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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS Reitor André Luiz de Matos Gonçalves Vice-Reitora Maria Lourdes Fernandez Gonzalez Aires Pró-Reitor de Graduação Geraldo da Silva Gomes Diretoria de EaD e Novas Tecnologias Denise Sodré Dorjó Diretoria de Administração Acadêmica Fabíola Peixoto de Araújo Coordenadora de Planejamento Pedagógico e Midiático Martha Holanda da Silva Coordenadora do Curso Maria Rita de Cássia Pelizari Labanca SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO CONTINUADA – EADCON Diretor Executivo Julián Rizo Diretores Administrativo-Financeiros Armando Sakata Júlio César Algeri Diretora de Operações Cristiane Andrea Strenske Diretor de TI Juarez Poletto Coordenação Geral Dinamara Pereira Machado Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS) F981p Pedagogia / Fundação Universidade do Tocantins; EADCON. – Curitiba: EADCON, 2010 476 p.: il. Nota: Caderno de Conteúdos do 6º período de Pedagogia (apostila). 1. Professores – Formação. 2. Pedagogia – Educação e Ensino. I. EADCON. II. Título. CDD 378 Ficha Catalográfica elaborada pela EADCON. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424 Direitos desta edição reservados à UNITINS. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da UNITINS. Fundamentos e Metodologia do Ensino da Matemática 7 1 O processo de construção do pensamento matemático . . . . . . 11 2 Desafios da regência: ser professor de Matemática na atualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3 A função da matemática na formação da criança . . . . . . . . . . 35 4 Bloco de números e operações na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . 45 5 Bloco grandezas e medidas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . 61 6 Espaço, forma e tratamento da informação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental . . . . . . . . . 71 7 Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Fundamentos e Metodologia da Educação de Jovens e Adultos 93 1 Contextualizando a educação: por uma história da educação de jovens e adultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 2 Bases legais da educação de jovens e adultos: a LDB e as Diretrizes Curriculares Nacionais . . . . . . . . . . . . 107 3 A pedagogia de Álvaro Vieira Pinto e a pedagogia de Paulo Freire . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 4 Currículo e seleção de conteúdos para a educação de jovens e adultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 5 Metodologias na EJA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 6 A EJA em contextos não-escolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 7 Práxis pedagógica na EJA e emancipação . . . . . . . . . . . . . . 157 Jogos, Recreação e Educação 161 1 Matrizes históricas do lúdico e da ludicidade . . . . . . . . . . . . 165 2 Matrizes da ludicidade, dos jogos e das brincadeiras . . . . . . . 173 Sumário 3 Os jogos na concepção piagetiana e a classificação dos jogos e das brincadeiras . . . . . . . . . . . . 179 4 O brincar e o brinquedo: o lúdico como recurso pedagógico no contexto escolar . . . . . 187 5 A perspectiva de Vygotsky sobre a arte de brincar, os jogos e as brincadeiras . . . . . . . . . . . . 193 6 A educação corporal, a recreação e o recreio orientado . . . . . 203 7 Gincanas, sucatas e colônia de férias . . . . . . . . . . . . . . . . . 213 Fundamentos e Metodologia do Ensino da História 221 1 Concepções teóricas e correntes historiográficas no ensino de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 2 Propostas curriculares para o ensino de história no Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237 3 Parâmetros Curriculares Nacionais no ensinode história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249 4 Conteúdos e propostas didático-metodológicas para o ensino de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259 5 Conceitos históricos e o saber histórico aplicado na sala de aula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269 6 O livro didático de História para os anos iniciais do Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . 285 7 Integração das atividades curriculares de História às atividades interdisciplinares . . . . . . . . . . . . . 297 Fundamentos e Metodologia do Ensino da Geografia 307 1 Concepções teóricas da Geografia e sua evolução . . . . . . . . . 311 2 Novas concepções, novas tendências e uma nova Geografia . . . 325 3 Os PCN e o ensino de Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337 4 Tendências metodológicas no ensino de Geografia . . . . . . . . 349 5 Geografia: conteúdos e livro didático . . . . . . . . . . . . . . . . . 361 6 A interdisciplinaridade no ensino de Geografia nos anos iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 373 7 Geografia, meio ambiente e sustentabilidade . . . . . . . . . . . 383 Estágio Supervisionado III (Anos iniciais) 393 1 O Estágio como eixo articulador na formação do professor . . . 397 2 O ofício docente: reflexões sobre a realidade e novas perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 407 3 O planejamento de ensino e a práxis educativa . . . . . . . . . . 419 4 Componentes básicos de um plano de ensino e reflexos na prática pedagógica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 429 5 Plano de ensino para os anos iniciais do Ensino Fundamental . . . 441 6 Plano de aula e avaliação interdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . 453 7 Orientação para o estágio supervisionado e elaboração do relatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 467 EQUIPE UNITINS Organização de Conteúdos Acadêmicos Arlenes Buzatto Delabary Spada Revisão Linguístico-Textual Sibéria Sales Q. de Lima Gerente de Divisão de Material Impresso Katia Gomes da Silva Revisão Digital Leyciane Lima Oliveira Rogério Adriano Ferreira da Silva Projeto Gráfico Katia Gomes da Silva Capas Rogério Adriano Ferreira da Silva PRODUÇÃO EDITORA EADCON Cr éd ito s Caro aluno, É hora de nos preocuparmos em como você ensinará a matemática aos seus alunos; em quais aspectos do processo de ensino e aprendizagem você concentrará seus esforços e quais as metodologias, entre as estudadas, que serão adotadas para compor seu perfil profissional. Pensando nesses questionamentos, elaboramos este material dividido em duas partes. A primeira, referente aos fundamentos, compreende os aspectos essenciais do ensino de matemática e dos seus processos de construção e desenvolvimento e as formas de avaliação sugeridas para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. A segunda parte, referente à metodologia, enfoca os aspectos meto- dológicos, por meio de atividades práticas que podem ser executadas nos respectivos segmentos, além das discussões e reflexões sobre os objetivos dessas atividades. A disposição dos assuntos nos sete capítulos, portanto, buscará atender a essas discussões. No capítulo 1, trabalharemos a compreensão de como se dá o processo de construção do pensamento matemático e do raciocínio lógico. No capítulo 2, veremos alguns aspectos que fazem parte do processode aprendizagem matemática. No capítulo seguinte, veremos os objetivos e os conteúdos curriculares de matemática na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para tal, partiremos da análise dos PCN, com o objetivo de identificar a função dessa ciência na formação da criança. Nos capítulos 4, 5 e 6, respectivamente, encontraremos atividades prá- ticas que envolvem o bloco números e operações; grandezas e medidas; espaço e forma e tratamento da informação. No último capítulo, você terá algumas sugestões de avaliações a serem realizadas nos segmentos abordados. Os conteúdos trabalhados aqui são necessários para auxiliá-lo na tarefa de ensinar matemática aos seus alunos, formando-os para o exercício pleno de sua cidadania e proporcionando-o subsídios para o aprofundamento de seus estudos. Profª. Arlenes Delabary Spada. A pr es en ta çã o CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 11 Introdução O homem é um ser complexo e, como tal, suas produções são igualmente complexas. Entre as diversas produções, talvez o ato de pensar seja a mais complexa, devido às suas ambiguidades e formas diversas. Isso ocorre em decor- rência do emprego de símbolos e múltiplos signos para representar aspectos do ambiente físico e social. As questões que abordaremos neste capítulo concen- tram-se em compreender, explicar e utilizar o pensamento humano, nas práticas educativas de crianças e jovens, desde a Educação Infantil até os anos iniciais do Ensino Fundamental. Para uma melhor compreensão dos pontos abordados neste capítulo, seria interessante que você revisitasse o capítulo 1, da disciplina de Pensamento Matemático e Construção de Conceitos (Construção do pensamento), trabalhada no 2º período. Nela, você aprendeu a reconhecer o pensamento como algo complexo e variável de um indivíduo para o outro, além de conhecer os fundamentos teóricos que norteiam o ensino de matemática na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Essas discussões serão necessárias para a compreensão das propostas didático-metodológicas que apresentaremos ao longo desta disciplina. Assim, esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de compreen- der os aspectos relevantes da construção do pensamento além de compreender, em práticas educativas, os processos de desenvolvimento de crianças e adoles- centes na dimensão cognitiva. Iniciaremos recordando alguns pontos da construção do pensamento matemático. 