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1 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS testes de triagem teste do pezinho O teste do pezinho baseia-se em um exame de triagem para o rastreamento de doenças em recém-nascidos como, por exemplo: a fenilcetonúria, o hipotireoidismo congênito, doenças falciformes e outras hemoglobinopatias, e a fibrose cística. Sendo um exame disponibilizado pelo SUS com função realizar o encaminhamento e acompanhamento clínico, de exames complementares e tratamentos existentes, para o RN identificado com alguma das doenças citadas acima e com finalidade de fazer diagnóstico precoce de patologias congênitas do metabolismo e o surgimento de ações de TN em fase pré- sintomática, de forma a precaver o aparecimento de retardo metal e outras complicações através de tratamentos e acompanhamentos adequados. A coleta do teste do pezinho deve ser feita entre o 3o e 5 o dia de vida do neonato, preferencialmente no 3o dia. Não deve ser colhido antes de 48 horas de vida para evitar resultado falso- negativo para fenilcetonúria, pois é necessário que o recém- nascido (RN) tenha ingerido certa quantidade de leite materno para que a fenilalanina se acumule no sangue. Se for colhido muito antecipadamente, pode ser que o leite ingerido não seja suficiente para alterar o teste. Também se evita o resultado falso-positivo para hipotireoidismo congênito, pois após o nascimento ocorre liberação fisiológica de TSH no sangue com posterior diminuição das suas concentrações (<10 μUI/ml – valor de corte para resultado alterado), em torno de 72 horas de vida do RN. Em alguns casos a coleta pode ser antecipada e repetida, como: • Prematuridade – a coleta de sangue deve ser realizada preferencialmente no final da primeira semana de vida. Para estas crianças, o teste deve ser repetido ate a criança completar 1 mês de vida. • Transfusão sanguínea – deve ser colhido antes, não importando a data no nascimento. O teste é realizado em um cartão de coleta que contém a parte de identificação com informações que auxiliarão na análise do material e o papel-filtro que receberá o sangue coletado. A coleta deve respeitar as regras de higiene e assepsia, com lavagem correta das mãos, colocação de luvas e posicionamento adequado do paciente. Recomenda-se que o calcanhar da criança permaneça sempre abaixo do nível do coração para que haja boa circulação de sangue nos pés do RN. PKU (FENILCETONURIA) FAL (fenilalanina) < 4 mg%: normal para coleta após 48 horas de vida. Não necessita repetir o exame. FAL ≥ 4 mg% e < 10 mg%: colher mais 2 amostras de sangue em papel filtro com intervalo de 1 mês entre cada coleta. Caso o resultado mantenha-se alterado, a criança deverá ser encaminhada ao neuropediatra para avaliação e seguimento. encaminhada ao neuropediatra e coleta de sangue venoso para confirmação do diagnóstico de Fenilcetonúria. TSH (HIPOTIREOIDISMO) TSH neo < 5 μUI/mL: normal para coleta após 48 horas de vida. Não necessita repetir o exame. TSH neo ≥ 5 e < 10 μUI/mL: limítrofe. Realizar nova coleta imediatamente. Caso o resultado mantenha-se alterado, o RN será convocado para consulta médica. TSH neo ≥ 10 μUI/mL: considerada suspeita de ser portadora de Hipotireoidismo Congênito. Ecaminhada para consulta médica, coleta de sangue para confirmação. IRT (FIBROSE CÍSTICA IRT1 < 70 ng/ml: normal. Não precisa repetir o exame IRT1 > 70 ng/ml: alterado e será solicitada nova coleta, que deverá ser realizada entre a 3° e 4° semana (IRT2). Caso o resultado do IRT2 mantenha-se alterado, o RN será convocado para consulta médica, realizado o teste do suor e conduta para Fibrose Cística. FAL ≥ 10 mg%: 2 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS As hemoglobinopatias deverão ser analisadas conforme o tipo de hemoglobina identificada no teste: ➢ FA: normal para doença falciforme → não necessita repetir o exame. ➢ FS: alterado para doença falciforme, padrão compatível com anemia falciforme → colher 2ª amostra. ➢ FAS: portador do traço falciforme → não necessita repetir o exame. ➢ FC: alterado para doença falciforme, padrão compatível com hemoglobinopatia C → colher 2ª amostra. ➢ FAC: padrão compatível com heterozigose