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1 Digitada por Júlia Robadey OBESIDADE DEFINIÇÃO Obesidade é uma doença crônica, e, dessa forma, será tratada por uma equipe multidisciplinar. Hoje, temos que imaginar qual o maior fator determinante da obesidade, genético ou ambiental. É meio óbvio que hoje vivemos em um ambiente obesogênico, e, esse ambiente é o principal fator predisponente da obesidade. Entretanto, o fator genético é também muito importante, o que explica alguém comer muito e não ganhar peso. A obesidade também pode ser definida como “estado de intoxicação calórica”, cada um de nós precisa de certa quantidade de calorias por dia, e, o que determina essa quantidade de calorias que cada um precisa é um pouco da genética, um pouco a taxa metabólica basal. E, é muito simples, ao comer mais calorias que o meu corpo precisa, ele vai armazenar as calorias sob a forma de gorduras, e, ao contrário, ao ingerir menos calorias do que precisamos, iremos, obviamente, perder peso. Pesquisar: Dieta do Michael Phelps. Ele ingere muitas calorias por dia, mas as gasta proporcionalmente. ETIOLOGIA Etiologia genética: Existe uma doença chamada Síndrome de Prader-Willi é uma mutação no cromossomo já bem identificada. Essa doença é caracterizada por um discreto retardo mental, e, uma perda completa do controle sobre a alimentação. Temos que imaginar que esses pacientes não têm uma sensação de saciedade. São pacientes, muitas das vezes, com casos de obesidade muito graves, muito difíceis de serem tratados. Por ser causa genética, a medicação não funciona, e, o que temos que orientar os pais a fazerem, de maneira até muito triste, é trancar a porta da geladeira, dos armários, etc. Um outro exemplo, é a Síndrome de Down. Na grande maioria das vezes, esses pacientes com Síndrome de Down estão sempre com um excesso de peso, o que reflete também um pouco da característica genética da doença. Doenças endócrinas: Algumas doenças endócrinas podem causar obesidade, e, a primeira que as pessoas pensam é “Hipotireoidismo”, entretanto, hipotireoidismo não causa obesidade. Tal doença, irá promover, no máximo, um discreto ganho de peso. Doenças congênitas: Temos algumas doenças congênitas que podem fazer ganho de peso. Doenças hipotalâmicas: O hipotálamo tem lá os núcleos de controle da fome, e, do apetite, e, se tivermos um paciente com lesão nesses núcleos, podemos ter um paciente com a chamada “Obesidade Hipotalâmica”. A USP tem um ambulatório apenas de pacientes com obesidade hipotalâmica, são pacientes que tiveram TCE pós acidente, e, depois do acidente começaram a desenvolver obesidade, perda do controle alimentar, perda da saciedade. Então, é interessante pensarmos nisso, um trauma pode causar alteração nos mecanismos de regulação da fome e do apetite, e, levar a um quadro de obesidade. Drogas: Vivemos nos últimos anos uma revolução na psiquiatria, com os novos antipsicóticos que foram lançados, e, melhoraram muito o tratamento de doenças como esquizofrenia, transtorno bipolar, o grande problema é que alguns desses novos antipsicóticos, promovem um ganho absurdo de peso. Exemplos são os antipsicóticos como Olanzapina, Clozapina, Risperidona, os quais são medicamentos de excelente perfil, são medicamentos muito bons do ponto de vista psiquiátrico, mas, que promovem um ganho de peso exagerado. Podemos então dizer que estamos vivendo uma epidemia em que temos uma melhora do perfil patológico, do ponto de vista psiquiátrico, e, esses pacientes ficando obesos, diabéticos, hipertensos, por conta desse excesso de peso. 2 Digitada por Júlia Robadey CLASSIFICAÇÃO Classificamos a obesidade considerando o IMC, e, o risco de mortalidade independente do sexo e idade. Obs: Já tem sido proposta uma classificação de IMC acima de 50 ser o chamado “super obeso”, e, o IMC acima de 60 de “super super obeso”. Quais são as grandes limitações do IMC? A primeira, é que ela não diferencia “massa gorda” de “massa magra”, então, ao pegarmos um halterofilista, um lutador de MMA, podemos ter um paciente com IMC de 30, 31, onde temos basicamente ali, músculos. O segundo, é não conseguirmos avaliar a distribuição dessa gordura, se ela está