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1 LITERATURA E MODERNIDADE PROF. DR. BENILTON L CRUZ Categoria: Obrigatória Cargas Horárias: 37 CH. Teórica: 52 CH. Prática: 0 CH. Extensão: 8 CH. Distância: 0 CH Total: 60 Descrição: Apresentação do conceito de moderno em oposição ao conceito de clássico. As fronteiras entre o moderno, modernismo, pós-moderno e contemporâneo. As Vanguardas e as pós-vanguardas. Os efeitos de modernidade ao longo da história literária. As principais características da Modernidade e principais autores modernos e pós-modernos. Aplicação de leituras de obras envolvendo obras das diversas literaturas produzidas tanto em Língua Portuguesa, quanto em outras línguas. Bibliografia Básica: BRADBURY, Malcoln. O mundo moderno: dez grandes escritores. Trad. Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. CHIAMPI, Irlemar (coord.). Fundadores da modernidade. Trad. Ruth Röhl et al. São Paulo: Ática, 1991. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Victor Civita, 1973. (Col. Os pensadores). Bibliografia Complementar: CANDIDO, A. et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 1972. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2010. GINSBURG, J. (Org.). O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1978. SCHWARZ, R. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades, 1990. 2 HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. Vol. 1 e 2. Trad. Walter H. Geenen. São Paulo: Mestre Jou, 1982. JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. LAFETÁ, João Luiz. A Dimensão da Noite. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2004. _________. 1930: A Crítica e o Modernismo. São Paulo: Duas Cidades, 1974. MONGELLI, Lênia Márcia de Medeiros. A estética da ilustração. Textos doutrinários comentados. São Paulo: Atlas, 1992. SCHWARZ, Roberto. A Sereia e o Desconfiado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. __________. Ao Vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1977. __________. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras, 1989. __________. Um mestre na periferia do capitalismo. São Paulo: Duas Cidades, 1990. __________ (Org.). Os Pobres na Literatura Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983. __________. Duas meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. __________. Sequências Brasileiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. PRADO, Paulo. Retrato do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SANTIAGO, Silviano. Uma Literatura nos Trópicos. São Paulo: Perspectiva, 1978. Modernidade Modernidade é algo que está inevitavelmente ligado a tudo aquilo que é recente e atual, é a expressão daquilo que é "moderno". De um ponto de vista histórico, modernidade refere-se à história dos "Tempos Modernos", desde o Renascimento até à atualidade. O termo modernidade designa, assim, não só uma época como também a percepção da humanidade indissociável à nossa filosofia e cultura europeia. Segundo Husserl, modernidade refere-se à Europa e sua civilização e história, não só como espaço geográfico, mas com um "formato" moral e espiritual. A modernidade surge no século XVI na Europa com o protestantismo e as grandes descobertas e ciências e culmina no século das Luzes. Num plano filosófico culmina com o racionalismo e o positivismo. Em termos civilizacionais, a modernidade tem um carácter de conquista pelo Homem moderno, da sua autonomia e da vontade de inventar e criar técnicas novas, ou seja, projetos racionalistas que têm o seu auge com a filosofia cartesiana. Nos nossos tempos, a modernidade associada a ideias de positivismo, otimismo e fé no progresso, inspira as maiores reservas e algumas críticas por parte de alguns filósofos contemporâneos de diversas correntes de pensamento. 3 Porto Editora – modernidade na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06- 27 17:30:17]. Disponível em https://www.infopedia.pt clássico clás.si.co ˈklasiku adjetivo 1. que é considerado um modelo 2. que é ensinado na escola 3. relativo à Antiguidade greco-latina 4. LITERATURA relativo aos autores que seguem as opções estéticas da Antiguidade 5. que corresponde a padrões considerados perfeitos e intemporais numa determinada época 6. conforme os usos tradicionais ou estabelecidos 7. que não é excessivamente ornamentado ou espalhafatoso; que se destaca pela sobriedade e harmonia 8. costumeiro; habitual; recorrente nome masculino 1. autor da Antiguidade grega ou latina 2. autor ou obra cujo valor é reconhecido por todos 3. DESPORTO partida que opõe dois rivais importantes que já se enfrentaram diversas vezes no passado 4. gíria veículo antigo, geralmente restaurado e de interesse colecionístico 5. figurado acontecimento ou circunstância que se repete com frequência física clássica parte da física que exclui a relatividade e as teorias quânticas música clássica música da tradição ocidental dos séculos anteriores ao século XIX, música resultante de processos de composição elaborados, distinguindo-se do popular, do folclore e do jazz, música erudita Do latim classĭcu-, «de primeira classe» Porto Editora – clássico no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-06-27 21:25:08]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/clássico https://www.infopedia.pt/ https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/clássico 4 Eneias, herói troiano, filho de Anquises e Vênus (Afrodite), e primo do rei Príamo de Tróia e líder dos aliados dardânios que auxiliaram a cidade na Guerra de Tróia. Depois da queda desta cidade, ele liderou um grupo de refugiados para a Itália e se tornou fundador da cultura romana (mas não da cidade de Roma em si). Na mitologia ele foi o progenitor da geração que teve origem em seu filho Ascânio. A Guerra de Tróia Durante a Guerra de Tróia, Enéias foi um dos mais respeitados heróis troianos, talvez inferior somente a Heitor. Ele combateu frente a frente alguns dos grandes heróis gregos, como Diomedes, Idomeneu e Aquiles. Era um grande herói embora por duas vezes foi salvo por intervenção divina, de Diomedes e de Afrodite. Virgílio, o famoso poeta romano, o fez protagonista de seu épico, a Eneida. Antes, Homero, em sua a em ‘Ilíada’ descreve-o como herói predestinado a ter a incumbência de reviver a glória dos troianos. Vários deuses o favoreciam, sua mãe Afrodite, Apolo, Mercúrio e até mesmo Poseidon, que favorecia os gregos, ajudou-o. Porém tinha como inimiga a terrível Juno (Hera). Quando Tróia estava sendo saqueada pelos gregos, Enéias lutou até que os deuses ordenassem sua fuga. A Missão de Eneias Eneias recebeu a missão de reviver a glória dos troianos na Itália e para isso foi aconselhado pelos deuses a deixar a cidade de Troia que estava em chamas pela batalha juntamente com alguns soldados e sua família. Eneias carregou seu pai, Anquises, nas costas e também levou a esposa Creusa e seu filho Ascânio. Durante a fuga a esposa de Eneias desaparece sem deixar vestígio e o herói se vê em busca de uma nova pátria. Para que possa encontrar um novo lar ele e seus seguidores embarcam num navio. Sem saber o que fazer Eneias pede orientação para o deus Apolo que lhe diz que ele e os troianos que o acompanham devem ir para a terra que deu origem ao seu primeiro antepassado. Romance com a Rainha Dido Uma das passagens mais marcantes de ‘Eneida’ é aquela em que Eneias e os demais tripulantes desembarcam em Cartago, na África do Norte. Eneias a essa altura já havia perdido seu pai Anquises que faleceu devido a idade avançada. Por artimanhas de sua mãe Afrodite e do Cupido Eneias inicia um romance com Dido, rainha-fundadora de Cartago. No início o romance tinha sido ideia de Juno(Hera) que como inimigo de Eneias queria que ele se desviasse do seu foco de viagem. No entanto, a deusa e mãe do herói, Afrodite, observou que esse enlace traria muitas vantagens para seu filho. Num determinado momento Zeus envia Hermes para chamar a atenção de Eneias que havia fugido de Troia para não se submeter aos gregos, mas que passava a se submeter à Dido e seu povo. Partida 5 Mesmo apaixonado por Dido, Eneias, resolve partir para fundar a cidade para seu filho Ascânio e seus descendentes. Ao deixar Cartago o herói vê sua amada cometer suicídio numa pira funerária. Após esse trágico episódio Eneias aportou na Itália e em Cumas fez uma incursão ao submundo para encontrar seu pai que lhe falou a respeito das gerações futuras provenientes da reconstrução de Troia. Também encontrou o fantasma de Dido, que ainda amargurada recusou lhe dar perdão. O Amor por Lavínia Eneias seguiu sua viagem pela Itália chegando então ao Lácio onde conheceu o rei local Latino que era neto de Saturno. O rei gostou de Eneias e lhe ofereceu além de terras a mão de sua bela filha Lavínia. Tal atitude foi motivada por uma profecia que dizia que Lavínia deveria se casar com um estrangeiro para que pudesse dar origem a um povo poderoso que iria governar o mundo. Por que essa história foi recontada tantas vezes? Classicismo O Classicismo foi um movimento artístico que ocorreu entre os séculos XIV até XVI. Obra literária da época: Os Lusíadas. https://www.todoestudo.com.br/literatura/classicismo 6 A Viagem de Vasco da Gama à Índia. 