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Vanessa P Alves TXIX Patologia Cardiovascular – Parte III Cardiopatia Isquêmica A CI é um nome amplo que engloba várias síndromes intimamente relacionadas e causadas pela isquemia do miocárdio — um desequilíbrio entre o suprimento sanguíneo cardíaco (perfusão) e as necessidades de oxigênio e nutrientes do miocárdio. A causa principal: processo aterosclerótico e trombose. Na maioria dos casos, as síndromes da CI são as manifestações tardias de uma aterosclerose coronariana que se desenvolveu gradualmente durante décadas. A CI é a causa mais comum de insuficiência cardíaca esquerda, além de outras causas, como hipertensão sistêmica, doença da valva da aorta ou da valva mitral e as doenças primárias do miocárdio) Apresentação clínica da CI inclui as síndromes cardíacas: Angina Pectoris: a isquemia provoca dor, mas não é suficiente para causar a morte dos miócitos. Pode ser estável (quando ocorre durante certo grau de esforço físico – oclusão maior que 70%), causada por espasmo vascular (angina de Prinzmetal) ou instável (quando ocorre durante esforços físicos menores ou mesmo no repouso – oclusão maior que 90%). Infarto agudo do miocárdio (IAM): a isquemia é suficiente para causar a morte de cardiomiócitos CI crônica com ICC: descompensação progressiva do coração após IAM ou como resultado de lesões isquêmicas pequenas que, com o passar do tempo, acumulam-se e levam à falência mecânica cardíaca. Morte súbita cardíaca (MSC): pode ocorrer como consequência da lesão tecidual deixada por um infarto, mas geralmente resulta de arritmia fatal, sem necrose de miócitos. *A expressão síndrome coronariana aguda é aplicada a qualquer uma das três manifestações da CI — angina instável, IAM e MSC O estreitamento aterosclerótico pode afetar qualquer uma das artérias coronárias: artéria descendente anterior esquerda (DAE), artéria circunflexa esquerda (CE) e a artéria coronária direita (ACD) — isoladamente ou em conjunto. Placas clinicamente significativas tendem a ocorrer nos primeiros centímetros da DAE e da CE e ao longo de toda a ACD. Além da placa aterosclerótica, há outras causas: pode ser por um fragmento de êmbolo que chega às coronárias, oclusivo. Pode ocorrer isquemia sem ter oclusão da artéria, como em estado de hipóxia generalizada (paciente com anemia, choque hipovolêmico, comprometimento vascular). Taquicardia; insuficiência cardíaca mantida; doenças hepáticas e renais, principalmente as crônicas, também estão associadas a cardiopatia isquêmica e infarto do miocárdio. Porém, a causa principal: doença aterosclerótica coronariana. ➔ Infarto Agudo do Miocárdio Consiste na necrose do músculo cardíaco que resulta de isquemia. A maior parte é causada pela trombose aguda de uma artéria coronária - a ruptura de uma placa de ateroma preexistente atua como um núcleo para a formação de um trombo Tipo 1: complicação de placa aterosclerótica Tipo 2 (10% dos casos): vasoespasmo, embolia, distúrbios da demanda de O2, anemia, estado febril Insuficiências Cardíacas IC Esquerda: leva à diminuição da perfusão sistêmica e da elevação da pressão nas veias pulmonares. O ventrículo E pode estar hipertrofiado e dilatado, causando insuficiência mitral e aumento do átrio esquerdo. Nos pulmões, causa congestão e edema, derrame pleural. Quadro Clínico: dispneia aos esforços (dispneia em decúbito: ortopneia significa que já está mais avançada, melhora quando senta ou fica em pé), tosse, cardiomegalia, taquicardia, presença de B3 e estertores finos. A medida que a dilatação ventricular progride, ocorre regurgitação mitral e sopro sistólico. Fibrilação atrial devido aumento do átrio também pode ocorrer, que reduz o volume sistólico e causa estase (trombos – AVE, infartos). A diminuição do débito cardíaco reduz perfusão