distribuída nas vísceras, no subcutâneo. Se o IMC não diferencia massa gorda de massa magra, nem diferencia a distribuição de gordura visceral/subcutânea, por que esse é o nosso padrão ouro para classificação da obesidade? O que temos que entender, é que o IMC funciona muito bem quando nos referimos a “população”, visto que, a maioria da população se enquadra. Se formos analisar a prevalência de obesidade na FMV, por exemplo, o IMC irá funcionar bem, já que, apesar de termos atletas, esses são a minoria. Entretanto, dentro de uma academia, o IMC não vai funcionar, visto que, o perfil é totalmente diferente. Retomando, o que temos que entender é que o IMC não é perfeito, não funciona para avaliar indivíduo a indivíduo, dentro de uma academia, por exemplo. PREVALÊNCIA DE OBESIDADE A esquerda temos dados sobre a prevalência de obesidade que temos hoje no mundo. Obviamente, nos EUA temos dados mais assustadores, se olharmos em homens acima de 20 anos, 30 a 40% da população americana está obesa. No Brasil, fica em torno de 10%. Os dados das mulheres, os EUA e o México continuam liderando. Temos também dados do Programa Nacional Brasileiro, e, se olharmos 18 a 24 anos, 30% tem excesso de peso. Portanto, podemos dizer que 30% está acima do peso, e, se formos subindo e olhando as idades, conforme chegamos aos 40/50 anos, passamos da metade da população. Se falamos de obesidade propriamente dita, IMC acima de 30, vemos que em torno de 10% na faixa etária de 18 a 24 anos, e, ao chegar nos 30 anos, vemos em média 20 a 25% da população brasileira obesa. Isso é uma epidemia, e, no momento de pandemia assustador que estamos vivendo, podemos saber que a obesidade mata muito mais do que a COVID mata por ano, em qualquer país do mundo. Por isso, colocamos a obesidade como doença, e, é válido atentar para os maiores fatores de risco para desenvolver as formas graves da COVID, que são idade, obesidade, e, diabetes. Sempre tem as exceções, mas, é válido comentar, que sempre ao olharmos a notícia de que morreu uma pessoa jovem com a COVID, muitos são acima do peso. 3 Digitada por Júlia Robadey COMORBIDADES O grande problema da obesidade como doença são as comorbidades, ou seja, o que vem junto com a obesidade. Comorbidades econômicas, físicas, psiquiátricas, sociais, clínicas. ECONÔMICAS 140 bilhões de dólares são gastos ao ano com pacientes obesos. Esses pacientes precisam de mais assistência médica em comparação a um paciente magro, sofrem mais acidente de trabalho do que um paciente magro, tem teoricamente um menor rendimento profissional e maior gasto de seguro social, do que uma pessoa com peso normal. Um ponto importante, é que algumas empresas, principalmente, americanas, tem usado Instagram e Facebook para ver fotos de candidatos em processos de emprego para não incluir candidatos obesos, usando a obesidade como um critério para excluir pessoas de vaga de trabalho. FÍSICAS Falamos de comorbidades, e, muitas vezes esquecemos das comorbidade físicas, principalmente dos grandes obesos, aqueles com obesidade mórbida. Esses pacientes têm dificuldade para se vestir, para frequentar transportes públicos, utilização de banheiros, higiene pessoal. SOCIAIS Nas novelas, filmes ultimamente, o gordinho é sempre o cara risonho, amigo de todo mundo chamamos isso de “teoria da gordura engraçada”. O Leandro Hassum, todo mundo achou que ele perdeu a graça quando emagreceu, que ele era mais engraçado quando obeso, ele fez cirurgia de emagrecimento. Então, esses paciente obesos são mais discriminados no trabalho, no colégio, dentro de casa, eles têm mais dificuldade de relacionamento, eles não são os mais engraçados, nãosão os mais gente boa, e, na verdade, o que sabemos hoje, é que, a obesidade é fator de risco para depressão obesidade é fator de risco para ansiedade, e, para praticamente todas as doenças psiquiátricas. Portanto, não devemos achar sempre que o gordinho é o mais gente boa, engraçadinho, que ele está sempre feliz, já que na verdade é o contrário, e, conhecemos isso já de uma maneira muito bem estabelecida. CLÍNICAS Temos também as comorbidades clínicas, essas, serão o cerne durante o nosso curso. Já devemos entender que 