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© MMXIV - Rodolfo Nunhez Disclaimer Todas as fotos e ilustrações contidas neste livro são de DOMÍNIO PÚBLICO. Copyright © 2014 by Rodolfo Nunhez Título Original Take Me Higher A Santos-Dumont Biography E-book Índice Disclaimer Índice No Princípio A Família Dumont Estudos Paris Dirigíveis O Prêmio Deutsch O Primeiro Avião Completo da História Demoiselle O Automóvel “Santos-Dumont” O Adeus de Santos-Dumont à Aviação Os Últimos Dias de Santos-Dumont Cotações de Santos-Dumont Tabela de Invenções Nuvem de Nomes Websites No Princípio… Ícaro e Dédalo – óleo sobre tela Lord Frederick Leighton c. 1869 No princípio era o Céu, e o Céu era alto. Tão alto que sonhar em um dia voar pertencia somente àqueles que não mais se deleitavam com os meros reflexos da Caverna de Platão. A dor de olhar a luz compensou, e assim partiram, em uma jornada de provas e mortes. Um preço mortal aos que um dia sonharam em emprestar asas de pássaros, de todos os formatos e tamanhos, ainda assim, sem conseguirem sair do chão. Que forças mantêm a nós, humanos, no chão? Se o Céu é a morada dos anjos, porque não nos é dado o direito de voarmos? Desde os tempos mais remotos os homens vinham tentando voar por meio de instrumentos por sí construídos, mas nenhum parecia completar esta tarefa satisfatoriamente. Não foi um único homem moderno que tornou a aviação possível. Ao contrário, foi um grande número de pessoas devotas que ao longo dos séculos se esforçaram em assentar uma ou duas pedras para revestir as vias aéreas de hoje. Na Grécia antiga, Ícaro ganhou um par de asas feitas por seu pai, Dédalo, mas o sol escaldante derreteu sua cera e Ícaro caiu de seu vôo. Jacob Peter GOWY c. 1635-1637 - Ícaro Frades da Idade Média utilizaram sua inteligência para construírem máquinas voadoras. O filósofo britânico Robert Bacon (1214 – 1294), também conhecido como Dr. Admirabilis, previu a invenção de máquinas voadoras. Francesco de Lana, um padre jesuíta, construiu um “barco voador” com três velas e quatro esferas de bronze. Entretanto, ele dizia que: “Deus não há de permitir que isto aconteça para que as relações políticas e civis entre os povos da terra não se alterem, e com isso venham consequências desastrosas”. Em seus estudos, Leonardo da Vinci concluiu que os homens conseguiriam, um dia, voar por meio de equipamentos mecânicos a partir dos princípios que regem o vôo dos pássaros. O padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão, num sábado, 08 de junho de 1709, apresentou sua “Passarola” à Corte Real de Lisboa – um “pássaro” feito de estrutura de vime e um balão oval, inflado com um material inflamável. Apesar de o balão ter conseguido voar, logo se incendiou no interior do Salão do Embaixador onde a demonstração tão esperada aconteceu. Em outra tentativa, seu balão alcançou a altura da Torre de Lisboa. Em sua literatura de Cordel, o folclore brasileiro fala do “Pavão Misterioso”, um equipamento voador no formato de um pavão, construído por um mago ao pedido de um jovem apaixonado para a raptura de uma Condessa presa nas alturas de uma torre. Os irmãos Étienne e Joseph Montgolfier, da pequena cidade francesa de Annonay, construíram um balão de ar quente de 33 metros de circunferência nos moldes do padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão. Premiados pela Academia Francesa de Ciências e condecorados pelo rei, foram chamados a Paris para repetirem seus experimentos. Em 1766, Cavendish descobriu o Hidrogênio permitindo o vôo de balões, mas a glória de ter aplicado hidrogênio ao balonismo pertence aos irmãos Charles e Robert, que impermeabilizaram seu revestimento aplicando um verniz de látex. Henry Cavendish Então vieram os balões Rozier, de Zambeccari e Lunardi. Na quarta-feira, 15 de setembro de 1784 Vincenzo Lunardi sobrevoou Londres, depois Glasgow e Edimburgo tornando assim os balões bem conhecidos na Inglaterra. Em 1785, Jeffries e Blanchard, partindo de Dover, cruzaram o Canal da Mancha em um balão. Jeffries e Blanchard cruzando o Canal da Mancha Em 1784 Guyot projetou um balão no formato de um ovo desenvolvendo assim aquilo que conhecemos hoje como dirigível. O General Meusnier introduziu bolsas de ar dentro de balões alongados evitando assim que se dobrassem pela contração do hidrogênio durante sua descida. Mas foi Meusnir que utilizou hélices pela primeira vez com o intuito de obter tração. Hureau de Villeneuve disse que a ideia das hélices pertencia a Leonardo da Vinci. Sexta-feira, 24 de setembro de 1852 – Henri Giffard sobrevoa Paris em um dirigível com motor a vapor. La Presse de Girardin anunciou: “Ontem, sexta- feira, 24 de setembro, um homem destemidamente sentado no cesto de um motor a vapor suspenso por um balão no formato de uma enorme baleia, com um mastro servindo de quilha e uma vela no lugar de um leme: este Fulton da navegação aérea chama-se Henri Giffard”. Balão cativo de Henri Giffard sobre Paris – 1878 O segundo balão de Giffard não teve tanto êxito. O inventor teve uma crise nervosa e cometeu suicídio. Gaston e Albert Tissandier, assim como os Capitães Renard e Krebs, foram as únicas tentativas realizadas após as de Giffard. Os Tissandier eram cientistas de grande notoriedade em função de seus experimentos em balões esféricos para estudos das altas regiões da atmosfera. Gaston e sua equipe tiveram um trágico acidente com seu “Zenith” em 1875 alcançando a altitude de 8.600 metros resultando na morte, por asfixia, de Sivel e Croce-Spinelli, tripulação de Gaston, sendo este o único sobrevivente. Em 1885 os Capitães Renard e Krebs lançaram o “La France”, um balão fusiforme contendo um balonete de Meusnier, motor elétrico alimentado por uma pesada bateria, gerando 8.5hP. “La France” só voava em tempo calmo, desta forma, muito poucos vôos foram realizados. La France – 1884 Em seu “De Motu Animalium”, o primeiro tratado de Biomecânica, Borelli estudou o vôo dos pássaros e projetou um equipamento capaz de realizar tal tarefa. O espanhol Santiago de Cárdenas, no período em que viveu no Peru, observou o vôo do condor e estabeleceu a diferença entre o vôo planado e o movimento das asas dos pássaros em 1762 em sua obra “Nuevo Sistema de Navegar por los Aires” (Novo Sistema de Navegação Aérea). Jean-Pierre Blanchard (1753-1809) trabalhou na construção de sua “Voiture Volante” (Veículo Voador): “(...) a mosca, a borboleta, o morcego, etc., voam sem penas, com asas no formato de abanos feitos por uma substância semelhante à da córnea. O vôo não depende do material nem do formato da asa, mas sim da proporção, suas dimensões, e da velocidade do movimento”. Em 1784 Launoy e Bienvenu apresentaram um equipamento feito por hastes verticais com duas hélices, uma em cada direção oposta, com uma corda torcida, obtidas por meio de um arco flexível. O equipamento suspendia-se verticalmente no ar conforme as cordas se desenrolavam, estabelecendo-se assim os princípios semelhantes a um helicóptero. Na Inglaterra, em 1843, Henson construiu um equipamento semelhante aos futuros aviões (planadores): estrutura de madeira revestida com tecido. Para adquirir empuxo para o vôo o inventor corria de uma superfície declinada em movimento acelerado. O projeto de Joseph Pline (1855) nos traz o legado do termo que cunhou “Aviação” para designar navegação aérea por meio dos equipamentos mais pesados que o ar (Avis – pássaro em Latim). Em 1891 Otto Lilienthal retomou seus experimentos com vôo planado o qual havia realizado anteriormente com a ajuda de seus irmãos. Então, construiu um planador com estrutura de vime revestida com tecido. Com o uso de uma prancha, Lilienthal corria a partir do topo de uma colina atirando-se no ar. Somente em um período de cinco anos Lilienthal conseguiu realizar mais de cinco mil vôos planados. Com muita prática, conseguia alterar a posição do centrode gravidade ao deslocar seu corpo alterando, desta, a direção do vôo. Certo dia seu biplano perdeu o equilíbrio durando o vôo e caiu de cabeça no chão, matando o grande inventor alemão. Sábado, 29 de junho de 1895 - Lilienthal Seus experimentos causaram grande interesse e foram vistos por cuidadosos observadores, tais como Octave Chanute que posteriormente aperfeiçoou seus equipamentos. Nos Estados Unidos os trabalhos de Chanute foram observados por Hargrave e Langley. Langley estabeleceu importantes leis de aerodinâmica. Lawrence Hargrave Samuel Pierpont Langley Na França, os experimentos de Lilienthal causaram interesse do Capitão Ferber, o primeiro a produzi-los com um planador de asas duplas. Mais tarde tivemos Archdeacon e Voisin, também envolvidos em vôo planado, e logo em seguida, Blériot com seus experimentos. Nos Estados Unidos, as realizações de Lilienthal inspiraram inventores como Wilbur e Orville Wright, Glenn Curtiss, Samuel Pierpont Langley, dentre outros. Otto Lilienthal Da mesma forma que os primeiros vôos de Lilienthal, os de Ferber e Voisin também foram realizados a partir de superfície elevada, adotando posteriormente o processo de Pilcher, porém, no lugar de utilizar cavalos para correr, Archdeacon, Voisin e Blériot colocaram seus planadores sobre flutuadores no Rio Sena atados a cordas no barco, ganhando o empuxo e altitude necessários, cortando a corda a partir de certa altura para realizarem vôos livres. Em 1742 o Marquês de Bacqueville tentou cruzar o rio Sena, em Paris, em um planador construído com diversas asas. De acordo com relatórios, muitos vôos foram realizados, no entanto, com pouco interesse público. Em 1754 o russo Michael Vasilyevitch Lomonosov conseguiu voar um modelo de helicóptero utilizando um mecanismo de relojoaria. Mikhail Vasilyevich Lomonosov Estas são apenas algumas das pessoas e seus inventos registradas pela história antes da fabulosa jornada de Alberto Santos-Dumont no mundo dos