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TECNICAS DE CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS DE MINA Técnicas de Construção de Estradas de Mina 2 Resumo O objetivo da revisão inicial desse trabalho é padronizar e organizar de forma didática os diversos procedimentos de Gestão de Estradas de Mina. Tais processos são aqui apresentados como o conjunto de parâmetros e ferramentas técnicas que compõe o sistema de gerenciamento de infraestrutura de mina, voltado ao projeto, construção e manutenção dos acessos para transporte de materiais entre bancadas, frentes de lavra e a pilhas de disposição de estéril, dentre outros. O manual está estruturado em 5 capítulos. Os primeiros tratam distintamente das questões relativas aos projetos geométrico, estrutural e de drenagem de estradas de mina (Capítulos 1, 2 e 3, respectivamente). O Capítulo 4 aborda questões voltadas à construção das camadas dos acessos, de forma a suportarem adequadamente as solicitações devidas aos esforços impostos pelos equipamentos de transporte. Finalmente, no Capítulo 5 são discutidos os tipos de defeitos mais comumente encontrados em estradas de mina e formas de corrigi-los ou mesmo de atuar preventivamente de tal maneira que não ocorram. Trata-se, portanto, da manutenção e readequação dos acessos. A abertura de cada capítulo é feita utilizando-se uma representação esquemática que relaciona e interliga os diversos elementos que compõe um gerenciamento adequado de estradas de mina. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 3 Índice 1. Projeto Geométrico ......................................................................................................... 7 1.1 Distância de parada .......................................................................................................... 8 1.2 Distância de visibilidade .................................................................................................. 13 1.3 Largura ............................................................................................................................ 20 1.4 Superelevação ................................................................................................................ 23 1.5 Raio de curvatura ............................................................................................................ 25 1.6 Grade .............................................................................................................................. 26 1.7 Leiras de segurança ........................................................................................................ 29 1.8 Interseção entre elementos geométricos ........................................................................ 33 1.9 Inclinação para direcionamento de drenagem ................................................................ 34 2. Projeto Estrutural .......................................................................................................... 36 2.1 Camadas de um pavimento típico .................................................................................. 37 2.1.1 Revestimento ............................................................................................................... 37 2.1.2 Base ............................................................................................................................ 37 2.1.3 Sub-base ..................................................................................................................... 38 2.1.4 Sub-leito ...................................................................................................................... 38 2.2 Dimensionamento de um pavimento .............................................................................. 38 2.2.1 Métodos empíricos ...................................................................................................... 39 2.2.1.1 Método CBR de laboratório ...................................................................................... 39 2.2.1.2 Método CBR de campo ............................................................................................ 46 2.2.2 Métodos mecanísticos-empíricos ................................................................................ 50 3. Projeto de Drenagem .................................................................................................... 51 3.1 Drenagem superficial ...................................................................................................... 55 3.1.1 Valetas de proteção de corte e aterro .......................................................................... 55 3.1.2 Sarjetas de corte .......................................................................................................... 59 3.1.3 Saídas d’água (“bigodes”) ........................................................................................... 63 3.1.4 Descidas d’água .......................................................................................................... 66 3.1.5 Caixas coletoras .......................................................................................................... 68 3.1.6 Bueiros de greide ......................................................................................................... 70 3.1.7 Dissipadores de energia .............................................................................................. 72 3.1.8 Caixas de retenção / infiltração ................................................................................... 74 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 4 3.2 Drenos profundos ........................................................................................................... 76 4. Construção .................................................................................................................... 81 4.1. Resistência ao rolamento .............................................................................................. 82 4.2. Seleção de materiais ..................................................................................................... 85 4.2.1 Materiais de revestimento ............................................................................................ 86 4.2.2 Materiais para as camadas de base e sub-base ......................................................... 88 4.3 Requisitos de compactação ............................................................................................ 90 4.4 Técnicas de tratamento contra pó .................................................................................. 94 5. Manutenção e Readequação ........................................................................................ 99 5.1 Tipos de defeitos característicos nas estradas ............................................................. 100 5.1.1 Buracos ..................................................................................................................... 101 5.1.2 Poeira ........................................................................................................................ 102 5.1.3 Material solto ............................................................................................................. 103 5.1.4 Borrachudo ................................................................................................................ 103 5.1.5 Seção transversal inadequada .................................................................................. 103 5.1.6 Trilhas de rodas ......................................................................................................... 104 5.1.7 Corrugação ................................................................................................................ 106 5.1.8Segregação de material agregado e anti-pó .............................................................. 107 6. Referências bibliográficas .......................................................................................... 