7 Azulejos – assume em Portugal como um importante suporte à expressão artística nacional ao longo de mais de cinco séculos. O nome deriva do árabe azzelij (ou al zuleycha, al zuléija, al zulaiju, al zulaco), pequena pedra polida usada para designar o mosaico bizantino do Próximo Oriente. É comum, no entanto, relacionar-se o termo com a palavra azul (termo persa الژورد: lazhward, lápis-lazúli) dado grande parte da produção portuguesa de azulejo se caracterizar pelo emprego maioritário desta cor, mas a real origem da palavra é árabe. Fonte: Portal EmDiv. «Arte e história do azulejo». História da arte. Consultado em 5 de dezembro de 2017. CAPÍTULO I – TRECHOS 1 As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia Lusitana, Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; 2 E também as memórias gloriosas Daqueles Reis, que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando; E aqueles, que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando; Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. 3 Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram: Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_%C3%A1rabe https://pt.wikipedia.org/wiki/Mosaico https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_bizantina https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%B3ximo_Oriente https://pt.wikipedia.org/wiki/Azul https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_persa https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1pis-laz%C3%BAli http://gesseiroemsp.com.br/arte-e-historia-do-azulejo/ https://pt.wiktionary.org/wiki/assinalados https://pt.wiktionary.org/wiki/Lusitana https://pt.wiktionary.org/wiki/Taprobana https://pt.wiktionary.org/wiki/cessem https://pt.wikipedia.org/wiki/Odisseu https://pt.wikipedia.org/wiki/Eneias https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande https://pt.wikipedia.org/wiki/Trajano 8 4 E vós, Tágides minhas, pois criado Tendes em mim um novo engenho ardente, Se sempre em verso humilde celebrado Foi de mim vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e sublimado, Um estilo grandíloquo e corrente, Porque de vossas águas, Febo ordene Que não tenham inveja às de Hipocrene. 5 Dai-me uma fúria grande e sonorosa, E não de agreste avena ou frauta ruda, Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda; Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; Que se espalhe e se cante no universo, Se tão sublime preço cabe em verso. 6 E vós, ó bem nascida segurança Da Lusitana antiga liberdade, E não menos certíssima esperança De aumento da pequena Cristandade; Vós, ó novo temor da Maura lança, Maravilha fatal da nossa idade, Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, Para do mundo a Deus dar parte grande; 7 Vós, tenro e novo ramo florescente De uma árvore de Cristo mais amada Que nenhuma nascida no Ocidente, Cesárea ou Cristianíssima chamada; (Vede-o no vosso escudo, que presente Vos amostra a vitória já passada, Na qual vos deu por armas, e deixou As que Ele para si na Cruz tomou) 8 Vós, poderoso Rei, cujo alto Império O Sol, logo em nascendo, vê primeiro; Vê-o também no meio do Hemisfério, E quando desce o deixa derradeiro; Vós, que esperamos jugo e vitupério Do torpe Ismaelita cavaleiro, Do Turco oriental, e do Gentio, Que inda bebe o licor do santo rio; 9 Inclinai por um pouco a majestade, Que nesse tenro gesto vos contemplo, Que já se mostra qual na inteira idade, Quando subindo ireis ao eterno templo; Os olhos da real benignidade https://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A1gides https://pt.wikipedia.org/wiki/Febo https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipocrene 9 Ponde no chão: vereis um novo exemplo De amor dos pátrios feitos valerosos, Em versos divulgado numerosos. 10 Vereis amor da pátria, não movido De prémio vil, mas alto e quase eterno: Que não é prémio vil ser conhecido Por um pregão do ninho meu paterno. Ouvi: vereis o nome engrandecido Daqueles de quem sois senhor superno, E julgareis qual é mais excelente, Se ser do mundo Rei, se de tal gente. 11 Ouvi, que não vereis com vãs façanhas, Fantásticas, fingidas, mentirosas, Louvar os vossos, como nas estranhas Musas, de engrandecer-se desejosas: As verdadeiras vossas são tamanhas, Que excedem as sonhadas, fabulosas; Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro, E Orlando, inda que fora verdadeiro, 12 Por estes vos darei um Nuno fero, Que fez ao Rei o ao Reino tal serviço, Um Egas, e um D. Fuas, que de Homero A cítara para eles só cobiço. Pois pelos doze Pares dar-vos quero Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço; Dou-vos também aquele ilustre Gama, Que para si de Eneias toma a fama. 19 Já no largo Oceano navegavam, As inquietas ondas apartando; Os ventos brandamente respiravam, Das naus as velas côncavas inchando; Da branca escuma os mares se mostravam Cobertos, onde as proas vão cortando As marítimas águas consagradas, Que do gado de Proteu são cortadas 20 Quando os Deuses no Olimpo luminoso, Onde o governo está da humana gente, Se ajuntam em concílio glorioso Sobre as cousas futuras do Oriente. Pisando o cristalino Céu formoso, Vêm pela Via-Láctea juntamente, Convocados da parte do Tonante, Pelo neto gentil do velho Atlante. [...] https://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_%C3%81lvares_Pereira https://pt.wikipedia.org/wiki/Egas_Moniz,_o_Aio https://pt.wikipedia.org/wiki/Fuas_Roupinho https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Gon%C3%A7alves_Coutinho https://pt.wiktionary.org/wiki/apartando https://pt.wiktionary.org/wiki/naus https://pt.wikipedia.org/wiki/Proteu https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BApiter_(mitologia) 10 105 O recado que trazem é de amigos, Mas debaixo o veneno vem coberto; Que os pensamentos eram de inimigos, Segundo foi o engano descoberto. Ó grandes e gravíssimos perigos! Ó caminho de vida nunca certo: Que aonde a gentepõe sua esperança, Tenha a vida tão pouca segurança! 106 No mar tanta tormenta, e tanto dano, Tantas vezes a morte apercebida! Na terra tanta guerra, tanto engano, Tanta necessidade avorrecida! Onde pode acolher-se um fraco humano, Onde terá segura a curta vida, Que não se arme, e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tão pequeno? Vênus aplaca os ventos e a tormenta, desenho de Fragonard para Os Lusíadas de Luís de Camões, 1837, Paris, França. – Arquipélagos CLÁSSICO por Carlos Ceia. Dez 29, 2009. Os académicos alexandrinos propuseram pela primeira vez a designação de clássicos para os textos literários da cultura grega arcaica e criaram regras próprias para as obras contemporâneas que pudessem suportar tal categoria. Fixou-se então a ideia de clássico como obra exemplar cuja excelência é capaz de resistir ao tempo. A https://www.arquipelagos.pt/imagem/venus-aplaca-os-ventos-e-a-tormenta-desenho-de-fragonard-para-os-lusiadas-de-luis-de-camoes-1837-paris-franca/ https://www.arquipelagos.pt/imagem/venus-aplaca-os-ventos-e-a-tormenta-desenho-de-fragonard-para-os-lusiadas-de-luis-de-camoes-1837-paris-franca/ https://www.arquipelagos.pt/imagem/venus-aplaca-os-ventos-e-a-tormenta-desenho-de-fragonard-para-os-lusiadas-de-luis-de-camoes-1837-paris-franca/ https://www.arquipelagos.pt/imagem/venus-aplaca-os-ventos-e-a-tormenta-desenho-de-fragonard-para-os-lusiadas-de-luis-de-camoes-1837-paris-franca/ https://edtl.fcsh.unl.pt/arquivo/author/cceia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/cultura https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/obra https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/tempo 11 cultura romana garantiu a canonização da cultura grega e continuou a aceitar as melhores obras gregas antigas como clássicos. Mas primeiro estabelecera uma divisão social: classicus era o cidadão por excelência, que pertencia à primeira das cinco classes em que os Romanos se dividiam. No século II, d.C., Aulo Gélio, o primeiro a trazer o termo para a literatura, em Noctes Atticae, cunhou as seguintes expressões: o scriptor classicus, aquele que escrevia para a classe dos mais favorecidos social e politicamente e era, por isso, um escritor notável e exemplar, e o scriptor proletarius, aquele que escrevia para as classes letradas de menor condição social e era ele próprio um indivíduo das classes baixas. Gélio já introduz a ideia que ainda hoje temos de um clássico: deve ser anterior a nós e deve constituir um modelo de referência. Na Idade Média, um clássico é apenas aquele que estuda numa classe e num espaço próprio para o estudo, sem que a excelência do indivíduo ou da sua obra esteja em causa. Esta tradição já não prevalece na Idade Moderna, que consagra a ideia de clássico para as grandes obras da cultura greco-romana. A ideia do respeito pela obra dos antigos foi largamente divulgada pelos humanistas. Os seguintes versos de António Ferreira podem resumir a ideia de clássico que então se fixou: os verdadeiros homens (ou clássicos, mesmo que a palavra não seja pronunciada textualmente) são os que se “afamam / com letras, com saber, com que alumiam / o mundo, e tudo o mais Fortuna chamam” (Carta a João Rodrigues de Sá de Meneses). Este espírito de redescoberta das obras exemplares da Antiguidade levou os historiadores da literatura a falar em períodos “clássicos” não