para hemoglobinopatia C → não necessita repetir o exame. ➢ FSC: alterado para doença falciforme, padrão compatível com hemoglobinopatia SC → colher 2ª amostra. ➢ FD: alterado para doença falciforme, padrão compatível com presença de hemoglobinopatia D → colher 2ª amostra. A hiperplasia adrenal congênita é identificada pela quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP) nas amostras de sangue colhidas em papel-filtro de todas as crianças. A interpretação de dá pelo percentil 99 para a população de RN, estabelecido em um estudo previamente realizado à implantação da triagem. ➢ Valores da 17-OHP ≤ percentil 99: normal ➢ Valores da 17-OHP ≥ 2 x percentil 99: altamente suspeitos e as crianças receberão convocação de emergência para consulta médica e realização de testes confirmatórios. ➢ Valores da 17-OHP ≥ percentil 99 e ≤ 2 x percentil 99: repetir coleta. Os níveis de 17-OHP de crianças não afetadas podem estar elevados em situações de estresse (recém-nascidos internados, com infecção, prematuridade etc.) podendo gerar diagnósticos falsos positivos. A interpretação da deficiência de biotinidase é feita pela porcentagem de atividade enzimática, conforme descrito: ➢ Deficiência profunda de biotinidase: atividade enzimática menor que 10% → colher 2ª amostra. ➢ Deficiência parcial de biotinidase: atividade enzimática entre 10% e 30% → colher 2ª amostra. ➢ Sem deficiência de biotinidase: atividade enzimática acima de 30%. teste da orelhinha Este teste deve ser realizado ainda na maternidade, assim que o bebê nasce. Consiste em emissões otoacústicas evocadas, ou seja, estímulos sonoros são produzidos e a resposta é captada por meio de uma sonda na orelha do RN. É um teste rápido, indolor e realizado, geralmente, enquanto o bebê dorme. O conhecimento do desenvolvimento da área auditiva e possíveis fatores relacionados ao transtorno na sua formação definiram a política de triagem auditiva universal para todos os RN, orientando que seja realizado esse teste até́ os 3 meses de vida para detecção e intervenção precoce quando necessário. FATORES DE RISCO PARA ALTERAÇÕES AUDITIVAS ▪ asfixiados (APGAR < 6 no quinto minuto) ▪ história familiar de surdez congênita ▪ TORCHS ▪ hiperbilirrubinemia (> 15 no RN e > 12 no prematuro) ▪ septicemia neonatal/meningite ▪ hemorragia intraventricular ▪ convulsões ou outra doença do SNC ▪ anomalias craniofaciais ▪ espinha bífida ▪ defeitos cromossômicos ▪ uso de drogas ototóxicas ▪ peso de nascimento < 1,5 kg ▪ ventilação mecânica por mais de 5 dias É recomendado na alta hospitalar realizar a triagem auditiva universal por meio das emissões otoacústicas transientes (EOAT) e pesquisa do reflexo cócleo palpebral (RCP). Estudos demonstraram que a realização da triagem auditiva somente em crianças com algum fator de risco apenas identificaria 40 a 50% das crianças com perda auditiva significativa.6 Os RN com triagem auditiva normal e sem fatores de riscos para perda auditiva realizam esse teste 1 vez, porém aqueles com presença de quaisquer fatores de risco descritos, devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar e realizar avaliações periódicas durante os dois primeiros anos de vida. Em caso de falha no primeiro teste de EOAT, o pediatra que acompanha a criança deve estar atento para a recomendação 3 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS da realização da otoscopia e a curva timpanométria para verificar se a falha ocorreu por alteração condutiva. Quando no prosseguimento dessa triagem for comprovado o comprometimento condutivo, o neonato é encaminhado para o exame otorrinolaringológico, sendo posteriormente submetidoa um novo teste.3 Caso a falha não seja decorrente de algum comprometimento de orelha externa ou média, é realizada uma avaliação audiológica completa na criança, pois pode estar relacionada à perda auditiva neurossensorial. Se esta for confirmada, a intervenção (seleção e adaptação de prótese auditiva, orientação familiar e terapia fonoaudiológica) deve ser imediatamente realizada. teste do olhinho O pediatra deve estar atento para a orientação e vigilância da realização do teste do olhinho (reflexo vermelho) em todos os recém‐nascidos. Estudos