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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE CARATINGA – FUNEC CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR Prof: Msc Inês A. S. Azevedo PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 2 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Estudar didática não significa apenas acumular informações técnicas sobre o processo de ensino–aprendizagem. Significa, antes de qualquer coisa, desenvolver a capacidade de questionamento e de experimentação com relação a essas informações. Mas, o que é Didática? Segundo Libâneo (1994), Didática é a disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino, tendo em vista finalidades educacionais que são sempre sociais; ela se fundamenta na Pedagogia, sendo assim uma disciplina pedagógica. A palavra Didática tem a sua origem no verbo grego que significava a arte de transmitir conhecimentos. No século XVII, em face ao grande empreendimento coletivo dos intelectuais europeus para uma explicação científica e racional do mundo e a necessidade de partir do olhar sistemático sobre uma ampla reforma do conhecimento humano e dos métodos de ensino, o sentido de arte se aproxima a uma técnica de ensinar. Sendo assim, a Didática passa a ser um método de ensino centrado na razão, na busca de princípios gerais, na observação da natureza, das semelhanças e diferenças entre os fenômenos. Comenius, educador da Europa central também do século XVII, quando então publicou “Didática Magna: Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos” marcou a fundação da disciplina, não só pelo pioneirismo de sua proposta de “ensinar tudo a todos” – preocupação nova naquele período – como também pela sua pretensão, qual seja a de criar um método universal capaz de ensinar tudo a todos (GIL, 2007, p.2). Como podemos perceber, a Didática surge com a pretensão de ser um método de ensino capaz de ensinar tudo a todos. O que não significa que assim foi, ou seja, pois, será que podemos afirmar que todos aprendem tudo e do mesmo modo? Tudo interessa a todos ou todos querem ou precisam saber tudo? Será possível um método para ensinar tudo a todos? O desenvolvimento científico na área da educação tornou a Didática parte de uma disciplina mais ampla: A pedagogia. Esta palavra, por sua vez, também tem na sua origem grega o sentido de transmissão, condução, guia: do grego: Paidós + Agogós = criança + conduzir. Assim, a pedagogia é a ciência que estuda e teoriza sobre a Educação, investigando sua natureza, finalidades e nuances. Ela, tendo por objeto a educação, investiga também o ensino. Para isso se compõe de ramos de estudos próprios: Teorias da Educação, Didáticas, Organização Escolar, História da Educação etc. Dada sua natureza complexa, recorre a outras ciências para a compreensão dos fenômenos educativos: Psicologia, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia da Educação. Desta forma, a Didática hoje é um campo do conhecimento que contribui para a educação, sua especificidade está na natureza de seu objeto: o ensino. PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 3 1. Introdução: o processo de ensino e de aprendizagem Ensinar, segundo Houaiss (2001), significa “repassar (a alguém) ensinamentos sobre (algo) ou sobre como fazer (algo); doutrinar, lecionar”, e é justamente na sua acepção mais comum, a qual conhecemos e nos identificamos. No entanto, ao examinar a origem etimológica da palavra, encontramos a origem no latim insigno, cujo sentido é “pôr uma marca, distinguir, assinalar”. O objeto da disciplina Didática é o ensino. Mas, o ensino pressupõe um conjunto de atividades que, Segundo Cordeiro (2007), podem ocorrer ou não no contexto da sala de aula, pois podem fazer parte de outras situações vividas em outros contextos de comunicação entre as pessoas. Por exemplo: descrever, expor uma ideia, demonstrar, comparar etc., são atividades cuja finalidade pode ser de ensinar algo a alguém. Mas o que vai caracterizar a atividade se ensino é seu propósito, seu objetivo. Segundo Cordeiro (2007, p. 21) “Quando narramos um acontecimento numa roda de amigos ou quando a mãe relata aos filhos o seu dia de trabalho na hora do jantar, não há intenção do falante de produzir uma aprendizagem nos seus ouvintes. Já no ensino, todas as atividades são concebidas e planejadas em função desse objetivo. Portanto, a compreensão do conceito de ensino só pode ser feita em referência ao conceito de aprendizagem”. Vale destacar aqui o caráter intencional do ensino, qual seja o de produzir uma aprendizagem. Ao ensino caberia especificamente, nas palavras de Libâneo (1994, p.82), “esta organização intencional, planejada, e sistemática das finalidades e condições da aprendizagem escolar”. Faz parte do trabalho docente o ensino, porém, o mesmo abrange tanto o trabalho