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Pedro Goicoechea Farmacêutico Gerente Técnico pedro.goicoechea@servquali.com.br Introdução A indústria de alimentos deve produzir produtos seguros garantindo ao consumidor alimentos íntegros, sem contaminantes próprios para o consumo. A limpeza biológica, química e física é pré-requisito para a fabricação de alimentos seguros, pois uma grande variedade de perigos podem contaminar os alimentos tais como micro-organismos e suas toxinas, substâncias presentes em produtos anteriormente fabricados e os ingredientes ativos como alergênicos, resíduos de agentes de limpeza e de higienização e lubrificantes dos equipamentos. Portanto, todos os equipamentos que participam do processo necessitam de limpeza efetiva e regular, com ou sem desinfecção, para garantir o controle de tais perigos e para prevenir a contaminação cruzada dos produtos alimentícios. Ao longo deste documento, a operação de "limpeza com ou sem desinfecção" será mencionada apenas como "limpeza". 2 de 23 A validação das operações de limpeza é necessária para garantir a conformidade, fornecendo evidências sólidas e documentadas de que um procedimento de limpeza aprovado resultará em um equipamento limpo e adequado para o uso pretendido. A otimização de uma operação de limpeza pode resultar em redução de uso de substâncias químicas, de água, de energia, de trabalho, de tempo de parada e de geração de efluentes. Superfícies que estão no escopo da validação de limpeza são aquelas que entram em contato intencionalmente ou não com o produto, áreas de respingo de produto, de condensado, de líquidos ou de materiais que possam escoar, gotejar, espalhar, derramar ou retornar ao produto ou ao recipiente, além de superfícies que entram em contato com materiais de embalagem. Essas superfícies são chamadas de “superfícies de contato com o produto”. Por via de regra a validação da limpeza não é necessária para locais não considerados potencialmente críticos como piso, parede e parte externa de equipamentos. 3 de 23 Muitas vezes verificamos uma interpretação errada entre os termos Validação, Verificação e Monitoramento. Validação é a ação que prova e documenta que o processo, procedimento ou método realmente conduz ao resultado esperado e, portanto cumpre o objetivo de limpeza de um programa de controle de perigo. Validação não pode ser confundida com verificação. Uma vez que o processo de limpeza é validado, ele passa a ser rotineiramente aplicado, sendo monitorado e verificado. Se verificarmos a ISO 22000 temos as seguintes definições: Verificação é definido como: confirmação, através do fornecimento de evidências objetivas que especificam requerimentos que foram cumpridos. Monitoramento: se trata de conduzir uma sequência planejada de observações ou medições para avaliar se as medidas de controle estão sendo operadas conforme estabelecido. 4 de 23 Escopo O objetivo da validação de limpeza é provar que o equipamento está consistentemente limpo, sem a presença de resíduos químicos, microbianos e sujidade, incluindo alergênicos a um nível aceitável, para evitar uma eventual contaminação cruzada dos perigos entre os produtos. Neste e-book vamos focar no conceito global de validação de limpeza e usar seu conteúdo como uma orientação geral para a utilização de fabricantes de alimentos e auditores e fiscais. Este e-book deve ser utilizado apenas como uma orientação geral, e os seus princípios podem ser considerados úteis para aplicação na industria, e no desenvolvimento de diretrizes para a validação dos processos de limpeza. 5 de 23 Considerações Gerais Os fabricantes de equipamento fornecem apenas orientações gerais de manuseio e limpeza para o produtor de alimentos , sendo de responsabilidade da industria de alimentos validar seus próprios procedimentos de limpeza. Para isso ele terá que levar em consideração, por exemplo, os tipos de matérias-primas, as etapas anteriores e posteriores dentro da cadeia de processamento, o próprio processamento, o prazo de validade esperado e o uso pretendido para o alimento processado, os produtos químicos utilizados para a limpeza, e a duração das operações. È sempre recomendado que a validação do procedimento de limpeza seja feito em colaboração com o fornecedor de equipamentos, os fornecedores de produtos químicos, os responsáveis pela limpeza, os clientes específicos, etc., conforme o caso. 6 de 23 Existem duas abordagens básicas para validação de limpeza: •Com base em evidências obtidas por meio de testes. •Com base na análise de dados de históricos (validação retrospectiva). Sempre que possível, é preferível a validação por meio de testes. A validação retrospectiva não é recomendada, nem aplicável se houve falhas na produção de alimentos seguros. A validação deve incluir “testes desafios” ou “testes de pior caso”, que determinam a robustez do processo de limpeza. Se possível, é recomendável que toda a linha de processamento seja validada. Devem haver POPs detalhando o processo de limpeza, a amostragem e os métodos analíticos. Todos os procedimentos descritos nos POPs devem ser validados. Pelo menos três realizações consecutivas do procedimento de limpeza devem ser realizadas, mostrando serem bem- sucedidas para provar que o método é validado. 7 de 23 Para a realização da validação da limpeza deve haver um sistema adequado, incluindo estrutura organizacional e infraestrutura de documentação, recursos pessoais e financeiros suficientes para executar as tarefas de validação em tempo hábil. A alta direção, a gestão e o pessoal responsável pela garantia da qualidade devem ser envolvidos. Os responsável por realizar as validações da limpeza deve ter qualificação e experiência adequadas. Se as operações de limpeza forem terceirizadas, o pessoal da empresa terceirizada deve ser envolvido no processo de validação. 8 de 23 1.1 • Qualificação do Equipamento 1.2 • Avaliação de Riscos 1.3 • Critério de Aceitação 1.4 • Técnicas de Amostragem 1.5 • Métodos Analíticos 1.6 • Procedimento de Simulação da Sujidade 1.7 • Procedimento de Limpeza Passo 1 – Pré-requisitos ETAPAS PARA O PROCESSO DE VALIDAÇÃO DA LIMPEZA 9 de 23 Passo 2 – Protocolo de validação da limpeza Passo 3 – Processo de validação da limpeza Passo 4 – Relatório de validação da limpeza Passo 5 – Manutenção do status de validação ETAPAS PARA O PROCESSO DE VALIDAÇÃO DA LIMPEZA 10 de 23 Qualificação do equipamento (Etapa 1.1) Qualificação é o processo formal de obtenção da evidência documentada de que o equipamento e as utilidades estão aptos para o uso pretendido. O processo de qualificação deve ser um processo lógico, sistemático e deve ser adaptado à função e operação do equipamento. Esse pré-requisito consiste em documentar que as especificações estabelecidas pelo produtor de alimentos foram atingidos pelo fabricante do equipamento Também devemos certificar que os agentes de limpeza não são, por si ou por reatividade com os componentes alimentares, prejudiciais aos pessoal que opera, ao consumidor final ou ao equipamento quando utilizado de acordo com o pretendido. As características químicas do abastecimento de água devem ser conhecidas, especialmente no que diz respeito a sua dureza ou outros parâmetros pertinentes. A carga microbiológica da água deve ser adequada ao grau de limpeza requerido. 11 de 23 Avaliação de risco (Etapa 1.2) A avaliação de risco realizada anteriormente deve ser documentada, principalmente os fatores que poderiam afetar os resultados da limpeza. Além disso, deve ser realizado considerando o processamento do alimento e o procedimento de limpeza, enquanto leva em consideração: • Criticidade do processamento • Identificação das partes do equipamento (difíceis de limpar e que precisam de desmontagem) • Propriedadesfísico-químicas e microbiológicas do produto utilizado • Tempo e condições de armazenamento dos equipamentos antes da limpeza • Tipo de limpeza, se ocorre durante a produção (entre os lotes ou linhas de produção) ou se após a produção • Influência das condições de processo sobre a natureza e o grau de sujidade • Métodos de limpeza utilizado • Tipo de produtos de limpeza É esperado que a limpeza de equipamentos ou instalações oriundas de projetos não-sanitários seja mais complicada e demorada do que aquela realizada em equipamentos e instalações com projeto sanitário adequado. 12 de 23 Critério de aceitação (Etapa 1.3) Documentação dos critérios de limpeza que devem ser atingidos para o processo em relação às especificações do produto final baseados no plano HACCP. Os critérios de aceitação estabelecidos para os níveis de contaminantes na amostra devem se basear na política de segurança do fabricante para o alimento e na avaliação de risco. A abordagem para definir os limites pode ser específica para o produto ou os produtos podem ser agrupados em famílias e o produto do pior caso ser escolhido. Níveis de contaminação residual fora dos limites estabelecidos pelos critérios de aceitação (sujidade, microrganismos e agentes de limpeza) devem levar ao questionamento da limpeza e da desinfecção. A ausência de contaminantes não é sempre um indício confiável de boa limpeza e pode ser o resultado de uma amostragem ou método analítico inadequado. 