equipamentos mais pesados que o ar e sua preciosa contribuição para a aviação moderna. A Família Dumont A Família de Alberto Santos-Dumont O parisiense François Dumont, avô paterno de Alberto, era casado com Euphrasie Françoise Honoré, filha de um joalheiro francês. Este foi o motivo pelo qual o próprio François Dumont tornou-se joalheiro e tinha grande interesse em pedras preciosas brasileiras raras, especialmente as provindas do estado de Minas Gerais que, na ocasião, era o mais importante produtor de diamantes do mundo. Uma doença repentina matou François, deixando Euphrasie viúva com três filhos. Lutando para sobreviver, Euphrasie logo aceitou a ajuda do padrinho de seu segundo filho que viria ao Brasil para levar o famosíssimo diamante “Estrela do Sul” à França proporcionando que seu filho Henri (nascido sexta- feira, 20 de julho de 1832) tivesse a oportunidade de dar continuidade aos estudos, patrocinados com o dinheiro da negociação. Henri Dumont Henri, muito inteligente, não teve qualquer problema financeiro durante sua estadia na França formando-se em Engenharia Civil pela Escola Central de Artes e Ofícios de Paris - École Centrale des Arts et Métrier aos 21 anos de idade. Depois de formado, Henri regressou a Minas Gerais onde trabalhou em obras públicas como engenheiro na cidade de Ouro Preto. Ali conheceu sua futura esposa, Francisca Santos, filha do Comendador Francisco de Paula Santos, de pais portugueses. Francisca Santos Henri e Francisca casaram-se em 1856. Um ano mais tarde tiveram seu primeiro filho, batizado com o mesmo nome do pai de Francisca. O segundo filho foi uma menina chamada Maria Rosalina nascida na famosa fazenda de mineração de ouro Gongo Soco em 1860, propriedade do pai de Francisca. Querendo expandir os negócios, Henri e o Comendador Francisco adquiriram, em sociedade, a fazenda Jaguara pertencente à Coroa portuguesa. Com o declínio da mineração de ouro, Henri explorou a madeira da fazenda. Nesta fazenda tiveram outra filha, Virgínia em 1866, um filho, Luís em 1869 e uma filha, Gabriela em 1871. Problemas com os negócios o trouxeram de volta à profissão de engenheiro e Henri construiu uma ponte sobre o rio Velhas na cidade de Sabará em 1871, e construiu parte da ferrovia ligando o distrito de João Gomes (posteriormente renomeado Palmira) a Barbacena, para a Central do Brasil. Sexta-feira, 20 de junho de 1873 – nasce Alberto Santos-Dumont. Alberto Santos-Dumont De 1874 a 1879 o emprego seguinte de Henri Dumont é como administrador da fazenda de café de seu sogro na cidade de Casal, distrito de Valença no estado do Rio de Janeiro, onde mais duas filhas nascem à família: Sofia, em 1875 e Francisca, em 1877. Esta experiência tornou Henri Dumont um habilidoso administrador de fazenda de café. Ainda no estado do Rio de Janeiro, em conversa com Luiz Pereira Barreto e Martinico Prado, ambos os cafeicultores recém chegados de uma visita técnica à Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto (hoje Ribeirão Preto) no oeste do estado de São Paulo, Henri tomou conhecimento das fazendas de café naquele estado onde a terra roxa era abundante, especialmente nas redondezas da Vila de São Sebastião de Ribeirão Preto. Henri dissolve a sociedade com seu sogro em 1879, adquire a fazenda Arindeúva de José Bento Diniz Junqueira e traz sua família para morar na fazenda. Esta propriedade sozinha já tinha 100.000 pés de café plantados. Arindeúva tornou-se uma das fazendas mais modernas de São Paulo com um total de 6.108 hectares e 5,7 milhões de pés de café – a maior do mundo. Henri comprou ainda mais terras e em apenas um ano plantou cerca de 500.000 pés de café e construiu uma ferrovia particular para o transporte dos grãos. O transporte era feito com 40 vagões e 7 locomotivas importadas da Inglaterra. Muito interessante foi o fato de Henri empregar imigrantes europeus no lugar de escravos. Ferrovia na fazenda Arindeúva Ferrovia na fazenda Arindeúva Trem chegando com café – pátio de secagem Ações da “Dumont Coffee Company” vendidas na Bolsa de Londres Arindeúva é a fazenda onde Santos-Dumont passou a maior parte de sua infância, lendo Jule Verne e sonhando com o fantástico mundo retratado em sua mente brilhante. Alberto Santos-Dumont e seus irmãos: 1. 1857 – Francisco 2. 1860 – Maria Rosalina 3. 1866 – Virgínia 4. 1869 – Luís 5. 1871 – Gabriela 6. 1873 – Alberto 7. 1875 – Sofia 8. 1877 – Francisca Estudos Santos-Dumont passou a maior parte de sua infância e adolescência na fazenda de Ribeirão Preto, aprendendo a ler com sua irmã Virgínia, finalmente indo estudar nas melhores escolas de sua época, tais como “Culto à Ciência” em Campinas-SP, posteriormente mudando-se para São Paulo e estudando nas escolas Moretz Sohn, Köpke e Morton. Colégio Moretz Sohn – São Paulo Colégio Köpke – São Paulo Em 1865, no final da Guerra Civil Americana, querendo dar continuidade à produção de algodão, algumas famílias americanas decidiram imigrar ao Brasil tentando se instalar, a princípio, na região norte do país, mas o Estado de São Paulo tornou-se uma opção mais favorável formando-se assim um grupo de cerca de 90 famílias. Dentre eles estavam pastores Metodistas, Batistas e Presbiterianos. Neste contexto, dois ministros, mantidos pelas igrejas Presbiterianas do sul dos Estados Unidos, estavam George Norsh Morton e o Reverendo Edward Lane. Por volta de 1869 dois grupos de missionários presbiterianos já estavam ativos no Brasil. O primeiro deles, patrocinado pelo comitê de Nova Iorque (PCUSA) conectados com o norte (Yankee) fixou-se no Rio de Janeiro (a capital imperial do Brasil) e o segundo, patrocinado pelo comitê de Nashville, das igrejas presbiterianas do sul, (PCUS) fixaram sua sede em Campinas-SP, a cidade escolhida pelo Reverendo Morton depois de familiarizar-se com muitas outras localidades. No mesmo ano, Morton e Lane fundaram o “Colégio Internacional”tornando-se a primeira escola protestante a ser desenvolvida no país e que atraiu os filhos das classes mais privilegiadas. A Escola Internacional trouxe uma proposta pedagógica completamente diferente que era nada menos do que revolucionária para a época. Culto à Ciência (Campinas-SP) precedeu a escola Morton e simbolizava o desejo de mudanças pedagógicas, mas foi Morton quem ofereceu um modelo totalmente diferente de escola, desenvolvido na cultura protestante Norte Americana cujo maior desdobramento foi demonstrado por Horace Lance (em São Paulo) com a criação da Faculdade Mackenzie. Este modelo foi adotado e realizado com as mudanças pedagógicas exigidas pela nova era republicana no Brasil. Escola Morton Culto à Ciência foi inaugurada domingo, 12 de janeiro de 1873 como uma escola particular para meninos por uma associação denominada “Sociedade Culto à Ciência” onde a maior parte dos membros pertencia a uma Loja Maçônica Independente. Frequentada em sua maioria por fazendeiros, comerciantes e intelectuais da cidade, temos dentre eles: Antônio Pompeu de Camargo, Francisco Glicério (mais tarde tornando-se o Ministro da Justiça, Ministro da Agricultura, Senador), Campos Sales (Presidente do Brasil de 1898 a 1902), Jorge Grung, Joaquim Bonifácio do Amaral (Visconde de Indaiatuba), Joaquim Egídio de Souza Aranha (Barão, Conde, Visconde e Marquês de Três Rios. Aranha era fazendeiro e político. Construiu a ferrovia Jundiaí-Campinas e fundou o Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, o Marquês de Três Rios – Cândido Ferreira, e o Barão de Atibaia. O nome da escola reflete a influência do Positivismo de seus fundadores. Culto à Ciência - Campinas-SP Culto à Ciência - Campinas-SP, Maio de 1885 Cada vez que Santos-Dumont visitava sua família em Ribeirão Preto, conscientizava-se mais e mais dos modernos equipamentos utilizados na fazenda de seu pai tais como peneiras mecânicas, ventiladores, sopradores, descascadores, composição férrea particular para o transporte dos grãos de café, e todo tipo de peças metálicas móveis que, em seus olhos, eram brinquedos incríveis, incluindo a locomotiva Baldwin a qual conduzia já aos 12 anos de idade. Locomotiva Baldwin Uma das diversas festividades folclóricas brasileiras acontece nos meses frios de junho e julho. As mais interessantes para Santos-Dumont certamente eram os dias dedicados a São João e São Pedro. À noite, a população se reúne nas ruas para acender fogueiras, iluminar o céu com fogos de artifício e construir pequenos balões de papel de uma infinidade de cores e formatos. Ao ver os balões subindo reforçava em sua mente as aventuras de Hector Servadac e dentro de poucos anos Santos-Dumont partiria a Paris e traria extraordinários avanços à aviação. Certo dia, em 1888, Alberto viu pela primeira vez um balão original e a ideia de voar tornou-se ainda mais intensa para Santos-Dumont. Em 1890, durante inspeção rotineira em sua fazenda, Henri Dumont teve um acidente deixando-o hemiplégico. No ano seguinte, Alberto e seus pais viajaram à Europa em busca de ajuda médica em um resort em Lamalou-les-Bains no sul da França. Esta foi a primeira viagem de Santos-Dumont à terra de seus ancestrais. Boulevard Montmartre - Paris (1897) Camille Pissaro Com seu pai, Alberto visitou uma exposição de motores em Paris e familiarizou-se com os motores a explosão. De volta ao Brasil, ciente do imenso interesse de Alberto com a mecânica, Henri emancipou seu filho e deixou a ele uma fortuna para que pudesse estudar e viver. Henri, o engenheiro habilidoso que era, disse a Alberto que o futuro estava na mecânica. “Hoje dou sua liberdade, e aqui está um capital extra. Ainda tenho alguns anos de vida. Quero ver como você vive sua vida. Vá a Paris, o local mais perigoso para um jovem. Vamos ver como você se torna um homem. Prefiro que você não se torne um doutor. Em Paris, com a ajuda de seus primos, você deverá procurar por especialistas em