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CAPÍTULO 3 Liderança nas Organizações A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Compreender diferentes perspectivas sobre o conceito de liderança nas organizações; 3 Entender o papel da liderança na construção, inserção e evolução da cultura organizacional; 3 Conhecer diferentes estilos de lideranças; 3 Identificar características disfuncionais de liderança e apresentar propostas de intervenção em grupo. 76 Psicologia Organizacional 77 Liderança nas Organizações Capítulo 3 COntextuaLizaçãO No capítulo anterior, buscamos compreender, dimensões que conferem dinamismo para a organização - cultura, clima, aprendizagem, comunicação. A cultura, por exemplo, foi discutida como um elemento que marca a singularidade entre uma organização e outra, sendo um fator explicativo para as diferenças de desempenho entre elas. Agora, mudamos o foco para liderança. Portanto, buscou-se apresentar, neste capítulo, a importância do gerenciamento destas dimensões, ou seja, o papel do líder neste contexto. Neste ínterim, os líderes teriam a responsabilidade de planejar e formatar a cultura de forma a construir e influenciar coletivamente as crenças e valores de um grupo, inspirando os liderados. Portanto, o estilo de liderança adotado por cada gestor marca uma diferença importante na forma com que os membros da organização se sentem e consequentemente produzem resultados. Atualmente, com as grandes transformações ocorridas no mercado, com a intensificação da globalização, as organizações vêm passando por profundas transformações gerenciais. Hoje, mais do que nunca, necessitamos muito mais das habilidades de liderança no mundo organizacional para acompanhar as transformações e demandas em decorrência dos novos desafios. O tema liderança é amplamente estudado pelo campo da administração e alvo de programas de desenvolvimento e coaching. Ao longo do tempo seus estudos perpassaram diferentes pontos de vistas, uns mais objetivos outros mais subjetivos buscando sempre produzir mais conhecimentos sobre a temática da liderança. Tenham todos uma boa leitura e bons insigths, capazes de contribuir com uma visão mais profunda e científica sobre um assunto ainda relevante nos dias atuais, apesar de bastante pesquisado. A partir do caminho percorrido no texto, o leitor é convidado a refletir sobre as teorias de liderança que vem sendo discutidas no campo organizacional. PersPeCtivas COnCeituais sObre Liderança A história da humanidade nos mostra que desde épocas muito remotas, utilizando aqui a referência dos tempos gregos, o homem busca explicações sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca. Não é difícil concluir que cada tempo está marcado por diferentes formas de relações entre os homens, distintos e até antagônicos tipos de conhecimentos sobre mundo e diferentes artifícios tecnológicos. Apesar dessas transformações, e dos avanços produzidos, não existem saberes absolutos sobre a vida e quiçá saberes que se encerrem. 78 Psicologia Organizacional Os fatos sociais, econômicos, culturais, na medida em que se transformam também ampliam e modificam os estudos sobre o que é uma organização e as suas formas de gestão. Hoje, por exemplo, como retrata Prata (2012) a lei não é mais uma referência, como se via na sociedade disciplinar com a figura marcada da lei e do sistema patriarcal. Na contemporaneidade, a figura do pai, do líder, não está representada mais como um pilar de sustentação da sociedade, são novas as formas de relação que o homem foi produzindo e com isso, as formas de relação líder-liderado nas organizações também foram apresentando novos modelos para atender as novas demandas sociais. Além do mais, a crise da liderança, consequência dos inúmeros escândalos tanto no mundo corporativo quanto na esfera governamental tem colocado a temática sob ênfase. Com isso, questionamentos teóricos e a criação de novos paradigmas de pensamentos em torno da liderança foram sendo produzidos. Portanto, no campo da administração, inúmeras são as abordagens que se propõem a definir quem é o líder, quais são suas características e como ele se forma, bem como as teorias que apresentam os tipos de liderança, do tipo de influência que o líder utiliza para mobilizar seu grupo, desde um caráter mais coativo, até o ponto em que o líder é uma referência de vida para o liderado, sendo esta a razão deste segui-lo. Dito de outra forma, pensar a liderança no contexto das transformações organizacionais contemporâneas requer um aprimoramento de seus aspectos relacionais, simbólicos e psicossociais. Bendassolli, Magalhães e Malvezzi (2014), atenuam para uma das problemáticas na definição de liderança e a diferenciam do conceito de gestor – chefe, gerente ou supervisor. Para os autores, ambos são pessoas importantes para a organização porém, com atributos e posicionamentos diferentes diante da demanda organizacional. Alguns aspectos abaixo podem mostrar esta distinção de papéis: Quadro 6 - Algumas distinções entre líder e gestor Líder Gestor Aspectos impessoais da gestão – mudança, motivação, inspiração, influência. Aspectos administrativos – planejamento, organização, controle. Estão ligados à riscos, dinamismo, criatividade e visão. Estão ligados à eficiência, procedimentos, desempenho, metas. Fonte: Adaptado de Bendassolli, Magalhães e Malvezzi (2014). 79 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Liderança como processo multidimensional constituída de ações de liderar e seguir, bem como de poder para definir elementos decisivos da situação compartilhada, fornecer orientação, permitir as trocas e construir relacionamentos. Liderança é um processo, não uma posição. Diante do quadro, é possível concluir que enquanto gestores são mais analíticos e suscetíveis a adaptação de fatos, os líderes são mais inconformados com o que está posto e diante disso buscam mudanças e são imprevisíveis. Estas diferenças complementam o cenário da organização colocando o gestor não menos importante que o líder, e vice-versa. Outra problemática citada é a relação de causa-efeito estabelecida entre liderança e resultados organizacionais. Para Bendassolli, Magalhães, Malvezzi (2014), atrelar a liderança a isso seria delicado, pois nem sempre há uma relação verdadeira nesta conta. Por isso, a liderança não deveria estar limitada exclusivamente aos resultados de sucesso de uma empresa, mas principalmente estar vinculada as formas de influenciar os outros quanto aos valores e visão da empresa. É preciso ter em mente que liderança não se resume a um papel, mas sim a um processo mais profundo em que uma ou mais pessoas influenciam outras, a fim de conseguir a adesão não coercitiva destas rumo à busca de objetivos coletivamente relevantes. Seguindo com as ideias de Bendassolli, Magalhães e Malvezzi (2014, p. 417): Reafirma-se nesse ponto, a ideia de liderança como processo multidimensional constituída de ações de liderar e seguir, bem como de poder para definir elementos decisivos da situação compartilhada, fornecer orientação, permitir as trocas e construir relacionamentos. Liderança é um processo, não uma posição. Entender a liderança como um processo é enfatizar que ela pode ser desenvolvida, pois não é inata, em que um conjunto de traços de personalidade precisam estar presentes. Pelo contrário, envolve trocas, interação com as pessoas, aprendizados constantes, atenção aos aspectos sociais e principalmente que seja capaz de influenciar pessoas de maneira saudável, despertando o desejo a favor do trabalho. Liderança é um termo cujas origens remontam ao termo laed - rota, curso de um barco em um mar, trajeto (ORTIZ, 2008). Com base nestes dados etimológicos, pode-se