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MODELO DE SENTENÇA EM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO – ESTÁGIOS EM ASSESSORIAS. AÇÕES NO ÂMBITO DO JEF. SENTENÇA Vistos etc. Cuida-se de ação de OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c pedido INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO, ajuizada pela parte autora, devidamente qualificada na inicial, em desfavor da Caixa Econômica Federal – CEF e do INSS, ao argumento de que sofrera danos de caráter patrimonial e extrapatrimonial por falha na prestação de seus serviços. Essa é a síntese do relatório. Fundamento, para decidir. 1. Ab initio, defiro o pedido da parte autora de Justiça Gratuita, porquanto o requerente se encontra enquadrada nos parâmetros admitidos por este Juizado, qual seja, a percepção mensal de, no máximo, 05 (cinco) salários-mínimos, o que caracteriza situação econômica que não lhe permite o pagamento de custas do processo, sem prejuízo próprio ou da família. 2. No mérito, a responsabilidade civil no direito privado contemporâneo vem, paulatinamente, abandonando a chamada teoria da culpa na mesma e inversa proporção em que vem crescendo a teoria do risco, cuja consolidação tem levado a responsabilidade civil subjetiva a ceder cada vez mais espaço em favor da expansão da responsabilidade civil objetiva. 3. Nesta perspectiva, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Artigo 14 da Lei Federal nº. 8.078 de 1990), em consonância com a cláusula geral da teoria do risco prevista expressamente no novo Código Civil brasileiro (artigo 927, parágrafo único da Lei Federal nº. 10.406 de 2002), consagrou a responsabilidade civil objetiva do fornecedor de serviços, fundada na teoria do risco criado. 4. Com efeito, entendo que a eficácia da legislação consumerista (Lei Federal nº 8.078 de 1990) abrange e disciplina as ações da demandada, mesmo quando no exercício de função delegatária do Poder Público Federal, por enquadrá-la de forma clara e inequívoca no conceito de ‘fornecedor’, previsto em seu artigo 3º, abaixo transcrito: “Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” 5. Neste mesmo passo, tenho por incontroversa a afirmação de que os serviços prestados por entidades bancárias são abrangidos pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei Federal nº. 8.078 de 1990), a teor do que dispõe o § 2º de seu artigo 3º 1 , seguindo o entendimento de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery 2 : “... um dos produtos comercializados pelo banco é o dinheiro que, segundo o CC Art. 50, é bem juridicamente consumível, caracterizado, portanto, como produto para efeitos de considerar-se como objeto da relação jurídica de consumo.” 6. Firmada a premissa de que a responsabilidade civil ora investigada tem natureza objetiva e prescinde de demonstração de culpa (cf. art. 14 da Lei Federal n.º 8.078 de 1990), deve-se verificar da existência de provas da ocorrência de seus elementos essenciais (ou pressupostos), ou seja, a) o fato jurídico, omissivo ou comissivo, contrário a direito (ilícito em senso lato); b) o dano patrimonial ou extrapatrimonial, “isto é, desvantagem no corpo, na psique, na vida, na saúde, da honra, ao nome, no crédito, no bem estar, ou no patrimônio”; e c) a relação de causalidade (nexo causal) entre o fato contrário a direito e a lesão a direito. 7. A propósito, cumpre registrar que vigora como regra geral no direito privado pátrio, tanto em sede de responsabilidade civil negocial, quanto de responsabilidade civil extranegocial, a teoria da causalidade imediata 3 , a qual assegura o direito à indenização tão somente por danos diretos e imediatos, sendo inadmissível a reparação por danos indiretos ou reflexos (em ricochete), salvo quando 1 Art. 3º (...) § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 2 NERY Júnior, Nelson e Rosa Maria Andrade Nery. Código de processo Civil Comentado. 3ª edição. São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 1997. 3 Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. excepcionalmente acolhida, pela própria legislação privatista brasileira, a teoria da causalidade adequada (vg: artigo 948, II do Código Civil Brasileiro de 2002 4 ). 8. Os prejuízos decorrentes do ato omissivo ou comissivo, com efeito, podem ter caráter patrimonial ou extrapatrimonial, ainda que de caráter exclusivamente moral, que em tese consiste o último em uma lesão a um direito da personalidade, havendo a sua caracterização, seguindo a lição de Carlos Alberto Menezes Direito e Sérgio Cavalieri Filho 5 , quando há “agressão à dignidade humana”, pelo que devem ser excluídos, nesta linha de entendimento, os dissabores, as mágoas, os aborrecimentos ou as irritações corriqueiras em nosso dia-dia, fatos estes sem o condão de fazer romper equilíbrio psicológico humano. É neste sentido, com efeito, quem vem caminhando a Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça 6 : “RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. INTERRUPÇÃO DE SERVIÇO TELEFÔNICO. ALTO PARNAÍBA. CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA. MERO DISSABOR. (...) O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige.” 9. Daí é que, em geral, a doutrina e jurisprudência têm excluído do alcance da indenização por danos morais o mero inadimplemento contratual, cuja materialidade, consubstanciada na quebra de confiança entre os contratantes, é previsível e comum no trânsito das relações negociais privadas 7 , e para cuja ocorrência os contratantes podem antecipadamente fixar cláusula penal. 