necessariamente coincidentes no tempo nas várias literaturas: por exemplo, o século XVI, para Portugal, a segunda metade do século XVIII, para a França, e a época entre Milton e Pope, em Inglaterra. De uma forma imediata, podemos então afirmar que um clássico é uma obra de gerações. Durante a época literária do neoclassicismo, este sentido tornou-se norma de estudo e de referência em relação à qual toda a obra de arte devia ser comparada. Atesta-o o árcade português Correia Garção: “Os Gregos e os Latinos, que dia e noite não devemos largar das mãos, estes soberbos originais, são a única fonte de que manam boas odes, boas tragédias e excelentes epopeias.” (Dissertação Terceira, 1757, in Obras Completas, vol.II, Liv. Sá da Costa, Lisboa, 1958). O termo serviu depois durante muito tempo para designar tudo aquilo que não era “moderno”, e serviu ainda como oposto de “romântico”. Schlegel, na revista alemã Das Athenäeum (1795-98), consagrou esta antinomia; Goethe iniciou a refutação interminável desta tese e estabeleceu uma célebre fórmula: clássico=saudável e romântico=doente. Na Estética, Hegel tentou criar para o conceito de clássico um espaço de isenção, reduzindo-o apenas à sua mais consensual característica: clássico=obra de arte perfeita. Mas a oposição entre pró-românticos e pró-clássicos sobreviveu até à segunda metade do século XIX, quando o termo passou a significar apenas uma temática específica, segundo regras que respeitam as normas retóricas antigas, parecendo sobrepor-se à noção de classicismo (palavra que só se generaliza na teoria literária após o movimento romântico, segundo René Wellek, precisamente após 1890). Esta ideia constitui um dos principais argumentos de crítica do clássico que os seus opositores não deixam geralmente de apontar: o arrepio da originalidade ou a submissão ao cânone. Trata-se da relação da obra de arte com a forma como foi produzida. Se colocarmos a questão como o fez Hegel, podemos facilmente concordar que o artista clássico se revela pela sua excepcional formação que não o impede de criar livremente, antes o https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/literatura https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/referencia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/espaco https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/palavra https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/carta https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/forma https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/neoclassicismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/sentido https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/dissertacao https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/antinomia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/estetica https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/conceito https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/classicismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/originalidade https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/canone 12 prepara para fazer as melhores escolhas com os melhores resultados: “A arte clássica, pois que o seu conteúdo e a sua forma são livres, só pode ser produto de um espírito livre senhor de uma clara consciência de si mesmo. Também o papel desempenhado pelo artista clássico é diferente do que até então tinha desempenhado. A sua produção revela-se claramente como o trabalho de um homem reflexivo que sabe o que quer e pode o que quer, que possui uma ideia perfeitamente clara do conteúdo substancial que se propõe tornar perceptível e possui o poder técnico que essa realização exige.” (Estética, trad. de Álvaro Ribeiro e Orlando Vitorino, Guimarães Eds., Lisboa, 1993, p.247). Depois dos românticos, assistimos à generalização e banalização do conceito, tornando a sua aplicação bastante difícil. Não é tão irónica como parece a definição proposta por Mark Twain: “Classic. A book which people praise and don’t read.” (“Pudd’nhead Wilson’s New Calender”, Following the Equador, 1, 25, 1897). G. K. Chesterton apresenta a seguinte variação desta ideia: “A great classic means a man whom one can praise without having read.” (“Tom Jones and Morality”, All Things Considered, 1908). Em The Study of Poetry (in Essays in Criticism – Second Series, 1888), Matthew Arnold insiste ainda na noção de clássico como equivalente “àquilo que é melhor que tudo o mais”. Num texto de referência obrigatória, What Is a Classic? (1945), T. S. Eliot lembra que só numa perspectiva histórica podemos determinar o que é clássico. Dos critérios para determinação de um clássico prescritos por Elliot, destacamos o da superação da língua – um clássico deve superar a norma linguística, condição criticada por Seán Lucy em T. S. Eliot and the Idea of Tradition (1960) – e o da maturidade. O autor que Elliot destaca como o mais “universal”dos clássicos é Dante, perante quem todos os poetas ingleses são “provincianos”. Frank Kermode criticou desenvolvidamente as teses de Eliot em The Classic: Literary Images of Permanence and Change (1ª ed., 1973), [...] A conclusão de Kermode sobre a definição do clássico aponta para uma fórmula simples: “A classic, then, is a book that is read a long time after it was written” (p.117), que facilmente reconhecemos nas escolhas autorais de qualquer cânone literário. Atualmente, um clássico tanto pode ser uma obra antiga que persistiu pela sua excelência, como uma obra ou autor que se destaca como referência fundamental na sua própria época, o que é reconhecido pela maior parte da crítica segundo critérios objetivos. Neste sentido, Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto podem ser considerados clássicos na literatura de língua portuguesa. Para estabelecer algum rigor na definição da natureza do clássico, surgem então muitas reflexões teóricas sobre o conceito, sem contudo estarmos sequer próximos de um consenso geral, sobretudo quando pensamos que a classificação de clássico é hoje popularizada pela crítica literária não investigativa que, quase instintivamente, a aplica a qualquer obra ou autor que se destaque por alguma singularidade. Registe-se ainda a universalidade do conceito quando falamos hoje de um filme clássico, de um jogo clássico, de uma música que é um clássico e de música clássica, de uma corrida clássica, de um edifício clássico, de mobília clássica, etc. bibliografia Dominique Secretan: Classicism (1973); Frank Kermode: The Classic: Literary Images of Permanence and Change (1983); H. M. Peyre: Qu’est-ce que le classicisme? (1933); Jacques Barzun: Classic, Romantic, and Modern (1975); Luís de Sousa Rebelo: A Tradição Clássica na Literatura Portuguesa (1982); Paul Valéry: Cahiers, vol.2 (1974, 1ªed., 1917); https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/conteudo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/papel https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/poder https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/definicao https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/texto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/lingua https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/linguistica https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/autor https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/critica-literaria https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/critica-literaria https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/bibliografia 13 René Wellek: “The Term and Concept of Classicism in Literary History”, in Discriminations (1970); Vítor Manuel de Aguiar e Silva: Para uma Interpretação do Classicismo (1962). Fonte: www. edtl.fcsh.unl.pt, acesso em 27 de junho de 2023 Atividade1 : - elabore um conceito e características de “clássico” a partir do texto de Carlos Ceia. MODERNIDADE Por Adriano Duarte Rodrigues. Jun 20, 2010 Considerada como a época do acesso do homem à maioridade, ao livre uso da razão e à consequente autonomia em relação aos entraves que o impedem de escolher e de seguir por si próprio o seu destino, a modernidade não é senão outra designação do Iluminismo. Qual é então o momento histórico que corresponde a esta época? Os historiadores tendem a considerar o século XVIII como o século do Iluminismo. É, de facto, neste século, que ocorrem dois acontecimentos que indiciam transformações irreversíveis habitualmente associadas com a modernidade: a publicação da Enciclopédia de Diderot e d’Alembert e a Revolução Francesa (1789). A Enciclopédia consagrou de facto uma nova modalidade de saber, não fundado na autoridade política ou religiosa, mas numa comunidade de homens dotados de razão e por isso capazes de juízo crítico. A Revolução Francesa instituiu uma nova ordem política de homens livres, governados por uma Constituição, por uma norma fundada, não na vontade de um soberano, mas do povo. No entanto, estas transformações vinham sendo, desde há muito preparadas, graças a um novo espírito que se foi afirmando, no mundo ocidental, nos mais diversos domínios da experiência, desde o fim da Idade Média e da Renascença. Costumam ser definidos os seguintes factores da modernidade: o desenvolvimento e intensificação das