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Autores: Prof. Wanderlei Sérgio da Silva Profa. Taíz Maria Caldas Gonçalves de Oliveira Prática de Ensino: Trajetória da Práxis Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 Professores conteudistas: Wanderlei Sérgio da Silva/ Taíz Maria Caldas Gonçalves de Oliveira Wanderlei Sérgio da Silva Doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp, mestre em Ciências (Geografia Humana) e graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Durante quinze anos, trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, com pesquisas relacionadas às geociências e ao meio ambiente. Atuou como consultor em trabalhos da área durante seis anos, totalizando cerca de cem projetos de pesquisa, em muitos deles atuando como coordenador de equipe. Em 2001, ingressou na Universidade Paulista – UNIP, onde lecionou disciplinas do curso presencial de Turismo relacionadas à geografia, ao meio ambiente e ao planejamento, bem como disciplinas didático-pedagógicas do curso presencial de Psicologia (licenciatura). Atualmente, é membro da Coordenadoria de Estágios em Educação e professor nos cursos de Letras e Matemática da UNIP Interativa, sendo responsável pelas disciplinas relacionadas a Prática de Ensino, Didática Geral, Estrutura e Funcionamento da Educação Básica e Planejamento e Políticas Públicas da Educação. Taíz Maria Caldas Gonçalves de Oliveira Formada em Magistério, graduada em Letras (Português/Inglês) e pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Educacional, com Formação em Educação a Distância. Há mais de quinze anos, atua como docente, carreira esta que teve início na educação infantil e prosseguiu no ensino das línguas portuguesa e inglesa em instituições educacionais particulares de educação básica – incluso o EJA –, em curso preparatório para vestibulares e em cursos livres de idiomas, incluindo português para estrangeiros. É autora de poemas em antologia poética e de paradidáticos. Desenvolve trabalhos de orientação e correção de estágios na coordenadoria de estágios em educação. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice‑Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice‑Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice‑Reitor de Pós‑Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice‑Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Valéria Nagy Andréia Andrade Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 Sumário Prática de Ensino: Trajetória da Práxis APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ATIVIDADE ..........................................................................................................9 2 O PAPEL DA PRÁTICA E DO ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................. 10 3 OBSERVAÇÃO E AÇÃO NA ESCOLA .......................................................................................................... 12 4 OBSERVAÇÃO E AÇÃO NA SALA DE AULA............................................................................................. 14 5 A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA ................................................................................ 15 6 APLICAÇÃO DESSA EXPERIÊNCIA ............................................................................................................. 16 7 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 APRESENTAÇÃO De modo geral, a disciplina Prática de Ensino: Trajetória da Práxis tem como objetivo levá-lo a reflexões sobre a trajetória percorrida no âmbito da dimensão prática do seu curso e colocá-lo em contato com novos conceitos. O processo de construção de sua identidade profissional desenvolve-se pela vivência e identificação das necessidades e expectativas da escola inseridas em um contexto educacional, social e cultural. Neste curso você é gradativamente preparado para selecionar e organizar dados de maneira crítica e reflexiva, de modo a possibilitar melhor a compreensão da prática docente. O processo atinge seu clímax com a realização do estágio curricular supervisionado, momento ideal para o início das reflexões básicas acerca da sua formação. 9 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ATIVIDADE É importante, neste momento, relembrar o contexto no qual esta atividade está inserida na dimensão prática do curso. Essa informação é passada em todos os livros-texto das disciplinas de Prática de Ensino, objetivando inseri-lo no contexto real da sua formação nesse particular, para que você “não se perca no meio do caminho”. A Prática de Ensino está sendo desenvolvida em seis semestres, com atividades distribuídas por eles. Naturalmente deve haver uma articulação entre elas, perpassando todo o curso. As atividades relacionadas à Prática de Ensino são as seguintes: PRÁTICA DE ENSINO 1º sem. 2º sem. 3º sem. 4º sem. 5º sem. 6º sem. Introdução à Docência Observação e Projeto Integração Escola X Comunidade Vivência no Ambiente Educativo Trajetória da Práxis Reflexões Onde: Já cumpridas Em andamento A serem cumpridas De modo geral, a Prática de Ensino: Trajetória da Práxis, ora em desenvolvimento, visa, prioritariamente, ao apoio necessário para que você complete a carga horária de estágio iniciada no semestre anterior. Adicionalmente estão previstas atividades que irão enriquecer sua formação e contribuir para a sua qualificação no exercício da docência, basicamente com a apresentação de uma reflexão sobre a trajetória seguida durante o estágio. Lembrete A Prática de Ensino perpassa todo o curso de modo a articular, na segunda metade, o estágio curricular supervisionado. Na Prática de Ensino: Introdução à Docência, o objetivo era levá-lo a perceber a existência da educação que está ao seu redor e que o acompanha por toda a vida, influenciando-o – e a todos que o rodeiam –, não se restringindo ao ambiente escolar, ou seja, ocorrendo também em outros ambientes educativos. Em seguida, a Prática de Ensino: Observação e Projeto objetivou a análise dos termos “observação” e “projeto”, a fim de levá-lo a uma aproximação dessa educação que o rodeia, dirigindo o seu olhar à observação mais próxima das escolas e de outros ambientes onde a educação ocorre (teatros, parques, ginásios de esporte etc.). Depois, foi solicitado a você que elaborasse um pequeno projeto pedagógico de integração entre um ambiente não escolar e uma escola. 10 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS Em Prática de Ensino: Integração Escola X Comunidade, o objetivo foi aproximá-loainda mais da educação, por meio da observação e do estudo integrado entre uma unidade escolar e a comunidade onde ela está inserida. Na Prática de Ensino: Vivência no Ambiente Educativo, teve início o seu estágio de observação, participação e regência em unidades escolares. Agora, em Prática de Ensino: Trajetória da Práxis, o seu estágio será enriquecido com a reflexão sobre a trajetória seguida, visando ao término com qualidade e estímulo. 