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Atividade 1 - Of 3

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PUC-Rio - Departamento de Letras 
LET1832 - Linguagem e sociedade – 2020.2 
Profa. Maria das Graças Dias Pereira Aluna: Raquel Bauer Matrícula: 1620986
Prova G1
Questão 1 – Opção 1
A necessidade de um tópico para distinguir dois fenômenos linguísticos se dá, naturalmente, por apresentarem em sua natureza pontos de semelhança. Code-switching e code-blending, além de frutos do bilinguismo, se assemelham por: funcionarem como recursos linguísticos para atender a uma gama de funções discursivas e pragmáticas; serem indícios de motivações sócio-psicológicas operantes no discurso; fornecerem dados linguísticos para estudos das restrições e adequações gramaticais observadas em diferentes pares de línguas; serem marcadores de uma determinada situação sociolinguística, no caso de algum grupo ou comunidade linguística; serem relacionáveis a fatores culturais e de identidade e fornecerem, portanto, subsídios para a educação escolar, especialmente o ensino de línguas, seja como primeira (L1) ou segunda língua (L2), nos mais diversos contextos educacionais. Há, porém, distinções cruciais entre os dois fenômenos.
A necessidade de um tópico para distinguir dois fenômenos linguísticos se dá, naturalmente, por apresentarem em sua natureza pontos de semelhança. Code-switching e code-blending, além de frutos do bilinguismo, se assemelham por: funcionarem como recursos linguísticos para atender a uma gama de funções discursivas e pragmáticas; serem indícios de motivações sócio-psicológicas operantes no discurso; fornecerem dados linguísticos para estudos das restrições e adequações gramaticais observadas em diferentes pares de línguas; serem marcadores de uma determinada situação sociolinguística, no caso de algum grupo ou comunidade linguística; serem relacionáveis a fatores culturais e de identidade e fornecerem, portanto, subsídios para a educação escolar, especialmente o ensino de línguas, seja como primeira (L1) ou segunda língua (L2), nos mais diversos contextos educacionais. Há, porém, distinções cruciais entre os dois fenômenos.
A partir dessas perspectivas, pode-se dizer que a definição de código está relacionada com a organização sistemática7 de um conjunto de signos linguísticos co-ocorrentes e contextualizados. Desse modo, torna-se possível afirmar que o CS consiste no trânsito entre dois ou mais códigos distintos, que co-ocorrem durante a interação dos sujeitos. Assim, compreendemos que a utilização do CS, muitas vezes, se configura como uma estratégia de um indivíduo que participa de uma interação comunicativa.
Entretanto, para Labov (2008), as produções são tributárias de um certo “acaso”, ainda que os falantes, motivados pelas pressões sociais e pelo desejo de aceitação, acabem escolhendo imitar formas que interpretam como características de um determinado grupo ao qual gostariam, consciente ou inconscientemente, de pertencer. Calvet (2002), por sua vez, sugere que esse desejo de pertencimento pode levar o falante a exagerar certas formas, como estratégia para “fazer crer que se domina a língua legítima ou fazer esquecer a própria língua” (CALVET, 2002, p. 69). 
Sobre esta constância na mudança linguística e suas variantes, Labov (2008) conclui ainda que “todas as observações empíricas de mudança em andamento que têm sido relatadas são explicadas como resultado de um complexo processo de empréstimo, e ficam relegadas a um tipo de comportamento linguístico conhecido como flutuação ou conflito de formas” (LABOV, 2008, p. 195). Esse chamado conflito remete à tensão que se estabelece entre duas formas concorrentes, processo em que será privilegiada aquela que, intuitivamente ou não, alcançará o maior êxito, tanto em termos comunicacionais como de interpelação identitária. Há também que se levar em conta o aspecto da facilidade e do pragmatismo. Com efeito, “uma luta pela vida está ocorrendo sem parar entre as palavras e as formas gramaticais de cada língua. As formas melhores, mais curtas, mais fáceis estão constantemente passando a dianteira, e elas devem seu êxito a sua própria virtude inerente” (LABOV, 2008, p. 315). Assim, vale ressaltar que uma poderosa motivação na produção do discurso é o pragmatismo linguístico. Busca-se em geral a facilidade por meio da produção de formas mais curtas e eficientes, fenômeno que se observa preferencialmente na fala das crianças, em especial bilíngues, que pescam em seu repertório variantes capazes de satisfazer de modo simples as necessidades da comunicação. 
Logo, com base nos conceitos de Labov (2008) e de Calvet (2002) acima apresentados, podemos inferir que a variação é fruto da pressão social exercida tanto pelos pares quanto pelas autoridades da língua (dicionários, gramaticas, academias, etc.), na medida em que o falante procura adequar-se ao padrão exigido, imitando o suposto modelo prestigiado e buscando simultaneamente aproximar-se da língua-alvo (L2) e afastar-se de sua própria língua (L1). Esse fenômeno se manifesta explicitamente nos processos de tradução interlingual, em que o tradutor/falante é guiado em sua prática por aspectos pragmáticos, mas principalmente por representações sobre a(s) língua(s) e suas variantes, representações estas permeadas pelas normas e pelos padrões definidos enquanto tais pelas sumidades linguísticas que atuam como árbitros do que é certo e do que é belo.