108 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 5 Introdução Obras geotécnicas em mineração têm recebido grande atenção por parte das mineradoras, empresas de consultoria de projetos e centros de ensino e pesquisa acadêmica. É marcante o avanço que se registra na chamada geotecnia aplicada à mineração, que tem resultado no desenvolvimento de uma tecnologia diferenciada da engenharia clássica de barragens e dos aterros compactados. Assim, sistemas de contenção de rejeitos e pilhas de estéril são apoiados em instrumentos técnicos de projeto e recursos para investimentos em nível cada vez mais compatível com a importância dessas estruturas. O cenário é bem diferente quando se trata da gestão de estradas de mina. Os registos e as relativamente poucas referências a respeito espelham pesquisas, estudos e testes desenvolvidos por poucos grupos em iniciativas de trabalho isoladas. É visível como os acessos para movimentação de materiais (minérios, estéreis, produtos, etc,) nas minas ainda não evoluíram a ponto de se dizer que é praticada uma engenharia satisfatória para a importância que têm no processo produtivo. No contexto da Engenharia Civil o estudo em torno das estradas rodoviárias está bem mais desenvolvido, tanto na sua concepção quanto na sua realização. Devido à natureza ímpar das operações de lavra, as estradas de mina possuem características próprias, que conduzem à necessidade de tratativas diferenciadas em relação aos pavimentos rodoviários. No entanto, ainda que se possam apontar muitas diferenças de objetivos, percebe-se que com certo grau de esforço, estudos e ensaios, é possível encontrar e desenvolver tecnologias de estradas que possam ser adaptadas à mineração, conferindo-lhes ganhos de qualidade, segurança e redução de custos, entre outros. Alguns parâmetros que compõe o estudo dos acessos de mina possuem certa similaridade com aqueles estabelecidos para as estradas vicinais de terra, mas eles também devem ser trabalhados para que sejam aplicáveis à realidade mineira. O objetivo do presente trabalho é de proporcionar uma diretriz para projeto, construção e manutenção de acessos de mina. Buscou-se estudar princípios de referências teóricas sobre o tema, aliando-os às práticas adotadas em campo. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 6 A fundamentação teórica do trabalho foi baseada em vários autores, desde os pioneiros Kaufman e Ault (1977), passando por diversas publicações de Alex Visser (África do Sul) e Roger Thompson (Austrália) (2009, 2008, 1996), assim como o excelente trabalho de síntese de Tannant e Regensburg (2001), para citar alguns. No Brasil, poucas referências existem, sendo a comparação mais próxima feita com trabalhos voltados para estradas vicinais (Oda, 1995) e florestais. Na Universidade Federal de Ouro Preto, foram desenvolvidas duas pesquisas recentes, uma voltada à escolha de materiais para pavimento envolvendo estéril e rejeito de mineração (Saraiva, 2006) e outra abordando diferentes soluções para dimensionamento de pavimento e tratamento anti-pó em estradas de mina de uso por camião fora de estradas (Ferreira, 2007). Devido à grande diversidade entre frotas de equipamentos, sistemas de controles operacionais e diferenças relativas às características mineralógicas e tipos litológicos regionais, optou-se por produzir um trabalho mais abrangente do ponto de vista de sua aplicação. Em revisões posteriores pretende-se aprofundar o estudo, detalhando-se a pesquisa, de forma a produzir trabalhos mais específicos que caracterizem e espelhem cenários separados por Complexo ou por outra forma de classificação que se mostre mais adequada. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 7 1. Projeto Geométrico Os elementos geométricos que compõe um projeto de estradas de mina devem estar alinhados com as questões relativas à segurança e à prática de uma engenharia bem aplicada. Tais elementos, quando corretamente projetados, geram benefícios baseados em aumento de segurança, performance otimizada a um custo mínimo por tonelada transportada e redução da utilização dos equipamentos de manutenção. Alguns dos elementos mais relevantes para o projeto geométrico são destacados na Fig.1 e descritos conforme se segue: Distância de parada Distância de visibilidade Largura Superelevação Raio de curvatura Grade Leiras de segurança Interseções elem. geométricos Inclinação p/ direc. drenagem Geométrico Revestimento Base Sub-base Sub-leito Estrutural Valetas de proteção de corte e aterro Sarjetas de corte Saídas d'água Descidas d'água Caixas coletoras Bueiros de greide Dissipadores de energia Caixas de retenção/infiltração Drenos profundos Drenagem Projeto Construção Manutenção Readequação Resistência ao rolamento Seleção de materiais Requisitos de compactação Buracos Levantamento de campo Poeira Material solto Corrugação Seção transversal inadequada Trilhas de rodas Borrachudo Segregação material agregado e anti-pó Técnicas de tratamento contra pó Figura 1: Projeto geométrico: variáveis de controle Técnicas de Construção de Estradas de Mina 8 1.1 Distância de parada Também denominada distância de visibilidade de parada, é o espaço percorrido por um equipamento em uma estrada na velocidade de projeto1, desde o momento em que se nota a presença de um obstáculo até a parada completa do equipamento (Fig.2). A distância de parada (Dp) é composta pela soma de duas parcelas: distância de percepção e reação (D1) + distância de frenagem (D2). D1 = distância percorrida pelo equipamento no intervalo de tempo entre o instante em que o motorista vê o obstáculo e o instante em que inicia a frenagem. D2 = distância percorrida pelo veículo em movimento desacelerado, enquanto o freio estiver acionado, até parar. Figura 2: Distância de parada Os sistemas de frenagem fornecidos pela maioria dos fabricantes de camiões são equipados com recursos de segurança. Caso haja falha completa na frenagem hidráulica, os freios de serviço e o sistema de retardo são acionados, garantindo a frenagem e proporcionando menos fadiga. No entanto, é incerta a forma como a performance de frenagem pode variar com parâmetros como mudanças de grade, condições de superfície, velocidade inicial, desgaste no sistema de frenagem e contaminação por poeira, óleo e água. 1 Máxima velocidade que um veículo pode manter, em determinado trecho, em condições normais, com segurança. É também chamada velocidade diretriz. Dp D1 D2 Percepção e reação Frenagem Técnicas de Construção de Estradas de Mina 9 O ideal, quando possível, é que antes que o layout da estrada seja iniciado, seja verificada com o fabricante do equipamento a capacidade de performance dos freios de serviço sem o auxílio dos sistemas de retardo dinâmico ou hidráulico. O cálculo da distância de parada para diferentes grades e velocidades foi desenvolvido por Kaufman e Ault (1977), através de uma fórmula empírica baseada nas limitações de distância de parada estudadas pela Society of Automotive Engineers (SAE). A distância de parada pode ser obtida através da Eq.1. )(22 1 2 2 senfg vgtsen tvsengtD oop Equação 1: Distância de parada Onde: g = aceleração da gravidade (m/s 2 ) t =tempo de parada (s) Ѳ = grade da rampa, positivo para baixo (graus) f = coeficiente de atrito do pneu (contato estrada/pneu) vo = velocidade do veículo (m/s) O tempo total de parada t é composto pelas parcelas relativas a: 1 - percepção e reação do operador do camião (tempo de reflexo t1 gasto para percorrer a parcela de distância D1; geralmente considerado 1,5 s). 2 - reação de frenagem do equipamento (tempo t2 para resposta ao acionamento do sistema de frenagem do camião; tempo gasto para percorrer a distância D2). O tempo t2, quando não disponível pelo fabricante do equipamento, pode ser atribuído conforme os valores da Tab. 1, definidos pela SAE: Tabela 1: Tempo de reação de frenagem em função do peso do camião Peso do caminhão (t) Tempo de reação de frenagem t2 (s) < 45 0,5 45 < t < 90 1,5 90 < t < 180 2,75 > 180 4,5 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 10 As curvas da Fig. 3 representam as distâncias de parada de acordo com alguns valores de peso de caminhão para diversos valores de velocidade e inclinação de rampa. As curvas foram calculadas a partir da Eq. 1. Distâncias de parada para caminhões < 45 t 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Distância de parada (m) V e lo c id a d e ( k m /h ) Distâncias de parada para caminhões entre 45 e 90 t 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Distância de parada (m) V e lo c id a d e ( k m /h ) Distâncias de parada para caminhões entre 90 e 180 t 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Distância de parada (m) V e lo c id a d e ( k m /h ) Distâncias de parada para caminhões > 180 t 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Distância de parada (m) V e lo c id a d e ( k m /h ) 1% 5% 10% 12% 15% 18% Figura 3: Valores de distância de parada para f = 0,4 O tipo de material que compõe a estrada, assim como a sua condição (seca, úmida), afetam diretamente o coeficiente de atrito f. A Tab. 2 apresenta valores de coeficiente de atrito de acordo com a natureza da pista: Tabela 2: Valores de f em função da natureza da pista Natureza da pista Coeficiente de atrito f de pneus/pista (t/t) Pavimento concreto 0,90 Terra firme seca 0,55 Terra solta 0,45 Terra firme úmida 0,45 Areia úmida 0,40 Areia seca e terra solta úmida 0,20 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 11 Na composição das curvas da Fig. 3, o coeficiente de atrito entre o pneu e a estrada foi considerado igual a 0,4, sendo esse um valor médio entre as naturezas da pista da Tab. 2, excluindo-se o pavimento de concreto. É também comumente utilizado o valor padrão 0,3. Caso seja necessário usar um valor de f diferente de 0,4, deve-se acessar o arquivo “Projeto geométrico_Distância de parada.xls” e alterar o valor na coluna “coef fricção”, na planilha escolhida de acordo com o peso do caminhão. Ao alterar os valores de f, as distâncias de