1 .1 A construção do pensamento O ato de pensar parece-nos algo fácil e corriqueiro. A cada dia realizamos dezenas de atividades que exigem tal habilidade (dirigir, organizar as tarefas diárias, analisar uma notícia). Essas atividades, que realizamos sem complica- ções, nem sempre foram assim. Aquilo que hoje nos parece corriqueiro é fruto de uma intrincada elaboração cognitiva. O processo de construção do pensamento matemático 1 CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 12 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS Na estruturação do pensamento humano (quando criança), encontram-se envol- vidas habilidades cognitivas que passam a adquirir maior grau de complexidade à medida que crescemos nos relacionamos e nos apropriamos da linguagem. A linguagem permite a construção de significados, tornando possível a troca intersubjetiva e a participação social. Assim, a criança passa a produzir, gradual- mente, significados, classificações, inferências e analogias, que permitem sua inserção no espaço social do mundo. Saiba mais Visando aprofundar seus conhecimentos sobre a complexidade do pensa- mento, sugerimos a leitura atenciosa do texto O pensamento complexo, dis- ponível no sítio: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexidade#O_pensa- mento_complexo>. Nesse texto, Edgar Morin compreende o mundo como um todo indissociável e propõe uma abordagem multidisciplinar e multirre- ferenciada para a construção do conhecimento. Além disso, a criança necessita da vivência consciente da experiência (CARRAHER, 2001). Por exemplo, boa parte das crianças até os dois anos é fascinada por buracos de tomadas, fios e botões de ligar e desligar. Por mais que os adultos afirmem ser perigoso, ela parece estar encantada com a visualização, não estabelecendo um significado para esse objeto. Depois de muitas manobras para driblar os pais, a criança finalmente consegue: chega à tomada de energia e, de posse de um grampo metálico, toma a ação! Não é preciso dizer o que ocorre, pois, por mais que outros afirmem, expliquem ou exemplifiquem, a criança, somente, saberá realmente o que é uma “tomada” após vivenciar a situação envol- vendo esse objeto e tomar ciência das consequências de seu uso indevido. Reflita O que significa “ser complexo”? Comumente, ser complexo é ser complica- do. É comum utilizarmos o termo complexo para denotar algo com múltiplas faces e no qual atuam diferentes variáveis, ou ainda, para algo complicado e difícil. Portanto, em nosso contexto, podemos concluir que, após experimentar a compreensão das relações e das experiências, surgem os significados que CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 13 permitem às crianças novas formas de ação e interação, ou seja, a construção do pensamento. Esse procedimento, que hoje nos parece simples, nem sempre foi assim. Inicialmente tratava-se de algo complexo para nós. A superação dessa complexidade faz com que em uma próxima situação, as consequências de se colocar algo na tomada se formem na mente da criança assim que esta visualize o objeto “tomada”. O pensamento da criança tem sua primeira base em inferências sem consis- tência, resultantes de processos elementares de dedução e indução, que aos poucos vão assumindo maior grau de complexidade. Isso permite à criança compreender as relações e as finalidades das coisas que, alimentadas pela curiosidade infantil, intensificam a aprendizagem e permitem a paulatina elabo- ração de inferências mais elaboradas e coerentes com a inserção social. Em outras palavras: a criança substitui, gradualmente, conexões imediatas e superficiais por relações complexas mediadas por habilidades cognitivas consistentes, tais como: atenção, simbolização, seleção, memória, transferência, avaliação, análise etc. Essa substituição do imediato e superficial pelo complexo e permanentemente em construção permite à criança sair do pensamento realista e momentâneo das situações externas e chegar, por intermédio da imaginação, da fantasia e do raciocínio, a um pensamento criativo que vai além do imediato. Cada etapa percorrida e conquistada nesse “desvendamento do mundo” implica transfor- mação no processo de articulação do pensamento (VIGOTSKI, 1993). 1 .2 O pensamento e a educação A educação, como expressão da vontade humana de criar e preservar, é o meio pelo qual tentamos perpetuar nossa existência, principalmente a social. As atividades mentais são direcionadas para a manipulação e a produção de saberes que possam contribuir para a sociedade e, por isso, ensinamos às crianças percursos cientificamente aceitos, integrantes do corpus do conhecimento humano. Quando pensamos em resolução de problemas matemáticos, a situação não é diferente. Assumimos um discurso educacional de que o aluno deve seguir um processo pelo qual, partindo de princípios e evidências, chega às próprias conclusões e constrói novos caminhos e possibilidades de conhecimentos. Partimos da premissa de que pensar criativamente, isto é, atribuir signifi- cados novos a situações investigadas, é algo natural para os alunos. Criamos a imagem de que eles têm autonomia suficiente para a realização de atividades básicas, o que ocorre principalmente no 4º e 5º ano do Ensino Fundamental. A implicação desse ato está no fato de o professor não investir na tarefa de “ensinar a pensar”. Em outras palavras: o professor supõe que, pelo fato de a criança ter passado pela EducaçãoInfantil e pelos anos anteriores do Ensino CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 14 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS Fundamental, está, automaticamente, habilitada a ter certas competências e habilidades. Esse é um engano, pois mesmo nós, adultos, não conseguimos realizar essa tarefa de forma plena, mesmo já apresentando nossas estruturas mentais razoavelmente exercitadas e desenvolvidas. O professor precisa compreender o processo infantil de construção não apenas de conteúdos e conhecimentos, mas da própria capacidade racional de autocrítica, principalmente quando falamos de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Autocrítica é a capacidade do aluno de reconhecer-se como sujeito em cons- trução e, como tal, compreender que essa construção deve ser permanentemente reconstruída e que, ainda assim, está sujeita a erros, durante todo e qualquer processo de investigação. Saiba mais Assista ao vídeo Um ensino de matemática voltado para a vida, produ- zido pelo MEC e disponível no sítio Domínio Público: <http://www.do- miniopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_ obra=22193>. Nesse vídeo, você poderá observar como o ensino da matemática necessita estar voltado para o contexto dos alunos proporcio- nando a eles a apreensão de conteúdos que serão utilizados na resolução de problemas vivenciados em seu cotidiano. O aluno da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental deve perceber, graças à mediação do professor, que a construção do pensa- mento, apesar da ordem “cientificamente aceita”, não é absoluta. Existem outros caminhos a serem descobertos pelo exercício autônomo do pensamento. É a autonomia que Freire (1999) afirma como cerne da “emancipação do ser”. No processo educacional, deveríamos perseguir a capacidade de vislum- brar múltiplos caminhos na atividade reflexiva humana, principalmente ao se tratar de operações matemáticas. Como afirma Smole (2003), ao referir-se às dificuldades do uso da linguagem matemática, Ao exigir da criança uma linguagem que consideramos adequada e precisa, corremos o risco de impedir que algumas tenham acesso ao “sentido” dos enunciados matemáticos, sentido esse que se constrói a partir de uma linguagem aproximada, em um trabalho em que o importante é articular significações, ligar etapas do pensamento. [...] Podemos tentar criar apelidos quando nos refe- rimos a noções ou termos matemáticos e nem por isso eles se tornarão mais simples; de pouco ou de nada adianta o professor CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 15 dizer “escorrega” ou “empresta” quando, por exemplo, refere-se ao processo de troca de dez unidades por uma dezena, se o aluno não conseguir a compreensão das regras que constituem o sistema de numeração decimal (SMOLE, 2003, p. 65-66). Observamos que a construção do pensamento é uma situação complexa. Quando aplicada à matemática, essa construção tende a ser ainda mais difícil, principalmente pela abstração de seus conceitos. É sempre importante lembrar que cada ser é único e, portanto, suas características e seu ritmo de aprendizagem não podem ser generalizados. Hoje, se fala muito em apren- dizagem individual, voltada a atender às necessidades dos alunos. Essa fala e, principalmente, essa postura, implica diretamente considerar tais aspectos de forma isolada. Se considerarmos que a descaracterização da linguagem matemática visando “facilitar” a compreensão do aluno não garante que isso ocorra, haja vista, a necessidade de que outras variáveis sejam consideradas, chegaremos ao consenso de que isso deve ocorrer de outra maneira. Ou seja, necessitamos de outros métodos e de novas formas de compreensão para que a aprendi- zagem seja significativa. Aprofundando essas discussões, vejamos como ocorre o desenvolvimento do raciocínio e o processo de construção do pensamento matemático na criança. 