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1 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Aula 1: Aterosclerose, hipertensão arterial, aneurismas, cardiopatia isquêmica. Aula 2: Endocardiopatias, miocardiopatias, pericardiopatias. Estudo em casa: congênitas, neoplasias. Figura 1 O sistema cardiovascular que permite que todas as nossas células tenham acesso ao oxigênio, nutrientes e água. E, esse sistema também permite que as células liberem seus metabólitos. O coração é uma bomba eletromecânica que permite o bombeamento de sangue. Vaso arterial: vaso que leva sangue do coração. Vaso venoso: vaso que traz sangue para o coração. Os capilares fazem parte da microcirculação, assim como as arteríolas e vênulas. Parte da circulação que só é vista através dos microscópios. Figura 2 Coração é um bom que possui 4 cavidades e fluxo de sangue é controlado pelas valvas. Relembrando a vascularização do coração Artérias coronárias, são vasos terminais que normalmente não sofrem anastomose. Isso é um problema pois quando você tem a obstrução de ramo coronariano a chance de gerar uma isquemia e um infarto é muito grande. As veias cardíacas vão se reunir nos principais troncos ascendentes e elas se reúnem no seio cardíaco que desaguam no átrio direito. É raro trombose em veia cardíaca. É muito mais comum trombose em artérias devido à aterosclerose. Figura 3 A silhueta cardíaca pode ser vista através do raio X simples. Figura 4 O ecocardiograma é o a utilização do ultrassom para observar tanto as câmaras cardíacas, quanto as valvas, as paredes cardíacas e Doença do coração e dos vasos 2 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 o fluxo sanguíneo. Em alguns aparelhos é possível ver a velocidade com que o sangue passa de um lugar ao outro. Figura 5 O eletrocardiograma é a análise da função elétrica do coração. Tem que saber as principais alterações do eletro. Eletro de hipertrofia de câmara, eletro de bloqueio de ramo, eletro de infarto do miocárdio. Figura 6 A biopsia endomiocárdica é um exame mais raro, mas que pode ser feito apenas em casos específicos. Feita através de um cateter introduzido normalmente no ventrículo direito e retira um pedaço do musculo para fazer uma análise histológica da doença cardiovascular (doenças de depósito, doenças autoimunes). Figura 7: Artéria coronária normal Sabemos que todos os vasos têm três camadas. A camada mais interna é a íntima que é formada por um epitélio simples pavimentoso conhecido como endotélio, no qual abaixo tem-se uma pequena camada d tecido conjuntivo (cório ou lâmina própria, função de nutrição). Na túnica médica tem-se tecido muscular liso capaz de fazer contração e relaxamento, regulando o diâmetro do vaso e o fluxo de sangue em seu interior. A camada adventícia é um tecido conjuntivo mais frouxo, com tecido adiposo e vários vasos sanguíneos (vasa vasorum) que servem para nutrir o vaso. Aterosclerose Arteriosclerose: endurecimento (tecido fibroso rico em colágeno) arterial por lesão na sua parede. Seus 3 tipos são: Aterosclerose (artérias grandes e médias): doença arterial grave e progressiva pela formação de placas fibronecróticas na íntima, devido à inflamação crônica, com enfraquecimento da parede, lesão endotelial e redução da luz vascular. A placa fibronecróticas originalmente ocorre na íntima com lesão do endotélio, mas pode acometer a camada média e até a camada adventícia. Copo de vidro X copo de plástico → a elasticidade está correlacionada a resistência. Arterioloesclerose (pequenas artérias e arteríolas): processo de deposição de proteína, também pode estar relacionado com a proliferação das células musculares lisas e fibroblastos da parede do vaso causando o espessamento da parede das arteríolas. 3 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Calcificação e esclerose da média de Mönckeberg (idosos com mais de 55- 60 anos, sem importância clínica). A aterosclerose é a principal causa de acidentes vasculares cerebrais, é uma causa importante de infarto do miocárdio, de infarto intestinal, de infarto renal, é uma causa muito importante de morte, relacionada a HAS, diabetes mellitus doença isquêmica dos membros inferiores causando gangrena na perna. A causa da aterosclerose não é muito bem conhecida, mas já se sabe que é uma doença multifatorial, ou seja, doença causada pelo somatório de vários fatores. Fatores de risco conhecidos Constitucionais genética e história familiar idade gênero masculino Modificáveis hiperlipidemia (hipercolesterolemia) tabagismo hipertensão arterial diabetes mellitus outros: inflamação (PCR), obesidade, sedentarismo, hiperhomocisteinemia, síndrome metabólica, etc. Formação da placa de ateroma - Aterogênese Figura 8 O endotélio vascular arterial sofre uma alteração bioquímica (ainda mal conhecida), essa alteração é conhecida como disfunção endotelial. Sabe-se que pessoas que apresentam o somatório de alguns desses fatores de risco tendem a desenvolver a disfunção endotelial. O endotélio que não está funcionando adequadamente estará com sua permeabilidade aumentada, assim haverá a penetração de substâncias do plasma na túnica íntima da parede do vaso, principalmente gorduras (LDL – lipoproteína de baixa densidade). A LDL penetra na túnica íntima e acaba sendo fagocitada pelo macrófago, quando o macrófago fagocita essa proteína transportadora de lipídios ele sofre alterações tóxicas e passa a secretar citocinas. Então, temos a seguinte sequência: (1) disfunção endotelial, favorecendo o aumento da permeabilidade vascular; (2) penetração de gorduras (principalmente LDL); (3) fagocitose das gorduras pelos macrófagos, gerando as estrias gordurosas; e, (4) liberação de citocinas. Hoje já se sabe que crianças e jovens adolescentes já apresentam estrias gordurosas nas artérias. Acredita-se que com o passar dos anos ocorra o espessamento das estrias e formação das placas de ateroma, formadas não apenas por células espumosas (macrófagos cheios