2 O PAPEL DA PRÁTICA E DO ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Do ponto de vista conceitual, “práxis” significa “ação prática”. Sendo assim, neste texto, trata-se de reflexões e esclarecimentos de alguns pormenores vinculados à trajetória da ação prática desenvolvida no período do estágio curricular supervisionado. Observação Práxis = ação prática. A sua trajetória é o objeto desta disciplina. A prática de ensino e o estágio supervisionado, em verdade, assumem um papel antes de tudo aglutinador na formação de professores. Considerados modos de um fazer docente, são constituídos pelas ações e práticas que demandam o embate com a realidade social, educacional e escolar. O estágio pode ser definido como um espaço de aprendizagem e de saberes, mesmo que estejam incluídas as atividades tradicionais de observação, participação e regência, desde que estas sejam redimensionadas a uma perspectiva reflexiva e investigativa. As escolas de educação básica – em especial as públicas – passam por um momento extremamente problemático em relação à qualidade do processo ensino-aprendizagem. Nesse contexto, a formação do professor tem sido pauta obrigatória nas discussões que visam à busca de melhorias, porque o professor é peça-chave no processo. O papel do atual estagiário assume proporções importantes quando pensamos na sua futura atuação em sala de aula e na escola como um todo. Além do importante papel de auxiliar os alunos no seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, o futuro professor deve ter formação política suficiente para entender, criticar e procurar soluções para os diferentes problemas a serem vivenciados no sistema educacional. As escolas públicas de educação básica, de modo geral, passam por um momento cuja boa formação de professores é crucial. A escola é muito mais do que a sala de aula, é mais do que regras de linguagem e matemática, do que muros e grades. Em certo sentido, a escola é a vida em processo e, como tal, precisa ser conhecida na sua integridade (no presente), para que possa ser compreendida (no futuro). 11 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS Do ponto de vista filosófico, este é um momento especial para a sua formação como professor. Paulo Freire (1998) já apontava que na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática (FREIRE, 1998 apud BARREIRO & GEBRAN, 2006, p. 126). Pense em você mesmo como um profissional. Um professor não apenas reproduz conhecimento, mas pode, por meio de uma reflexão crítica, fazer do seu trabalho em sala de aula um espaço de transformação individual e social. É na ação refletida e no redimensionamento de sua prática que é possível ao docente ser agente de mudanças na escola e na sociedade. O estágio curricular, neste curso trabalhado no âmbito das disciplinas Prática de Ensino: Vivência no Ambiente Educativo e Prática de Ensino: Trajetória da Práxis, ora em desenvolvimento, articula a teoria e a prática. Essa relação, na sua formação como professor, constitui, portanto, o núcleo articulador do seu currículo, permeando todas as disciplinas. O estágio deve ser norteado por alguns princípios, dentre os quais se destacam: • a docência é a base da identidade do seu curso de formação; • o estágio é um importante momento de integração entre teoria e prática; • o estágio não se resume à aplicação imediata, mecânica e instrumental de técnicas rituais, princípios e normas aprendidas na teoria; • o estágio é o ponto de convergência e equilíbrio entre o aluno e o futuro professor. Deve-se atribuir valor e significado ao estágio curricular supervisionado, considerando-o muito mais que um simples cumprimento de horas formais exigidas pela legislação, como um lugar por excelência para que você, futuro professor, reflita sobre a sua formação e a sua ação, e, dessa forma, possa aprofundar conhecimentos e compreender o seu papel e o papel da escola na sociedade. Em sentido mais amplo, o estágio deve efetivar a articulação do seu curso de licenciatura com as escolas de educação básica, sejam públicas ou privadas, servindo, assim, para o aprimoramento da formação profissional da educação, promovendo uma ação mais comprometida com o processo educativo. As práticas desenvolvidas pelas diferentes disciplinas do curso, articuladas, favorecem a sistematização coletiva dos novos conhecimentos adquiridos, preparando-o, como futuro professor, a compreender, de forma mais profunda, a prática docente e refletir sobre as possibilidades de transformação social no exercício da sua profissão. 12 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS A prática de ensino (que permeia todo o curso) e o estágio curricular supervisionado (que integra a segunda parte do curso de formação) devem contemplar a formação de um professor capaz de atender às demandas de uma realidade que se renova a cada dia; deve propiciar a você não apenas uma vivência em sala de aula, mas o contato com a dinâmica escolar nos seus mais diferentes aspectos. A partir da observação do ambiente escolar e da sala de aula, a trajetória da práxis por você vivenciada favorece a reflexão e o desenvolvimento de ações coletivas e, ao mesmo tempo, integradoras. Saiba mais Dica de leitura: GARCIA, W. E. Educação – visão teórica e prática pedagógica. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1981. 3 OBSERVAÇÃO E AÇÃO NA ESCOLA Na trajetória da práxis a observação a ser realizada na escola deve ser pautada por uma perspectiva investigativa da realidade. Ao mesmo tempo em que as observações servem para compreender as práticas institucionais e as ações na escola, fundamentais para a sua formação, elas servem para balizar suas ações como futuro professor, no sentido de facilitar a compreensão da realidade, dos fatos e da prática docente. O hábito e a capacidade de observar adquiridos por você, no âmbito da dimensão prática do curso desde a disciplina Prática de Ensino: Observação e Projeto, o ajudarão a planejar adequadamente seu trabalho educativo, a avaliar quando ele deve ser mudado e em que sentido, de modo a construir conhecimentos, competências e habilidades que sejam extensivos aos seus futuros alunos. Na prática, durante o estágio, é sempre importante lembrar que a observação é uma técnica de investigação científica para coleta de dados, muito relevante quando se tem claro seu objeto de estudo; caso contrário, podem-se coletar informações inúteis e desconsiderar outras essenciais. Após receberem as orientações técnicas para a realização do estágio, os alunos costumam centrar sua atenção no processo de observação da escola como um todo, procurando conhecer seu espaço físico e entorno, inteirando-se de sua estrutura e de seu funcionamento, da organização pedagógica e administrativa e das relações interpessoais que acontecem na escola. Em síntese, nessa fase do estágio, investiga-se a escola, seu entorno e a relação dela com a comunidade. Algumas indagações básicas devem permear esse momento: • como é a escola e em que estágio de desenvolvimento ela está? • como eu vejo essa escola? • como ela se vê? • como a comunidade vê a escolae vice-versa? 