dizer que liderar é dar o norte, a direção, e que líder é aquela pessoa que traça a rota e guia a tripulação, para que ela percorrao trajeto desejado e atinja seus objetivos. Ousa-se afirmar que esta ideia de fundo permanece na maioria das considerações gerais sobre a categoria em análise. A Teoria dos Traços, foi uma das pioneiras nos assuntos relativos à liderança, na década de 1940. Sua ideia enfatizava as qualidades pessoais do líder diferentemente do que estava por vir nos anos 1950. Nessa década, a ênfase estava no que o líder fazia, ou seja, passaram a se preocupar com 80 Psicologia Organizacional os aspectos que caracterizam o estilo de comportamento do líder, mais especificamente nos tipos de comportamentos que poderiam suscitar maior eficácia na condução dos seguidores. Nos anos 1960 e o início dos 1980, a tendência estava nas teorias contingenciais ou situacionais que exploravam variáveis em torno do processo de liderança, sem deixar de lado os diferentes tipos de comportamentos dos líderes. As pesquisas em liderança representam um número considerável de teorias, de modo que tratar sobre todas as teorias da liderança e pesquisar os principais trabalhos de cada uma dessas correntes seria inviável neste caderno. Porém, é possível debater algumas delas para que se produza um conhecimento mais amplo sobre o tema da liderança. Neste quadro abaixo é possível identificar algumas dessas teorias que se disseminaram: Quadro 7 – Teorias da Liderança Teoria de Liderança Conceito Transformacional Foco nos elementos carismáticos e afetivos da liderança; vê a li- derança como um processo que muda e transforma indivíduos; se preocupa com emoções, valores, ética, padrões, objetivos a longo prazo e inclui o acesso às necessidades dos seguidores. Servidora Alguém que nasce sabendo servir aos outros; capacidade de ver seus seguidores e se preocupar com eles; capacidade de ouvir; em- patia e incondicional aceitação dos outros. Psicodinâmica/ psicanalítica Traz a importância do autoconhecimento, focando-se na pessoa do líder e de suas experiências de vida; a chave de ouro desta aborda- gem é a vida interior do líder. Psicossociológica Baseada na psicanálise; líder com a função semelhante ao de um psicólogo social - sensível às necessidades emocionais de seus liderados. Mindfull Capacidade de centrar-se em si próprio e viver o momento como ele ocorre diante de si, estar ciente da realidade, mas não julgá-la; disciplinar a mente; focar no presente, deixar de lado os conceitos e, sem julgamento, agir na realidade prática. 81 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Autêntica Conscientes de como eles pensam, se comportam e são percebidos pelos outros, bem como são conscientes das perspectivas, conheci- mentos e pontos fortes com relação a valores ou à moral individual e também das outras pessoas; confiantes, otimistas, resilientes e com um alto caráter moral. Carismática Fundada na ideia de relação entre líder e liderado e o contexto ao qual esta relação se estabelece. O carisma está relacionado com os fatores internos e não por regras externas, enfatizando qualitativa- mente a missão e o poder de seu portador. Compartilhada, Difusa e Disseminada Nova tendência nos estudos organizacionais na atualidade: disso- ciar da noção de liderança a figura do líder; liderança como proces- sos, práticas e interações. Fonte: A autora. Uma outra contribuição, que trata dos estágios da liderança ao longo dos tempos é a de Van Seters e Field (1990). Para estes pesquisadores, podemos dividir estes momentos em nove eras: 1 - da personalidade: Período do Grande Homem: melhores líderes da história e suas características. O melhor caminho seria estudar suas vidas e copiá-las. Período de Características: ligação entre liderança efetiva e alguma característica individual ou grupos de características do líder; 2 - da influência: A liderança é considerada como um processo que envolve relacionamentos entre indivíduos e que não se pode entender a liderança focando apenas na figura do líder; 3 - do comportamento: Os padrões de comportamento dos líderes são examinados, distinguindo aqueles efetivos na liderança, dos não-efetivos; 4 - da situação: Considera-se o contexto em que a liderança está sendo exercida; 5 - da contingência: Nesta era reuniu-se fatores da personalidade, influência e situação – as três anteriores, para demarcar um tipo de liderança em que o líder efetivo é contingente ou dependente não de um, mas de todos esses fatores. Esta era foi a que teve maior avanço na evolução da teoria sobre liderança. 6 - transacional: A liderança reside não apenas na pessoa ou na situação, mas acima de tudo, na diferenciação de papéis e na interação social. 7 - anti-liderança: Considera que a liderança existe apenas como uma percepção na mente do observador. 82 Psicologia Organizacional A liderança transformacional possui quatro componentes: carisma ou influência idealizada; motivação inspiradora; estímulo intelectual; e consideração individualizada, que representa a necessidade de altruísmo do líder, para que essa relação não se repute como controle autoritário. 8 - cultural: Um líder que cria uma cultura de auto-liderança. 9 - transformacional: A liderança consiste ao mesmo tempo em criar uma visão e conferir poder aos liderados para levá-la adiante. Esta é a fase mais promissora da teoria da liderança. Para Northouse (2004), as primeiras teorias de liderança partem da noção de características inatas, habilidades ou atitudes que diferenciam o líder das demais pessoas no contexto da organização. Em seguida, foram desenvolvidas teorias cuja principal característica considerava a liderança uma interação entre líder e liderado, desfocando, com isso, a figura do líder como fator inato. Uma destas teorias que datam dos anos 1980 foi a abordagem transformacional. A marca desta teoria segundo Northouse (2004) é o foco nos elementos carismáticos e afetivos da liderança. Esta visão considera o papel formador do líder, vê a liderança como um processo que muda e transforma indivíduos. “Ela se preocupa com emoções, valores, ética, padrões, objetivos a longo prazo e inclui o acesso às necessidades dos seguidores, satisfazendo suas necessidades e tratando-os como seres humanos completos” (NORTHOUSE, 2004, p. 169). Para a teoria da liderança transformacional, o papel do líder é influenciar, motivar o liderado e que este tenha um processo próprio de desenvolvimento individual. Conforme Bass e Steidlmeier (1999), a liderança transformacional possui quatro componentes: carisma ou influência idealizada; motivação inspiradora; estímulo intelectual; e consideração individualizada, que representa a necessidade de altruísmo do líder, para que essa relação não se repute como controle autoritário. As teorias de liderança são objetos de estudo e crítica por parte da visão ética da liderança. A liderança ética não forma exatamente uma teoria da liderança, mas trata-se de um argumento que deve estar presente nas reflexões sobre liderança. Northouse (2004) afirma que a relação entre a Ética e a Liderança encontra-se naquilo que os líderes fazem e aquilo que eles são. As escolhas que um líder faz e como ele responde às diferentes situações com que o seu grupo se depara têm relação direta com a Ética. O líder possui um grande poder em suas mãos, ainda que o exerça da forma mais participativa e integrativa que ele puder, no final a responsabilidade da decisão segue sendo sua e, junto desta, a necessidade de saber fazer a escolha mais assertiva. Além disso, na própria relação dentro do grupo, a forma como o líder trata seus liderados e como estes se relacionam entre si também é disciplinada pela Ética. Um dos autores que se dedica