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Andressa Marques – medicina UFR TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP) - MMII →A TVP dos membros inferiores é uma doença que se caracteriza pela formação aguda de trombos em veias profundas desses membros. →O quadro clínico local geralmente depende da extensão da trombose e das veias atingidas, podendo acompanhar-se de manifestações sistêmicas. →O mais preocupante do quadro de TVP são as complicações, sendo a embolia pulmonar (EP) a mais temida delas. →Nos EUA e na Europa foi estimada uma incidência anual de tromboembolismo venoso (TEV, incluindo TVP e EP), de 1 a 3 casos por 1.000 habitantes/ano. →Em nosso meio, Castro Silva calculou 28.000 internações por ano pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em consequência ao TEV, com 4.247 desses pacientes chegando ao óbito. →Outra complicação da TVP é a insuficiência venosa crônica (IVC), também chamada de síndrome pós-trombótica (SPT). Estima-se que, sem o uso de meias elásticas após o episódio inicial de TVP, em torno de 50% dos pacientes desenvolvam SPT. →A TVP dos MMII é dividida em proximal e distal. →Proximal – quando atinte as veias poplítea, femoral ou ilíaca com ou sem trombose nas veias da perna. →Distal – quando a trombose atinge apenas as veias da perna. →A probabilidade de uma EP grave ser causada por uma TVP distal é baixa. Entretanto, é importante também se fazer o diagnóstico da TVP distal e trata-la precocemente, pois podem evoluir para uma TVP proximal. FATORES DE RISCO →A TVP é considerada uma doença multicausal ou multifatorial em que fatores genéticos interagem entre si e com fatores ambientais. →A existência de alterações genéticas pode levar a situações de hipercoagulabilidade, facilitando o desenvolvimento de TVP e aparecendo em famílias com tendência à trombose, como: alterações em Andressa Marques – medicina UFR genes de fatores da coagulação como o fator V de Leiden e a protrombina, aumento de fator VIII, e de fator XI, diminuição de anticoagulantes naturais como antitrombina, proteína C, proteína S, e de atividade fibrinolítica. →Outro fator também ligado ao desenvolvimento de TVP é a hiper-homocisteinemia, que pode ser adquirida, mas também com possível componente genético. IDADE →A TVP é mais comum após os 40 anos – aumento exponencial com a idade →Da mesma forma, a frequência de EP, tanto no diagnóstico in vivo como em necropsias, aumenta com a idade. →Uma explicação para isso é que a diminuição da resistência da parede venosa, com a idade, poderia propiciar a dilatação da veia, e, consequentemente, a diminuição da velocidade do fluxo sanguíneo, facilitando o desenvolvimento da trombose. →Além disso, foi encontrada menor atividade fibrinolítica nas veias da perna em indivíduos de mais de 65 anos. IMOBILIZAÇÃO →O tempo de imobilização no leito é um fator clínico também importante. TROMBOEMBOLISMO VENOSO PRÉVIO →A ocorrência prévia de TVP aumenta de 3 a 4 vezes o risco de TVP em pacientes submetidos à cirurgia. →Se a história prévia inclui EP, o risco de uma nova TVP é de 100%. OBESIDADE →Parece ser um fator de risco para o desenvolvimento de TVP em pacientes acamados, possivelmente devido à dificuldade de mobilização do paciente e, talvez, a uma diminuição da atividade fibrinolítica que ocorreria em obesos. →Alguns estudos também trazem a obesidade como fator de risco independente para o desenvolvimento de TVP em pacientes submetidos à cirurgia de prótese de quadril. DURAÇÃO E PORTE DA OPERAÇÃO →Quanto maior a operação a que foi submetido um paciente, maior o risco de TVP (principalmente pacientes idosos) ANESTESIA →O tipo de anestesia usando durante a cirurgia também parece ter influir no risco de desenvolvimento de TVP, sendo esta mais frequente em pacientes submetidos à anestesia geral do que à peridural ou raquidiana. INFECÇÃO Andressa Marques – medicina UFR CÂNCER →A neoplasia maligna é responsável por aproximadamente 20% dos casos de TEV. →Pacientes com câncer tem 4 a 7 vezes mais risco de desenvolver TEV. →Também parece aumentar o risco de incidência de TVP em cerca de 4 vezes e em cerca de 6 vezes nos casos tratados com quimioterapia, principalmente em pacientes submetidos a condições desencadeantes de TVP, como cirurgia, imobilização, fratura