renal, que ativa SRAA, elevando volemia e PA: exacerba edema pulmonar. IC Direita: geralmente é consequência da IC esquerda, devido ao aumento da pressão na circulação pulmonar. Isoladamente, as causas podem ser: hipertensão pulmonar grave (provoca a cor pulmonale), doença primária da valva tricúspide ou do tronco pulmonar, em cardiopatias congênitas. Causa congestão venosa sistêmica. Quadro Clínico: hepatomegalia congestiva e hipertensão portal (ascite), esplenomegalia congestiva, produção de transudatos, gerando derrames pleurais e pericárdicos; edema periférico, principalmente edema de tornozelo e pré-tibial; turgência jugular. É comum a presença de sopro de regurgitação tricúspide ECG – Necrose-lesão-isquemia. Em caso de isquemia prolongada, o ECG pode estar alterado: depressão da onda Q (necrose), aumento da onda ST (lesão) e elevação do seguimento RST, com onda T invertida (isquemia). Manifestações Típicas Início: súbito, devastador Dor: intensa, opressiva, constritiva, em queimação, esmagante Localização: subesternal, precordial, epigástrica, dorsal, Irradiar: ombro, braço esquerdo, mandíbula Duração mais de 20 minutos Sudorese intensa, náuseas, dispneia, congestão e edema pulmonar, choque cardiogênico Ao contrário da angina pectoris, a dor normalmente dura vários minutos a horas e não diminui com a administração de nitroglicerina ou com repouso. Características de risco com manifestações atípicas: idosos, sexo feminino, DM, insuficiência cardíaca, com marca-passo. Em idosos e diabéticos, podem ser assintomáticos. Diagnóstico: 1) Sintomas 2) ECG 3) Aumento de enzimas plasmáticas: mioglobina (MB), troponina (TnT e TnI) e CK-MB – não são específicas do mm cardíaco e nem típicas de infarto, tendo que ser analisados e corresponder com o quadro clínico do paciente MB: está elevado nas primeiras horas, com pico, em média, na quinta hora CK-MB: eleva-se após 4 horas, presente até 2-4 dias após, com pico entre 24h-48h Troponina: começa a elevar-se a partir do 1º ou 2º dia, presente até o 7º dia Classificação Baseada no Tamanho: Microscópico: necrose focal (apresenta focos de necrose) Pequeno: menos que 10% do miocárdio do ventrículo esquerdo está comprometido Moderado: 10-30% do miocárdio do VE Grande: mais que 30% do miocárdio VE – geralmente incompatível com a vida, péssimo prognóstico *IAM também pode ocorrer no VD, não sendo evidenciado pelo ECG convencional – se suspeitar de patologia direita, tem que pedir derivações para coração direito. Classificação Anatômica – baseado na localização: Transmural: acomete toda a parede miocárdica, envolvem 50% ou mais da espessura do ventrículo Não-transmural: são focos localizados - intramural, subepicárdico, subendocárdico Classificação Patológica: Em evolução: vai a óbito em menos de 6 horas, não existindo resposta de dano celular (sem polimorfonuclear) Agudo: vai a óbito entre 6 horas e 7 dias, com abundância de polimorfonucleares Em cicatrização: vai a óbito entre 7 dias a 28 dias, com presença de mononucleares e fibroblastos Cicatrizado: com evolução de mais de 30 dias, com presença de colágeno no tecido Classificação Topográfica: Septal, parede anterior, lateral, inferior, inferobasal (posterior), VD – identifica a artéria acometida: A oclusão aguda da parte proximal da artéria DAE normalmente provoca infarto na parede anterior do ventrículo esquerdo, nos dois terços anteriores do septo ventricular e na maior parte do ápice do coração; uma oclusão mais distal do mesmo vaso pode afetar apenas o ápice. Oclusão aguda da parte proximal da artéria CE causa necrose da parte lateral do ventrículo esquerdo. Oclusão da parte proximal da ACD afeta grande parte do ventrículo direito. Uma oclusão na artéria coronária principal esquerda é normalmente fatal. *O terço posterior do septo e a parte