a dar uma perspectiva ética à liderança é Heifetz (1998), que defende que liderança não significa qualquer capacidade 83 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Um líder é acima de tudo um servidor, é alguém que nasce sabendo servir aos outros.Com essa habilidade, essa capacidade de ver seus seguidores e se preocupar com eles, o líder poderia tornar seus liderados mais conscientes, livres e autônomos, eles próprios como servidores, enriquecendo os outros com sua presença. A ênfase nessa teoria está na capacidade de ouvir, na empatia e na incondicional aceitação dos outros (NORTHOUSE, 2004). de condução de pessoas a qualquer tipo de resultado. O autor critica, inclusive, a maior parte das teorias da liderança, por tentarem definir o líder sem fazer qualquer juízo de valor, considerando que se assim fosse, correr-se-ia o risco de considerar Hitler e outros tiranos da história como exemplos de líderes (HEIFETZ, 1998). Heifetz (1998) traz o conceito de trabalho adaptativo como elemento principal na atividade do líder. Para ele, líder é aquele que traz consigo a mudança ao seu grupo, uma mudança na direção de um objetivo benéfico a todos. Portanto, ele é o portador da novidade, por ser capaz de visualizá- la, e busca mobilizar seus liderados para que se direcionem a essa nova atitude, ao novo resultado necessário. Sob esse prisma, o autor considera que Hitler, por exemplo, falhou em liderar, pois não produziu trabalho adaptativo no povo alemão, ainda que a Nação melhorou econômica e socialmente, visto que apenas a iludiu da realidade, conduzindo-a a apenas realizar suas próprias ambições. Outra visão de liderança é a de Greenleaf, que desenvolveu uma teoria chamada liderança servidora, com uma base de ética altruísta, enfatizando a importância dos líderes atentarem às preocupações dos seus liderados e ser empático com eles, protegendo-os. Portanto, um líder é acima de tudo um servidor, é alguém que nasce sabendo servir aos outros. Com essa habilidade, essa capacidade de ver seus seguidores e se preocupar com eles, o líder poderia tornar seus liderados mais conscientes, livres e autônomos, eles próprios como servidores, enriquecendo os outros com sua presença. A ênfase nessa teoria está na capacidade de ouvir, na empatia e na incondicional aceitação dos outros (NORTHOUSE, 2004). A abordagem psicodinâmica é uma outra vertente possível de se pensar sobre a liderança organizacional. Ela traz a importância do autoconhecimento, focando-se na pessoa do líder e de suas experiências de vida, que muitas vezes, influenciam ou até mesmo condicionam o modo deste de fazer escolhas e estabelecer parcerias. Para esta abordagem, lançando um olhar a si mesmo e compreendendo-se, o líder poderá alcançar melhores resultados. Assim como, entendendo melhor a constituinte psicológica de seus subordinados pode-se alcançar também uma performance melhor no desempenho do grupo (STECH, 2004). A visão psicossociológica da liderança (LAPIERRE, 1995; KETS DE VRIES, 1997) que tem a psicanálise como pano de fundo, entende que o comportamento humano é influenciado por esforços inconscientes. Os líderes exerceriam a sua liderança a partir de um mundo interno inscrito desde a sua infância e que contém materiais emocionais, marcas, experiência vividas que compreendem a sua forma de ser. O líder, portanto, desempenharia 84 Psicologia Organizacional Dito de outra forma, é a direção que o líder dá, por meio da sua vida psíquica, que fortalece seus elos com a equipe e garante certos feitos. O exercício da liderança, portanto, é capaz de ativar os fantasmas mais primitivos e conflituosos, assim como fazer surgir as mais belas formas de sublimação. Apreender o que está no interior da vida do líder, nos permitiria compreender o significado da sua liderança. uma função semelhante ao de um psicólogo social, pois estaria sensível às necessidades emocionais de seus liderados. Mergulhada de influências da Psicanálise e da Psicologia, não há tipo de personalidade ou habilidades que marcam a característica de determinadas pessoas a serem líderes. Pelo contrário, o foco se dá na capacidade do líder de entender suas próprias emoções e os seus padrões de comportamento, a sua tendência a sempre fazer o mesmo tipo de escolha, que remonta às experiências vividas no passado. Assim, a chave de ouro desta abordagem é a vida interior do líder, e é preciso mergulhar no interior da própria subjetividade e compreendê-la, para assim ter uma melhor performance de liderança (LAPIERRE, 1995). Autores como Lapierre (1995) e Kernberg (2000) deixaram grandes contribuições. Lapierre (1995) através de entrevistas buscou conhecer as obras dos líderes, o que faz deles um ser que marca a história de uma empresa ou de uma instituição. Debruçou-se em pesquisar a dinâmica da vida interior do líder, ou seja, mesmo que fosse difícil contemplar toda a verdade, inclinou-se a colocar em palavras os fantasmas inconscientes que fazem os líderes, líderes. Para Kernberg (2000), o âmbito da organização é um espaço cuja diversidade de impulsos libidinais e agressivos entram em cena e, portanto, devem ser analisados a partir de uma teoria, como a psicanálise, que integre toda essa complexidade. Seu foco foi para o estudo da liderança em grupos e organizações. Embora para ser líder seja importante possuir características e habilidades específicas - conhecimento técnico, habilidade de conduzir equipe, sensibilidade política, comunicação adequada, persuasão, o que realmente vai conduzir a liderança, conforme analisa Lapierre (1995), é a sua vida psíquica – suas emoções, seus conflitos, seus medos, sua forma de relação com o mundo, com a lei, com seus familiares. Essa marca reflete na forma com que este sujeito percebe o mundo, em como ele age com os outros, em como ele se comporta, e então, em como ele vai ser um líder. Isso implica dizer que há uma dimensão inconsciente que emerge nas relações humanas, um mundo fantasmático que está para além das características e das habilidades pessoais, e que se conectam com o mundo exterior por meio de um jeito de ser, um modo de pensar, um modo de fazer. Falar de liderança, portanto, é considerar esta dimensão. Dito de outra forma, é a direção que o líder dá, por meio da sua vida psíquica, que fortalece seus elos com a equipe e garante certos feitos. O exercício da liderança, portanto, é capaz de ativar os fantasmas mais primitivos e conflituosos, assim como fazer surgir as mais belas formas de sublimação. Apreender o que está no interior da vida do líder, nos permitiria compreender o significado da sua liderança. 