13 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS Para inteirar-se da realidade da escola, passa-se necessariamente pela análise do contexto social e histórico em que ela se insere e pela percepção da realidade social, em processo contínuo de transformação, procurando compreender suas múltiplas determinações, contradições, expressões e relações. Observação Perceber o extraordinário no ordinário. Este é o grande desafio na busca do diferencial no estágio. Compreender o que há de extraordinário no que parece ordinário é um grande desafio e poderá favorecer a construção de novas ações e novas práticas. Isso implica necessariamente atenção e observação mais acuradas a respeito do que ocorre ao nosso redor e que normalmente passaria despercebido. O estágio permite que você compreenda melhor como as ações e as relações se deflagram no espaço escolar e, a partir daí, propicia mais uma vez a construção e reconstrução contínua de novas ações investigativas, reflexivas, analíticas e interpretativas. Para uma boa análise e interpretação da realidade investigada, é de fundamental importância saber como os dados serão registrados e organizados. Não basta apenas ser capaz de responder à lista de indagações, e sim compreender que significados atribuir ao conjunto de dados coletados e como eles podem contribuir para as investigações e problematizações. Os registros das ações significativas do cotidiano escolar e sua socialização favorecem o enriquecimento e o aprimoramento da formação de professores. O contato com o conjunto de sujeitos inseridos no contexto escolar permite que, por meio de suas falas e ações, você possa visualizar possibilidades de inserção na busca por soluções de determinados problemas. Esse processo propicia entender o espaço escolar como um espaço que permite, ao mesmo tempo, formação individual e coletiva, onde cada pequena ação tem potencial para gerar uma postura permanente de questionamento da prática educativa que ali se desenvolve, bem como o desencadeamento de projetos de investigação que abordem o conhecimento da realidade escolar, a prática de reflexão sobre essa realidade e a proposição de novas ações. É importante mencionar que na trajetória da práxis a observação e a ação na escola promovem o envolvimento do estagiário em diferentes ações e projetos, aprofundando as relações estabelecidas com alunos e professores da escola. O confronto dessas vivências com aquelas trazidas da universidade, muitas vezes, pode constituir-se em momentos de tensão entre as partes. Para evitar que isso ocorra, é bom que você saiba trabalhar bem seus relacionamentos coletivos, tenha sensibilidade para o enriquecimento que a ressignificação de valores e saberes pode promover, tendo em vista os universos e valores diferentes que, nesse caso, se cruzam. 14 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS 4 OBSERVAÇÃO E AÇÃO NA SALA DE AULA No momento seguinte à trajetória da práxis vivenciada no estágio, você, como aluno-estagiário, deve ter retomado o processo de observação, só que agora do espaço da sala de aula, o que deve ter suscitado questionamentos sobre a prática pedagógica na sua singularidade, possibilitando a apreensão das condições que interferem na ação educativa e nos sujeitos nela envolvidos. A exemplo do momento anterior (de observação e ação na escola como um todo), você deve se pautar na perspectiva investigativa da realidade e ter clareza no que fará em sala de aula; não pode perder de vista que ela serve, antes de tudo, para a construção de habilidades e competências apoiadas em conhecimentos. Sua presença na sala de aula (como costuma ocorrer com a maior parte dos estagiários de cursos de licenciatura) pode causar certa desestabilização nos alunos e insegurança no professor em relação à própria imagem. Ele pode sentir-se questionado no que diz respeito aos seus conhecimentos específicos e pedagógicos, à sua competência e à forma como se relaciona com seus alunos. Por isso é normal que ele tente fugir de determinadas situações, seja omitindo-se, seja tentando passar uma imagem diferente da real. Ele faz isso para negar aquela imagem que lhe está sendo imputada, a partir da percepção que o estagiário tem dele. Essa linha que se institui entre estagiários e professores é tênue e precisa ser trabalhada muito bem, a fim de que não se estabeleçam práticas competitivas com o professor baseadas em saberes que você, como estagiário, julga ter e naqueles que atribui ou não ao professor. Também nesse momento o processo de construção coletiva pode trazer contribuições positivas para a prática docente. Essa reflexão sobre a prática docente, para você, implica compreender e analisar como ela se concretiza no cotidiano escolar, em ações individuais e coletivas que expressam as concepções que os docentes têm sobre seu mundo, a sociedade, a educação, a escola e, em mais detalhes, o processo ensino-aprendizagem. No estágio de observação em sala de aula, a exemplo da observação da escola, deve-se estar atento ao que será analisado e de que maneira será registrado. Além das questões pontuais e objetivas, definidas claramente, há outras de natureza subjetiva que interferem no julgamento e podem nos levar a realizar uma leitura e compreensão equivocadas da realidade. Por isso, todo o cuidado é pouco. Novamente, trata-se de perceber o que há de extraordinário no que parece ordinário. Mais do que detalhes perceptivos, é necessário que você seja capacitado a desenvolver posturas corretas de observação, levantar hipóteses, avaliar, analisar cotidianamente a sala de aula, desenvolver competências e habilidades, a fim de perceber a necessidade permanente de redimensionar sua prática docente futura. Sua atuação como estagiário e como futuro professor não deve ser pautada por um processo pedagógico de reprodução do saber. As novas exigências sociais têm direcionado e encaminhado a ação docente para novos rumos, ou seja, um professor diferente, capaz de se ajustar às novas realidades da sociedade, do conhecimento, dos meios de comunicação, da cultura e dos alunos em seus diferentes contextos. 15 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS Lembrete Sua atuação profissional como professor não se restringe à reprodução do saber. Seja diferente... Assim, a busca de uma nova identidade que envolve reflexão permanente sobre sua ação docente vai-se (re)construindo no cotidiano da sala de aula, que deixa gradativamente de ser o espaço de reprodução do saber e passa a configurar-se como espaço de formação, tanto para o aluno quanto para o professor. 5 A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA A experiência vivenciada no estágio deve levá-lo a ver-se como futuro professor. O conjunto de atividades possibilitou a você vivenciar e experimentar uma prática pedagógica integradora, reflexiva, em que a relação teoria versus prática constitui-se na matriz do processo educativo, orientando a comunicação com a realidade social. É uma rica oportunidade de aprendizagem, pois interliga o conhecimento teórico ao prático, o que leva a reflexões profundas sobre o conhecimento das diferentes disciplinas do curso, principalmente aquelas que se ligam mais diretamente ao processo de Prática de Ensino. Neste curso, a prática de ensino perpassa suas atividades em disciplinas articuladas. No primeiro momento, você pôde aprender a perceber a educação que ocorre ao seu redor e o influencia a refletir sobre ela e revisar seus conhecimentos. Trata-se de uma experiência ímpar, pois, ao contrário do que faz a maior parte das disciplinas, ao invés de afunilar sua visão sobre o tema, age no sentido contrário, abrindo seus olhos sobre o seu futuro campode atuação profissional: a educação. Na sequência, você aprendeu conceitos e técnicas extremamente importantes para o seu desenvolvimento profissional: observação e projeto. Teve a oportunidade de compreender a importância de ampliar o seu olhar sobre a realidade, passando do “olhar” para o “observar”. Foi incentivado a ter atenção permanente durante o curso e a dar forma às suas ideias, uma experiência que servirá de apoio para toda a sua vida profissional. Em seguida, foi passada a você a noção de relevância da articulação entre a escola e a comunidade onde ela está inserida. Toda escola cumpre uma função social junto à comunidade e pode colaborar para a solução de problemas por ela enfrentados. A noção dessa verdade representa uma experiência adquirida na raiz, que perdurará por toda a sua carreira profissional. No estágio de observação, participação e regência, você pôde vivenciar diretamente o ambiente escolar com todas as suas nuances. Detalhes a respeito estão presentes em todos os demais capítulos deste texto, demonstrando a experiência única que ele representa. Finalmente, você terá a oportunidade de refletir um pouco mais sobre essa experiência no exercício da disciplina Prática de Ensino: Reflexões. No conjunto, caso você tenha aproveitado as oportunidades, 16 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS as experiências individuais e coletivas acumuladas o seguirão e farão diferença na qualidade de sua atuação como docente. 