parada e as curvas correspondentes são atualizadas. Outros valores podem ser alterados na planilha, obtendo-se novas curvas: velocidade, grade da rampa, velocidade do veículo, tempo de percepção e reação do operador e tempo de reação de frenagem do equipamento. O tempo de parada foi calculado pela soma de t1 (1,5 s) e t2. Cada curva representa a distância de parada para rampas com grades de 1%, 5%, 10%, 12%, 15% e 18%. Confere-se a velocidade no eixo das ordenadas, levando esse valor até a curva do grade desejado. No eixo das abscissas encontra-se o valor da distância de parada correspondente. Essas curvas representam uma aproximação da indicação das limitações de velocidades e grades que devem ser considerados no projeto da estrada. O coeficiente de atrito é um coeficiente adimensional que expressa a oposição que mostram as superfícies de dois corpos em contacto ao deslizar um em relação ao outro. Geralmente é representado com a letra do letra grega μ (mi). O valor do coeficiente de atrito é característico de cada par de materiais, e não uma propriedade intrínseca do material. Depende de muitos fatores tais como o acabamento das superfícies em contato, a velocidade relativa entre as superfícies, a temperatura, etc… Geralmente distinguem-se dois valores: Coeficiente de atrito estático (μe): É medido quando ambas as superfícies estão em repouso (sem se mover). Coeficiente de atrito dinâmico (μd): É medido quando uma ou ambas as superfícies estão em movimento (podem mover-se apenas uma ou as duas) O coeficiente de atrito dinâmico (μd) é sempre menor que o coeficiente de atrito estático (μe). https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%BAmero_adimensional https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_grego Técnicas de Construção de Estradas de Mina 12 FLUXOGRAMA DISTÂNCIA DE PARADA Verificar distância de frenagem (D2) do equipamento junto ao fornecedor Disponível? Localizar a Dp utilizando a curva selecionada Selecionar curva da Fig 3 baseada no peso do caminhão para f=0,40 ou acessar planilha para valores diferentes de f Determinar velocidade do caminhão e grade da rampa na curva selecionada S N Somar D1 a D2, obtendo-se Dp (D1 = vo x t1) Suavizar grade da rampa e/ou impor limites de velocidade máxima, caso necessário N S Recomendação: Restrições do traçado geométrico da cava podem limitar a flexibilidade do projeto da estrada para acomodar os parâmetros geométricos adequados às distâncias de parada mínimas, mas quando for possível esse ajuste deve ser feito. O valor da distância de parada adequado para cada especificação de veículo deve ser confirmado junto ao fornecedor. Como referência, a norma ISO 3450:1996: “Máquinas rodoviárias – Sistemas de frenagem de máquinas equipadas com pneus – Requisitos de sistemas e de desempenho e procedimentos de ensaio” recomenda que a distância de parada seja 114 m para uma rampa em descida de 10% de inclinação com o veículo trafegando a 50 km/h e 73 m para a velocidade de 40 km/h. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 13 1.2 Distância de visibilidade É a extensão da área periférica visível ao operador/motorista. Quanto melhores as condições gerais de visibilidade, mais segura será a estrada. Portanto, o projeto de uma estrada deve contemplar soluções de percurso que gerem espaços com boa visibilidade. A Fig. 4 mostra uma representação esquemática de duas condições inseguras que são eliminadas pelo ajuste de parâmetros geométricos da estrada. No cenário 1 o raio de curvatura pronunciado da curva horizontal faz com que a visibilidade do equipamento fique restrita e o equipamento não pode parar a tempo de evitar a colisão com o obstáculo, ou seja, a distância de visibilidade (DV) é menor do que a distância de parada (DP). No cenário 2 essa condição é corrigida, permitindo que a DV seja igual à DP. Situação equivalente ocorre no cenário 3, cuja visibilidade é comprometida pela curva vertical. O problema é sanado pela extensão da curva vertical, visualizada no cenário 4. Figura 4: Configurações geométricas indicando diferentes condições de segurança (Mod. Thompson e Visser, 2008). Dv Dp Dv Dp Dv Dp Dp Dv Curva vertical (L) Curva vertical (L) Obstáculo Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Vista superior Seção transversal Vista superior Seção transversal M Técnicas de Construção de Estradas de Mina 14 Obstruções na parte interior das curvas horizontais, devido à presença detaludes de corte, muros, árvores etc, limitam a visibilidade, o que pode requerer o aumento do raio de curvatura nesse trecho ou o alargamento dos taludes de corte que corresponde ao afastamento horizontal mínimo. O cálculo do afastamento (M) é dado pela Eq. 2: R Dp RM *65,28 cos1* Equação 2: Afastamento horizontal Onde: M = afastamento horizontal mínimo (m) R = raio de curvatura (m) Dp = distância de parada (m) A Fig. 5 mostra o afastamento mínimo da curva horizontal (M) em função do raio de curvatura para diversas distâncias de parada. Figura 5: Afastamento horizontal mínimo O raio de curvatura e a distância de parada são parâmetros de entrada que podem ser alterados no arquivo “Projeto geométrico_Distância de visibilidade I.xls, obtendo-se outros valores de recuo da curva horizontal. 50 100 150 200 250 300 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Afastamento horizontal mínimo (m) R a io d e c u rv a tu ra ( m ) Dp = 80 Dp = 100 Dp = 120 Dp = 150 Dp = 180 Dp = 200 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 15 A determinação do comprimento ideal da curva vertical (L) pode ser feita conforme as equações abaixo. Se a distância de parada for menor do que o comprimento da curva vertical utiliza-se a Eq. 3; caso contrário utiliza-se a Eq. 4. 2 21 2 )(100 * hh DG L P Equação 3: Comprimento da curva vertical I G hh DL P 2 21(200*2 Equação 4: Comprimento da curva vertical II Onde: g = Dp = distância de parada mínima (m) h1 = distância do operador acima do piso (m) h2 = altura do obstáculo (m) ΔG = diferença algébrica entre grades Técnicas de Construção de Estradas de Mina 16 Exemplos da diferença algébrica entre grades e a forma de calculá-la são mostrados na Fig. 6. Figura 6: Diferença algébrica entre grades G = g2-g1 G = -8-(+8) G = -16% PIV PIV PIV PIV PIV PIV PCV PCV PCV PCV PCV PCV PTV PTV PTV PTV - 5 % PTV + 3 % PTV - 8 % - 8 % + 12 % G = g2-g1 G = +15-(-10) G = +25% G = g2-g1 G = -5-(-15) G = +10% G = g2-g1 G = -8-(-5) G = -3% PCV: ponto de curvatura vertical (ponto no qual a curva inicia) PIV: ponto de interseção vertical (ponto no qual as tangentes dos grades se encontram) PTV: ponto de tangência vertical (ponto no qual a curva termina) + 8 % -10 % + 15 % - 5 % - 15 % + 10 % + 6 % G = g2-g1 G = +3-(+10) G = -7% G = g2-g1 G = +12-(+6) G = +6% Técnicas de Construção de Estradas de Mina 17 As curvas da Fig. 7 mostram o comprimento da curva vertical em função da distância de parada para diversos cenários de diferença algébrica entre grades e distância do operador acima do piso. As curvas associam-se à eq. 3 e são válidas para a distância de parada inferior ao comprimento da curva vertical. Figura 7: Comprimento da curva vertical (Dp < comprimento da curva vertical) As curvas da Fig. 8 mostram o comprimento da curva vertical para a eq. 4 e são válidas para a distância de parada superior ao comprimento da curva vertical. Comprimento da curva vertical para h1 = 2 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Comprimento da curva vertical para h1 = 3 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Comprimento da curva vertical para h1 = 5 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Comprimento da curva vertical para h1 = 6 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 18 Figura 8: Comprimento da curva vertical (Dp > comprimento da curva vertical) De forma a ilustrar o uso dos gráficos do cálculo do comprimento da curva vertical, deve-se seguir o procedimento abaixo: Encontrar a distância de parada em função da velocidade, peso do equipamento e grade da rampa (Fig. 3). Selecionar o gráfico com a distância do operador acima do piso (h1) adequada (essa distância é função das dimensões do caminhão) (Fig. 8). Na Fig. 8 selecionar a curva de diferença algébrica entre grades (ex: A-12). Na interseção da distância de parada com a diferença algébrica entre grades, encontra-se o comprimento ideal da curva vertical. As curvas das Fig. 7 e Fig. 8 podem ser alteradas através da modificação dos valores que compõe os parâmetros da Eq. 3 e Eq. 4, de forma a se adequarem às especificações locais. As alterações necessárias devem ser feitas no arquivo “Projeto geométrico_Distância de visibilidade II.xls” Comprimento da curva vertical para h1 = 2 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Comprimento da curva vertical para h1 = 3 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Comprimento da curva vertical para h1 = 5 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Comprimento da curva vertical para h1 = 6 m 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 100 200 