85 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Líderes autênticos são aqueles que alcançaram altos níveis de autenticidade, sendo que eles sabem quem são, no que eles acreditam e sabem agir baseados nestes valores e crenças, interagindo de maneira transparente com os outros. Seguindo a ideia do autoconhecimento, porém sob outra perspectiva, ou seja, pela visão consciente e não mais inconsciente conforme abordada anteriormente, outras teorias são concebidas e discutem sobre questões de liderança, as chamadas teorias da liderança mindful e da liderança autêntica. A noção original de mindfulness que em inglês significa atenção, cuidado, diligência, provém do budismo - estar momento a momento consciente, atento. Mindfulness, na visão oriental pode ser entendida como a capacidade de centrar-se em si próprio e viver o momento como ele ocorre diante de si, estar ciente da realidade, mas não julgá-la. Dentro desta visão, que naturalmente possui muito da filosofia budista dentro de si, tornar-se mindful significa disciplinar a mente (WEICK; PUTNAM, 2006). A disciplina da mente é feita por um processo para focar no presente, deixar de lado os conceitos e, sem julgamento, agir na realidade prática. Neste processo se constrói uma mente desenvolvida. Para Weick e Putnam (2006) mindfulness é o estado flexível da mente, no qual se está ativamente comprometido no presente, percebendo as novas coisas e estando sensível para o contexto. Assim, as pessoas agem menos conscientemente quando agemcom base em categorias do passado, enfatizando o ‘piloto automático’, sem consciência que as coisas deveriam ser apreciadas. Na teoria da liderança autêntica trabalha-se com o conceito de autenticidade do líder, ou seja, com o conceito daqueles que são profundamente conscientes de como eles pensam, se comportam e são percebidos pelos outros, bem como são conscientes das perspectivas, conhecimentos e pontos fortes com relação a valores ou à moral individual e também das outras pessoas. Os líderes autênticos são confiantes, otimistas, resilientes e com um alto caráter moral (AVOLIO; GARDNER, 2005). Líderes autênticos são aqueles que alcançaram altos níveis de autenticidade, sendo que eles sabem quem são, no que eles acreditam e sabem agir baseados nestes valores e crenças, interagindo de maneira transparente com os outros (AVOLIO et al., 2004). Os autores identificam como princípios do líder autêntico: a confiança, a esperança, o otimismo, a resiliência, a honestidade, a justiça e a significação. O enfoque da teoria da liderança autêntica está vinculado ao conceito de autenticidade, mas ela trabalha também com outras questões como o comportamento organizacional positivo, a transparência, além de uma visão dinâmica do desenvolvimento de liderança dentro do contexto organizacional. Nesse sentido, pode-se apresentar a seguinte definição para liderança autêntica, com base em Walumbwa, et al. (2008, p. 94): 86 Psicologia Organizacional especificamente, nós definimos liderança autêntica como um padrão de comportamento do líder que se baseia e promove ambas, as capacidades psicológicas e um clima ético positivo, para fomentar uma maior autoconsciência, uma perspectiva moral internalizada, o processamento balanceado de informação e a transparência relacional por parte de líderes que trabalham com seguidores, promovendo o autodesenvolvimento positivo. Neste sentido, a autoconsciência estaria relacionada à habilidade de reconhecimento dos valores, identidades, emoções e motivações; a perspectiva moral internalizada significaria a capacidade de ser guiado por padrões morais internos usados para autorregular o comportamento pessoal; processamento balanceado se referiria à análise de informações relevantes por um lado e, por outro, ao alcance de uma decisão não tendenciosa e; a transparência relacional estaria se referindo à apresentação do próprio eu autêntico no compartilhamento de informações, sentimentos e emoções. Existe ainda uma outra perspectiva da liderança que discute o processo de dominação em organização sociais, a chamada liderança carismática. Sob este enfoque da análise do poder está a perspectiva weberiana de Max Weber em que o poder constitui tema recorrente. A questão que este pensador faz em torno desta lógica é como as pessoas aceitam, mesmo com certa resistência, serem comandadas e, acrescenta ainda, que mesmo o regime democrático envolve o exercício do poder, ou seja, uma outra forma de domínio que não estaria imune ao conflito e a hierarquia (SILVA; NETO, 2012). Uma das propostas de Weber é a autoridade carismática que está fundada na ideia de relação entre líder e liderado e o contexto ao qual esta relação se estabelece. No centro da estrutura da organização, que se dá em rede, está a figura do líder e seu carisma determina-se por fatores internos e não por regras externas, enfatizando qualitativamente a missão e o poder de seu portador. Dito de outra forma, a estrutura carismática pura não reconhece formas e procedimentos que visam à ordenação como: nomeação ou demissão, carreira ou promoção; não conhece nenhum salário, nenhuma instrução especializada regulamentada do portador do carisma ou de seus ajudantes e nenhuma estância controladora ou a qual se possa apelar (WEBER, 2004 apud SILVA; NETO, 2012, p. 29). O líder carismático porta certas características em que seu êxito está naquilo que consegue transferir aos subordinads, os princípios da sua missão. 87 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Se aqueles aos quais se sente enviado não reconhecem sua missão, sua exigência de legitimidade fracassa. Se o reconhecem, torna-se o senhor deles enquanto conseguir manter seu reconhecimento, normalmente, mediante provas. Mas, nesse caso, seu direito não se deduz da vontade deles, à maneira de uma eleição. Ao contrário, o reconhecimento do líder carismático é o dever daqueles aos quais dirige sua missão (WEBER, 2004 apud SILVA; NETO, 2012, p. 29). Por fim, o carisma jamais é para seus portadores uma fonte de ganhos pessoais, abominando a exploração econômica realizada como forma de certas prestações e contra prestações, ou de uma remuneração de serviços. Ao contrário, recebe os recursos econômicos necessários de patrocinadores individuais ou na forma de doações, contribuições (WEBER, 2004 apud SILVA; NETO, 2012, p. 29). Crevani, Lindgren e Packendorff (2010), por sua vez, identificam uma nova tendência nos estudos organizacionais na atualidade: dissociar da noção de liderança a figura do líder. Neste caso, a liderança é vista como processos, práticas e interações, de onde podem surgir novas teorias, como a liderança compartilhada, a liderança difusa, ou ainda a liderança disseminada. As autoras em seu trabalho não apresentam propriamente uma teoria do tema, mas se propõem a firmar as bases ontológicas e epistemológicas para o desenvolvimento de pesquisas, teóricas ou empíricas, sobre esse novo fenômeno. Consideradas, assim, algumas abordagens sobre liderança, pretendeu-se desenvolver uma revisão integrativa, no intuito de identificar algumas teorias importantes e outras atuais, sobre o fenômeno da liderança. O PaPeL da Liderança na CuLtura e nOs gruPOs A liderança possui um papel importante na cultura e nos grupos, principalmente porque ao criar uma empresa o líder exerce um poder de influência sobre os valores da empresa, bem como na forma como se conduz o grupo. A seguir será discutido mais profundamente o papel da liderança na cultura e nos grupos. 88 Psicologia Organizacional a) Na Cultura Para Schein (2009), nenhuma organização nasce acidentalmente, mas sim, é idealizada por pessoas, que possuem um propósito, uma meta e que agregam outras pessoas para auxiliarem-nas nos seus objetivos. Neste cenário, o líder exerce um papel fundamental, principalmente porque são eles que iniciam o processo cultural, gerenciam e até mesmo modificam a cultura de um determinado lugar. Para o autor, aquele que dá origem a empresa, o seu fundador, impacta de tal forma os seus membros, influenciando suas respostas emitidas e seus esforços de serem bem- sucedidos e integrar o ambiente de trabalho. A Apple foi fundada por Steve Jobs e Steve Wozniak, ambos engenheiros, que tinham como meta criar produtos para crianças no mercado educacional e produtos que fossem divertidos e fáceis de usar. Sua base era claramente técnica e quando a Apple tentou se tornar mais orientada para o mercado ao trazer John Scully da PepsiCo, a empresa cresceu, mas muitos achavam que a comunidade técnica da empresa nunca aceitaria um executivo voltado para o marketing. Logo, a Apple voltou as origens e trouxe Steve Jobs de volta. Neste sentido, pode-se observar que a Apple voltou a oferecer produtos fáceis de usar e divertidos, como o iPod. Fonte: Adaptada de Schein (2009). A menção a Appel no Leo acima, nos remete a pensar o quanto os ideais de um fundador, orientam a marca, as pessoas, a convergência de ideias. A cultura do fundador é uma força dentro da dinâmica organizacional e projeta o desenho dos produtos ou serviços ofertados. Mesmo que a Apple atualmente tenha um outro CEO, por exemplo, os valores, as crenças dos primeiros líderes persistem no tempo. Para Schein (2009, p. 227), “não podemos negligenciar a tremenda importância da liderança logo no início de qualquer processo grupal”. 