10. Para o melhor deslinde do caso em tela, cumpre valorar alguns elementos fáticos depreendidos da análise dos autos para, a partir daí, estabelecer a quem, efetivamente, assiste razão. 11. A controvérsia do caso em questão cinge-se numa espécie de restrição temporária efetuada no benefício assistencial da parte autora – maior 4 Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I – (...); II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. 5 Comentários ao novo código civil. Volume XIII. Rio de Janeiro: editora forense, 2004. Página 103. 6 Quarta Turma. Relator: Min. César Asfor Rocha. Recurso Especial 599538, DJ 06/09/2004. 7 Neste sentido: DIREITO, Carlos Alberto Menezes e FILHO, Sérgio Cavaliere. Ob. Cit. Página 104. permanentemente incapaz e possuidor de Amparo Social – que inicialmente teve os valores dos quais faz jus depositado na conta de sua genitora e representante legal. 12. Em sua inicial, disserta a parte autora que o referido bloqueio se deu em virtude do óbito de sua genitora. Alega que, sem o acesso aos depósitos de seu benefício assistencial, buscou levantar os valores junto aos réus administrativamente, mas não logrou êxito, vez que a CEF e o INSS alegaram que nada poderia ser feito, tendo em vista que o benefício assistencial era da falecida e por tal razão a conta havia sido bloqueada. 13. Analisando o dossiê administrativo constante dos autos, observa-se que os argumentos mencionados alhures não comportam razão alguma que lhes façamprosperar, tendo em vista que benefício assistencial, ainda que com depósito dos valores em conta que não a do titular, fora concedido exclusivamente à parte autora (vide docs. de nºs 50-52 dos autos). 14. Assim, uma vez a partir de 06/06/2014 (data do óbito da genitora do parte autora), continuou o INSS a destinar inadequadamente os recursos à conta CEF da genitora falecida até o dia 31/07/2015, cf. se extrai do extrato anexo ao doc. de nº 55 dos autos, ordenando deve ser o pagamento através da presente porque os valores ali depositados e não repassados devidamente são de direito da parte autora. 15. No que diz respeito à alegação de experimentação de danos extrapatrimoniais, verifico que a parte autora limitou-se a descrever situações que decorrem do mero aborrecimento pela falha na prestação de serviço, não comprovando que a conduta ilícita dos réus ocasionou-lhe qualquer prejuízo à honra ou imagem da empresa. 16. É certo que a demandante passou por incômodos, porém, o mero dissabor, a simples inconveniência em ter que solucionar o equívoco, embora cause algum transtorno temporário à esfera patrimonial da empresa, não é suficiente para provocar danos de ordem moral. A vida contemporânea impõe às pessoas a necessidade de participar de avenças de toda ordem, bem como a manter relacionamentos constantes com pessoas físicas e jurídicas; nesse contexto não é de se admitir que equívocos corrigidos a contento e sem maiores conseqüências sejam considerados ilegais e ensejadores de indenizações. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. Nesse sentido, vem decidindo as Cortes de Justiça brasileiras, como se colhe do seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça – STJ, ipsis litteris: RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. INTERRUPÇÃO DE SERVIÇO TELEFÔNICO. ALTO PARNAÍBA. CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA. MERO DISSABOR. (...). O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige. (Superior Tribunal de Justiça, Quarta Turma, Recurso Especial 599538, DJ 06/09/2004, rel. Min César Asfor Rocha). 17. É certo que tentou a parte autora o ressarcimento por meio das vias judiciais, no entanto, percebo que não através dos procedimentos adequados, não se sustentando, portanto, o argumento de mora do Poder Judiciário (vide decisões de nºs 24-27). 18. Na espécie, o referido prejuízo imaterial (se é que realmente houve), ocorreu em virtude da desídia da própria parte autora. 19. Assim, entendo por não comprovada a ocorrência de danos morais a partir dos fatos narrados na inicial, não havendo provas de que a seara do mero aborrecimento restou ultrapassada e, portanto, violados direitos da personalidade da parte autora. 20. Por todo o exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos autorais para: a) condenar os réus ao pagamento em favor da autora, a título de indenização por danos materiais, o valor de R$ 2.364,00 (dois mil trezentos e sessenta e quatro reais), corrigido monetariamente a partir desta sentença e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a contar do trânsito em julgado. Transitada em julgado, intimem-se os réus para cumprimento da obrigação de dar; b) Sem custas e honorários advocatícios (art. 1º da Lei nº. 10.259/2001 c/c os art. 55 da Lei nº. 9.099/95). 21. Intimações e providências necessárias. Cidade, 15 de fevereiro de 2021. Nome Juiz Federal
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