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Didática do Ensino Superior
Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Rita Maria Lino Tarcia
Prof.ª Me. Jane Garcia de Carvalho
Prof.ª Me. Júlia de Cássia Pereira do Nascimento
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin
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Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Quem atua como docente no Ensino Superior?
• O que é “DIDÁTICA”?
• Para ensinar, basta só saber?
• Exercício da Docência no Ensino Superior
• Saberes Necessários aos Professores
Fonte: iStock/Getty Im
ages
 · Refletir sobre aspectos referentes à docência universitária e à Didática neste nível de 
ensino que deverão estar bem claros em seu futuro trabalho.
Aqui estamos novamente com a disciplina Didática do Ensino Superior, para nesta unidade 
discutirmos o tema Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade.
Esta unidade é muito importante, pois vamos refletir sobre aspectos referentes à docência 
universitária e à didática neste nível de ensino que deverão estar bem claros em seu futuro trabalho.
Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
Contextualização
Quem é o docente do Ensino Superior? Por que falamos em identidade e não somente 
em formação?
[...] Daí a necessidade – a urgência mesma – da análise de algumas destas condições no hoje brasileiro, 
ao discutirmos o papel do professor universitário como educador.
Hoje, mais do que ontem, a sociedade brasileira reclama de seu professor universitário sua identificação 
com o educador.
O professor se faz educador autêntico na medida em que é fiel a seu tempo e a seu espaço. Sem esta 
fidelidade, mesmo bem intencionado, se compromete sua atividade formadora. É que não pode haver 
formação do educando se o conteúdo da formação não se identifica com o clima geral do contexto a 
que se aplica. Seria antes uma deformação. [...] (FREIRE, in ROMÃO,2008, p. 140-141).
Reflita sobre o trecho de um texto de Paulo Freire sobre o educador. Você acha que isto só 
se aplica aos professores da Educação Básica?
Pense bem, será que o professor universitário não educa?
Leia o texto na íntegra acessando o link a seguir.
Disponível: http://goo.gl/aAkQhp
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Quem atua como docente no Ensino Superior?
O perfil do docente no Ensino Superior difere daquele encontrado entre professores que 
atuam na Educação Básica. A formação acadêmica de parte considerável dos professores do 
Ensino Superior não levou em consideração a possibilidade da docência, ao não discutir aspectos 
didático-pedagógicos importantes. Encontramos médicos, advogados, dentistas, engenheiros 
e outros profissionais que começam na docência superior após o preenchimento de uma 
ficha de identificação, passando assim a atuar simultaneamente no Ensino Superior e como 
profissional das áreas específicas. Segundo Pimenta e Anastasiou (2005), o título de professor 
Universitário acompanhado da profissão que exerce, traz a este profissional certo status social, 
o que não acontece quando o título “professor” aparece sozinho. 
Pimenta e Anastasiou (2005) relatam pesquisas que envolvem a profissionalização dos 
professores Universitários. O processo de socialização acontece de diversas formas, a indutiva 
é uma delas, ou seguindo a rotina de outros, ou mesmo a autodidata, o que apesar de positiva 
é insuficiente. Ao tratar de modelo de Ensino Universitário, é comum professores repetirem 
experiências vivenciadas em sua própria formação. 
Podemos afirmar por nossa experiência docente, tanto no Ensino 
Fundamental quanto no Ensino Superior, que a formação inicial e a continuada do professor 
são fatores importantes na definição da sua didática e prática pedagógica.
Pesquisas internacionais como a da UNESCO apontam que a maioria dos professores 
que atuam na Educação Superior não estão preparados pedagogicamente. Procurando 
acompanhar esses profissionais em suas trajetórias, muitas Universidades investem na 
capacitação de seus docentes para atuação pedagógica.
A didática e a prática de ensino construíram uma trajetória histórica e iremos brevemente 
recordar alguns conceitos importantes desse processo.
O que é “DIDÁTICA”?
O vocábulo “didática” deriva da expressão grega Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que se 
traduz por arte ou técnica de ensinar.
A Didática é entendida como a arte ou técnica de ensinar. Difundiu-se com o aparecimento 
da obra de Jean Amos Comenius (1592 – 1670), “Didactica Magna”, ou “Tratado da Arte 
Universal de Ensinar Tudo a Todos”, publicada em 1657.