6 APLICAÇÃO DESSA EXPERIÊNCIA Refletir sobre sua formação docente e a prática educativa implica conceber um processo no qual o professor se coloca como agente e sujeito de sua ação, além do processo de construção e reconstrução do conhecimento. Cotidianamente ele deve ser repensado e realimentado, articulando-se com as concepções teóricas que vêm sendo discutidas nas diferentes instâncias educativas. Implica compreender como esse processo é concretizado e viabilizado no cotidiano escolar, em ações individuais e coletivas que expressam a concepção que os professores têm do mundo; não um processo simplesmente de reprodução do saber acumulado, mas um processo de formação de um professor diferente, um professor que motive seus alunos a mudarem para melhor. Por definição, “motivação” é apresentar a alguém estímulos e incentivos que lhe favoreçam determinado tipo de conduta. Em sua futura atuação como professor significa oferecer aos seus alunos os estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem e sua aplicação mais eficazes. Por mais que disponham de recursos didáticos e procedimentos de ensino variados, a maior fonte de motivação continua sendo a personalidade do professor. Não é à toa que alunos geralmente preferem matérias lecionadas por professores amigos, ou associadas a situações agradáveis, ou a procedimentos de ensino adequados. Como professor, você não atuará apenas por intermédio daquilo que dirá e fará, mas pelo que você é e representará para seus alunos. Segundo Piletti (2001), pesquisa realizada pela revista norte-americana Times revelou que os melhores professores dos Estados Unidos não eram os que utilizavam técnicas de ensino mais refinadas, mas aqueles que, estimulados pelo seu próprio entusiasmo, encontravam maneiras próprias de se comunicar e ensinar. Outro estudo que pode ajudar a estimulá-lo no exercício da profissão e na aplicação correta da experiência obtida durante sua formação foi desenvolvido pela Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos, e sintetiza os cinco tipos diferentes de professores: • o instrutor ou professor de autômatos: — procura desenvolver no aluno a capacidade de responder imediatamente, sem necessidade de pensar; — incentiva o aluno a recitar definições, explicações e generalizações que memorizam a partir de suas exposições ou de um texto indicado por ele; — é a autoridade máxima na sala de aula e não admite diálogo. 17 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS • o professor que se concentra no conteúdo: — sua maior preocupação é cumprir sistematicamente o conteúdo programático da sua disciplina; — dá pouca importância à originalidade do aluno e muita importância ao estudo da matéria que já foi descoberta no passado; — não acredita que o processo de ensinar e aprender deva consistir em uma atividade conjunta entre professor e aluno; — valoriza o aluno que domina totalmente a matéria apresentada nas aulas ou nos textos recomendados. • o professor que se concentra no processo de instrução: — procura impor um modelo de raciocínio aos alunos; — dá mais importância ao processo de aprender do que ao produto da aprendizagem (conteúdo); — exige que seus alunos demonstrem, nos exercícios, provas e discussões, que sabem imitar seus métodos, bem como sua maneira de usar os dados existentes sobre determinado assunto. • o professor que se concentra no intelecto do aluno: — sua maior preocupação é desenvolver as habilidades intelectuais do aluno; — utiliza a análise e a solução de problemas como o principal método de ensino; — dá mais importância ao intelecto do que às atitudes e emoções demonstradas pelo aluno. • o professor que se concentra na pessoa total: — não acredita que o desenvolvimento intelectual deva ou possa ser desligado dos outros aspectos da personalidade do aluno; — trata o aluno integralmente como pessoa, pois acredita que, separando o aspecto intelectual dos demais, o crescimento do aluno na direção de um ser adulto e cidadão fica seriamente comprometido. Observação Professor? Educador? Orientador? Pesquise o significado didático dos termos e veja qual mais se encaixa em seu perfil. 18 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS Qual dos tipos mencionados você pretende ser? Ou que aspectos de cada tipo fazem parte, hoje, da sua personalidade? Motivar os alunos não é tarefa fácil. O importante é fazer uma autoanálise. Ressalta-se também que a articulação entre a teoria e a prática é um processo constante e definidor da qualidade da sua formação como sujeito, porque lhe abre as portas para uma permanente busca de respostas acerca de fenômenos e contradições vivenciados no cotidiano da sua prática, ou seja, na sua experiência. Por fim, a reflexão constante o encaminhará para o desenvolvimento incessante de competências que se configuram como conhecimentos e ações necessários ao exercício da sua profissão, nas suas dimensões humana, política e técnica, e inseridos em um processo permanente de construção e reconstrução da prática docente. Como em qualquer prática, não temos respostas para todas as questões que surgiram e continuarão surgindo, mas temos disposição para continuar pesquisando e buscando caminhos que possam auxiliar a formação de professores críticos e atuantes. Procurar melhorias para os aspectos injustos da nossa realidade educacional é o objetivo último do trabalho e, para tanto, precisamos de profissionais que tenham condições de propiciar essa transformação. Saiba mais Sobre a prática pedagógica, leia PILETTI, C. Didática geral. São Paulo: Ática, 2001. Resumo De início, é importante saber a contextualização da disciplina na dimensão do curso. Essa prática encontra-se, de modo ideal, prevista para o quinto semestre do curso, havendo uma articulação entre ela e as demais práticas. A Prática de Ensino: Trajetória da Práxis visa à orientação na finalização do seu estágio, enriquecendo-o com a reflexão sobre a trajetória seguida, com o objetivo de chegar ao término com qualidade e estímulo. Adicionalmente você se depara com informações que o ajudam a refletir sobre a importância do estágio e das demais atividades práticas, não apenas no seu curso de formação, mas em todo equalquer curso de formação de professores. A ideia é auxiliá-lo no que realmente importa, 19 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS distinguindo esse aspecto com maior facilidade na sua reflexão futura já como professor atuante na educação básica. A partir daí, a reflexão passa por um afunilamento, culminando na importância dessa reflexão na sua formação e na sua futura atuação profissional. 