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Victoria Karoline Libório Cardoso Valvopatias e Endocardite infecciosa Conceitos iniciais Valva mitral: bicúspide. Valvopatia cardíaca: consequência da agressão crônica às cúspides ou ao aparato valvar que pode cursar com sobrecarrega de pressão e/ou volume das câmaras cardíacas. ● Principais valvopatias: valvopatias mitral e aórtica - câmaras esquerdas. ● Consequências: prejuízo à abertura valvar (estenose valvar), ao fechamento valvar (insuficiência valvar) ou ambos (dupla disfunção). Obs: por conta dos mecanismos adaptativos, os pacientes podem ser assintomáticos e com baixa incidência de complicações. Principais mecanismos adaptativos: hipertrofia e remodelamento atrial/ ventricular. ● Complicações: dificuldade em manter baixas as pressões de enchimento e/ou em manter o débito cardíaco adequado. Quando as complicações são mais frequentes, ocorrem manifestações sintomáticas de insuficiência cardíaca e/ou de isquemia miocárdica. Tratamento: não há tratamento farmacológico para valvopatias, mas existem controles sintomáticos. ● Fase sintomática: faz um tratamento intervencionista valvar. Pacientes com valvopatias assintomáticas e que não fazem tratamento de intervenção, podem evoluir para insuficiência respiratória refratária por congestão pulmonar e/ou débito cardíaco inadequado, podendo progredir com hipoxemia grave e insuficiência de múltiplos órgãos. Tipos de valvopatias: (sempre acometem o pulmão). ● estenose mitral: valva fibrosada que não fecha adequadamente - se percebe um sopro diastólico. ● insuficiência mitral: ● dupla lesão: valva que não se fecha quando deveria e sempre deixa escapar um fluxo de sangue. Diagnóstico: principalmente com a presença de sopro. Estágio das valvopatias Estágio A: paciente sob risco, mas é assintomático. Estágio B: doença em progressão e assintomático. Estágio C: anatomicamente importante, assintomático e com ou sem complicadores. Estágio D: anatomicamente importante e sintomático. Manifestações clínicas Geralmente, os sinais e sintomas se correlacionam com IC congestiva. Obs: a valvopatia é um dos principais fatores de risco para endocardite infecciosa (EI). Exacerbações por: ● Sobrecargas hídricas/salinas; ● Sobrecarga física/emocional; ● Má adesão ao tratamento; ● Infecções; ● Arritmias, gestação e anemia. Suspeita de valvopatia: ● Manifestação de IC. ● Síndrome coronariana. ● Embolização. Victoria Karoline Libório Cardoso ● Arritmia ● EI. Sinais e sintomas de congestão cardíaca esquerda: ● Dispneia, ortopneia e DPN. ● Tosse, sibilância, hemoptise e rouquidão. ● Taquipneia e esforço respiratório. ● Estertores crepitantes difusos. ● Cianose. ● Queda de saturação de O2. Sinais e sintomas de congestão cardíaca esquerda: ● Esteatose jugular. ● Hepatomegalia, ascite e esplenomegalia. ● Edema MMII e anasarca. Sinais e sintomas de baixa débito cardíaco: ● Sonolência e irritabilidade. ● Fadiga e fraqueza. ● Extremidades frias/ aumento do tempo de enchimento capilar. ● Pulso fino/cianose de extremidades. ● Pré síncope/síncope. Sinais e sintomas de arritmia: ● Palpitações, pré-síncope e síncope. ● Pulso arrítmico, bradicardia e taquicardia. Sinais de embolização: ● Déficit neurológico agudo. ● Alteração de perfusão/pulso em membros. Sinais de endocardite infecciosa: ● Febre e emagrecimento. ● Petéquias e alterações vasculares. ● Artralgia e artrite. Sinais de surto reumático: ● Febre, artralgia e artrite. ● Atrito pericárdico, sopros novos e sopro de Carey Coombs. Perfil do portador de valvopatias e EI No Brasil, uma doença importante é a Febre reumática, responsável por 50% das valvopatias. Valvopatia mitral mais comum: insuficiência (lesão aguda) e estenose (lesão