Física, Química, Mecânica, Eletricidade, etc. Estude estas matérias e não se esqueça que o futuro está na Mecânica. Você não terá que se preocupar com seu sustento. Deixarei o suficiente para viver”. Henri Dumont Seguindo os conselhos de seu amoroso pai, Santos-Dumont buscou a ajuda do Sr. Garcia, um respeitado professor de origem espanhola residente em Paris, versado em muitas áreas. Esta intensa e produtiva relação se deu ao longo de aproximadamente quatro anos. Em sua vida acadêmica, Santos-Dumont nunca foi o primeiro da classe. Pelo contrário. De acordo com Agenor Barbosa, um amigo de escola de 1893, durante o curto período em que frequentaram a universidade em Bristol, Inglaterra, Alberto estava longe de ser o primeiro da turma, mas seu admirável talento em mecânica era evidente. Anos mais tarde os dois amigos se encontraram em Paris e o aluno mediano havia se tornado em alguém completamente surpreendente: “Sua ideia sobre aviação realmente o aplacou desde que os “motores a combustão” começaram a surtir bons resultados. Até então, ele era meramente um esportista na aviação, acima de tudo, um motorista desenfreado... dirigindo seu automóvel em velocidade máxima (30 km/h) nas ruas do bosque de Bolonha (Boi de Boulogne). Nosso círculo de amigos era Pedro Araújo, Fernando Chaves e posteriormente Antônio Prado Junior – todos amigos cordiais”. Em sua bagagem da primeira viagem da família a Paris, Alberto também trouxe o primeiro automóvel a circular no país – um Peugeot de estrada de 3.4 hP, cuja fábrica ficava nos arredores de Paris, em Valentigny. Peugeot – o primeiro automóvel no Brasil Infelizmente as condições de seu pai não eram muito boas e no ano seguinte, em 1892, a família retornou à França em busca de novos tratamentos médicos. No caminho, Henri piorou e tiveram que parar na cidade do Porto, em Portugal. De lá os pais retornaram ao Brasil, mas aconselharam o filho que fosse a Paris e lá fixasse residência. Terça-feira, 30 de agosto de 1892. Henri Dumont falece no Rio de Janeiro e Alberto, já residindo em Paris, recebe a devastadora notícia, incapaz de dar ao seu amoroso pai seu último adeus. Rio de Janeiro no final do século XIX Avenida Delfim Moreira Paris No final de 1800, Paris era o “centro do universo”. Nenhuma outra capital mundial se comparava à cidade cuja universidade, Sorbonne, por séculos havia sido o ninho para a Filosofia e Ciências que delineariam as perspectivas da Europa pós Renascentista para o desenvolvimento humano. A industrialização favoreceu rápidas mudanças nas áreas das ciências, cultura, moda, infraestrutura, tais como as estradas de ferro (com uma expansão de 24.000 para mais de 64.000 quilometros de estradas entre 1881 e 1914), hidroelétricas, canais, telefonia com mais de 12.000 linhas em todo o país, cabines telefônicas sendo introduzidas desde a década de 1880, telegrafia elétrica, automóveis. As imprensas contribuíram para o grande aumento do número de jornais parisienses. A Peugeot havia iniciado suas atividades na área têxtil passando para bicicletas e depois para automóveis. Gustav Eiffel era conhecido como o “Poeta do Ferro”. Os pintores impressionistas haviam iniciado uma revolução nas artes como nunca visto anteriormente em tão curto espaço de tempo abrindo caminho para o Cubismo e a Arte Moderna. Claude Debussy introduziu novas coloraturas na Harmonia musical como um delicado marinheiro que suspende de seu barco uma pesada âncora para flutuar ao meio de um jardim em chuvas de primavera. A Belle Époque é associada ao surgimento de novas formas de entretenimento de massa com nomes como Moulin Rouge, Folie Bergeres, Olympia, Cassino de Paris. O turismo estava em alta e mais de 1,5 milhões de pessoas visitavam Lourdes todos os anos. Como parte do lazer e entretenimento de massa esportes como Rugby, Ginástica, Remo e Ciclismo tornaram-se grandes e, em 1903, o Tour de France tive sua primeira edição – de 01 a 19 de julho em 6 etapas cobrindo 2.428 km.Garin, vencedor do primeiro Tour de France Domingo, 19 de julho de 1903 O que mais poderia haver sob os céus de Paris? Alberto Santos-Dumont havia recentemente completado 17 anos na ocasião de sua primeira viagem a Paris com seus familiares. Seu pai buscava auxílio médico no sul da França, em Lamalou-les-Bains. Nas ruas de Paris, Santos- Dumont estava certo que encontraria algum dirigível, mas para sua decepção havia apenas balões esféricos. Não satisfeito, consultou um anuário de Paris e encontrou o endereço de um aeronauta profissional que imediatamente o desencorajou ao dizer que um vôo em balão lhe custaria 1.200 Francos. O jovem Alberto teria que assinar um contrato declarando-se responsável por qualquer acidente ao piloto e ao passageiro, ou qualquer dano ao balão e seus acessórios, além dos bilhetes de trem de regresso a Paris. Desapontado, Santos-Dumont furiosamente dirigiu seu Peugeot de volta para casa na impressionante velocidade de 30 km por hora! Em 1897, durante visita à sua família no Brasil, Alberto avistou em uma livraria no Rio de Janeiro um curioso título de livro: Andrée – au Pôle Norde en Balloon (André – no Pólo Norte em Balão) de autoria de Lachambre e Machuron. Infelizmente o balão de Andrée (confeccionado na oficina de balões de Lachambre, em Paris) caiu no gelo, sendo encontrado somente 33 anos mais tarde em quarta-feira, 06 de agosto de 1930 pelo capitão Eliassen a bordo do Bratvaag a caminho da Ilha Branca. Manufatura do balão de Andrée Oficina de Lachambre – Paris A tripulação era formada por S.A. Andrée (1854–97), Nils Strindberg (1872–97) e Knut Fraenkel (1870–97). Balão de Andrée Desnecessário dizer, mas esta foi a leitura predileta de Alberto pelos próximos meses. Assim que regressou a Paris foi direto ao escritório do construtor sendo calorosamente recebido pelo Sr. Lachambre que disse ao Alberto que um vôo de quatro horas lhe custaria 250 Francos com todas as despesas incluídas e mais, sem a necessidade de contratos ou seguro. Negócio fechado! Bem cedo na manhã seguinte ali estava Alberto Santos-Dumont no parque de Aerostação de Vaugirard, pronto para acompanhar cada movimento e cada passo do Sr. Lachambre, tornando esta experiência em uma rara aula prática. O balão que utilizaram tinha a capacidade de 750 metros cúbicos de hidrogênio. Com a sensibilidade de um poeta, Santos-Dumont narrou seu primeiro vôo: “(…) No mesmo instante, o vento parou de soprar. Era como se o ar ao nosso redor tivesse parado. Isto ocorre porque havíamos partido e a corrente de ar que estávamos cruzando comunicava sua própria velocidade. Eis aqui o primeiro fato importante observado quando se voa em um balão esférico. Este movimento imperceptível dá uma profunda e agradável sensação. A ilusão é absoluta. Acredita-se que não é o balão que se move, mas a terra que foge por baixo. “Na parte inferior do abismo abaixo de nós, a 1.500 metros de altitude, a terra, em vez de parecer uma esfera, assemelhava-se a uma tigela devido a um fenômeno de refração que eleva a linha do horizonte ao nível dos olhos do observador”. (...) “Vilas e bosques, campos e castelos encadeados como imagens em movimento em cujo topo trens apitam longos e agudos sons. Junto ao som de cães latindo, estes eram os únicos que nos alcançavam até o topo. A voz humana não alcança barreiras tão solitárias. As pessoas pareciam formigas caminhando sobre linhas brancas - as estradas; a linha de casas parecia brinquedos de criança”. Vista aérea Com esta experiência Santos-Dumont aprendeu que: - cedendo-se ao vento, o empuxo se torna imperceptível; - a mera sombra de uma nuvem é o suficiente para quebrar o equilíbrio do balão; - o lastro pode ser aumentado em muitos quilos devido à neve; - um punhado de areia jogada no espaço pode compensar o peso da neve e ganhar altitude; - a névoa ao redor do balão e do piloto dá a impressão de que a estrutura está suspensa no vácuo dando uma sensação de descontrole; - uma simples corrente de ar faz com que o balão se mova em todas as direções; - a corda pendente e o lastro nunca são perdidos, e quando toca o chão ela deslastra o balão tornando-o cada vez mais leve diminuindo o choque na descida, ou aumentando o peso se enrolada e colocada no lado de fora do cesto; - a segurança na subida e descida depende da combinação do lastro, válvula de escape do hidrogênio e corda pendente; - também, a instabilidade do balão é imperceptível, não causa enjôo nem medo. “Durante todo o vôo segui as manobras do piloto: Entendi perfeitamente a razão de tudo o que ele fazia. Tenho a impressão que realmente nasci para a aeronáutica. Tudo parecia simples e fácil; Não tive medo nem tão pouco fiquei enjoado. Esta primeira experiência foi tão positiva para Santos-Dumont que a partir de então vislumbrou a possibilidade de construir seu próprio balão com características específicas de peso. O Sr. Machuron lhe disse que sua fábrica havia recentemente recebido seda japonesa de alta qualidade cujo peso era insignificante, mas Lachambre alertou o jovem que a seda japonesa, mesmo leve, era um tanto fraca. Para tirar a dúvida, Santos-Dumont pegou um dinamômetro e verificou. Para surpresa geral, entendendo que a seda chinesa suportava uma tensão igual a 1.000 quilogramas por metro linear, a japonesa suportava uma tensão de 700 quilogramas, provando ser 30 vezes mais resistente que o necessário baseando-se na Teoria da Tensão. Além do mais, em lugar de um balão de 250 metros cúbicos, Santos-Dumont desejava construir um de 100 metros cúbicos. Os construtores estavam relutantes, dizendo que o equipamento não voaria apesar de seu levíssimo peso de 50 quilogramas. No dia seguinte, mãos ágeis começaram a confecção do primeiro balão de Santos-Dumont batizado Brasil, projetado para somente uma pessoa – um balão esférico de 113 metros cúbicos contendo um lastro de 52 quilogramas, com