docente como a atividades de estudo dos alunos, pois é necessário que estes também se organizem e tenham intenção e vontade de aprender. O ensino e a aprendizagem são tão antigos quanto a própria humanidade. Nas tribos primitivas os filhos aprendiam com os pais a atender suas necessidades, PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 4 a superar as dificuldades do clima e a desenvolver na arte da caça. Hoje, o conceito de ensino-aprendizagem deve ser amplamente discutido e aplicado, visto que cada situação pode ser uma situação de ensino-aprendizagem e somente aqueles que não apresentam atitudes de constante abertura e que não aprendem ou não ensinam em todas as situações (PILETTI, 1986). Segundo Rodrigues (2013), o processo de ensino deve ter como ponto de partida o nível de conhecimento, as experiências que proporcionam uma transmissão progressiva das capacidades cognitivas como intelectuais, o que liga o ensino a aprendizagem. O processo de ensino faz a interação entre dois momentos fundamentais: a transmissão e assimilação ativa, tanto de conhecimentos quanto de habilidades. Dessa forma, cabe ao professor ensinar de modo que se tenha uma organização didática dos conteúdos que venha a instruir condições de aprendizagem, de forma que ele controle e avalie as atividades. O processo de ensino, segundo Karger, Follmann e Schmitt (2014) só se concretiza quando o aluno aprende e a didática é a sistematização dos conhecimentos e experiência humana, sendo que a aprendizagem é uma atividade praticada pelo aluno que visa a apropriação de métodos, conceitos e instrumentos cognitivos, necessitando da intervenção do professor através da mediação didática, ou seja, uma intervenção intencional na formação. Segundo Libâneo e Alves (2012), a atividade de ensino e aprendizagem consiste na apropriação dos conhecimentos pelos alunos, como realizar o ensino de forma que os alunos compreendam/aprendam a estruturação das tarefas de aprendizagem e os contextos socioculturais e institucionais onde se realiza o ensino. É necessário que o professor tenha conhecimento e domínio da matéria a ser ministrada, a relação entre pratica e teoria que lhe proporcione um suporte e conhecimentos das realidades particulares de seus alunos e de suas praticas socioculturais e institucionais. Torna-se essencial conhecermos, a partir daqui, alguns conceitos indispensáveis e que estão associados ao processo de ensino e aprendizagem e a maneira comoele acontece. PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 5 2. Modelos epistemológicos e pedagógicos e seus pressupostos sobre a aprendizagem Para contribuir com a prática docente na definição de suas concepções, Fernando Becker (2001), em "Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos", apresenta as três diferentes formas existentes de representar a relação ensino/aprendizagem. Os três modelos configuradores das principais e mais comuns abordagens de ensino e seus fundamentos epistemológicos são definidos como: pedagogia diretiva, não-diretiva e relacional; seguidos dos pressupostos epistemológicos: empiristas, apriorista e construtivista. Passaremos, então, a observar as especificidades dos três modelos e suas epistemologias. 2.1. Epistemologia empirista – Pedagogia Diretiva A pedagogia diretiva é considerada a pedagogia convencional, também conhecida como "pedagogia tradicional", "escola tradicional", "pedagogia da essência" ou "pedagogia conteudista". Consiste numa pedagogia centrada no professor, o professor ensina, e o aluno aprende. O professor jamais aprenderá com o aluno na pedagogia diretiva, pois o conhecimento aqui é visto como um produto que pertence ao professor, afirma Becker (2001), para quem o modelo de que falamos é exemplo da educação como está hoje. Esta ação do professor, que acredita que o conhecimento pode ser transmitido para o aluno e que o aluno somente aprende através do professor, é legitimada por uma epistemologia segundo a qual o sujeito é totalmente determinado pelo mundo, pelo objeto ou pelos meios físico e social, logo, para aprender, tudo o que o aluno tem que fazer é se submeter à fala do professor. Segundo Becker(2201), Essa pedagogia, legitimada pela epistemologia empirista, configura o próprio quadro da reprodução da ideologia; reprodução do autoritarismo, da coação, da heteronímia, da subserviência, do silêncio, da morte da crítica, da criatividade, da curiosidade. [...] A certeza do futuro está na reprodução pura e simples do passado. A disciplina escolar – que tantas vítimas já produziu – é exercida com todo o rigor, sem nenhum sentimento de culpa, pois há uma PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 6 epistemologia, uma pedagogia (da qual não falamos aqui) e uma pedagogia que a legitimam. (p.18) Esse é o modelo da repetição, da reprodução, avesso à proposta crítico- reflexiva. Aqui o professor está condenado ao papel de mero reprodutor de velhas fórmulas que são como podemos perceber pela atual situação da educação, refutadas pelos alunos, acarretando a perda de significado da profissão de educador. 