Todo docente precisa conhecer esta Ciência, cujo objetivo fundamental é a reflexão 
sistemática do processo ensino-aprendizagem, as estratégias de ensino, as questões práticas 
relativas à metodologia e as estratégias de aprendizagem. 
Portanto, desenvolver a arte de ensinar é muito mais do que puramente treinar o educando 
no desempenho de destrezas ou habilidades. (FREIRE, Paulo)
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
Podemos encontrar diferentes definições para Didática.
Didática
Didática é uma re�exão
sistemática sobre o processo
de ensino-aprendizagem que
acontece na escola e na aula,
buscando alternativas para os
problemas da prática pedagógica.
Arte de ensinar e de fazer aprender.
Conjunto de preceitos que tem por
�m tornar o ensino prático e e�ciente.
Ciência auxiliar da pedagogia que
promove os métodos mais adequados
para a aprendizagem.
Didática é o estudo da
situação instrucional, isto é,
do processo de ensino e
aprendizagem, e nesse
sentido ela enfatiza a
relação professor-aluno.
http://michaelis.uol.com.br/
moderno/portugues/index.php?
lingua=portuguesportugues
&palavra=didática.
Acesso em julho de 2009.
http://www.priberam.pt/dlpo/
de�nir_resultados.aspx.
Acesso em julho 2009.
MASETTO, Marcos Tarciso.
Didática: a aula
como centro.
4. ed. São Paulo:
FTD, 1997, p.13
Fonte: TARCIA, Rita, 2009.
Má formação
escolar
Escolas negligentes
que se preocupam
com coisas super�ciais
Estudo de coisas
uteis para a vida
Estudo completo
de cada assunto
sem separação
Enraizar a
ideia
Despertar interesse
e dar uma ideia
geral antes de
ensinar
Fazer com que o
aluno tire conclusões
próprias e não decore
opiniões alheias
Separação do
conteúdo em
partes, melhorando
o aprendizado
Aperfeiçoamento
dos conhecimentos
anteriores.
“Boa base”
Que tudo seja
ensinado a partir
das causas. Todos
os conteúdos
interligados
Progressão do
mestre e treinamento
dos alunos com
problemas
e exercícios
Conteúdos
interligados.
Dependência entre
as partes do início
ao �m
Esquecimento dos
alunos que não possuem
contato com o conteúdo
SoluçõesCausas
Fonte: TARCIA, Rita, 2009
Obs.: Com relação ao quadro acima, não nos responsabilizamos por erros gramaticais/ 
ortográficos. A escrita é de responsabilidade da autora do material.
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Sintetizando, poderíamos dizer que ela funciona como o elemento transformador da teoria 
na prática.
Comênio (1592) dedicou sua vida acadêmica inteiramente à promoção da paz e à 
igualdade de direitos de aprendizagem para todos, tornando-se o precursor do pensamento 
moderno sobre a Pedagogia (final do século XVII).
Ele buscou um método para ensinar de forma mais rápida e segura, pois pretendia tornar a 
aprendizagem eficaz e atraente, mediante cuidadosa organização, em que ele próprio se empenhava 
na elaboração de manuais didáticos que iria uniformizar o conhecimento a ser transmitido, como 
também a língua em que esse fosse veiculado, o que é uma novidade na época. 
A ideia defendida é que o ponto de partida da aprendizagem deve ser o conhecido, do 
simples para o complexo, do concreto para o abstrato, em que o verdadeiro estudo parte do 
“livro da natureza”. 
Processo seguro e excelente de instruir, em todas as comunidades de qualquer reino Cristão, 
cidades, aldeias, escolas tais que toda juventude de um ou outro sexo, sem excetuar ninguém 
em parte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada 
depiedade, e desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo que diz 
respeito à vida presente e futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com 
solidez (COMÊNIO, 1997, p.43).
Jean-Jacques
Rousseau (1712)
Propõe uma nova concepção,
baseada nas necessidades e
interesses dos alunos, o que
modi�ca o pensamento sobre
a didática.
As ideias de Comênio ajudam
outros a pensar sobre novas
alternativas.
Com o desenvolvimento da
sociedade, surge a necessidade
do ensino, planejado e elaborado.