vôo inaugural para segunda-feira, 04 de julho de 1898 no Jardim da Aclimação de Paris, localizado no Bosque de Bolonha. Balão Brasil Santos-Dumont executou uma série de 30 vôos, solo, em diversas cidades de França e Bélgica, aprofundando seus conhecimentos em múltiplos aspectos críticos tais como lastro, corda-pendente, vento na descida, hidrogênio, equilíbrio do balão, dentre outros. “Brasil” Após sua conclusão, o Brasil tinha capacidade para 113 metros cúbicos. Toda a seda utilizada pesava 3,5 quilogramas, e com o verniz, um total de 14 quilogramas. A rede de proteção envolvendo outros balões pesava em média 50 quilogramas, mas a do Brasil somente 6 quilogramas, e a corda-pendente de 100 metros pesava 8 quilogramas. A âncora foi substituída por um arpão de 3 quilogramas. “Brasil” na decolagem Ao voar seu Brasil, Santos-Dumont ganhou experiência em literalmente tudo concernente a navegação e construção, algo muito incomum para balonistas do século XIX. Entretanto, depois de manter registro de cada reação durante o vôo, observando o vento e tudo aquilo que interferia no desempenho do vôo, Santos- Dumont chegou à conclusão de que os balões esféricos, desprovidos de propulsão e mecanismos de direção, não dariam conta de trazer avanços significativos à navegação. Para ele os balões esféricos eram um “Jogo Ultrapassado” “C´est vieux jeu”. Dirigíveis A esta altura, Santos-Dumont havia se familiarizado com os potentes motores de peso leve utilizados na indústria automotiva francesa. De acordo com seus cálculos, um motor a combustão com tais características seria capaz de realizar a tarefa de impulsionar com êxito os dirigíveis que já tinha em mente construir. Em abril de 1902, trocando ideias com seu amigo Thomas Alva Edison, este lhe disse: “Você fez bem em escolher um motor a combustão. Ele é o único que um aeronauta pode confiar no estágio atual do desenvolvimento industrial. Os motores elétricos, do jeito que eram quinze ou vinte anos atrás, não poderiam darbons resultados. Este é o motivo pelo qual os irmãos Tissandier desistiram”. Thomas Alva Edison “Ao Santos-Dumont, Pioneiro da Navegação Aérea” Thomas Alva Edison Brasil Logo mais tarde, Santos-Dumont construiu um segundo balão, muito maior, com capacidade de ascensão mais forte, batizando-o “América” com a cubagem de 500 metros de hidrogênio. No início de 1898 o Aero Clube de Paris abriu uma competição de balões com o objetivo de reunir dados sobre as Correntes de Ar. Dentre os 12 competidores, o América alcançou a maior altitude e permaneceu em vôo por mais tempo – precisamente 23 horas. Havendo se familiarizado com os motores Dion-Bouton à gasolina utilizados na indústria automotiva francesa no final de 1800, Santos-Dumont teve a ideia de realizar algumas alteração em tal motor alterando dois cilindros em linha, alcançando 3 ½ hP. Dion-Bouton de 1905 A seguir, projetou outro balão no formato de um cilindro de 25 metros de comprimento, raio de 1,75 metros, cubando 500 metros de hidrogênio, com dois cones fixados em suas extremidades – algo completamente diferente do formato de outros balões convencionais. O leme era feito de lona e a hélice media 1,80 m de comprimento. Parecia um enorme charuto. A fim de resolver o problema da contração do hidrogênio durante a descida, Santos-Dumont introduziu uma bomba que inflava um invólucro de ar localizado no interior do balão compensando assim a perda de gás pelo balão exterior. O balão foi batizado Santos-Dumont n.1 voando pela primeira vez no domingo, 18 de setembro de 1898, mas foi danificado devido a um procedimento mal realizado por parte de um ajudante em solo no momento de segurar as cordas. Dois dias mais tarde, depois de consertar seu balão, voou no dia 20 de setembro, manobrando a embarcação em todas as direções com a combinação da ação das hélices e leme, mudando seu centro de gravidade ao mudar dois sacos de lastro por meio do manuseio de cordas horizontais. A 400 metros de altitude, uma bomba de ar falhou e o balão se dobrou ao meio forçando-os ao solo em uma descida de 4 a 5 metros por segundo. Carro e Motor usados nos dirigíveis nos. 1, 2 e 4 de Santos-Dumont “Scientific American” – Sábado, 29 de outubro de 1898 Em 1899 foi construído o Santos-Dumont n.2 no formato exato do n.1, porém, com melhorias para evitar que dobrasse ao colocar cuidadosamente tiras de bambu. As hélices tinham duas lâminas de alumínio medindo 4 metros cada uma, a 180 rotações por minutos, e motor desenvolvendo 10hP. O dia escolhido para sua prova foi terça-feira, 16 de maio de 1899 mas, devido ao mal tempo em Paris, o inventor partiu para Niece – França, onde o clima não estava tão ruim, realizando diversos vôos e como sempre, mantendo registros precisos de seu desempenho. Na sequência, Santos-Dumont projetou seu terceiro dirigível, o Santos- Dumont n.3 cubando 500 metros de hidrogênio, com 20 metros de comprimento, no formato de um charuto grosso, extremidades pontiagudas, arco de 77 graus, utilizando contrapesos móveis, um grande avanço para ganhar controle horizontal em seu eixo, colocando-o à prova em segunda-feira, 13 de novembro de 1899, uma data prevista por certos astrólogos para o fim do mundo. Felizmente esta predição nunca se realizou. A terra continuou a girar e Santos- Dumont conseguiu realizar diversas voltas em torno da Torre Eiffel, especialmente atento se o balão responderia bem ao empuxo das hélices e controle direcional de seu leme. Santos-Dumont n.3 Nesta ocasião, querendo manter seus balões protegidos da chuva e mal tempo, Santos-Dumont projetou e mandou construir um galpão com 30 metros de comprimento, 7 de largura e 11 de altura tendo do lado de fora uma porta com duas lâminas que corriam a partir de uma barra horizontal superior na fachada do prédio. O primeiro hangar do mundo havia sido construído. Primeiro hangar do mundo – 1900 Invenção de Alberto Santos-Dumont Parque do Aero Clube – St-Cloud – Paris Ainda não muito satisfeito com os resultados, Santos- Dumont realizou novos estudos para seu novo balão. Na quarta-feira do dia 01 de agosto de 1900 seu Santos-Dumont n.4 estava pronto. Santos-Dumont n.4 – Congresso Internacional de Aeronáutica de Paris Quarta-feira, 19 de setembro de 1900 Naquela época não apenas a França mas o mundo inteiro estava tentando solucionar o grande problema da Navegação Aérea. Muitos inventores e balonistas estavam tentando manter o controle direcional total dos aparelhos voadores, sem obter muito avanço. O Sr. Henry Deutsch, um multimilionário da área petrolífera e refinado compositor, também um grande entusiasta da problemática em torno da direção dos balões, estabeleceu um prêmio de 100,000 Francos para o balão que, partindo do parque do Aero Clube em Saint-Cloud, contornando a Torre Eiffel, retornando por uma rota pré-estabelecida de e para Saint-Cloud, no tempo máximo de 30 minutos – uma distância de 11 quilometros, seria o vencedor. Henri Deutsch O Santos-Dumont n.4 cubava 420 metros de hidrogênio, um longo eixo de 29 metros, motor à gasolina de 2 cilindros desenvolvendo 9hP, uma quilha de 300 quilogramas, hélice de 2 lâminas pesando 28 quilos a 100rpm, leme hexagonal medindo 7 metros quadrados – bem leve – somente 1 quilograma para operar na traseira da aeronave. Santos-Dumont n.4 – hélices e equipe de trabalho Com seu n.4, Santos-Dumont tentou vencer o prêmio Deutsch na sexta-feira, 12 de julho de 1901 diante de uma grande multidão. “O balão subiu suavemente, sendo levado por ventos nordeste moderados. A certa altura, a máquina aérea que parecia mudar de direção, impelida pelo vento, obedecia à força das hélices e apontava na direção desejada alcançando a Torre Eiffel, circulando-a e retornando pelo itinerário estabelecido, descendo e pousando no ponto de partida, sempre obediente às manobras do piloto”. Santos-Dumont n.4 “Le Monde Moderne” – Janeiro de 1901 Apesar dos gritos de grande entusiasmo do público, sua trajetória levou 35 minutos – 5 minutos acima do limite. Além do mais, Santos-Dumont notou algumas falhas no balão e realizou diversas alterações e apresentou seu número 5, com hélices a 150rpm, uma ventoinha no topo dos cilindros, abandonando sua posição central de assento para 7 metros na proa do balão. Santos-Dumont n.5 Desta forma ele conseguia controlar o motor usando cabos, e controlava a válvula de pressão do balão interno, leme, etc. Tentou novamente ganhar o prêmio Deutsch 39 dias mais tarde na quinta-feira, 08 de agosto de 1901, o que praticamente custou sua vida. Depois de contornar a Torre Eiffel, o balão começou a perder pressão não mais respondendo ao leme. Conforme o balão se aproximava das construções, estourou, mas Santos-Dumont foi rápido o suficiente para amarrar-se ao redor do cesto na altura do 4º andar de um edifício no Boulevard Delessert, saindo com pequenas lesões, sendo salvo pelos bombeiros municipais que lhe atiraram uma corda com a qual subiu calmamente ao topo do edifício. Acidente com o n.5 no Boulevard Delessert Santos-Dumont n.5 circulando a Torre Eiffel em Agosto de 1901 Sem ter vencido o Premio Deutsch, Santos-Dumont construiu seu n.6 no formato de uma elipse de 32 metros, 6 metros de diâmetro, com duas pontas rígidas de um metro cada na extremidade, utilizando-se do mesmo recurso dos balões dirigíveis anteriores que o permitiam inflar o balão interno com ar atmosférico no evento de perda de gás do invólucro principal. O revestimento do balão era de seda impermeabilizada. Agora o balão perderia no máximo entre 5 e 6 metros cúbicos de gás em 24 horas – um excelente progresso! O balão completo pesava somente 115 quilogramas ao passo que o n.4 pesava 150. Apenas com esta redução de 40 quilos ele poderia utilizá-la para lastro, combustível ou mesmo com o peso do motor. As cordas de fixação do revestimento externo foram substituídas por finos cabos