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1 A triagem neonatal inclui testes e exames realizados nos recém-nascidos (RN) que detectam precocemente algumas doenças, cuja evolução pode ser evitada, por meio de intervenções clínicas e tratamento adequado. ➢ Teste do Olhinho O teste do olhinho ou teste do reflexo vermelho tem o objetivo de identificar patologias que – se não tratadas – podem causar cegueira. É feita uma oftalmoscopia indireta, em que o profissional mantém uma distância de cerca de 30cm do examinado. A luz emitida pelo oftalmoscópio deve atravessar todas as estruturas – desde a córnea até o segmento posterior - e, ao chegar à retina, produz um reflexo vermelho. Se houver qualquer opacidade em algum dos meios transparentes do globo ocular, o reflexo vermelho estará ausente e veremos uma leucocoria, indicando a necessidade de uma avaliação por parte do oftalmologista, para evitar uma amaurose futura, isto é, uma perda visual. Várias doenças podem ser detectadas: catarata congênita; retinopatia da prematuridade; retinoblastoma; glaucoma congênito; descolamento de retina, infecção congênita. É importante que se faça esse teste antes da alta hospitalar do bebê. A nível mundial, as principais etiologias de cegueira tratável na infância são catarata, retinopatia da prematuridade e o glaucoma. O teste é considerado normal quando os dois olhos apresentam um reflexo vermelho brilhante. Pontos pretos, assimetria ou a presença de reflexo branco (leucocoria) indicam a necessidade de avaliação mais cuidadosa – realizada pelo oftalmologista. ➢ Teste do Coraçãozinho (ou Teste da Oximetria de Pulso) As cardiopatias congênitas críticas (CCC) são aquelas que requerem cirurgia ou intervenção por cateterismo no 1º ano de vida. O RN afetado pode não apresentar sintomas graves nos primeiros dias de vida, uma vez que o canal arterial ainda está aberto, mas o seu fechamento pode precipitar uma piora clínica rápida, caracterizada por hipóxia, acidose metabólica, convulsões, choque cardiogênico, parada cardíaca ou lesões de órgãos-alvo. De todos os sinais clínicos, 2 são os mais importantes para a detecção precoce das cardiopatias congênitas graves: saturação periférica anormal (SpO2 < 95%) e taquipneia (FR > 70 irpm). A presença de um desses sinais deve alertar o pediatra para possibilidade de cardiopatia, mesmo que o bebê esteja clinicamente bem. No grupo das CCC, ocorre uma mistura de sangue entre as circulações sistêmica e pulmonar, o que acarreta uma redução da saturação periférica de O2 e, por isso, é de extrema importância a aferição dessa saturação. O teste consiste, portanto, em realizar a aferição da oximetria de pulso em todo recém-nascido aparentemente saudável com idade gestacional > 34 semanas, antes da alta da unidade neonatal. • Local de aferição: membro superior direito e em um dos MMII. • Momento da aferição: entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar. Resultado normal: saturação periférica ≥ 95% em ambas as medidas (MSD e membro inferior) e diferença < 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior. Resultado anormal: caso qualquer medida da SpO2 seja menor que 95% ou haja uma diferença ≥ 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior, uma nova aferição deve ser realizada após 1 hora. Se o resultado se confirmar, um ecocardiograma deve ser realizado dentro de 24h. É importante que o teste seja realizado no MSD, porque o canal arterial pode ainda estar aberto e realizá-lo no MSE alteraria o resultado. Fonte: Google Imagens, 2020 Fonte: MOORE, 2016 2 ➢ Teste da Orelhinha (emissões otoacústicas evocadas) A triagem auditiva é o melhor meio para identificar crianças nascidas com deficiência auditiva moderada, grave e profunda, sem ela, o diagnóstico seria feito por volta dos 2 ou 3 anos de idade. É recomendado realizá-la antes da alta hospitalar por meio das emissões otoacústicas evocadas (EOA). Aquelas crianças que não foram avaliadas no hospital devem ser triadas no 1º mês de vida, embora tecnicamente o exame possa ser feito até os 3 meses, quanto antes ele é feito, maiores as chances de reabilitação auditiva. Os RN com triagem auditiva normal e sem fatores de riscos para perda auditiva realizam esse teste 1 vez, porém aqueles com presença de quaisquer fatores de risco, devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar e realizar avaliações periódicas durante os dois primeiros anos de vida. É um exame rápido, objetivo, sensível, não invasivo e, na maioria das vezes, é realizado em crianças durante o sono natural. É importante ressaltar que a captação das EOA não tem como objetivo quantificar a alteração auditiva, e sim detectar sua ocorrência e, dessa forma, confirmar a integridade da função coclear. O PEATE (potencial evocado auditivo de tronco encefálico) ou BERA é um exame que avalia a atividade eletrofisiológica do sistema