de gordura – foam cells), mas também por células inflamatórias, gordura, tecido necrótico e tecido conjuntivo (colágeno). Patogenia ou aterogênese Figura 9 Na placa de ateroma além do macrófago vamos ter linfócitos T que vão liberar mais citocinas e fatores de crescimento que vão estimular a proliferação de fibroblastos e a migração de células miofibroblásticas (células musculares lisas especializadas) da camada média 4 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 para a camada íntima. As células miofibroblásticas vão proliferar gerando matriz extracelular, gerando tecido fibroso. A zona de células mortas vai gerar o centro necrótico. O tecido conjuntivo fibroso, normalmente, fica ao redor da placa. Figura 10 As estrias gordurosas (estrias amareladas) a medida que o processo da aterosclerose vai progredindo esse material vai criando uma placa branco-amarelada até formar a placa complicada que é caracterizada pela presença de ulceração, fibrose, muita necrose e calcificação. Na placa complicada é onde costuma-se ter a agregação plaquetária com a formação de trombos secundários à aterosclerose. Microscopia da aterosclerose Figura 11 Com a formação da placa de ateroma houve a redução da luz do vaso, houve uma estenose arterial. Ocorreu o espessamento da parede da artéria e observa-se a presença de um centro/núcleo necrótico ou núcleo gorduroso na placa de ateroma, causando uma destruição da parede arterial, alterando a elasticidade do vaso e favorecendo a ocorrência da hipertensão arterial. O aumento da pressão pode levar a uma ruptura do vaso. Aprópria aterosclerose pode romper o vaso. É uma lesão potencialmente hemorrágica. A aterosclerose provoca estenose, endurecimento da parede do vaso e fraqueza da parede do vaso. Os cristais de colesterol são essas manchas em formato de fuso. Processo inflamatório crônico ocorre através de linfócitos e macrófagos, liberando citocinas, o que leva ao aumento das proteínas C reativas (PCR). Figura 12 Essa área mais roxa localizada superiormente a luz do vaso corresponde a calcificação da parede. Nessa microscopia pode-se observar uma oclusão quase total da artéria coronária. Figura 13 5 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 14: Oclusão total por trombose na artéria coronária. Na figura 14 pode-se observar cristais de colesterol bem visíveis na região superior à luz do vaso com obstrução total (circulado de vermelho). Figura 15: Lâmina em maior aumento em que se observa cristais de colesterol, células espumosas e o trombo. Na figura 15 se observa o cristal de colesterol em formato fuso, circulado em vermelho. As células espumosas estão identificadas pelo círculo azul e correspondem a macrófagos repletos de lipídios. O tecido fibroso são essas estrias de coloração lilás identificados pelo círculo verde. O trombo arterial (trombo branco) está indicado pelo círculo rosa que é caracterizado por uma material mais rosado que é um aspecto histológico das plaquetas associada à fibrina. Figura 16: Consequências da placa de ateroma. A placa sofre aumento se os fatores de risco não forem controlados. O aumento da placa pode causar a ruptura com hemorragia. Geralmente, a hemorragia está relacionada com a dilatação do vaso com placa de ateroma (adelgaçamento). Quando ocorre a dilatação do vaso tem-se o aneurisma, o aneurisma é a dilatação localizada de um vaso sanguíneo ou do coração. Quando ocorre a ruptura da placa de ateroma pode ocorrer a exposição do seu material para o fluxo sanguíneo levando a formação de trombos. Note que a placa necrótica é uma superfície trombogênica, em que ao afetar o endotélio é favorecido o processo de ativação e agregação plaquetária e ativação da cascata da coagulação, principalmente pela ativação do fator XII. Então, tem-se a ativação da trombose. A oclusão pelo trombo vai gerar uma isquemia por hipóxia aguda, como é o caso do IAM, geralmente causada por uma oclusão trombose coronariana. A terceira hipótese de complicação da placa de ateroma é a progressão da placa com o crescimento até ocorrer a obstrução total, o que leva a hipóxia severa, conhecido como estenose crítica. Geralmente, nesse caso, há relação com os pacientes que fazem exercício e sentem a Angina Pectoris estável, em que ao ficar em repouso ou tomar um vasodilatador melhora da dor anginosa. Assim, esse paciente deve procurar o tratamento para evitar que o infarto aconteça. 6 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 17: Placa mole X Placa dura. Quando a placa de ateroma possui um núcleo gorduroso e necrótico muito grande e pouca fibrina se tem a placa mole ou placa instável. A placa mole sofre mais facilmente ruptura, trombose, então é uma placa perigosa para causar um IAM. Reserva cardíaca é a capacidade do coração de aguentar a hipóxia. A hipóxia crônica vai gerando no tecido uma resistência à hipóxia maior. Agora quando ocorre uma hipóxia aguda em um órgão que não estava “preparado” o tecido sofre muito mais. Por isso que hoje se indica que você não seja sedentário, o indivíduo que faz exercício frequentemente, principalmente exercício aeróbico, ele vai desenvolvendo uma reserva cardíaca maior e circulação colateral, o que evita a ocorrência do IAM. A placa de ateroma estável ou dura possui um núcleo gorduroso pequeno e uma cápsula fibrosa mais espessa. A placa dura provoca mais facilmente a estenose do que propriamente trombose e infarto. Nessas placas muitas vezes pode-se utilizar um stent, se essa placa não estiver calcificada, uma vez que o vaso calcificado não é mais complacente. O tecido conjuntivo tem uma capacidade elástica, permitindo a adaptação com o stent. Consequências da aterosclerose do ponto de vista clínico Isquemia: causando infarto agudo (cardíaco, cerebral, etc.); gangrena (extremidades); doença isquêmica crônica e atrofia tecidual (rim, cérebro, etc.) - Atrofia cerebral causando a demência aterosclerótica do indivíduo muito idoso. A demência da atrofia