20 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 REFERÊNCIAS BARREIRO, I. M. F.; GEBRAN, R. A. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. p. 126. PICONEZ, S. C. B. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, 2007. PILETTI, C. Didática geral. São Paulo: Ática, 2001. p. 258. GARCIA, W. E. Educação: visão teórica e prática pedagógica. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1981. 21 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 22 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 23 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 24 Re vi sã o: : Va lé ria /A nd ré ia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 21 /1 1/ 20 13 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000 9 Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 *Jonas Godtsfriedt CICLOS DE VIDA PROFISSIONAL NA CARREIRA DOCENTE: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA1 Os ciclos de vida profissional são importantes fontes de informações sobre a prática profissional docen- te. O artigo tem objetivo analisar os ciclos de vida profissional na carreira docente como um processo de socialização e incorporação na atividade profissional, com base em uma revisão sistemática da literatura. Utilizou-se as bases de dados LILACS e SciELO. A partir da pesquisa efetuada encontrou- -se um total de 236 artigos. Ao final da seleção 06 estudos atendiam os critérios aplicados. Os estudos revisados apontam que os ciclos de vida profissional na carreira dos docentes, mesmo estes com formações realizadas em momentos distintos e que atuam em contextos diferenciados, apresentam pontos comuns nas suas trajetórias profissionais, respeitadas as especificidades da história pessoal de cada professor. Palavras-chave: Mobilidade Ocupacional. Educação Física e Treinamento. Docentes. RESUMO *Jonas Godtsfriedt Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC Email: jog1000@hotmail.com 1Apoio Capes. LIFE CYCLES IN TEACHING PROFESSIONAL CAREER: SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE The professional life cycles are important sources of information on teacher professional practice. The article is to analyze the professional life cycles in the teaching career as a process of socialization and incorporation into the professional activity, based on a systematic review of the literature. We used the LILACS and SciELO databases. From the conducted survey found a total of 236 articles. At the end of 06 studies met selection criteria applied. The studies reviewed indicate that the professional life cycles in the careers of teachers, even those with training carried out at different times and working in differ- ent contexts, have common points in their professional careers, while respecting the specificities of the personal history of each teacher. Key-words: Occupational mobility. Physical Education and Training. Teachers. ABSTRACT Recebido em: 01/07/2016 Aprovado em: 26/07/2016 10 Godtsfriedt, J. Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 De acordo com Folle et al. (2009) a carreira docente é permeada por desafios, dilemas e conquistas que re- percutem no processo de como o professor percebe-se e sente-se no ambiente de trabalho, na busca da reali- zação pessoal e profissional. Tardif (2000), Huberman (2000) e Valle (2006) concebem a carreira docente como um processo de socialização e incorporação na atividade profissional, de modo a apresentar variações de acordo com o tempo e a função a ser desempenhada. Para Tardif (2000) a carreira é uma prática e rotina ins- titucionalizada no campo do trabalho, identificada com o processo de socialização profissional, Huberman (2000) destaca que a carreira é marcada por vários acontecimen- tos que se tornam marcantes na trajetória do docente. Shigunov, Farias e Nascimento (2002) citam que é durante as etapas da carreira docente que se procede a aquisição de vivências necessárias para o aperfeiçoa- mento e a melhoria da prática pedagógica. A atuação do professor de Educação Física no am- biente escolar tem sido afetada por diversos fatores e situações, nos quais recebem destaque o impacto das modificações curriculares na formação inicial, que es- tabelecem novos perfis profissionais, e as estratégias de formação continuada, que auxiliam na melhoria da prá- tica pedagógica e também facilitam a inserção neste es- paço de atuação. A escola, que é o ambiente de trabalho no qual o professor de educação física está inserido, as condições efetivas de trabalho e as relações inter-pesso- ais com os demais membros da comunidade escolar pro- porcionam experiências que não estão nem entre as mais gratificantes e nem auxiliam na auto-realização profis- sional (BOTH; NASCIMENTO; BORGATTO, 2008). A formação ao longo da vida é uma resposta ne- cessária aos permanentes desafios da inovação e da mudança, e simultaneamente, condição de promoção do desenvolvimento pessoal e profissional dos profes- sores (GONÇALVES, 2009). Estudos mais recentes sobre a carreira docente e for- mação de professores é notável a ênfase que se tem atri- buído a pessoa do professor, aspecto este nitidamente ignorado, ou mesmo desprezado (BUENO, 2002). A formação profissional do professor começa na sua opção em ser docente, a pessoa ao optar pela pro- fissão na área da Educação Física normalmente é jo- vem e está repleta de dúvidas em relação ao futuro, essa decisão pode trazer à tona inseguranças frente a uma decisão que pode ou não ser a certa (PRADO, 2007; BENITES; SOUZA NETO, 2005). Para Gonçalves (1992) ao analisar o percurso pro- fissional, julga que este é o resultado da ação conjuga- da de três processos de desenvolvimento: o pessoal, da profissionalização e o da socialização profissional. Vários autores têm se preocupado com questões re- ferentes ao desenvolvimento profissional do professor, uma profissão que é fortemente exigente do ponto de vista da dedicação e da relação humana (BETTI; MI- ZUKAMI, 1997; HOPF; CANFIELD, 2001; SHIGU- NOV; FARIAS; NASCIMENTO, 2002; ALMEIDA; FENSTERSEIFER, 2007; PRADO, 2007; BOTH; NASCIMENTO; BORGATTO, 2008; COSTA; NAS- CIMENTO, 2009; FOLLE et al., 2009; ROCHA, 2013). Gonçalves (2000) cita que a trajetória da carreira profissional do professor está dividida em dois planos de análise: o desenvolvimento profissional e a cons- trução da identidade profissional. A trajetória profis- sional resulta da ação conjunta de três processos de desenvolvimento, estes são: o processo de crescimen- to pessoal, o processo de aquisição de competências e o processo de socialização profissional. Neste sentido, destaca-se a importância e neces- sidade de se estudar alguns modelos de ciclos de vida profissional na carreira docente (HUBERMAN, 2000; NASCIMENTO; GRAÇA, 1998; GONÇAL- VES, 2000; STROOT, 1996; BARONE, 1996), estes ciclos de formação profissional podem ser observa- dos na Figura 1. Um dos modelos mais referenciado sobre os ciclos de vida profissional de docentes é aquele elaborado por Huberman (2000), cuja classificação foi construída a partir da