1 .3 A construção do pensamento matemático Não podemos dissociar a construção do pensamento matemático do próprio desenvolvimento psicológico da criança. A maturidade do pensamento matemá- tico só poderá ser atingida de acordo com o desenvolvimento psicológico. Como comentado anteriormente, o pensamento matemático acontece por meio de uma evolução lógica, associada ao desenvolvimento mental. Assim, segundo a teoria cognitiva desenvolvida por Piaget (1973), existem estágios evolutivos do pensamento matemático associados ao desenvolvimento mental. O desenvolvimento do raciocínio lógico e os estágios do desenvolvimento serão temas do próximo tópico. 1 .3 .1 O raciocínio lógico na definição de Piaget Faz parte do senso comum a afirmação de que a matemática desenvolve o raciocínio das pessoas, sendo de comum acordo entre educadores e leigos que resolver problemas é uma competência fundamental para viver na atual socie- dade, na qual as mudanças acontecem de forma muito rápida e as decisões precisam ser tomadas quase que instantaneamente. Dessa forma, o raciocínio lógico torna-se imprescindível. Nesse sentido, paramos para questionar o que vem a ser o raciocínio e em especial o raciocínio lógico desenvolvido pela aprendizagem da matemática. CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 16 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS Conforme Piaget (1973), raciocinar é uma característica humana, uma reação do pensamento de natureza complexa, ou seja, uma ação mental com encadeamento aparentemente lógico de juízos, argumentos ou pensamento com o objetivo de obter uma conclusão considerada válida. A lógica, como mencionado anteriormente, é a exaltação das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis da argumen- tação e raciocínio corretos, dos métodos e princípios que regem o pensamento humano. Percebemos que raciocínio e lógica estão amplamente relacionados já pelas suas definições. Mas como se dá o raciocínio lógico na perspectiva da aprendizagem e do desenvolvimento? Recorreremos ao epistemólogo suíço Jean Piaget e seus estudos sobre epistemologia genética para tentar compreender essa relação. Primordialmente, é necessário considerar a teoria piagetiana sobre a gênese do conhecimento. Aduz Piaget (1973, p. 7) que O conhecimento não poderia ser concebido como algo pré-deter- minado nas estruturas internas do indivíduo, pois que estas resultam de uma construção efetiva e contínua, nem nos carac- teres preexistentes do objeto, pois que estes só são conhecidos graças à mediação necessária dessas estruturas. Fica claro que o conhecimento não é inato, mas construído a partir das vivências do indivíduo com o meio, entendido como tudo que se dispõe para o sujeito enquanto desafio a sua inteligência, isto é, tudo que deve ser conhecido. A concepção piagetiana de meio é diferente da concepção da teoria histórico-cul- tural de Vigotski. Ressalta-se também que foi somente nos anos 70 que Piaget passou a adotar o termo “construtivismo”, que se tornou sua marca registrada. Fávero (2005, p. 108) ressalta que o ponto-chave para compreender a teoria é compreender que na concepção de Piaget “o conhecimento não se encontra nem no sujeito, nem no objeto, mas na ação de que este sujeito exerce sobre o objeto”. Portanto, conforme Piaget (1973), “a não ser que o sujeito aja sobre o objeto e o transforme, ele não compreenderá sua natureza e retornará ao nível da mera descrição”. É o que ocorre quando explicamos a uma criança de dois anos que ela não deve mexer na tomada. Nesse momento, não houve interação do sujeito com o objeto, por analogia, não houve compreensão da sua natureza, logo o sujeito retorna ao nível da descrição. Em suas explicações sobre a gênese do conhecimento humano, Piaget faz menção aos estágios de desenvolvimento: sensório-motor, pré-operatório, opera- ções concretas e operações formais. Em primeiro lugar, num período sensório-motor, anterior à lingua- gem, constitui-se uma lógica de ações (relações de ordem,conca- tenação de esquemas, intersecções, estabelecimentos de corres- pondência etc.), fecunda em descobertas e mesmo em invenções CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 17 (objetos permanentes, organização do espaço, causalidade etc.). Dos dois aos sete anos, há uma conceptualização das ações, logo, representações com descoberta de funções entre as covariações de fenômenos, identidades, etc. Estas duas últimas constituem-se nas operações concretas (7-10 anos), de agrupamentos logica- mente estruturados, mas ainda ligados à manipulação de objetos. Finalmente, por volta dos 11-12 anos, constitui-se uma lógica proporcional hipotético-dedutiva, sem combinatório, conjunto de partes, grupos de quaternidade etc. (FÁVERO, 2005, p. 110). Utilizando um detalhamento maior, podemos descrever esses estágios da seguinte forma: no primeiro estágio, o sensório-motor, o desenvolvimento mental se dá • por meio das interações com os movimentos. A partir dos dois anos de idade, descobrem-se os símbolos para dar sentido àquilo que está ausente. É a fase do egocentrismo: a criança ainda não consegue transpor as experiências vividas em pensamento; no segundo estágio, pré-operatório, a criança passa a ter pensamentos • lógicos mais elaborados, mesmo que ainda relacionados com experiên- cias vividas, como acontece com crianças no primeiro ano do Ensino Fundamental (BRIZUELA, 2006); no terceiro estágio, das operações concretas, a criança desenvolve • processos de pensamento lógico (operações) que podem ser aplicadas a problemas reais (concretos); no último estágio, operatório-formal, na adolescência, o jovem é capaz • de abstrair as experiências concretas e formular hipóteses. Reflita Qual a relação desses estágios de desenvolvimento com a construção do pensamento matemático? Conhecer os estágios que compõem o desenvol- vimento das crianças é fundamental para compreender algumas das razões pelas quais estas apresentam facilidades ou dificuldades em raciocínios e organizações matemáticas. Ou seja, exigir de uma criança que se encontra no estágio das operações concretas que ela formule hipóteses e conjecturas sobre determinada situação problema, pode ocasionar um desgaste des- necessário de tempo e autoestima, haja vista, nesse estágio, ela não estar “pronta” para tais ações. As estruturas mentais têm um padrão de funcionamento lógico, com etapas sucessivas e diversificadas. Uma dessas etapas, segundo Piaget (1973), ocorre CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 18 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS por meio da interação entre a criança e o meio que proporciona condições favo- ráveis à construção do conhecimento. A construção do pensamento matemático não ocorre de forma individual e sim por meio de trocas entre os membros de um grupo. No pensamento matemático, o aprendizado da criança está relacionado com as etapas do seu desenvolvimento, pois o que ela pode aprender na próxima etapa será determinado pelo que ela aprendeu na anterior. Assim é possível determinarmos o que ela pode fazer em cada etapa. A escolha dos conteúdos, competências e habilidades a serem trabalhadas em cada etapa pode contribuir, então, para o sucesso ou fracasso de uma criança. Toda construção de conhecimento matemático supõe a existência de conhecimentos empíricos prévios. Somente no fim do Ensino Fundamental, o jovem desenvolve sua capacidade de abstração e a possibilidade de usar o pensamento formal. Saiba mais Para aprofundar as discussões referentes ao raciocínio e sua relação com a aprendizagem, assista ao vídeo Cálculo e raciocínio, produzido pelo MEC e disponível no sítio do Domínio Público: <http://www.domi- niopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_ obra=50489>. Nesse vídeo, você poderá acompanhar um estudo de caso e suas ampliações. Você verá, de fato, a aplicação desses conceitos. Vasconcelos (2002) apresenta a lógica, na perspectiva piagetiana, como sendo um processo resultante da formação contínua de esquemas produzidos por meio da adaptação (assimilação e acomodação) e organização. Explica também que, para Piaget (1973), a “inteligência é resultado de construções ou de gêneses que se sucedem por reequilibrações majorantes e que, ao se analisar as condutas cognitivas das crianças por meio de provas operatórias, podemos deduzir com quais instrumentos cognitivos ela está operando”. Continua o autor: [...] no ensino da matemática, essa ideia pode ser aplicada na viabilização da aprendizagem de estruturas lógicas, por intermédio da observação, do acompanhamento e a análise do processo de aprendizagem, levando o professor a uma condição de mediador no sentido de intervir no nível operatório do aluno, o que resultaria em processos cognitivos permanentes (VASCONCELOS, 2002, p. 31). CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 19 A teoria construtivista elaborada por Piaget é fundamentada na noção de equilibração, ou seja, nas palavras de Almouloud (2007), “o processo pelo qual um esquema existente é transformado para adequá-lo a um novo objeto mais complexo”. Esse processo foi descrito por Almouloud (2007, p. 24) da seguinte maneira: o sujeito interpreta os dados de seu ambiente e reage em • função dos esquemas, ou seja, dos modelos de comporta- mento de que dispõe; dados não familiares provocam uma perturbação no funciona-• mento do esquema mobilizado; o sujeito reage a essa perturbação por um processo de • compensação que pode ser decomposto em três fases, que não devem ser confundidas com estágios: a fase • , em que o sujeito negligencia e evita o que o perturba; a fase • , em que o sujeito modifica seu esquema para assi- milar novos dados. No curso desta fase, pode-se distinguir a assimilação de um novo dado