Surge a
instituição escolar
Necessidade de pensar
sobre o ensino
Fonte: TARCIA, Rita, 2009
A necessidade de estabelecimento de caminhos constrói as bases para Herbart, no século 
XIX, criar a Pedagogia Científica, designando passos formais para o ensino. Segundo Pimenta 
(2005), Herbart, dando ênfase ao método, distancia-se de Rousseau, que dá ênfase ao sujeito 
que aprende.
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
Herbart (1776) – Pedagogia Científi ca
Inspirador da
Pedagogia
Conservadora.
A escola precisa
introduzir ideias corretas
na mente dos alunos;
A moralidade é
atingida por meio
da educação;
Aponta o
caminho didático a
ser seguido.
Os interesses dos alunos
são determinados por
professores e instituição;
Aquisição do
conhecimento pela
direção do professor;
Fonte: TARCIA, Rita. 2009
Para Herbart, o professor deveria percorrer passos formais como: 
clareza na exposição, associação dos conhecimentos novos com os anteriores, sistema e 
método. Herbart retoma as ideias do método único de Comênio. As ideias de Rousseau, 
questionadas por Herbart e seus seguidores, é a base da “Escola Nova”, que questiona o 
método único, de acordo com Pimenta e Anastasiou: 
Amplamente desenvolvido na primeira metade do século XX, o movimento escolanovismo enfatizava o 
aprendiz como agente ativo da aprendizagem e a valorização dos métodos que respeitassem a natureza da 
criança, que a motivassem, que a estimulassem a aprender (Pimenta e Anastasiou, 2005, p. 45).
Algumas vertentes apontavam para as diferenças individuais, tendo como referência a 
Psicologia. Uma das explicações para o fracasso escolar eram as diferenças individuais, ou 
seja, a criança não tinha sucesso em sua aprendizagem por sua própria natureza. Assim, 
a responsabilidade sobre a aprendizagem não recaía sobre a didática, os métodos, ou o 
relacionamento entre professores e alunos; podemos dizer que nesta perspectiva o professor 
cumpre seu papel e se os alunos não aprendem é uma questão de natureza individual. 
Segundo Libâneo (1990), a escolanovista está centrada na Psicologia e nas leis do 
desenvolvimento biológico. A Pedagogia é tratada como teoria da educação e a Didática 
refere-se à teoria do ensino, ligada à Pedagogia, ambas restritas a métodos e procedimentos.
O desenvolvimento tecnológico dos anos 60 traz uma nova dimensão 
à Didática, que se resumiria em “formas de ensinar”. 
De acordo com Pimenta (2005), não cabe à Didática questionar os fins do ensino; trata-
se de um instrumental impregnado nos cursos de licenciaturas, criando alguns mitos 
como: os alunos veem a Didática como uma forma de adquirir técnicas para ensinar 
bem seus alunos; muitos docentes concebem a Didática como a teoria do ensino, aquela 
que instrumentaliza para profissão; consideram a Pedagogia e a Didática como campos 
restritos a questões de aprendizagem de crianças e adolescentes. Pimenta e Anastasiou 
atribuem outras perspectivas à Didática.
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Nessa perspectiva de ensino como fenômeno complexo e do ensinar como prática social, a tarefa 
da didática é a de compreender o funcionamento do ensino em situação, suas funções sociais, suas 
implicações estruturais... ajudar a criar respostas novas [...] (PIMENTA & ANASTASIOU, 2005, p. 49).
Ao analisarmos a evolução da Didática, podemos notar que de acordo com o contexto, a 
sociedade e as ideias defendidas em cada época, muda-se o conceito de Educação e, portanto, 
também o de Didática.
Em 1930, vivia-se o conservadorismo, a Didática utilizada focava a educação no professor 
e na aula, direcionando a exigência da aprendizagem apenas para o aluno. Utilizavam-se 
conteúdos tradicionais, com memorização e aplicação de provas para atribuição de notas.
Em 1970, utiliza-se a Didática para garantir a aprendizagem, com ênfase na elaboração dos 
planos de ensino e seleção de conteúdos.