cerebral é diferente da demência por doença de Alzheimer. A doença de Alzheimer é causada pelo depósito de proteínas anormais beta-pregueadas no neurófilo e dentro dos neurônios. Trombose e tromboembolia: em placas complicadas por erosão, ulceração ou ruptura. Normalmente, ocorre uma trombose do tipo arterial causando obstrução dos órgãos periféricos, quando esse trombo se solta pode levar a isquemia de um órgão distal. Ateroembolia: por deslocamento da placa, ou seja, a placa de ateroma se transforma em um êmbolo. Aneurismas: por fraqueza da parede. Hemorragia: por rotura do vaso. Doença hipertensiva Níveis pressóricos arteriais mantidos, acima de 89mmHg na pressão diastólica ou 139mmHg na pressão sistólica. Doença mais comum no indivíduo adulto, é muito rara a hipertensão da criança. Geralmente, a hipertensão da criança está relacionada a uma má formação vascular como, por exemplo, uma coarctação da aorta ou doença policística, mas isso é raro. 95% é de causa ainda desconhecida (idiopática ou essencial) 5% de causas conhecidas (algumas curáveis): Doença cardiovascular: coartação aórtica, vasculites, rigidez aórtica, hipovolemia, etc. Doenças renais: Glomerulonefrite aguda, EAR, doença policística, tumores, etc. - Tumor renal secretor de renina: causam hipertensão secundária pela hipersecreção de renina, ativação da angiotensina. Doenças endócrinas: tumores (Feocromocitoma, acromegalia), hiper/hipotireoidismo, síndrome de Cushing, uso de hormônios, hiperaldorenismo, etc. Neurológicas: aumento psicogênico, estresse, etc. - Feocromocitoma geralmente é um tumor da supra renal mas também podem surgir nos gânglios simpáticos, são os tumores êntero cromafins capazes de secretar catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) 7 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 18 Consequências da doença hipertensiva Cardiopatia hipertensiva - Hipertrofia de VE (levando a edema pulmonar) - Isquemia relativa (ventrículo fica mais grosso, mas a irrigação permanece a mesma) e predisposição ao infarto - Insuficiência cardíaca (aguda ou crônica) → dispneia (ortopneia), cianose de extremidades, edema de MMII, ascite. Alterações vasculares - Disfunção endotelial (trombogênico) - Aceleração da aterosclerose - Arterioloesclerose hialina hiperplásica necrosante - Formação de aneurismas - Dissecção vascular (“aneurisma” dissecante) Rins - Nefrosclerose benigna/maligna (processo de atrofia; não tem nada a ver com câncer e sim com a gravidade da atrofia). - Insuficiência renal crônica → hipertensão e diabetes mellitus são as principais causas de IRC no mundo. SNC e olhos - Edema cerebral: pode ser uma consequência grave da encefalopatia hipertensiva. - Hemorragias e infartos (acidentes vasculares encefálicos) - Retinopatia hipertensiva causando cegueira pode ser causada por lesão na papila do nervo óptico como lesão direta na vascularização da retina. * Retina tem 8 camadas. Figura 20: Hipertrofia ventricular esquerda consequência da hipertensão arterial. Corte transversal do coração. Na figura 20 observa-se o espessamento da parede da arteríola por depósito de proteínas que saem do plasma (globulinas,albumina, hialina), na túnica íntima e média. Esse quadro é promovido exatamente pela disfunção endotelial que a hipertensão causa. A arterioloesclerose hialina vai causando estenose das arteríolas, o que causa isquemia crônica nos tecidos. Outra possibilidade que a aterosclerose causa é a arterioloesclerose hiperplásica como se observa na figura 21. Na arterioloesclerose hiperplásica as células da túnica média se Figura 19: Arterioloesclerose hialina. Figura 21: Arterioloesclerose hiperplásica. 8 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 proliferam e vão gerando uma lesão em aspecto de bulbo de cebola, o que vai levando a estenose da arteríola e posterior isquemia. Figura 22: Arteriolite necrosante e formação de petéquia. A arteriolite é uma inflamação necrosante, geralmente, é uma necrose do tipo fibrinoide com depósito de fibrinas, presença de trombo, com o processo inflamatório na parede. A hipertensão provoca a necrose da parede, causando a ruptura desse vaso, isso provoca uma pequena hemorragia (puntiforme) também conhecida como petéquia. Figura 23: Nefrosclerose benigna. Na nefrosclerose benigna o rim fica repleto de “bolinhas” correspondente ao processo de fibrose dos glomérulos. Em uma fase terminal, avançada, o rim não funciona mais. A arteriolite necrosante acontece principalmente nos rins. Quando se tem a nefrosclerose maligna acontecem essas micro hemorragias no rim. O rimo com nefroesclerose maligna também é conhecido como rim picada de pulga. Isso caracteriza a nefroesclerose maligna são arteriolites com presença de hemorragia no rim. Figura 24: Nefroesclerose maligna. Figura 25: Comparação - rim normal X rim com nefroesclerose benigna X rim com nefroesclerose maligna. Figura 26: Acidente cerebral vascular hemorrágico que afetou os núcleos da base. Aneurismas Corresponde a dilatação anormal localizada de um vaso sanguíneo ou do coração, congênita ou adquirida. Essas dilatações geralmente ocorrem 9 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 pela fraqueza da parede do vaso e com isso esse vaso acaba se dilatando. Podem ser, morfologicamente: saculares (formam um bago, muito frequente aneurisma sacular congênito) ou fusiformes (aneurismas mais associados com a aterosclerose e a hipertensão arterial). O aneurisma quando rompe ele causa um AVE hemorrágico causando óbito, mas comum em jovem. Geralmente, o aneurisma intracraniano congênito ele rompe na infância ou na juventude. Origens do aneurisma - Aterosclerose - Hipertensão arterial - Inflamações/infecções – vasculites, sífilis terciária (causando aneurisma de crossa de aorta), etc. -Trauma vascular - Doença da parede vascular (raras) – síndrome de Marfan (alteração da fibrilina, aneurisma em aorta torácica e abdominal, em paciente muito altos), Síndrome Ehlers-Danlos (doença ligada ao colágeno, má formação do TCPD), Síndrome de Loeys-Dietz, escorbuto (deficiência de vitamina C), etc. O aneurisma da figura 27 circulado em amarelo é causado por aterosclerose. Figura 28: Aneurisma aterosclerótico com formação de trombose no seu interior. Na figura 28 observa-se um aneurisma que sofreu uma ruptura indicada pela cânula, então esse paciente acabou indo à óbito por causa dessa ruptura. Figura 29: Aneurismas saculares no polígono de Willis, geralmente são congênitos. Figura 30: Aneurisma cardíaco pós infarto trombosado - embolia e ruptura podem ocorrer. Corte transversal do coração. Figura 27: aneurisma aterosclerótico da aorta abdominal infra-renal, fusiforme. VD VE ANEURISMA TROMBO 10 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 31 O termo “aneurisma” dissecante é ruim, o melhor termo é hematoma dissecante, que é o termo mais correto. O hematoma dissecante é uma hemorragia da parede do vaso. O aneurisma verdadeiro é uma dilatação. Aorta com aterosclerose muito grave com a hemorragia já formando um trombo na parede do vaso. As consequências graves do aneurisma são a ruptura com hemorragia e a trombose com obstrução, lembrando que o aneurisma quando trombosa ele pode liberar êmbolos. Cardiopatia isquêmica Importância: frequência alta e morbimortalidade alta. Classificação - Angina estável: é a dor pré cordial que normalmente é uma dor em aperto, intensa associada a sudorese, irradiação da dor para MMSS esquerdo, pescoço, mandíbula, para as costas. O processo de angina está associado ao sofrimento da célula, as células ainda não começaram a morrer. A angina está relacionada com o aumento da demanda de oxigênio, mas não está associada a ao aumento da oferta de oxigênio, gerando um desequilíbrio demanda X oferta. Na angina estável o paciente ao ficar em repouso ou fazer uso de vasodilatador a dor da angina irá cessar. A alteração da angina estável é apenas funcional e não morfológica, assim o paciente que morre sentindo angina estável não apresentará alteração na necropsia. - Angina instável é a angina que não melhora com repouso ou com o uso de vasodilatador oral, essa angina é prenuncio de infarto. A angina instável está ligada a uma placa mole que pode gerar trombose. Quando o coração morre por isquemia fala-se infarto. Esse infarto pode ser classificado em dois: Figura 32: Infarto subendocárdico X Infarto transmural Na figura 32 observa-se a artéria descendente anterior ocluída. Sabe-se que o coração recebe sangue do pericárdio para dentro, então a célula que é mais bem irrigada são as células mais periféricas. Dessa forma, a necrose começa de dentro para fora, na região abaixo do endocárdio. A primeira região logo de baixo do endocárdio é poupada do infarto porque ela é oxigenada pelo próprio sangue intraventricular. A vascularização do coração é principalmente diastólica, o coração é vascularizado durante a diástole. - Infarto subendocárdico: é uma zona de necrose que vai permanecer só abaixo do endocárdio. O infarto subendocárdico acontece quando o fluxo 11 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 de sangue é rapidamente restabelecido para o tecido, por exemplo, quando o paciente é atendido de forma rápida na emergência e você consegue fazer uma trombólise e revascularizar a área que estava tendo sua irrigação prejudicada pela presença de um trombo. Então a necrose para de evoluir, caso a necrose não pare de evoluir ela vai se estender até a região mais externa da parede do coração, e aí seria um infarto transmural. - Infarto transmural é o infarto que acomete toda a espessura da parede cardíaca. Figura 33 No infarto transmural da parede lateral ocorre o acometimento da artéria circunflexa responsável por irrigar a parede lateral anterior do ventrículo e o terço posterior do septo interventricular. O ventrículo direito é mais raro de infartar porque ele tem uma demanda mais baixa. O ventrículo direito provavelmente infarta quando se têm obstrução grave da coronária direita ou no final da circunflexa e descendente posterior. Figura 34: Infarto transmural em evolução de cerca de 5 dias, que levou o paciente à óbito. Foto à fresco. Na figura 34 se observa um infarto transmural em que o paciente faleceu provavelmente por arritmia ou por insuficiência ventricular aguda. Figura 35: Infarto extenso (parede do VE e do septo interventricular) com evolução de cerca de 4 dias. O infarto transmural pode levar à arritmia. Note a hipertrofia do ventrículo esquerdo. O infarto é composto por uma zona de necrose de coagulação (esbranquiçada) cercado por uma zona de inflamação (avermelhada). Na zona necrótica há uma perda da mioglobina,a mioglobina que confere a coloração vermelha do músculo cardíaco, levando a coloração esbranquiçada. Normalmente, ao redor da zona pálida tem-se uma área de edema e uma área de inflamação que aprecem com uma coloração mais avermelhada, mais hiperemiada nas peças. 12 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 - Isquemia crônica é um processo onde tem-se micro zonas de infarto que não aparecer macroscopicamente, mas o paciente com o passar dos anos ele vi evoluindo para um processo de cardiomiopatia isquêmica crônica que acaba levando ao processo de insuficiência cardíaca. É o caso da lesão crônica, em que o paciente já aparece com a insuficiência cardíaca, mas na verdade ele já está tendo a isquemia cardíaca crônica a muito tempo. Geralmente, isso é causado por aterosclerose e agravado pela hipertensão arterial sistêmica. O paciente diabético tem uma pré-disposição à aterosclerose, então esse paciente frequentemente aparece com essa isquemia crônica depois de um diabete não tratado de longa data. - Morte súbita acontece no paciente que sofre uma lesão isquêmica gravíssima, o paciente faz uma arritmia ou uma insuficiência cardíaca aguda e morre rapidamente. Nesse paciente você não vê alteração microscópica, essa morte é de natureza elétrica (arritmia), então