como parte complementar e o estabelecimento de relações entre as partes complementares; a fase• , em que o sujeito integra os novos dados a um sistema hierárquico (ALMOULOUD, 2007, p. 24). Dessa forma, a construção de novos esquemas se dá pela desestabilização dos antigos esquemas e posterior reconstrução com base em novos aspectos. A construção dos conhecimentos, como fenômenos de desenvolvimento, é uma reorganização de estruturas de nível inferior em superior. Zacharias (2007) resume os processos de assimilação e acomodação e equilibração na figura seguinte. Figura Os processos de assimilação e acomodação Objeto de conhecimento Assimilação Acomodação sujeito Objeto de conhecimento Assimilação sujeito Acomodação sujeito Objeto de conhecimento A CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 20 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS Adaptação Equilibração Equilíbrio entre assimilação e adaptação A Incorporação de um elemento do meio exterior aos esquemas de ação do sujeito. O sujeito age e se apro- pria do objeto de conhecimento para atender a suas necessidades biológicas, psicológicas e sociais. Modificação dos esquemas ou estru- turas do sujeito em função do objeto ou elemento específico que está tentando assimilar por meio de um esforço pessoal. O sujeito age no sentido de transformar, para entrar em equilíbrio com o meio. Fonte: Zacarias (2007) com adaptações de Mezzaroba (2009). Em se tratando dos problemas de lógica, essa desestabilização pode ser cons- tante, pois não existem métodos prontos para resolução e cada problema é único, o que significa que o “resolvedor” irá recorrer aos seus esquemas mentais. Esses esquemas mentais são definidos por Fávero (2005, p. 126) como “a estrutura de uma ação que, quando é fixada, torna-se receptível e, portanto, apli- cável, por assimilação, a situações diferentes daquelas que conduziram, inicial- mente, à construção desse esquema”. Ao buscar a resolução de um problema de lógica o aprendiz já possui vários conceitos relativos ao raciocínio lógico-matemá- tico ele que irá utilizar comobase no processo de construção de uma resposta. Reflita Sendo seres complexos e que possuem organizações mentais diversifica- das, é compreensível que apresentemos diferentes formas de desenvolvi- mento para um mesmo problema. Como deve ser, então, a correção de uma avaliação de Matemática que contenha questões subjetivas? Para responder a essa questão, devemos nos lembrar de que, muitas vezes, o desenvolvimento apresentado pelo aluno a uma situação problema pode esconder mais do que imaginamos. Analisar, cuidadosamente, os passos seguidos pelo aluno é um fator im- portante. Contudo não é o único, pois necessitamos conhecer nosso aluno CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 21 para avaliar a resposta dada, por exemplo, muitas vezes, presenciamos o aluno respondendo tranquilamente a um problema, o que nos leva a dedu- zir que o faça de modo semelhante no momento da avaliação. Caso isso não ocorra, os motivos devem ser investigados. Sendo assim, a avaliação deve ser a continuação de um processo de acompanhamento constante por parte do professor. Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre os esquemas que são construí- dos pelos alunos para resolver um problema, recomendamos a leitura do texto A Teoria dos campos conceituais: contribuições da Psicologia para a prática docente, da psicóloga e PhD em Educação Matemática Sandra Magina. O texto está disponível no sítio: <http://www.ime.unicamp.br/ erpm2005/anais/conf/conf_01.pdf>. Portanto, encarar a construção do pensamento como um processo complexo e multifacetado constitui um dos primeiros passos para procurar compreendê-lo. Considerar que cada sujeito é único, pleno de possibilidades e que, portanto, desenvolve um ritmo próprio de aprendizagem, que necessita ser respeitado, é o ponto de partida para que o professor desenvolva a aproximação necessária para compreender como se dá o pensamento, a organização e a sintetização do conhecimento em seu aluno. Ao longo deste capítulo, refletimos sobre a complexidade do pensamento e a construção. Nosso objetivo consistiu em apresentar aspectos relevantes do processo de construção ao mesmo tempo em que buscamos a compreensão de como se dá o desenvolvimento do pensamento nas crianças e adolescentes. Para auxiliar essa compreensão, inicialmente, abordamos a necessidade da experimentação como forma de compreender as relações e as finalidades das coisas. Essa inferência do sujeito sobre os objetos foi mencionada no estudo dos estágios do desenvolvimento propostos por Piaget. Nela, Fávero (2005) nos esclarece que o conhecimento, na visão de Piaget, não se encontra nem no sujeito e nem no objeto, mas na ação que ele exerce sobre o objeto. A teoria construtivista de Piaget, fundamentada no processo de equilibração, demonstra que um esquema já existente é transformado para adequar-se a um novo e mais complexo objeto. A assimilação e a acomodação juntam-se para CAPÍTULO 1 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 22 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS formar a adaptação, que, por sua vez, resulta no que denominamos de equi- libração. Estruturar uma ação significa torná-la receptível e aplicável às mais diversas situações. Esse deve ser o nosso foco! No próximo capítulo, falaremos sobre alguns desafios vivenciados por professores de Matemática. Referências ALMOULOUD, S. A. Fundamentos da didática da matemática. Curitiba: UFPR, 2007. BRIZUELA, B. M. Desenvolvimento matemático na criança: explorando notações. Porto Alegre: Artmed, 2006. CARRAHER, T. N. Aprender pensando. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. FÁVERO, M. H. Psicologia e conhecimento: subsídios da psicologia do desenvol- vimento para a análise de ensinar e aprender. Brasília: Edunb, 2005. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. MEZZAROBA, C. 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Anotações CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 23 Introdução A formação do professor de Matemática sempre constituiu um ponto bastante abordado em palestras, artigos e publicações. Contudo, nos últimos anos, tem-se demonstrado especial atenção pelo tema, um dos motivos são baixos índices obtidos por nossos estudantes em avaliações nacionais de Matemática. Esses resultados acabam refletindo-se diretamente no professor, na sua formação e, consequentemente, na qualidade do ensino ofertado a esses estudantes. A sociedade espera que a escola prepare o estudante para a vida, o que, muitas vezes, parece querer dizer prepará-lo para o mercado de trabalho. No entanto, é interessante observar que essa frase é muito presente em nossos discursos: “Preparar o aluno para a vida”, quando deveríamos “prepará-lo na vida”. Parece-nos clara a intenção da escola de capacitar o aluno para que, ao concluir seus estudos, saiba viver. Considerar que o aluno, ao final do ciclo escolar, estará “pronto” para enfrentar os desafios da vida, parece-nos contraditório, pois no tempo em que permaneceu na escola (em média 12 anos) ele deixou de viver? Com base nessa reflexão, queremos iniciar este capítulo, pois sabemos que o aluno, ao longo de sua permanência na escola, adquiriu, fora dela, inúmeras outras experiências, participou de inúmeros acontecimentos e viveu inúmeras situações-problema. Por que então insistir em prepará-lo para começar algo que sempre esteve ao seu lado, algo que ele sempre vivenciou? Pensamentos como esse reforçam o afastamento entre a escola e a reali- dade, pois o aluno passa a compreender que o que se aprende só tem validade na escola. Falta-lhe a capacidade de estabelecer conexões entre a teoria escolar (conteúdos) e as situações cotidianas. Ensinar e aprender matemática, em tempo real e com aplicação real, é, sem dúvida, o maior desafio (embora não seja o único) para nós, professores dessa disciplina. Vamos entender um pouco como e porque a situação da matemática chegou ao patamar em que se encontra e o que ainda é possível fazer para que esse quadro se altere. Continue conosco nessa viagem. Desafios da regência: ser professor de Matemática na atualidade 2 CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 24 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS Assim esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de compreen- der os desafios que a sociedade atual propõe ao professor de Matemática e conhecer a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud. Para que você explore mais profundamente este capítulo, faz-se necessária a releitura dos capítulos 1 e 2 da disciplina Pensamento Matemático e a cons- trução de conceitos, trabalhada no 2º período. Nesses capítulos, você conheceu alguns dos desafios de ensinar Matemática, como a resistência que alguns alunos apresentam como a disciplina, um currículo extenso que dificulta o respeito ao ritmo próprio de aprendizagem e a ausência de ligações entre a realidade e os conteúdos que são ensinados. 