Hoje, nosso compromisso educacional é com a qualidade cognitiva das aprendizagens. O 
professor deixa de ser transmissor de conhecimento para tornar-se mediador da preparação 
dos alunos para o pensar.
Vamos discutir e analisar a importância da Didática na formação e na atuação como 
professor universitário.
Segundo Pimenta (2005), pesquisadores de vários campos do Conhecimento acabam por 
adentrar no campo da docência no Ensino Superior. Como decorrência natural de suas 
atividades, traz consigo enorme experiência e conhecimentos em suas áreas de atuação; 
porém, não há reflexão sobre o que vem a ser professor. 
Por outro lado, as instituições não se responsabilizam por esta adequação profissional, 
sendo assim, ela ocorre “naturalmente”, de acordo com experiências vivenciadas por estes 
professores, quando eram alunos ou mesmo pela influência de outros professores que já 
atuam neste nível de ensino.
Que tipo de ensino desenvolvemos como docentes universitários? Devemos sempre nos 
lembrar das quatro perguntas básicas em relação ao ensino que vamos desenvolver e que nos 
permitem aplicar uma prática docente contextualizada e eficiente.
• O que ensinar?
• Como ensinar?
• Para que ensinar?
• Para quem ensinar?
Dependendo da postura e da visão que o professor tem de Educação, de ensino e de seus 
alunos, ele desenvolverá uma Didática diferenciada.
Por este motivo, é muito importante que você construa uma identidade docente que 
permitirá complementar sua formação, para além de conteúdos e técnicas. Esta postura fará 
de você um professor diferenciado.
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
A mudança de paradigma do professor, de transmissor para mediador do Conhecimento, 
pede-nos um trabalho mais elaborado, crítico e voltado para uma prática docente que se 
relacione com a prática social e promova a aprendizagem dos alunos em forma de descoberta, 
apreensão, modificação de comportamentos e aquisição de conhecimentos.
Segundo Zaballa (1998), ensinar envolve estabelecer uma série de relações, que 
devem levar o aluno à própria elaboração de representações pessoais sobre o objeto 
de aprendizagem. Para o autor, a aprendizagem é pessoal; mesmo possuindo elementos 
compartilhados, ela não acontece de forma uniforme e por este motivo a atuação do 
professor deve ser diversificada.
Para o autor, a atividade ou exercício “solto”, por melhor elaborado que seja, não tem propósito 
se não houver conexão com o que o aluno já sabe e o novo conteúdo. Atividades devem envolver 
um processo mental interno com o conhecimento já existente e o novo conteúdo.
A atividade que gera um processo mental e que dá origem à aprendizagem com significado é 
aquela que mobiliza os alunos à necessidade de fazer perguntas. Assim, o conhecimento deixa de ser 
o principal elemento dentro da sala de aula, como acontece no ensino tradicional. A aprendizagem 
significativa do aluno passa a ser a principal tarefa a ser desempenhada pelo professor.
Na análise social, muitas vezes as aulas não passam de “palestras”. O professor dirigindo 
a aula e os alunos ouvindo e procurando entender os elementos essenciais. Ao olharmos 
nesta perspectiva, devemos ter a consciência de que as aulas ministradas por professores na 
Universidade não podem ocorrer sem interação do estudante.
A forma expositiva de “ensinar” leva o professor a ter sua tarefa 
cumprida após a exposição e fixação do conteúdo. Ensinando desta maneira não está conectada 
a ação de aprender. Na citação de Reboud, podemos confirmar esta prática.
O aluno registra palavras ou fórmulas sem compreendê-las, repete-assimplesmente para conseguir 
boas classificações ou para agradar ao professor (...) habitua-se a crer que existe uma “língua 
do professor”, que tem de aceitar sem a compreender, um pouco como a missa em latim (...) O 
verbalismo estende-se até às matemáticas; pode-se passar a vida inteira sem saber por que é que 
se faz um transporte em uma operação; aprendeu-se, mas não se compreendeu; contenta-
se em saber aplicar uma fórmula Mágica (REBOUL, 1992 apud PIMENTA, 2005, p. 208).
Segundo Pimenta (2005), a ação de ensinar é definida na relação com a ação de aprender. 
Assim, a intencionalidade do ensino desencadeia necessariamente a ação de aprender. 