não se vê nada na necropsia, vai ser uma necropsia branca. O termo morte súbita na cardiologia é a morte que ocorre nas primeiras 24 após o evento cardíaco. Dessa forma as cardiomiopatias isquêmicas que apresentam alteração morfológicas são: infarto subendocárdico, infarto transmural e cardiopatia isquêmica crônica. O que causa a doença isquêmica cardíaca? Aterosclerose Trombose Embolias são uma causa de obstrução vascular que dificilmente vai estar associada com o infarto do miocárdio, pode-se ter um AVC embólico, infarto renal, infarto esplênico, infarto intestinal, gangrena de membros inferiores por embolias arteriais. Espasmo vascular pode causar obstrução vascular, mas isso é incomum. Não se conhece muito bem esse mecanismo. Parece estar associado à um desequilíbrio do óxido nítrico na parede do vaso. O óxido nítrico na parede do vaso tem uma ação vasodilatadora, então aprece que algumas alterações e substâncias químicas que afetam os receptores de óxido nítrico na parede do vaso causariam espasmos vasculares . Alguns autores também atribuem a ocorrência de espasmos vasculares a alterações no sistema nervoso autônomo parassimpático. Então, por exemplo, acredita-se que o estresse agudo possa causar um infarto do miocárdio pelo mecanismo do espasmo vascular, de contração coronariana. Outras causas (raras): compressões de artérias e arteríolas por edema, por tumores, pós traumatismo. Fatores envolvidos no resultado - Intensidade e rapidez da obstrução - Duração - Extensão - Estado metabólico - Circulação colateral - Doenças associadas Figura 36: Imagem clássica do infarto agudo do miocárdio Figura 37 Angina típica/estável: placa de ateroma dura, com redução da luz vascular, sem trombose. 13 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 ICC: processo de placa grave que fecha muito a parede do vaso, mas sem trombose Angina instável: placa mole, que se rompe e faz trombose não muito intensa. Infarto subendocárdico: placa mole, que se rompe e faz trombose muito intensa, pode levar a morte súbita. Infarto agudo transmural: trombose oclusiva em paciente mais idoso sedentário, pode levar a morte súbita. Microscopia Figura 38: Miocárdio normal. O miocárdio é um músculo estriado que apresenta tanto estriações longitudinais (sarcômeros) quanto transversais (interposição da miosina e actina ao longo dos sarcômeros). Figura 39: Primeira alteração com a isquemia. As proteínas do sarcômero começam a coagular, elas se aglutinam porque ocorre uma necrose por coagulação. Quando as proteínas coagulam ocorre a formação das bandas de contração sinalizadas com o círculo amarelo. Essa é a primeira alteração que ocorre na microscopia, mas isso também só vai aparecer após 10-12 horas do infarto. Figura 40: Necrose de coagulação. Infarto do miocárdio. Quando o infarto já evolui, tem mais de 24 horas de infarto, se vê a necrose de coagulação já bem completa. A fibra cardíaca perde totalmente as suas estriações. O núcleo único e central, presente no miocárdio normal não está presente na célula necrótica. Os núcleos no miocárdio infartado sofrem cariólise (dissolução enzimática). Também começamos a ver a presença de células inflamatórias (neutrófilos, macrófagos e linfócitos T), indicando que houve uma necrose. O citoplasma fica com uma coloração rosa mais escura, o que é conhecido como citoplasma eosinófilo sem estriações. Normalmente, ocorre um processo inflamatório agudo, onde predominam neutrófilos. Figura 41: Infarto com pelos menos 1 semana de evolução. 14 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 42: Evolução do infarto Tecido de granulação: é o tecido que está inflamado que vai gerar uma cicatriz, uma fibrose. Cinco elementos do tecido de granulação: edema células inflamatórias, fibroblastos, angiogênese e colágeno. Fibroblastos são células com o núcleo mais comprido. Na figura 42 se observa o colágeno corado de azul. Figura 43: Patocronia do infarto do miocárdio. Patocronia corresponde a evolução temporal das alterações patológicas. Figura 44: Infarto do miocárdio recente transmural (círculo amarelo) e antigo subendocárdico (círculo vermelho). Coração com hipertrofia do ventrículo esquerdo muito intensa. Coração com ruptura indicada pelo círculo verde. 15 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Complicações do IAM - Arritmias - Insuficiência ventricular - Aneurisma de parede (crônico) - Disfunção ou ruptura de músculos papilares levando a insuficiência das valvas cardíacas. - Ruptura de ventrículo esquerdo (gravíssimo) - Trombose mural (embolia possível) - Pericardite (com derrame/atrito) provoca do precordial. Ausculta indica o pericárdio visceral “roçando” no pericárdio parietal. - Morte súbita Aula 2: Endocardiopatias, miocardiopatias, pericardiopatias Figura 45:Endocárdio. O endocárdio é a membrana que reveste o coração, reveste as câmaras cardíacas e as valvas, é um folheto muito fino praticamente transparente composto por uma camada unicelular que é o endocárdio. Principais doenças do endocárdio Endocardite (inflamação do endocárdio) - Infecciosa (ppm bacteriana) - Trombótica não infeciosa - Imunológica (autoimune) Febre reumática (causa uma pancardite autoimune) Outras: Lúpus eritematoso sistêmico, etc. - Degeneração valvar com calcificações: estenose aórtica cálcica e a calcificação da valva mitral. - Prolapso da valva mitral (degeneração mixomatosa da mitral): predomina em mulheres jovens e pode ou não apresentar sintomatologia cardiológica, pode dar sincope, arritmia cardíaca. O que vai aparecer é um estalido ou sopro devido da insuficiência da valva mitral. Figura 46: Vegetações. O que é uma vegetação? É uma proliferação de tecido na superfície do endocárdio. As vegetações têm esse nome porque elas lembram uma “couve-flor”. As vegetações são compostas por material semelhante ao trombo, mistura de plaquetas e fibrina, podendo ter também tecido fibroso, principalmente, quando elas se organizam. Normalmente a vegetação