300 400 Comprimento da curva vertical (m) D is tâ n c ia d e p a ra d a ( m ) A-4 A-6 A-8 A-10 A-12 A-14 A-16 A18 A-20 Técnicas de Construção de Estradas de Mina 19 Há dificuldade de visibilidade na curva vertical? Selecionar o gráfico adequado com a distância do operador acima do piso (Figs 7, 8) Encontrar Dp em função da velocidade, peso do caminhão e grade da rampa (Fig 3) S N N Há condição insegura de visibilidade na estrada? Os parâmetros geométricos curva horizontal e curva vertical garantem adequada distância de visibilidade S Calcular o comprimento ideal da curva vertical (Figs 7,8) S Há dificuldade de visibilidade na curva horizontal? N Calcular o afastamento horizontal mínimo (Fig 5) S N Selecionar a curva de diferença algébrica entre grades (Figs 7,8) FLUXOGRAMA DISTÂNCIA DE VISIBILIDADE Recomendação: É imperativo que a distância de visibilidade seja suficiente para que o equipamento transitando em uma velocidade específica pare antes de atingir um obstáculo. Para tanto, a distância de visibilidade deve ser igual ou maior do que a distância de parada. As curvas verticais e horizontais devem ser planejadas segundo esse critério. Caso isso não seja possível, limites rigorosos de velocidade máxima devem ser impostos, visto que quanto menor a distância de visibilidade, menor a distância na qual o caminhão deve trafegar. Técnicas de Construção de Estradas de Mina20 1.3 Largura A Norma Regulamentadora NR-22 do Ministério do Trabalho e Emprego, que trata dos requisitos de saúde e segurança ocupacional na mineração, define que a largura mínima das vias de trânsito em minas a céu aberto deve ser: Duas vezes maior que a largura do maior veículo utilizado em pistas simples Três vezes maior que a largura do maior veículo utilizado em pistas duplas Ela sinaliza ainda que, quando o plano de lavra e a natureza das atividades realizadas não permitirem a observância desse item, deverão ser adotados procedimentos e sinalização adicionais para garantir o tráfego com segurança. Em termos operacionais, estradas muito estreitas podem reduzir drasticamente a vida dos pneus, pois forçam o equipamento a subir nas leiras, provocando desgastes laterais dos pneus, problemas de nivelamento e cortes. Esse problema ocorre frequentemente quando caminhões de maior porte são adicionados à frota existente em estradas projetadas para equipamentos menores. Tannant (2001) definiu a largura mínima que uma estrada deve ter, em função da largura do equipamento de transporte e do número de vias, conforme Eq. 5. XVL *)5,0*5,1( Equação 5: Largura mínima da estrada Onde: L = largura da estrada (m) V = número de vias X = Largura do veículo (m) O gráfico da Fig. 9 representa a largura mínima da estrada calculada através da Eq. 5 para uma e duas vias, assim como a comparação com o que determina a NR-22. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 21 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Largura do caminhão (m) L a rg u ra m ín im a d a e s tr a d a ( m ) Pista simples Pista dupla Pista dupla NR-22 Figura 9: Largura mínima de estrada Usando como exemplo um caminhão Caterpillar 789 C, cuja largura é 7,67 metros, transitando em via dupla. A largura mínima da estrada deve ser: L = (1,5 * 2 + 0,5) * 7,67 = 27 m. O número de vias e a largura do caminhão podem ser alterados conforme necessário. As modificações devem ser feitas no arquivo “Projeto geométrico_Largura.xls”, obtendo-se nova curva para a largura mínima da estrada. Nota-se que a recomendação de Tannant (2001) para a largura de estrada no caso de pista simples é a mesma da NR-22. No entanto, ele sugere que a pista seja mais larga do que a definida pela NR-22, no caso de vias duplas. Recomendação semelhante à de Tannant (2001) é feita pelo Departamento do Trabalho norte americano, através do Haul Road Inspection Handbook do Federal Mine Safety and Health Act - MSHA (1999). Quando elementos como drenagem e leiras são considerados no layout da estrada, ela deve ser larga o suficiente para acomodar esses elementos, conforme ilustrado na Fig. 10. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 22 Uma pista 14,8 m Uma pista 14,8 m D re n ag em 1 ,5 m L ei ra c o n v en ci o n al 2 ,3 m L ei ra c en tr al X X m Largura total L = 7,41 m Figura 10: Representação esquemática de largura de estrada considerando elementos geométricos para o caminhão CAT 793C Recomendação: Sempre que possível, recomenda-se atribuir a largura da estrada conforme a Eq. 5, visto que estradas estreitas promovem maior a chance de ocorrência de colisão entre veículos e contatos indesejáveis com bermas e canaletas de drenagem, além de geralmente colocarem os operadores em ambiente de trabalho mais estressante. Garantem-se, pela aplicação de estradas mais largas, condições mais seguras do que aquelas impostas pela NR-22. Em pistas duplas com volume de tráfego intenso e/ou visibilidade limitada, sugere-se a construção de estradas quatro vezes mais largas do que a largura do maior equipamento que por elas transita. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 23 1.4 Superelevação O Departamento Nacional de Infraestruturas de Transportes (DNIT) define superelevação como a inclinação transversal da pista nas curvas (horizontais) (Fig. 11 e Fig. 12), de modo a compensar o efeito da força centrífuga sobre os veículos, assegurando ao tráfego condições de segurança e conforto (Brasil, 2006). Figura 11: Representação esquemática da superelevação (Brasil, 2006) Figura 12: Estrada com superelevação. Complexo Minas Centrais: mina Morro Agudo (2009) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 24 O tráfego nas curvas pode gerar grandes esforços laterais nos pneus, contribuindo para a separação das lonas e elevado desgaste. A eliminação das forças se dá com a superelevação nas curvas, a qual depende do raio de curvatura e da velocidade (Caterpillar, 2010). A Tab. 3 é uma referência para determinar o valor da superelevação necessário para eliminar as forças laterais. Não devem ser aplicados valores de superelevação iguais ou superiores a 0,060 (destacados na tabela), a menos que sejam impostos limites rigorosos de velocidade e que as condições de derrapagem sejam minimizadas. Tabela 3: Superelevação de acordo com o raio de curvatura e a velocidade Velocidade (km/h) Raio de curvatura (m) 15 20 25 30 35 40 45 50 55 50 0,040 0,060 0,080 75 0,030 0,050 0,070 0,090 100 0,025 0,040 0,060 0,075 0,100 150 0,020 0,030 0,040 0,050 0,070 0,100 200 0,020 0,020 0,030 0,035 0,050 0,070 0,090 0,110 300 0,020 0,020 0,020 0,025 0,030 0,040 0,060 0,070 0,850 400 0,020 0,020 0,020 0,020 0,020 0,030 0,040 0,050 0,060 A Fig. 13 mostra condições de segurança variáveis em função dos limites de superelevação para diferentes velocidades de caminhão. Os dados são derivados da Tab. 3. Superelevação em curvas em função do raio de curvatura e da velocidade 2 3 4 5 6 7 8 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Raio de curvatura (m) S u p e re le v a ç ã o ( % ) 15 km/h 20 km/h 25 km/h 30 km/h 35 km/h 40 km/h 45 km/h 50 km/h 55 km/h � Condição segura Condição limite Condição insegura Figura 13: Condições limites de superelevação (Mod Visser, 2008) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 25 Recomendações: Os valores para a superelevação adotados em projetos de mineração devem levar em consideração as condições climáticas (freqüência de chuvas), condições topográficas do local e velocidade média do tráfego. Tais valores giram idealmente em torno de 3 a 4%, como indicado na Tab. 3. Nos trechos onde haja a necessidade de projeção de curvas estreitas, assim como em condições nas quais a velocidade dos caminhões é alta na chegada das curvas, deve-se impor limites máximos de velocidade e não valores de superelevação mais altos. A superelevação em curvas deve ser usada em estradas permanentes ou semi-permanentes com alto volume de tráfego. Estradas com vida útil inferior a dois anos com baixo volume de tráfego podem ser superelevadas, mas tal condição não é mandatória. 1.5 Raio de curvatura As curvas devem ser projetadas com o máximo raio possível e mantendo-se suavidade (curvas pouco pronunciadas e evitando-se mudanças abruptas no raio), o que permite maior segurança e redução de congestão de tráfego. A projeção de curvas deve levar em consideração a performance dos caminhões. Curvas projetadas de tal forma a permitir velocidade constante, sem redução de marchas ao longo do trajeto, levam à performance otimizada dos caminhões, não provocando o aumento do tempo de ciclo, o que influencia diretamente os custos de transporte. A Eq. 6 determina o raio de curvatura R (m) mínimo, considerando a superelevação aplicada, o coeficiente de atrito e a velocidadedo veículo. )f127(e v R maxmax 2 0 min Equação 6: Raio de curvatura mínimo Onde: v0= velocidade de projeto do veículo (km/h) emax = máxima taxa de superelevação aplicada (m / m de largura de estrada) f max = máximo coeficiente de atrito entre os pneus e a superfície da estrada (adimensional) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 26 Por questões de segurança, é usual adotar-se para o máximo coeficiente de atrito (fmax) valores bem menores do que os obtidos na iminência do escorregamento. A Fig. 14 mostra o raio de curvatura mínimo em função da velocidade do veículo na curva para coeficiente de atrito igual a 0,20 e superelevação igual a 3%. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade na curva (km/h) R a io d e c u rv a tu ra m ín im o ( m ) Superelevação = 3% f = 0,20 Figura 14: Condições limites de superelevação Recomendação: Para transporte a velocidades mais altas, o raio de curvatura mínimo de 250 metros com superelevação é desejável. Caso o layout da cava não permita essa configuração, devem ser estabelecidos limites de velocidade mais rigorosos nas rampas de descida. 1.6 Grade O grade de uma rampa, também chamado gradiente ou inclinação, é definido como a sua inclinação vertical em relação à horizontal, geralmente expressa em percentual (Fig. 15). O grade deve ser o mais regular e constante possível, evitando-se que mude em intervalos curtos. Grades irregulares provocam altos esforços no câmbio de transmissão e diminuição da velocidade dos equipamentos de transporte. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 27 Superfície da estrada Distância horizontal D is tâ n ci a v er ti ca l Grade (%) = DV * 100 DH Figura 15: Grade em percentual Apesar de ser mais comum a expressão em percentual, o grade também pode ser dado em graus. Nesse caso a conversão para percentual é dada pela Eq. 7: tgGrade *100(%) Equação 7: Conversão de grade Onde: α= ângulo entre a superfície da estrada e o plano horizontal (graus), considerando-se a distância horizontal igual a 100 metros a Técnicas de Construção de Estradas de Mina 28 A Tab. 4 mostra a conversão entre grau e percentual e vice-versa. Tabela 4: Grade de rampa - conversão de unidades Grade rampa (graus) Grade rampa (%) Grade rampa (%) Grade rampa (graus) 0,6 1 1,7 1 1,1 2 3,5 2 1,7 3 5,2 3 2,3 4 7,0 4 2,9 5 8,7 5 3,4 6 10,5 6 4,0 7 12,3 7 4,6 8 14,1 8 5,1 9 15,8 9 5,7 10 17,6 10 6,3 11 19,4 11 6,8 12 21,3 12 7,4 13 23,1 13 8,0 14 24,9 14 8,5 15 26,8 15 9,1 16 28,7 16 9,6 17 30,6 17 10,2 18 32,5 18 10,8 19 34,4 19 11,3 20 36,4 20 11,9 21 38,4 21 12,4 22 40,4 22 13,0 23 42,4 23 13,5 24 44,5 24 14,0 25 46,6 25 A definição do grade ideal requer a análise das características topográficas e geométricas da estrada, assim como da performance do caminhão. Deve-se também considerar as distâncias de parada. Grades pronunciados exigem a redução de velocidade dos caminhões nas descidas para garantir distâncias de parada seguras e frequente redução de marcha também nas subidas, provocando perda de velocidade. Tais mudanças de velocidade resultam em perda de produtividade, consumo adicional de combustível, aumento de desgaste mecânico e de custos de manutenção. É muito comum a adoção de grades que variam entre 8 e 10%, mas devem-se observar as especificações dos manuais dos equipamentos de transporte e as limitações geométricas das rampas. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 29 1.7 Leiras de segurança Leiras de segurança são elementos geométricos imprescindíveis que auxiliam no aumento da segurança de trafegabilidade de equipamentos na mina. De acordo com a Norma Regulamentadora NR-22, as leiras devem ser construídas com altura mínima correspondente à metade do diâmetro do maior pneu de veículo que trafega pelas vias (Fig. 16). Figura 16: Leira trapezoidal de dimensões adequadas. Complexo Itabira (2009). As leiras denominadas convencionais devem estar localizadas nas laterais das bermas ou estradas onde houver risco de queda de veículos. As leiras convencionais possuem formato tipicamente triangular ou trapezoidal e podem ser constituídas pelos diversos materiais existentes na mina, tais como capeamento inconsolidado, minério e estéril (Fig. 17). Podem ser também formadas por cascalhos ou fragmentos de rocha de materiais destinados ao revestimento das pistas. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 30 Figura 17: Leiras convencionais construídas em minério e estéril. Complexo Minas Centrais: mina Cururu (2009). Segundo Thompson e Visser (2008), a altura de leira determinada pela NR-22 pode não ser suficientemente adequada para conter um veículo desgovernado. Ao colidir contra uma leira, o equipamento de transporte pode efetivamente parar, ser redirecionado, transpor a leira ou capotar, dependendo de características como inércia e suspensão do veículo. É recomendado que a altura da leira padrão corresponda, no mínimo, a 2/3 do diâmetro do pneu do maior equipamento e que seja formada com inclinação 2H:1V. Tomando-se como exemplo o caminhão CAT 793C, cujo pneu padrão é o 40.00R57 (diâmetro total igual a 3,594 m), a leira convencional terá as seguintes dimensões: Altura mínima = 2/3 * 3,594 = 2,4 m Largura da base = 2 * 2,4 = 4,8 m Leiras centrais (Fig. 18) devem ser construídas em trechos em declive acentuado. Para que seja possível ao operador do equipamento manter o controle da direção sobre a leira central caso o veículo desgovernado atinja a mesma, a altura da leira deve ser aproximadamente 2,5 vezes a altura livre sobre o solo (trecho 1 da Fig. 19), com inclinação de 4H:1V. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 31 Figura 18: Leira central. Complexo Paraopeba: mina Jangada (2009) Figura 19: Trecho 1: altura livre sobre o solo A construção das leiras deve seguir as recomendações de rebatimento/acabamento locais para permitir a instalação de sinalização (pontaletes ou placas) ou estruturas de apoio (aspersão). O rebatimento da leira poderá ser feito com a caçamba do mesmo equipamento de carga (pá mecânica). Técnicas de Construção de Estradas de Mina 32 Os gráficos das Fig. 20 e Fig. 21 representam os parâmetros altura e largura de base de leiras convencionais e centrais, respectivamente, baseados no diâmetro do pneu de caminhão e na distância entre o piso do caminhão e o terreno. Para a construção de leira convencional utiliza- se o gráfico da Fig. 20, selecionando-se no eixo das abscissas o diâmetro do pneu do maior veículo que trafega na mina. A interseção dessa linha com as linhas azul e vermelha fornece a altura e a largura de base, respectivamente, que devem ser lidas no eixo das ordenadas. De maneira similar, no gráfico da Fig. 21, seleciona-se a altura livre sobre o solo no eixo das abscissas e acha-se o valor correspondente de largura de base e altura de leira central no eixo das ordenadas. Figura 20: Parâmetros geométricos para leira convencional Figura 21: Parâmetros geométricos para leira central Parâmetros geométricos de leira convencional 0 1 2 3 4 5 6 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 Diâmetro pneu (m) A lt u ra e l a rg u ra d a b a s e d e l e ir a (m ) Altura (m) Largurabase (m) Parâmetros geométricos de leira central 0 2 4 6 8 10 12 14 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 Altura livre sobre o solo (m) A lt u ra e la rg u ra d a b a s e d e le ir a (m ) Altura (m) Largura base (m) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 33 FLUXOGRAMA LEIRAS DE SEGURANÇA Do ponto de vista de projeto de drenagem as leiras impedem que as águas precipitadas sobre a bancada escoem pela face do talude, provocando erosões neste ou na borda do acostamento. As leiras devem ter interrupções para saída d’água espaçadas de acordo com a inclinação da estrada e o tipo de terreno (susceptibilidade à erosão). 1.8 Interseção entre elementos geométricos Este item refere-se às conformações geométricas dos trechos de interseção entre inclinações centrais e laterais de drenagem, assim como em transições para trechos com superelevação. Deve-se projetar tais transições de forma a mais suave possível, garantindo o direcionamento da drenagem em cada interseção para que a água não seja empossada na estrada. Quando possível, deve-se considerar trechos horizontais entre os pontos de interseção. A Fig. 22 mostra a conformação entre trechos de transição. Definir o tipo de leira de segurança necessária Determinar a altura livre sobre o solo (Fig 19) Determinar o diâmetro do pneu do maior equipamento de transporte Central Convencional Obter a altura e largura de leira de proteção confome Fig 20 (leira convencional) ou Fig 21 (leira central) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 34 Figura 22: Exemplo de conformação entre trechos com diferentes inclinações para direcionamento de drenagem (Mod. Thompson e Visser, 2008) 1.9 Inclinação para direcionamento de drenagem O correto direcionamento da drenagem faz com que águas não sejam acumuladas nas estradas. Criar um caimento central da pista para ambas as extremidades (abaulamento transversal) ou propiciar uma inclinação na pista a partir do canto para a extremidade ou vice- versa, são opções básicas para uma drenagem eficiente. Em qualquer situação, é importante construir canaletas nos pontos extremos do direcionamento da água, conforme ilustra a Fig. 23. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 35 Figura 23: Formas de direcionamento da drenagem (Mod. Thompson e Visser, 2008) Em estradas bem construídas com cascalho ou rochas britadas, uma inclinação de aproximadamente 2% é ideal, nos casos em que a geometria da cava permita. Considerações especiais devem ser feitas na determinação das inclinações máxima e mínima. Inclinações menores são aplicáveis a superfícies de estradas compactadas que podem rapidamente dissipar a água sem que esta seja percolada para o interior da pista. Em situações nas quais a pista é relativamente irregular, inclinações maiores são indicadas. Neste caso há rápido escoamento da água e redução da ocorrência de poças e camadas saturadas na fundação, que poderiam enfraquecer a estabilidade das pistas. O Capítulo 3. Projeto de drenagem trata de forma mais detalhada os elementos básicos que devem compor um projeto bem elaborado em termos do correto direcionamento das águas, elementos tais que vão além das conformações geométricas aqui descritas. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 36 2. Projeto Estrutural O projeto estrutural de uma estrada mineira refere-se à capacidade de suporte de carregamentos impostos à estrada ao longo da sua vida útil, sem que seja necessário recorrer a manutenções excessivas (Hugo, 2005). O projeto estrutural engloba o dimensionamento de um pavimento, que consiste na definição das espessuras das camadas que o compõe (Fig. 24), de maneira que tais camadas não se rompam e nem sejam deformadas quando submetidas a esforços de carga devidos ao tráfego dos equipamentos. O aumento expressivo na capacidade de carga nominal dos caminhões nas últimas décadas demonstra como é fundamental que o projeto estrutural de estradas de mina seja cada vez mais bem planejado e executado. Figura 24: Projeto estrutural: variáveis de controle As camadas que constituem o pavimento são classificadas como revestimento, base, sub-base e sub-leito (Fig. 25). Com exceção da camada superior (revestimento), cujo caráter é Distância de parada Distância de visibilidade Largura Superelevação Raio de curvatura Grade Leiras de segurança Interseções elem. geométricos Inclinação p/ direc. drenagem Geométrico Revestimento Base Sub-base Sub-leito Estrutural Valetas de proteção de corte e aterro Sarjetas de corte Saídas d'água Descidas d'água Caixas coletoras Bueiros de greide Dissipadores de energia Caixas de retenção/infiltração Drenos profundos Drenagem Projeto Construção Manutenção Readequação Resistência ao rolamento Seleção de materiais Requisitos de compactação Buracos Levantamento de campo Poeira Material solto Corrugação Seção transversal inadequada Trilhas de rodas Borrachudo Segregação material agregado e anti-pó Técnicas de tratamento contra pó Técnicas de Construção de Estradas de Mina 37 basicamente funcional, as outras camadas exercem papel estrutural. Em estradas mineiras é primordial que os materiais normalmente existentes na própria mina ou no seu entorno possam ser utilizados na construção das camadas do pavimento. Figura 25: Camadas de um pavimento típico Fonte: Adaptada de Tannant e Regensburg (2001) 2.1 Camadas de um pavimento típico 2.1.1 Revestimento O revestimento promove tração, resistência à ação abrasiva do tráfego e ao cisalhamento, além de transmitir o carregamento do pneu para a base, selando-a contra a penetração de água superficial. O revestimento ideal para a construção de uma estrada de mina deve favorecer os seguintes aspectos: Adequada trafegabilidade em condições climáticas variadas Diminuição de poeira excessiva no período seco Diminuição de piso escorregadio no período chuvoso Baixo custo e redução da necessidade de manutenção 2.1.2 Base A base é uma camada de alta densidade e estabilidade. A sua função principal é distribuir as tensões criadas pelos pneus atuando na camada de revestimento, de tal forma que essas Técnicas de Construção de Estradas de Mina 38 tensões não resultem em excessiva deformação da sub-base. Ela também protege a sub-base de mudanças de volume, expansão ou desagregação. Uma base estável é um dos fundamentos mais importantes no projeto de estradas. A projeção de um acesso sobre um material que não suporta adequadamente o peso do tráfego comprometerá severamente a mobilidade e o controle do veículo, assim como provocará a deterioração geral do acesso. 2.1.3 Sub-base A sub-base, camada intermediária entre a base e o sub-leito, pode ou não existir. Ela é geralmente projetada sobre sub-leitos de solos extremamente incompetentes. Em geral é constituída por material granular. A sub-base promove drenagem e protege o sub-leito de contrações e expansões, aumenta o suporte estrutural e distribui o carregamento. 2.1.4 Sub-leito O subleito é a camada de fundação. Essa estrutura deve suportar todos os carregamentos aplicados nas camadas superiores. Essa camada pode ser constituída pelo próprio terreno natural (material in situ) ou por rocha ou solo compactados. 2.2 Dimensionamento de um pavimento Dimensionar um pavimento corresponde a determinar as espessuras das camadas que o constituem (sub-base, base e revestimento), de forma que elas resistam e transmitam ao sub- leito as pressões impostas pelo tráfego, sem levar o pavimento à ruptura oua deformações e desgastes excessivos. Na determinação do projeto estrutural de estradas de mina, deve-se considerar inicialmente o peso máximo dos equipamentos de transporte que trafegarão pela via. O carregamento máximo na camada de revestimento é aplicado pelos pneus traseiros. Embora a pressão de contato entre a roda e a estrada dependa da pressão de inflação do pneu e da rigidez das laterais do pneu, para fins práticos a pressão de contato é considerada igual à pressão do pneu. Ressalta-se que o dimensionamento do pavimento é necessário para acessos construídos sobre terrenos (sub-leitos) pouco competentes e com baixa capacidade de suporte. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 39 As espessuras das camadas de sub-base, base e revestimento devem ser suficientes para que as tensões que chegam no sub-leito não provoquem deformação excessiva a essa camada. Uma sub-base constituída por material sub-compactado ou muito compressível requererá a colocação de material adicional para garantir o estabelecimento de uma base estável. 2.2.1 Métodos empíricos 2.2.1.1 Método CBR de laboratório Um dos métodos empíricos mais usuais de dimensionamento das camadas de um pavimento é feito através do ensaio CBR (California Bearing Ratio, correspondente ao Índice de Suporte Califórnia, ISC, em português) para determinação da capacidade relativa de suporte dos materiais agregados que compõe as camadas. O cálculo CBR é dado, conforme Hustrulid e Kuchta (1995), pela razão percentual entre a pressão exercida por um pistão que compacta uma amostra de solo em estudo e a pressão exercida pelo pistão, nas mesmas condições, em uma amostra padrão de referência. Essa amostra é normalmente constituída por brita bem graduada de alta qualidade com CBR igual a 100%. São geradas curvas contendo os elementos CBR do material ensaiado contra a espessura total do pavimento acima do sub-leito para vários carregamentos de roda, conforme apresentado na Fig. 26. Determinam-se, então, as espessuras das camadas de sub-base e base que deverão ser construídas sobre o sub- leito. Observe-se que a carga de roda é obtida dividindo-se o peso do veículo carregado sobre cada eixo pelo número de pneus naquele eixo. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 40 Figura 26: Curvas CBR Fonte: Adaptada de Kaufman e Ault (1977) Recomenda-se realizar testes para determinação de CBR em laboratórios de ensaios físicos de solos, tanto das camadas que serão dimensionadas quanto do sub-leito originalmente existente, visto que ele suportará todos os carregamentos aplicados nas camadas superiores. No entanto, quando essa prática não é possível ou mesmo quando se deseja obter apenas resultados gerais, faixas de CBR de diversos tipos de materiais argilosos, arenosos e rochosos apresentadas na base do gráfico da Fig. 26 podem ser utilizadas como valores aproximados. De forma a facilitar o entendimento do uso do gráfico da Fig. 26, é dado abaixo um exemplo para o dimensionamento do pavimento. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 41 Considera-se um projeto de construção de uma estrada mineira sobre um terreno constituído por argila siltosa de média plasticidade. O veículo de maior porte que transitará por essa estrada é o caminhão fora-de-estrada CAT 785 D. Os materiais disponíveis para serem usados como material de sub-base e base são areia limpa e cascalho bem graduado, respectivamente. Primeiro passo: obtenção de CBR Proceder aos ensaios laboratoriais para obtenção dos valores de CBR dos materiais que comporão a camada e do sub-leito pré-existente (procedimento recomendado) ou Atribuir valores de CBR localizando na base do gráfico da Fig. 26 os materiais a serem utilizados (procedimento a ser utilizado para obtenção de indicação geral da espessura das camadas). Valores médios de CBR obtidos pela Fig.26: Argila siltosa de média plasticidade: 5% Areia limpa: 15% Pedregulho bem graduado: 80% Segundo passo: determinação da carga de roda Determinar a carga de roda do veículo mais pesado que transitará pela estrada. Esse valor deve ser consultado nas especificações disponibilizadas pelo fornecedor do equipamento. Caso não esteja disponível, calcular conforme abaixo: Dividir o peso do equipamento carregado sobre cada eixo pelo número de pneus em cada eixo, obtendo-se o carregamento máximo por pneu. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 42 Caminhão CAT 785 D: Peso bruto do veículo: 249.476 kg / 550.000 lb Número de eixos: 2 Número de pneus eixo traseiro: 4 Número de pneus eixo dianteiro: 2 Distribuição de peso aproximada (caminhão carregado): Eixo dianteiro: 33% Eixo traseiro: 67% Carregamento máximo por eixo: Eixo dianteiro: 33% * 550.000 = 181.500 lb Eixo traseiro: 66,7% * 550.000 = 368.500 lb Carregamento máximo por pneu: Pneus eixo dianteiro: 181.500 / 2 = 90.750 lb Pneus eixo traseiro: 368.500 / 4 = 92.125 lb Considera-se o maior carregamento, o que nesse exemplo corresponde a 92.125 lb. Terceiro passo: determinação da espessura total da camada Esse passo consiste na determinação da espessura total da camada a ser construída sobre a sub-base. Carga de roda = 92.125 lb CBR da sub-base natural constituída por argila siltosa de média plasticidade = 5% Buscar na Fig. 26 a interseção da curva da carga de roda com o eixo vertical das linhas CBR para a sub-base. O ponto de interseção das linhas na Fig. 26 corresponde a aproximadamente 43 polegadas. Isso significa que a superfície final da estrada deve estar a pelo menos 43 polegadas (109 cm) acima do sub-leito, ou seja, a espessura total das camadas a serem construídas é 109 cm (Fig. 27 A). Técnicas de Construção de Estradas de Mina 43 Quarto passo: determinação da espessura da camada de sub-base Carga de roda = 92.125 lb CBR da sub-base a ser construída de areia limpa = 15 O ponto de interseção das linhas de carga de roda e CBR na Fig. 26 corresponde a aproximadamente 18 polegadas. Isso significa que o topo da camada de sub-base deve estar a 18 polegadas (46 cm) da superfície final da estrada (Fig 27 B). Quinto passo: determinação da espessura da camada de base Carga de roda = 92.125 lb CBR da base a ser construída de brita bem graduada = 80 O ponto de interseção das linhas de carga de roda e CBR na Fig. 26 corresponde a aproximadamente 7 polegadas. Isso significa que o topo da camada de base deve estar a 7 polegadas (18 cm) da superfície final da estrada (Fig 27 C). Sexto passo: determinação da espessura da camada de revestimento De forma a obter-se a espessura total das camadas, deve-se preencher 7 polegadas (18 cm) a partir do topo da camada de base, construindo-se a camada superior de revestimento. Preferencialmente deve-se usar rocha britada uniformemente graduada com CBR igual ou superior a 80%. Completa-se, assim, o dimensionamento do pavimento proposto (Fig 27 D), ficando o projeto do pavimento definido pela espessura total das camadas do pavimento e de suas camadas de sub-base e base. Observação: Será visto no Capítulo 4. Construção, que a performance ótima do pavimento projetado em termos de CBR dos materiais que o compõem somente será alcançada se a construção do aterro se fizer em camadas finas compactadas. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 44 AREIA LIMPA CASCALHO GROSSO ARGILA SILTOSA 109 cm 46 cm CASCALHO FINO AREIA LIMPA CASCALHO GROSSO ARGILA SILTOSA 46 cm 18 cm ESPESSURA TOTAL DAS CAMADAS A SEREM DISPOSTAS SOBREO SUB- LEITO OU TERRENO NATURAL ARGILA SILTOSA 109 cm AREIA LIMPA ARGILA SILTOSA 109 cm 46 cm 18 cm A B D C 109 cm Figura 27: Etapas de dimensionamento de pavimento (espessura das camadas exageradas verticalmente para facilitar a visualização) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 45 FLUXOGRAMA DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTO Proceder a ensaios laboratoriais do CBR dos materiais do sub- leito e das camadas a serem dimensionadas É possível ? Calcular o CBR dos materiais via gráfico da Fig. 26 S Obter o CBR dos materiais Calcular a espessura da sub-base N S Recomendado! Indicativo geral! Verificar carga de roda do pneu do equipamento junto ao fornecedor Disponível? S Determinar a espessura total do pavimento acima do sub-leito Calcular a carga de roda do pneu do equipamento conforme 2˚ passo N Calcular a espessura da base Atribuir a espessura do revestimento Técnicas de Construção de Estradas de Mina 46 Alguns autores impõem restrições ao uso do método CBR para estradas de mina (THOMPSON, 2009 e MORGAN ET AL., 1994 apud KUMAR, 2000), devido aos seguintes aspectos: O método CBR baseia-se na Teoria da Elasticidade de Meios Homogêneos de Boussinesq, em que o módulo de elasticidade dos materiais do pavimento é considerado constante, sendo que há grande diversidade de materiais passíveis de serem utilizados na estrutura dos pavimentos de mina, cada um com propriedades diversas. Não são consideradas no método CBR as propriedades dos materiais de revestimento. O método foi originalmente desenvolvido para ser utilizado em estradas pavimentadas e em aeródromos. Há grande diferença entre os parâmetros usados nesse tipo de estradas e os aplicados às estradas mineiras, principalmente no que se refere ao tipo de material usado nas camadas do pavimento e às características dos eixos dos equipamentos. Ainda que o método CBR apresente restrições conforme o explicitado acima, sua aplicação em estradas de mina é vista como uma prática extremamente válida, principalmente no que se refere à criação de cultura calcada em parâmetros técnicos, e à apresentação de diretrizes que norteiam o projeto de dimensionamento de camadas. A grande maioria das empresas mineradoras projeta e constrói seus pavimentos com base tipicamente na experiência prática de seus técnicos. O material é aterrado, espalhado e compactado superficial em camadas de espessura normalmente elevada, bem acima do necessário. 2.2.1.2 Método CBR de campo A resistência das camadas que compõe um pavimento pode ser medida in situ em pavimentos flexíveis construídos com materiais inconsolidados através do uso do equipamento denominado Dynamic Cone Penetrometer (DCP). Medições podem ser feitas até a profundidade de 800 mm, o que pode ser entendido até 1500 mm com o uso de uma haste adicional. O equipamento é composto por um peso de 8 kg conectado a uma haste com uma extremidade constituída por um cone em angulação de 60º e diâmetro máximo de 20 mm. O peso é solto de uma altura de 575 mm, caindo sobre o encaixe e provocando a penetração da Técnicas de Construção de Estradas de Mina 47 haste no piso (Fig. 28). A taxa de penetração pode ser convertida em parâmetros de resistência dos materiais que compõe as camadas, como o CBR, utilizando-se ábacos de conversão ou softwares específicos, tais como o UK DCP 2.2. Mudanças na taxa de penetração indicam mudanças na resistência dos materiais, facilitando a identificação das camadas, assim como a espessura e resistência. Figura 28: Equipamento DCP (Fonte: Jones, 2004) São necessários entre dois e três operadores para operar o DCP em campo, visto que o equipamento deve ser firmemente segurado alinhando-o verticalmente em relação ao piso, enquanto o peso deve ser lançado, e os valores da taxa de penetração registrados. 1. Haste 2. Peso (8 kg) 3. Bastão 4. Encaixe 5. Proteção para a mão 6. Braçadeira 7. Bastão 8. Régua graduada (1 m) 9. Cone (60º) Técnicas de Construção de Estradas de Mina 48 Figura 29: Equipamento DCP em uso. Complexo Itabira (2009) A taxa de penetração é então comparada a um gráfico padrão no qual são obtidos os valores de CBR correspondentes para cada conjunto de cinco quedas do peso (Fig. 29). Figura 30: Obtenção do CBR Técnicas de Construção de Estradas de Mina 49 Finalmente, constrói-se a curva CBR em função da metragem para pontos específicos do pavimento ao longo da profundidade em que o teste é conduzido. Para os materiais de revestimento, que não devem ultrapassar a profundidade de 200 mm em relação à superfície, os valores de CBR devem ser superiores a 80%. De maneira similar, a camada de base deve possuir CBR superior a 300% (Fig. 30). Valores inferiores a esses percentuais indicam o uso de materiais inapropriados para formarem as camadas do pavimento, o que é representado pela área interna do polígono em vermelho destacado na Fig. 31. Figura 31: Valores de CBR recomendados As vantagens do uso do DCP são (Illinois, 2005): Baixo custo: O equipamento é vendido entre $700.00 e $ 1400.00. Empresas brasileiras de projeto e consultoria em pavimentação produzem o equipamento, que é fabricado sob encomenda. Facilidade e uso e manipulação: O DCP pode ser facilmente transportado e a habilidade para usá-lo é adquirida com pouco tempo de treinamento. Profundidade de penetração: Os dados podem ser coletados a profundidades de até 1500 mm comparados com alcances de até 300 mm obtidos com o uso de outros dispositivos manuais. Rapidez na obtenção de resultados: muitos resultados de taxa de penetração podem ser obtidos em curto espaço de tempo e facilmente convertidos em parãmetros Técnicas de Construção de Estradas de Mina 50 de medição de resistência das camadas do pavimento, tais como CBR (California bearing ratio) e IBV (Immediate Bearing Value). 