2 .1 A democratização do ensino A partir da década de 1970, o Ensino Fundamental até o nono ano (8ª série)passou a ser obrigatório para todos os alunos. Isso trouxe para dentro de uma escola até então clássica e formal, um elevado número de alunos de origem cultural diversa. O professor, até então acostumado a priorizar uma matemática única e universal por meio de uma abordagem formal e proce- dimental, passa a perceber que o modelo de transmissão e assimilação dos conteúdos clássicos não atingia a todos os seus alunos, pois muitos estavam despreparados cognitiva e culturalmente para acompanhar e participar da educação formal. Por mais que se esforçassem para compreender os conteúdos, os alunos não obtinham êxito nas avaliações. Isso os desencorajava a estudar e acabavam desistindo. Começa então a elevação das taxas de repetência (fracasso) e da evasão (abandono) escolar desses alunos. Na tentativa de frear a escalada dessas taxas, algumas secretarias estaduais de educação passam a adotar a promoção automática desses alunos. Cabe aqui uma distinção entre promoção automática de progressão continuada. A progressão continuada destina-se a viabilizar o fluxo de alunos e tentar melhorar a sua aprendizagem com medidas de apoio, como reforço e recuperação escolar, já a promoção auto- mática prevê a promoção do aluno à série seguinte, podendo este somente ser retido ao final de cada ciclo escolar. (FREITAS, 2003, p. 9) Isso significa que o aluno, ao ingressar no sexto ano (antiga 5ª série), só poderia ser retido no final do nono ano (antiga 8ª série), ou seja, mesmo sem ter compreendido o mínimo para garantir sua aprovação, o aluno seria promovido mediante comparecimento às aulas. Essa medida desencadeou sérios problemas, entre eles o que Freitas (2003) chama de “exclusão adiada”, pois, mesmo que o aluno fosse promo- vido ao ano seguinte, era na verdade “excluído das possibilidades de acesso CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 25 a conhecimentos e competências necessários e exigidos pelas práticas sociais” (FIORENTINI, 2008). Saiba mais Para ampliar seu conhecimento sobre as vantagens, desvantagens e dife- renças entre a progressão continuada e a promoção automática, acesse o sítio: <http://www.udemo.org.br/RevistaPP_01_08Promocao.htm>. Nele você encontrará uma ampla discussão entre essas duas práticas utilizadas pelas escolas, sobre suas causas e consequências. Na busca pela resolução dessas situações, surgem metodologias, técnicas, novas tendências de ensino, novas formas de ensinar e de aprender que procuram aproximar a matemática da realidade do aluno para que ele possa encontrar significado na aprendizagem dessa ciência. No próximo tópico, veremos algumas metodologias que se preocupam em compreender sobre como se processa a aprendizagem de matemática por alunos do Ensino Fundamental. 2 .2 Buscando compreender o processo de aprendizagem matemática A retrospectiva histórica feita anteriormente nos demonstra os desafios que o professor de Matemática precisa superar para que haja alteração na situação brasileira. Ele precisa garantir a formação conceitual da matemática, historicamente produzida e ao mesmo tempo abrir-se às diferentes culturas dos jovens que frequentam a escola. Isso implica em aceitar outras formas socioculturais de se produzir matemática que não seja a clássica e formal. Queremos dizer que o professor deverá aceitar outras formas de raciocínio, demonstração e produção matemática que não seja idêntica à sua, assim como levar em consideração e respeitar a subjetividade de cada aluno, seu ritmo de aprendizagem, seu modo de estabelecer relações, aprender e rein- ventar a matemática. Nesse sentido, a Etnomatemática surge para nos auxiliar a perceber que diferentes grupos culturais produzem diferentes formas de matemática, pois ela propõe uma maior valorização dos conceitos matemáticos informais construídos pelos alunos por meio de suas experiências, fora do contexto da escola. Parece lógico e fácil, porém isso requer que o professor esteja preparado para aceitar, reconhecer e validar as produções informais dos alunos e é precisamente aí que está o nó da questão. CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 26 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS Reflita A Etnomatemática ensina-nos que diferentes grupos sociais utilizam-se de conceitos matemáticos para solucionar as mais variadas situações cotidia- nas de maneira diferente da sistematizada pela academia. Se considerar- mos que essas operações são válidas, chegaremos à conclusão de que existem diferentes formas de matemática e de que essa ciência, em sua versatilidade, adaptou-se aos diferentes grupos sociais. Muitos autores ainda tratam a matemática como “um corpo único, superior e estável, de conhecimento universal, abstrato, preciso, formal, padronizado e logicamente verdadeiro” (FIORENTINI, 2008). Sendo assim, nem todos têm acesso a ela, principalmente aqueles que não compartilham dos procedimentos formais ministrados nas escolas, como os feirantes, engraxates, catadores, e tantos outros trabalhadores que utilizam a “sua matemática” diariamente sem erro ou prejuízo para si. Saiba mais Para compreender melhor as diferentes formas de matemática, indicamos a leitura do texto Quando professores e estudantes constituem comuni- dades que aprendem e ensinam múltiplas matemáticas, de autoria do professor Dario Fiorentini, presente nos anais do IV EBREM – Encontro Brasiliense de Educação Matemática, (2008), Brasília, DF. Nesse texto, você encontrará exemplos de situações que foram propostas por profes- sores e que apresentam diferentes formas de solução encontradas pelos estudantes. Essas formas se diferem das sistematizações apresentadas nos livros matemáticos e que necessitam ser validadas e reconhecidas pelos professores como verdadeiras. O interessante é que passamos a perceber a existência de múltiplas mate- máticas, adaptadas às situações reais, ou seja, matemáticas que fazem parte da vida daqueles que as utilizam. Não possuem desenvolvimentos formais ou demonstrações clássicas, mas isso não significa que não sejam corretos. A forma como se tem apresentado, hoje, o ensino de Matemática na maioria das escolas brasileiras revela seu caráter mecânico, repetitivo e desvinculado da realidade dos alunos. Esses fatores contribuem para que eles não se percebam CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 27 agentes responsáveis pelo seu processo de aprendizagem, nem sejam criativos, investigativos ou independentes. Para alterar essa forma de ensino, as pesquisas voltam-se para outras maneiras de ensinar e aprender matemática, como as novas tendências de ensino que utilizam os jogos, a elaboração e construção de materiais pedagógicos, a metodologia de resolução de problemas, a modelagem matemática e o uso de tecnologias. Importante, também, tem sido a integração da teoria da educação com a educação matemática na descrição de formas de aprendizagem que contribuem para a formação de professores. Entre as formas de aprendizagem, destacaremos duas em especial: a dialé- tica ferramenta-objeto e a Teoria dos Campos Conceituais. Vamos a elas. 2 .2 .1 Dialética ferramenta-objeto A dialética ferramenta-objeto originou-se das pesquisas de Régine Douady sobre o processo de elaboração e desenvolvimento de conceitos matemáticos por estudantes em sala de aula ao depararem-se com a necessidade de resolver problemas. Essa forma de pensar a metodologia aplicada à matemática é composta de sete fases: 1ª fase• : é caracterizada pela aplicação de conhecimentos já apro- priados pelos alunos com o objetivo de “criar” novos conhecimentos matemáticos; 2ª fase• : é o momento no qual o aluno indica suas dificuldades quanto à situação proposta; 3ª fase• : é caracterizada pela explicitação das dificuldades, desenvol- vimentos e resultados dos estudantes para o professor. Constitui um momento muito importante, pois os alunos demonstram suasproduções, suas ideias e suas formas de organizar seu pensamento para o professor em busca de orientação. É necessário que o professor esteja atento e aberto às novas construções que aparecerão, procurando estimulá-los, encorajá-los uma vez que muitas ideias serão validada e outras tantas serão refutadas; 4ª fase• : caracteriza-se pela elaboração de novos conceitos e procedi- mentos que poderão ser utilizados para resolver o problema e precisam ser validados, pois alguns podem apresentar-se ineficazes; 5ª fase• : espera-se que apareçam novos conhecimentos que possam ser institucionalizados como elementos do saber matemático. Uma vez insti- tucionalizados, esses conhecimentos passarão a objeto matemático e funcionarão com conhecimentos antigos; CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 28 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS 6ª fase:• ao deparar-se com problemas cotidianos, os conhecimentos novos ou os que foram institucionalizados são utilizados como ferra- mentas, marcando a interação entre conhecimentos novos e antigos; 7ª fase:• os conhecimentos novos passam a ser antigos e sobre eles podem erigir novos conhecimentos. Podemos perceber a influência da Teoria sobre Assimilação e Acomodação de Piaget, pois durante o processo ocorre o momento de desequilíbrio e, após sua decodificação, busca-se a acomodação e o equilíbrio. 