 superfície formando um filme e esse fenômeno é conhecido por exsudação. Neste estágio a mudança de volume do concreto é muito pequena. A retração por assentamento plástico ocorre quando a exsudação é elevada e o cobrimento da armadura é reduzida. A combinação destes fatores provoca elevado grau de assentamento do concreto e se ele for restringido pela armadura, a ponto de gerar tensões internas de tração, certamente ocorrerão fissuras originadas do assentamento plástico. Deve-se notar que estas fissuras são independentes da evaporação e da secagem da superfície. Além da espessura do cobrimento, quanto maior o abatimento do concreto e o diâmetro da armadura maior a possibilidade da ocorrência de fissuras de assentamento plástico (Suprenant, 1999). As fibras de polipropileno reduzem a exsudação diminuindo o nível de assentamento, formando um micro reforço tridimensional que “suspende” ou “sustenta” os agregados, impedindo que eles assentem sob a ação da gravidade e, além disso, as fibras, conforme mencionado anteriormente, aumentam a resistência à tração nas primeiras idades. Com isso as fissuras por assentamento plástico são minimizadas. Segunda fase - retração plástica primária ou retração por exsudação: é a fissura plástica clássica. A água superficial começa a evaporar-se por razões climáticas – calor, vento, insolação – e quando a taxa de evaporação excede a da exsudação, o concreto começa a contrair-se. Este tipo de retração ocorre antes e durante a pega e é atribuída às pressões que desenvolvem nos poros capilaresdo concreto durante a evaporação. Terceira fase - Retração Autógena5 : neste caso, quando a hidratação do cimento se desenvolve, os produtos formados envolvem os agregados mantendo-os unidos; nessa fase, a importância da capilaridade decresce e o assentamento plástico e a retração plástica primaria decrescem, tomando seu lugar a retração autógena, que quando o concreto está ainda no estado plástico é pequena, ocorrendo quase que totalmente após a pega do concreto. No passado essa parcela da retração era praticamente desprezada, mas hoje, principalmente com o emprego de baixas relações água/cimento, a retração autógena ganhou destaque importante. Quarta fase - retração plástica secundária: ocorre durante o início do endurecimento do concreto. Assim que o concreto começa ganhar resistência, a retração plástica tende a desaparecer. As combinações mais comuns de ocorrência da retração plástica são as três primeiras fases: assentamento plástico, retração por exsudação e a autógena. Sempre que há restrições a essas variações volumétricas, tanto internas como externas, desenvolvem- se tensões de fração com probabilidade da ocorrência de fissuras. 19 Nos últimos anos temos observado um aumento significativo das patologias associadas à retração plástica do concreto, que podem estar ligadas a relações água/cimento mais baixas e ao emprego de cimentos de finura mais elevada, além do emprego de outros materiais cimentícios adicionados a ele, como a escória de alto forno, pozolanas, filer calcário, que são geralmente extremamente finos; é sabido que essas adições incrementam a retração do concreto (Kejin et al, 2001 e Neville, 1997). Esse aumento na retração plástica geralmente está associado a três fatores: baixas taxas de exsudação, elevada retração autógena e elevadas pressões capilares provenientes das altas finuras dos materiais cimentícios. Há algum tempo, imaginava-se que as fissuras de retração plásticas eram inofensivas, pois apresentavam pequena profundidade, não progredindo com o pavimento em utilização. Isso com certeza era verdadeiro quando as tensões de retração hidráulica eram baixas e as tensões de utilização – aquelas oriundas dos carregamentos – eram pequenas devido principalmente às elevadas espessuras. Hoje em dia, além das expressivas retrações dos concretos modernos, os pisos são na sua totalidade empregados com reforços, com telas soldadas ou fibras de aço, que levaram a uma redução na espessura com o incremento das tensões atuantes, além do que, a necessidade na redução de custos tem imposto espessuras mais arrojadas. Como consequência, observa-se hoje um grande número de fissuras, cujo aspecto só pode ser explicado pela evolução das antes inofensivas fissuras plásticas. O emprego