crônica) - dupla disfunção não balanceada. Insuficiência mitral Introdução Valva sempre aberta, deixando escapar um fluxo sanguíneo - se percebe um sopro sistólico. Há um refluxo sanguíneo para o AE durante a sístole ventricular, por incompetência no fechamento da valva mitral, causando hipertrofia. ● Causas: doença reumática; endocardite infecciosa; deformidade do anel - IC; prolapso de valva mitral; disfunção do músculo papilar por isquemia miocárdica. Fisiopatologia Ocorre uma sobrecarga de volume, primeiro para o átrio esquerdo. O que gera uma cardiomegalia volumétrica - sobrecarga de volume. Mecanismo: 1. Aumento da pré-carga do VE. 2. Aumento da complacência atrial e do volume, sem elevar a pressão. 3. Aumento da complacência do VE: a parede do VE fica mais elástica - HVE. Victoria Karoline Libório Cardoso 4. Redução da pós carga ventricular: VE trabalha com uma pós carga baixa - fração de ejeção > 70% (superestimada). Piora do quadro: 1. Lesão do miocárdio VE: diminuição da contratilidade - diminuição da pós carga - diminuição da FEj. 2. FEj < 50%: diminuição grave da disfunção sistólica do VE. 3. Sintomas congestivos pulmonares. Quadro clínico É assintomático ao repouso e sintomático ao esforço - TE. Fase compensada: dispnéia, ortopnéia, dispnéia paroxística aguda. Sinais: ● Ictus VE deslocado para a esquerda da LHE e abaixo do 5° EIC. ● B3 devido a sobrecarga de volume e enchimento rápido do VE. ● Sopro holossistólico em foco mitral: inicia em B1 e prolonga além de B2 - aumenta com Handgrip. Insuficiência mitral aguda Causas: endocardite infecciosa, trauma, disfunção do músculo papilar por isquemia miocárdica. Quadro clínico: ● Sobrecarga volumétrica AE/VE - síndrome congestiva pulmonar. ● Edema agudo de pulmão. ● Choque cardiogênico. Obs: o coração trabalha melhor na insuficiência mitral crônica; no caso da aguda, o tratamento é cirúrgico e o mais rápido possível (apenas se estabiliza o paciente para a cirurgia). ● Tratamento: cirurgia. Exames complementares ● ECG: ondas R muito altas e ondas S muito “baixas”. ● RX de tórax ● Ecocardio-doppler ● CATE: quando há dúvidas no eco. Tratamento: ● VER O TRATAMENTO Tratamento clínico: ● Indicada na icc: vasodilatadores, BB e diuréticos (atuam na IC e reduzem o diâmetro….. ● Faz profilaxia de: endocardite infecciosa, febre reumática e de fenômenos tromboembólicos. Diagnóstico das valvopatias Sinais e sintomas: ● Dispneia ao esforço, ortopneia, dispneia paroxística noturna. ● Tosse, chiado, hemoptise. ● Edema periférico e fadiga. Obs: É importante pesquisar dados sobre limitações para as atividades habituais, de provável causa cardíaca - há maior desafio em idosos e com comorbidade. Principais sintomas: dispneia ao esforço - principal indicador de tratamento intervencionista de uma valvopatia anatomicamente importante. São 4 sopros principais: ● Sopro sistólico de base: ejeção pelas valvas semilunares com obstrução - estenose aórtica e estenose pulmonar. ● Sopro diastólico em focos da base: resultado de regurgitação pelas valvas semilunares incompetentes - Victoria Karoline Libório Cardoso insuficiência aórtica e insuficiência pulmonar. ● Sopro sistólico em focos de ápice: regurgitação pelas valvas semilunares incompetentes - IMi e insuficiência tricúspide. ● Sopro diastólico em focos de ápice: obstrução pelas valvas atrioventriculares - estenose mitral e tricúspide. Estenose mitral (EMi) Introdução Trata-se da redução da Valva Mitral pela restrição da abertura dos folhetos valvares, formando um gradiente de pressão diastólico entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. ● Áreavalvar mitral (AVM) normal: 4-6 cm². ● AVM mínima: 2,5 - 4 cm²; sem repercussões hemodinâmicas. ● Estenose mitral leve: AVM entre 1,5 - 2,5 cm². ● Estenose mitral moderada: AVM entre 1,0 - 1,5 cm². ● Estenose mitral grave: AVM < 1,0 cm². Causas: cardiopatia reumática crônica (95%), degeneração fibrótica senil, lúpus eritematoso sistêmico e amiloidose. Fisiopatologia 1. A obstrução gera um gradiente pressórico entre o átrio e o VE. 2. A elevação da pressão atrial esquerda transmite-se de modo retrógrado ao leito vascular pulmonar. 