2 .2 .2 Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud Como dissemos, muitas foram as abordagens em torno da aprendizagem mate- mática, principalmente no que se refere à construção de conceitos pelas crianças. Os conceitos que os alunos têm ao chegarem à escola são formados por interação com situações da vida cotidiana e pela concepção prévia que eles já têm das relações matemáticas. Essas concepções prévias devem aflorar para que o professor possa perceber os possíveis erros e enganos decorrentes delas, e utilizá-las transformando-as em conceitos mais sofisticados e abrangentes. É essencial que o professor proponha aos alunos um conjunto de situações que os obriguem e os ajudem a ajustar as suas ideias e procedimentos, tornando-os capazes de analisar as coisas mais profundamente e de revisar e ampliar os seus conceitos (CARVALHO, 1994, p. 87-88). Para que possamos compreender melhor o processo de construção e elabo- ração de conceitos teóricos de matemática, abordaremos a Teoria dos Campos Conceituais, de Vergnaud. De acordo com Carvalho (1994), Vergnaud em seu texto n. 26, assevera que [...] Uma concepção interativa de formação de conceito pres- supõe aceitar que não há oposição entre aspectos práticos e teóricos do conhecimento. Ambos são faces da mesma moeda e ninguém pode pensar em habilidades práticas em Matemática que não se relacionem com nenhuma visão teórica; habilidades estão sempre relacionadas a conceitos, por mais pobres que eles sejam ou até mesmo que sejam incompletos ou errôneos (CARVALHO, 1994, p. 88). Ao concordarmos com o autor, reconhecemos que capacidades de classi- ficar, ordenar, utilizar símbolos, representar espacialmente surgem nas crianças ao longo do processo de aquisição de conhecimentos, verificando a interação presente entre os aspectos práticos e teóricos. A Teoria dos Campos Conceituais utiliza-se de conceitos tradicionais da psicologia cognitiva, mas apresenta aspectos originais, pois em sua essência preocupa-se com o vínculo estabelecido entre o conhecimento e os problemas CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 29 teóricos e práticos aos quais responde. Assim, preocupa-se com o desenvolvimento cognitivo a partir dos conhecimentos já construídos aos quais são incorporados outros conhecimentos novos e da aprendizagem obtida por meio da experiência. Além disso, visa à construção de competências complexas por meio da relação entre os conhecimentos já formados pelo aluno e a incorporação de novos conhecimentos que possam ser articulados com situações-problema práticas. As pesquisas em aprendizagem matemática vêm constatando que as dificul- dades encontradas pelas crianças ao tentar resolver um problema estão centradas na incapacidade delas estabelecerem relações entre os elementos que compõem esse problema, pois o seu desenvolvimento cognitivo é lento e demorado. Semelhante ao que ocorre com as fases da dialética ferramenta-objeto, o aluno utiliza-se de várias concepções sobre a situação e de conceitos envolvidos, elabora e mobiliza vários procedimentos necessários à solução e diferentes modos de comunicação entre os procedimentos utilizados. A Teoria dos Campos Conceituais permite a articulação entre as concepções teóricas e os problemas práticos. A partir dessa teoria para a operacionalização de um conceito, a criança necessita de ações e esquemas. Conforme propõe Vergnaud citado por Franchi (2002), a criança possui a capacidade de expli- citar e argumentar claramente o que pretende realizar, relacionando e caracteri- zando os instrumentos necessários para tratar determinada situação. Vergnaud propõe a ideia de campo conceitual formada pela junção de três conjuntos, ou seja, conjunto S, conjunto I e, por fim, conjunto X. S• : conjunto de situações que tornam o conceito significativo. Esse conjunto é constituído pelas práticas que envolvem propriedades de um conceito. Sendo assim, uma situação pode remeter a vários conceitos, uma vez que uma determinada situação pode não envolver todas as propriedades de um conceito. Um conceito encontra-se ligado a inúmeras situações e, de forma análoga, inúmeras situações diferentes remetem-se a um mesmo conceito. Dessa forma, a formação de um conceito dá-se ao longo do tempo por meio das interações entre situações novas que se tornam significativas por meio de conceitos antigos. I• : conjunto de invariantes operatórias que são subjacentes ao tratamento da situação pelo sujeito. São operações do pensamento que resultam em identificar relações, ou um conjunto de relações, em um problema, ou seja, transformar uma situação em um modelo que trate de aplicar um teorema verdadeiro não necessariamente explícito. Por exemplo: às dez primeiras letras do nosso alfabeto, adicionamos as seis seguintes. Em que letra estamos agora? O aluno, ao desenvolver o raciocínio “J (décima letra)... K, L, M, N, O, P”, está usando o seguinte teorema: CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 30 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS “a união de dois conjuntos que não possuem elementos em comum corresponde aos elementos do primeiro conjunto mais os elementos do segundo conjunto”. X• : conjunto de representações simbólicas que permitem representar as invariantes, as situações e os procedimentos de tratamento. São as significações dos elementos contidos no problema. Podem apresentar-se no papel, verbalizadas ou sobre qualquer forma de representação. Por exemplo, ao resolver a seguinte situação: “um número, adicionado a 10 resulta em 24. Que número é esse? (x + a = b)”, o aluno, ao resolver x = 24 - 10 = 14 (x = b – a), está utilizando sinais que são significantes e que se referem aos significados: números, operações etc. Contudo esses sinais não se referem apenas a quantidades discretas, mas a quanti- dades físicas, econômicas e temporais. Sendo assim, conforme Franchi (2002), podemos definir Campo Conceitual como “o estudo do desenvolvimento e do funcionamento de um conceito que deve considerar ao mesmo tempo os conjuntos S, I e X”. Ou seja, campo concei- tual se resume em considerarmos um determinado problema e os conceitos envol- vidos, as possibilidades de procedimentos para solucioná-lo e suas diferentes formas de representações. Reflita É importante definirmos até que ponto uma representação matemática é operatória para resolver um problema, haja vista o fato de que esse mesmo problema pode ter várias representações em sistemas simbóli- cos diferentes. Ainda sobre a Teoria dos Campos Conceituais, consideramos que são aspectosimportantes: a liberdade de aprendizagem dos conceitos, ou seja, a aprendizagem • dos conceitos não segue um padrão linear ou uma rigidez sequencial; a capacidade de estender um esquema para uma situação mais complexa, • estabelecendo um estado de generalização de conceitos matemáticos. A Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud preocupa-se com a apro- priação da situação pelo aluno, da elaboração de seus próprios procedimentos. Assim, evita-se a utilização mecânica de algoritmos, ou procedimentos sem signi- ficados que não contribuem para o desenvolvimento do raciocínio e do conheci- mento lógico matemático. CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 31 2 .3 . Sendo responsável pelo processo de aprendizagem No trabalho cotidiano das aulas, podemos observar que o planejamento do professor determina, e muito, o tipo de aprendizagem que será cons- truído. Se o objetivo do ensino é que os alunos atribuam significados à sua aprendizagem, o professor deve transformar a sala de aula em um espaço aberto para a pesquisa e de interação ativa do aluno com aluno e do aluno com a realidade. Assumir uma prática com esse objetivo requer que o professor pense em atividades que promovam a aprendizagem significativa. Para Zabala (1996) a elaboração dessas atividades deve seguir alguns critérios preestabelecidos. São eles: verificar os conhecimentos prévios dos alunos com relação aos novos • conteúdos a serem aprendidos; apresentar os conteúdos de forma significativa e funcional para • os alunos; adequar os conteúdos e as atividades ao nível de desenvolvimento • dos alunos; utilizar as atividades como forma de desafiar os alunos, mas na forma • de desafios possíveis, isso irá estimulá-lo a avançar em seu processo de aprendizado; estimular o raciocínio e o cálculo mental, além de colocar “à prova” os • conceitos que eles trazem consigo. Nessa perspectiva, o professor deve sempre refletir e analisar que tipo de atividade vai trabalhar, já que nossas escolhas didáticas devem ser justificadas, revistas e repensadas sempre que necessário. E quando escolhemos uma atividade em detrimento de outra, estamos pensando no processo de aprendizagem, em oportunizar ao aluno um papel ativo em sua realização. Assim, como estamos refletindo sobre a prática pedagógica, é necessário lembrar que o mundo muda rapidamente, e precisamos pensar a prática pedagó- gica em uma perspectiva global, ou seja, transformar os conteúdos matemáticos em instrumentos para a compreensão da realidade e nas possíveis intervenções no contexto vivencial. Para Leite (1996), o professor que concebe o conhecimento na perspectiva globalizada deve trabalhar em sala de aula: centrado na resolução de problemas;• concebendo o conhecimento como instrumento para a compreensão do • mundo e possível intervenção na realidade; CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 32 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS intervindo por meio de situações problematizadoras, introduzindo novas • informações, para que os alunos avancem em seus esquemas de com- preensão da realidade; compreendendo o aluno como sujeito ativo que usa a sua experiência e • seu conhecimento prévio para resolver problemas; seguindo a sequência dos conteúdos abordados e aprofundando-os de • acordo com as possibilidades dos alunos; propondo atividades abertas, deixando que os alunos estabeleçam suas • próprias estratégias, encontrem os possíveis caminhos para solucionar o problema apresentado. Destacamos que, ao pensar sobre sua prática docente, você não pode esquecer que a aprendizagem é um processo social, e esse processo deve estar vinculado à realidade contemporânea; por isso, deve-se aproveitar todo universo cultural