é como se fosse uma trombose na superfície do endocárdio. É muito comum na endocardite o aparecimento dessas vegetações. Endocardite infecciosa Conceito: colonização e destruição do endocárdio mural e valvar (+/-30% são normais), com formaçãode “vegetações” (trombos com microrganismos) e destruição tecidual (inflamação e necrose), principalmente à nível valvar. Geralmente bacteriana (podendo ser fúngica: aspergilus, cândida) - Streptococcus (65%, ppm subaguda): viridans, epidermis, bovis, etc. - Staphylococcus aureus (25%, ppm aguda, usuário de drogas IV) A endocardite de origem bacteriana é gerada por cocos piogênicos, que normalmente estão presentes nas mucosas, na pele. - Outros: Enterococos, Haemophilus, Nisseria, bactérias da microbiota oral, etc. As valvas do lado esquerdo, como a mitral e a aórtica, elas são submetidas a uma tensão muito 16 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 maior por causa da pressão e velocidade do sangue (fluxo turbulento), então elas têm uma maior predisposição a apresentar lesões, sendo mais facilmente colonizadas por bactérias. Tríade de Virchow são alterações no endotélio, alterações do fluxo hemodinâmico e alterações da coagulabilidade. São as três alterações principais relacionadas a formação dos trombos. Com isso, a tríade pode explicar porque é mais frequente o trombo nas valvas. Fatores predisponentes: - Doença valvar prévia (doença reumática, próteses, prolapso da mitral, refluxos, etc.) - Manipulação contaminadas [cirúrgicas, procedimentos odontológicos, uso de drogas injetáveis (S. aureus, fungos), lesões infectadas em qualquer local, etc.] - Imunodeficiência - Alcoolismo - Câncer do cólon: lesão ulcerada. No cólon tem-se uma microbiota intestinal muito vasta, aumentando a probabilidade de ocorrência de endocardite - Bacteremias em geral Figura 47: Porta de entrada das infecções e fatores predisponentes da endocardite infecciosa. Endocardite infecciosa Formas clínicas clássicas: - Aguda: doença grave por agentes muito virulentos (ex. estafilococos) com destruição valvar; evolução de dias ou semanas; afeta valvas normais; difícil tratamento, que pode ser cirúrgico; alta mortalidade. - Subaguda: agentes de menor virulência (ex. Estreptococos viridans); evolução insidiosa de meses; afeta valvas anormais; tratamento mais eficiente, com antibacterianos, lesões menos destrutivas. Troca valvar. Não tem endocardite crônica, pois o paciente com antes dessa “cronicidade” evolui à óbito. Envolvimento valvar Lado Esquerdo Direito Aguda 70% 25% Subaguda 90% 5 – 10% Por drogas IV 40% 50% (exceção à regra) Pacientes que fazem uso de drogas de abuso têm as valvas direitas mais acometidas. Isso ocorre provavelmente porque o conteúdo contaminado inserido na via venosa irá chegar no coração pelo átrio direito e ventrículo direito (no lado direito), gerando uma maior contaminação desse lado do coração. Complicações: - Destruição do endocárdio valvar gera insuficiência valvar ou estenose - Abscesso valvar: troca da valva e limpeza do abscesso - Embolias para cérebro, baço, rins, nos principais órgãos ramos da aorta.: consequência da própria formação das vegetações. As infecções decorrentes de êmbolos infectados, formados a partir das vegetações, são conhecidas como infecções metastáticas. - Infecções metastáticas (infartos sépticos): leva o paciente à óbito. - Glomerulonefrite infecciosa: pode ser uma complicação pela infecção renal por esses agentes, pode ser diretamente bacteriana (glomerulonefrite bacteriana) ou por um processo imunológico relacionado aos antígenos bacterianos (glomerulonefrite difusa aguda). 17 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Aspectos clínicos da endocardite infecciosa Febre (alta), calafrios, fadiga, emagrecimento, síndrome gripal. Início agudo (rápido e intenso) ou subagudo (insidioso, mais leve) Sopro cardíaco: indica a possibilidade da endocardite infecciosa --> pedir exame de imagem para determinar a presença da vegetação, hemograma e hemocultura (antibiograma) para que se possa isolar a bactéria responsável pelo quadro. Glomerulonefrite: geralmente síndrome nefrítica associada a hematúria (EAS com hemácias dismórficas), proteinúria e hipertensão arterial. *Glomerulonefrite pós inflamação estreptocócica, reação cruzada de AC (anticorpo) com glomérulo, formação de complexo autoimune. Petéquias em palmas e plantas (lesões de Janeway) decorrentes de microembolias nos pequenos vasos. Nódulos subcutâneos digitais (nódulos de Osler) Hemorragias retinianas (manchas de Roth) Diagnósticos clínico: critérios de Duke – análise clínica que reúne: achados clínicos, ecocardiográficos e laboratoriais; fatores predisponentes. O diagnóstico etiológico é fechado com a hemocultura. Figura 48: Colonização das valvas, presença de vegetações contaminadas. Vegetação valvar: processo inflamatório aguda com presença de bactérias nas valvas. É mais comum ocorrer na borda das valvas que sofrem mais atrito com o sangue. Figura 49: Achados patológicos na endocardite infecciosa. Na figura 49 observamos na microscopia a presença de fibrina e plaquetas, de exsudato inflamatório e pus. Abscessos são regiões localizadas de pus no tecido. Figura 50: Endocardite infecciosa - destruição valvar aórtica. Na figura 50 observamos na ultrassonografia a presença de vegetação na valva tricúspide (valva átrio ventricular direita). Esse quando sugere a infecção através do uso de drogas de abuso via intravenosa. Ainda na figura 50 tem-se a imagem do coração in vivo, onde observamos a destruição completa da valva aórtica. 