demonstram que a triagem visual em RN é um método que pode identificar potenciais causas de anormalidades oculares tratáveis. A Academia Americana de Pediatria recomenda que todo pediatra deve deve fazer a avaliação da criança do nascimento até́ os 3 anos com exame oftalmológico: história ocular, avaliação visual, inspeção externa do olho e pálpebra, avaliação da motilidade ocular, exame da pupila e reflexo vermelho. O reflexo vermelho é o exame de rastreamento (screening) para anormalidades oculares, desde a córnea até́ o segmento posterior. Nesse exame, pode ser detectado as opacidades dos meios transparentes do globo ocular. Várias doenças podem ser detectáveis: catarata congênita; retinopatia da prematuridade; retinoblastoma; glaucoma congênito; descolamento de retina; hemorragia vítrea. O teste do reflexo vermelho deve ser realizado: ▪ antes da alta da maternidade; ▪ na primeira consulta de puericultura; ▪ 2 meses de vida; ▪ com 6, 9 e 12 meses de vida; ▪ após 1° ano: duas vezes por ano. O pediatra deve ser treinado para o manuseio adequado do oftalmoscopio. O ambiente para a realização do exame deve ser escurecido, utilizar oftalmoscópio ou retinoscópio seguro próximo ao olho do examinador e aproximadamente 40 a 50 cm de distância. O teste é considerado normal quando os dois olhos apresentam um reflexo vermelho brilhante. Pontos pretos, assimetria ou a presença de reflexo branco (leucocoria) indicam a necessidade de avaliação mais cuidadosa – realizada pelo oftalmologista. teste da linguinha O teste da linguinha é um exame padronizado que possibilita diagnosticar e indicar o tratamento precoce das limitações dos movimentos da língua causadas pela língua presa que podem comprometer as funções exercidas pela língua: sugar, engolir, mastigar e falar. O teste da linguinha deve ser realizado por um profissional da área da saúde qualificado, como por exemplo, o fonoaudiólogo. Ele deve elevar a língua do bebê para verificar se a língua está presa, e também observar o bebê chorando e sugando. O exame não tem contraindicações. Recomenda-se que a avaliação do frênulo da língua seja inicialmente realizada na maternidade. A avaliação precoce é ideal para que os bebês sejam diagnosticados e tratados com sucesso. Existem graus variados de língua presa, por isso a importância de haver um teste que leva em consideração os aspectos anatômicos e funcionais para fazer um diagnóstico preciso e indicar a necessidade da realização do “pique no frênulo que está preso na língua”. Se o resultado da avaliação do protocolo indicar a presença da língua presa, o procedimento de liberação do frênulo lingual, popularmente conhecido como “pique na língua”, deve ser realizado por um profissional médico ou dentista. O Teste da linguinha é realizado por meio da aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo lingual com escores para bebês (Martinelli, 2013). Este protocolo é dividido em história clínica, avaliação anatomofuncional e avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva. O protocolo tem pontuações independentes e pode ser aplicado por partes, até o 6º mês de vida. Para a triagem neonatal (realizada nas primeiras 48 horas após o nascimento) é realizada somente a avaliação anatomofuncional do bebê, considerando que o bebê demora de 15 a 20 dias para se adaptar às novas condições de vida. Esta avaliação inicial permite diagnosticar os casos mais severos e indicar a frenotomia lingual (pique na língua) já na maternidade. Se a soma total dos escores da avaliação anatomofuncional do protocolo for igual ou maior que 7, pode-se considerar a interferência do frênulo nos movimentos da língua e orientar a família sobre a necessidade da cirurgia. A única parte do protocolo que pode ser aplicada, e os seus escores considerados de forma isolada, é a avaliação anatomofuncional. 