de aço cujo peso totalizava10 quilos em comparação aos 40 quilos dos balões prévios. Santos-Dumont n.6 A quilha era de 34 metros, o leme retangular, confeccionado com lona, as hélices tinham duas lâminas a 300rpm que, em termos práticos, equivalem a 72 quilometros por hora. Entretanto, Santos-Dumont acreditava que conseguiria alcançar 340rpm em vôo. Santos-Dumont n.6 Santos-Dumont n.6 Santos-Dumont n.6 e seu motor de 20hP O Prêmio Deutsch Sábado, 19 de outubro de 1901. O tempo naquela manhã não estava muito favorável. Ainda assim, Santos-Dumont partiu de Saint-Cloud às 14h42 diante da comissão do Aero Clube. Circulou a Torre Eiffel em 9 minutos após a decolagem. Contornando a Torre Eiffel “Circular a Torre Eiffel levou muito tempo. O vento era contrário. O motor que até aquele ponto estava funcionando bem quase chegou a parar. Por um instante fiquei indeciso e tive que tomar uma decisão rápida. Correndo o risco de desviar da rota, soltei o leme por um instante a fim de me concentrar no gerador elétrico de faíscas do motor. O motor que quase havia parado retomou força e finalmente alcancei o Bosque de Bolonha. Lá, por um fenômeno bem conhecido pelos aeronautas, o ar resfriado do Bosque tornou o dirigível progressivamente mais pesado e por uma infeliz coincidência, o motor perdeu sua velocidade forçando-nos para o solo ao passo que o motor reduzia sua rotação. Para compensar a descida tive que recolher a corda-guia e os pesos móveis. O balão tomou uma posição diagonal e subiu vertiginosamente. Havia alcançado o campo de corrida de d´Auteuil. O balão voou sobre o público com sua proa excessivamente alta e eu ouvia os aplausos entusiasmados do público quando de repente meu motor temperamental retomou sua velocidade. Em potência máxima, o motor causou um aumento do ângulo de inclinação ainda maior. Os aplausos cessaram dando lugar a gritos de alerta”. Santos-Dumont conseguiu equilibrar seu dirigível e trazê-lo de volta às condições normais de vôo indo em direção a Saint-Cloud. Na chegada, os mecânicos acharam difícil parar o balão, atrasando em um minuto. A comissão do Aero Clube – Deutsch de La Meurthe, Marquês de Dion, Wilfred de Fonville, George Basançon e Emmanuel Aimé tiveram opiniões diferentes concernentes ao prêmio. Santos-Dumont n.6 Ao final de outubro, Santos-Dumont foi considerado o vencedor. Somente na segunda-feira, 04 de novembro, depois de uma reunião entre os membros da comissão do Aero Clube é que a decisão final foi tomada a favor de Santos- Dumont. Santos-Dumont n.6 – Prêmio Henry Deutsch O maior desafio aeronáutico nos anos finais do século XX foi o Prêmio Deutsch: decolar de Saint-Cloud, circular a Torre Eiffel e retornar em 30 minutos exatos. Isto significa que o fato de cumprir com esta tarefa provaria a superação técnica do piloto em dominar a navegação aérea. Um verdadeiro e fundamental avanço técnico. Santos-Dumont n.6 Depois de duras críticas por parte de alguns de seus amigos do Aero Clube (mas não o Sr. Deutsch), Santos-Dumont decidiu resfriar relações com o Aero Clube na mesma tarde do anúncio do prêmio. “Paris, 04 de novembro, à tarde. Sr. Presidente do Aero Clube. Tenho a honra de apresentar meu pedido irrevogável de desligamento como membro do Aero Clube... Santos-Dumont.” “Na quinta-feira, 31 de outubro de 1901 às 18 horas, o canhão da Torre Eiffel anunciou aos parisienses o término do Grande Prêmio de 100.000 Francos Franceses do Aero Clube, proposto na segunda-feira, 09 de abril de 1900 pelo Sr. Henry Deutsch de La Meurthe”. A seguir, a lista oficial dos competidores do Prêmio Deutsch: Em 1900: De 16 a 31 de maio – Santos-Dumont De 16 a 31de maio – Albert Schmutz De 01 a 15 de setembro – Santos-Dumont De 16 a 30 de setembro – Firmin Bousson De 01 a 15 de outubro – Santos-Dumont De 16 a 31 de outubro – Firmin Bousson In 1901: De 16 a 31 de julho - Santos-Dumont (experimento no dia 13 contornando a Torre) De 01 a 15 de agosto - Santos-Dumont (experimento no dia 08 contornando a Torre) De 01 a 15 de setembro – Smitter De 01 a 15 de setembro - Santos-Dumont 01 de setembro - Louis Roze De 06 a 21 de outubro - Santos-Dumont (prova vencida no dia 19) De 16 a 31 de outubro - Smitter Na sequência, Santos-Dumont construiu outros dirigíveis. Santos-Dumont n.7 Santos-Dumont n.9 – Revista La Nature Santos-Dumont n.9 no centro de Paris Santos-Dumont n.10 Santos-Dumont n.11 - Monoplano Santos-Dumont n.12 - Helicóptero Santos-Dumont n.13 – Dirigível Santos-Dumont n.14 - Dirigível O n.14 de Santos-Dumont causou grande interesse por parte do público, especialmente após sua demonstração ocorrida em agosto de 1905 em Trouville, na costa do Canal da Mancha. Para seu 14-Bis ele havia projetado um corpo fino e alongado, mas logo construiu um outro com corpo mais ovalado. Santos-Dumont n.14 – Corpo oblongo Santos-Dumont n.14 – Corpo ovalado O Primeiro Avião Completo da História Em 1906, depois de estudar as Células do australiano Lawrence Hargrave, Alberto Santos-Dumont introduziu significativas inovações ao estruturar sua nova aeronave com Células de Hargrave em associação com o motor à combustão de seu amigo Léon Levavasseur. Testes com as Células de Hargrave Juntamente com seu n.14, Santos-Dumont testou a estabilidade de seu novo avião batizando-o 14-Bis devido ao fato de ter acoplado o aparelho ao balão de n.14. Santos-Dumont testando a estabilidade do avião Na quarta-feira, 19 de julho de 1906 o aeroplano de Santos-Dumont estava pronto. Depois de testar sua estabilidade ao fixá-lo em seu balão n.14, três dias mais tarde ele fixou seu avião em um cabo de aço esticado e preso a um poste de concreto, puxado por seu burrinho Cuigno em sua propriedade de Neuilly, até então sem as hélices, especificamente para verificar o equilíbrio da aeronave. Santos-Dumont testando o 14-Bis em um cabo de aço Na quinta-feira, 21 de agosto, dirigiu-se ao campo Polo e testou o avião com as hélices, realizando novas alterações em toda sua estrutura conforme verificava os pontos falhos. Na segunda-feira, 03 de setembro, o testou com um motor de 25hP e 50hP. No dia 04 de setembro foi a Bagatelle, novamente, testando o equipamento sob vários aspectos até que tudo funcionasse conforme o projetado. O ponto central é que havia uma crença generalizada de que um aeroplano deveria ter uma força de empuxo provinda de sua parte superior para se alcançar a decolagem ao contrário da prática já comum de alguns pilotos de decolarem com o auxílio de catapulta. Até então, nenhum inventor havia superado a enorme dificuldade de trazer um aparelho em vôo por seus próprios meios, isto é, sem o uso de catapulta, em um terreno em declive, ou qualquer outro auxílio externo ao avião. Todos sabiam que o Vôo não estava completo até que a aeronave pudesse decolar, navegar e pousar utilizando-se apenas de sua própria estrutura. Todas as tentativas de vôo em um aparelho mais pesado que o ar ocorridos antes do vôo de Santos-Dumont, nos quatro cantos do mundo, haviam sido feitas com o auxílio de equipamentos externos como catapultas. Sempre que assistimos a filmes da época ou vemos informações do fato disponíveis hoje não há evidência comprovada de que o vôo tenha sido feito de forma completamente independente. É curioso que alguns inventores que dizem ter voado em anos anteriores nunca convidaram a mídia, comissão de aeronautas, fotógrafos ou o público em geral para registrar e dizer ao mundo abertamente sobre suas descobertas. As pessoas que dizem ter voado antes de Santos-Dumont de fato realizaram alguns saltos, entretanto, com o uso de equipamentos auxiliares externos. O primeiro avião auto-suficiente do mundo – o 14-Bis de Santos-Dumont – tinha uma envergadura de 12 metros, 10 metros de comprimento e um diedro de 10 graus para garantir sua estabilidade. 14-Bis de Santos-DumontA França oferecia dois prêmios distintos para a demonstração do tão esperado avião independente, entretanto, os pilotos que desejassem mostrá-los não poderiam enviar cópias de cartas, declaração, filmagem, telegramas, mas ir pessoalmente e provar os fatos publicamente sob o julgamento de uma comissão técnica. Foi então que Archdeacon estabeleceu um prêmio para um vôo que ultrapassasse os 25 metros, e o Aero Clube da França oferecia um prêmio ao que pudesse voar um mínimo de 100 metros mediante regras claras: o equipamento teria que decolar com seus próprios meios, voar uma distância mínima estabelecida, pousar, sem o auxílio de ventos favoráveis, decolando de uma superfície plana (terra), sem o auxílio de catapulta ou qualquer outro equipamento externo. Tal vôo teria que ser realizado diante do público e comissão técnica previamente estabelecida. 14-Bis de Santos-Dumont (1906) Dentre os competidores estavam Santos-Dumont, Blériot, Voisin, Ferber, e Trajan Vuia. Apesar de Santos-Dumont não ter voado em sua primeira tentativa, a revista La Nature escreveu o seguinte: “Quinta-feira, 13 de setembro de 1906, será uma data histórica pois, pela primeira vez na história, um homem subiu ao ar por seus próprios meios. Santos-Dumont que, sem ter abandonado seus esforços com os “mais leves que o ar” também havia realizado importantes estudos com os “mais pesados que o ar” – foi ele quem conseguiu “voar” nesta data memorável, diante de uma multidão... Ele subiu no espaço, sem um balão, e esta é uma vitória importante a todos aqueles engajados no “mais pesado que o ar”. Ao pousar, o 14-Bis ficou ligeiramente danificado, tornando evidente que além de necessitar maior conhecimento de seu comportamento no ar, o equipamento também necessitava melhorias em alguns itens. Por algumas semanas Santos-Dumont voou o aparelho em Bagatelle depois de pequenas modificações concernentes a manobra que, depois de ter realizado vôos de pequena metragem, não podia enfim ser considerado um “vôo” completo. Ele estava confiante em voar seu 14-Bis. Entretanto, agora precisaria manter-se no ar por mais tempo alcançando maiores distâncias e ser capaz de controlar a aeronave no ar e fazer o caminho de retorno sem danos. Pequenos saltos, como os realizados por pilotos anteriores, não era exatamente o que todos já esperavam de um verdadeiro avião. 