89 Liderança nas Organizações Capítulo 3CEO é uma sigla que em inglês significa – Chief Executive Officer, ou Diretor Executivo na língua portuguesa. É a pessoa com maior autoridade na hierarquia de uma organização. O responsável pelas estratégias e pela visão da empresa. Porém, nem todas as empresas possuem este cargo, ficando restrito, muitas vezes, às empresas de médio ou grande porte, como vimos, por exemplo na Apple. Na Revista Você S/A de abril de 2012, saiu uma reportagem intitulada: “A força de uma cultura se mostra na Apple pós-Jobs”. Nos trechos da matéria é possível perceber o quanto a cultura de um líder pode se perpetuar por muito tempo no cenário de uma organização. - Tim Cook, atual presidente da Apple, fez uma apresentação minimalista e até procurou se vestir de modo parecido ao de Jobs. É impressionante a força da cultura de uma empresa, quando ela tem seus atributos bem claros e é praticada pelos seus funcionários. Jobs deixou na Apple pelo menos quatro ícones culturais: - O FOCO – Quando retornou à Apple, Jobs encontrou a empresa perdida em um grande número de projetos que competiam entre si. “Toneladas de produtos, a maioria de má qualidade”, em suas próprias palavras. Ele definiu que a empresa teria apenas quatro produtos: um computador de mesa e um laptop de uso profissional e o mesmo par para uso pessoal. Assim, acabou com a dispersão de energia. O resultado foi aumento de eficiência e de qualidade. - A EXCELÊNCIA – A obsessão com a excelência garantiu o posicionamento da Apple. Jobs definiu que o belo era importante. Os designers ganharam status, os engenheiros tiveram de se submeter a seus caprichos. O resultado foi o encontro da alta tecnologia com a arte. - A CONFIANÇA – Na Apple cada pessoa está preocupada em fazer apenas seu trabalho porque tem absoluta certeza de que cada colega está fazendo o seu, da melhor maneira. A confiança é o atributo mais poderoso para a construção de uma verdadeira equipe. 90 Psicologia Organizacional - A PAIXÃO – Os nerds de Cupertino, cidade sede da Apple, são apaixonados pela empresa, ainda que o nível de exigência prejudique a qualidade de vida. É fácil se apaixonar por uma ideia que está mudando o mundo e, claro, sentir-se fazendo parte dessa revolução. Steve Jobs disse que não gostava de colocar botões de liga/ desliga em seus equipamentos, pois achava que eles não deveriam ser desligados nunca. Ele não está mais aqui, mas nenhum botão será capaz de desligar a cultura que ele criou para a Apple. Essa continua, pois é maior que o homem que a criou. Fonte: Revista Você S/A, por Eugênio Mussak (2012). A cultura de uma organização se constitui pelo conjunto de crenças e valores que definem o comportamento das pessoas que trabalham nela ou que se relacionam com ela. Ela é o recurso psicológico da companhia, tão necessário quanto os recursos materiais para a execução da estratégia da empresa. A partir do momento em que esta cultura é absorvida e aceita pelo grupo, ela é disseminada e cria raízes na organização. Para Schein (2009, p. 229) à medida que a organização se estabiliza em razão do sucesso na realização de suas tarefas primárias, as suposições do líder tornam-se compartilhadas, e a fixação dessas suposições pode ser mais imaginada como um processo de socializar novos membros ou de aculturá-los ao grupo. Um dos principais mecanismos utilizados para que os líderes fixem a sua cultura, para Schein (2009) é a atenção. Isso significa dizer que líderes atentos ao que ocorre entre a sua equipe e seus processos têm nas mãos informações importantes para comunicar uma mensagem. Através de observações e perguntas casuais a partir daquilo que atentos perceberam, torna-se até mais valioso do que qualquer tipo de mecanismo formal de avaliação e controle. Como exemplo o autor traz um caso. Veja o informativo abaixo: 91 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Figura 11 – Estudo de caso Fonte: Adaptado de Schein (2009). Tendo em vista a importância do líder estar atento, entra uma outra questão a ser mencionada que diz respeito ao conteúdo que ele dirige a sua atenção que de certa forma, conduz o líder nas suas propostas de desenvolvimento organizacional. Naquilo que eles prestam atenção, certamente comunicam mais claramente as suposições e estratégias, porém, se seu padrão de atenção for inconsistente, ou seja, for direcionado para muitas coisas, os liderados decidirão por conta própria o que realmente é importante, levando a um conjunto de suposições aleatória entre eles, criando culturas paralelas. b) Nos Grupos Nos indivíduos a loucura é algo raro – mas nos grupos, partidos, povos, épocas, ela é a regra. Nietzsche No processo de seleção de um líder, é importante ter em mente alguns questionamentos e pontos importantes, como nos informa Kernberg (2000): • Quanta criatividade o candidato mostrou no passado em seu grupo de trabalho? • Qual o nível de identificação com os valores de sua profissão e os sistemas de valores de uma teoria administrativa e sua capacidade de identificar-se com os objetivos da organização? • Qual a extensão em que investiu em valores profissionais básicos, em oposição aos temas da moda, que muitas vezes fornecem retorno a curto prazo? 92 Psicologia Organizacional • Quanta coragem o candidato demonstrou para lutar abertamente por suas convicções, em vez de manipular conflitos de olho no poder e prestígio? • O candidato obtém prazer genuíno a partir do crescimento e desenvolvimento de outras pessoas? Talvez, todas essas questões possam não ser percebidas em profundidade em um primeiro momento, mas são importantes pontos e principalmente questionamentos a serem levados em consideração em uma investigação ou avaliação de perfil, pois o líder é alguém que influencia fortemente um grupo e também é influenciado por ele ou até bombardeado pelas demandas existentes. Com isso, pilares importantes do seu jeito de ser, de suas convicções e valores precisam estar em consonância com o significado da liderança. Conforme nos alerta Kernberg (2000, p. 59), “a eficiência da liderança não depende exclusivamente ou sequer predominantemente, da personalidade do líder”. É imprescindível a existência de uma relação sadia entre a tarefa geral da organização e sua estrutura administrativa, pois caso isso seja ponto de conflito, ou seja, se os recursos forem insuficientes para a realização das tarefas ou quando há fracasso no esclarecimento de prioridades, interferindo no relacionamento do grupo, a liderança também pode ser deteriorada. Além de Kernberg (2000), Lapierre (1995, p. 31) já afirmava que a liderança não pertencia apenas ao líder, mas a “correspondência entre a visão e as ações que ele propõe e os desejos e as necessidades de uma comunidade e de determinada época”. É nesta relação que a liderança acontece, mais profundamente podemos dizer que é na ressonância entre o inconsciente do líder e de seus liderados que a trama da liderança vai acontecendo, com artifícios muito menos controláveis do que se pode supor. Mas você pode estar se perguntando, como a relação entre líder e liderado pode ser dar inconscientemente? Como esta dimensão se comunica dentro de um grupo? Para Lapierre (1995), é através dos fantasmas inconscientes de cada um. Para melhor explicar imagine que toda a sua conduta, os seus medos, os seus dramas são de origem inconsciente e estão no seu mais profundo e íntimo Eu. E são estes sentimentos ou acontecimentos que norteiam as suas escolhas, as suas ações, o seu jeito de ser. Segundo o autor, “este fantasma inconsciente é a estrutura profunda de sua personalidade que dá o sentido ou a direção a seu modo de pensar e sua ação” (LAPIERRE, 1995, p. 33). 