2.2. Epistemologia Apriorista – Pedagogia não Diretiva Denominada também por inatismo, essa perspectiva sustenta que as pessoas naturalmente carregam certas aptidões, habilidades, conceitos, conhecimentos e qualidades em sua bagagem hereditária. O inatismo motivou um tipo de ensino, a pedagogia não diretiva, no qual o professor é apenas um auxiliar do aluno, uma vez que esse já traz consigo um saber a priori que precisa, apenas, trazer à consciência e organizar. O professor deve interferir o mínimo possível. Trata-se de um professor não diretivo, que acredita que o aluno aprende por si mesmo, podendo ele, no máximo, auxiliar, ou "facilitar", a aprendizagem, despertando no aluno o conhecimento que já existe dentro dele. Segundo Becker (2001), esse modelo não é fácil de detectar, pois está mais nas concepções do que na prática de sala de aula porque esta é difícil de viabilizar, uma vez que o professor imbuído de tal pedagogia renuncia a mediar o aluno na construção do saber. A epistemologia que fundamenta essa postura pedagógica é a apriorista, que vem do termo a priori, isto é, aquilo que é posto antes (a bagagem hereditária), como condição do que vem depois. O contraponto de tal pedagogia, segundo o autor, é que ao conceber o ser humano como dotado de um saber de nascença, conceberá, também, dependendo das conveniências, um ser humano desprovido da mesma capacidade, "deficitário", sem considerar que a dificuldade do aluno pode advir de causas externas, como a deficitária situação econômica, por exemplo, acreditando que a causa é hereditária. Onde se detecta maior incidência de dificuldades ou retardos de aprendizagem? – Entre os miseráveis, os malnutridos, os pobres, os marginalizados. [...] A criança marginalizada, entregue a si mesma, em uma sala de PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 7 aula não diretiva, produzirá, com alta probabilidade, menos, em termo de conhecimento, que uma criança de classe média ou alta (p.22). Essa prática assume formas muito mais perversas e retrógadas que a vista anteriormente. Ora, a educação da livre iniciativa só pode vir a resguardar o privilégio das maiorias, uma vez que a criança exposta e largada ao meio, sem orientação ou mediação do educador, basear-se-á no grupo social de que faz parte, logo a perversa desvantagem é óbvia àquelas advindas de classes minoritárias. Ainda que tomada inconscientemente, a pedagogia não diretiva acaba por concordar com a retrógrada crença de que educação igualitária e abrangente é prejudicial à sociedade. A educação assim concebida caminha, inevitavelmente, rumo ao fracasso, com prejuízos impostos a ambos, como nos escreve Becker (2001, p. 23), “O professor é despojado de sua função, "sucateado". O aluno guindado a um status que ele não tem e nem poderia sustentar, e sua não aprendizagem explicada como déficit herdado; impossível, portanto, de ser superado. 2.3. Epistemologia Construtivista – Pedagogia Relacional A epistemologia construtivista de Piaget ou Epistemologia Genética se ocupou fundamentalmente do sujeito epistêmico, ou seja, de problemas ligados à inteligência. Piaget traçou paralelo e analogias entre a Biologia e a Psicologia e mostrou que a inteligência é o principal meio de adaptação do ser humano. "Com efeito, a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e uma equilibração progressiva entre essas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso particular de adaptação biológica é, pois, supor que ela é, essencialmente, uma organização e que sua função consiste em estruturar o universo da mesma forma que o organismo estrutura o meio imediato"(Piaget, 1979, p.10). A inteligência não cria organismos novos, mas constrói mentalmente estruturas suscetíveis de aplicar-se às estruturas do meio. Ela constitui uma atividade organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização biológica e o supera, graças a elaboração de novas estruturas. Para Piaget, o conhecimento tem início quando o recém-nascido, através de seus reflexos que fazem parte de sua PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 8 bagagem hereditária, age assimilando alguma coisa do meio físico ou social. Ele se dedicou a estudar, a partir das estruturas iniciais do recém-nascido as sucessivas estruturações, discernindo um conjunto de etapas características, chamadas estágios ou níveis de conhecimento. Aos estágios correspondem certas estruturas cognitivas que, em cada um, são constituídas por novos esquemas de atividades cognitivas. Essa divisão em estágiosnão é arbitrária, mas corresponde a critérios bem definidos