descobertas científica assim como a autonomização e a fragmentação das ciências, a partir de métodos de observação e de experimentação sistematicamente conduzidos, o incremento e a aceleração dos processos de invenção técnica, a invenção da imprensa de caracteres móveis, por Johannes Gensfleisch Gutenberg (1440), os ideais críticos do livre exame implementados pela Reforma e o movimento de reformulação do catolicismo, a partir do Concílio de Trento (1545-1549, 1551-1552, 1562-1563), o incremento das viagens marítimas que conduziram à descoberta dos povos do Novo Mundo, de que se destacam a descoberta da América, por Cristóvão Colombo (1492) e a descoberta do caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama (1497). Este recorte histórico da modernidade está, no entanto, longe de ser consensual. É que, por um lado, encontramos, desde os tempos mais remotos, inúmeras manifestações de modernidade e de atitudes iluministas, e, por outro lado, deparamo-nos ainda hoje, não obstante a generalização dos princípios iluministas, com situações de tirania, de coacção física ou moral, que impedem o acesso à maioridade e à autonomia de uma grande parte dos nossos contemporâneos. Se desde sempre os homens procuraram explicações racionais para a sua experiência e tentaram lutar pela conquista da autonomia, foi, no entanto, só no século VI que https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/interpretacao https://edtl.fcsh.unl.pt/arquivo/author/arodrigues https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/iluminismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/enciclopedia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/modalidade https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/invencao 14 apareceu, num texto eclesiástico, pela primeira vez, a palavra moderno, adjectivo forjado a partir de outros termos que têm com moderno a mesma raiz indo- europeia mod- ou med (cf. Adriano Duarte Rodrigues, Cultura e Comunicação. A Experiência Cultural na Era da Informação, Lisboa, ed. Presença. 1994, páginas 49 e ss.). Encontramos esta mesma raiz em termos gregos como medimnos (medida) e medo (proteger, governar) e em termos latinos como modestus, medeor, medicus, medicina, medicamentum, medicare, medicatio, re medium, mas também em meditor, moderatio, moderari. Está associada, segundo Emile Benveniste, a «uma medida de coacção, supondo reflexão, premeditação, aplicada a uma situação desordenada», a uma situação que levaria a um excesso desmedido (ubris) se não fosse travada a tempo, oportunamente. Uma boa representação desta acepção é, por exemplo, a do garrote que estanca a hemorragia, antes que a exsanguinação fatal. Daí a associação com as ideias de remédio e de medicina. Era por isso que Aristóteles considerava que «in medio stat virtus». Neste aforismo aristotélico, a palavra medium não significa tanto meio termo, como apressadamente se costuma pensar, mas remédio, processo de paragem do descalabro da ubris. A modernidade começou, portanto, por ser um processo de paragem ou de estancamento do curso habitual e inconsiderado da experiência, quer no domínio físico quer nos domínios político, legal e moral. Não devemos hoje confundir modernidade com os conceitos afins de modernismo e de modernização. A modernidade é uma modalidade da experiência marcada pela ruptura para com a tradição e ocorre sempre que os fundamentos e a legitimidade da experiência tradicional, dos seus valores e das suas normas, perdem a sua natureza indiscutível e deixam, por conseguinte, de se impor a todos com obrigatoriedade. Podemos dizer que a modernidade se instaura sempre que a experiência tradicional atinge o limite, o estado de an-arquia, no sentido etimológico deste termo, de algo que perdeu ou esqueceu o sentido originário, a arque, ou a memória da sua razão de ser. É porque o curso habitual da experiência perde o seu sentido fundador que a tradiçãopassa a ser encarada como entrave à consciência desperta e razoável das coisas, exigindo, por isso, um novo processo de refundação. O modernismo é um movimento estético e ético. No domínio estético, corresponde a uma modalidade do gosto nos diferentes domínios da arte, tanto literária como pictórica e musical. Tem como característica a sobrevalorização da experiência do presente, o imperativo da invenção incessante de novos modelos estéticos e o predomínio da representação do fluido e do efémero sobre o perene e o transcendente. No domínio ético, manifesta-se na procura constante de novos modelos e de novas normas de comportamento que deem conta da mudança e das transformações do presente, na sequência das inovações técnicas que interferem com a experiência da vida. O modernismo está portanto associado aos movimentos de vanguarda que conceberam os seus projectos a partir da ruptura para com os modelos estéticos e para com as normas éticas aceites. A modernização é sobretudo um processo técnico e económico marcado pelo imperativo de renovação, tanto dos mecanismos produtivos como dos procedimentos administrativos utilizados na organização da vida colectiva. No seu começo, a modernidade associava numa mesma experiência refundadora o modernismo e a modernização. No entanto, à medida que a modernidade se foi generalizando e tornando princípio legitimador indiscutível da experiência, estes https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/texto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/palavra https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/cultura https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/situacao https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/tempo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/representacao https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/aforismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/modernismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/sentido https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/memoria https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/vanguarda 15 conceitos foram sendo autonomizados uns dos outros, acabando o modernismo e a modernização por esquecer os princípios da modernidade que estão na sua origem e lhes servem de fundamento e legitimação. É também a este processo de autonomização do modernismo e da modernização em relação à modernidade que está associada actualmente a crise e a perca dos fundamentos da experiência presente. A crise actual da modernidade manifesta-se habitualmente por uma corrida desenfreada quer dos processos de modernização técnica quer nas propostas de mudanças de normas e de modelos, cortados dos ideais emancipatórios constitutivos da modernidade. A modernidade é inevitavelmente uma experiência que retira da tradição o seu sentido e a sua razão de ser e que está destinada a tornar-se, por seu lado, também uma experiência tradicional, a partir do momento em que se impõe com carácter indiscutível. É que, a partir do momento em que o moderno se torna um imperativo, os novos modelos e as novas normas, mal sejam realizadas, exigem a sua ultrapassagem. Daí a natureza dissuasora do fundamento da modernidade, com a consequente emergência do indiferentismo ou a coincidência de todos os modelos e de todas as normas. É que, ao converter a diferença em norma, a modernidade corre o risco de produzir a norma da indiferença, fazendo equivaler todas as diferenças. É este paradoxo lógico da modernidade que está na origem actualmente da pós-modernidade, vivida ora de maneira irónica ora de maneira dramática. Ao romper com a ordem transcendente que serve de fundamento à tradição, a modernidade situa dentro do horizonte da própria história o sentido para a experiência do sujeito. É devido a esta natureza imanente do seu sentido que a modernidade oscila entre dois projectos antagónicos: o projecto restauracionista e o projecto progressista. Podemos associar estas duas modalidades do projecto da experiência moderna aos mitos profético e messiânico, respectivamente. O primeiro lê a história como um processo de degradação de um sentido originário, da arche, ao passo que o segundo considera a história como um processo evolutivo a caminho da plenitude do sentido. Estes dois projectos da modernidade concretizam-se esteticamente nos movimentos romântico e futurista. O processo da modernidade está indissociavelmente associado a uma concepção linear, em ruptura para com uma visão cíclica do tempo. É por isso que muitos autores reconhecem nas religiões históricas, e no cristianismo em particular, o fundo que o torna possível. A separação da experiência do mundo em relação à esfera religiosa, que caracteriza a própria raiz do cristianismo, afirma-se no Ocidente de maneira mais clara a partir do século XVII, vindo a manifestar-se na separação do Estado da Igreja e na instauração de uma ordem política nova, não baseada na autoridade de um soberano, mas no juizo da comunidade dos homens. Depois das ferozes lutas religiosas que afectaram, no começo, o processo de secularização, a modernidade instaura o princípio da tolerância como fundamento da convivência entre os homens, apesar de defenderem opiniões divergentes e de professarem credos diferentes. A este ideal moderno de tolerância está