93 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Agora imagine um grupo, e todo o emaranhado psíquico que cada um leva na bagagem se unirem por uma determinada causa, por objetivos em comum, lideradopor um sujeito que também possui a sua amarra psíquica, seus valores, suas crenças, seu jeito de ver o mundo. Parece uma loucura contemplar esse cenário, não é? Agora imagine um grupo, e todo o emaranhado psíquico que cada um leva na bagagem se unirem por uma determinada causa, por objetivos em comum, liderado por um sujeito que também possui a sua amarra psíquica, seus valores, suas crenças, seu jeito de ver o mundo. Parece uma loucura contemplar esse cenário, não é? Pois bem, quando fazemos referência a grupo, massa ou equipe, é importante destacar que o simples fato de pessoas andarem ou estarem juntas em um determinado espaço, realizando determinada atividade, isso não sugere uma dimensão grupal. Nesse sentido, conforme sugere Ávila (2009, p. 47) “o grupo é uma entidade distinta do simples fato de termos sete pessoas caminhando juntas. A dimensão invisível, latente, inconsciente, é a dimensão real do grupo”. Diante do grupo, as particularidades do sujeito, em relação ao seu inconsciente, ficam invisíveis, sendo difícil entender o que é de um e o que é de outro. É assim que Freud (1910) faz referência sobre grupos, tribo, massa social. Para ele, o grupo, assume um inconsciente que é comum a todos e, em virtude disso, o homem transforma seus pensamentos e comportamentos. Por isso, buscar compreender um dos membros do grupo em sua individualidade, sem levar em consideração que este Eu é um eu plural, influenciado por um universo de crenças e sentimentos específicos do grupo, tampouco encontraríamos algo que seria próprio dele. Para Freud (1996 [1910]), o que liga os componentes de um grupo e o torna uma unidade, é o fenômeno da liderança. O grupo possui o desejo de se organizar diante de um líder; mas para que isso aconteça, o líder precisa acreditar fielmente nas suas próprias ideias para corresponder e influenciar o grupo. Esse conjunto de desejos e necessidades coloca a liderança como um emaranhado, que forma uma “massa psicológica” que se constitui numa cola imaginária entre os sujeitos da tribo. Para o autor, o efeito dessa massa é capaz de produzir criações extraordinárias, pois há uma contemplação entre subjetividades que enriquece o processo da imaginação, efeito que o indivíduo diante da solidão jamais poderia produzir. Massa psicológica: Freud (1996 [1910]), apresenta um conceito de que massa psicológica representaria a união de indivíduos que semelhantes ou não em relação ao tipo de vida que levam, ou seja, aquilo que fazem, seu caráter, sua inteligência, os tornam possuidores de uma espécie de alma coletiva, pois fazem parte de uma mesma massa. Esta alma, por sua vez, faz com que eles sintam, pensem, e ajam de uma forma distinta se cada um estivesse isolado. 94 Psicologia Organizacional A título de mais aprofundamento, chamamos um LÉO para nos ajudar a compreender mais o sujeito do inconsciente o qual falamos anteriormente e que está na dimensão do fenômeno da liderança. Por muito tempo o pensamento racional, o conceito de controle, de medição, resumiam o que era uma organização e o que dela precisava ser analisado e valorizado. A teoria de administração clássica com Taylor e Fayol, por exemplo, preconizavam a exclusão dos aspectos irracionais da organização de modo que os conflitos e as emoções eram vistas como ameaças ao sistema burocrático, assim como, a tomada de decisão e a eficácia poderiam ser empobrecidos por este caos oriundo destes fenômenos. A subjetividade, por ser ingerenciável pela organização causava medo e era deixada de lado. Porém, estudos sobre a cultura, os aspectos sociais, as emoções abriram espaços para que outras dimensões na organização pudessem ser levadas em considerações, distanciando o olhar do homem como máquina e aproximando-o do homem como sujeito criativo, singular que poderia auxiliar a organização a crescer (GABRIEL,1995; ENRIQUEZ, 1997; GAULEJAC, 2007). Entendeu-se ao longo do tempo que ignorar os fatores psicológicos, inconsciente, que estavam embutidos na organização, apesar de “submerso” e não tão visíveis e controláveis, mas que permeavam as relações na organização e determinavam seus resultados, seria compreender, de forma muito superficial, o que ocorria em uma organização. Para compreendermos um pouco melhor, vale diferenciar o conceito de consciente e inconsciente. Consciente é aquela ideia que é perceptível na realidade, são as percepções, as ideias, os pensamentos, os comportamentos aparentes. Já o termo inconsciente tem a ver com aquilo que escapa do sujeito e é incontrolável, a parte mais íntima do ser que foi constituída a partir da mais remota infância. É ele que está por traz das nossas escolhas – seja de um amor, de uma profissão, de um caminho. O termo inconsciente está associado ao nome de Freud e a psicanálise, uma teoria sobre a psique humana. Para Freud, a verdade do sujeito se revela a partir do inconsciente e escapa através de atos falhos, de sintomas, de lapsos da fala. 95 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Quer ver um exemplo de lapso da fala? As crianças que chamam a professora de mãe, “sem querer” ou você que trocou um nome de uma pessoa por outra enquanto discorria uma história, sem se dar conta até que alguém o alertou sobre o erro; um esquecimento de uma reunião importante, ou a troca de horário dela; já ouviu falar de alguém que mandou uma mensagem do celular para outra que definitivamente não poderia saber o que estava escrito? Cuidado, a verdade escapa sem que tenhamos controle sobre ela! Nesta última situação, por exemplo, talvez o seu desejo fosse mesmo falar diretamente para a pessoa, mas te faltou coragem para pensar isso conscientemente e, aí então, o inconsciente resvala. Podemos falar o mesmo sobre pessoas que estão passando por certas preocupações ou problemáticas na vida pessoal e que somatizam fisicamente, originando doenças (depressão, síndrome do pânico, obsessões etc.), inibições (anorexia, fobias sociais etc.). Bem, se na vida pessoal, o inconsciente se revela tão fortemente, como não o faria na organização? Para Lapierre (1995), o líder portanto, deve tomar conhecimento dessa dimensão inconsciente presente no seu grupo, estar atento sobre a sua existência para que possa realizar um trabalho mais humano e também uma escuta para além daquilo que é perceptível a olho nu. Fonte: A autora. FenômenOs de Liderança e Lideranças disFunCiOnais Certamente a vida interior do líder é decisiva para a compreensão e o exercício da liderança, por isso, é fundamental que aquele que tem a sua frente a responsabilidade de conduzir uma equipe tome consciência de seus fantasmas, de seus medos, de suas reações, que procure conhecer mais profundamente a si mesmo, pois ou será vítima desses anseios inconscientes ou fará a sua equipe vítima deles. Freud (1920-1923) nos lembra que a afetividade que circula dentro da massa é sempre mais intensa, tornando-se um grande desafio para um líder, os impulsos no grupo. Maior desafio ainda é o fato de que em um grupo os membros têm a tendência de expor-se ao mesmo afeto ao percebê-lo