presente na sociedade para criar situações de aprendizagem. Assim, ao longo deste capítulo, procuramos aprofundar os conceitos de apren- dizagem matemática e os procedimentos para que esta ocorra com êxito, uma vez que em um grande número de escolas ainda prevalece o modelo de matemá- tica clássica e tradicional, nas quais sobram formalismos e faltam significados. Nessas escolas, aspectos importantes do aluno como suas subjetividades e capacidade de interpretar e elaborar esquemas para a solução de problemas não são considerados. Prevalece um modelo engessador, que ignora as mudanças culturais e as características sócio-históricas de sua clientela. Urge a necessidade de transformação desse quadro para que os alunos possam apropriar-se de seus processos de aprendizagem. Para finalizar, é importante que você tenha percebido nossa intenção de demonstrar a necessidade de se buscarem novas formas de ensinar e de compreender como se desenvolve o processo de aprendizagem matemática. Também é importante repensar a postura do professor diante das produções dos alunos e o papel que a matemática deve desempenhar na vida dos sujeitos. Sobretudo, é preciso que façamos a escolha: ou preparamos nossos alunos para a vida ou os preparamos na vida. Saiba mais Aprofunde seus conhecimentos com a leitura do texto A Teoria dos Campos Conceituais: contribuições da Psicologia para a prática docente, da psicó- loga e PhD em Educação Matemática Sandra Magina, disponível no sitio: <http://www.ime.unicamp.br/erpm2005/anais/conf/conf_01.pdf>. CAPÍTULO 2 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 33 Dando continuidade à nossa preparação, abordaremos, no próximo capí- tulo, a importância de compreender os atos de ensinar e de aprender para que a aprendizagem se torne um processo significativo para o aluno. Até lá! Referências CARVALHO, D. L. Metodologia do ensino da Matemática. São Paulo: Cortez, 1994. FIORENTINI. D. (Org.). Formação de professores de matemática: explorando novos caminhos com outros olhares. Campinas: Mercado das Letras, 2003. ______. Quando professores e estudantes constituem comunidades que aprendem e ensinam múltiplas matemáticas. Anais do IV EBREM. Brasília: Sociedade Brasileira de Educação Matemática, 2008 (15-28). FRANCHI, A. Considerações sobre a teoria dos campos conceituais. In: MACHADO, S. A. Educação matemática: uma introdução. São Paulo: EDUC, 2002. FREITAS, L. C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. LEITE, L. H. 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Quando falamos sobre a sua forma de “fazer matemática”, revelamos nosso entendimento de que não só existem diferentes fases (ou níveis) de matemática, como diferentes formas de matemática. Diferentes fases quando reconhecemos a existência de operações não matemáticas que são fundamentais para a com- preensão das demais operações e raciocínios lógico-matemáticos. Diferentes formas de matemática, quando reconhecemos que diferentes grupos sociais constroem e utilizam diferentes formas de matemática (que não as tradicionais e reconhecidas) sem prejuízo algum. Formas essas que, por serem desprovidas de sistematizações e linguagem acadêmicas,não constam nos currículos escolares, não sendo, portanto, reconhecidas pela escola. Esperamos que, ao final deste capítulo, você seja capaz de compreender a função social da matemática e sua importância para o conhecimento de mundo da criança, além de ser capaz de identificar as competências e habilidades que compõem o currículo de matemática na Educação Infantil e os nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para um melhor aproveitamento dos temas encontrados neste capítulo, suge- rimos que você retome o capítulo 5, O ensino da matemática na Educação Infantil, da apostila Pensamento Matemático e a Construção de Conceitos, traba- lhada no segundo período do curso. Naquele capítulo, foram abordadas habi- lidades necessárias à alfabetização, como a apropriação de formas de leitura para conhecimento de mundo que inclui a palavra escrita, a observação e a quantificação do entorno da criança; sua historicidade como forma de localizar- se no tempo e no espaço e demais elementos que compõem essa alfabetização. Nessa etapa, o contato com o material concreto é tido como ponto de partida para a compreensão de como funciona um objeto. Além disso, no capítulo 6, O currículo de matemática nos anos iniciais, da mesma disciplina, foram expostos os conteúdos componentes dos eixos matemáticos números e operações; espaço A função da matemática na formação da criança 3 CAPÍTULO 3 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 36 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS e forma; grandezas e medidas e tratamento da informação, que na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental são conhecidos como blocos de conteúdos. A partir dessas discussões preliminares, discutiremos sobre o currículo do ensino dessa ciência em dois dos principais níveis da educação: a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Refletiremos, ainda, sobre as aplicações práticas dos conceitos que devem ser trabalhados nessas fases de ensino. 3 .1 O currículo da Educação Infantil e o ensino de Matemática A preocupação com o início da vida escolar da criança tem levado pais e professores a procurarem, cada vez mais cedo, as instituições de ensino. Para muitos desses pais, o tempo que a criança fica na escola é proporcional ao apren- dizado que ela tem, dessa forma, quanto mais tempo melhor. Em outras pala- vras, quanto mais cedo a criança iniciar sua vida escolar, mais ela aprenderá. Tal pensamento equivocado tem trazido para dentro das instituições de ensino, crianças cada vez mais novas para serem educadas. Atender às necessidades dessa clientela requer dos professores novas e diferentes formas de ensinar. Entendemos que a Educação Infantil, ou melhor, o currículo desse segmento deve contemplar a criança em sua totalidade, cumprindo duas funções indis- pensáveis: a de educar e a de cuidar. Para tanto, deve garantir o desenvolvi- mento dos aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando o trabalho realizado pela família e pelo novo modelo de sociedade globalizada e informatizada. Por reconhecermos que, ao longo do seu desenvolvimento, a criança passa por diferentes fases e etapas que são responsáveis por suas formas de pensar e de agir, defendemos que as propostas educativas devam preocupar-se com a qualidade das relações que a criança estabelece com o mundo físico e social que a cerca. Mesmo que a ordem em que se sucedem as etapas sejam as mesmas para todas as crianças, a idade pode variar de uma para outra, pois cada uma possui um ritmo próprio de desenvolvimento. De modo análogo, o currículo de Matemática deve ter a preocupação com as relações que serão estabelecidas com o mundo, de forma a facilitar a com- preensão deste para o indivíduo, adequando-se às diversas situações e neces- sidades que lhe são apresentadas. Dessa forma, essa ciência não pode ser reduzida a cálculos e operações. Ao propormos uma atividade baseada em vivências ou experiências, devemos ter em mente que isso dificilmente se dará em um processo linear, ancorado apenas em fatos conhecidos e já “dominados”. Nesse sentido, Uma proposta de trabalho de matemática para a Educação Infantil deve encorajar a exploração de uma grande variedade CAPÍTULO 3 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 37 de ideias não apenas numéricas, mas também aquelas relativas à geometria, às medidas e às noções de estatística, de forma que as crianças desenvolvam e conservem com prazer uma curio- sidade acerca da matemática, adquirindo diferentes formas de perceber a realidade (SMOLE, 2000, p. 9). Uma proposta como essa exige que o professor saiba quais são os conhe- cimentos que seu aluno traz consigo para, a partir deles, instigá-lo em busca de algo a mais. É importante saber o que o aluno sabe, porém é imprescindível instigá-lo a querer mais. As experiências do aluno serão as bases norteadoras, os pontos de apoio para enfrentar os novos desafios que devem vir em forma de números, formas, grandezas, medidas, modos de tratar e organizar as novas informações. Tudo precisa ser inferido pelo professor, para que possa ser ampliado, construído e reconstruído, quantas vezes forem necessárias. É necessária a compreensão de que um determinado conceito pode não estar relacionado a nenhuma vivência que o aluno já tenha tido e nem por isso deve ser descartado. Tais vivências virão e serão ligadas aos conceitos construí- dos, se estes forem sólidos. Para exemplificar, vamos partir da experiência de se recriar um arco-íris. Uma criança de 3 ou 4 anos pode nunca ter visto tal fenômeno natural, ocasio- nado pela decomposição do feixe de luz solar nas partículas de água. Ao levá- las para o pátio da escola em um dia de sol, o professor esguicha água (imitando uma chuva fina e rala) com uma mangueira, fazendo com que as inúmeras gotículas formem um arco-íris. Mesmo desconhecendo vários processos físicos implícitos nessa experiência, fica registrado para a criança que são necessários dois elementos para “criar” o arco-íris: o sol e a chuva. Dessa forma, quando a criança presenciar esse fenômeno natural, reconhecerá a presença necessária da chuva e do sol. Isso significa que o aluno precisa de tempo para desenvolver as ideias e os conceitos trabalhados pela escola e que a apropriação de um determinado conceito se dará após a aplicação deste em outras situações. Propiciar e estimular situações que favoreçam o encadeamento do raciocínio lógico, superando a ideia fragmentada e compartimentalizada das ações educa- tivas, deve ser o objetivo constante de uma proposta matemática preocupada em atender aos aspectos físicos, sociais, psicológicos e intelectuais do aluno. 