Libâneo (1990), na relação entre o ensinar do professor e o apreender do aluno, aponta 
como ação docente:
• Clareza dos objetivos a serem alcançados;
• Seleção e organização dos conteúdos;
• Definição do nível de aprendizagem que seu aluno possui;
• Definições metodológicas, que seriam os caminhos para chegar a determinado fim.
Não podemos ter como parâmetro a nossa formação ou a formação 
que desejamos que o aluno tivesse, e sim a formação do aluno real. Se 
pensarmos nas aulas, podemos afirmar que, segundo Pimenta (2005), 
o aprender significa “tomar conhecimento de, reter na memória mediante o estudo, a 
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observação ou a experiência”, em direção do aprender do latim apprehendere, que significa: 
“segurar, agarrar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender”. A autora 
afirma: “É necessário rever o conceito de “assistir às aulas”, pois a ação de aprender não é 
passiva. Exige informar-se, exercitar-se, instruir-se”.
A Didática é uma das áreas da Pedagogia, que investiga os fundamentos, as condições e 
os modos de realizar a Educação por meio do Ensino. Não podemos esquecer que o Ensino 
sempre está historicamente situado.
Hoje não procura criar métodos e técnicas válidos para qualquer tempo e lugar. Ela nos 
ajuda a entender as novas demandas que a atividade de ensinar produz e assim aprender 
com elas, encontrar respostas, criar novos modos de atuar nos âmbitos escolares, auxiliando, 
assim, o trabalho dos professores. A Didática aponta para várias finalidades de Ensinar de 
diversos pontos de vista.
Para ensinar, basta só saber? 
Você já ouviu falar de transposição didática?
A transposição didática é entendida como um processo no qual “Um conteúdo do saber que foi 
designado como saber a ensinar sofre a partir daí, um conjunto de transformações adaptativas que 
vão torná-lo apto para ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que transforma 
um objeto do saber a ensinar em um objeto de ensino é denominado de Transposição Didática” 
(CHEVALLARD, 1991 apud PINHO, 2001, p. 174).
É preciso que o docente do Ensino Superior pense no Ensino que 
vai desenvolver, com perguntas básicas como “Que matéria devo dar?”, 
“Qual programa devo seguir?” ou ainda “Quais critérios deverei utilizar 
para aprovar ou reprovar os alunos?”. 
Mas, muito importante é sua preocupação com a aprendizagem dos alunos, direcionando 
suas perguntas para outro foco: “Quais são as expectativas dos alunos?”; “Em que medida 
determinado aprendizado será significativo para os alunos?” ou “Que estratégias serão mais 
adequadas para facilitar o aprendizado desses alunos?”.
Percebam que quando pensamos na aprendizagem, nossos questionamentos são diferentes 
e nossas ações serão diferentes. 
Verificamos que no “Processo de Ensino”, as ações estão centradas na figura do professor. 
Ele promove todas as ações para que o processo se complete e cabe ao aluno receber, absorver 
(ou não) e reproduzir. A não reprodução significaria que não houve aprendizagem.
No “Processo de Aprendizagem”, o aluno é o sujeito do processo e o professor auxilia. O 
sujeito é, na verdade, o aprendiz, que pode ser tanto o aluno quanto o professor.
Por isso, ensino é diferente de aprendizagem, porque as perspectivas e as ações são 
diferentes nos dois processos.
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
No Ensino Superior, além de focarmos na aprendizagem, devemos ter uma atenção especial 
ao “para quem”. Quem é este aluno? 
O aluno do Ensino Superior é um adulto. As características gerais de uma pessoa adulta 
são: o espírito independente e a capacidade de autogestão da aprendizagem; a necessidade 
de ver sentido prático naquele conteúdo a ser abordado e uma rica bagagem de experiências. 
Portanto, as estratégias didáticas ao se lidar com adultos devem ser elaboradas a partir da 
análise destas características.
O docente do Ensino Superior deve desenvolver em sua formação competências que o 
permitam entender as especificidades do trabalho desenvolvido com adultos, sem esquecer a 
importância de sua postura e da didática por ele desenvolvida.
Para os adultos, o motor da aprendizagem é a superação de desafios, a resolução de 
problemas e a construção do conhecimento novo, que se dá tomando por base todos os 
conhecimentos e experiências prévias dos indivíduos.