4 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS teste do coraçãozinho Este consiste na realização da oximetria de pulso entre as primeiras 24 e 48 horas de vida, ainda na maternidade. Caso seja detectada alguma alteração, novo teste deve ser realizado após uma hora. Caso a alteração persista, é imprescindível a realização de ecocardiograma nas 24 horas seguintes para diagnóstico e, posterior, tratamento de cardiopatia congênita. Deve-se realizar a aferição da oximetria de pulso em todo recém-nascido aparentemente saudável com idade gestacional > 34 semanas antes da alta. O local de aferição é no membro superior direito e em um dos membros inferiores. Para a adequada aferição, é necessário que o RN esteja com as extremidades aquecidas e o monitor evidencie uma onda de traçado homogêneo. O teste deve ser realizado entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar. ➢ Resultado normal: Saturação periférica maior ou igual a 95% em ambas as medidas (membro superior direito e membro inferior) e diferença menor que 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior. ➢ Resultado anormal: Caso qualquer medida da SpO2 seja menor que 95% ou houver uma diferença igual ou maior que 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior, uma nova aferição deverá ser realizada após 1 hora. Caso o resultado se confirme, um ecocardiograma deverá ser realizado dentro das 24 horas seguintes. 5 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Este teste apresenta sensibilidade de 75% e especificidade de 99%. Sendo assim, algumas cardiopatias críticas podem não ser detectadas através dele, principalmente aquelas do tipo coartação de aorta. A realização deste teste não descarta a necessidade de realização de exame físico minucioso e detalhado em todo recém-nascido, antes da alta hospitalar. doenças combatidas pelo pntn A Fenilcetonúria (PKU) é um dos erros inatos do metabolismo, com padrão de herança autossômico recessivo. O defeito metabólico gerado, frequentemente causado pela enzima Fenilalanina Hidroxilase, leva ao acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL) no sangue e ao aumento da Fenilalanina e da excreção urinária de Ácido Fenilpirúvico. Sem a instituição, por meio de programas de Triagem Neonatal, do diagnóstico precoce e do tratamento antes dos 3 meses de vida, a criança afetada pela Fenilcetonúria apresenta um quadro clínico clássico, caracterizado por atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), deficiência mental, comportamento agitado ou padrão autista, convulsões, alterações eletroencefalográficas e odor característico na urina. São conhecidas três formas de apresentação metabólica que são classificadas de acordo com o percentual de atividade enzimática encontrado: • Fenilcetonúria Clássica – atividade da enzima fenilalanina hidroxilase praticamente inexistente, menor que 1% e, consequentemente, níveis de fenilalanina plasmática superiores a 20 mg/dL; • Fenilcetonúria Leve – atividade da enzima entre 1% e 3%, resultando em níveis plasmáticos de fenilalanina entre 10 mg/dL e 20 mg/dL; • Hiperfenilalaninemia Transitória ou Permanente – atividade enzimática superior a 3%, levando a níveis de fenilalanina entre 4 mg/dL e 10 mg/ dL. Nesse caso, não deve ser instituída qualquer terapia, pois essa é considerada uma condição benigna que não resulta em sintomatologia clínica. O diagnóstico da Fenilcetonúria,nas formas clássica ou leve, é feito pelo resultado da dosagem de fenilalanina com valores superiores a 10 mg/dL em pelo menos duas amostras laboratoriais distintas. Além disso, para que sejam descartadas as formas variantes, os cofatores da Biopterina (BH4) também devem ser pesquisados. O tratamento consiste basicamente em uma dieta com baixo teor de FAL, mantendo-se os níveis adequados desse aminoácido para permitir o crescimento e desenvolvimento normais do indivíduo. A instituição de uma dieta isenta de FAL causaria um dano ainda maior do que a Fenilcetonúria propriamente dita, ou seja, a Síndrome da Deficiência de Fenilalanina, que é caracterizada por eczema grave, prostração, ganho de peso insuficiente, desnutrição, além de deficiência mental e crises convulsivas. A dieta utilizada é hipoproteica, suplementada por uma fórmula de aminoácidos isenta de Fenilalanina (FAL). Como os alimentos que são fontes importantes de proteína (principalmente os ricos em FAL) são eliminados da dieta, as quantidades de aminoácidos essenciais (com exceção da FAL) passam a ser controladas por meio do fornecimento dessa fórmula especial. Essa