Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Bases da Genética Cada célula do nosso corpo tem um conjunto de informações contidas no DNA, o qual é responsável por características genotípicas e fenotípicas individuais e pela herança genética, as características que herdamos de nossos progenitores, incluindo doenças. O DNA contém genes, trechos de DNA com informações para RNA ou proteína, guardados, em conjunto, dentro dos cromossomos. O gene é a parte funcional do DNA (apenas 3% do todo), e cada um deles é responsável por uma determinada informação fundamental. Como a espécie humana herda suas características e doenças? 1. Com a fecundação, há formação do zigoto, célula totipotente e a primeira célula somática e diploide (23 pares de cromossomos, sendo 22 autossômicos e 1 par sexual) do organismo; 2. A partir do zigoto, por meio da mitose (célula mãe que origina 2 células filhas com o mesmo número de cromossomos), se originam todas as células do organismo, que serão: somáticas, pois somam os 23 cromossomos herdados da mãe com os 23 cromossomos herdados do pai; e, diploides (2n), pois contêm 23 pares de cromossomos, onde 22 pares são autossômicos e 1 par é sexual. 3. A partir das mitoses do zigoto forma-se o blastômero, formado por 2, 8 ou mais células totipotentes; 4. As células do blastômero dão início à mórula, composta por células totipotentes que se dispersam formando uma cavidade contendo líquido e originando: a. O âmnio; b. O blastocisto (2n), composto por células pluripotentes. 5. A partir do blastocisto forma-se o trofoblasto, células pluripotentes que dão origem ao blastocélio, com células tronco diploides embrionárias, pluripotentes, que formam tipos diferentes de tecido. Logo, do zigoto até a mórula inicial as células são totipotentes e originam tecidos embrionários e extraembrionários (placenta). As células do blastocisto e blastocélio são pluripotentes, ou seja, originam somente tecidos embrionários. Já as células do cordão umbilical, da medula e do sangue são células multipotentes, ou seja, são capazes de se diferenciar somente no tecido do qual fazem parte. Célula tronco EMBRIONÁRIA: células que compõem o interior do blastocisto entre o 5º e o 7º dia de desenvolvimento e têm a capacidade de formar vários tecidos ou órgãos. São pluripotentes pois são células primitivas, indiferenciadas do embrião (2n), capazes de se tornarem uma variedade de tipos celulares especializados de qualquer órgão ou tecido. Célula tronco ADULTA: são células multipotentes indiferenciadas de um tecido diferenciado que podem diferenciar-se para produzir o tipo de célula especializada do tecido que a originou. Mutações Mutação é qualquer alteração permanente no DNA (não passível de reparo). Pode ocorrer tanto em células da linhagem germinativa (haploide) quanto somática (diploide). O impacto das mutações em células germinativas e somáticas é diferente: Mutações em células da linhagem GERMINATIVA: poderão ser transmitidas para gerações futuras, gerando gametas mutantes. Mutações em células da linhagem SOMÁTICA: não poderão ser transmitidas para gerações seguintes. Câncer É uma doença genética (várias classes de genes podem estar alteradas); É de origem monoclonal: uma única célula mutante dá origem, por crescimento clonal, a uma população heterogênea de células que compõem o tumor; É uma doença heterogênea (os diferentes genes expressam diferentes tipos de câncer, por exemplo); 10-12% são herdados (mutação em células da linhagem germinativa), mas a maioria dos casos é adquirida (mutação em células da linhagem somática); É considerada uma doença genômica que resulta do acúmulo de alterações não letais no DNA da célula. A progressão também depende do microambiente tumoral, o qual é capaz de modular a extensão da proliferação celular, invasividade e potencial metastático, e é influenciado por mudanças no estroma do tumor e por angiogênese (a partir de vasos pré-existentes adjacentes), acompanhados por resposta inflamatória adjacente, que pode funcionar como fator promotor do crescimento tumoral (inflamação gera mediadores químicos, as citocinas, que funcionam como fator de crescimento); No câncer, há alterações genéticas em várias classes de genes envolvidos com proliferação, diferenciação celular, controle do ciclo celular, apoptose e reparo do DNA. As alterações genéticas que caracterizam as mutações associadas ao câncer podem ser sutis (p. ex., mutações pontuais ou inserções e