de fibras sintéticas como auxiliares no combate ou redução das fissuras de retração plástica tem sido largamente difundido por diversos pesquisadores, embora o mecanismo como isso ocorre não seja bem conhecido, havendo vertentes que advogam que os complexos mecanismos da pressão dos poros capilares desempenham importante papel na redução da retração e consequentemente das fissuras, enquanto outros preferem atribuir às fibras a redução dos efeitos danosos da retração (Padron et al, 1990); provavelmente e pelos resultados de pesquisas experimentais ambas teorias são válidas, sendo que a questão da redução da porosidade capilar irá afetar basicamente a retração por exsudação, enquanto que a fibra, como material de reforço deve atuar nos estágios subsequentes, enquanto o módulo de elasticidade da fibra plástica for superior ao da pasta de cimento. Por exemplo, Padron e Zollo (Padron et al, 1990) pesquisando concretos e argamassas com reforços de fibras de polipropileno e acrílico obtiveram, para o concreto, que a redução da quantidade de fissuras variou entre 18% a 23%, enquanto que a retração 20 total dos corpos de prova variou de 52% a 100% com relação ao padrão de concreto simples. Curiosamente, a amostra com fibras que apresentou a mesma retração do padrão, foi a que exibiu menor quantidade de fissuras, 18% da observada no concreto simples; vemos que esses dados indicam que os dois fatores estiveram presentes. O mecanismo principal de atuação das fibras pode ser modelado como: a) O concreto simples, logo após o lançamento, é fluído. Aos poucos o concreto endurece e com isso perde sua fluidez e, consequentemente, sua capacidade de deformação, b) Em contra partida, com a evaporação da água de exsudação a retração aumenta até que em determinado momento o nível de deformação de retração é maior que a capacidade do concreto absorver estas deformações, e então, as fissuras aparecem; c) O concreto com fibras de polipropileno é mais deformável nas primeiras idades. As fibras com 80% de deformação de ruptura transferem esta capacidade de deformação para o concreto. A deformação devido à retração é a mesma, porém não maior que a do concreto com fibras. Assim as fissuras são inibidas ou sua frequência e tamanhos são reduzidos. Na pesquisa citada (Padron et al, 1990), os autores efetuaram as medidas após 16 horas de exposição em túnel de vento, sendo que as primeiras fissuras foram observadas cerca de duas horas após a moldagem. Uma das dificuldades que se observa nessas diversas pesquisas é o tipo de ensaio que foi empregado, pois os normalizados, como o ASTM C1576 , não são adequados à determinação da retração nas primeiras idades e na verdade cada pesquisador acaba por adotar um procedimento diferente e, portanto os ensaios tem valor comparativo, mas não são na maioria dos casos, intercambiáveis. Em comum esses ensaios têm o emprego de câmaras de vento, umidade e temperatura controladas e a amostra é submetida a algum tipo de restrição, como um o-ring, aderência na base simulando um overlay aderido ou outras restrições à movimentação. A eficiência das fibras depende de diversos fatores, como a sua relação L/d, comprimento, módulo de elasticidade, dosagem e até mesmo as características do próprio concreto: por exemplo, matrizes mais ricas (menor relação cimento/areia) respondem mais eficientemente à adição das fibras e o concreto leve apresenta maior potencial de redução de fissuras do que o convencional, quando são empregados teores e tipos idênticos de fibras (Balaguru, 1994). 21 Balaguru desenvolveu um extenso programa de ensaios com diversos tipos de fibras sintéticas e também de aço e suas principais conclusões podem ser sumarizadas em: d) A adição de fibras sintéticas, mesmo em teores tão baixos como 0,45kg/m³ promove alguma redução na quantidade de fissuras; e) Reduções mais acentuadas são conseguidas com dosagens entre 0,45kg/m³ e 0,90kg/m³; f) Para fibras longas, aquelas que apresentam menor módulo de elasticidade são as que propiciam melhor desempenho; g) Para dosagens do 0,9kg/m³, tanto para as fibras de nylon como as de polipropileno, praticamente não se observou, nos experimentos, fissuras de retração plástica. h) A quantidade de fibras – número de fibras por quilograma – é um parâmetro importante