13 de 23 Técnicas de amostragem (Etapa 1.4) Métodos de avaliação visual e sensorial O critério primário para o sucesso do programa de limpeza é que esteja limpo visualmente e a ausente de odores e de filmes. Métodos de amostragem Dois métodos de amostragem são considerados aceitáveis: amostragem direta e indireta. • Amostragem direta das superfícies é o método mais utilizado e pode ser feito com a ajuda de swab, lenços, esponjas ou dispositivos de raspagem. • Amostragem indireta de volume conhecido de água de enxágue podem ser coletada para avaliação físico-química e microbiológica residual. Este método permite a amostragem de grandes superfícies, de áreas que são inacessíveis ou que não podem ser rotineiramente desmontadas, fornecendo uma imagem global. Pode ser útil para o controle de residual de agentes de limpeza. 14 de 23 Métodos analíticos (Etapa 1.5) Os métodos analíticos utilizados para detectar resíduos ou contaminantes devem ser específicos para a substância ou classe de substâncias a serem analisadas. Independentemente do método utilizado, este deve ser validado e o seus limites de detecção e quantificação deveriam ser conhecido. Além disso, deve ser suficientemente sensível para detectar o nível aceitável estabelecido de resíduo ou contaminante, em relação ao material, à sujidade e à técnica de amostragem. A especificidade, sensibilidade e reprodutibilidade dos métodos analíticos deve ser conhecidos. Nota: se os níveis de contaminação ou resíduo não são detectados, isso não significa que não há nenhum contaminante residual presente após a limpeza. Significa apenas que os contaminantes não estão presentes nessa amostra específica em níveis acima do limite de detecção do método analítico 15 de 23 Procedimento de simulação da sujidade (Etapa 1.6) Documentar a situação de pior caso no que diz respeito a sujidade, ou o grupo dos cenários de sujidade que devem ser estudados. O procedimento de simulação de sujidade deve ser idêntico ao pior cenário escolhido. No entanto, onde longos ciclos de produção estão previstos (por exemplo, um mês), a simulação pode não ser praticável. Recomenda-se começar os experimentos em ciclos mais curtos e de duração gradual. Em alguns casos, pode ser útil adicionar microrganismos no alimento tratado para ser capaz de medir o efeito de limpeza, em termos de redução da carga microbiológica. Os micro-organismos também podem ser usados para contaminar superfícies ou corpos de prova, a fim de ser capaz de estimar a eficácia do processo de desinfecção. Como não é aconselhável a introdução de micro- organismos patogênicos em ambientes industriais, micro- organismos indicadores podem ser usados, desde que o comportamento dos indicadores simulem eficazmente os agentes patogênicos que substituem. 16 de 23 Procedimento de limpeza (Etapa 1.7) Critérios para o início da limpeza (por exemplo, o limite de contaminação, tempo de execução, produto substituto) devem ser estabelecidos. Procedimentos de limpeza apropriados devem ser estabelecidos como padrões de limpeza operacionais e devem ser aprovados para os efeitos pretendidos de limpeza. No mínimo, o POP deve detalhar: •Frequência de limpeza e limpeza quando fora de produção •Qualidade da água •Limpeza e desinfecção •Parâmetros do processo de limpeza (equipamento utilizado, concentração de produtos químicos, tempo, temperatura, pressão, vazão de fluxo) e seu registro •Responsabilidades e qualificações das pessoas envolvidas •Monitoramento do processo de limpeza, registro e calibração dos sensores. Deve-se realizar treinamento adequado para a equipe responsável de limpeza, monitoramento e amostragem. Isto também tem de ser aplicada ao pessoal terceirizado (contratado). 