90% dos pacientes com diabetes tipo 2 estão acima do peso, ou tem sobrepeso, ou tem obesidade, e, parte do que será feito nas próximas aulas, é nos fazer entender qual a ação que existe entre o excesso de peso e o diabetes tipo 2. É uma coisa linear, pegamos um paciente com IMC acima de 30, entre 30 e 35, ele tem 2 vezes mais chance de ter diabetes. Se ele passa de 30 para 40, isso aumenta para 5x mais. Se isso passa de 40, ele tem 10x mais chance. Portanto, novamente, é uma relação linear, do mesmo jeito que essa relação é linear com a hipertensão, e, portanto, se o paciente ganha peso, a pressão sobe, se ele ganha 20% de peso, ele tem um aumento do risco de HAS em 8x. Os pacientes com obesidade mórbida, tem aumento do risco de HAS em mais de 15x. Então, é uma relação bem direta, que será explicada detalhadamente nas próximas aulas. 4 Digitada por Júlia Robadey Cada barra dessas é uma faixa de peso. Podemos observar que apenas a dislipidemia foge um pouco, mas podemos observar que é uma escada, aumentando o peso, tenho mais indivíduo com DCV, HAS, e, DM2. Então, é algo bem linear que será discutido. Na imagem ao lado temos uma metanálise que foi feita em 240 estudos, com 10milhões de pacientes envolvidos. O que estamos vendo na primeira imagem são duas linhas vermelhas e azuis, vermelha para mulher, e, azul para homem. Essa curva que estamos vendo é o que chamamos na medicina de “curva em J”, à medida que aumentamos o IMC, aumentamos o risco de morte para mulheres, e, para homens. Chamamos de “curva em J”, já que, à medida que o IMC diminui, o risco de morte também aumenta, visto que temos a desnutrição. A seta indica o ponto sem risco. A cada aumenta de 5kg por m² no IMC, o homem aumenta em 51% o risco de morrer, e, a mulher aumenta em 30%. O que estamos vendo na segunda figura são duas curvas em J também muito típicas, que é o risco de doença coronária, e, de AVC, respectivamente. Para ficar claro, é válido repetirmos que obesidade é uma doença crônica, e, a medida que começamos a aumentar o IMC, aumentamos diabetes, hipertensão, AVC, doença arterial coronariana, e, praticamente todas as outras doenças. Praticamente, todos os principais tipos de câncer estão relacionados a obesidade. Então, no homem, a obesidade aumenta o risco de câncer de intestino. Na mulher, a obesidade aumenta o risco de câncer de útero, de câncer de mama, de câncer de ovário. Sempre tem algumas exceções, mas, de maneira geral, temos que ver a obesidade como fator de risco para câncer. A mesma curva em J, mas agora um pouco mais achatada, vemos que conforme aumentamos 5kg/m² no IMC, aumentamos em 20% a chance desse indivíduo ter câncer. 5 Digitada por Júlia Robadey AVALIAÇÃO DO PACIENTE OBESO ANAMNESE A anamnese, muitas das vezes, na queixa principal perguntamos o que está incomodando, o que trouxe o paciente até aqui, e, no caso da obesidade, o paciente vai falar “tô gordo”, “tô obeso”, “tô engordando”, e, para realizarmos a anamnese desse paciente, não adianta falar de alimentação fracionada e balanceada. A primeira coisa é entender que a obesidade é uma doença, e, por isso, devemos fazer as mesmas perguntas que fazemos para qualquer outra doença. Início e tempo de evolução: Quando começou? Você foi uma criança obesa, adolescente obeso, ou em algum ponto você começou a engordar demais? Se fizermos uma anamnese bem feita, muitas das vezes identificamos o momento que a pessoa perdeu o controle sobre o peso, como por exemplo, “entrei para a faculdade”, “fui morar sozinho”, “comecei a namorar”, “mudei esquema de trabalho”. Então, o principal é tentar entender se existe algum fator, ou se não, por exemplo, no caso de uma criança obesa, adolescente obeso. Nesses casos, já pensamos em fatores mais genéticos, mais ambientais. A respeito do tempo de evolução, uma pergunta importante é “há quanto tempo você está engordando?”, as vezes o paciente fala “ganhei 20kg no último ano”, sendo esse um dado muito significativo, ou então, “ganhei 4kg nos últimos 3 anos”, o que já nos faz pensar que não é algo tão importante. Hábitos nutricionais: Não faz sentido perguntar se a alimentação do paciente é balanceada e fracionada, tem que perguntar “como é a sua alimentação em um dia normal?”, “o que você come no café da manhã?”, “come alguma coisa entre o café e o almoço?”, “o que você almoça?”, “onde você almoça?”, “o prato é raso ou fundo?”