associado aquilo que Max Weber designava como pluralismo dos valores, com a consequente autonomização das diferentes dimensões da experiência e a fragmentação das diferentes esferas do mundo. Max Weber considerava, por isso, a modernidade como processo desencantamento do mundo, de perca das referências mítico-religiosas que, para o homem da tradição, davam sentido e coerência à experiência e ao destino (ver Max Weber, L’Ethique Protestante et l’Esprit du Capitalisme, Paris, ed. Plon, 1964, https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/legitimacao https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/paradoxo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/sujeito https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/visao 16 páginas 121, 143, 191 e 194). Não admira, por isso, que a modernidade esteja também muitas vezes associada a uma consciência da solidão do homem, ao sentimento de ser abandonado pelos deuses, entregue ao seu destino terreno. É habitualmente considerado o livro de Job como o grito do homem moderno que vê, por vezes, neste mundo, a injustiça e a maldade recompensadas, ao passo que a justiça, a verdade e a bondade estão acompanhadas por infelicidade, pobreza e solidão. A crítica é outro tema dominante da modernidade e está associado à natureza racional ou, pelo menos, razoável do fundamento das opiniões e das decisões, tanto na esfera do saber como nas esferas política, estética e ética. Nos séculos XVII e XVIII, este ideal da crítica era sobretudo baseado na livre discussão das opiniões, dos modelos e das normas. É este espaço de livre discussão que dá origem a uma nova categoria política que irá marcar profundamente o processo de emancipação que caracteriza a modernidade, a categoria do espaço público ( sobre o espaço público na modernidade ver sobretudo Jürgen Habermas, L’Espace Public. Archéologie de la Publicité comme Dimension Constitutive de la Société Bourgeoise, Paris, ed. Payot, 1978). Uma das ideias centrais da modernidade, que aparece aliás já claramente expressa por exemplo na Enciclopédia de Diderot e D’Alembert, é a de que o homem moderno não está apenas dependente das leis da natureza, mas tem como missão adaptar a natureza aos seus próprios projectos. Esta ideia está directamente associada ao deismo, na medida em que o homem é visto como colaborador da obra divina da criação, criado por Deus com a missão de a completar e aperfeiçoar. Através da prescrutação das leis que regem a natureza, o homem acede aos seus segredos e, deste modo, descobre os princípios que o habilitiam a inventar utensílios e instrumentos técnicos capazes quer de reparar os objectos naturais deficientes quer de afeiçoá-los a novas funções. A modernidade está, portanto, associada, nos séculos XVII e XVIII, a uma visão eufórica do progresso, considerando-a como a inauguração de uma época de desenvolvimento técnico ilimitado.Os instrumentos são ainda considerados como aperfeiçoamentos da percepção do mundo e os utensílios destinam-se a ajudar o gesto humano, na modelagem dos objectos naturais. No entanto, à medida que foi integrando conhecimentos científicos mais elaborados, a técnica foi adquirindo cada vez maior autonomia em relação à percepção e ao gesto humanos. É este processo que conduzirá ao maquinismo industrial, a partir da segunda metade do século XIX, e ao aparecimento de uma relação cada vez mais problemática e conflitual com a técnica. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o domínio da técnica adquiriu uma autonomia até agora inimaginável, ao converter-se em sistema, acarretando consequências para a própria experiência do mundo que ainda estamos longe de poder avaliar com rigor. Em todo o caso, estas transformações estão associadas ao actual processo de globalização, não só no domínio económico, mas sobretudo nos domínios político, ético e estético, anunciando-se deste modo novas oportunidades mas também novos riscos. O ideal revolucionário é outra das características constantes da modernidade. Em contraste com os valores de estabilidade que caracterizam a experiência tradicional, a modernidade promove valores de ruptura e de mudança constante. A experiência moderna está também associada à emergência do sujeito, no sentido ambivalente deste termo, entendido, por um lado, como instância soberana, de autonomia e emancipação e, por outro lado, como processo de sujeição ao imperativo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/livro https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/tema https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/estetica https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/espaco https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/obra https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/poder https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/instancia 17 do novo e da mudança. Desta duplicidade, retira o sujeito moderno uma consciência dilacerada ou clivada. A modernidade promove a procura de princípios explicativos racionais para os fenómenos da natureza e da cultura e de normas racionalmente fundadas para a política, para a ética e para a estética. A nossa época caracteriza-se pela consciência aguda do esgotamento dos projectos, romântico e futurista, da modernidade e pela consequente indiferença perante os valores e as normas que os movimentos de vanguarda procuraram instaurar, ao longo do seu processo de implantação. Esta consciência da crise da modernidade pode ser entendida como o retorno do recalcado: através das actuais manifestações da pós- modernidade vislumbram-se as próprias formas tradicionais que retornam, por vezes, de maneira nostálgica. bibliografia AA.VV. – Moderno/Posmoderno, in Revista de Comunicação e Linguagens, nº 6/7, Lisboa, CECL, 1989; AA.VV. – Pós-Modernismo e Teoria Crítica, in Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 24, Março de 1988; Apter, D. – The Politics of Modernization, Chicago, 1965; Matei Calinescu: Five Faces of Modernity: Modernism, Avant-Garde, Decadence, Kitsch, Postmodernism (2ªed., 1987) Eisenstadt, S.N. – The Protestant Ethic and Modernization. A Comparative View, New York, Londres, 1964; Habermas, J. – L’Espace Public. Archéologie de la Publicité comme Dimension Constitutive de la Société Bourgeoise, Paris, ed. Payot, 1978; Habermas, J. – Le discours Philosophique de la Modernité, Paris, ed. Gallimard, 1988; Morin, E. – L’Esprit du Temps, Paris, ed. Grasset, 1962; Pereira, M.B. – Modernidade e Tempo. Para uma Leitura do Discurso Moderno, Coimbra, ed. Liv. Minerva, 1990; Rodrigues, A.D. – Comunicação e Cultura. A Experiência Cultural na Era da Informação, Lisboa, ed. Presença, 1994, páginas 49-83; Rosenberg, H. – The Tradition of New, 1960; Simmel, G. – Philosophie de la Modernité, Paris, ed. Payot, 2 vol. 1988-1990; Weber, M. – L’Ethique Protestante et l’Esprit du Capitalisme, Paris, ed. Plon, 1964; Weber, M. – Economie et Société, Paris, Plon, 1971. Fonte: www. edtl.fcsh.unl.pt, acesso em 27 de junho de 2023 Atividade 2: - elabore um conceito e características de “Modernidade” a partir do texto de Adriano Duarte Rodrigues. Quadro 1 - Era da modernidade pesada ou era do hardware x era da... Download Scientific Diagram. (Fonte : www.researchgate.net). https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/bibliografia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/pos-modernismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/teoria-critica https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/avant-garde https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/kitsch https://edtl.fcsh.unl.pt/arquivo/author/arodrigues 18 VANGUARDA Por Ricardo Marques. Jan 1, 2010. O termo “vanguarda” nasceu com o advento da primeira guerra mundial, originando o seu uso moderno: denominava a primeira linha de soldados numa batalha, e que recebe, em primeira mão, o ataque directo do exército oposto. É assim, desde logo, um conceito de acção, de movimento, opondo-se naturalmente à imobilidade, ao conservadorismo, ou, claro está, à “retaguarda”. No famoso livro de Calinescu, Five Faces of Modernity: Modernism, Avant-Garde, Decadence, Kitsch, Post-Modernism, por exemplo, o conceito de “vanguarda” é dado como uma das cinco faces da Modernidade, a par do seu outro conceito limítrofe (Modernismo). Já Osvaldo Silvestre no seu verbete sobre “Vanguarda”, refere vários usos cronológicos anteriores, de cariz literário, mas com semelhantes significados como este: “O humanista francês Etienne Pasquier (1529-1615), nas suas Recherches de la France, e num contexto que anuncia a Querela dos Antigos e dos Modernos, refere-se a uma ‘belleguerre’ contra a ignorância, indicando em seguida os nomes daqueles que constituíram a sua ‘avant-garde’.” Por outro lado, é o próprio Calinescu que faz uma resenha histórica deste conceito no segundo capítulo do seu livro, defendendo haver uma vanguarda no Renascimento e no Romantismo, num sentido mais lato. Tal ideia não é estranha se aceitarmos o Renascimento como o início da Modernidade, onde o Modernismo é o seu último grande período. https://www.researchgate.net/figure/Quadro-1-Era-da-modernidade-pesada-ou-era-do-hardware-x-era-da-modernidade-leve-ou-era_fig2_342787966 