de dosagem; i) Fibras longas apresentam melhor desempenho em argamassas mais pobres e concretos, enquanto que as microfibras apresentam melhores resultados nas misturas mais ricas. j) Com as fibras sintéticas, não ocorre apenas a redução da quantidade de fissuras, mas também a abertura delas é menor. Portanto, vemos que a dosagem dos concretos com fibras sintéticas não pode ser generalizada para qualquer tipo de fibra, mas sim fruto de análise experimental que conduzirá ao melhor resultado final. Embora as fibras venham sendo empregadas em pavimentação praticamente desde 1978, ainda observamos hoje algumas lacunas que poderiam melhorar a compreensão da sua forma de ação e contribuir para um melhor desempenho do concreto, mas a dosagem ainda éfeita com certo grau de empirismo, o que muitas vezes pode causar dúvidas com no usuário. 4.1. EFEITO DA ADIÇÃO DE FIBRAS A adição de fibras traz ganhos significativos para a matriz cimentícia, melhorando as suas propriedades. Porém, deve-se levar em consideração o tipo de fibra que será adicionada no concreto, pois cada fibra possui características que poderão gerar efeitos diferentes. De acordo com Bernardi (2003), o emprego de fibras com 22 características variadas resultará em variações significativas nas propriedades mecânicas dos compósitos gerados, permitindo que se obtenha diferentes ganhos em termos de resistência mecânica, ductilidade, abrasão e controle da fissuração. Em todos os efeitos observados com o acréscimo de fibras, as maiores vantagens são o aumento da tenacidade1, e o aumento da resistência à tração (FIGUEIREDO, 2000; GARCEZ, 2005, p. 34; MEHTA; MONTEIRO, 1994, p. 445; NUNES; AGOPYAN, 1998; PAIVA; FIGUEIREDO, 2007, p. 3). Outra característica importante que as fibras conferem às matrizes cimentícias é a melhoria da resistência ao impacto, ou seja, o compósito consegue suportar a colisão de elementos por um número maior de vezes (GARCEZ, 2005; MEHTA; MONTEIRO, 1994; NUNES, 2006; SAVASTANO JÚNIOR, 1992). Apesar da constatação de que há um acréscimo na tenacidade e outras características que definem a capacidade mecânica dos compósitos, existem alguns problemas e deficiências que podem vir a surgir no compósito com a incorporação das fibras. O decréscimo da trabalhabilidade da mistura pode ser observado, não importando o tipo de fibra incorporado. Com a adição de fibras, podem ocorrer problemas devido à incorporação de ar no compósito na moldagem, além das fibras intertravarem o compósito, dificultando a vibração. Isto ocorre porque, com a incorporação de fibras, aumenta-se consideravelmente a área específica dos materiais. Com o aumento da área específica diminui, naturalmente, a água disponível para a molhagem dos materiais. Devido a isso a coesão entre as partículas aumenta e os resultados do ensaio de abatimento são alterados (FIGUEIREDO, 2005; GARCEZ, 2005; MEHTA; MONTEIRO, 1994). 5. MATERIAS E METODO Através deste estudo avaliou-se a influência da adição de microfibras de polipropileno nos teores de 0 g/m3, 600 g/m3 e 900 g/m3 e de diferentes condições de cura (sem cura, cura úmida e cura úmida após três dias de exposição ao ambiente) em concretos com resistência característica à compressão (fck) de 30 MPa, empregados em pisos. Para tanto, foram realizados ensaios de exsudação, resistência à compressão uniaxial e dureza superficial por esclerometria 23 5.1. MATERIAIS Os concretos foram produzidos com cimento CP II-Z, por ser o tipo mais empregado nas obras de pisos industriais, agregado miúdo natural de origem quartzosa e agregado graúdo de origem basáltica, contido na zona granulométrica 9,5/25 (brita 1). Para melhorar a dispersão das microfibras, bem como a trabalhabilidade da mistura, adicionou-se aditivo superplastificante Tabela 1. Principais características dos materiais utilizadas CIMENTO AGRAGA DO MIÚDO AGREGADO GRAÚDO MICROFIBR AS MASSA ESPECÍFICA (g/cm3) 2,96 2,60 2,57 0,91 MÓDULO DE FINURA - 1,47 6,91 - DIMENSÃO MÁXIMA (mm) - 1,18 19 - ABSORÇÃO DE ÁGUA (%) - 0,8 2,98 - COMPRIMENTO (mm) - - - 12 DIÂMETRO (µm) - - - 18 ALONGAMENTO (%) - - - 80 A dosagem foi realizada pelo método do IPT/EPUSP, fixando-se o abatimento do concreto em 100 ± 20 mm, e o teor ideal de argamassa (α), em 54%, determinado experimentalmente. 