. No caso dos pacientes que comem comida a kg, é muito válido saber quanto pesa o prato, já que, o peso de um prato já dá uma noção muito boa de quanto o paciente está comendo. É importante também perguntar ao paciente se ele costuma repetir, e, como ele monta o prato. Á medida que começamos a trabalhar com obesidade, se fizermos a anamnese, conseguimos ver perfeitamente aonde o paciente está errando, e, vemos como as pessoas comem muito, sem achar que comem muito. Às vezes, não é só comer muito, é comer mal, comer uma comida não equilibrada, e, principalmente, comer mais do que aquela pessoa precisa. Então, precisamos entender que essa anamnese de hábitos nutricionais é muito mais que perguntar se a alimentação é balanceada e fracionada, é olhar, pedir para a pessoa descrever, pegar os detalhes, e, por último, é importante lembrarmos que a pessoa sempre fala menos do que realmente come. Atividade física: O tempo recomendado pela OMS para prática de atividade física por semana é de 150 minutos, então, isso é o recomendado para SER SAUDÁVEL, e, não o recomendado para emagrecer. A maioria dos estudos sugerem que se queremos fazer uma atividade física para perder peso, é aproximadamente 300 minutos por semana com intensidade moderada a alta. Portanto, perguntamos as vezes ao paciente se ele faz atividade, e, ele relata fazer 30 minutos de caminhada, isso do ponto de vista da saúde é bom, mas, ele não vai perder 1g. Tratamentos anteriores e resultados: Falamos que é sempre bom pegar o paciente “virgem de tratamento”, já que, aquele paciente que já tentou várias alternativas sem êxito, é aquele paciente que está esperando algum milagre. Então, sabemos que esses pacientes ficam zanzando de um médico para outro esperando que algum deles dê uma solução muito grande. Sinais e sintomas de patologias endócrinas: Falamos do hipotireoidismo, da Síndrome de Cushing, que seria mais significativa. Avaliação de compulsão alimentar: Compulsão alimentar é um diagnóstico psiquiátrico, sendo caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar, e, essa é definida pela ingestão em um período de tempo, podendo ser pequeno, de uma quantidade de comida definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo intervalo de tempo, com uma sensação de falta de controle sobre o que está comendo. Além disso, esses episódios tem que estar associados com 3 dos 5 aspectos a seguir, (1) comer mais rápido que o normal, (2) comer até se sentir desconfortavelmente cheio, (3) comer grande quantidade de comida sem estar com fome, (4) comer sozinho por vergonha do quanto se está comendo, (5) sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido, ou, muito culpado em seguida. Tem que ter um sofrimento marcante, a pessoa não vai contar que teve um episódio de compulsão alimentar rindo. Tem que ter ocorrido em média uma vez por semanadurante 3 meses, portanto, não é algo que será feito na semana de prova. Esses pacientes, quando tem compulsão alimentar, são pacientes mais graves, geralmente, com 6 Digitada por Júlia Robadey obesidade mais grave, com mais psicopatologias, são pacientes com mais depressão, são pacientes com mais ansiedade, sendo quadros tipicamente muito graves, e, ao avaliar, a grande maioria das pessoas na verdade não tem compulsão. A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de comportamento compensatório inapropriado como na bulimia nervosa, e, não ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou anorexia nervosa. Quando temos comportamento compensatório, mudamos o nome da doença, passa a ser bulimia ou anorexia, dependendo do peso da paciente. Então, exatamente o diagnóstico da compulsão alimentar é muito parecido com o diagnóstico da bulimia, os episódios da compulsão são muito parecidos, mas, a grande diferença é que na bulímica temos compensação, podendo ser o vômito, atividade física, laxante. Enquanto na compulsão alimentar não temos episódio compensatório. História familiar: Tem que perguntar se a mãe é