e a idade indicada em cada nível é relativa. A pedagogia Relacional, como o nome sugere, é centrada na relação. Não é centrada no aluno nem no professor, pois o que se trabalha nessa proposta são as relações dentro da sala de aula. O professor acredita que o aluno só aprenderá alguma coisa, isto é, construirá algum conhecimento novo, se apropriará significativamente do novo saber, se ele agir e problematizar a sua ação. Para Piaget, na pedagogia relacional não se pode exagerar a importância da pré- disposição hereditária nem a importância do meio social. Há de se dosar as concepções, mas deve-se acreditar que o aluno é capaz de aprender sempre. A dinâmica, ou melhor, a dialetização do processo de aprendizagem exige, portanto, dupla atenção do professor. O professor, além de ensinar, precisa aprender o que seu aluno já construiu até o momento – condição prévia das aprendizagens futuras. O aluno precisa aprender o que o professor tem a ensinar (conteúdos da cultura formalizada, por exemplo); isso desafiará a intencionalidade de sua consciência (Freire, 1979) ou provocará um desequilíbrio (Piaget, 1936; 1975) que exigirá do aluno respostas em duas dimensões complementares: em conteúdo e em estrutura. (BECKER, 2001, p.27). Então, o termo construtivismo surge, a partir de Piaget, porque o sujeito constrói seu conhecimento em duas dimensões complementares, como conteúdo e como forma ou estrutura: como conteúdo ou como condição prévia de assimilação de qualquer conteúdo. A pedagogia relacional, construtivista, busca superar a ação policialesca do professor em sala de aula e experimenta formas de ultrapassar e substituir a prática de ensino conteudista. Segundo Becker (2001), uma proposta pedagógica, dimensionada pelo tamanho do futuro que vislumbramos, deve ser construída sobre o poder constitutivo e criador da ação humana - "é a ação que dá significado às coisas!". PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 9 2.4. As contribuições de Vygotsky e Ausubel na definição de aprendizagem significativa O pesquisador norte-americano David Paul Ausubel (1999) dizia que, quanto mais sabemos, mais aprendemos. Famoso por ter proposto o conceito de aprendizagem significativa, ele é contundente ao afirmar que: "O fator isolado mais importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece". Quando sua teoria foi apresentada, em 1963, as ideias behavioristas predominavam. Acreditava-se na influência do meio sobre o sujeito. O que os estudantes sabiam não era considerado e entendia-se que só aprenderiam se fossem ensinados por alguém. A concepção de ensino e aprendizagem de Ausubel segue na linha oposta à dos behavioristas. Para ele, aprender significativamente é ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e com isso ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos. "Quanto maior o número de links feitos, mais consolidado estará o conhecimento". Pensada para o contexto escolar, a teoria de Ausubel leva em conta a história do sujeito e ressalta o papel dos docentes na proposição de situações que favoreçam a aprendizagem. De acordo com ele, há duas condições para que a aprendizagem significativa ocorra: o conteúdo a ser ensinado deve ser potencialmente revelador e o estudante precisa estar disposto a relacionar o material de maneira consistente e não arbitrária. Essas condições são ignoradas na escola. Ao analisar as interações entre professor, aluno e conhecimento, Ausubel ainda definiu a aprendizagem mecânica. Nela, os conteúdos ficam soltos ou ligados à estrutura mental de forma fraca. São memorizadas frases como as ditas em sala de aula ou lidas no livro didático. A escola deve almejar a aprendizagem significativa, mas isso não pressupõe que a mecânica tenha de ser desconsiderada. Ambas fazem parte de um processo contínuo. Há ocasiões em que é preciso memorizar algumas informações que são armazenadas de forma aleatória, sem se relacionar com outras ideias existentes. No entanto, o processo de aprendizagem não pode parar aí. Outras situações de ensino, assim como a interação com as demais crianças, devem contribuir para que novas relações PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 10 aconteçam, para que cada um avance e construa seu conhecimento. A aprendizagem significativa é duradoura, enquanto a mecânica é efêmera, com o passar do tempo há uma maior probabilidade de esquecer o que foi memorizado porque as informações ficam soltas, servindo apenas para situações já conhecidas. Na primeira, também pode ocorrer o esquecimento, mas de uma forma distinta, pois permanece um conhecimento residual cujo resgate é possível e relativamente rápido. A aprendizagem significativa somente é possível quando um novo conhecimento se relaciona de forma substantiva e não arbitrária a outro já existente. Para que essa relação ocorra, é