18 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 51: Consequências a distância da endocardite bacteriana (embolias, hemorragias, infartos). O adenocarcinoma do cólon é um carcinoma muito correlacionado com a endocardite infecciosa, os demais tipos de carcinomas/tumores estão associados aos quadros de endocardite não infecciosa. Endocardite trombótica não infecciosa Chamada também de endocardite marântica é uma forma de endocardite sem infecção. É uma trombose na valva ou no endocárdio ventricular. “Trombose valvar secundária” seria um nome mais adequado, segundo alguns autores, porque nem sempre tem alteração. Formação de pequenas massas estéreis (trombos brancos) na superfície de fechamento das valvas, únicas ou múltiplas, frouxas, na linha de fechamento, em uma ou mais valvas. Geralmente, não ocorre destruição das valvas, a massa se solta gerando embolia e, posteriormente, o infarto. Causada por doenças crônicas debilitantes: neoplasias malignas (ppm ADCA mucinosos), infecções crônicas, estados de hipercoagulabilidade (trombose venosa profunda, embolia pulmonar), trauma por cateter, etc... Mecanismo: estímulo aos fatores da Tríade de Virchow (lesão endotelial, alteração do fluxo sanguíneo, hiper hemostasia). - Paciente com doença grave apresenta uma piora hemodinâmica associada a um sopro deve-se pensar sempre em endocardite trombótica. Exame principal é o ecocardiograma. Hemocultura vai ser negativa. Paciente, normalmente, não apresenta febre. Pode causar embolias e infartos. Figura 52: Endocardite trombótica de valva mitral não infecciosa. Note a falta de inflamação e infecção. As vegetações trombóticas estão indicadas pelas setas na imagem A. Sopro sistólico pensar numa estenose aórtica, insuficiência tricúspide, insuficiência mitral. Sopro diastólico: estenose mitral, insuficiência aórtica. Febre reumática Conceito: doença inflamatória aguda sistêmica causada por mecanismo imunológico, consequente à infecção estreptocócica (beta hemolítico do grupo A), geralmente faringite. - A febre reumática pode estar associada a outras infecções, mas a clínica é incomum. - Coreia de Sydenham (marcha) Acomete ppm crianças de 5- 15 anos, após 1 a 6 semanas após a infecçãoestreptocócica. Incidência em declínio em países desenvolvidos. Apresenta as formas clínicas: aguda e crônica. Provoca uma pancardite importante. - Pancardite é uma inflamação dos três folhetos cardíacos: endocárdio, miocárdio e pericárdio; mas, não necessariamente no mesmo local do coração. Como assim? Uma inflamação no endocárdio valvar aórtica, no septo interventricular no miocárdio e pericardite fibrinosa comprometendo o pericárdio como um todo, por exemplo. Causa principal de estenose mitral. 19 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 53: Clínica da febre reumática. Clínica da febre reumática - História de infecção de garganta - Pode apresentar febre - Dor em grandes articulações - Pancardite - Sopro associado atrito pericárdico com - pericardite fibrinosa - Eritema marginado - Nódulos subcutâneos - Coréia de Sydenham indica alteração neurológica e acomete, geralmente, pacientes jovens. Assim, distingue-se os dois tipos de “coreias” presentes na neurologia. - Febre. Patologia da cardiopatia reumática Alterações agudas são alterações principalmente inflamatórias. - Nódulos de Aschoff (processo inflamatório local): linfócitos, plasmócitos, macrófagos ativados (células de Anitschkow – células “em lagarta”) em qualquer região do coração, em qualquer um dos três folhetos. Esse processo inflamatório local é desencadeado por uma cooperação imune, liberação de citocinas, que reúnem essas células em certas áreas do coração, provavelmente, próximo dos centros bacterianos estreptocócicos. - Necrose fibrinoide valvar com formação de pequenas vegetações (verrucóides) nas cúspides (lado esquerdo mais afetado). Atenção porque pode confundir com a endocardite trombótica marântica e também com a endocardite infecciosa, é um diagnóstico diferencial para essas doenças. - Placas de MacCallum: espessamento endocárdico no átrio esquerdo. Não é tão comum. Está associada a um espessamento do endocárdio, geralmente, quando o paciente faz uma insuficiência mitral (sangue ejetado do ventrículo para o átrio, causando uma lesão mecânica na parede do átrio). - Pericardite fibrinosa é frequentemente vista. Tem o aspecto em pão com manteiga. Alterações crônicas processo que vai levar anos para acontecer após o processo agudo. - Inflamação com espessamento fibroso das valvas e cordoalha tendinosa. - Fusão e encurtamento das cordas tendíneas. - Mitral sempre envolvida e aórtica em segundo lugar. - Raramente o lado direito é afetado - Calcificações em boca de peixe com estenose valvar e as vezes uma insuficiência, uma dupla lesão mitral. A dupla lesão mitral (insuficiência associada com estenose da valva) faz com o que o paciente seja candidato a uma troca de valva (sintética ou animal). - Estenose mitral gera dilatação atrial com trombose e embolia e congestão pulmonar. - Fibrose pericárdica: processo de fibrose pericárdica e aderência entre o folheto visceral e o folheto parietal do pericárdio, levando a pericardite constritiva. Figura 54: Fusão da cordoalha tendinosa. Observar as vegetações, espessamentos e fusão das cordas tendíneas que acontece na febre reumática. 20 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 55: Nódulo de Aschoff: estrutura do tipo granulomatosa pela presença de muitos macrófagos no seu interior. Os macrófagos do nódulo de Aschoff apresentam o núcleo alongado e a cromatina em forma de lagarta. Figura 56: Célula de Anitschkow. Não se faz biópsia de febre reumática. Figura 57: Células gigantes de Aschoff. Figura 58: Pericardite fibrinosa com aspecto em "pão com manteiga". Figura 60: Calcificação do anel mitral. Figura 61: Prolapso da valva mitral. Calcificação da valva aórtica e da valva mitral: mais frequente em idosos. No prolapso da valva mitral a valva tem um aspecto de “paraquedas”, com o formado “mais ou menos” piramidal. É mais comum em mulheres. Normalmente, tem como controlar na clínica, se não for possível controlar tem indicação cirúrgica. Miocardiopatia Anormalidade primária do miocárdio. Padrões funcionais Figura 59: Estenose aórtica calcificada. 