https://www.researchgate.net/figure/Quadro-1-Era-da-modernidade-pesada-ou-era-do-hardware-x-era-da-modernidade-leve-ou-era_fig2_342787966 https://edtl.fcsh.unl.pt/arquivo/author/rmarques https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/conceito https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/accao https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/livro https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/avant-garde https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/kitsch https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/modernidade https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/modernismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/verbete https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/contexto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/resenha https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/renascimento https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/romantismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/sentido https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/periodo 19 É assim produtivo o cotejo que se pode fazer entre este termo e “Modernismo”, uma vez que se confundem frequentemente. A Vanguarda nasce do desejo, no início do século XX, de se ser absolutamente moderno, preconizando que a própria sociedade e cultura já não serviam nem espelhavam a ansiedade do indivíduo (o que a primeira guerra mundial veio, de certa forma, comprovar). Esta transformação da sociedade implicava, deste modo, estar mais à frente do seu tempo, criar uma arte que não se diferenciasse da vida. Esta é a atitude vanguardista, a de uma fusão total entre a vida e a arte. Data-se então a Vanguarda, num sentido estrito, desse mega-momento da periodologia literária, o Modernismo, onde há uma grande ênfase na tentativa de ruptura e de transgressão do texto literário, recorrendo-se, por isso, a uma experimentação sem limites. Essa consciência será alimentada por um contexto estrutural disfórico – não só pelo cansaço dos artistas por um gosto burguêsestafado e obsoleto, alimentado por uma poesia finissecular assente em lugares-comuns, mas igualmente por uma autêntica revolução das mentalidades, provocada, entre outros, pelos trabalhos seminais de Einstein e Freud sobre a relatividade e a psicanálise (a que os poetas e artistas do período claramente aderiram de imediato, como é exemplo D. H. Lawrence). Esta experimentação estaria então ligada intrinsecamente à polémica literária, que em Portugal é concomitante com o aparecimento do próprio Modernismo, com a revista Orpheu, em 1915. Neste sentido, há aqui uma clara co-existência temporal entre o conceito de Vanguarda e de Modernismo (ainda que tal termo não existisse e estivesse ainda para ser atribuído retrospectivamente). O crítico e poeta E.M. de Melo de Castro, ele próprio um (neo)vanguardista dos anos 60, esclarece, já em 1980: “Foi no nível de teorização que ela [Vanguarda] começou a ganhar peso internacionalmente e desde o começo da década de 60 se transformou num motor auto-reflexivo sobre a produção da arte ou de anti-arte, de cultura ou de contra-cultura.” Assim se vê igualmente o carácter dinâmico deste conceito operativo – a vanguarda ocorre sempre dialecticamente, num sentido lato, ocorre num determinado momento temporal. Reage a um tempo eminentemente conservador, respeitoso da “tradição”, produzindo ‘manifestos’ que afirmam uma diferenciação ao tempo vigente (pense-se no Manifesto Anti-Dantas, do futurista Almada Negreiros). Por outro lado, certas vanguardas podem ser herdeiras de outro tempo, tal como as (neo)vanguardas dos anos 60, em que teóricos da vanguarda como Ana Hatherly e o próprio Melo e Castro, eram eles próprios vanguardistas, bem como herdeiros de outros ismos como o Futurismo, o Surrealismo, e as práticas dadaísticas. Neste sentido, a Vanguarda começa a ser contraditória, porque ao querer libertar o homem-artista e o objecto artístico por si produzido, acaba por circunscrevê-lo ao próprio objecto e à sua prática artística através da sua teorização, quando começa a recepção literária e a aceitação na academia (de lembrar que Roland Barthes defende “a morte das vanguardas” já nos anos 60, quando precisamente nasce verdadeiramente esse pendor reflexivo e crítico acima descrito). Talvez pelas palavras de Ionesco se entenda, em suma, o conceito de Vanguarda: Eu prefiro definir a vanguarda em termo de oposição e ruptura. Enquanto a maior parte dos escritores, artistas e pensadores acreditam que pertencem ao seu tempo, o dramaturgo revolucionário sente que está a correr contra o seu tempo…Um homem de vanguarda é como um inimigo dentro de uma cidade que ele pretende destruir, contra o qual ele se rebela; porque como qualquer sistema de governo, uma forma estabelecida de expressão é também uma forma de opressão. O homem da vanguarda https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/desejo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/cultura https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/forma https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/tempo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/texto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/poesia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/polemica https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/auto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/manifesto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/futurismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/surrealismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/objecto https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/eu 20 é o opositor de um sistema existente. (Eugène Ionesco, Notes andCounter-Notes, London, J. Calder, 1964, pp. 40-41, apud Calinescu, 1999, p. 110). {bibliografia} BÜRGER, Peter, TheTheoryofthe Avant-Garde, Minneapolis, Universityof Minnesota Press, 1974. [Vega, 1993]. CALINESCU, Matei, Five Faces of Modernity: Modernism, Avant-Garde, Decadence, Kitsch, Post- Modernism, Durham : Duke University Press, 1987. [Vega, 1999. GUIMARÃES, Fernando, Simbolismo, Modernismo e Vanguardas, Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1982. HATHERLY, Ana, O Espaço Crítico do Simbolismo à Vanguarda, Lisboa: Caminho, 1979. JACKSON, K. David, As Primeiras Vanguardas em Portugal: Bibliografia e Antologia Crítica, Frankfurt-Madrid, Vervuert-Iberoamericana, 2003. MARNOTO, Rita (coord.), Vanguardas, Coimbra, Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, 2016. NOGUEIRA, Isabel, Teoria da Arte no Século XX – Modernismo, Vanguarda, Neovanguarda, Pós- Modernismo, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012. MELO E CASTRO, E. M., As Vanguardas na Poesia Portuguesa do Século XX, Lisboa, ICLP, 1980. SILVESTRE, Osvaldo, “Vanguarda”, in Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Lisboa, Caminho, 2008. TORRE, Guillermo de, História das Literaturas de Vanguardas, 6 volumes, Lisboa, Presença, 1972 [1ªed, 1925]. Atividade 3: elabore um conceito e características de “Vanguarda” a partir do texto de Ricardo Marques. Vanguardas Europeias As vanguardas europeias foram movimentos artísticos e culturais que romperam com o tradicionalismo. https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/bibliografia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/simbolismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/espaco https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/antologia https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/pos-modernismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/pos-modernismo https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/dicionario https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/historia https://edtl.fcsh.unl.pt/arquivo/author/rmarques 21 A Persistência da Memória (Salvador Dali): obra surrealista O que são (definição) As vanguardas europeias foram movimentos artísticos (artes plásticas e literatura), ocorridos na Europa durante o século XX, que apresentavam como principais características a oposição ao academicismo (tradicionalismo) e a adoção de projetos inovadores e experimentais. Principais movimentos de vanguarda europeia nas artes plásticas e suas características: 1. Cubismo Movimento artístico europeu que surgiu no começo do século XX. Desenvolveu-se, principalmente, no campo da pintura. Principais características: decomposição das figuras em formas geométricas; não retratação da realidade de forma real (realidade fragmentada); não utilização da perspectiva e tridimensionalidade, uso do humor. Principais artistas plásticos: Pablo Picasso, Paul Cézanne, Fernand Léger, Marcel Duchamp, Juan Gris e Georges Braque. 2. Futurismo 22 Movimento artístico europeu ocorrido nas primeiras décadas do século XX. O movimento foi iniciado na literatura, através das poesias do escritor Filippo Marinetti. A Itália foi o país em que o futurismo mais se desenvolveu. Principais características: valorização das inovações trazidas pela industrialização e tecnologia; temas da vida urbana; uso de cores fortes e contrastes; experimentações de técnicas e estilos. Principais artistas plásticos: Giacomo Balla, Umberto Boccioni, Luigi Russolo, Enrico Prampolini, Carlo Carra, Natalia Goncharova e Ambrogio Casati. 