Sendo assim, o processo de educação de adultos, visando à sua aprendizagem, pressupõe 
a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem que proponham concretamente 
desafios a serem superados, que lhes possibilitem ocupar o lugar de sujeitos na construção dos 
conhecimentos e que coloquem o professor como facilitador e orientador desse processo. Ou 
seja, a educação de adultos exige uma pedagogia basicamente interativa.
Adultos se sentem motivados a aprender quando entendem as vantagens e benefícios de um 
aprendizado, bem como as consequências negativas de seu desconhecimento. Devido a toda 
uma cultura de ensino na qual o professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem, 
muitos adultos ainda precisam de um professor para lhes dizer o que fazer, mas a maioria 
deles prefere participar do planejamento e execução das atividades educacionais. 
As motivações mais fortes nos adultos são internas, relacionadas à satisfação pelo trabalho 
realizado, melhora da qualidade de vida, elevação da autoestima. Um programa educacional, 
portanto, terá maiores chances de bons resultados se estiver voltado para estas motivações 
pessoais e for capaz de realmente atender aos anseios íntimos dos estudantes.
Para Freire (1999), o homem e a mulher são os únicos seres capazes de aprender com alegria 
e esperança, na convicção de que a mudança é possível. Aprender é uma descoberta criadora, 
com abertura ao risco e à aventura do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina. 
A aprendizagem se processa nos adultos a partir de conexões com a realidade, suas 
necessidades e seus anseios e aplicabilidade do conteúdo aprendido. 
A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos 
atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. 
Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando 
os espaços geográficos. Faz cultura (FREIRE, 1987, p.43).
Segundo Oliveira (1999), uma das características do adulto é uma maior capacidade 
de reflexão sobre o mundo externo, sobre as outras pessoas, sobre si mesmo, sobre seu 
conhecimento e seu processo de aprendizagem. O adulto também tende a transferir 
mentalmente o conhecimento para a prática, conseguindo pensar onde poderá aplicar o que 
está aprendendo, ou seja, como utilizará o que foi aprendido no seu dia a dia, em sua realidade.
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Nos Cursos Universitários, geralmente recebemos adolescentes como calouros e liberamos adultos 
como bacharelandos. Estamos, portanto trabalhando no terreno limítrofe entre a pedagogia e 
andragogia. Não podemos abandonar os métodos clássicos, de currículos parcialmente estabelecidos 
e professores que orientem e guiem seus alunos, nem podemos, por outro lado, tolher o 
amadurecimento de nossos estudantes através da imposição de um currículo rígido, que não valorize 
suas iniciativas, suas individualidades, seus ritmos particulares de aprendizado. Precisamos encontrarum meio termo, onde as características positivas da Pedagogia sejam preservadas e as inovações 
eficientes da Andragogia sejam introduzidas para melhorar o resultado do Processo Educacional 
(CAVALCANTI, 1999).
O adulto é sujeito da Educação e não o objeto dela e o que faz com que ele aprenda é 
a motivação pessoal e a relação verificada entre os conteúdos aprendidos e sua vida pessoal 
e profissional. Aprende também quando se percebe participante principal do processo de 
aprendizagem, formulador de suas hipóteses, questionador e pesquisador, construtor do 
próprio conhecimento.
Segundo Zacharias (2002):
A importância do papel dos professores, enquanto agentes de mudança, é fundamental nesse processo. 
Eles têm um papel determinante na formação de atitudes, positivas e negativas, face ao processo de 
ensino – aprendizagem e a criação das condições necessárias para o sucesso da educação formal e da 
educação permanente, pois já não basta que se limitem a transmitir conhecimentos aos alunos, têm 
também que ensiná-los a pesquisar e a relacionar entre si diversas informações, revelando espírito 
critico. Devem despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual, pois, 
só assim, estarão criando condições para o “saber aprender a aprender”, pilar fundamental para uma 
educação ao longo da vida. 
O que se espera então do docente do Ensino Superior? Em sua formação é importante 
que você perceba o tipo de docente que os alunos esperam encontrar no ES. 