2.2.2 Métodos mecanísticos-empíricos Os métodos mecanísticos-empíricos de dimensionamento de pavimentos, também chamados mecanicistas-empíricos, baseiam-se em modelos matemáticos que utilizam técnicas computacionais de análise estrutural. São calculadas tensões e deformações, assim como mecanismos de fadiga e deformabilidade. Para Medina e Mota (2005), há uma tendência mundial de se utilizar métodos mecanísticos-empíricos para pavimentos flexíveis e rígidos, sendo eles novos ou restaurados. Com a criação e evolução de softwares específicos e com a introdução de equipamentos e métodos de ensaio de carga repetida em laboratórios de mecânica dos pavimentos, a utilização desses métodos tornou-se mais difundida e, consequentemente, de mais fácil acesso. Algumas vantagens do uso de métodos mecanísticos-empíricos em relação aos métodos empíricos de dimensionamento de pavimento de mineração são (THOMPSON e VISSER, 1996): Aplicação de diferentes carregamentos e avaliação de seus impactos na performance da estrutura do pavimento. Uso mais eficiente de materiais disponíveis na mina e seu entorno para a construção das camadas. Previsões de performance mais confiáveis. Caracterização mais acurada das propriedades das camadas de pavimentos existentes. Não é objeto de estudoda atual revisão do manual a aplicação de métodos mecanístiscos - empíricos de dimensionamento de estradas de mina. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 51 3. Projeto de Drenagem Uma via de acesso implica normalmente na interceptação de águas pluviais de superfície e de águas subterrâneas. No caso das águas de superfície, além da precipitação recebida em seu próprio leito, a estrada tende a ser o escoadouro das águas de chuva recebidas das áreas adjacentes, por vezes bastante extensas. Um bom sistema de drenagem é essencial para uma estrada de mina. Sem uma eficiente drenagem, por melhores que sejam as condições técnicas da pista, mais cedo ou mais tarde sua deterioração será total ou exigirá muito em termos de reparação e manutenção. Além disso, condições inseguras para o tráfego de veículos serão aumentadas com um sistema de drenagem inadequado. Em sua função primordial, a drenagem de uma estrada deve eliminar a água que, sob qualquer forma, atinge o seu pavimento, captando-a e conduzindo-a para locais em que menos afete a segurança e durabilidade da via, e sem que essa ação provoque danos ao meio ambiente (erosões). A Fig. 31 apresenta os principais elementos responsáveis pelo controle da drenagem superficial e profunda. Em linhas gerais, o objetivo da drenagem superficial é encaminhar a água de escoamento que incide sobre a estrada e a drenagem profunda, sub-drenagem ou drenagem subterrânea destina-se ao direcionamento da água de percolação ou de infiltração. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 52 Distância de parada Distância de visibilidade Largura Superelevação Raio de curvatura Grade Leiras de segurança Interseções elem. geométricos Inclinação p/ direc. drenagem Geométrico Revestimento Base Sub-base Sub-leito Estrutural Valetas de proteção de corte e aterro Sarjetas de corte Saídas d'água Descidas d'água Caixas coletoras Bueiros de greide Dissipadores de energia Caixas de retenção/infiltração Drenos profundos Drenagem Projeto Construção Manutenção Readequação Resistência ao rolamento Seleção de materiais Requisitos de compactação Buracos Levantamento de campo Poeira Material solto Corrugação Seção transversal inadequada Trilhas de rodas Borrachudo Segregação material agregado e anti-pó Técnicas de tratamento contra pó Figura 32: Principais elementos do projeto de drenagem A Fig. 32 mostra em termos simples o efeito da presença ou não de um sistema de drenagem superficial. Vê-se que o abaulamento da seção transversal, canaletas laterais (sarjetas) e sangras (“bigodes’’) disciplinam a água incidente escoada na superfície. Técnicas de Construção de Estradas de Mina 53 Figura 33: Importância da drenagem superficial de vias de acesso Por sua vez, dispositivos como valetas de crista e de aterro impedem que a água afluente atinja o corpo estradal, como indicado na Fig. 33. Figura 34: Valetas de proteção de corte e de aterro para interceptação da água afluente superficial Técnicas de Construção de Estradas de Mina 54 Descidas d’água, caixas coletoras e bueiros de greide constituem outros elementos de drenagem superficial que possibilitam a transferência de volumes excessivos de água para pontos fora do corpo da estrada, conforme mostrado na Fig. 34. Figura 35: Descida d’água, caixa coletora, bueiro de greide e outros elementos de drenagem superficial Os drenos de fundo completam a proteção da estrada ao interceptarem ou drenarem a água subterrânea ou infiltrada como indicado na Fig. 35. Esses dispositivos evitam a saturação do pavimento e do sub-leito (que provoca diminuição da capacidade de suporte), além de contribuirem para a estabilidade dos taludes de corte. Figura 36: Dreno de fundo rebaixando o nível do lençol freático Para realizar o dimensionamento hidráulico dos elementos que compõe o projeto de drenagem há necessidade de estimar parâmetros como descarga de contribuição, dimensões de passagem d’água, levantamento de bacias de contribuição e determinação de seções transversais com capacidade hidráulica suficiente para atender à descarga de projeto, dentre Técnicas de Construção de Estradas de Mina 55 outros. Não faz parte do escopo dessa revisão do manual proceder aos cálculos que levam ao dimensionamento hidráulico. Um pré-dimensionamento dos principais elementos, quando possível, é apresentado. 3.1 Drenagem superficial A drenagem superficial de uma via de acesso tem como objetivo interceptar e captar, conduzindo ao deságue seguro, as águas que se precipitam sobre o corpo da estrada e as provenientes de suas áreas adjacentes, resguardando sua segurança e estabilidade. Para um sistema de drenagem superficial eficiente, utiliza-se uma série de dispositivos com objetivos específicos, descritos a seguir. 3.1.1 Valetas de proteção de corte e aterro As valetas de proteção de corte têm como objetivo interceptar as águas que escorrem pelo terreno a montante em direção ao talude de corte, impedindo-as de atingi-lo. De forma semelhante, as valetas de proteção de aterro protegem-no quando a declividade do terreno natural é voltada para esse aterro. As valetas de proteção são construídas nos terrenos adjacentes paralelas às cristas dos taludes de corte ou os pés dos taludes de aterros, a uma distância horizontal entre 2,0 e 3,0 metros. O material resultante da escavação deve ser colocado entre a valeta e a crista do corte ou pé do aterro, e apiloado (adensado manualmente) conforme indicado na Fig. 36. Figura 37: Valetas de proteção de corte (A) e de aterro (B) A B A Técnicas de Construção de Estradas de Mina 56 Elementos de projeto As valetas de proteção podem ser triangulares, trapezoidais ou retangulares. As valetas de proteção de corte triangulares (Fig. 37 A) são fáceis de serem projetadas, construídas e mantidas. No entanto, criam planos preferenciais de escoamento d’água, sendo por isso pouco recomendadas para grandes vazões. As valetas trapezoidais são recomendadas por apresentarem maior eficiência hidráulica, ou seja, promoverem a redução das perdas de água e energia (Fig. 34 B). Já as valetas retangulares são as mais fáceis de serem construídas em cortes de materiais rochosos (Fig. 34 C). Figura 38: valetas de proteção de corte Pré-dimensionamento hidráulico Um pré-dimensionamento das valetas de proteção para vias temporárias ou de curta duração pode ser obtido considerando o indicado na Fig. 38. A B C Técnicas de Construção de Estradas de Mina 57 Figura 39: Pré-dimensionamento de valetas de proteção Execução A execução das valetas de proteção deverá ser iniciada imediatamente após a conclusão das operações de conformação dos taludes de corte/aterro e deverá obedecer aos gabaritos definidos no pré-dimensionamento/dimensionamento hidráulico. Os materiais escavados, excedentes e desnecessários resultantes das operações de seu preparo devem ser destinados à conformação lateral de cordão de proteção, devendo os mesmos serem apiloados manualmente para garantir sua estabilidade (Fig 35). Em seguida, a seção de ambas as valetas de proteção (corte e aterro), tal qual o cordão superior de solo proveniente da escavação deverão ser revestidos. Revestimento A princípio, convém sempre revestir as valetas de corte, especialmente nas vias permanentes, sendo isso obrigatório para as aberturas em terreno permeável, para evitar que a infiltração provoque instabilidade no talude de corte, podendo provocar
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