deleções) ou grandes o bastante para produzir alterações cariotípicas como hiperexpressão, amplificação e translocação, que provocam: Ativação de Proto-oncogenes em Oncogenes: ocasiona proliferação e diferenciação anormais. Alteração em genes que regulam a apoptose, impedindo-a, como: o Hiperexpressão de BCL-2; o Inativação de BAX. Inativação ou deleção de genes supressores tumorais: ocasionam alteração no controle do ciclo celular e ausência da repressão da divisão celular. Inativação de genes de reparo do DNA: deixam de manter a integridade do genoma e permitem mutações em outros genes, que se acumulam. Dessa forma, alterações genéticas (em classes de genes) levam a alterações moleculares (expressão de produtos genéticos alterados) subsequentes: 1. Ativação de Oncogenes Alterações na proliferação e diferenciação celular; 2. Inativação de supressores tumorais Descontrole do ciclo celular; 3. Alterações em genes que regulam a apoptose (hiperexpressão BCL-2/BCL-X e inativação de BAX) Maior impedimento da apoptose; 4. Inativação de genes do reparo do DNA Instabilidade genética; 5. Alteração em genes de Caderinas e Metaloproteínas Invasão local (e, consequentemente, metástase). As alterações genéticas, moleculares e mecanismos adicionais que determinam invasão local e metástases caracterizam o fenótipo maligno. Proto-oncogenes São genes normais que codificam fatores envolvidos em processos de proliferação e diferenciação celular normal; Quando alterados são convertidos em oncogenes envolvidos nas proliferações neoplásicas, pois são aceleradores da proliferação celular; São considerados genes dominantes no nível celular; As células podem ser transformadas por meio de combinações de oncogenes (mas nenhum oncogene isolado é capaz de transformar completamente a célula), pois cada oncogene é especializado para induzir parte do fenótipo necessário para uma transformação completa. Exemplos: o Oncogene capaz de induzir a célula a secretar fatores de crescimento = possibilita crescimento celular; o Oncogene torna as células mais sensíveis aos fatores de crescimento = imortaliza as células. Os proto-oncogenes podem ser convertidos a oncogenes por: Mutação pontual: ocorre por substituição de bases que levam à alteração de aminoácidos na proteína codificada. o Ex.: Ras (H-RAS): substituição de uma base leva a troca do 12º aminoácido da proteína codificada = Câncer de bexiga. Amplificação gênica = Superexpressão: aumento do número de cópias do oncogene e superexpressão dos produtos dos oncogenes. o Ex. 1: N-myc é amplificado em 30% dos neuroblastomas. o Ex. 2: ERB-B2/C-neu são amplificados em 20-25% dos cânceres de mama. Translocação cromossômica: leva à superexpressão do oncogene ou de um gene quimérico (proteínas de fusão). Resulta em rearranjos e novos genes quiméricos. o Ex. 1 – translocação não- recíproca (22-9/BCR-ABL): o segmento BCR do cromossomo 22 é translocado para o cromossomo 9 onde está o gene ABL, gerando proteína quimérica e causando expressão aberrante de ABL; Proteína quimérica mais longa = Leucemia Mieloide Crônica (LMC); Proteína quimérica mais curta = Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA). o Ex. 2 – translocação recíproca (8-14/C-MYC-IG): esta translocação é recíproca pois parte do cromossomo 8 vai para o 14 e vice-versa. Isto faz com que o oncogene C-MYC (do cromossomo 8 que foi translocado para o 14) seja expresso da mesma forma que o gene Ig do cromossomo 14, gerando desregulação do C- MYC e expressão anormalmente alta; Linfoma de Burkitt (células B). Genes que regulam a Apoptose O gene BCL-2 é o protótipo que regula a apoptose, se ligando ao Fator Ativador de Protease Proapoptótico (APAF-1) e inibindo-a. Nos tumores, há hiperexpressão de BCL-X e BCL-2, produzidos em grande quantidade pelas células malignas, que impedem a apoptose. Assim, a célula mutante progride no ciclo celular, acumulando instabilidades genéticas. A replicação da célula mutante origina o câncer. Conversão de Proto-oncogenes em Oncogenes Codifica Relação com SIS Fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) Superexpressão de SIS Astrocitoma Osteossarcoma ERB-B1 Receptor de fator de crescimento epidérmico (EGFR) Superexpressão do ERB-B1 Carcinoma de células escamosas de pulmão Gliomas ERB-B2 (C-neu) Amplificação do ERB-B2 Ca mama (20-25%) Ca ovário K-RAS Fatores de transdução de sinal entre receptores e o núcleo Mutação pontual K-RAS H-RAS N-RAS K-RAS: Ca pulmão, cólon