24 Tabela 2. Dosagem experimental. TRAÇO UNITÁRIO (1:m) RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO (a/c) RESISTÊNCIA 28 DIAS (MPa) CONSUMO DE CIMENTO (kg/m3) TEOR DE UMIDADE (%) ABATIMENTO (mm) 1:3,5 0,44 35,61 466,53 9,8 80 1:5,0 0,64 23,29 342,74 10,7 130 1:6,5 0,76 16,37 276,60 10,1 100 5.2. ENSAIO DE EXSUDAÇÃO O ensaio de exsudação, realizado com o concreto no estado fresco, seguiu as prescrições da NBR 15558. No entanto, o molde para confecção dos corpos de prova foi em PVC, com dimensões reduzidas (200x150 mm), mas respeitando-se a relação entre diâmetro e altura proposta pela Norma. Durante o ensaio os corpos de prova permaneceram em câmara climatizada (UR 60 ± 10% e temperatura de 23 ± 2ºC). Segundo a NBR 13752 vem descrito tecnicamente relacionado ao âmbito legal como o profissional legalmente habilitado pelo Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA’s), com atribuições para proceder a perícia. 5.3. ENSAIO DE COMPRESSÃO UNIAXIAL O ensaio de resistência à compressão uniaxial seguiu a NBR 5739. Foram moldados, e ensaiados aos 28 dias, corpos de prova cilíndricos com dimensão 100x200 mm. Estes foram adensados em mesa vibratória e permaneceram cobertos por uma lona plástica durante as primeiras 24 horas, a fim de evitar a perda de água do concreto para o ambiente externo. Posteriormente, os corpos de prova foram desmoldados e mantidos em câmara úmida (UR ≥ 95% e temperatura de 23 ± 2ºC) até a realização do ensaio. 5.4. ENSAIO DE DUREZA SUPERFICIAL O ensaio de dureza superficial foi realizado conforme a NBR 7584 [6]. Foram moldadas placas de concreto com dimensões de 250x350x100 mm, marcando-se 16 pontos de leitura na superfície de cada uma, espaçados entre si 30 mm, e com mais de 50 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-70762019000300344#B06 25 mm de distância das bordas. Para a realização do ensaio, as placas foram fixadas por duas de suas extremidades na prensa hidráulica, com aplicação de 30% da tensão de ruptura à compressão do concreto. A leitura dos pontos foi feita pelo esclerômetro de reflexão. 6. RESULTADOS Os resultados obtidos nos ensaios são apresentados e discutidos a seguir. 6.1. EXSUDAÇÃO O percentual de água exsudada durante o ensaio é mostrado na tabela a seguir. Tabela 3 Resultados do ensaio de exsudação. TRAÇO TEOR DE MICROFIBRA (g/m³) EXSUDAÇÃO (%) 1 0 2,067 2 600 3,736 3 900 3,895 A exsudação aumentou em 80,7% para a adição de 600 g/m3 de microfibra e 88,4% para a adição de 900 g/m3, segue a tabela a seguir. Tabela 4 Quantidade de água exsudada, em percentual. TEOR DE MICROFIBRA EXSUDAÇÃO (%) 0 2,067 600 3,736 900 3,895 A orientação dos filamentos de microfibra pode ter sido a responsável pela maior quantidade de água exsudada no concreto, através da criação de caminhos preferenciais para sua saída. No entanto, essa orientação somente poderia ser confirmada por meio de análise microscópica do compósito cimentício. Com isso, não se pôde determinar se tal material exerce influência nesta propriedade, conforme revelado também nos estudos de 26 SILVA. Para isso, seria necessário aumentar o número de amostras ensaiadas, obtendo assim resultados mais precisos. 6.2. RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO UNIAXIAL Os resultados do ensaio de compressão uniaxial são apresentados na Tabela 4. Estes resultados foram analisados estatisticamente pelo método da análise de variância (ANOVA), para assim determinar a influência significativa ou não das microfibras, conforme a Tabela 4. Tabela 4 Resultados do ensaio de resistência à compressão. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO UNIAXIAL TRAÇO TEOR DE MICROFIBRA (g/m3) MÉDIAS (MPa) DESVIO PADRÃO (MPa) CV (%) 1 0 29,21 0,38 1,31 2 600 38,97 1,57 4,02 3 900 35,61 1,32 3,70 CV = coeficiente de variação. Observa-se que a adição de microfibra elevou a resistência do concreto em 33,4% e 25,3% para os teores de 600 g/m3 e 900 g/m3, respectivamente. Tal fato não era esperado, pois o material possui baixo módulo de elasticidade não exercendo, desta forma, influência significativa nas propriedades mecânicas, o que jáé confirmado em diversos estudos, como o de SILVA e o de RICHARDSON, que avaliou a resistência à compressão de concretos com adição de 450 g/m3, 900 g/m3 e 1800 g/m3. Contudo, para os materiais e teor de aditivo utilizado neste estudo, as microfibras podem ter atuado como pontos de nucleação, retendo maior quantidade de água na zona de transição, e possibilitando, assim, maior hidratação das partículas de cimento presentes nessa zona, o que melhorou a coesão e resultou em ganhos de resistência. Além do mais, as microfibras tem a capacidade de amarrar as microfissuras iniciais do concreto, o que também pode ter contribuído para o aumento da resistência, através do retardamento da ruptura dos corpos de prova, como o ocorrido no estudo de SENISSE e JUNIOR e ROCHA. 