de quadril etc. →Cerca de 50% dos pacientes com câncer e 90% dos com metástase apresentam anormalidade de um ou mais exames de coagulação, principalmente aumento dos fatores de coagulação, em muitos casos de fibrinólise e de marcadores de ativação da coagulação, como dímero D e fragmento 1+2 da protrombina. Certos tumores produzem ou induzem a formação de fatores pró coagulantes que poderiam ser responsáveis pelo aumento da incidência do TEV, substâncias como fator tissular e ativadores diretos de fatores, especialmente do fator X, já foram isolados a partir de células tumorais. →As neoplasias mais associadas à TVP são de mama, cólon e pulmão, refletindo a frequência na população, mas quando ajustados para a prevalência da doença, as mais frequentemente associadas à TVP são os tumores sólidos incluindo o de pâncreas, ovário, estômago e cérebro. QUIMIOTERAPIA →Além da neoplasia, o próprio tratamento pode aumentar o risco trombótico. →Literaturas tem mostrado o desenvolvimento de TVP em tratamento quimioterápicos para neoplasias mieloproliferativas e para tumores de próstata e de mama. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA →Pacientes com IAM e IC apresentam 2 ou 3 vezes mais TVP diagnosticada pelo TF do que os sem insuficiência. →Isso é resultado do aumento da pressão venosa central, da diminuição da velocidade de circulação sanguínea, da diminuição de mobilidade do paciente e, talvez, da hipoxia tecidual. GRAVIDADE DA DOENÇA →Pacientes graves internados em unidade de terapia intensiva, tem cerca de 3 vezes mais TVP do que pacientes clínicos controle, internados em enfermarias de hospital. GRAVIDEZ E PUERPÉRIO →A diminuição da morte materna por hemorragia, septicemia e eclâmpsia chamou a atenção para o TEV como importante causa de morbimortalidade durante a gravidez. →Estase sanguínea por compressão uterina e alterações na reologia e na hemostasia têm sido levantadas como responsáveis por essa complicação. →As mulheres portadoras de trombofilia hereditária ou adquirida têm risco de TVP muito aumentado durante a gravidez. →Outros fatores como idade, pré eclâmpsia, repouso prolongado, varizes, tromboflebite superficial e tabagismo foram apontados. →Após o parto, a incidência de TVP é muito maior que durante a gravidez. Andressa Marques – medicina UFR →Fatores que possivelmente influem nesse aumento de frequência incluem diminuição de atividade fibrinolítica no último trimestre de gravidez e no início do trabalho de parto, liberação de tromboplastina tecidual no momento da separação placentária e estase venosa por contração uterina e vasodilatação. →O risco de TVP é maior após cesárea do que após parto normal. ANTICONCEPCIONAIS REPOSIÇÃO HORMONAL • OUTRAS DOENÇAS ASSOCIADAS →Policitemia vera ou secundária, possivelmente por aumento de viscosidade sanguínea, e trombocitemia essencial e leucemia mieloide crônica têm sido descritas como fator de aumento na incidência de tromboses venosas, inclusive viscerais e de tromboses arteriais, parecendo, inclusive, existir uma relação direta entre o hematócrito e a incidência de episódios trombóticos. →O lúpus eritematoso pode levar a tromboses venosas recorrentes, tanto profundas como superficiais, às vezes associadas a anticoagulante lúpico circulante. →Outras doenças, como hiper-homocisteinemia e hemoglobinúria paroxística noturna, também têm sido associadas a um risco aumentado de TVP, assim como certas vasculites, como a doença de Behçet. PATOLOGIA E PATOGENIA MECANISMO DE FORMAÇÃO DO TROMBO →Os trombos podem desenvolver-seapós uma agressão direta à parede venosa, como traumas, cateterismo ou injeção venosa, ou podem desenvolver-se, sem qualquer lesão venosa aparente, em um indivíduo normal ou em pacientes submetidos a cirurgia, imobilidade ou repouso prolongado, pós-parto etc. →Para o desenvolvimento da trombose, são importantes a lesão da parede vascular, a alteração no fluxo sanguíneo e a alteração de componentes do próprio sangue, o que se descreveu como um aumento da fibrina circulante. Andressa Marques – medicina UFR LESÃO DA PAREDE VENOSA →O endotélio normal é uma superfície não trombogênica sobre a qual não aderem plaquetas, leucócitos e nem ocorre ativação de proteínas coagulantes. →Entre os fatores conhecidos que poderiam explicar esse