posterior do ventrículo esquerdo são irrigados pela artéria descendente posterior, que é originada da ACD (coração com vaso dominante direito) ou da CE (coração com vaso dominanteesquerdo). Assim, em um coração com vaso dominante direito, a oclusão da ACD gera lesão isquêmica no ventrículo esquerdo, enquanto em um coração com vaso dominante esquerdo, a oclusão da CE geralmente afeta todo o ventrículo esquerdo e o septo. Características Macroscópicas Isquemia nos primeiros 40 minutos: infarto na região subendocárdica (<25%) Primeiras horas: infarto se estende além da área subendocárdia, indo para o terço médio do miocárdio (50-75%) 3-6 horas: extenso dano, acometendo toda a área, incluindo subepicárdio (>75%) Os infartos do miocárdio com menos de 12 horas geralmente não são macroscopicamente visíveis. 24 horas a 48 h: mudança discreta de cor (mais escura), não homogênea. 48h a 72h: já é evidente macroscopicamente o infarto, coloração intensa escura, homogênea, que envolve a área que sofreu a oclusão. Mais de 30 dias: fibrosado, área esbranquiçada na área do infarto Infarto Transmural 24h: área difusa, não homogênea, de uma coloração mais escura do que o musculo normal 48h: área localizada, coloração mais escura Mais de 30 dias: fibrosado, com aspecto esbranquiçado. São causados pela oclusão de vasos epicárdicos, a qual resulta da combinação de aterosclerose crônica com trombose aguda. Normalmente produzem elevações do segmento ST do ECG, pode haver ondas Q negativa. Afetam pelo menos uma parte do ventrículo esquerdo e/ou do septo interventricular. O tempo de duração da isquemia miocárdica é o maior determinante da transmuralidade do infarto. Infarto Subendocárdico Aspecto circunferencial – na circunferência do ventrículo. 24h: localizado na circunferência, 48h: área bem definida no subencodárdio 30 dias: cicatrizado, fibrosado, parte esbranquiçada na região subendocárdica É limitado ao terço interno do miocárdio; esses infartos normalmente não exibem elevações do segmento ST ou ondas Q no traçado do ECG. Características Microscópicas A partir de 6h: necrose isquêmica /necrose de coagulação → presença de célula fantasmas, eosinofilia citoplasmática 24h: processo inflamatório a partir de PMN (discreto) entre as fibras musculares + células fantasmas 72h: infiltrado inflamatório evidente entre as fibras musculares 15 dias: depósito de colágeno entre as fibras musculares, presença de fibroblastos, diminui o infiltrado inflamatório, aspecto rosado e pálido – colágeno imaturo. 30 dias: células fantasmas são substituídas por colágeno – já ocorreu fibrose do tecido – fibrose entre as fibras musculares Complicações Complicações precoces: envolvem o comprometimento do musculo cardíaco – complicações: necrose que provoca a ruptura do músculo, gerando hemopericárdio, que ocasiona em tamponamento cardíaco; ou ruptura do septo ventricular (causa choque cardiogênico), ou ruptura ou disfunção do músculo papilar (regurgitação mitral) Complicações tardias: sequelas deste comprometimento – fibrose, perdendo o espessamento do ventrículo, podendo apresentar aneurisma (dilatação aneurismática) da parede ventricular, pode formar trombos murais que pode romper e provocar AVE isquêmico (coronárias – polígono de Willis). Pericardite fibrinosa pós-infarto do miocárdio (Síndrome de Dressler) Miocardite Estado simples provocado a parti de um processo inflamatório do musculo cardíaco. São alterações morfológicas, resultado de uma reação inflamatória, na ausência de isquemia característica de doença arterial coronariana – pois numa isquemia, ocorre necrose do miocárdio, com células musculares necróticas e infiltrado inflamatório, sendo um infarto. Síndrome clínica de inflamação miocárdica não isquêmica resultante de um grupo heterogêneo de doenças infecciosas, imunes e não imunes, sendo capaz de formar uma reação inflamatória – se tiver isquemia, é infarto. Etiologia Pode ocorrer em qualquer idade, em paciente sem antecedentes de cardiopatia congênitas ou adquiridas, que começa a apresentar um quadro clínico de insuficiência cardíaca, arritmia, ou morte súbita. Etiologia idiopática e viral são as causas mais frequentes. Também pode ser por bactérias (tuberculose, difteria, sífilis, leptospirose), fungos, imunológicos (hipersensibilidades, LES, medicamentos), ou irradiação. 