obesa, pai, irmão. Se a pessoa fala que só ela é obesa na família, provavelmente tem um fator ambiental muito grande. Agora, se a pessoa fala que a mãe é obesa, pai é obeso, irmão é obeso, provavelmente ela tem um fator genético muito grande. Existe um artigo até engraçado, mas, muito interessante, que mostra que cachorros de famílias obesas são obesos, têm-se um fator ambiental no meio que é muito grande. Patologias associadas: Falamos muito sobre hipertensão, diabetes, dislipidemia, câncer, lombalgia, lombociatalgia, artrose, então, tem muita coisa, sendo uma anamnese muito rica, com muitos dados, se bem feita. EXAME FÍSICO No exame físico do paciente obeso, temos que avaliar o IMC, medir a cintura, e, medir o quadril. A cintura é medida no ponto médio entre o último rebordo costal, e, a crista ilíaca, então, NÃO medimos no umbigo, sendo esse um erro muito clássico. Na próxima aula isso será melhor explicado. O quadril medimos na maior circunferência do quadril. Volta e meia perguntam sobre a plicometria, sendo essa a medida das pregas cutâneas, essa, serve para quem é magro, atleta, para avaliar o percentual de gordura, mas, não adianta querer medir prega em um paciente com IMC de 34, 35, 43, 45, a medida se torna altamente inespecífica, e, mesmo quando a plicometria é feita em pessoas magras, temos um grande erro “intra-avaliador”, isso é, se a mesma pessoa medir suas pregas cutâneas, e, depois de 2 horas voltar e medir novamente, provavelmente você vai ter diferença. Se entra uma pessoa, mede, ela sai, e, entra outra pessoa para fazer as mesmas medidas, também você pode ter diferença. Portanto, é muito importante falar que muita coisa dentro desse ramo que é “maquiagem”, medindo a cintura e quadril, você já tem 99% da informação que precisamos, o resto, na grande maioria das vezes é “perfumaria”. Um dado do exame físico que é interessante olharmos é uma mancha escurecida, geralmente, na região do pescoço, da axila, que é a chamada Acantose nigricans. Esse, não é um marcador de obesidade propriamente dito, sendo muito mais um marcador de resistência a insulina, que será um tema abordado nas próximas semanas. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO Para medirmos a quantidade de massa gorda e massa magra, podemos usar a TC e a ressonância, esses são métodos muito caros, e, muito difíceis para fazerem isso. A maneira que temos hoje para fazer isso mais facilmente é a chamada “Densitometria de corpo inteiro- DEXA”, esse é o mesmo exame utilizado para avaliarmos osteoporose, e, será mostrado em uma das aulas de osteoporose de osteopenia, e, é uma quantidade minúscula de raio-x, equivalente a uma radiografia de tórax, por exemplo, e, o aparelho mede perfeitamente a quantidade de massa gorda, e, de massa magra que você tem nas pernas, no abdome, ele faz uma avaliação muito bem feita. A bioimpedância é um método também que funciona, ela passa uma corrente elétrica pelo corpo, e, mede o tempo que essa corrente elétrica leva para passar pelo corpo, o que é influenciado pela quantidade gordura, mas, a bioimpedância, para ser feita, ela precisa de uma balança especial, que custa cerca de 60mil reais, existem até alguns aparelhos de bioimpedância que seguramos só na mão, mas, não tem muito valor. 7 Digitada por Júlia Robadey TRATAMENTO DO PACIENTE OBESO CONVENCIONAL Programa alimentar: A obesidade tem que ser tratada com “dieta”, entretanto, a palavra “dieta” não é muito correta, já que da impressão de que você vai fazer e vai parar. O grande desafio é fazermos uma reeducação alimentar do paciente, mostrar para ele que as dietas modismos não funcionam, ou melhor, funcionam no curto prazo, mas ao ver os dados de longo prazo, que é o que importa, não tem bons resultados. Podemos dar orientações gerais ao paciente, como pedir para ele comprar balanças de prato, e, ter uma balança daquela em casa, para pesar o prato antes de comer. Ensinar o paciente a montar o prato, onde primeiro colocamos a salada, e, essa deve envolver metade do prato, depois coloca-se um pedaço de carne, sobrando ¼ do prato para colocarmos um pouco de carboidrato. Atividade física: Tem que falar para o paciente ter a hora certa de colocar