14-Bis de Santos-Dumont (1906) Na quinta-feira, 23 de outubro de 1906, Santos-Dumont decolou de Bagatelle e venceu o Prêmio Archdeacon depois de ter voado um trecho de 60 metros, 3 metros acima do solo. Como registrado pela revista La Nature, “(...) é, no entanto, a vitória completa do “mais pesado que o ar” – o Sr. Santos-Dumont o demonstrou que deixar o solo pelos meios do próprio avião e permanecer no ar era possível”. Segunda-feira, 12 de novembro. Blériot tentou novamente, porém, sem sucesso. Santos-Dumont iniciou novas experimentações tendo introduzido ailerons rudimentares os quais ele controlava por meio de cabos. Assim, em sua primeira tentativa Santos-Dumont alcançou 40 metros, então 60 metros. À tarde ele anunciou que iria realizar sua terceira tentativa, decolando às 16h09 em dois vôos distintos. O primeiro alcançou 50 metros e o segundo (cronometrado pelos Srs. Surcouf e Besançon) alcançou 82,60 metros em 7 segundos e 1/5, ou 11.47 metros por segundo (41,92 quilometros por hora) melhorando, assim, seu recorde oficial de 23 de outubro (vencendo a Copa Archdeacon). Todos seus vôos anteriores começaram na extremidade norte de Bagatelle, pousando no campo Polo, entretanto, em seu quarto vôo fez o contrário. Partindo às 16h45, voou 220 metros em Bagatelle, a 6 metros de altitude, vencendo o Prêmio do Aero Clube da França. Santos-Dumont voando seu 14-Bis em Bagatelle Wilbur Wright, dos Estados Unidos, viu uma foto dos 14-Bis em um jornal publicado simultaneamente na França e nos Estados Unidos e escreveu a Ferber dizendo que na realidade Santos-Dumont não precisava carregar o peso do trem de pouso se ele utilizasse uma catapulta, e que mediante o pagamento de U$ 50.000 em espécie, ele prontamente iria à França para demonstrar sua decolagem com catapulta. No entanto, os franceses estavam trabalhando no sentido de dar condições aos aviões de executarem o vôo de forma independente, especificamente decolar, subir, mudar de direção, descer e pousar; tudo com os próprios meios da aeronave. “Santos-Dumont avançou conquistando o ar, passo a passo, salto a salto, vôo após vôo”. (Ferber). Santos-Dumont percebeu que o campo em Bagatelle não seria uma opção muito boa, então, em fevereiro de 1907 requisitou autorização para utilizar o campo de Saint-Cyr e, no mês seguinte, apresentou uma nova aeronave – n.15, um 14-Bis invertido, estando o equipamento pronto entre os dias 21 e 24 de março. No entanto, o trem de pouso ainda não estava adequado e o avião ficou destruído depois de pousar. Santos-Dumont – n.15 (1907) Sem compreender o vôo totalmente, Santos-Dumont construiu um outro “mais pesado que o ar” – seu n.16 (1907) usando um balão fino tentando reduzir o peso do avião, mas este também não teve êxito. Santos-Dumont – n.16 (1907) Santos-Dumont – n.16 (1907) Imediatamente depois construiu seu n.17 com um motor mais forte e trem de pouso mais sofisticado. Nunca o testou. A seguir construiu seu n. 18 – uma aeronave semelhante a um planador aquático com asas e leme submersos com o objetivo de alcançar 100 quilometros por hora. Ao ter asas e leme submersos ele conseguiu entender o papel que estas partes tinham na estabilidade do avião. Santos-Dumont – n.18 (1907) Depois de testar seu n.18, Santos-Dumont retomou seu projeto de avião convencional mas agora, ciente de como deveria configurar uma aeronave, criou seu n.19. Santos-Dumont – n.18 (1907) Em março de 1907 Voisin conseguiu voar 60 metros. Em seguida Blériot ultrapassou 100 metros com seu n.VI. No sábado, 26 de outubro, Farman conquistou um novo recorde voando 771 metros. Sábado, 09 de novembro – o Voisin-Farman voou mais de um quilometro. No dia seguinte, Blériot realizou um pequeno vôo com seu n.VII. Alguns dias mais tarde, Robert-Esnault Pelterie voou 600 metros. Na segunda-feira, 13 de janeiro de 1908 Farman venceu o Prêmio Deutsch-Archdeacon de 50.000 Francos voando 1 quilometro em circuito fechado. Nesta ocasião os irmãos Wright voltaram a voar depois de quase três anos inativos. Somente então, em 1907, os irmãos Wright anunciaram sua foto do vôo anunciado em 1903. No sábado, 08 de agosto de 1908 Wilbur Wright viajaram à França e demonstraram seu avião, demonstrando muito bom desempenho, apesar de ainda necessitarem do auxílio de uma catapulta para decolagem. Avião dos irmãos Wright - 1903 Com a necessidade de cronometrar seus vôos, Santos-Dumont geralmente precisava soltar suas mãos dos comandos. Entre 1907 e 1908, conversando sobre o problema com seu amigo, o joalheiro Louis Cartier, uma solução foi criada. Porque não fixar o relógio com uma pulseira ao redor do pulso? O primeiro relógio de pulso masculino acabara de ser criado, batizado “Relógio de Pulso Santos”, então, depois de 1911 a empresa Jaeger lançou a novidade no mercado. Este relógio foi posto à venda a partir de1911 – a primeira produção comercial dos relógios de pulso em conjunto com Edmond Jaeger que concordou em fornecer a linha de relógios de Cartier. Relógio de pulso Cartier - Santos O primeiro relógio de pulso masculino do mundo Demoiselle Demoiselle, de Santos-Dumont Agora Santos-Dumont decidiu projetar e construir sua nova máquina voadora, o Demoiselle, um aeroplano bem leve e veloz que, dentre todos os inventos de Santos-Dumont, obteve a maior popularidade, um excelente avião para lazer e esporte, com envergadura de apenas 6,75 metros e controles bastante simples. Demoiselle, de Santos-Dumont Para melhor controlar o vôo, ele utilizava as mãos para o leme, e vestindo um colete acoplado aum aparelho nas costas, ele conseguia envergar as asas permitindo ao aparelho inclinar, e durante o pouso utilizava luvas grossas para frear as duas rodas. O peso total do aparelho era de 120 quilos incluindo o motor à combustão de 25hP, voando uma distância de 15 quilometros. Demoiselle durante vôo Demoiselle - Detalhe Domingo, 25 de julho de 1909. Blériot voa sobre o Canal da Mancha em seu n.XI, uma competição estabelecida pelo jornal britânico Daily News – um evento inimaginável a esta altura da história aeronáutica mundial. Louis Blériot – aviador e inventor francês Louis Blériot antes da decolagem Domingo, 25 de julho de 1909 Louis Blériot sobrevoando o Canal da Mancha Domingo, 25 de julho de 1909 Uma das características humanas mais impressionantes de Alberto Santos- Dumont era seu genuíno desejo de não apenas investir sua imensa fortuna em prol do desenvolvimento da aviação mas, acima de tudo, nunca cobrou um centavo por qualquer de suas inúmeras patentes. O mesmo se deu com o Demoiselle. Conforme publicado pelo Le Matin n.9332 de quarta-feira, 15 de setembro de 1909... “Se você deseja me fazer um favor, declare a seu jornal que tenho o desejo de promover a aviação, portanto, disponibilizo as patentes de minhas invenções. Cada pessoa tem o direito de construí-los, para tal, os interessados podem me requisitar os desenhos. A aeronave não é cara. Nem mesmo seu motor – não chega a 5.000 Francos”. Sexta-feira, 17 de setembro de 1909 – 17h35. O Demoiselle decolou de Saint- Cyr. Algum tempo mais tarde as pessoas começaram a perguntar o que teria ocorrido que Santos-Dumont ainda não estava de volta. “Será um acidente? Será que o avião caiu?” Lá estava ele, no castelo Gallard. Teve um pouso de emergência. Pouso de emergência no castelo Gallard Com seu Demoiselle Santos-Dumont realizou diversos vôos, e esse avião era utilizado por novatos da aviação. Antes de se tornar um importante piloto na Primeira Guerra Mundial e Herói Nacional, Roland Garros tomou suas primeiras aulas de vôo no Demoiselle de Santos-Dumont. Roland Garros se apaixonou pela aviação depois de ter testemunhado o vôo exitoso do 14-Bis. Garros desistiu de seus estudos de música clássica e iniciou-se na aviação. Roland Garros com o Domoiselle c. 1910 Bibliothèque Nationale de France Department Estampes et Photographie, EI-13 (2448) Roland Garros com o Demoiselle - 1911 Amigo do piloto brasileiro Edu Chaves, Roland Garros e seu grande companheiro realizaram demonstrações aeronáuticas no Brasil e voaram entre São Paulo e Santos em um Blériot de Garros na sexta-feira, 08 de março de 1912. Os dois aeronautas realizaram a primeira travessia do Mediterrâneo na quinta-feira, 23 de setembro de 1913 partindo da França com destino a Tunísia em um vôo de 7 horas e 53 minutos. Edu Chaves também foi o primeiro piloto a voar entre São Paulo e Rio de Janeiro no domingo, 05 de julho de 1914 em seu monomotor Blériot, motor Gromo de 80hP, velocidade média de 80 quilometros por hora a 2.000 – 3.000 metros de altitude em 6 horas e 30 minutos pousando na fazendo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Edu Chaves também foi o primeiro a voar entre Paris e Orleans à noite, e a ligar o Rio de Janeiro a Buenos Aires, na Argentina. Ele recebeu sua licença de piloto na sexta-feira, 28 de julho de 1911 da Federação Aeronáutica Internacional (Federation Aeronautique Internacionale) a bordo de um pequeno Blériot de 25hP. O Automóvel “Santos-Dumont” O Modelo “Santos-Dumont” Columbus Motor Vehicle Company – Ohio - USA Em 1899 dois empresários americanos - Charles W. Groff e Frank Runken estavam realizando experimentos com um automóvel que entrou no mercado americano em 1901. Foi somente no final do ano seguinte que o nome do automóvel foi mudado para “Santos-Dumont” porque a autorização do piloto para a utilização de seu nome a um produto comercial não chegou tão rápido quanto o esperado. Para sua produção, a Columbus Motor Vehicle Company juntou um capital de U$ 