e pâncreas H-RAS: Ca de rim e bexiga N-RAS: Melanomas, Leucemias/ Linfomas H-RAS N-RAS ABL Translocação de ABL (Não recíproca) 22 - 9 Leucemina Linfoblástica Aguda e Leucemia Mieloide Crônica C-MYC Proteína reguladora nuclear Fator de transição Translocação de C-Myc (Recíproca) 8 - 14 Linfoma de Burkitt N-MYC Amplificação de N-myc Neuroblastoma (30%) L-MYC N-myc L-myc Ca pequenas células pulmão Genes de reparo do DNA Além de possível lesão do DNA pelos agentes ambientais, o DNA das células em divisão normal é suscetível a alterações resultantes de erros que ocorrem espontaneamente durante a replicação do DNA. Se estes erros não forem reparados imediatamente, também são capazes de levar as células à transformação neoplásica. O reparo do DNA é importante na manutenção da integridade do genoma. Quando ambas as cópias dos genes de reparo se perdem por mutação, ocorre instabilidade genômica. Os genes de reparo do DNA propriamente ditos não são oncogênicos, mas suas anormalidades permitem mutações em outros genes, durante o processo normal de divisão celular. Exs.: genes de reparo PMS, PMS2, MLH1, MSH2; possuem relação com câncer colorretal não-polipose hereditário (HNPCC), desordem caracterizada por carcinomas do cólon familiares que afetam predominantemente o ceco e o cólon proximal; o Numa primeira mutação, o alelo silvestre (normal) compensa o mutante; o Em uma segunda mutação, o alelo (silvestre) é inativado e desencadeia o câncer. Genes supressores tumorais Os genes supressores regulam o crescimento celular, por meio da produção de proteínas que “freiam” a proliferação celular. A perda da função (ou inativação) do supressor é um evento chave em muitos ou, possivelmente, em todos os tumores humanos. O gene supressor tumoral TP53 (guardião do Genoma) é o protótipo que codifica a proteína p53. O gene P53 é também o alvo mais comum para alterações genéticas nos tumores humanos e sua perda homozigótica da atividade pode ocorrer virtualmente em todos os tipos de câncer, inclusive em: câncer de pulmão, cólon e mama – as 3 principais causas de morte por câncer. Na maioria dos casos, mutações inativadoras que afetam ambos os alelos TP53 são adquiridas nas células somáticas. Com menos frequência, alguns pacientes herdam um alelo TP53 mutante, resultante na doença chamada de Síndrome de Li-Fraumeni. Nas células normais, a proteína p53 é uma proteína instável ubiquitilada pela ligasse de ubiquitina MDM2 e rapidamente degradada pelo proteassoma. Frente à agressão do genoma (com gene P53 e proteína p53 silvestres), o gene TP53 realiza a estabilização da proteína p53, que direciona as células estressadas a uma das três vias: à supressão da divisão celular (para o ciclo entre as fases G1 e S, garantindo tempo extra para o reparo), ao reparo ou, caso este não seja possível ou o dano seja muito grande, à apoptose. Em vista dessas atividades, chama-se p53 corretamente de “guardião ou polícia molecular”. Quando ocorre mutação do gene P53: o gene alterado (mutado) codifica uma proteína p53 mutada que é afuncional, isto é, que deixa de parar o ciclo celular e de reparar o DNA e não induz apoptose; a célula alterada, então, se replica mutante, ocorrendo aumento da proliferação celular e favorecendo mutações adicionais. Assim, em células que sofreram danos ao DNA com TP53 e p53 mutados, ocorre: replicação celular mutante, progressão no ciclo celular e instabilidades genômicas relacionadas ao câncer. A inativação de TP53 pode ocorrer por mutações ou por outros mecanismos, como: Interação com proteínas virais: alguns vírus como o HPV têm, no seu genoma, um oncogene que codifica uma oncoproteína (E6) associada à ubiquitina ligase permitindo maior degradação da p53 (degradação mais rápida que em situações normais). Assim, a proteína E6 viral faz parte da estratégia do vírus para induzir proliferação celular na presença de dano ao DNA, impossibilitando a ação da p53, mesmo sem mutação. Através da mutação de MDM2: a MDM2 é uma proteína que normalmente inibe a função da p53, através do aumento de sua degradação; níveis aumentados (hiperexpressão) de MDM2 causam perda funcional da p53 nestes tumores. o Isso ocorre em 33% dos sarcomas humanos e 50% das leucemias; INATIVAÇÃO DE GENES SUPRESSORES TUMORAIS RB MUTAÇÃO SOMÁTICA: Retinoblastoma, osteossarcoma, câncer de mama, cólon e pulmão MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Retinoblastoma, Osteossarcoma BRCA1 BRCA2 Só existem tumores