leitura e análise de estudos empíricos. A sis- tematização considera os anos de docência dos profes- sores e apresenta algumas características próprias decada fase vivenciada durante o percurso profissional: fase de entrada na carreira (1 a 3 anos de docência), fase de estabilização (4 a 6 anos), fase de diversifica- ção (7 a 25 anos), fase de serenidade (25 a 35 anos) e fase de desinvestimento (mais de 35 anos de docência). Ao pesquisarem a carreira docente de professores portugueses de Educação Física, Nascimento e Graça (1998) procuraram estabelecer uma classificação que fosse mais plausível e de acordo com os anos de do- cência em Portugal, destacando as seguintes fases da carreira profissional do professor: a fase de entrada ou sobrevivência (0 a 3 anos de docência), a fase de consolidação (4 a 6 anos), a fase de diversificação ou renovação (7 a 19 anos) e a fase da maturidade ou estabilização (20 a 35 anos de docência). De maneira similar e a partir de pesquisa com pro- INTRODUÇÃO 11 Ciclos de vida profissional na carreira docente: revisão sistemática da literatura Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 A pesquisa trata de um estudo bibliográfico (GIL, 2010), que visa à revisão com base em material já pu- blicado. A revisão sistemática da literatura foi realiza- da a partir de pesquisa bibliográfica de estudos anali- sando os ciclos de vida profissional na carreira docente como um processo de socialização e incorporação na atividade profissional. Os critérios adotados para a se- leção de artigos foram os publicados entre os anos de 2004 a 2013. A revisão da literatura foi efetuada no período de abril a maio de 2014 utilizando-se as bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Electro- nic Library Online), selecionadas por apresentarem produções científicas vinculadas à área das ciências da saúde em geral. Também foram analisadas as listas de referências dos artigos identificados. Para a obtenção dos estudos foram utilizados como descritores de as- sunto, nos campos “palavras”, “descritor de assunto”, “palavras do título”, “título” e “resumo”, as seguintes palavras-chave: mobilidade ocupacional; mobilidade ocupacional e educação física e treinamento; mobili- dade ocupacional e docentes; Career Mobility; Career Mobility e Physical Education and Training; Career Mobility e Faculty. Foram incluídos estudos empíricos e revisões de literatura na língua portuguesa e inglesa indexados nas bases de dados. Não foram selecionados estudos como teses, dissertações, monografias, comentários, resenhas, optou-se por não incluir teses, dissertações e monografias, comentários e resenhas visto que a reali- zação de uma busca sistemática das mesmas é inviável logisticamente. Foram selecionados inicialmente 236 artigos, dos MÉTODO Fases da Carreira Profissional do Professor Huberman (1995) Gonçalves (1995) Stroot (1996) Barone et (1996) Nascimento; Graça (1998) Entrada (0-3) O início (1-4) Sobrevivência (0-2) N.Novato (0-1) Entrada (0-3) Estabilização (4-6) Estabilidade (5-7) Consolidação (2-3) N.I. Avançado (2-3) Consolidação (4-6) Diversificação (7-25) Divergência (8-15) Renovação (3-4) N. Competência (3-4) Diversificação (7-19) Serenidade (25-35) Serenidade (15-20/25) Maturidade (5- ) N.Proficiente (5- ) Estabilização (20-35) Desinvestimento R.Interesse e desencanto (25-40) Especialista Figura 1. Modelos de ciclos de vida profissional. Nota: construção do autor. fessoras de ensino primário, Gonçalves (2000) inter- preta o percurso profissional dos professores como “etapas da carreira”, efetuando uma proposta de perfil para cada uma delas: início (1 a 4 anos de docência), estabilidade (5 a 7 anos), divergência (8 a 24 anos), serenidade e renovação do interesse (15-20/25 anos) e desencanto (25 a 40 anos). Já o modelo de socialização profissional foi elabora- do por Stroot (1996) para diferenciar quatro estágios ou etapas de desenvolvimento profissional dos professores: sobrevivência, consolidação, renovação e maturidade. A importância de conhecer o desenvolvimento da carreira dos professores se manifesta em suas histórias ricas em detalhes que podem vir a auxiliar e compreen- der os problemas e atitudes dos docentes no exercício de sua profissão (HOPF; CANFIELD, 2001). De acordo com Betti e Mizukami (1997) as pes- quisas educacionais da atualidade têm tentado vis- lumbrar os conhecimentos ou saberes dos professores com o objetivo de contribuir com a formação de no- vos profissionais. Nesse contexto, o presente estudo tem como obje- tivo analisar os ciclos de vida profissional na carreira docente como um processo de socialização e incor- poração na atividade profissional, com base em uma revisão sistemática da literatura. 12 Godtsfriedt, J. Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 quais, a partir da leitura de seus títulos, restaram 04. Estes 232 estudos foram excluídos por não apresenta- rem em seus títulos os descritores de assunto propos- tos. Em seguida, por não constar em seus resumos os ciclos de vida profissional na carreira docente como alternativa de um processo de socialização e incorpo- ração na atividade profissional, 03 estudos foram ex- cluídos. Desta maneira, 01 estudo foi selecionado para análise final, além do acréscimo de 05 artigos identifi- cados na lista de referências do artigo selecionado para o estudo. Desta forma totalizando 06 estudos incluídos para a pesquisa. As histórias de vida dos professores se constituí- ram por muito tempo, como uma espécie de paradigma perdido da investigação educacional. Apesar de todas as críticas é inegável que as histórias de vida têm ori- ginado práticas e reflexões muito estimulantes, con- dimentadas pelo encontro de várias disciplinas e pelo recurso a uma variedade de ajustamentos conceituais e metodológicos (COSTA; GONÇALVES, 2006). O estudo sobre o percurso profissional dos profes- sores da área de formação da educação física é muito amplo e difícil de conceituar ou mesmo definir parâme- tros de similaridade em seus saberes teóricos (conheci- mentos), e também práticos (experiências oriundas do tempo de docência). O que é possível ressaltar é cada vez mais a relevância e pertinência oferecida ao campo de estudos das etapas, ou ciclos da carreira docente, onde os estudos buscam compreender e caracterizar o professor em cada um de seus estágios de vida pro- fissional, assim podendo melhor assimilar e aprender sobre sua prática e exercício profissional. Existe um verdadeiro movimento sócio-educativo em volta de história de vidas, com enorme provimento de abordagens, que precisam de um esforço de elabora- ção teórica baseada numa reflexão sobre as práticas e não sob a ótica normativa e prescritiva. Este movimento teve origem em uma mistura de anseios de fazer nascer uma maneira de elaborar um conhecimento mais próximo das realidades educativas e da rotina do professor. Este movi- mento tem oferecido uma atenção especial às práticas de ensino, o que tem sido melhorado através do olhar sobre a vida e a pessoa do professor. As experiências e pesqui- sas sobre histórias de vida no âmbito da profissão docente ilustram bem toda a fragilidade e complexidade da prática educativa (COSTA; GONÇALVES, 2006). A partir da década de 80 surgiram vários estudos biográficos sobre a trajetória e carreira do professor, so- bretudo do ensino secundário, ajudando a compreender