27 6.3. DUREZA SUPERFICIAL A dureza superficial média verificada para cada condição ensaiada é apresentada na Tabela 5. Tabela 5 Resultados do ensaio de dureza superficial DUREZA SUPERFICIAL TRAÇO TEOR DE MICROFIBRAS (g/m3) CONDIÇÃO DE CURA IE MÉDIO DESVIO PADRÃO CV(%) 1-A 0 Úmida 51,8 2,1 4,0 1-B 0 Úmida após 3 dias 51,4 2,4 4,7 1-C 0 Sem 50,5 0,5 1,0 2-A 600 Úmida 47,9 2,1 4,4 2-B 600 Úmida após 3 dias 53,7 1,5 2,9 2-C 600 Sem 51,2 0,5 1,0 3-A 900 Úmida 49,2 1,3 2,6 3-B 900 Úmida após 3 dias 51,1 3,4 6,6 3-C 900 Sem 50,7 2,2 4,3 IE = índice esclerométrico; CV = coeficiente de variação. Os dados foram analisados estatisticamente pelo método de análise da variância (ANOVA), o qual buscou determinar se o teor de microfibras, a condição de cura e a interação entre esses dois fatores teve influência significativa na propriedade avaliada, de acordo com a Tabela 6. Tabela 6 Análise de variância para dureza superficial. GDL MS F P SIGNIFICÂNCIA TEOR DE MICROFIBRAS (1) 2 1,17 0,30 0,747612 NS TIPO DE CURA (2) 2 9,02 2,31 0,155386 NS (1) X (2) 4 5,43 1,39 0,312552 NS ERRO 9 3,91 - - - GLD = graus de liberdade; MS = média simples; F = valor calculado de F; P = nível de significância; S = valor significativo; se P<5%, valor significativo. 28 Observa-se que nenhuma das variáveis de controle, nem a interação entre elas, tiveram efeito significativo sobre a dureza superficial. Sendo a dureza uma propriedade de superfície, o ensaio de esclerometria avalia o concreto apenas a uma profundidade de aproximadamente 3 mm. Assim, de acordo com MEHTA e MONTEIRO, durante o ensaio o êmbolo pode impactar sobre agregados que ficam próximos à superfície, o que gera interferência nos resultados, uma vez que a dureza do agregado é superior à dureza da argamassa. A manifestação da real influência das variáveis de controle pode ter sido inibida por tal fator. Porém, sabe-se que a cura é de extrema importância no desempenho do concreto, o que já foi comprovado em diversas pesquisas, como a de SILVA. A autora avaliou a influência da cura submersa e em caixa aquecida na dureza superficial de concretos, confirmando o aumento de 3% para corpos de prova que receberam cura submersa. A inibição da influência da cura, nesse caso, ocorreu devido à ação das microfibras, que diminuindo a retração na fase plástica minimizou a abertura de fissuras nos concretos sem cura, igualando sua dureza superficial à dos concretos submetidos à cura úmida. Deste modo, o efeito da cura provavelmente seja mais notório nas propriedades de massa, como resistência à compressão, do que nas propriedades de superfície, uma vez que os estudos de SILVA et al. e BAUER et al. comprovaram um aumento significativo na resistência à compressão para corpos de prova que foram curados em câmara úmida ou submersos, em relação aos sem cura. 7. CONCLUSÃO O percentual de exsudação foi significativamente maior com a presença das microfibras, que apesar de serem hidrofóbicas, formaram caminhos preferenciais para a saída da água do concreto. Com relação à resistência à compressão, as microfibras elevaram de maneira significativa o parâmetro, amarrando as microfissuras e atuando como pontos de nucleação. Na dureza superficial, no entanto, não se pôde observar influência direta das microfibras e nem da cura, por esta ser uma propriedade de superfície. Analisando-se de forma geral os parâmetros avaliados, pode-se indicar a adição de microfibras no teor de 600 g/m3 como a mais eficiente para utilização nos concretos empregados em pisos. 29 8. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos, Rio de Janeiro, 2007. SILVA, A. V. R., DINIZ, H. A. A., RIBEIRO, J. A. 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