Mais voltado para os estudos da alternância de código em sala de aula, especialmente com o uso da língua materna dos aprendizes por parte do professor, Parrott (1993), entende que as alternâncias para a língua materna dos aprendizes devem ocorrer nas situações em que há uma quebra na comunicação em língua estrangeira, mas enfatiza que os professores devem ser cuidadosos para não se tornarem demasiadamente confiantes na língua materna dos alunos e, conseqüentemente, perderem a habilidade de se fazerem entender na língua-alvo.
Schweers (2003), também interessado em questões de sala de aula, acredita que a língua materna do aprendiz é o seu principal meio de comunicação e expressão cultural e que o seu uso na aula de inglês como língua estrangeira tem levado a atitudes bastante positivas com relação ao processo de aprendizagem. Esta também é a visão de Tang (2002), de acordo com quem o uso limitado da língua materna do aprendiz na aula de inglês não reduz sua exposição à língua-alvo, sendo, pelo contrário, um meio de aperfeiçoar a proficiência na língua estrangeira.
Questão 2
A série Além Mar, em cinco episódios, cruza 10 países unidos pela língua, pello sabor, música, dança, religião e cor. Cada um adapta a isso suas próprias raízes e o resultado é a mistura de cultura que apresenta ao mundo unidade e diversidade de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, Macau, Guiné-Bissau, Malaca, Goa, Timor Leste e Brasil.
Para o diretor geral adjunto da Roquette Pinto Comunicação Educativa, Luiz Geraldo Dolino, Além-Mar é uma produção que orgulha não apenas a TV Escola, mas o próprio meio televisivo. “Ao tratar com segurança histórica, beleza plástica e interesse dramático a saga do nosso idioma a partir do final da Idade Média, a série retoma a aventura dos desbravadores. Da Península Ibérica, passando pelo Brasil recém descoberto, atravessando a África (Cabo Verde, Angola e Moçambique) em direção à Índia (Goa) e chegando até à China (Macau), num paralelo com os Lusíadas, são demonstrados os feitos e conquistas da comunicação por meio de uma língua, a nossa língua, que subsiste heroicamente”.
O primeiro episódio da série Além-Mar mostra a vida dos povos que, unidos pelo idioma português, souberam aproveitar de maneira positiva essa mistura cultural. O segundo filme da série, Intitulado “O que quer, o que pode essa língua?”, mostra as adaptações da língua portuguesa aos idiomas nativos, criando novas palavras que são apresentadas por meio de sua gente e por depoimentos de jornalistas, cineastas e escritores.
No terceiro episódio, a série Além-Mar apresenta a adaptação de religiões distintas que constroem novos rituais e convivem pacificamente com a língua portuguesa.Os ritos marítimos, o culto à Virgem Maria, o símbolo da cruz, as danças como forma de rezar e a importância do batuque nas escolas de samba unem diferentes povos. No quarto episódio, destaque para a simbiose na arquitetura e suas variações para adaptação dos vários povos. O documentário apresenta o desejo europeu por especiarias e a descoberta de mistura de temperos criando novos sabores aceitos por todos. Somos todos mestiços e todo mundo é igual.
No último episódio, o eixo central fala da comunicação como troca de experiências culturais; a missão de quem fala a língua portuguesa; a música, o teatro, as telenovelas brasileiras e a conexão musical existente entre Brasil e Portugal são comprovadas por sua gente.
Tendo sido a primeira das línguas em uma outra internacionalização, a das Grandes Navegações dos séculos XV a XVII e a do processo colonial a partir de então estabelecido, o português é hoje é língua oficial em 10 países, oito deles membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mais a Guiné Equatorial, que a oficializou em 2011 ao lado do espanhol e do francês1 , e da China, ou mais exatamente da RAEM, Região Administrativa Especial de Macau, onde é cooficial ao mandarim até o ano de 2049. A língua ocupa oficialmente 10, 7 milhões de km2, está presente na América, África, Europa e Ásia – nesta ordem em termos demolinguísticos – e tem de 221 a 245 milhões de falantes como primeira ou como segunda língua em variados graus de proficiência, número que cresce em velocidade moderada, com grandes variações entre os continentes: crescimento baixo na Europa e na Ásia, médio na América do Sul e grande na África Meridional, hoje já está o maior polo de crescimento vegetativo do idioma e que chegará a 2060, pelas previsões atuais, a 90 milhões de falantes de português, entre Angola e Moçambique.