melhor as fases do ciclo profissional dos professores e as suas determinantes. Este interesse pelo estudo das nar- rativas dos professores sobre a sua carreira enquadra-se na linha de uma nova perspectiva na análise do desen- volvimento humano, a Psicologia do Desenvolvimento coextensivo à duração do tempo de vida, cujos estudos e pesquisas se realizaram a partir dos anos 70, especial- mente com Huberman. (JESUS; SANTOS, 2004). Tais perspectivas de pesquisa e investigação têm contribuído para fazer surgir e despertar a questão da insatisfação dos professores no magistério. Quer seja compreendidocomo um dos sintomas do chamado “mal-estar docente”, ou como manifestação das várias formas de esgotamento que afetam os professores, co- mumente associadas ao termo e denominação de bur- nout, os estudiosos reconhecem que esse fenômeno é desencadeado por uma multiplicidade de fatores e ali- mentado tanto pela escola como pela comunidade e a sociedade em geral (LAPO; BUENO, 2003). A partir da pesquisa efetuada nas bases de dados descritas, encontrou-se um total de 236 referências re- lacionadas ao tema. No entanto, ao final da seleção 06 estudos respondiam aos critérios aplicados (Figura 01). O propósito de constituir uma carreira para o ma- gistério integra as metas das esferas administrativas, associando à idéia de corpo unificado considerada in- dispensável à ampliação de sua eficiência e produtivi- dade. O ingresso no magistério supõe um determinado grau de formação correspondente ao nível de ensino almejado e a aprovação em concurso, requisitos es- senciais à construção de uma carreira profissional e à afirmação da identidade do professor (VALLE, 2006). Nas últimas décadas o papel do professor tem sido interrogado pela sociedade, resultando em alterações na formação inicial. Desta maneira, verificar a relevân- cia desse profissional e as competências necessárias para que o docente possa ser considerado um bom pro- fissional se torna imprescindível para propor objetivos e metas para a formação do futuro professor (COSTA; NASCIMENTO, 2009). Na perspectiva para a formação do docente, a con- cepção de competência profissional adotada não pode ser reduzida somente àquelas relacionadas ao trabalho na dimensão técnico-instrumental, mas deve incenti- var a noção de competência humana de cuidar do ser, compreendendo a competência como um ato de assu- mir responsabilidades frente às situações de trabalho RESULTADOS E DISCUSSÃO 13 Ciclos de vida profissional na carreira docente: revisão sistemática da literatura Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 complexas, como uma atitude social, em sua dimensão ética (ROCHA, 2013). Entendemos por “competências profissionais” o con- junto formado por conhecimentos, saber-fazer e posturas, mas também as ações e as atitudes necessárias ao exercí- cio da profissão de professor. A definição de competência preconiza que este termo trata de “conhecimentos, habi- lidades e atitudes necessários para garantir as tarefas e os papéis de professor” (PAQUAY; PERRENOUD, 2001). Verificar a importância do profissional da área da educação e as suas competências relacionadas à edu- cação são necessárias para que o docente possa ser considerado um bom profissional, e se torna muito importante para propor os objetivos para a formação e qualificação do futuro professor. As características do bom professor e as evidências da aprendizagem efi- ciente demonstram que esta preocupação não é algo recente (COSTA; NASCIMENTO, 2009). Figura 2. Sumário de inclusão e exclusão dos estudos que relacionam os ciclos de vida profissional na carreira docente e os artigos selecionados para a pesquisa. * Não apresentavam, em seus títulos, os descritores de assunto propostos; ** Não constavam em seus resumos os ciclos de vida profissional na carreira docente como alternativa de um processo de socialização e incorporação na atividade profissional. Nota: construção do autor. 14 Godtsfriedt, J. Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 Em relação a ciclos de vida profissional na carreira docente como alternativa de um processo de socializa- ção e incorporação na atividade profissional, selecio- namos 06 estudos para discussão. Folle et al. (2009) descrevem uma investigação para analisar a história de vida de professores de Educação Física, procurando identificar as escolhas, as perspecti- vas e as trajetórias vivenciadas. Participaram do estudo quatro professores que se encontram em diferentes fa- ses da carreira docente (entrada, consolidação, diver- sificação e estabilização). Na recolha das informações os pesquisadores utilizarão uma entrevista semi-estru- turada e a técnica da narrativa foi empregada na aná- lise dos dados. As evidências do estudo confirmaram que docentes, mesmo com formações realizadas em momentos distintos e que atuam em contextos diferen- ciados, apresentam pontos comuns nas suas trajetórias profissionais, respeitadas as especificidades da história pessoal de cada professor. Betti e Mizukami (1997) relatam que a história de vida é, atualmente, uma importante fonte de informa- ção sobre a prática profissional docente. Desta forma, os resultados de pesquisas realizadas sob este referen- cial podem atingir sobremaneira a formação inicial de professores. Assim sendo, o objetivo da pesquisa destes autores foi descrever e analisar a trajetória de vida profissional de uma professora de Educação Fí- sica, levantando informações que poderiam ser úteis na formação de professores. A metodologia e material constaram de entrevista semi-estruturada, gravada, transcrita e analisada, tendo em vista o referencial te- órico de Histórias de Vida e Formação de Professores. Os resultados indicaram que existem pontos intrínse- cos à pessoa, como por exemplo, a escolha vocativa da profissão, o interesse em continuar estudando (forma- ção continuada), o prazer em dar aula, a influência da família e pontos extrínsecos como, o reconhecimento de outros profissionais pelo seu trabalho, a interdisci- plinaridade e as condições de infra-estrutura escolar, que interferem na vida profissional. Bueno (2002) investigou questões teóricas e meto- dológicas relacionadas às abordagens (auto)biográfi- cas. Considerou que a partir dos anos 1980 houve um redirecionamento dos estudos sobre formação docente, cuja ênfase sobre a pessoa do professor veio favorecer o aparecimento de um grande número de obras e estu- dos sobre a vida dos professores, as carreiras e os per- cursos profissionais, as autobiografias docentes ou o desenvolvimento pessoal dos professores. Mais do que ver um simples modismo nas abordagens que tomaram a perspectiva de explorar aspectos da subjetividade do professor, o texto busca compreender o que motivou tamanha adesão às abordagens (auto)biográficas. Nes- sa perspectiva, discutiu as rupturas que se operam no campo das ciências humanas em relação aos métodos convencionais de investigação, desde as primeiras dé- cadas do século XX, buscando mostrar como a subjeti- vidade passa a se constituir na idéia nuclear e articula- dora das novas formulações teóricas que realimentam as diversas áreas, a partir de então. A seguir examinou as especificidades do método biográfico, sublinhando seu valor heurístico para a investigação das relações entre história social e história individual. Na última parte apresentou uma caracterização dos