reposição permitirá que o paciente tenha desenvolvimento, tanto somático quanto neurológico, adequado, apesar da importante restrição dietética que lhe será imposta. O Hipotireoidismo Congênito (HC), considerado uma emergência pediátrica, é causado pela incapacidade da glândula tireoide do recém-nascido em produzir quantidades adequadas de hormônios tireoideanos, que resulta numa redução generalizada dos processos metabólicos. A doença pode ser classificada em: ▪ primária – quando a falha ocorre na glândula tireoide; ▪ secundária – quando ocorre deficiência do hormônio estimulador da tireoide (TSH) hipofisário; 6 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS ▪ terciária – quando ocorre deficiência do hormônio liberador da tireotrofina (TRH) hipotalâmico; ▪ resistência periférica à ação dos hormônios tireóideos. Entre as principais formas de hipotireoidismo congênito permanente primário (T4 baixo e TSH elevado), destacamos as seguintes causas: ➢ por disgenesia tireoidiana com ectopia (85% dos casos) ➢ por disormoniogênese tireoidiana decorrente de mutações recessivas causando falhas na síntese de T4 O quadro de manifestações clínicas inclui: hipotonia muscular, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, anemia, sonolência excessiva, livedo reticularis, choro rouco, hérnia umbilical, alargamento de fontanelas, mixedema, sopro cardíaco, dificuldade na alimentação com deficiente crescimento pôndero-estatural, atraso na dentição, retardo na maturação óssea, pele seca e sem elasticidade, atraso de desenvolvimento neuropsicomotor e retardo mental. O tratamento da doença consiste na reposição dos hormônios tireóideos deficitários, no caso, reposição de levotiroxina sódica, sal sódico do isômero sintético da Tiroxina (T4). Sua utilização produz a normalização do estado metabólico que se encontra deficiente no hipotireoidismo. O acompanhamento deve incluir a avaliação hormonal, avaliações de crescimento e puberdade, além de testes psicométricos. Todos devem estar dentro da variação normal. O desenvolvimento físico e neuropsicomotor também deve ser levados em conta na orientação do cálculo das doses de reposição hormonal. A Doença Falciforme (DF) é uma afecção genética com padrão de herança autossômico recessivo, causada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina, que leva as hemácias a assumirem forma de lua minguante, quando expostas a determinadas condições, como febre alta, baixa tensão de oxigênio, infecções etc. As alterações genéticas (mutação) nessa proteína (hemoglobina) são transmitidas de geração em geração (padrão de herança familiar). O termo doença falciforme (DF) é usado para definir as hemoglobinopatias nas quais o fenótipo predominante é o da Hb S, mesmo quando associada a outra hemoglobina variante (Hb Var). Os tipos de DF mais frequentes são Hb SS, a S-beta Talassemia e as duplas heterozigoses Hb SC e Hb SD. Essas variações causadas por heterozigoses compostas podem apresentar quadros clínicos variados. O paciente afetado apresenta as seguintes alterações clínicas: anemia hemolítica, crises vaso-oclusivas, crises de dor, insuficiência renal progressiva, acidente vascular cerebral, maior susceptibilidade a infecções e sequestro esplênico. Podem ocorrer também alterações no desenvolvimento neurológico, com provável etiologia vaso-oclusiva de sistema nervoso central. O ideal é que o tratamento seja iniciado antes dos quatro meses de vida para que a prevenção das infecções e outras complicações que podem levar à morte da criança seja efetivo. A prevenção das complicações é muito eficiente na redução da morbimortalidade. As principais medidas preconizadas para alcançar esse objetivo são: antibioticoterapia profilática (esquema especial de vacinação), suplementação com ácido fólico, além do seguimento clínico especializado. A denominação Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) engloba um conjunto de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva, que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. O diagnóstico presuntivo da HAC na triagem neonatal é realizado pela quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP), seguido de testes confirmatórios no