3 fases da Miocardite Viral: 1) Aguda: 3 a 4 dias de evolução. Disseminação e replicação viral, liberando IFN e interleucinas, provocando uma resposta imunológica no paciente. 2) Subaguda: a partir do 5 ou 6 dia, começa o comprometimento no coração devido a resposta antígeno-anticorpo no miocárdio. Células começam a morrer devido a inflamação. 3) Crônica: 15 a 30 dias, fase de cicatrização, processo fibrótico-cicatricial do músculo cardíaco. Paciente com sequelas. Suspeita-se de comprometimento do miocárdio quando há descompensação cardíaca e arritmias dias ou semanas após uma infecção viral em outro órgão Dados Clínicos de Alerta Ausência de doença cardíaca pré-existente Taquicardia desproporcional ao quadro febril – normalmente, o pulso deve estar associado ao pico febril Aparecimento súbito de arritmias/distúrbios de condução Cardiomegalia sem causa aparente Sintomas de ICC sem causa aparente Quadros de dor torácica, dispneia, febre, arritmias, IC em pacientes jovens sem antecedentes de doença cardíaca *Miocardite x infarto do miocárdio: na miocardite, o paciente geralmente não tem histórico de doença isquêmica prévia. Morfologia Nas primeiras 24h – aguda, o paciente não apresenta nada. Sendo subaguda ou crônica: coração aumentado de tamanho (não é cardiomegalia), dilatação das cavidades, lesões em placas ou difusas, miocárdio flácido, focos pálidos, hemorragias, microabscessos. Endocárdio e válvulas geralmente poupados. Trombos murais podem ser encontrados. 7-15 dias após o envolvimento miocárdico: coração pode estar normal, ou com hipertrofia residual, fibrose subendocárdica Microscopia Miocardite viral (linfocitária): infiltrado mononuclear, edema intersticial e necrose focal Miocardite bacteriana: infiltrado polimorfonuclear, formando microabscessos, com necrose focal, demonstradas as colônias bacterianas Miocardite eosinofílica (paciente com doença parasitária, doença autoimune, hipersensibilidade, drogas...): infiltrado mononuclear/eosinofílico perivascular, vasculite, necrose do miocárdio Miocardite Chagásica Presença do parasito (ninhos de amastigotas), tumefação das fibras miocardicas individuais, pseudocistos intracelulares, necrose focal das celulas miocárdicas, infiltração inflamatoria intersticial aguda e densa. Miocardite de Fleder – miocardite idiopática de células gigantes Origem desconhecido (viral? Medicamentoso?), em que se apresenta células gigantes sem a formação de granulomas. Caracterizada por intenso processo inflamatório polimórfico, contendo células gigantes multinucleadas rodeadas por linfócitos, eosinófilos, plasmócitos e macrófagos, associado a extensa lesão e necrose dos miocardiócito. Entretanto, não há formação de granulomas típicos (com células epitelioides). Diagnóstico Clínico – arritmias, IC, sem antecedentes Biomarcadores de lesão cardíaca: troponina, CK, CK-MB ECG de 12 derivações Ecocardiograma PCR, hibridização in-situ Ressonância Magnética Nuclear com realce tardio – para identificar o dano miocárdico (muda a densidade da parede cardíaca do VD) Angiografia coronariana – diagnóstico diferencial de doenças isquêmicas. Biópsia miocárdica. COVID-19: pode causar miocardite, sendo extremamente agressiva, pode levar a falência cardíaca.
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