3. Expressionismo Embora tenha iniciado no final do século XIX, foi nas primeiras décadas do XX que este movimento artístico alcançou seu auge. Principais características: ênfase na subjetividade; traços fortes; utilização arbitrária das cores; formas dramáticas. Principais artistas plásticos: Van Gogh, Edvard Munch, George Grosz, Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Amedeo Modigliani e Paulo Klee. 4. Dadaísmo Movimento artístico de caráter anárquico, que surgiu na Suíça em 1916. Principais características: uso de artefatos do cotidiano, retirados contexto, em obras de arte; uso do humor e irreverência; posição contrária ao capitalismo, rompimento com as tradições artísticas. Principais artistas plásticos: Hans Arp, Max Ernst, Tristan Tzara e Marcel Duchamp. https://www.suapesquisa.com/artistas_obras/natalia_goncharova.htm https://www.suapesquisa.com/artesliteratura/tristan_tzara.htm 23 A fonte (1917), obra de Marcel Duchamp. 5. Surrealismo Estemovimento de vanguarda artística surgiu em Paris na década de 1920. Principais características: influência da Psicanálise, valorização dos sonhos e imagens inconscientes na elaboração de obras de arte; arte sem relação com a lógica e a razão; uso da técnica da colagem por muitos artistas; crítica aos valores da sociedade. Principais artistas plásticos: Salvador Dalí, René Magritte, Joan Miró, Max Ernst, Frida Kahlo e Cândido Costa Pinto (pintor e artista gráfico surrealista português). A traição das imagens (1929): obra de René Magritte, um dos mais importantes artistas plásticos do Surrealismo. 24 Uma das importantes contribuições das vanguardas foi a questão da arte conceitual: isso aqui não é um cachimbo. 6. Pop Art Esse movimento artístico foi de curta duração, pois teve como período de existência entre meados dos anos 1950 e 1960. Esse movimento apresentou um desafio às tradições das belas-artes ao incluir imagens da cultura popular e de massa, como publicidade, histórias em quadrinhos e objetos culturais mundanos. Artistas notáveis incluem Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Richard Hamilton. Fonte: www.suapesquisa.com, acesso em 27 de junho de 20123. Atividade 4: seminários sobre as vanguardas e sobre a Semana de Arte Moderna http://www.suapesquisa.com/ 25 Caligrama de Guillaume Apollinaire Guillaume Apollinaire foi um escritor e crítico de arte francês, possivelmente o mais importante ativista cultural das vanguardas do início do século XX, conhecido particularmente por sua poesia, marcada pela visualidade, palavras livres, sem pontuação e formatação inovadora. A maior influência de Apollinaire foi e é ainda na poesia concreta. Foi a publicação de Calligrammes, em 1918, que o levou a ser chamado o pai da poesia concreta moderna e a dar o nome a uma classificação inteira de poemas (caligramas), palavras que formam uma imagem com significado relativo ao seu conteúdo: Caligramas, Poemas de Paz e Guerra, 1913-1916. O Caligrama [combinação de duas palavras: caligrafia e telegrama] é fruto da fascinação de Apollinaire com o telégrafo sem fio, sobretudo com contribuição do francês Émile Baudot, que em 1874, inventou uma máquina que transformava os sinais telegráficos de modo automático, em caracteres tipográficos. Apollinaire definiu seus caligramas como uma idealização do verso livre. Era poesia com precisão de digitação, usando novos meios de reprodução. (Fonte: www.peregrinacultural.wordpress.com, acesso em 27de junho de 2023). http://www.peregrinacultural.wordpress.com/ 26 Guillaume Apollinaire, do livro Calligrammes [Reconnais-toi cette adorable personne]. Nasceu a 26 Agosto 1880 (Roma, Itália) e morreu em 09 Novembro 1918 (Paris, França). Apollinaire em tradução de Décio Pignatari Versos à Lou Cena Noturna de 22 de Abril de 1915 (Gui canta para Lou) Meu lobinho adorado queria morrer no dia em que você me amasse Queria ser bonito para que você me amasse Queria ser forte para que você me amasse Queria ser jovem jovem para que você me amasse Queria que guerra recomeçasse para que você me amasse Queria agarrar você para que você me amasse Queria dar palmadas na sua bunda para que você me amasse Queria maltratar você para que você me amasse Queria que estivéssemos sós no meu estudiozinho junto ao terraço deitados na cama do fuminho de ópio para que você me amasse Queria que você fosse minha irmã para amar você in-ces-tu-o-sa-men-te Queria que você fosse minha prima para que a gente pudesse se amar bem jovem Queria que você fosse meu cavalo para cavalgar você muito tempo muito tempo Queria que você fosse meu coração para sentir você sempre em mim Queria que você fosse o paraíso ou o inferno conforme o lugar aonde eu vou Queria que você fosse um menino para que eu fosse o seu professor Queria que você fosse a noite para eu amar você nas trevas 27 Queria que você fosse a minha vida para que ela fosse só de você Queria que você fosse um obus alemão para me matar de um amor súbito A serpente Sei que te obstinam as beldades e que nelas com acuidade exerceu tua crueldade! Cleópatra, Eurídice, Eva, sei de outras três em tua leva. . Le serpent Tu t’acharnes sur la beauté. Et quelles femmes ont été Victimes de ta cruauté ! Eve, Eurydice, Cléopâtre; J’en connais encor trois ou quatre. – Apollinaire, em “O bestiário ou o cortejo de Orfeu” – Guillaume Apollinaire. [tradução e apresentação Álvaro Faleiros]. São Paulo: Editora: Iluminuras, 2000. (Fonte: www.revistaprosaversoearte.com, acesso 27 de junho de 2023) PONTE MIRABEAU Sob esta ponte passa o rio Sena e o nosso amor lembrança tão pequena sempre o prazer chegava após a pena Chega a noite a hora soa vão-se os dias vivo à toa Mãos dadas nós fiquemos face a face enquanto sob a ponte dos braços passe de eternas juras tédio que se enlace Chega a noite a hora soa http://www.revistaprosaversoearte.com/ 28 vão-se os dias vivo à toa E vai-se o amor como água corre atenta e vai-se o amor ai como a vida é tão lenta e como só a esperança é violenta Chega a noite a hora soa vão-se os dias vivo à toa Dias semanas passam à dezena nem tempo volta nem nosso amor nossa pena sob esta ponte passa o rio Sena Chega a noite a hora soa vão-se os dias vivo à toa Guillaume Apollinaire, por Jean Metzinger (1910) 29 Mallarmé nasceu em Paris em 1842, foi poeta simbolista e professor de inglês durante cerca de 30 anos. Seus primeiros poemas só apareceram na década de 1860. O livro Hérodiade (Herodíades) é de 1869. Em seguida, vem L’Après-Midi d’un Faune (A Tarde de um Fauno), de 1876, obra que inspirou o prelúdio homônimo do compositor Claude Debussy (1894) e foi ilustrada pelo pintor Édouard Manet. Mallarmé começou a escrever sob a inescapável influência de Charles Baudelaire. Consta que ele compôs seu poema “Brisa Marinha” (“A carne é triste, sim, e eu li todos os livros”) depois de ler os versos devastadores de As Flores do Mal. Durante os anos 1880, Mallarmé foi a figura central de um grupo de escritores, entre os quais o poeta Paul Valéry e os romancistas André Gide e Marcel Proust, com quem discutia sobre poesia e arte. O poeta escreveu vários outros livros e morreu em 1898. Embora L’Après-Midi d’un Faune seja sua obra mais conhecida, o poema experimental Un Coup de Dés (Um Lance de Dados), escrito em 1897 mas só publicado postumamente, em 1914, é a obra de Mallarmé que causou mais barulho. A tarde de um fauno Quero perpetuar essas ninfas. Tão claro Seu ligeiro encarnado a voltear no ar Espesso de mormaço e sonos. Sonhei ou…? Borra de muita noite, a dúvida se acaba Em mil ramos sutis a imitar a mata, Prova infeliz de que eu sozinho me ofertava À guisa de triunfo a ausência ideal das rosas. Reflitamos… E se essas moças, minhas glosas, Não passarem de sonho e senso fabulosos? Fauno, dos olhos da mais casta, azuis e frios, Flui a ilusão com uma fonte em prantos, rios: 30 Mas, em contraste, o hálito da outra, arfante, Não é o sopro de um dia quente nos teus pelos? Mas, não! No pasmo exausto e imóvel, a manhã Se debate em calor para manter-se fresca E água não canta que da avena eu não derrame No bosque irrigado de acordes – e o só sopro Que flui da flauta dupla prestes a exalar-se Pronto a extinguir-se antes que se disperse em chuva Estéril, é somente o sopro no horizonte Sem uma ruga a perturbá-lo, da visível E calma inspiração artificial do céu. Ó orla siciliana das baixadas calmas, Que êmula de sóis, minha vaidade pilha, Sob centelhas de flores, taciturno, CONTE “Que aqui com arte e engenho vinha eu domar Caules ocos no glauco ouro azul de longínquosVerdes, às fontes dedicando seus vinhedos, E ondulava um brancor animal em repouso: E que ao prelúdio lento em que nascem as flautas, Este vôo de cisnes, ou náiades! foge Ou mergulha… Arde a tarde inerte na hora fulva Sem traço da arte vária pela qual fugiu Tanta núpcia ansiada por quem busca o la: Despertarei então à devoção primeira, De pé e só sob uma luz que flui de outrora, Lírio! e um de vós todos pela ingenuidade. Mais que esse doce nada, arrulho de seus lábios O beijo que, bem baixo, é perfídia segura, Atesta uma mordida este meu seio virgem, Misteriosa marca de algum dente augusto; Mas, chega! que esse arcano elege por amigo O junco vasto e gêmeo sob o céu tocado: Ei-lo que chama a si a turbação da face E num extenso solo sonha que entretemos A beleza ao redor, mediante confusões Falsas entre ela própria e o nosso canto crédulo – E tanto quanto alcance um módulo amoroso Faz que se esvaia a ilusão banal de dorso Ou de lado, seguidos pelo olhar sem ver, Uma linha monótona, sonora e vã. Volta, pois, instrumento de fugas, maligna Flauta, a reflorescer nos lagos onde me ouves: Do meu tropel cioso, irei falar de deusas Por muito tempo – e em muita pintura profana À sua sombra hei ainda hei de enlaçar cinturas; E quando a luz das uvas tenha eu sorvido Banindo um dissabor por fingimento oculto, Gozador, ao verão do céu oferto os bagos E soprando nas peles translúcidas, ávido E ébrio, fico olhando através até a noite. 