no outro, 96 Psicologia Organizacional ou seja, na massa, somos sugestionados à imitação. Imitam-se uns aos outros porque existe o desejo de estar de acordo com o grupo e, possivelmente, isso acontece pelo amor transferencial que existe entre eles. Em referência a isso, Freud relembra que as neuroses do pós-guerra se resumem, em parte, por um protesto dos soldados contra o papel que o exército exercia, sendo este papel tampouco psicológico, quanto amável. Para ele, “é lícito afirmar que o tratamento sem amor que o homem comum recebia dos superiores estava entre os maiores motivos da doença” (FREUD, 1920-1923, p. 49). Para Kernberg (2000), na personalidade do líder é importante uma certa cota de tendência narcisista e um potencial paranoide junto a um senso moral desenvolvido. Explica que as tendências narcisistasauxiliariam o líder em um afastamento necessário, enquanto que um alerta paranoide pode auxiliá-lo a detectar antecipadamente ações perigosas contra o grupo e a organização. Os pressupostos indicam, portanto, que com certa frequência personalidades narcisistas em posições de liderança acabam sendo maior, justamente por esses indivíduos serem movidos a doses elevadas de poder e prestígio. Estes ingredientes na personalidade do líder, por sua vez, poderiam auxiliá-lo na condução da sua equipe, porém um alerta é preciso dar, pois a linha entre um narcisismo saudável e o excessivo é bastante tênue. Sobre isso Kets de Vries (2003), discorre sobre o lado negro da liderança. Para ele, a maior doença dos líderes, especialmente do CEO, é o narcisismo reativo. Os narcisistas construtivos seriam aqueles com uma boa base familiar, com estrutura de segurança que lhe dá suporte para saber o que quer, e também para as decisões se tornarem mais assertivas, mas conseguem garantir uma boa convivência; os reativos, são os patológicos, aqueles egoístas com os outros que não valorizam o fator humano, tornando-se muito pouco empáticos. Conforme suas análises, muitas são as variações de narcisistas reativos e suas características vão desde preocupação com o poder, desejo de admiração excessiva, ostentação de riqueza e dificuldade de estabelecer vínculos duradouros. Além destas características, os narcisistas disfuncionais vivem na corda bamba dos extremos, oscilam de um lado a outro rapidamente causando instabilidade emocional e insegurança para a equipe; sua dificuldade de reconhecer a ética entre o eu e o outro faz com que ele esteja sempre repleto de jogos emocionais, usando o poder inclusive para impedir o desenvolvimento da sua equipe. E as vítimas destes líderes narcisistas, como se comportam, como reagem ao seu jeito se liderar? Os narcisistas construtivos seriam aqueles com uma boa base familiar, com estrutura de segurança que lhe dá suporte para saber o que quer, e também para as decisões se tornarem mais assertivas, mas conseguem garantir uma boa convivência; os reativos, são os patológicos, aqueles egoístas com os outros que não valorizam o fator humano, tornando-se muito pouco empáticos. 97 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Aqueles que percebem este modelo e não compactuam e nem temem, saem da organização. Neste caso, altos índice de rotatividade podem estar relacionados a lideranças desta natureza. Outros se veiculam fortemente a este líder e são contagiados, formando uma ligação narcisista. Neste caso, muitos líderes se mantém no seu cargo justamente pelo apoio que encontram de alguns membros da equipe, apoio este que pode estar carregado de medo da perda do emprego. Em ambos os casos, este tipo de relacionamento endereçado à organização causa danos na sua estrutura e nos seus resultados. Além disso, a equipe pode entrar em um processo de adoecimento. Narcisismo: O Mito de Narciso fala de um personagem que tomado pelo amor de si próprio se afoga com a própria imagem. Em sua extremidade, o excesso de amor a si próprio, esvazia o endereçamento de amor ao outro, ignorando ou rejeitando, muitas vezes, o outro como objeto de amor. Porém, para que possamos nos amar, apostar nossos sonhos e irmos adiante com nossas metas, é fundamental que haja amor a si mesmo, ou seja, que tenhamos uma dose de narcisismo, que tenhamos nos banhado nessas águas, pois, caso contrário não há movimento do sujeito, pois não há desejo investido em si mesmo. Portanto, nem tanta submissão ao ponto de não movimentar o sujeito, nem aquela que empodera o sujeito de tal forma que banha-se de egoísmo. Então, como saber a dose certa de narcisismo para que um líder nem seja dominado pela massa e nem a mantenha refém das suas intempéries? Infelizmente, não existe nenhuma receita para atingir o equilíbrio, mas líderes atentos e que tem consciência sobre o seu próprio funcionamento psicológico podem ser líderes mais assertivos e dispostos à mudança, o que facilita a sua forma de engajamento e não deixa as suas problemáticas afetarem o grupo. Muitos autores atuais consideram que vivemos uma época perversa em que o olhar para si próprio em detrimento ao outro é a maior nuance. Este aspecto interfere negativamente na liderança, comprometendo seus resultados (LAPIERRE, 1995, GABRIEL, 1995). No cerne do narcisismo está a idealização, ou seja, o amor pela imagem de si que afasta o olhar da realidade existente. 98 Psicologia Organizacional Outro componente que faz com que a dinâmica da liderança ocorra é a identificação dos membros de um grupo com o seu líder. Quanto mais os liderados conseguem se identificar com ele, mais consistente será o elo entre ele e a equipe. Sobre isso, Kets de Vries (2003) contribui pontuando que a posição que um líder exerce, favorece projeções das fantasias dos liderados sobre as expectativas em torno da liderança. Tidos como heróis, poderosos e salvadores, retroalimentam um sentimento de onipotência próprio do desejo do homem. Entretanto, toda essa idealização está condenada ao fracasso, à decepção dos liderados, quando os líderes não conseguem atender todas as fantasias dirigidas a ele e passam de heróis a vilões. Existem muitos ingredientes importantes no fenômeno da liderança, um deles foi mencionado anteriormente que é a dose de narcisismo, importante para manter a coesão da equipe, apesar da tênue linha que separa este atributo de algo destrutível para o ambiente organizacional. Outro componente que faz com que a dinâmica da liderança ocorra é a identificação dos membros de um grupo com o seu líder. Quanto mais os liderados conseguem se identificar com ele, mais consistente será o elo entre ele e a equipe. Através da identificação o sujeito assimila um aspecto que é do outro, transformando seus ideais. Estes aspectos são caracterizados por um valor, um atributo, algo do outro que de alguma forma lhe é significativo. A identificação abrange outros conceitos psicológicos como a imitação, empatia, simpatia, contágio mental, e é através deste mecanismo que o sujeito se constitui psiquicamente como ser humano (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001). Como a linha é sempre muito tênue entre o que é saudável e o que adoece, o amor-fusão pode ser um bom exemplo de excesso de identificação. Para Enriquez (2007), nos casos de amor-fusão, o sujeito sente-se possuído pelo outro, perdendo a sua própria individualidade, autonomia e possibilidade de criação, pois o sujeito preenche todo o seu espaço com esse amor total que dedica ao outro. Essa paralisia da singularidade evoca várias problemáticas que vão desde a impossibilidade de criar, propor estratégias baseadas em sua própria percepção, quanto, por exemplo, no caso de uma demissão, o membro da equipe que está colado ao líder sentir um vazio e uma perda da própria identidade chegando a níveis de depressão ou suicídio. Um exemplo interessante de amor-fusão pode ser mencionado na figura de Adolf Hitler, pois aqueles que o seguiam jamais questionavam suas ideias políticas, principalmente sobre a hegemonia. Havia uma crença incontestável e absoluta por parte dos seguidores e isso garantia a coesão do grupo, como se pode comprovar com a própria história de seu poder (ENRIQUEZ, 2007). 