Desde Calvet (2002), pelo menos, sabemos da existência de um ‘marché aux langues’, organizado em uma hierarquia de línguas e regido por fatores que condicionam o comportamento dos falantes, atraindo-os para determinadas línguas e levando-os ao rechaço ou pelo menos à indiferença em relação a outras línguas. Esta Teoria Orbital das Línguas de Calvet, interpreta que o Mercado Linguístico é expressão de relações de força, econômicas e políticas, e espaço da gestão linguística no qual se dão as lutas de poder entre os produtores, proprietários, detentores das mercadorias linguísticas, interessados na sua circulação em detrimento das mercadorias dos concorrentes. 
No caso da geopolítica recente da língua portuguesa, os dois movimentos descritos, separados e independentes, tiveram e tem tido influência para o seu crescimento como língua internacional: a ‘arrumação da casa’ nos países que a tem como oficial e as mudanças na sua inserção internacional, com a finalização do doloroso e tardio processo de entrada na modernidade, por um lado, e o início de um período de intensa valorização do multilinguismo, por outro, que vem a coincidir com necessidades do novo capitalismo. Esta nova situação benigna nos coloca desafios enormes para pensar a política da língua portuguesa no século XXI.
O fato de se ter uma língua comum em um bloco geopolítico permite certos avanços aos envolvidos desta zona. Pois na tomada de decisões, quaisquer que elas sejam, há sempre uma vantagem ao se comunicar fluentemente em uma mesma língua. No caso da CPLP, a língua portuguesa atua, portanto, como facilitadora para interação entre os nove membros da comunidade. 
Ainda que a língua seja a mesma, há muitas questões a serem levadas em consideração quando as realidades socioeconômicas dos países da CPLP são tão díspares. O fato de o português estar presente em quase todos os continentes pressupõe um confronto social, econômico e político entre os países que o têm como língua oficial. Falar português no Brasil não é o mesmo que falar o idioma na África, em Portugal e na Ásia. A língua apresenta uma gama de variedades linguísticas, assim como coexiste com diferenças socioeconômicas atrozes entre seus falantes. Devido a pluralidade linguística do português, de suas muitas culturas e sociedades, há que se pensar em uma estratégia linguística democrática para o idioma. 
Caso não sejam levadas em consideração as diferenças sociais, econômicas e políticas presentes nos nove estados membros da CPLP, se repetirá um imperialismo dentro da lusofonia que não tem razão de ser. Por isso, ainda que canalizemos nossas forças na realidade brasileira em nosso trabalho, aconselhamos a implementação de uma política linguística do português que beneficie a todos, negros e brancos, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos.
Questão 3
O primeiro texto discutido escolhido foi “Funk-se quem quiser no batidão negro da cidade carioca”, da autora Adriana Carvalho Lopes. O tema abordado pela dupla tem a temática da favela e a linguagem do funk carioca, para que se refletisse a linguagem como uma construção social, no contexto de comunidade, e como essas identidades, formadas por diversos signos, se ressignificam dentro de seus espaços através de seus códigos. 
Quando se oferece espaço a grupos marginalizados, a intenção é a representatividade das lutas que buscam a resistência das tentativas de silenciamento dessas minorias, principalmente as periféricas. Usando as questões teóricas da linguística aplicada, a autora faz essa relação das práticas desses grupos marginalizados e suas interpretações dos signos desses sujeitos da esfera do funk carioca. 
Da mesma forma, Pimentel corrobora a questão quando cita a questão do Funk Proibido, que gira dentro dos mesmos espaços e são marginalizados até mesmo do espaço de origem, a favela. Os signos que giram em torno da dimensão do funk, firmando-se não só como estilo, mas também como um gênero cultural, firmando uma estética própria alternativa, em que o contexto é a censura e a representatividade de seu entorno, exibindo a realidade do poder paralelo dentro da comunidade, tornando o funk um gênero com um estigma criminoso, sem que se analise que a linguagem apenas representa os sentidos cognitivos e afetivos que existem em suas bases de pertencimento. 
Em um espaço tão heterogêneo como a favela, essas linguagens são altamente mutáveis, ganhando novos espaços e novas estéticas ao passo que surgem novos objetos estereotipados, que serão marginalizados ao ponto que os primeiros são aceitos e inseridos socialmente. O estudo da estética do funk é um serviço social, para que se entenda como funcionam as periferias a visão social sobre elas. 
Referências 
LOPES, A. C.. A favela tem nome próprio: a (re)significação do local na linguagem do funk carioca. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 9, p. 369-390, 2009
LOPES, A. C. Pragmática engajada: performances de resistência no funk carioca. In: Daniel do Nascimento e Silva; Dina Maria Ferreira; Claudiana Nogueira de Alencar. (Org.). Nova Pragmática: Modos de Fazer. 1ed.São Paulo: Cortez Editora, 2014. p. 9-325.

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