31 Reavivemos, ninfas, LEMBRANÇAS diversas. “Pelos juncos, o olhar violava as colinas Imortais, que afogam na onda a queimadura, Soltando gritos de ira contra o céu da mata; E o banho esplendoroso dos cabelos some Em calafrios e claridades, pedrarias! Precipito-me – e eis a meus pés, enroscadas Langorosas haurindo esse mal de ser dois, Duas carnes dormindo entre os braços do acaso: Sem desfazer o enlace, arrebato-as e alcanço Rumo a esse alcatife, odiado pela frívola Sombra, de rosas desperfumando-se ao sol, Para esse embate igual ao dia que se consome. Ó cólera das virgens, eu te adoro, gozo Feroz do fardo nu e sagrado que se esquiva, Fugindo à boca em água ardente, quando um raio Faz tremer! o temor mais secreto da carne: Dos pés da desumana ao peito da mais tímida Que a pureza abandona, orvalhada ora por Lágrimas tristes ou não tão tristes vapores. Meu crime foi o de ter, contente de vencer Temores infiéis, partido ao meio a moita De beijos, pelos deuses tão bem guarnecida; Sob as pregas felizes de uma só (guardando Com simples dedo, a fim que o seu candor de pena Se maculasse na emoção de sua irmã – Aquela que é pequena, ingênua e não se peja:) Que de meus braços moles por delíquios vagos Liberta-se essa presa para sempre ingrata, Sem pena do soluço ainda em mim cativo. Azar! Hão de arrastar-me outras ao prazer, As tranças emaranhando aos chifres desta fronte: Tu sabes, vida minha: púrpura e madura Toda romã estala em zumbidos de abelhas; E o nosso sangue, amante de quem vai sugá-lo, Escorre pelo eterno enxame do desejo. Na hora em que se banha o bosque em cinza e ouro, Uma festa se exalta na ramada extinta: Etna! É em meio a ti, visitado por Vênus, Pousando em tua lava o calcanhar ingênuo Se troa um sono triste ou desfalece a flama. Minha, a rainha! Ó, punição… Não, mas a alma Vazia de palavras e este corpo espesso Tarde sucumbem ao silêncio meridiano: Sem mais, dormir no esquecimento da blasfêmia, Na areia ressupino e sedento – e sequioso Oferecer a boca ao astro audaz dos vinhos! Ninfas, adeus: vou ver a sombra que vos tornais. Tradução: Décio Pignatari 32 Um Lance de Dados JAMAIS MESMO ATIRADO EM CIRCUNSTÂNCIAS ETERNAS DO FUNDO DUM NAUFRÁGIO PORQUE o Abismo Branco se expõe furioso sob uma inclinação desesperadamente plana d’ asa a sua recaída prévia dum mal de se erguer no voo cobrindo os impulsos cortando rente os ímpetos no âmago se resume a sombra que se afunda nas profundas nessa alternativa vela para adaptar a tal envergadura as suas horríveis profundas como o arcaboiço duma construção que balança dum lado para o outro O MESTRE emerge inferindo dessa conflagração que se como uma ameaça o único Número que não pode Hesita cadáver descartado em lugar de jogar como um velho maníaco a partida em nome das marés um naufrágio assim livre dos antigos cálculos esquecido o manobrar com a idade outrora ele empunhava o leme a seus pés num horizonte unânime prepara se agita e se 33 envolve no punho que o ligará ao destino dos ventos ser um outro Espírito para o Lançar na tempestade e redobrar a divisão e passar altivo pelo braço do segredo que encerra invadiu o comandante correndo pela barba submersa vindo do homem sem nau insignificante onde será vão ancestralmente abrir ou não a mão crispada além duma cabeça inútil legada em desaparição a alguém ambíguo imemorial ulterior demónio nos seus lugares do nada induzo ancião a essa conjunção suprema com a probabilidade o tal da sombra pueril acariciada e polida aparada e lavada amaciada pela onda e afastada dos ossos duros perdidos em bocejos nascido dum descuido jogando o mar por antepassado ou o antepassado contra o mar numa sorte ociosa São núpcias da qual a ilusão é uma vela solta obcecada com o fantasma dum gesto que oscila até cair na loucura NÃO ABOLIRÁ TAL COMO Uma insinuação ao silêncio em algo próximo esvoaça simples envolta em ironia ou precipitado uivado mistério dum turbilhão hilariante e horrível em redor do abismosem nele se fixar nem fugir a embalar todo o indício virgem TAL COMO perdida solitária pena Salvo quando o encontro ou o aflorar do toque da meia-noite a deixa imóvel no veludo amarrotado por um riso sombrio essa brancura rígida irrisória que se opõe ao céu demasiado para que não deixe marcas exíguas em qualquer amargo príncipe de escolhos e que disso se enfeita como de irresistível heroísmo que sabe 34 contido pela sua curta e viril razão em cólera inquieto expiatório e púbere calado A lúcida e senhorial cristana fonte invisível cintila e depois sombrei a uma estatura gentil e tenebrosa na sua torção de sereia através de impacientes escamas Riso que Se de vertigem de pé o tempo de esbofetear bifurcadas numa rocha falsa mansão evaporada na bruma que impôs fronteiras ao infinito ERA de origem estelar Ou SERIA pior nem mais nem menos indiferentemente mas tanto O NÚMERO SE EXISTISSE diverso da alucinação esparsa da agonia COMECASSE OU FINDASSE ensucedor e não negado e preso quando aparecesse enfim através duma profusão ampliada e rara SE CONTASSE Como evidência da soma pouca uma SE ILUMINASSE O ACASO Cai a pena rítmica suspensa do sinistro para se afundar na espuma original recente onde explode o delírio até ao cimo desvanecido pela neutralidade idêntica do abismo NADA da memorável crise em que teve lugar o acontecimento havido em vista de qualquer resultado nulo humano TERÁ TIDO LUGAR uma simples ascensão na direcção da ausência SENÃO O LUGAR inferior marulhar como para dispersar um acto vazio abruptamente e através da mentira decidir a sua perdição nestas paragens do vago em que toda a realidade se dissolve EXCEPTO a altitude TALVEZ t ão longe como o lugar que com o além se funde longe do interesse que em geral se lhe assinala segundo esta obliquidade ou aquela delectividade de 35 fogos para esse lugar que deve ser o Setentrião também chamado Norte UMA CONSTELAÇÃO arrefece no olvido e no desuso mesmo que ela enumere em qualquer vaga e superior superfície o choque sideral e sucessivo do cálculo total em formação velando duvidando brilhando e meditando antes de se deter em qualquer ponto derradeiro que o sagra Todo o Pensamento produz um Lance de Dados _______________________ *POEMA PUBLICADO NA VERSÃO PORTUGUESA EM «A TARDE DUM FAUNO» E «UM LANCE DE DADOS» PELA EDITORA RELÓGIO D’ÁGUA O Acaso Cai a pluma rítmico suspense do sinistro nas espumas primordiais de onde há pouco sobressaltara seu delírio a um cimo fenescido pela neutralidade idêntica do abismo Fonte: www. jornalnota.com.br, acesso em 27 de junho de 2023. Atividade 5: escreva sobre a contribuição de Apollinaire e de Mallarmé à literatura do século XX. 36 Biografia de Mário de Andrade Por Dilva Frazão Mário de Andrade (1893-1945), escritor brasileiro, publicou "Pauliceia Desvairada", o primeiro livro de poemas da primeira fase do Modernismo. Além de poeta, foi romancista, contista, crítico literário, professor e pesquisador de manifestações musicais e excelente folclorista. Mário se interessava por tudo aquilo que dissesse respeito ao seu país, e teve papel importante na implantação do Modernismo no Brasil se tornado a figura mais importante da Geração de 22. Seu romance "Macunaíma" foi sua criação máxima. Mário Raul de Morais Andrade nasceu na Rua da Aurora, em São Paulo, no dia 9 de outubro de 1893. Filho de Carlos Augusto de Andrade e de Maria Luísa concluiu o ginásio e entrou para a Escola de Comércio Alves Penteado. Depois de se desentender com o professor de português, abandonou o curso. Em 1911 ingressou no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, concluindo o curso de piano em 1917. Ainda em 1917, após a morte de seu pai, passou a dar aulas particulares de piano. Frequentador das rodas literárias, conheceu Anita Malfatti e Oswald de Andrade, tornando-se amigos inseparáveis. Mais tarde, romperia sua longa amizade com Oswald, quando este insistiu em piadas sobre a sexualidade de Mário. Ainda nesse ano, com o pseudônimo de Mário Sobral, publicou seu primeiro livro Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema, no qual critica a matança produzida na Primeira Guerra Mundial e defende a paz. https://www.ebiografia.com/anita_malfatti/ https://www.ebiografia.com/oswald_andrade/ https://www.ebiografia.com/oswald_andrade/ 37 Semana de Arte Moderna O ano de 1922 foi importantíssimo para Mário de Andrade, pois, além de participar da Semana de Arte Moderna, foi nomeado professor do Conservatório
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