comportamento, encontram-se: repulsão eletromagnética da superfície negativamente carregada, produção pelo endotélio de prostaciclina (prostaglandina I2) e óxido nítrico (EDRF), e a ecto-ADPase de superfície, CD39, agentes inibidores da ativação das plaquetas e antiagregantes plaquetários, a produção de substâncias heparina-símile, trombomodulina e ativadores da fibrinólise. →Quando existe uma lesão endotelial com exposição do subendotélio, plaquetas e glóbulos brancos rapidamente se acumulam sobre este, havendo também ativação dos mecanismos de coagulação. →As plaquetas liberando ADP e tromboxana A2 arregimentam e promovem a agregação de novas plaquetas. Forma-se trombina, que contribui para a agregação de novas plaquetas e para a formação de fibrina, que dará consistência ao trombo, apreendendo os elementos celulares. →Essa formação se dá por 2 mecanismos: 1. Liberação local de fator tissular da própria parede lesada, de leucócitos acumulados no local da lesão, de micropartículas geradas nos leucócitos induzidas pela p-sectina, liberada pelo próprio endotélio ou pelas plaquetas, ativando fatores VII, e subsequentemente fatores IX e X que, na presença dos cofatores VIII e V, promovem rápida formação da trombina. Este é considerado hoje, o principal mecanismo da coagulação “in vivo”. 2. Ativação do fator XII por contato com o colágeno e com outros tecidos subendoteliais e agregação plaquetária levando a alterações de membrana que facilitam a coagulação sanguínea em sua superfície. →Esse tipo de reação ocorre nos casos de agressão direta da parede venosa e possivelmente também é um componente importante da trombose venosa após fraturas, cirurgias ortopédicas e cirurgias pélvicas, urológicas e ginecológicas, ocorrendo agressão endotelial por traumatismo local, ocasionado Andressa Marques – medicina UFR por manobras cirúrgicas. É possível que esse componente traumático seja o motivo da pouca eficácia da heparina não fracionada em mini doses em casos de TVP em cirurgia ortopédica. →Foi também levantada a hipótese de que imunocomplexos, endotoxinas e outras substâncias liberadas durante determinadas moléstias ou mesmo durante operação cirúrgica contribuam para o desenvolvimento da trombose por sua ação sobre o endotélio. →O endotélio pode estar funcionalmente alterado ou ativado ou estimulado, sem que haja, pelo menos no início, lesão morfológica. Essa disfunção pode levar a diminuição na produção de substâncias vasoativas e inibidoras de agregação plaquetária, como prostaciclina e óxido nítrico, e de glicosaminoglicanos e aumento na secreção de vasoconstritores, agregantes plaquetários, P-selectina etc →As células endoteliais ativadas pela própria trombina, pela histamina ou por outras substâncias podem se afastar umas das outras, possibilitando a passagem de leucócitos e proteínas. →Além disso, essas células ativadas podem sintetizar e expor selectinas (também liberadas por plaquetas e outros leucócitos) que medeiam a atração, o rolamento e ativação de leucócitos, os quais produzem outras moléculas de adesão e fator tecidual. →O endotélio ativado produz, ainda, como outras células, citocinas que aumentam a resposta inflamatória e a lesão dos tecidos. ESTASE →Pode ser considerada o principal fator predisponente da trombose. →Tanto a diminuição da velocidade de fluxo como de volume de fluxo que se incluem no termo geral de estase sanguínea podem ter papel importante no desenvolvimento da trombose. →A diminuição da velocidade de fluxo pode dever-se a: • Queda no débito cardíaco durante o repouso • Relaxamento muscular durante o repouso, durante anestesia e em paralisias • Não acionamento da bomba venosa periférica, isto é, dos músculos da panturrilha que auxiliam na impulsão do sangue para o coração. →Essa diminuição de fluxo leva ao aumento da quantidade de sangue nas veias, dilatando-as passivamente, o que diminui ainda mais a velocidade do sangue em seu interior. →A diminuição do volume de fluxo, já que todo o sangue que chega ao membro tem de voltar, depende basicamente do débito cardíaco e da circulação arterial, que pode diminuir por uma doença miocárdica, pela ação de anestésicos ou, ainda, quando há obstrução do fluxo arterial para o membro. →Os mecanismos pelos quais a estase poderia levar à trombogênese são: • Distúrbio do fluxo laminar, levando à formação de redemoinhos e acúmulo de sangue em dilatações venosas e seios valvulares • Depósito de hemácias, plaquetas e leucócitos nesses locais • Aumento da concentração de fatores de coagulação ativados, localmente ou a distância, nos seios valvulares e nas dilatações venosas • Aumento da concentração local de ADP liberado pelas hemácias e pelos leucócitos • Prevenção da chegada ao local e/ou destruição de fatores anticoagulantes e antiagregantes • Hipoxia do endotélio. Andressa Marques – medicina UFR →HIPÓTESE PARA TROMBOGÊNESE: A diminuição de fluxo no interior das veias levaria a uma perturbação do fluxo laminar, criando redemoinhos nos seios valvulares e em dilatações venosas da panturrilha, como os seios venosos intramusculares. Esses redemoinhos levariam ao acúmulo local de hemácias, plaquetas e leucócitos. Em uma fase inicial, esse acúmulo celular poderia ser removido pelo aumento de fluxo venoso. Se isso não ocorresse, a estabilidade desses depósitos seria garantida pala formação de uma rede de fibrina que prenderia esses elementos. A fibrina, por sua vez, se formaria pela ação da trombina, também formada localmente. Essa trombina promoveria nova agregação plaquetária que, por sua vez, levaria à formação de mais trombina pela presença do fator plaquetário III, que facilita a interação e a ativação dos diversos fatores de coagulação. Esses fatores também permaneceriam no local por causa da estase. É possível que o início da ativação do sistema intrínseco da coagulação ocorra localmente pela ativação de fator XII por fosfatídeos presentes nas membranas das hemácias e dos leucócitos. →Um mecanismo alternativo seria o de ocorrer inicialmente agregação plaquetária desencadeada pela ação de ADP liberado por hemácias e leucócitos, seguida de nova agregação, pela liberação de mais ADP e tromboxana A2 pelas próprias plaquetas e a ativação do sistema de coagulação pela liberação e ação de fatores plaquetários. HIPERCOAGULABILIDADE SANGUÍNEA – TROMBOFILIA →Classificada como primária se de origem genética; e secundária quando ocorre em virtude de algum outro estado fisiológico ou patológico. Inclui: • Alterações genéticas que podem provocar ou facilitar o desenvolvimento de trombose, como: -Aumento de fatores de coagulação como fator VIII e XI -Mutações em fatores de coagulação como o fator V de Leiden (FVR506Q), que aumenta a resistência do fator Va à ação da proteína C, e a mutação do gene da protrombina G20210A -A diminuição de inibidores da coagulação, como antitrombina, proteína C, proteína S etc. Andressa Marques – medicina UFR • O aumento de fatores que promovem a coagulação e que podem encontrar-se elevados em determinados estados fisiológicos, patológicos e terapêuticos,como em gravidez e câncer, e com o uso de esteroides etc. • Diminuição de anticoagulantes circulantes em estados fisiológicos e patológicos, por exemplo. Alterações hepáticas, ou por uso de medicamentos como estrógenos, antivitaminas K (no início do tratamento anticoagulante) e quimioterápicos • A diminuição da atividade fibrinolítica, como ocorre, por exemplo, no pós operatório imediato. →Provavelmente, os 3 fatores (TRÍADE DE VIRCHOW) – estase, hipercoagulabilidade e lesão tecidual – agiriam contemporaneamente, talvez sinergicamente, variando em cada caso, o grau de participação dos mesmos. LOCAL DE ORIGEM DO TROMPO Andressa Marques – medicina UFR LADO DE DESENVOLVIMENTO DA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA →Parece ser mais comum no membro inferior esquerdo do que no direito. →A obstrução parcial do fluxo sanguíneo por compressão da veia ilíaca esquerda, pela artéria ilíaca direita, tem sido responsabilizada por essa maior incidência de TVP à esquerda. Em alguns casos, existe nesse local uma constrição fibrosa causada por compressão arterial, suficiente para ocluir mais de ⅔ da luz venosa. →A TVP ocorre bilateralmente com alguma frequência. →Em pacientes submetidos à cirurgia abdominal, encontrou-se 33,9% de trombose bilateral, diagnosticada pelo TFM. Como o achado clínico da TVP bilateral é bem mais raro, é possível que, embora ela ocorra em muitos casos, seja subclínica em um dos membros, talvez por iniciar-se mais tardiamente e seu desenvolvimento ser tolhido pelo tratamento instituído, visando à trombose sintomática no outro membro. →Recentemente foi mostrada maior frequência de TVP bilateral nos pacientes com câncer. FISIOPATOLOGIA DA TROMBOSE VENOSE PROFUNDA →O trombo venoso produz alterações locais e gerais, basicamente, por 3 mecanismos: obstrução venosa, inflamação da veia e dos tecidos perivenosos e desprendimento total ou parcial do trombo. ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS →Tanto nos casos de trombose iliofemoral como femoropoplítea ou de veias da perna, o fluxo venoso estava diminuído quando comparado ao normal, parecendo que o grau de obstrução do fluxo venoso estaria mais relacionado com a extensão da trombose do que com sua localização. Andressa Marques – medicina UFR →Outra alteração causada ao fluxo, pela presença do trombo, é o desaparecimento da oscilação normal da velocidade do fluxo venoso durante a respiração, causada pela diminuição dessa velocidade durante a inspiração. Essa alteração é bem detectada tanto pelo Doppler ultrassom como por exame pletismográfico. →Nos casos de obstrução venosa mais extensa, o fluxo nas veias envolvidas pode cair muito, chegando a não ser detectado com o auxílio do Doppler ultrassom. Por outro lado, o fluxo nas veias não envolvidas, que atuam como via colateral, tende a aumentar muito, podendo apresentar pulsações de origem cardíaca. →O fluxo arterial pode apresentar-se normal ou, curiosamente, aumentado em tromboses não muito extensas. →Nos casos muito graves, como a chamada flegmasia cerúlea, esse fluxo pode estar muito diminuído por bloqueio dos capilares e arteríolas, chegando a determinar gangrena do membro. →A pressão venosa aumenta em consequência da trombose venosa, aumento esse dependente do local e da extensão do trombo, da posição do membro envolvido em relação ao átrio direito e da atividade muscular. →O aumento da pressão venosa é responsável pela maioria das alterações fisiológicas locais; assim, esse aumento, levando ao aumento da pressão venular e capilar, é responsável pelo acúmulo de líquido no meio intersticial. O aparecimento do edema depende do grau de pressão venosa alcançado: em pressão de 8,5 a 18,4 mmHg, o edema raramente se forma, mas com pressão maior que 50 mmHg, o edema está sempre presente. →O grau de pressão em decúbito dorsal varia com o local do trombo. →Encontraram, também, pequeno edema em 70% dos pacientes com TVP da perna, 86% em TVP de veia femoral e 100% em pacientes com TVP iliofemoral, sendo nesses, o edema muito mais importante. O sistema linfático também tem importância no desenvolvimento do edema: se houver obstrução linfática prévia ou pelo próprio processo inflamatório secundário à trombose, o edema ocorrerá com pressão venosa mais baixa do que em sua ausência. Isso porque os linfáticos funcionam como válvula de segurança, removendo proteínas filtradas e prevenindo o acúmulo de líquidos em presença de pequenas elevações de pressão. Deve-se, também, chamar a atenção para o fato de que o próprio aumento da pressão tecidual aumenta o fluxo linfático. →A obstrução venosa, levando ao aumento da pressão venosa, ocasiona distensão da parede da veia, fato que colabora na fisiopatologia da dor nos casos de TVP. A distensão de veias não envolvidas na trombose, quer superficiais, quer profundas, deve-se ao aumento de fluxo nessas veias, que passam a atuar como circulação colateral. INFLAMAÇÃO →Em casos de trombose venosa desencadeada por trauma físico, químico ou por infecção, a lesão endotelial e o processo inflamatório da parede são os desencadeantes da trombose. →Nos casos de TVP espontânea ou secundária ao repouso, pós cirurgia, o processo inflamatório tende a surgir secundariamente à presença do trombo. Esse processo pode ser tanto discreto, com lesões focais do endotélio e agrupamentos esparsos de leucócitos, quanto inflamatório intenso, com lesão endotelial, edema e infiltrado leucocitário, tanto da parede venosa como do tecido perivascular. Andressa Marques – medicina UFR →Leucinas, prostaglandinas, cininas e enzimas proteolíticas liberadas de leucócitos, plaquetas e da própria parede vascular podem contribuir para o aumento do processo inflamatório, para a extensão do trombo e para o desenvolvimento de sintomas clínicos. EVOLUÇÃO DA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA E SUAS COMPLICAÇÕES →A evolução e o aparecimento de complicações dependem da extensão e localização do trombo. →Trombos pequenos que atingem apenas veias da perna (trombose distal), sintomáticos ou não, em geral não tendem a provocar EP e parecem provocar, tardiamente, SPT menos frequente e menos grave. →A trombose venosa que atinge as regiões poplítea, femoral e, principalmente, iliofemoral, ou nesse segmento isoladamente (trombose proximal), tende, mais frequentemente, a provocar EP, com presença estimada em 46%, dos quais 4% fatais, se não tratada. A recorrência nesses casos de TVP proximal é estimada em 49% em pacientes não tratados por tempo longo com vitamina K. →A evolução local do trombo depende do tratamento empregado e da resposta do próprio organismo. →Quando empregado tratamento fibrinolítico sistêmico, principalmente nas tromboses de veias proximais, uma porcentagem pequena, em torno de 12%, sofre lise total, aproximadamente 60% sofrem lise parcial e no restante não há alteração, a recanalização total sobe para mais de 80% quando utilizado o tratamento fármaco-mecânico. →Essa recanalização se faz nos trombos semi-oclusivos, pela contração do trombo durante a organização fibrocelular, auxiliando a restauração da luz. →Nos casos de trombose totalmente oclusiva, essa recanalização se dá possivelmente pela formação de fendas múltiplas entre o trombo e a íntima, que se recobrem por endotélio migrado das zonas adjacentes, sendo o maior fator limitante a esse processo a aderência fibrosa do trombo à íntima. →Auxiliam na formação e na ampliação dessas fendas: a fragmentação do trombo após invasão celular; a fibrinólise local pela ativação do plasminogênio a partir de ativador liberado pelo endotélio e a contração do trombo durante a invasão fibrocelular. Essas fendas podem coalescer, afastando o trombo da parede venosa. →O amolecimento central de partes do trombo pela ação da isquemia e de polimorfonucleares pode também auxiliar nessa recanalização. Além disso, a migração de brotos endoteliais para o interior do trombopoderia auxiliar a atividade fibrinolítica e a fragmentação do trombo. →O produto final desse processo seriam espessamento intimal não obstrutivo da veia, projeções fibrosas e nódulos ou bandeletas projetandose para o interior da luz. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO CLÍNICO →É muito importante pensar na possibilidade de TVP em todo paciente que se apresentar com queixas de membros inferiores e examiná-lo atentamente. →Sua suspeita deve levar imediatamente à realização de exames auxiliares para, se confirmada a TVP, iniciar-se o tratamento o mais cedo possível, com a finalidade de impedir o crescimento do trombo, evitando ou diminuindo suas complicações, ou, em alguns casos, de retirar ou destruir o Andressa Marques – medicina UFR trombo. Na impossibilidade da realização desses exames auxiliares, o tratamento deve ser iniciado apenas com base no exame clínico. →quanto mais extensa, mais grave é a trombose e mais frequente o aparecimento de sintomas ou sinais. ANAMNESE →É importante iniciar a história da doença referindo as condições em que os sintomas se desenvolveram: se surgiram quando o paciente estava bem, desempenhando suas atividades normais – a assim chamada trombose espontânea, ou sem causa desencadeante – ou se estava em situação de risco, como repouso, pós operatório, puerpério, trauma, fraturas, viagens prolongadas, uso de estrógenos etc. →O sintoma mais comum da TVP dos membros inferiores é a dor. →A dor é causada por distensão da própria veia, processo inflamatório vascular e perivascular e por edema muscular que expande o volume dos músculos no interior da fáscia muscular pouco distensível, ocasionando pressão sobre terminações nervosas. A dor pode ser constante, mesmo em repouso, ou surgir quando o paciente anda ou movimenta a perna. →Alterações: • Dor • Edema • Aumento da consistência muscular • Dor no trajeto venoso • Sinal de Holmans • Dilatação das veias superficiais • Cianose EXAME FÍSICO DOS MEMBROS Andressa Marques – medicina UFR →Existem 2 quadros clínicos que, por sua maior gravidade, costumam ser referidos à parte, com nomes próprios já tradicionais: • Flegmasia alba dolens (inflamação branca dolorosa): refere-se ao