auditivo em resposta a um estímulo sonoro, desde o nervo coclear até o mesencéfalo (colículo inferior). É um exame objetivo e não invasivo, sendo utilizado nos protocolos de triagem auditiva para os pacientes com indicadores de risco para deficiência auditiva ou naqueles em que houve falha nas EOA. ➢ Teste da Linguinha Avaliação da anquiloglossia ou língua presa, em que o frênulo lingual é curto ou possui tecido em excesso, limitando a movimentação da língua e, consequentemente, seus movimentos (sucção, deglutição, mastigação e fala). O exame é clínico e indolor e apenas anquiloglossias congênitas graves necessitam de correção cirúrgica. Desde a Lei 13.002/2014, foi determinada a obrigatoriedade desse teste, que ainda divide opiniões. ➢ Teste do Pezinho Faz parte do programa nacional de triagem neonatal (PNTN), sendo o primeiro teste de triagem neonatal a ser implantado e tem como objetivo fazer o rastreamento de RN portadores de doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível a fim de evitar sequelas nas crianças. Esse teste passou por várias fases, são elas: • Fase I – Fenilcetonúria + Hipotireoidismo congênito • Fase II – Fenilcetonúria + Hipotireoidismo congênito + Doença falciforme • Fase III – Fenilcetonúria + Hipotireoidismo congênito + Doença falciforme + Fibrose Cística • Fase IV – Todos da fase III + Deficiência de biotinidase + Hiperplasia adrenal congênita Em 2020, foi adicionada Toxoplasmose Congênita no rol de doenças rastreadas pelo Teste do Pezinho. Segundo dados do Ministério da Saúde, a habilitação das quatro fases atingiu todas as regiões brasileiras em 2014, porém, a cobertura ainda não corresponde a todos os municípios brasileiros. O exame deve ser colhido em todo RN com 3 a 5 dias de vida, de preferência no 3° dia. Garantir que o RN tenha recebido leite ou aminoácidos para evitar um falso-negativo para fenilcetonúria. Prematuridade e transfusão são fatores restritivos na triagem da anemia falciforme e outras hemoglobinopatias. o No caso de transfusão, repetir exame com 90 dias, porém coletar para as demais doenças dentro do tempo recomendado. o No caso de prematuridade, deve coletar até o sétimo dia vida e repetir com 30 dias. Fonte: SBP, 2017 Em março de 2020, o SUS passou a ofertar o exame de detecção de IgM especificamente para toxoplasmose congênita a todos os recém-nascidos, incluindo esse exame no Teste do Pezinho. 3 Interpretação dos resultados • Fenilcetonúria o FAL < 4 mg% → é um resultado normal para crianças colheram o sangue após 48 horas de vida. o FAL ≥ 4 mg% e < 10 mg% → são solicitadas mais 2 coletas de sangue em papel filtro com intervalo de 1 mês entre cada coleta. o FAL ≥ 10 mg% → a criança já é chamada para uma consulta com o médico neuropediatra e coleta de sangue venoso para confirmação do diagnóstico. • Hipotireoidismo congênito o TSH neo < 5 µUI/mL → normal o TSH neo ≥ 5 e < 10 µUI/mL → é um resultado considerado limítrofe, nova coleta do teste imediata.Se mantiver resultado, RN será convocado para consulta com pediatra ou endocrinologista e faz coleta de sangue venoso para definir conduta. o TSH neo ≥ 10 µUI/ mL → suspeita de ser portadora de hipotireoidismo congênito. • Hemoglobinopatia → primeiro exame suspeito coletar segunda amostra. • Fibrose Cística o IRT (tripsina imunorreativa) < 70 ng/mL → é um resultado considerado normal para crianças que tenham colhido o sangue entre 3 e 30 dias de vida. o IRT1 ≥ 70 ng/mL → solicitar novo teste do pezinho, entre a 3ª e 4ª semana de vida do RN (IRT2). Se IRT2 mantiver alterado (≥ 70 ng/mL), encaminhar urgente para o gastropediatra e pneumopediatra. Havendo 2 IRTs alterados, devemos fazer uma avaliação clínica do paciente associado ao teste do cloro no suor, que é considerado alterado se o valor for maior que 60. A deficiência de biotinidase é uma doença metabólica de herança autossômica recessiva na qual há um defeito no metabolismo da biotina. Costuma se manifestar a partir da 7ª semana de vida, com distúrbios neurológicos e cutâneos, como crises epilépticas, hipotonia, microcefalia, atraso do desenvolvimento neuropiscomotor, alopecia e dermatite eczematoide. O tratamento é feito com reposição oral de biotina (10 a 20mg diariamente). O hipotireoidismo congênito é uma das principais causas evitáveis de retardo mental, doença de herança autossômica recessiva, trata-se de falha na produção ou na atividade dos hormônios tireoidianos. O quadro clínico depende da intensidade, da época de instalação e da duração da deficiência hormonal, que afetará quase todos os tecidos do organismo em maior ou menor grau, podendo deixar graves sequelas, por isso, a importância da triagem neonatal, pois a intervenção precoce com hormônios tireoidianos muda a vida da pessoa. A hiperplasia adrenal congênita, por sua vez, é uma doença genética caracterizada por distúrbios no funcionamento das glândulas adrenais, produtoras