Diferentemente da Educação Básica, o aluno espera participar ativamente de sua aprendizagem, 
com a mediação de professores participativos, que lhes proporcione uma aprendizagem significativa 
e os ajude a se prepararem para desenvolver o papel que lhes cabe na Sociedade e no mercado de 
trabalho. Podemos analisar três focos de professores universitários:
• Os professores que temos: Hoje temos muitos professores que não 
dispõem de preparação pedagógica. Cultivam ainda a Educação 
tradicional, incentivando os alunos a desenvolverem habilidades de memorização e 
avaliando sua aprendizagem por meio da aplicação das provas e atribuição de notas. 
São especialistas na disciplina que ministram, centralizam o processo em si mesmos e 
em suas qualidades. Sua arte é a exposição e suas ações podem ser expressas pelos 
verbos: instruir, orientar, apontar, guiar, dirigir, treinar, amoldar, preparar, doutrinar; 
• Os professores que desejamos: Os alunos desejam professores que lhes permitam 
desenvolver a aquisição de mentalidade científica, o desenvolvimento das capacidades de 
análise, síntese e avaliação, bem como o aprimoramento da imaginação criadora. Esses 
são professores facilitadores de aprendizagem, que constroem e auxiliam na construção 
de conhecimentos, pois adotam estratégias de ensino diversificadas que permitem 
mobilizar menos a memória e mais o raciocínio. Os alunos desejam professores criativos, 
inventivos, curiosos, que utilizem conteúdo contextualizado, estabelecendo ligações 
entre a vida social, pessoal, cotidiana e universitária de seus alunos;
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
• Os professores que precisamos: Para atender a estes desejos, precisamos de 
professores que planejem estudos e trabalhos visando à formação do aluno; que orientem 
os alunos para verem e sentirem a realidade; que controlem os resultados dos estudos; 
que graduem dificuldades; que conheçam os alunos para estimulá-los para sua formação 
integral; que fomentem ideais e atitudes positivas diante da vida, da profissão e da 
sociedade e por fim que favoreçam a construção da autonomia intelectual.
Exercício da Docência no Ensino Superior
Uma das tarefas do professor é transformar os conteúdos científicos em conteúdos que o 
aluno consiga aprender. Não podemos confundir essa modificação do saber original em saber 
didático, como uma forma de simplificação.
É importante que o professor conheça o que Chevallard chama de saber sábio, para 
que possa contextualizar uma situação parecida com a original para transformá-lo em saber 
didático. O objetivo do Ensino é sistematizar o saber científico, tomando-o ensinável, 
possibilitando a sua aprendizagem pelo aluno.
Segundo Menezes (2006), os saberes podem ter origem:
Epistemológica
Porque diz respeito, essencialmente, a um saber produzido na comunidade científica, que 
deverá ser comunicado e socializado. O que o caracteriza, como ele se estrutura, de que forma 
ele foi desenvolvido; enfim, qual a sua epistemologia, quais são as questões centrais quando 
olhamos para o saber.
Sociológica
Porque é necessário considerar como o saber se constitui historicamente, qual a sua 
relevância em um determinado tempo e contexto históricos, quais os “desgastes” por ele 
sofrido, entre outros aspectos relevantes. Há pressão social para a comunicação dos saberes 
e para utilidade social deles.
Psicológica
Porque no universo da sala de aula o aluno deverá se apropriar desse saber e reconstruí-lo a partir das 
situações de ensino por ele vivenciadas. O saber a ensinar entrará em cena no jogo didático que envolve 
professor-aluno-saber e sofrerá, então, novas adaptações e deformações, passando a ser 
objeto de negociação dos parceiros da relação didática.
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Saberes necessários aos Professores
Aos professores não basta somente saber o conteúdo a ser ensinado. É preciso desenvolver 
outros saberes, tão importantes quanto o conhecimento específico.
• Saberes na área do Conhecimento - São os saberes específicos da área de atuação. 
Ninguém ensina o que não sabe.
• Saberes Pedagógicos - ensinar é uma prática educativa historicamente construída, 
que tem diferentes e diversas direções de sentido na formação humana.
• Saberes Didáticos - Articulação da teoria com a prática social, ensinar em situações 
contextualizadas.
• Saberes da Experiência - Em sua prática educativa, o professor terá condições de se 
aprimorar a cada dia.