preciso que exista uma predisposição para aprender. Ao mesmo tempo, é necessária uma situação de ensino potencialmente significativa, planejada pelo professor, que leve em conta o contexto no qual o estudante está inserido e o uso social do objeto a ser estudado. Outro teórico que contribuiu para nosso entendimento sobre os processos complexos que envolvem o ensino e a aprendizagem foi Vygotsky. Os estudos de Vygotsky sobre aprendizado decorrem da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a sociedade. "Na ausência do outro, o homem não se constrói homem", escreveu o psicólogo. Ele rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer as características que desenvolverá ao longo da vida, quanto as empiristas e comportamentais, que veem o ser humano como um produto dos estímulos externos. Para Vygotsky, a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor - ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Essa relação não é passível de muita generalização; o que interessa para a teoria de Vygotsky é a interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada experiência pessoalmente significativa. Segundo Vygotsky, apenas as funções psicológicas elementares se caracterizam como reflexos. Os processos psicológicos mais complexos - ou funções psicológicas superiores, que diferenciam os humanos dos outros animais - só se formam e se desenvolvem pelo aprendizado. Entre as funções complexas se encontram a consciência e o discernimento. Outro conceito-chave de Vygotsky é a mediação. Segundo a teoria vygotskiana, toda relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos - como, por exemplo, as ferramentas agrícolas, que transformam a natureza - e da linguagem - que traz consigo PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 11 conceitos consolidados da cultura à qual pertence o sujeito. Todo aprendizado é necessariamente mediado - e isso torna o papel do ensino e do professor mais ativo e determinante do que o previsto por Piaget e outros pensadores da educação, para quem cabe à escola facilitar um processo que só pode ser conduzido pelo próprio aluno. Segundo Vygotsky, ao contrário, o primeiro contato da criança com novas atividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto. Ao internalizar um procedimento, a criança "se apropria"dele, tornando-o voluntário e independente. Desse modo, o aprendizado não se subordina totalmente ao desenvolvimento das estruturas intelectuais da criança, mas um se alimenta do outro, provocando saltos de nível de conhecimento. O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus principais conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender - potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto. Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um professor precisa ter, segundo Vygotsky. Como Piaget, Vygotsky não formulou uma teoria pedagógica, embora o pensamento do psicólogo bielo-russo, com sua ênfase no aprendizado, ressalte a importância da instituição escolar na formação do conhecimento. Para ele, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. Ao formular o conceito de zona proximal, Vygotsky mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente, "puxando" dela um novo conhecimento. Ensinar o que a criança já sabe desmotiva o aluno e ir além de sua capacidade é inútil. O psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o universo mental do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno PÓS –GRADUAÇÃO UNEC / EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA DISCIPLINA: DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENS SUPERIOR NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Professor: Inês A. S. Azevedo Página | 12 adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico. Vygotsky atribuiu muita importância ao papel do professor como impulsionador do desenvolvimento psíquico das crianças. A ideia de um maior desenvolvimento conforme um maior aprendizado não quer dizer, porém, que se deve apresentar uma quantidade enciclopédica de conteúdos aos alunos. O importante, para o pensador, é apresentar às crianças formas de pensamento, não sem antes detectar que condições elas têm de absorvê-las. REFERÊNCIAS LIBÂNEO, Jose Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LIBÂNEO, Jose Carlos; ALVES, Nilda. Temas de pedagogia - diálogos entre didática e currículo. São Paulo: Editora Cortez, 2012. BECKER, Fernando. Educação e Construção do Conhecimento. POA: Artmed, 2001. BECKER, Fernando. O que é Construtivismo? http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias _20_p087-093_c.pdf SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. SP: Cortez, 1987. VYGOTSKY; Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Teresa Cristina Rego. Ed. Vozes,2001.
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