associados; MUTAÇÃO HERDADA nestes genes MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Câncer de Mama o Feminino, o Masculino Câncer de Ovário PTEN e KLF6 Tumores associados com mutação hereditária neste gene são ignorados MUTAÇÃO SOMÁTICA: Câncer de próstata P53 MUTAÇÃO SOMÁTICA: Maioria dos cânceres humanos MUTAÇÃO HEREDITÁRIA = raro NF1 MUTAÇÃO SOMÁTICA: Neuroblastoma MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Neurofibromatose-1 Sarcomas APC e -Catenina MUTAÇÃO SOMÁTICA: Câncer de intestino, estômago, pâncreas MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Polipose adenomastosa familiar (PAF) e câncer de intestino WT1 MUTAÇÃO SOMÁTICA: Tumor de Wilms e mama MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Tumor de Wilms/Nefroblastoma NF2 MUTAÇÃO SOMÁTICA: Schwanoma Meningioma MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Neurofibromatose- 2 P16 (INK4a) MUTAÇÃO SOMÁTICA: Câncer de esôfago e pâncreas MUTAÇÃO HEREDITÁRIA: Melanoma Observação 1: Neurofibromatose tipo I (NF1): mutação herdada; ocorrem neurofibromas, gliomas de nervo óptico, nódulos hipercromáticos da íris (nódulos de Lisch) e manchas hiperpigmentadas tipo café com leite. Neurofibromatose tipo II (NF2): mutação herdada; ocorrem Schwanomas (tumor de células de Schwann produtoras de mielina) e múltiplos meningiomas Observação 2: O retinoblastoma, causado por mutação de Rb, é um tumor maligno da retina desenvolvido a partir dos retinoblastos (células precursoras dos fotorreceptores da retina). A maioria ocorre em crianças (incidência anual: 4/1.000.000 de crianças). Representa aproximadamente 3% dos tumores na faixa etária abaixo dos 15 anos. Patogênese do Retinoblastoma O gene Rb é um supressor de tumor recessivo e está associado ao câncer quando ambas as cópias normais se perdem. Casos hereditários (familiares) – hipótese da oncogênese, em duas etapas: 1. Primeira mutação é herdada: a alteração genética é herdada de um dos pais afetados e está presente (em heterozigose) em todas as células somáticas do corpo. A criança portadora de um alelo Rb nasce com uma cópia do gene Rb normal e outra mutada e é perfeitamente normal, exceto pelo maior risco de desenvolver câncer (tumores associados as mutações em Rb). Gene da Telomerase Células cancerosas têm ativação do gene Telomerase, cuja função é constituir os telômeros, que determinam o número de duplicações celulares pela qual uma população de células passa. A presença (hiperexpressão) da telomerase nas células neoplásicas provoca substituição dos telômeros podados à cada ciclo de divisão celular, mantendo sua integridade e capacitando as células a se replicarem eternamente, imortalizando-as. 2. Segunda mutação é adquirida: ocorre, em uma das muitas células da retina que já são portadoras da primeira mutação. A inativação do segundo alelo por mutação somática leva à perda da expressão do gene e ao retinoblastoma. Casos esporádicos – somente mutações esporádicas: ambas as mutações ocorrem somaticamente dentro de uma única célula da retina, cuja progênie forma o tumor. Ambos os alelos Rb se perdem por mutação somática. Marcas Fenotípicas das Células Neoplásicas pela aquisição do Genótipo Maligno Autonomia de proliferação: pela ativação de oncogenes. Insensibilidade aos sinais inibidores de mitose: pela mutação inativadora de supressores tumorais, proteínas reguladoras das proteínas mitógeno- ativadoras MAPKs (map-quinases; transdução de sinal) e CDKI (inibidores de quinase dependentes de ciclina). Evasão da apoptose: pela hiperexpressão de BCL-X e BCL-2; mutação inativadora de p53. Evasão da senescência: pela hiperexpressão do gene da telomerase. Evasão do sistema imunológico; Instabilidade genômica; Capacidade de invasão: pela alteração das caderinas e produção de metaloproteinases. Capacidade de metastatizar. Alterações Epigenéticas do Câncer Epigenética é um mecanismo alternativo de modulação da expressão gênica que não altera a sequência de nucleotídeos de um gene, mas afeta sua expressão. A epigenética permanece preservada após sucessivas divisões, sendo a herança da informação com base na expressão do gene e não na sequência de bases do DNA. As epimutações seriam equivalentes às mutações por ativarem oncogenes e instigarem genes supressores tumorais. A metilação do DNA (modificação química por adição do grupo metil ao carbono 5 da citosina) é um mecanismo epigenético importante no câncer por alterar a expressão de genes críticos.