3. Determina-se então, uma congestão passiva local, edema intersticial, hipertensão pulmonar e desenvolvimento progressivo de sintomas. Quadro clínico Principal sintoma: dispnéia aos esforços, indicando congestão pulmonar pelo EMi. Casos crônicos: associação com a síndrome do baixo débito e com uma insuficiência cardíaca congestiva. Síndrome Ortner: decorre da compressão do nervo laríngeo recorrente, levando a rouquidão e disfagia - sinal de gravidade da EMi. Principal complicação da estenose mitral: fibrilação atrial, fenômenos trombóticos e endocardite infecciosa. Exame físico: ● Pulsos normais. ● Presença de hiperfonese de B1. ● Estalido de abertura durante a ausculta - diferenciando assim a EMi de outras valvulopatias. ● Sopro característico: ruflar diastólico, mais audível com a campânula. ○ Quanto maior a duração do sopro, maior a indicação de gravidade de estenose mitral. ● Reforço pré-sistólico, devido ao reforço do fluxo pela contração atrial. Diagnóstico Clínica + exames complementares. Principal exame: ECG-doppler. Exames inespecíficos / secundários: ECG e radiografia de tórax. ECG: analisa 4 critérios importantes de avaliação do aparelho valvar comprometido, que pontuam de 1 a 4 e constituem o Escore de Block/Wilkins 1. Grau de calcificação valvar; 2. Grau de espessamento; 3. Mobilidade das cúspides. Victoria Karoline Libório Cardoso 4. Acometimento do aparelho subvalvar Outros achados pelo ECG: ● Presença de fibrilação atrial; ● Aumento atrial esquerdo (sinal de Morris em V1 e onda P bífida em DII); ● Alargamento de onda P - P mitrale. Raio-x: demonstram alterações pulmonares importantes. ● Sinal de duplo contorno; ● Sinal da bailarina; ● Abaulamento do 3° arco cardíaco esquerdo; ● Inversão do padrão vascular; ● Linhas B de Kerley. Escore de Block/Wilkins: Tratamento A terapia medicamentosa apenas alivia os sintomas, mas não tem efeitos diretos na obstrução fixa. Sem intervenção farmacológica específica: EMi discreta - paciente assintomático - ritmo sinusal. Terapia medicamentosa enquanto o paciente espera a intervenção cirúrgica: EMi moderada/importante. Tratamento intervencionista ● Valvuloplastia mitral percutânea por cateter-balão (VMCB). ● Cirurgia - comissurotomia ou troca valvar. Paciente ideal para VMCB: ● Paciente com folhetos valvares flexíveis, não calcificados e pouco acometimento subvalvar. Contraindicações para VMCB: ● Existência prévia de insuficiência mitral moderada/importante. ● Trombo atrial esquerdo. ● Escore ecocardiográfico de Wilkins desfavorável (acima de 8 pontos). ● Presença de outras valvopatias concomitantes que requeiram tratamento cirúrgico. ● DAC com indicação de revascularização cirúrgica. Indicação para cirurgia: ● Pacientes sintomáticos (CF III-IV) com alguma das seguintes contraindicações à VMCB: ○ Anatomia valvar desfavorável (escore de Wilkins superior a 8 com calcificação e comprometiment o do aparelho subvalvar); ○ Presença de dupla lesão mitral com insuficiência moderada a importante; ○ Concomitância de valvopatia tricúspide ou aórtica significativa. ○ Trombo atrial esquerdo persistente (sem resolução após tempo adequado de anticoagulação oral). Insuficiência mitral Introdução Decorre do mau funcionamento de estruturas que compõem a valva ou que exerçam influência nessas, como