soro. As manifestações clínicas na HAC dependem da enzima envolvida e do grau de deficiência enzimática (total ou parcial). A apresentação clínica pode se expressar por insuficiência glicocorticoide, insuficiência mineralocorticoide, excesso de andrógenos ou ainda por insuficiência de andrógenos. Na deficiência da 21-hidroxilase existe um espectro de manifestações clínicas que podem ser divididas em três formas: forma clássica perdedora de sal, forma clássica não perdedora de sal e forma não clássica. ▪ Forma clássica perdedora de sal Constitui a forma clínica mais comum da deficiência da 21- hidroxilase (70%–75% dos casos de forma clássica). Nos recém- nascidos do sexo feminino, há virilização da genitália externa (aumento de clitóris, fusão labial em graus variáveis e formação de seio urogenital), decorrente do excesso de andrógenos durante a vida intrauterina. No sexo masculino ocorre a diferenciação normal da genitália externa na vida intrauterina, embora também sejam descritos casos com macrogenitossomia ao nascimento. A deficiência mineralocorticoide se manifesta precocemente (em geral a partir da 2ª semana), com crise adrenal: depleção de 7 RAYSSA OLIVEIRA SANTOS volume, desidratação, hipotensão, hiponatremia e hiperpotassemia e, se não tratada, pode evoluir para óbito. ▪ Forma clássica não perdedora de sal Os sinais de virilização, em ambos os sexos, ocorrem de forma semelhante ao descrito na forma perdedora de sal e, nos recém- nascidos do sexo feminino, há virilização da genitália externa. Sem diagnóstico e tratamento precoces, ambos os sexos apresentarão virilização pós-natal, caracterizada por clitoromegalia, aumento peniano, pubarca precoce, velocidade de crescimento aumentada e maturação óssea acelerada, resultando em baixa estatura final. Como nessa forma não há deficiência mineralocorticoide com repercussão clínica, os recém-nascidos do sexo masculino são frequentemente identificados em idade tardia, por sinais de hiperandrogenismo. ▪ Forma não clássica Essa forma de apresentação é cerca de 15 vezes mais frequente do que a forma clássica de HAC, e as manifestações podem aparecer na infância, adolescência ou idade adulta. No sexo feminino, devido ao hiperandrogenismo, a apresentação pode se dar por aumento discreto do clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais irregulares, hirsutismo e infertilidade. No sexo masculino, por ser oligossintomático,o quadro costuma não ser diagnosticado. A Fibrose Cística (FC) ou Mucoviscidose, como também é conhecida, é uma das doenças hereditárias consideradas graves, determinada por um padrão de herança autossômico recessivo e afeta especialmente os pulmões e o pâncreas, num processo obstrutivo causado pelo aumento da viscosidade do muco. Nos pulmões, esse aumento na viscosidade bloqueia as vias aéreas propiciando a proliferação bacteriana (especialmente pseudomonas e estafilococos), o que leva à infecção crônica, à lesão pulmonar e ao óbito por disfunção respiratória. No pâncreas, quando os ductos estão obstruídos pela secreção espessa, há uma perda de enzimas digestivas, levando à má nutrição. Diante de uma doença com um prognóstico tão grave e cuja sintomatologia manifesta-se geralmente em torno dos primeiros anos de vida, os programas de triagem neonatal são de importância fundamental para o seu acompanhamento adequado. O diagnóstico presuntivo é estabelecido com a análise dos níveis da tripsina imunorreativa (IRT). A análise do IRT só deve ser realizada em amostras colhidas com até 30 dias de vida do RN, pois após esse período, os resultados não são confiáveis como testes de triagem. O exame confirmatório dos casos suspeitos é a dosagem de cloretos no suor “Teste de Suor”. O tratamento do paciente com Fibrose Cística consiste em acompanhamento médico regular, suporte dietético, utilização de enzimas pancreáticas, suplementação vitamínica (vitaminas A, D, E, K) e fisioterapia respiratória. Quando em presença de complicações infecciosas, é indicada a antibioticoterapia de amplo espectro. Além do esquema vacinal habitual, as crianças devem receber também imunização antipneumocócica e anti- hemófilos.
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