de cortisol e aldosterona. É a causa mais comum de insuficiência adrenal na infância. o Caracterizada por perda de sal na urina e genitália ambígua (pelo acúmulo de androgênios, que causa virilização). Tem ainda como alterações laboratoriais: hipoglicemia, hiponatremia e hipercalemia. Se a criança tiver mais de 30 dias, partimos para o teste genético ou para pesquisa de cloro no suor. 4 5 1. (FMUSP-2019) Um recém nascido de termo, adequado para a idade gestacional, com Apgar de 5, 8 e 9 no primeiro, quinto e décimo minutos de vida, é submetido, com 30 horas de vida ao teste de triagem cardiológica. A saturação de oxigênio do membro superior direito e do membro inferior esquerdo foram de 94% e 96%, respectivamente. Sobre este resultado, podemos afirmar que: a) O teste está alterado, devendo ser repetido em 1 hora e, se permanecer alterado, indicar ecocardiograma. b) O teste está normal, sem necessidade de repetir o exame ou fazer qualquer investigação complementar. c) O resultado do teste não pode ser levado em consideração, pois foi realizado antes de 48 horas de vida. d) O resultado deve ser desconsiderado, pois foi utilizado o membro inferior contralateral em relação ao membro superior. 2. (UFRJ – 2016) Pode-se afirmar sobre o teste do pezinho que: a) Alta precoce pode gerar falso-negativo no caso da fenilalanina. b) Prematuridade não restringe a triagem de hemoglobinopatias. c) Íleo meconial pode gerar falso-positivo da tripsina imunorreativa. d) Caso for positivo para hipotireoidismo, repetir em papel filtro. 3. (SES-GO-2016) Ante um recém-nascido com genitália ambígua, pode-se pensar em deficiência de: a) 17-hidroxiprogesterona. b) 21-hidroxilase. c) ACTH. d) FSH. 4. (PSU-MG-2015) Lactente com 65 dias de vida, nascido de gestação sem intercorrência, parto cesárea, peso de nascimento: 3.200 g. Apresentou no período neonatal infecção precoce, ficando, no berçário durante duas semanas, o que atrasou a realização da triagem neonatal. Vem para consulta de puericultura trazendo o “exame do pezinho” (colhido o sangue há cinco dias), que mostra hemoglobina FAS. A interpretação CORRETA deste resultado é: a) Este resultado exclui doença falciforme. b) Exame inconclusivo devido à presença de hemoglobina fetal (f). c) Resultado compatível com doença falciforme. d) Resultado compatível com padrão normal de hemoglobina. 5. (HCPOA-RS- 2015) Qual dos procedimentos de triagem abaixo está recomendado para todas as crianças? a) Oximetria de pulso em recém-nascidos. b) Medida da pressão arterial a partir do 3 meses. c) Urocultura aos 6 e 12 meses. d) Medida do perímetro cefálico ao nascer e a cada mês, até os 48 meses. e) Glicemia de jejum anual a partir dos 6 anos. 6 6. (FUNDHACRE- 2015) Em relação ao teste de oximetria, conhecido como o teste do coraçãozinho, marque a alternativa que MENOS corresponde ao objetivo da implantação deste teste de triagem, cuja recomendação é que seja realizado em todos os recém-nascidos antes da alta hospitalar. a) O objetivo do teste do coraçãozinho é o de realizar uma triagem para a identificação de todas as cardiopatias congênitas, especialmente as cardiopatias com sopro cardíaco bem audível no período neonatal. b) A relevância do diagnóstico das cardiopatias congênitas está na tentativa de se reduzir a mortalidade infantil, pelo Pacto pela Vida, uma vez que as cardiopatias congênitas representam cerca de 10% dos óbitos infantis e cerca de 20% a 40% dos óbitos decorrentes de malformações congênitas. c) Considerando que cerca de 1 a 2 em cada 1.000 recém-nascidos vivos apresentam cardiopatia congênita crítica e que 30% destes recém-nascidos recebem alta hospitalar sem diagnóstico, evoluindo para óbito precoce, antes mesmo de receber tratamento, o teste do coraçãozinho está sendo implantado. d) O ecocardiograma deve ser realizado nos casos confirmados pela oximetria de pulso (Saturação SpO2 menor que 95% ou diferença igual ou maior que 3% entre as medidas dos membros). 7. (UFRJ-2014) O “teste do reflexo vermelho” é uma ferramenta de rastreamento de alterações que possam comprometer a transparência dos meios oculares e, segundo o Ministério da Saúde, deve ser realizado: a) Após o primeiro mês quando alterado. b) Aproveitando a luminosidade da sala de parto. c) Com o feixe de luz a 10 cm de cada olho. d) Rotineiramente até o terceiro ano de vida. 8. (RESMED-CE-2014) Criança com 30 dias de vida comparece à consulta e evidencia-se teste do pezinho alterado (positivo) para hipotireoidismo. Qual a CORRETA abordagem clínica para essa criança? a) Solicitar dosagens séricas de TSH e T4 livre. b) Repetir o teste do pezinho antes de novos exames. c) Iniciar tratamento e referenciar para centro especializado. d) Solicitar dosagem do T4 livre em amostra de papel de filtro. GABARITO 1) A 6) A 2) A 7) D 3) B 8) A 4) A 5) A
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