os folhetos, o anel mitral, as cordas tendíneas, os músculos papilares, o ventrículo ou os átrios esquerdos. Principal causa da insuficiência mitral: febre reumática também, por causar retração dos folhetos e encurtamento das cordas tendíneas, impedindo a correta coaptação dos folhetos mitrais. Victoria Karoline Libório Cardoso Outras causa importantes: ● Isquemia de músculos papilares: é secundário aos infartos das artérias que irrigam esses músculos (descendente anterior e descendente posterior). ○ É detectada como um novo sopro dias após um infarto. ● Traumas: ruptura das cordas tendíneas. ● Endocardite: perfuração dos folhetos. ● Cardiomiopatia dilatada: dilatação do anel secundário à dilatação do ventrículo esquerdo. ● Degeneração mixomatosa/doenças do colágeno: alongamento das cordas tendíneas. Fisiopatologia Insuficiência mitral aguda: 1. Elevação rápida da pressão atrial esquerda, sem possibilitar que o átrio se adeque ao volume que retorna do ventrículo esquerdo durante a sístole. 2. Assim, a pressão atrial é transmitida ao pulmão, desenvolvendo rapidamente um edema pulmonar e dispnéia. Insuficiência mitral crônica: ● O átrio se adapta ao volume regurgitado e dilata-se, então o edema pulmonar se desenvolve mais lentamente. ● Como a pressão atrial esquerda é menor que a pressão sistêmica, o sangue é ejetado para o átrio. ● Para manter o débito cardíaco da fração ejetada para a aorta, o ventrículo esquerdo sobrecarrega seu volume. ● Com o tempo, há assim a dilatação e a hipertrofia excêntrica do ventrículo, aumentando o anel mitral e o orifício regurgitante. ● A piora da insuficiência ocasiona a falha da bomba cardíaca, reduzindo o débito cardíaco da fração ejetada para a aorta. Quadro clínico Insuficiência leve/moderada: ● Pode ser assintomático e quando sintomático indica possível insuficiência mitral. ● Dispneia aos esforços e ortopneia. ● Baixo débito cardíaco: fraqueza, fadiga e/ou síncope. ● Falha cardíaca direita. ● Edema, ascite e hepatomegalia. Insuficiência aguda: ● Geralmente ocorre alguns dias após um infarto agudo do miocárdio. ● Sintomas: ○ Dispneia. ○ Hipertensão pulmonar: edema periférico e hepatomegalia. ● Exame físico: ○ Sopro sistólico em foco mitral com irradiação para axila, pescoço e bordas esternais direita e esquerda. ○ Ictus cordis pode estar desviado para a esquerda, por conta da dilatação ventricular e hiperdinamismo. Diagnóstico Clínica + exames complementares. http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2017/05_DIRETRIZ_VALVOPATIAS.pdf Victoria Karoline Libório Cardoso Radiografia de tórax: importante para visualização de cardiomegalia, dilatação ventricular e atrial esquerda em pacientes crônicos, mas não na insuficiência aguda. Eletrocardiograma: é inespecífico. Mas, nos casos agudos, pode ser normal ou com alterações do segmento ST em casos de IAM. Ecocardiograma transtorácico: melhor exame para avaliar as válvulas. Tratamento Objetivo: reduzir a pós-carga. Medicamentos: inibidores da enzima conversora da angiotensina, vasodilatadores e diuréticos. Para pacientes assintomáticos: ● Caso haja boa função ventricular e sem hipertensão pulmonar: ○ Seguimento clínico + EcoTT de 6/6 meses, para reavaliar a condição cardíaca e pulmonar. Para pacientes sintomáticos: ● Com piora da função cardíaca, hipertensão pulmonar ou regurgitação grave e anormalidade estrutural: deve-se fazer uma correção cirúrgica. Plastia da valva: resseca o excesso do folheto prolapsado, recria cordastendíneas rotas, restaura músculos papilares rompidos e remodela o anel mitral dilatado. https://www.sanarmed.com/resumos/desvendando-o-raio-x-de-torax?term=desvendando%20o%20raio%20x
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