17 de 23 Definindo o protocolo de validação de limpeza (Etapa 2) A validação de limpeza deve ser descrita no protocolo de validação que deve ser formalmente aprovado, esse documento é indispensável e cobre em detalhes todo o processo de validação, resume todas as revisões feitas e permite a verificação de que todos os pré-requisitos estão perfeitamente executados. Os protocolos de validação deve conter: • Objetivo do processo de validação • A necessidade de validar grupos individuais ou de produtos • Equipe responsável pela execução e pela aprovação do estudo de validação • Identificação e status da qualificação dos equipamentos e instalação • Resultados da avaliação de risco e os critérios de aceitação • Intervalo entre o fim da produção e o início dos procedimentos de limpeza • Descrição dos cenários de pior caso • Produto, concentração química, temperatura, tempo, vazão, pressão); • Procedimento de limpeza em detalhes (POP), incluindo requisitos de monitoramento de rotina; • Número de ciclos de limpeza a ser realizada consecutivamente (mínimo 3) • Procedimento de simulação de sujidade detalhada • Procedimentos de amostragem e descrição de pontos de amostragem • Métodos analíticos • Ações corretivas, se os critérios de aceitação não forem cumpridos • Formulários para documentar os resultados do teste • Referências; e anexos para apoiar as referências 18 de 23 Comprometimento com o processo de validação de limpeza (Etapa 3) São necessários três ensaios consecutivos que atendam aos objetivos para uma validação bem sucedida. Se qualquer resultado não cumprir os objetivos do processo de validação, este deve ser interrompido e o protocolo de procedimento de limpeza e validação revisto. O processo de validação, em seguida, deve recomeçar a partir do início após as correções adequadas. 19 de 23 Definindo o relatório de validação de limpeza (Etapa 4) Os resultados da validação de limpeza devem ser apresentados em um relatório de validação de limpeza informando o resultado e conclusões. Os registros relevantes de limpeza (assinado pelo operador e revisados pela garantia de qualidade) e dados de origem devem ser arquivados. Este documento final do procedimento de validação de limpeza podem incluir: • Um breve resumo sobre o objetivo e o trajetória do processo de validação • Resumo e avaliação dos resultados, com observações e conclusões • Descrição dos desvios do protocolo se for o caso, e a justificativa • Conclusão geral e seu o campo de aplicação • Anexos e registros, por exemplo, monitoramento de protocolos, resultados analíticos, fotos deamostragem • Aprovação da validação • Determinação dos pontos críticos para o monitoramento e verificação. 20 de 23 Manutenção do status de validação (Etapa 5) Dentro de uma política de revalidação, os fabricantes de alimentos devem planejar a validação de limpeza de uma maneira que irá garantir a conformidade regulamentar e que a segurança alimentar e qualidade não sejam comprometidos. Deve haver revalidação periódica, bem como após a revalidação do equipamento, do processamento de alimentos e alterações do programa de limpeza. A frequência e a extensão da revalidação devem ser determinadas usando uma abordagem baseada em risco, juntamente com uma revisão dos dados de históricos, em matéria de vigilância e verificação. As mudanças devem ser controladas e documentadas por uma pessoa qualificada, incluindo o processo para decidir sobre a necessidade de uma revalidação. 21 de 23 Referências utilizadas • Regulation 178/2002 EC laying down the general principles and requirements of food law, establishing the European Food Safety Authority and laying down procedures in atters of food safety, 28 January 2002 • ISO 22000:2005: Food safety management systems – requirements for any organization in the food chain. • ISO 18593:2004: Microbiology of food and animal feeding stuffs – Horizontal methods for sampling techniques from surfaces using contact plates and swabs. • FDA, Guide to Inspections of Validation of Cleaning Processes, 1993. • Cleaning Validation Guidelines, Canada Health Products and Food Branch Inspectorate, 2005 • European Hygienic Engineering and Design Group, Germany Cleaning Validation in the Food Industry General Principles 2016. 22 de 23 Farmacêutico-Bioquímico com mais de 20 anos de experiência, atuando em laboratórios de serviços acreditados pelo INMETRO (ISO 17.025, 9.001, 14.001 e 45.001 e BPL) nas áreas operacional, analítica, garantia da qualidade, assuntos regulatórios, saúde/segurança/meio ambiente, manutenção e logística na área de Life Sciences (alimentos, cosméticos, saneantes, agroquímicos, medical device, água e efluentes). Com pós-graduação em SST e MBA em Gestão de Empresas. Gerente Técnico responsável pela SERVQUALI Serviços para Qualidade. www.servquali.com.br Pedro Boareto Goicoechea - CRF SP 18.572 pedro.goicoechea@servquali.com.br 23 de 23
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