99 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Não poderíamos deixar de lado, dado exemplo de Hitler, o tema do poder. Em tal caso, o poder é apreendido como sagrado, provoca respeito e amor. Na medida em que o poder é sagrado, ele não admite nuances, reflexões nem remorsos. Trata-se da união mística com o outro. Na medida em que o outro tem poder, ao unir-me a ele eu também possuirei poder. Os chefes nazistas participavam da essência de Hitler, e é por isso que eram seguidos. É através da comunhão de Deus, da fusão com Ele, que conseguimos obter uma parcela de santidade (ENRIQUEZ, 2007, p. 29).Esse tipo de relação impossibilita que tendências à autonomia se expressem e a busca de realizações pessoais seja percorrida, pois os indivíduos, submissos, totalmente dependentes do mestre, tentam se tornar semelhante a ele. Esse é um tipo de poder coercitivo que impõe atos, pensamentos, proíbe e reforça as tendências masoquistas inerentes no humano. Ao mesmo tempo que tem medo, também sentem satisfação, pois, aquele que ama tem poder e é poderoso. Segundo ideias de Enriquez (2007), ter poder, submeter-se a ele, delegar, tomá-lo para si, faz parte das preocupações do homem, do nascimento até a sua morte. E acrescenta que qualquer que seja o grupo existe uma relação de poder. ENRIQUEZN, Eugène. As figuras do poder. São Paulo: Via Lettera Editora e Livraria, 2007. Faria e Meneghetti (2011), apontam que embora o poder seja inerente das relações sociais, ele não pode ser capaz de impedir que a capacidade coletiva seja exercida em vista de atributos individuais. E concluem que a “liderança é a maneira como se usa o poder e poder é exercício da autoridade” (FARIA; MENEGHETTI, 2011, p. 105). A maior parte dos artigos discutem a liderança construtiva, Kets de Vries (2003), é um dos autores que se propôs a discutir o lado negro da liderança. A Revista Info RH publicou no mês de abril de 2015 um artigo contribuindo com o estudo sobre líderes abusivos. Se tiver interesse de ler a matéria, segue um LEO abaixo: 100 Psicologia Organizacional Visite o site abaixo e leia o material intitulado Artigo: o lado negro da liderança – quando os chefes se tornam abusivos. Disponível em: <http://inforh.pt/artigo-o-lado-negro-da-lideranca- quando-os-chefes-se-tornam-abusivos/>. Uma das contribuições deste texto é a ênfase nas ideias de Tepper (2000) sobre exemplos de comportamentos abusivos. Ele convida a pensar com que frequência você observa ou observou que o líder: • Ridiculariza as pessoas; • Ignora os liderados; • Trata mal as pessoas umas na frente das outras; • Invade a privacidade; • Relembra erros do passado; • Quebra promessas que faz; • Não permite interação entre as pessoas; • Mente com frequência. Um outro autor interessante que discute questões referente a liderança e seus conflitos é Otto Kernberg, um psicanalista que se dedica a estudar organizações narcisistas. Abaixo maiores informações sobre um de seus livros Otto Kernberg – Ideologia, conflito e liderança em grupos e organizações. 2000. Diferentes tipos de lideranças provêm de diferentes relações estabelecidas entre líder e liderados. Um líder autoritário, por exemplo, provoca reação da equipe completamente diferente daquele líder que é mais democrático. A função da liderança, portanto, tem um papel fundamental na forma como cada grupo estabelecerá as suas relações interpessoais com seus pares e com os objetivos organizacionais. Além disso, é preciso sinalizar que a liderança é um poder de relação em que operam, o líder, o liderado, a situação, o contexto social de uma época. Enfim, não podemos dar créditos a um pensamento unilateral e, sim, uma performática mais ampla que dê conta da complexidade que é o tema da liderança. 101 Liderança nas Organizações Capítulo 3 A ANPAD - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração desenvolve pesquisas nas áreas das ciências administrativas, contábeis e afins no Brasil. Possui periódicos que contém inúmeros artigos publicados com temas interessantes, dentre eles a liderança. O site é: <http://www.anpad.org.br/~anpad/> e as revistas para que possam consultar os artigos são as seguintes: Atividades de Estudos: 1) Ao longo do tempo, muitas foram as teorias que nasceram para compreender a liderança e verificar a sua relevância nos resultados organizacionais. Verificamos ainda que não existe um saber que é verdadeiro e outros que são falsos em torno liderança, há sim aqueles que se diferem, que são antagônicos, assim como uns mais profundos e outros mais superficiais. Diante do que foi discutido neste capítulo, quais pontos que você destacaria como importantes sobre a liderança? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 102 Psicologia Organizacional 2) Muito se ouve falar que pessoas narcisistas são difíceis de lidar, pois se preocupam apenas consigo mesmas. De que forma uma dose de narcisismo é importante para a personalidade de um líder? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 3) Defina os conceitos de identificação e idealização, que são fenômenos que ocorrem entre líder e liderados, ou seja, estão no cerne da liderança organizacional. ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ aLgumas COnsiderações Neste capítulo, procuramos contemplar o tema da liderança a partir de diferentes perspectivas conceituais, bem como enfatizando alguns assuntos da ordem dos fenômenos e aspectos disfuncionais. Como visto, inúmeras são as pesquisas e estudiosos da área que buscam definir o tema da liderança, porém, não existe nenhum olhar unilateral que dê conta de propor um olhar completo sobre este tema, deixando sempre uma brecha para mais pesquisas. Além do mais, a liderança possui um forte viés social, portanto, este se transformando, transforma-se também a essência da liderança. 103 Liderança nas Organizações Capítulo 3 Cada época tem suas características próprias resguardadas, por isso, o tema da liderança percorre inúmeros saberes, e se encontra com um universo interdisciplinar que vaga pela psicologia, pela administração, pela sociologia, entre tantas outras. Considera-se que as pesquisas sobre liderança, bem como o exercício da liderança, na atualidade, precisam se aproximar de abordagens que legitimam o valor do contexto social em que se vive. A relação entre servo X senhor já está ultrapassada há séculos, embora muitas empresas ainda funcionem neste parâmetro, apesar de seu insucesso ou altos índices de rejeição. Por fim, este tema ainda pode ser muito discutido, de um lado pela sua relevância,de outro, como já mencionado, por ser um tema que conecta-se com as constantes mudanças sociais e, por isso, merecem ser ampliadas as discussões a seu respeito. reFerênCias ÁVILA, L. A. O Eu é plural: Grupos: a perspectiva psicanalítica. Vínculo – Revista do NESME, São Paulo, v.1, n.6, p. 39-52, 2009. AVOLIO, B. J; GARDNER, W. L. Authentic leadership development: getting to the root of positive forms of leadership. Leadership Quarterly, v. 16, n. 3, p. 315-338, 2005. BASS, B. M.; STEIDLMEIER, P. Ethics, character, and authentic transformational leadership behavior. Leadership Quarterly, v. 10, n. 2, 1999, p. 181–217. BENDASSOLLI, P. F.; MAGALHÃES, M. O.; MALVEZZI, S. Liderança nas organizações. In: ZANELLI, J. C.; Borges-Andrade J. 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