50.000. O “Santos-Dumont” era um automóvel convencional seguindo as tendências de outros modelos norte americanos do início de1900. O motor de 12-14hP, montado sob o assento do motorista, era refrigerado à água, tinha dois cilindros e tração por correia ao eixo traseiro, 4 ou 5 portas (Tonneau de entrada traseira). O preço para varejo era de U$ 1.500 e pesava 839 quilos. Uma versão menor foi lançada no ano seguinte ao preço de U$ 1.250. Em março de 1903, a empresa se encontrava com problemas financeiros, sendo resgatada pelo investidor William Frisbe, subindo seu capital para U$ 100.000 tornando-se o diretor presidente. Em 1904 a empresa lançou um novo modelo com motor refrigerado à água, 4 cilindros, gerando 20hP e preço final de U$ 2.000. Em fevereiro de 1904 Frisbe rebatizou o modelo para simplesmente “Dumont” mas a imprensa local se referia ao carro como “Columbus”. Mesmo havendo diversas marcas de automóveis sob o mesmo nome “Columbus”, a confusão certamente atrapalhava sua imagem mediante um mercado crescente e tão competitivo. Em outono de 1904 a empresa entrou em falência. O Adeus de Santos-Dumont à Aviação Março de 1910. Após um pequeno acidente com seu Demoiselle, Santos-Dumont teve um colapso nervoso. Desde seus primeiros dias na aviação, sempre superou cada obstáculo levantando-se com o espírito valente de um genuíno conquistador e gênio. Agora, por motivos desconhecidos, Santos-Dumont anunciou a seu círculo de amigos mais íntimos que estava pensando em aposentar-se da aviação. Para ele, mais chocante de tudo, foi a unânime aprovação de todos os amigos. Santos-Dumont Seu cabelo estava ficando grisalho e o piloto parecia cansado. A aviação já havia decolado e estava a caminho de seu ininterrupto desenvolvimento. Latham havia alcançado a altitude de 1.000 metros e Roland Garros 5.000 metros em 1912. Os irmãos Wright agora já haviam experimentado aviões com rodas. O número de mortes estava crescendo, contabilizando 1 morte em 1908, 3 em 1909, 29 em 1910, e mais de 60 em 1911. “O que está havendo com a aviação? Nunca imaginei que um dia presenciaria tal cenário”. Santos-Dumont com seu Demoiselle na neve Santos-Dumont deu início a uma série de viagens internacionais a Portugal, Chile, Estados Unidos, Brasil, sempre promovendo a aviação e seu desenvolvimento potencial para fins civis, propondo a criação de linhas aéreas encurtando a distância entre os países, contribuindo de forma direta ao Desenvolvimento Humano nos modernos dias da virada do século XX. No entanto a Europa estava vivendo uma tensão política sem precedentes e a guerra já não era mais uma possibilidade remota. Na sexta-feira, 07 de agosto de 1914 Santos-Dumont foi avisado pelo Departamento Militar da França que sua casa recém construída em Benerville seria ocupada pelo exército francês. Pouco mais tarde a Divisão Geral do Governo Militar da França anunciou que iria confiscar seu automóvel Alda, de 4 cilindros, para uso do governo. A primeira Guerra Mundial havia começado e a vida na Europa estava um caos. O fato de o governo francês ter pedido algumas posses de um cidadão brasileiro para uso do Ministério de Guerra da França causou desconforto diplomático, e Santos-Dumont, mediante uma avalanche de tristezas, tornou-se ainda mais deprimido e queimou boa parte de seus projetos. Santos-Dumont em seu apartamento nos Campos Elíseos - Paris Em seu escritório Trabalhando em seus modelos Este era seu pensamento com relação à Primeira Guerra Mundial: “Nós, os fundadores da navegação aérea no final do século passado, havíamos sonhado com um futuro de glória pacífica para esta filha de nossos descobrimentos. Lembro-me perfeitamente que na vidara do século e nos primeiros anos deste século, no Aero Clube da França que era, por assim dizer, o “Berço da Aeronáutica” e também um lugar para a reunião de inventores quese dedicaram a este ramo, muito pouco foi falado sobre guerra; não prevíamos que os aeronautas poderiam, no futuro, ser usados para esclarecerem dúvidas para o exército, entretanto, nunca passou em nossas cabeças que algum dia iriam realizar atos destruidores em combates. Criei uma aeronave para aproximar a humanidade, não para destruí-la.” Alberto Santos-Dumont. Bombardeio Aéreo na Primeira Guerra Mundial Em 1915 Santos-Dumont aceitou o convite por parte do Aero Clube dos Estados Unidos para fazer parte do segundo Congresso Pan-americano de Ciência em Washington-DC com o propósito de fundarem a Federação Aeronáutica do Hemisfério Ocidental. A nomeação de Santos-Dumont foi unanimemente votada para presidir a instituição em cuja oportunidade manifestou sua confiança no futuro da navegação aérea escolhendo o tema “Como o Aeroplano pode Facilitar as Relações entre as Américas”, especialmente considerando o enorme tempo gasto nos navios a vapor na conexão entre as importantes cidades das Américas. Depois ele viajou ao Chile, Argentina, sempre trazendo ideias para melhoria do encurtamento das distâncias. Da mesma forma, em seu Brasil natal, Santos-Dumont trabalhou incessantemente com o mesmo ideal. Em 1924 a depressão de Santos-Dumont o afundava a níveis irrecuperáveis de tristeza e desesperança. De volta à França em 1926, ouviu rumores de nova guerra. Outro abalo para seus nervos fragilizados. Foi então que buscou o auxílio médico em um Sanatório de Valmont-sur-Territet na Suíça. Sexta-feira, 20 de maio de 1927. Santos-Dumont está na pequena cidade de Glion, Suíça, quando tem notícias do aviador americano Charles Lindbergh que realizou um vôo solo entre a cidade de Nova Iorque e Paris. Santos-Dumont ficou em delírios. “Um aviador modesto cruzou o Atlântico!!!” O governo francês rende homenagens a Lindbergh. Sozinho em Glion, sentindo-se isolado e esquecido, Santos-Dumont recebe um telegrama do Aero Clube da França convidando-o para um banquete em homenagem a Charles Lindbergh. Sua saúde não lhe permitiu. Imediatamente escreve uma nota de agradecimento com palavras congratulatórias ao aviador americano e recolhe-se em seu quarto em Glion. Charles Lindbergh e o Spirit of St. Louis O Spirit of St. Louis em Paris Antes de Charles Lindbergh realizar seu surpreendente vôo solo entre Nova Iorque e Paris, um outro piloto brasileiro, João Ribeiro de Barros, nascido na quarta-feira, 04 de abril de 1900, partiu de Gênova – Itália com destino à represa de Santo Amaro, em São Paulo a bordo de um Savoia- Marchetti S-55 versão C (O último modelo da Savoia-Marchetti produzido comercialmente) um hidroavião italiano batizado Jahú em homenagem à cidade natal de Ribeiro de Barros, hoje soletrada Jaú, no interior do estado de São Paulo. O avião tinha dois motores Isotta Fraschini Asso 500 de 550 hP cada. Velocidade cruzeiro de 166 km/h, capacidade de combustível para 14h40 a 16hs de vôo. Sua tripulação era formada por João negrão (co-piloto), Newton Braga (navegador) e Vasco Cinquini (mecânico), com paradas técnicas na Espanha, Gibraltar, Cabo Verde e ilha de Fernando de Noronha, em território brasileiro. Partiram na quarta-feira, 13 de outubro de 1926. Hidroavião Jahú - Savoia-Marchetti S-55 C Depois de completar a escola secundária no Ateneu Jauense em Jaú-SP, Ribeiro de Barros cursou Direito no Largo de São Francisco, atual USP (Universidade de São Paulo). Também vindo de uma família de cafeicultores de grande posse, Ribeiro de Barros desistiu do curso de Direito e foi para os Estados Unidos onde se formou em Engenharia Mecânica. Na quarta-feira, 21 de fevereiro de 1923 obteve sua licença de aviador de número 88 da Liga Internacional de Aviadores, em breve iniciando sua carreira de aviador obtendo, posteriormente, mais treinamento em navegação aérea e acrobacia aérea na Alemanha, e como piloto nos Estados Unidos. O grande desafio do Raid de Ribeiro de Barros foi alcançar o vôo independente, isto é, sem a ajuda de navios e barcos para fins de comunicação de rádio ou reabastecimento. João Ribeiro de Barros não foi o primeiro piloto a cruzar o Oceano Atlântico. No domingo, 14 de junho de 1919 Sir John Alcock (RAF) (nascido no sábado, 05 de novembro de 1892 em Seymour Grove, Stretford, Inglaterra) e o Tenente Coronel Sir Arthur Whitten Brown (nascido na sexta-feira, 23 de julho de 1996 em Glasgow, Escócia) partiram de St. John´s Newfoundland às 13h45 e pousaram em Derrygimla Bog próximo a Clifden – Irlanda, em um total de 16 horas e 12 minutos, chegando no domingo, 15 de junho de 1919, voando 3.190 quilometros (1.980 milhas) em um vôo severamente agravado pelo mal tempo tornando sua navegação muito difícil. Utilizaram um bombardeiro Vickers Vimy. O prêmio de 10.000 Libras Esterlinas foi oferecido pelo jornal Daily Mail de Londres, e o rei George V os ofereceu o título de Cavaleiro e a insígnia de Cavaleiro Comandante da Ordem do Império Britânico. O espanhol Ramón Franco Bahamonde (nascido na sexta-feira, 02 de outubro de 1896 em El Ferrol, La Coruña), irmão do Ditador Francisco Franco, iniciou sua carreira militar de sucesso como oficial da infantaria, designado a Marrocos em 1914, unindo-se à Força Aérea da Espanha em 1920. Ramón Franco Bahamonde Ramón tornou-se herói nacional quando pilotou o “Plus Ultra” – um hidroavião Dornier DO J (Wahl), em um vôo transatlântico, em 1926. Seu co- piloto era Julio Ruiz de Alda Miqueleiz, Tenente da Aeronáutica Juan Manuel Duran e mecânico Pablo Rada. Franco, Duran, Ruiz de Alda e Rada O “Plus Ultra” partiu de Palos de la Frontera, em Huelva, Espanha, na sexta- feira, 22 de janeiro de 1926, chegando em Buenos Aires, Argentina na terça- feira, 26 de janeiro, com escalas em Gran Canaria, Cabo Verde, Recife (Brasil), Rio de Janeiro e Montevidéu (Uruguai) em um total de 10.270 km em 50 horas e 39 minutos. Em 1922 Gago Coutinho e Sacadura Cabral, ambos de Portugal, partiram de Lisboa na quinta-feira, 30 de março de 1922 às 16h30 em um avião monomotor