3 .1 .1 A criança, o conhecimento de mundo e o conhecimento lógico-matemático A compreensão do mundo e das pessoas que cercam a criança é favorecida por inúmeros aspectos físicos, afetivos, cognitivos, sociais e éticos, e é função da escola, propiciar situações que favoreçam esse processo de construção. Como CAPÍTULO 3 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 38 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS dito no capítulo anterior, os conceitos necessitam ser desconstruídos e recons- truídos para serem aplicados em outras situações. Por meio de ações, como procurar soluções para um problema; verbalizar suas ideias; escutar e opinar sobre as ideias dos outros; argumentar; defender seu ponto de vista; buscar dados que faltam para resolver problemas; delimitar seu espaço; comparar quantidades e tantas outras ações, observamos que a criança “faz” matemática cotidianamente. Essas relações contribuem para a formação de cidadãos autônomos e corres- ponsáveis em seu processo de aprendizagem e capazes de resolver as situa- ções-problema presentes em seu cotidiano. Esse período da educação deverá ser compreendido por você como funda- mental para o fortalecimento dos laços cognitivos, afetivos e socioculturais. Para tanto, o conhecimento deve ser dinâmico e o conhecimento matemáticonão pode ser diferente. De acordo com o documento da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, intitulado Currículo da Educação Básica das escolas públicas do Distrito Federal – Educação Infantil, as relações que permitem aos alunos organizar, relacionar, agrupar e comparar não se apresentam “nos objetos em si, mas em operações (comparações, análises, generalizações)” que as crianças estabelecem com esses objetos. Ainda em acordo com esse documento, os conteúdos matemáticos encon- trados nos currículos escolares devem desenvolver capacidades que são classi- ficadas em: Apropriação: capacidade de apropriar-se das linguagens mais formais, com mais abstração da realidade (utilização de cifras, utilização de algarismos matemáticos para representar as situa- ções de agrupar objetos); Abstração: capacidade de abstrair as propriedades dos objetos ou dos acontecimentos e de generalização de todas as situações, nas quais se apresentem formação de conceitos, por meio do ajuste da linguagem verbal. Por exemplo, o conceito de redondo ou de pequeno, em um primeiro momento só faz referência a um determinado objeto. Aos poucos, por intermédio de experiências com materiais e situações diversas, a criança vê a relação entre essa e outras formas e conceitos, até poder utilizá-los e aplicá-los a situações novas que tenham as características adequadas; Resolução de situações-problemas: capacidade de resolução de situações-problema que se apresentem; de buscar estratégias que permitam apresentar a solução (compra e venda, jogos como dominó) (BRASIL, 2008b, p. 45). Para que essas capacidades sejam desenvolvidas com sucesso, necessitamos que o professor instigue a curiosidade de seus alunos, oferecendo um ambiente com múltiplas possibilidades de exploração e com os mais diferentes tipos de materiais, além de: CAPÍTULO 3 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 39 propor situações interessantes às crianças;• propor questões que apresentem pequenos problemas ligados ao nível • do desenvolvimento infantil; dar informações, relacionar vivências semelhantes;• deixar os alunos atuarem, proporem problemas e tentarem resolvê-los.• Não devemos perder de vista que as noções de matemática e o que denomi- namos de conhecimento matemático são construídos pelas crianças a partir de suas interações com o meio, pelas interpretações que fazem dos acontecimentos e pelas inter-relações com outras pessoas. É fundamental, contudo, que o professor planeje suas atividades com a intencionalidade de instigá-las a criarem em novas estruturas, novos esquemas mentais, pois, como foi dito anteriormente, o conhecimento matemático não é construído de uma única vez e, sim, aos poucos, em um processo de recons- trução de significados e validação de esquemas. No documento elaborado pela Secretaria de Estado de Educação, do Distrito Federal temos que O pensamento lógico-matemático é um dos atributos do desen- volvimento cognitivo de cada um e não tem como ser treinado. Não é algo ensinável externamente; tem de ser construído interna- mente. Contudo, só pode ser construído se houver objetos externos instigantes, sobre os quais as pessoas possam pensar, uma vez que as construções cognitivas, embora não sendo espontâneas, nem inatas, desenvolvem-se segundo alguns princípios (BRASIL, 2008b, p. 46). Desse entendimento, verificamos que as experiências, as vivências e as conjec- turas de cada um contribuem para a formação do seu pensamento lógico-ma- temático. É claro que quanto melhores forem tais atributos, maiores serão as chances de desenvolvê-lo, por esse motivo os conhecimentos dependem do meio mais ou menos rico em que a criança vive ou tenha vivido e das possibilidades que buscamos para solucionar as mais diferentes situações que se apresentam. Nesse sentido, o currículo da Educação Infantil deve estar voltado para atender e garantir que as crianças sejam capazes de: ter êxito nas quantificações, nas relações entre quantidades e entre as • operações elementares, fazendo registros espontâneos; reconhecer e valorizar os números, as operações, as contagens numé-• ricas orais e as noções espaciais como ferramentas necessárias no seu cotidiano; comunicar ideias matemáticas, hipóteses, processos utilizados e • resultados encontrados em situações-problema relativas às quanti- dades, ao espaço físico e medida, utilizando a linguagem oral e a linguagem matemática; CAPÍTULO 3 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA 40 6º PERÍODO • PEDAGOGIA • UNITINS e• stabelecer vários tipos de relações (comparação, classificação, orde- nação, seriação, expressão de quantidade), representações mentais, gestuais e indagações, observação e formulação de hipóteses; construir o significado do número natural a partir de seus diferentes • usos, no contexto social, explorando situações-problema que envolvam contagens, medidas, códigos numéricos e sistema monetário; confiar em suas próprias estratégias e na sua capacidade de lidar • com situações matemáticas novas, formular questões mais elaboradas aprender a trabalhar diante de um problema, criar ou mudar regras de jogos, revisar o que fez e discutir entre os pares as diferentes propostas, utilizando seus conhecimentos prévios; desenvolver procedimentos de cálculo mental, escrito, exato ou aproxi-• mado, pela observação de regularidades e de propriedades das opera- ções e pela antecipação e verificação de resultados; estabelecer pontos de referência para situar-se, posicionar-se e deslocar-se • no espaço, bem como para identificar relações de posição entre objetos no espaço, interpretar e fornecer instruções, usando terminologia adequada; perceber semelhanças e diferenças entre objetos no espaço, combinando • formas, fazendo relações geométricas, em situações que envolvam descrições orais, construções, representações; saber instituir e reconhecer grandezas mensuráveis como comprimento, • massa, capacidade e elaborar estratégias de medidas; utilizar informações sobre o tempo e a temperatura;• utilizar instrumentos de medida, usuais ou não, estimar resultados e ex- • pressá-los por meio de representações não necessariamente convencionais; perceber as semelhanças e diferenças entre os colegas, valorizando e • respeitando as qualidades de cada um. Proporcionar aos alunos da Educação Infantil a oportunidade de desenvolver tais habilidades, em sua plenitude, interligando, assim, os aspectos sociais, afetivos, psicológicos e sociais, constitui-se como o grande desafio para todos nós, profissionais da educação, pois somente sendo assistidos nesses aspectos é que os alunos construirão sua identidade e autonomia, ampliarão seus conheci- mentos de mundo e interagirão com o meio social no qual estão inseridos. Reflita As capacidades expostas, anteriormente, são capazes de garantir o de- senvolvimento dos aspectos sociais, afetivos, psicológicos e cognitivos das crianças? Sozinhas não. Como dito anteriormente, elas dependem das re- CAPÍTULO 3 • FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA UNITINS • PEDAGOGIA • 6º PERÍODO 41 lações da criança com o meio em que esta vive, com a família e com a escola. As interações entre esses meios e o estímulo a essas habilidades são capazes de desenvolver a criança em seus diferentes aspectos. Vamos estudar, a seguir, o currículo dos anos iniciais do Ensino Fundamental. 3 .2 O currículo dos anos iniciais e o ensino de Matemática A exemplo do que ocorre na Educação Infantil, não podemos mais pensar que os conteúdos curriculares da Matemática destinados aos anos iniciais do Ensino Fundamental devam seguir uma ordem linear, como se o processo de conhecimento e aprendizagem fosse cartesiano. Nessa fase da educação, a alfabetização constitui-se como foco central da atividade do professor (e de fato é!), porém não existem entraves para que os conhecimentos matemáticos advindos das experiências dos alunos sejam abor- dados
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