estudos com histórias de vida de professores, ressaltando os seguin- tes pontos: a necessidade atual de construção de uma teoria da formação de adultos; as potencialidades de tais estudos e abordagens; as dificuldades de natureza metodológica que decorrem, de um lado, da grande di- versidade de usos que delas têm sido feitas e, de outro, da própria juventude e imaturidade da área. Almeida e Fensterseifer (2007) estudaram a traje- tória de duas professoras de Educação Física de uma escola pública de Santo Augusto/RS que, apesar de serem formadas em diferentes momentos históricos, produzem uma prática semelhante, caracterizada pela adoção de atividades esportivas com um fim em si mesmas. Essa constatação levou a reconhecer a neces- sidade de explicitarmos as especificidades da educação escolar, em particular da Educação Física, bem como a melhor compreender a cultura escolar. A experiência da busca de compreensão das práticas pedagógicas de outros profissionais pode fornecer elementos para (re) significar nossas próprias ações na escola. Hopf e Canfield (2001) avaliaram como um grupo de professores aposentados do EnsinoSuperior evo- luiu na profissão, conhecendo o desenvolvimento dos percursos profissionais em sua carreira. A amostra constou de 8 professores de Educação Física aposen- tados, que pertenceram ao quadro docente da CEFD/ UFSM. Foi utilizada uma entrevista semi-estruturada. Os resultados revelaram que a escolha da profissão foi impulsionada pelo gosto pelo esporte. O início como docente se deu anterior à formação profissional em es- colas e mais tarde a entrada no Ensino Superior onde foram vividas dificuldades que centraram em si pró- prio. A competência pedagógica se intensificou após confronto inicial da carreira, quando os professores se sentiram mais seguros em situação de aula. Em relação as atitudes frente às inovações e mudanças, os relatos permitiram verificar que, de uma forma geral, foram receptivas. Os relacionamentos com os alunos foram relatados como positivos, e com os colegas transpa- receram algumas divergências. A relação entre a vida 15 Ciclos de vida profissional na carreira docente: revisão sistemática da literatura Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 Analisando a história de vida e ciclos da carreira de um profissional de educação física pode-se com- preender que, apesar dela ser única e singular, pode ser observada também como uma trajetória com al- guns pontos fortes, principalmente quando estes são encontrados em outras histórias de vida profissional (BETTI e MIZUKAMI, 1997). As opções que cada um tem quem tomar como pro- fessor aproxima-se com a maneira de ser, onde cada um possui seu próprio modo de agir, de se relacionar com os alunos, de manifestar sua satisfação após a aprendi- zagem, de utilizar os meios pedagógicos. Assim, o de- senvolvimento da carreira ou profissão de professor é um processo, no qual, há regressões, becos sem saída e momentos de desconforto (HOPF; CANFIELD, 2001). A carreira docente mostra se como um processo de formação permanente e de desenvolvimento pes¬soal e profissional do professor, que compre¬ende não apenas os conhecimentos e competências que o mes- mo constrói na formação, mas também a pessoa que ele é, com todas as suas crenças, idiossin¬crasias e história de vida, e o contexto em que exerce a ativida- de docente (GONÇALVES, 2009). Os ciclos de vida profissional são importantes fon- tes de informações sobre a prática profissional docente. Os dados apresentados em geral das pesquisas realiza- das sob este referencial possuem a tendência de abor- dar com destaque a formação inicial de professores. Sobre o desenvolvimento dos percursos profissio- nais na carreira docente, mostra-se que em geral a es- colha da carreira de professor de Educação física se motivou por gosto pelo esporte. E a competência peda- gógica se intensifica após confronto inicial da carreira de professor, quando os professores se sentiram mais seguros em situação de aula. Os estudos revisados apontam que os ciclos de vida profissional na carreira docente são permeados por desafios, dilemas e conquistas que repercutem no processo de como o professor percebe-se e sente-se no ambiente de trabalho, na busca da realização pessoal e profissional. Sugerem-se mais estudos com o objetivo de ampliar a discussão sobre esse tema. CONSIDERAÇÕES FINAIS pessoal e profissional ocorreu de maneira conciliatória. A aposentadoria chegou cedo na vida desses docentes, antecipada pelas condições sócio-políticas do País. A análise dos percursos profissionais desses professores mostrou, que existiu uma diversidade de trajetórias. Tardif (2000) analisou três questões que, nos últimos vinte anos, têm estado no centro da problemática da pro- fissionalização do ensino e da formação de professores, em um grande número de países ocidentais: Quais são os saberes profissionais dos professores, isto é, quais são os saberes (conhecimentos, competências, habilida- des etc.) que eles utilizam efetivamente em seu trabalho diário para desempenhar suas tarefas e atingir seus obje- tivos? Em que e como esses saberes profissionais se dis- tinguem dos conhecimentos universitários elaborados pelos pesquisadores da área de ciências da educação, bem como dos conhecimentos incorporados nos cursos de formação universitária dos futuros professores? Que relações deveriam existir entre os saberes profissionais e os conhecimentos universitários, e entre os professores do ensino básico e os professores universitários (pesqui- sadores ou formadores), no que diz respeito à profissio- nalização do ensino e à formação de professores? A fim de proporcionar elementos que permitam responder a essas três perguntas, em um primeiro momento o autor, fez uma breve descrição da conjuntura social na qual se vem desenvolvendo, hoje, o movimento de profissiona- lização do ensino. Em um segundo momento, o autor sugeriu uma definição daquilo que se compreender por “epistemologia da prática profissional”, especificando, de forma sucinta, algumas conseqüências dessa defi- nição para a pesquisa sobre o ensino. Em um terceiro momento, o autor procurou ver de que modo essa de- finição permite destacar algumas das mais importantes características da prática dos professores. Como conclu- são identificou algumas conseqüências dessa análise da prática profissional em relação aos programas de forma- ção para o magistério, aos dispositivos de formação e às práticas profissionais dos formadores de professores. As pesquisas (n=6) foram escritas na língua portu- guesa, os seis estudos foram publicados entre os anos de 1997 e 2009, com o seu número amostral variando entre 01 e 08 participantes. Somando-se os números amostrais, constata-se que 15 indivíduos foram avalia- dos nestes estudos. Segundo informações colhidas nes- tas publicações, a maioria dos participantes (n=10) é do sexo masculino e 05 sujeitos de pesquisa que foram avaliados são do sexo feminino. 16 Godtsfriedt, J. Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 19, n.02, p. 09-17, mai/ago 2015 ALMEIDA, Luciano de; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Professoras de Educação Física: duas histórias, um só destino. Movimento, Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 13-35, maio/ago., 2007. BARONE, Thomas e colaboradores. 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