Porém, é preciso nos darmos conta de que ser professor vai além de dominar conhecimentos, 
saberes ou fazeres de determinado campo, envolve atitudes e valores que têm por meta o 
desenvolvimento do aluno como pessoa e profissional, tais como:
• Sensibilidade frente ao aluno;
• Valorização dos saberes da experiência; 
• Ênfase nas relações interpessoais;
• Aprendizagem compartilhada;
• Ensinar e aprender com os alunos.
É preciso nos conscientizarmos de que a dimensão pedagógica envolve um processo 
interpessoal que nos permite, como grupo, construir conhecimento pedagógico compartilhado, 
envolvendo relações entre professores-professores, professores-alunos, instituição-comunidade.
Além disso, é preciso entender a especificidade da Educação Superior. Nosso trabalho 
pressupõe fazermos a transposição didática, envolvendo a passagem do conhecimento 
científico para o acadêmico e deste para o profissional.
Precisamos construir o mapa conceitual do conhecimento relativo a nossas disciplinas, 
aliado à sua aplicabilidade prática, a fim de que não seja trabalhado de forma fragmentada e 
mecânica, mas sim que possibilite aos alunos aplicá-lo em situações novas e imprevisíveis.
Exercer a docência não é tarefa fácil. Daí a necessidade de formação e construção de uma 
identidade que nos dê bases cognitivas, ideológicas e socioculturais para exercê-la. 
A identidade é aquilo que nos diferencia das outras pessoas. É a nossa marca. Por isso, 
todo professor coloca em seu trabalho uma marca do que ele é, do que ele construiu ao longo 
de sua formação. Coloca um pouco daquilo que acredita, de suas concepções, ideologias, 
crenças, valores, atitudes. Não há como ser imparcial na Educação. Defendemos aquilo 
que acreditamos.
Atenção, portanto, no exercício da docência. Atenção para o valor dado à sua formação, 
conhecimento e construção de sua identidade docente.
É ela que vai marcar seu trabalho e permitir que você faça a diferença em sua vida e na vida 
e formação de seus alunos. 
18
Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
MaterialComplementar
Livros:
Competência Pedagógica do Professor Universitário
Masetto, Marcos Tarciso. São Paulo. Editora Summus, 2003.
Este livro nos traz informações e conhecimentos indispensáveis para o professor universitário. 
O autor, referência no assunto, mostra-nos de maneira clara as competências necessárias para 
o melhor desempenho da função docente. 
Leia todos os capítulos; porém, você também pode procurar assuntos específicos sobre o 
trabalho do docente no Ensino Superior.
Sites:
O site do MEC é um site de referência para o professor universitário. Procure conhecer os diferentes 
links, especialmente os links referentes à Educação Superior e a formação de professores. Acesse 
também o link sobre Legislação Educacional.
www.mec.gov.br
Leituras:
Docência Na Universidade: Ensino E Pesquisa
PIMENTA, Selma G. “A problemática profissional do professor do ensino superior precisa ser 
considerada tanto no que se refere à identidade, que diz sobre o que é ser professor, quanto no 
que se refere à profissão, que diz sobre as condições do exercício profissional. O que identifica 
um professor? E um professor universitário?”
A autora inicia o artigo com o trecho acima, já chamando nossa atenção para sua proposta de 
nos levar a refletir exatamente sobre o assunto de nossa Unidade.
http://goo.gl/80LcTu
19
Referências
COMENIUS, J. A. Didática Magna: Tratado de Ensinar Tudo a Todos. (trad.) Ivone C. 
Beneditti. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da Língua portuguesa. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1990. 
MENEZES, A. A.B. Tese de Doutorado - Inter-Relações entre os Fenómenos 
Didáticos. 2006.
PIMENTA S.G.; Anastasiou L. G. C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2005. 
PINHO ALVES, J. Regras da Transposição Didática aplicada ao Laboratório Didático. 
Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 17. n° 2. Agosto 2000.
SACRISTÁN, J. G. Poderes instáveis em educação. (trad.) Beatriz Affonso Neves. Porto 
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 
ZABALA. A. A prática educativa - como ensinar. Porto Alegre: Artmed. 1998.
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Unidade: Docente do Ensino Superior: Formação e Identidade
Anotações
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