Fairey FIII-D MkII com motor Roll-Royce, batizado “Lusitânia” para a celebração do Centenário de Independência do Brasil. Sacadura Cabral (esquerda) e Gago Coutinho a bordo do Lusitânia Os Últimos Dias de Santos-Dumont Santos-Dumont buscava paz e silêncio em cidades e sanatórios suíços. Ao ficar próximo do Mont Blanc, desejava experienciar a alegria de alcançar as alturas da montanha novamente, como havia realizado antes de iniciar sua jornada com os balões esféricos, então escalou o Mont Blanc mas de novo suas condições gerais não permitiam que fizesse muito. Santos-Dumont decide passar um tempo no Brasil, chegando ao Rio de Janeiro na segunda-feira, 03 de dezembro de 1928. Apesar de todo seu esforço em manter sua viagem em sigilo, uma pessoa de sua magnitude dificilmente passaria despercebida. Ao aportar no Rio de Janeiro, prestes a desembarcar do vapor “Cap Arcona”, um grande número de celebridades o aguardavam, e um hidroavião carregando uma chuva de flores decolou, voou baixo, fez uma curva para cruzar o navio e despejar as flores, quando perdeu a sustentação e caiu ao mar matando os aeronautas. Santos-Dumont ficou em desespero, não conseguia falar. Seus olhos entristeceram-se e a única palavra que via em sua mente era um enorme “Porque?” Uma fita flutuava próxima ao navio. “A Escola Politécnica orgulhosamente cumprimenta Santos-Dumont com uma chuva de flores jogada do espaço que ele próprio conquistou...” Depois de içarem os corpos, um bilhete foi encontrado no bolso do paletó de Amauri de Medeiros contendo a seguinte mensagem: “Para Santos-Dumont Do topo do hidroavião carregando seu glorioso nome, precedendo a recepção que o povo da capital do Brasil (1) preparou, viemos para dar honras ao grande brasileiro que, ao conquistar o vôo, elevou o nome de nosso país no exterior. Nossas mais calorosas saudações”. (assinado) Tobias Moscoso Amauri de Medeiros F. Labouriau Fredericode Oliveira Coutinho M. Amoroso Costa Paulo de Castro Maia (1) O Rio de Janeiro era capital do país antes de ser transferida para Brasília em 1960. Mediante tamanha tristeza, Santos-Dumont tentou permanecer forte e foi ao funeral de cada um dos membros conforme os mergulhadores conseguiam trazê- los ao solo no decorrer dos próximos dias, mas o terrível pensamento de que sua invenção potencialmente benéfica era na verdade mortal, vivia assombrando sua cabeça. Após cada funeral Santos-Dumont se via incapaz de fazer qualquer outra coisa naquele dia. Simplesmente voltava ao hotel Copacabana Palace onde estava hospedado e se recolhia. 1930. O governo francês homenageia Santos-Dumont como Oficial da Legião de Honra da França e seus amigos do Aero Clube lhe oferecem um banquete para celebrar a recente distinção. Para a total surpresa de seus amigos, ele faz um pequeno discurso e chora de emoção perante todos. Agora chega a notícia de mais um desastre – um dirigível britânico cai nas proximidades de Beauvais, França. Novamente se tranca em seu quarto em Paris sem querer falar nem comer, mas felizmente as enfermeiras e médicos conseguiram mantê-lo bem. A seguir parte para Orthez nos Pirineus e se interna no sanatório Preville. Novamente Santos-Dumont se sente desolado. Outro abalo. Recebe notícias da Revolução de 1930 em sua terra natal, e o Presidente Washington Luís é afastado. Seu prezado amigo Antônio Prado, Prefeito do Rio de Janeiro entre 15 de novembro de 1926 a 24 de outubro de 1930 é preso no Forte de Copacabana por perseguição política. Agora Santos-Dumont segue para o sanatório Biarritz, e seu amigo Antônio Prado e esposa estão exilados em Paris devido à Revolução de 1930. Antônio vai a Biarritz para ver seu velho amigo. No momento em que Santos-Dumont o avistou, teve uma crise nervosa e começou a jogar os livros ao chão entrando em copioso choro. Finalmente encontra apoio nos ombros de Antônio e pede desculpas. Santos-Dumont pediu ao amigo que o tirasse daquele sanatório. Vendo o estado deplorável de depressão e tendo ouvido falar que Santos- Dumont recentemente havia tentado suicídio, Antônio telegrafou à família Dumont-Villares em São Paulo pedindo que o levassem de volta ao Brasil. Imediatamente seu sobrinho Jorge Dumont-Villares partiu para Biarritz em abril de 1931 em cuja ocasião providenciou sua mudança definitiva de residência. Jorge embalou todos os pertences do tio incluindo troféus, um vasto museu de glórias tais como desenhos, projetos, modelos em escala, fotos de balões, peças de motores, etc. Em julho de 1931 Santos-Dumont deixou a França definitivamente, vindo residir em sua terra natal recebendo a assistência médica do Dr. Sinésio Rangel Pestana. Jorge Dumont-Villares certificou-se de que seu tio não recebesse más notícias de visitantes e parentes. Após um breve período de amnésia, sua memória voltou e fazia caminhadas matinais à Sociedade Equestre de São Paulo e ao Clube Atlético de São Paulo. Ocasionalmente ia à sede do jornal “O Estado de São Paulo” à noite para se deleitar em conversa com Nestor Rangel Pestana, Plínio Barreto, Aires Netto e Julio de Mesquita Filho. Para Santos-Dumont sua depressão era um fantasma que o perseguia. Sua família, seguindo os conselhos do Dr. Rangel Pestana, o levou ao Guarujá-SP onde permaneceu no “Grande Hotel de la Plage” uma vez que a proximidade com o mar lhe seria benéfico. Sábado, 09 de julho de 1932. O estado de São Paulo estava enfrentando o Movimento Constitucional e Santos-Dumont, já residindo no hotel no Guarujá, ouve rumores de que o porto de Santos (Santos e Guarujá sendo cidades vizinhas) sofreria um bombardeio aéreo. Santos-Dumont disse “Já não bastou a carnificina de 1914-18, e agora uma briga entre nacionais? Não foi para isto que arrisquei por tantas vezes minha vida. Foi unicamente para a paz, para um mundo melhor.” Sábado, 23 de julho. Seu sobrinho Jorge perguntou ao tio se não iria tomar seu banho matinal já que o almoço seria servido em breve. Santos-Dumont sorri e se dirige ao banheiro. Jorge acreditava que tudo estivesse bem e correu para baixo para comprar cigarros. Assim que Jorge deixa o quarto, Santos-Dumont rapidamente amarrou duas gravatas no cano do chuveiro e seus olhos fecharam- se para sempre... (...) triste silêncio... Seu corpo embalsamado foi levado do Guarujá para São Paulo. O funeral se deu na residência Dumont-Villares na Avenida Paulista, depois seguiu para a Catedral Metropolitana de São Paulo e finalmente ao Rio de Janeiro onde foi enterrado no Cemitério São João Batista. Os aviões de Santos-Dumont jamais foram concebidos para a guerra. Sempre foram para uma aliança de Amor e Paz. Como dito nos primeiros parágrafos desta biografia, por toda a história da humanidade não foi uma única pessoa que criou o vôo. Ao contrário, foi uma escadaria de difícil acesso, um degrau por vez, um degrau dando suporte ao outro. No entanto, Santos-Dumont chegou quando o passo para permitir que o avião voasse em sua totalidade não parecia um degrau, mas sim um paredão a ser escalado, e ele conseguiu! Depois de alcançar o topo da escadaria ele estava exausto, fisicamente e mentalmente, e em seu rosto havia lágrimas no lugar de suor. Seu trabalho não foi em vão, Santos-Dumont. Todo o nosso agradecimento. “A menos que um grão de trigo caia ao solo e morra, permanece apenas um só grão; mas se morre, então dá muito fruto”. (João 12:24) Cotações de Santos-Dumont “Velejei pelo ar”. “No início deste século, nós, os fundadores da Aeronáutica havíamos sonhado com um futuro pacífico para a humanidade. Mas veio a guerra, tomou posse de nosso trabalho e, com todos seus horrores aterrorizou a humanidade”. “Criei um aparelho para unir a humanidade, não para destruí-la”. “As coisas são mais belas quando vistas do alto”. “Quando não iluminada pela luz da teoria, a prática é cega; e defeituosa quando não embasada pelos dados da prática”. “Uma ascensão no ar, mesmo que simples, vale mais que toda uma vida de aerostática teórica”. “O menor dos grãos de lastro, quando bem aplicados no ar, é mais útil à ciência que toda a areia usada para sugar a tinta de um livro de 500 páginas, repleto de correções”. “As invenções são, acima de tudo, o resultado de trabalho teimoso”. Tabela de Invenções Fonte: BARROS, Henri Lins. Santos-Dumont e a invenção do vôo. Rio de Janeiro, Jorge ZAHAR Editor, 2003. Invenção: BRASIL – balão esférico Diâmetro (em metros): 6 Metros Cúbicos / Área: 113 Peso (quilogramas): 27,5 Vôo Inaugural: Sábado, 04 de junho de 1898 Invenção: L´AMERIQUE – balão esférico Diâmetro (em metros): 9,8 Metros Cúbicos / Área: 500 Diâmetro da Hélice: 0,4 Construído em: 1898 Competições: - Copa Aeronáutica de Paris – Domingo, 12 de junho de 1898 – 4º lugar para trajetória (325 km) e 1º lugar por tempo de permanência no ar (22 horas). Invenção: DIRIGÍVEL N. 01 Comprimento (em metros): 25 Diâmetro (em metros): 3,5 Metros Cúbicos / Área: 186 Motor: Dion-Bouton Modificado HP: 3,5 Diâmetro da Hélice: 0,4 Eventos: Caiu duas vezes: 18 e 20 de setembro de 1898 Invenção: DIRIGÍVEL N. 02 Comprimento (em metros): 26,5 Diâmetro (em metros): 3,8 Metros Cúbicos / Área: 200 Motor: Dion-Bouton Modificado HP: 4.5 Diâmetro da Hélice: 0,4 Eventos: Caiu na quinta-feira, 11 de maio de 1899 Invenção: DIRIGÍVEL N.03 Comprimento (em metros): 20 Diâmetro (em metros): 7,5 Metros Cúbicos / Área: 500 Motor: Dion-Bouton Modificado HP: 4,5 Velocidade - (quilometros por hora): 25 Vôo Inaugural: Segunda-feira, 13 de novembro de 1899 Invenção: DIRIGÍVEL N.04 (Modificado) Comprimento (em metros): 29 Diâmetro (em metros): 5,6 Metros Cúbicos / Área: 420 Motor: Buchet de 2 cilindros HP: 7 Diâmetro da Hélice: 4 Eventos: Vôo Inaugural: Quarta-feira, 01 de agosto de 1900 usando lastro líquido. Invenção: DIRIGÍVEL N.04 (Modificado) Comprimento (em metros): 33 Diâmetro (em metros): 6,5 Metros
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