quadro que costuma ser encontrado na trombose do segmento venoso femoroilíaco: caracteriza-se por dor e edema intensos em todo o membro e, eventualmente, palidez, pela presença de vasoespasmo, com diminuição, às vezes, dos pulsos distais • Flegmasia cerúlea dolens (inflamação azulada dolorosa): deve-se à obstrução total ou quase total das veias da extremidade com trombose do segmento femoroilíaco, das veias que normalmente atuam como colaterais e, frequentemente, das veias poplíteas e da perna. Em aproximadamente metade dos pacientes, esse quadro parece ser evolução da flegmasia alba. Forma-se rapidamente edema intenso e o membro torna-se cianótico, frio e tenso; a dor é excruciante. Andressa Marques – medicina UFR → MÉTODOS AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO →FLEBOGRAFIA – padrão ouro para diagnóstico! Todavia, é um método muito invasivo e vem sendo substituído por métodos não invasivos → mapeamento duplex →Métodos não invasivos: DOPPLER ULTRASSOM -É examinador dependente -Só faz diagnóstico de trombose oclusiva em veia única, o que geralmente ocorre no setor femoropoplíteo ou, mais precisamente, no setor femoroilíaco. -O Doppler ultrassom pode ser usado se não se dispuser de US de imagem, mas neste caso só com valor em achados positivos. Achados negativos ou duvidosos exigem encaminhamento para exame ultrassonográfico ou flebografia. MÉTODOS PLETISMOGRÁFICOS -Tem sido sugerido seu uso para acompanhamento de pacientes sintomáticos com resultado inicial negativo para avaliar uma possível extensão de TVP para as veias proximais e na reavaliação de casos de TVP com diagnóstico prévio conhecido. US EM TEMPO REAL – mais usado atualmente para diagnóstico de TVP -Método de escolha para confirmação diagnóstica na atualidade Andressa Marques – medicina UFR -A US proporciona imagem bidimensional dos tecidos e estruturas anatômicas pelo uso de ondas sonoras de alta frequência emitidas por um transdutor. Os computadores de alta velocidade possibilitam a obtenção de imagens em tempo real, dinâmicas, reproduzindo os movimentos dos tecidos que podem ser visualizados nos monitores dos equipamentos. -Obtém-se visualização das veias, dos tecidos vizinhos, bem como a imagem dos trombos no interior das mesmas e, mais importante, a imagem da veia possibilita, desde que se faça uma compressão suave dos tecidos com o probe, a avaliação da compressibilidade venosa. -O teste da compressibilidade venosa é o critério mais confiável e simples para verificação da TVP em fase aguda, de modo que a não compressibilidade venosa é indicativo de um trombo intraluminar. Esse critério tem sido o mais usado para o diagnóstico da TVP, com sensibilidade de 96% e especificidade de 98% em nível proximal, quando comparado à flebografia →Testes sanguíneos -Os testes sanguíneos para o diagnóstico de TVP seriam o ideal, pois de maneira simples, ou seja, por meio retirada de uma amostra de sangue e análise de seus componentes, se poderia verificar um trombo em formação. Todavia, esses testes sanguíneos que refletem a ativação da coagulação ou da fibrinólise em sua maioria têm sensibilidade ou especificidade limitadas para o diagnóstico da TVP e requerem procedimentos laboratoriais complexos, limitando, desse modo, seu uso na rotina diária. -Desses testes, o empregado de rotina é a determinação do dímero D (D dimer). →Os estudos usando a técnica ELISA (enzimelinked immunosorbent assay) para dímero D têm mostrado que esse teste pode ser usado para excluir o diagnóstico da TVP e mesmo EP, quando der resultados normais, pois tem alta sensibilidade, embora apresente baixa especificidade Andressa Marques – medicina UFR Andressa Marques – medicina UFR TRATAMENTO Andressa Marques – medicina UFR ➔ FILTRO DE VEIA CAVA -Dispositivo implantado na veia cava que impede a progressão de trombos de diâmetros maiores que os vãos das malhas do filtro – podem ser temporários ou definitivos →Indicações para o filtro: *Casos em que há contraindicação à anticoagulação *TEP na vigência de anticoagulação *Suspensão forçada de anticoagulação *Após embolectomia pulmonar →Indicações relativas: *Embolia séptica *Baixa reserva pulmonar →Contraindicações do filtro: *TVP extensa *TVP + TEP no ato do diagnóstico
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