roupa, sair, correr, andar. Tratamento farmacológico: Quando vamos falar sobre o tratamento farmacológico, temos 3 pontos que deveríamos poder atuar, na (1) entrada de energia/calorias, na (2) estocagem de energia, e, no (3) gasto energético. O que temos hoje que funciona, é atuar na entrada de energia, então nós temos medicações que diminuem o apetite, e, aumentam a saciedade, temos medicações que diminuem a absorção, e, obviamente, diminui a entrada de calorias, e, temos medicamentos que diminuem o esvaziamento gástrico. Para estocagem de energia, deveríamos pensar em medicamentos que promovam lipólise, que quebrem o tecido adiposo armazenado, ou que diminuam a formação do tecido adiposo. Até temos uma substância que faz lipólise, o GH, o hormônio do crescimento, o grande problema do GH é que ele vai fazer lipólise, e, vai estimular o crescimento de todas as células do corpo. Estamos falando de um paciente obeso que já tem maior risco de fazer câncer, e, acreditamos que o GH aumente mais ainda o risco de câncer nesse paciente. Além disso, o GH induz resistência a insulina, então aumenta o risco de diabetes, e, NÃO EXISTE NENHUMA RECOMENDAÇÃO PARA USO DO GH NO TRATAMENTO DA OBESIDADE. Uma terceira maneira, seria de aumentar o gasto de energia, aumentar a termogênese, então, já foi dito nas aulas de fisiologia que os termogênicos que temos no mercado são a base de cafeína, para que consigamos aumentar a termogênese fazemos um hiperestímulo do SNS, e, fazendo esse hiperestímulo do SNS, acabamos tendo todos os efeitos colaterais, como aumento da FC, aumento da PA, risco de infarto, risco de AVC, risco de arritmia, é importante atentar que fazemos tudo isso em um paciente que já tem risco aumentado para todas essas doenças. Portanto, não temos nenhuma terapia efetiva/segura que atue no gasto de energia, não temos nenhuma terapia segura também no ponto da estocagem de energia, restando unicamente a entrada de energia. As únicas terapias que temos hoje atuam na entrada de energia. -Objetivos: Perder peso é muito fácil, manter o peso perdido é a dificuldade, portanto, ao falarmos de uma opção para tratamento da obesidade, temos que falar que essa opção deve ser segura para perder peso, e, para manter o peso perdido. Tem que controlar as comorbidades, 15 anos atrás foi lançado um medicamento para obesidade chamado de Rimonabanto (Acomplia®), o remédio era um espetáculo, perdia peso, baixava pressão, melhorava glicose, baixava triglicerídeos, e, o princípio de funcionamento do remédio era muitointeressante, ele era um agonista do chamado sistema endocanabinoide. Todos já ouviram falar que quando alguém fuma maconha a pessoa perde o apetite, e, depois vem a famosa “larica”, então foi-se ver porque isso acontecia, e, isso se dava já que a substância que é o THC ativa um receptor que tira o apetite, e, depois quando passa o efeito, vem o apetite todo, a “larica”. Esse medicamento atuava justamente nesse receptor endocanabinoide, então, a droga era muito boa, ela tinha alguns 8 Digitada por Júlia Robadey efeitos colaterais que começaram a aparecer depois que ela foi lançada, que era um pouco de depressão, um desejo de automutilação, algumas pessoas começaram com ideação suicida, e, obviamente, a medicação foi retirada do mercado. Portanto, não adianta falar que só porque o medicamento emagrece ele é bom, você tem que provar que ele é eficaz, e, provar que ele é seguro. Tem que melhorar a qualidade de vida, já que a qualidade de vida é um fator importante. Além disso, deve prevenir desfechos “duros”, obesidade mata, obesidade é uma doença crônica que mata, mata por infarto, mata por AVC, mata por câncer, e, temos que provar que a medicação diminui esses desfechos. -Qual a meta de tratamento de um paciente obeso? Imaginando um paciente com 1,70m, e 100kg, sua meta de tratamento seria trazer o IMC desse paciente para dentro do normal, nesse caso, o paciente teria que perder cerca de 20kg. A perda de peso de 5 a 10% é uma perda aceitável, a qual nós sabemos que tem um impacto muito significativo na saúde da pessoa. Agora, uma pessoa com 120kg precisando emagrecer,
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