21 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 - Dilatada (causas genéticas ou ambientais) - Hipertrófica (causa genética) - Restritiva (em doenças sistêmicas ou idiopática) Causas (exceto as genéticas específicas): - Infecciosa – vírus, bactérias, fungos, protozoários, etc. - Tóxica – álcool, drogas, catecolaminas, etc. - Metabólica – hiper/hipotireoidismo, desnutrição, etc. - Distúrbios neuromusculares e de acúmulos genéticos – distrofias, doenças de depósitos, etc. - Imunológica – transplantes, miocardites, etc. - Infiltrativas – câncer, amiloidose, etc. Doença grave – provoca ICC, arritmias, morte súbita, AVC. Tratamento da doença de base, das complicações, cirurgia, transplante. Miocardiopatia dilatada (MCD) Também é chamada de cardiomiopatia congestiva Causas ambientais: miocardites, drogas, álcool, gravidez, idiopática, etc. 20-50% causa genética Dilatação com disfunção contrátil sistólica (redução do débito cardíaco). A dilatação acomete principalmente o ventrículo esquerdo, afetando sua força de contração. Assim, provavelmente ocorre congestão pulmonar, dispneia e edema pulmonar agudo. Macro: aumento do tamanho, dilatação global, flácido, trombose mural comum, sem alteração valvar ou isquêmica, Micro: histopatológica inespecífica, pode haver hipertrofia de cardiomiócitos, fibrose intersticial. Figura 62: Miocardiopatia dilata. Alteração sistólica é preponderante. Figura 63: Radiografia de tórax em PA demonstrando cardiopatia chagásica. Circulado em vermelho ninho da forma amastigota do T. cruzi. Figura 64: Miocardite viral por difteria. Presença de cardiomegalia e de trombose mural, que é uma complicação séria. 22 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Miocardiopatia hipertrófica (MCH) Também chamada de hipertrofia septal assimétrica (hipertrofia excêntrica), normalmente ocorre a hipertrofia septal. Causas 100% genéticas: mutações em proteínas dos sarcômeros (mais de 100 tipos de mutações em proteínas do sarcômero) Hipertrofia, redução do volume diastólico (reduz a fração de ejeção. O crescimento da parede reduz o volume da câmara cardíaca), hipercontratilidade, diminuição da complacência e obstrução da saída do VE. Macro: hipertrofia intensa assimétrica (principalmente septal) sem dilatação, placa de espessamento endocárdico (placa de fibrose) na saída do VE. Micro: hipertrofia com desarranjo de miofibrilas, fibrose intersticial. Figura 65: Miocardiopatia hipertrófica - alteração diastólica preponderante. Observar o septo muito anormal. Vermelho: câmara ventricular direita. Amarelo: septo interventricular. Azul: câmara ventricular esquerda (muito reduzida). Figura 66: Proteínas que sofrem mutações e causam a cardiomiopatia. Vermelho: MCD. Azul: MCH. Verde: MCD e MCH. Miocardiopatia restritiva É uma forma mais rara que ocorre predominantemente nas doenças de acúmulo como, amiloidose endomiocardites, endomiocardiofibrose, etc. Amiloidese: doença crônica que vai gerar a síntese de proteínas anormais e sua distribuição na circulação que vão se depositando nos tecidos. Essas proteínas tem a configuração de estrutura secundária alterada, assim ocorre a formação de uma proteína que não é degradada, gerando acúmulos proteicos teciduais. Endomiocardiofibrose é uma doença de natureza autoimune que leva a um processo de fibrose do endocárdio e miocárdio. A MCR vai causar um endurecimento do ventrículo, principalmente o VE, vai ficar mais duro, reduzindoa complacência (elasticidade) ventricular com enchimento diastólico prejudicado, sem redução da contratilidade. Ou seja, o músculo consegue contrair, mas não consegue dilatar na diástole. Macro: ventrículos firmes, sem dilatação ou hipertrofia, dilatação atrial secundaria esquerda. Ventrículos menos elásticos, mais endurecidos. Micro: fibrose ou alterações da doença de base. Doença grave que exige transplante cardíaco. 23 AV1 – Anatomia Patológica II – Prof. Nereu – Fernanda Pereira – 4º período – 2021.1 Figura 67: MCR. Doenças do pericárdio O pericárdio é uma membrana que envolve o coração e que apresenta dois folhetos, o folheto visceral (mais próximo ao coração) e parietal (mais externo). Pericardites e derrame pericárdico Seroso normalmente, ocorre em doenças de natureza viral ou de natureza química, tóxica. A pericardite serosa contém um liquido muito clarinho que normalmente não leva a fibrose do pericárdio. Fibrinoso possui o aspecto do pão com manteiga, ocorre geralmente na febre reumática, pós-IAM (ausculta de atrito pericárdico) e doenças autoimunes. A pericardite fibrinosa é quimiotática para fibroblastos e pode gerar fibrose constritiva (evolução para pericardite constritiva, forma mais grave). Purulento: geralmente é bacteriana, por penetração direta (trauma, punções), hematogênica (septicemia) ou por contiguidade (pneumonias, mediastinites bacteriana – ruptura de esôfago). Complicação tardia da sepse. Figura 68: Pericardite purulenta. Hemorrágico: pensar sempre em tuberculose, câncer e doenças imunes. No processo inflamatório estabelecido no pericárdio, processo inflamatório sangrante hemorrágico. Figura 69: Pericardite hemorrágica. Hemopericárdio é diferente de pericardite hemorrágica. O hemopericárdio é causado por um processo de trauma com extravasamento de sangue, isso forma o tamponamento cardíaco por hemopericárdio agudo. Figura 70: Hemopericárdio causado por traumatismo. Constritiva: processo de fibrose intensa no pericárdio que impede a contração do coração, conhecida como síndrome do tamponamento cardíaco (síndrome clínica de restrição diastólica). Nessa síndrome ocorre a diminuição do enchimento ventricular e uma redução do débito cardíaco. Geralmente, está associada a um processo de congestão, tem turgência jugular, baixo débito cardíaco, hipofonese de bulhas, diminuição da mobilidade cardíaca e pode cursar com quadro de choque por baixo debito cardíaco. No caso de uma pericardite constritiva o cirurgião vai fazer uma pericardiotomia ou pericardiostomia. Metástases
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