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3 Curso EAD Estomatologia Definição O líquen plano (LP) é uma doença mucocutânea1, inflamatória crônica, mediada por células T, de potencial de malignização discutível. Frequência Estima-se que a prevalência do LP varie entre 0,5 a 4% da população geral. Fatores Etiológicos Embora se acredite que o LP seja uma doença autoimune, mediada por células T, sua causa permanece desconhecida. Em outras palavras, não se sabe porque algumas pessoas desenvolvem essa resposta de autoimunidade e outras não. Características Clínicas Perfil dos pacientes Na maioria dos casos, a doença é identificada em: • mulheres; • pessoas com mais do que 40 anos; • pessoas ansiosas ou estressadas. Obs.: a ocorrência em crianças é incomum. Apresentação clínica das lesões A doença pode se manifestar em diferentes mucosas, sendo a bucal e a genital as mais frequentemente envolvidas. Entre 50 e 70% dos pacientes com a doença têm manifestações bucais, sendo estas as únicas manifestações em 20 a 30% dos casos. As lesões cutâneas se caracterizam como pápulas arroxeadas que coçam e que aparecem principalmente, mas não exclusivamente, nos braços e nas pernas. O couro cabeludo também pode ser afetado. As manifestações cutâneas são vistas em 20-30% dos pacientes com líquen plano em boca. Esta doença foi citada em alguns módulos ao longo do curso, pois pode se apresentar de diferentes formas: • Reticular: apresentação mais típica da doença, sendo descrita como estrias (linhas brancas) que se entrecruzam formando arranjo em rede ou anéis. Quando falamos em líquen plano bucal, a primeira imagem mental é de estrias brancas em mucosa jugal, de distribuição bilateral e simétrica. • Atrófica: como efeito do ataque dos linfócitos, algumas camadas de células epiteliais podem ser perdidas, levando ao aparecimento de lesões vermelhas que deveriam ser chamadas de erosões. Contudo, essas lesões acabaram sendo chamadas de atróficas. • Papulosa/Placa: a manifestação na forma de pápulas brancas opacas não removíveis por raspagem é comum. Essas lesões tendem a coalescer formando placas. • Erosiva: presença de lesões ulceradas, as quais surgem pelo destacamento do epitélio como resultado do ataque dos linfócitos aos ceratinócitos basais. 1Doença que se manifesta em pele e mucosas. 4 Curso EAD Estomatologia • Bolhosa: Extremamente rara. Mesmo quando há formação de bolhas, em geral isso não é observado pelo dentista, porque as mesmas se rompem facilmente. Estas manifestações representam diferentes momentos da doença. As lesões atróficas e erosivas indicam exacerbação da doença e, em geral, são acompanhadas de sintomas como dor, desconforto e ardência. As lesões brancas (estrias, pápulas e placas) geralmente são assintomáticas. As diferentes formas podem estar presentes simultaneamente, por exemplo, áreas erosivas e/ou atróficas usualmente são contornadas por estrias ou placas brancas. Em outro momento, o mesmo paciente pode retornar apenas com estrias brancas, sem sintomas, na mesma área ou em áreas diferentes, demonstrando o dinamismo da doença. Usualmente o paciente com líquen plano tem estrias brancas em alguma parte da boca. Em alguns casos, fica evidente a associação da piora das manifestações clínicas com o estado emocional do paciente, com a doença se agravando em momentos de maior ansiedade ou estresse. As lesões são quase sempre bilaterais e simétricas, o que as diferencia das reações liquenóides que serão comentadas no item DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL. A apresentação na forma de lesões únicas é rara. Os sítios bucais mais acometidos são mucosa jugal, gengiva, dorso da língua, mucosa labial e mucosa de transição do lábio. O envolvimento da mucosa da gengiva na forma de lesões erosivas, associadas ou não a áreas brancas é frequente. Essa manifestação é chamada “gengivite descamativa” e pode ser vista em outras doenças. As lesões no dorso lingual costumam ser brancas, isoladas ou confluentes em placas, devido às características peculiares desse epitélio. Às vezes podemos notar perda das papilas (despapilação), dando um aspecto de ‘’língua careca”. Nesses casos, o paciente pode relatar alterações no paladar. Quando uma lesão erosiva ou atrófica cicatriza, pode haver pigmentação residual da mucosa (pigmentação pós-inflamatória). Essa manifestação é chamada de líquen plano pigmentoso e não tem significado clínico, ou seja, não indica piora ou melhora no curso da doença. Diagnóstico Ainda que as manifestações clínicas na forma de estrias brancas, associadas ou não a placas brancas, erosões ou úlceras sejam sugestivas, recomenda-se a biópsia parcial para confirmação do diagnóstico. Neste procedimento a área da biópsia deve incluir uma área branca, a fim de verificar as alterações microscópicas que caracterizam a doença. Na avaliação histológica, a identificação de uma inflamação de interface epitélio-conjuntivo com infiltrado linfocitário em faixa (banda) logo abaixo do tecido epitelial, hiperplasia epitelial em “dentes de serra” e hiperceratose (aumento da camada de ceratina) são os principais achados. Caso seja identificada displasia epitelial, o diagnóstico de líquen é descartado. Diagnóstico Diferencial A diversidade de apresentações clínicas chama a atenção para a necessidade de diferenciar o líquen plano de outras doenças que mostram características semelhantes. Dentre estas as principais são: 1. Mordiscamento crônico da mucosa (Morsicatio): situação que pode ser diferenciada a partir da anamnese, em que o paciente relata o episódio. 2. Candidíase pseudomembranosa: o procedimento de passar uma gaze ou espátula de madeira sobre a lesão permite a distinção. 3. Outras doenças autoimunes: como visto anteriormente no curso, pênfigo vulgar, penfigóide benigno de mucosas e lúpus eritematoso podem ter manifestações que se assemelham ao líquen plano. Se houver necessidade, revise o módulo de lesões erosivas 5 Curso EAD Estomatologia para ficar mais seguro a respeito da distinção entre as diferentes situações. 4. Lesões liquenóides: reações de contato causadas por metais de restauração dentária. As lesões isoladamente são indistinguíveis das do líquen plano idiopático, mas tem distribuição assimétrica e se limitam a regiões próximas a restaurações dentárias ou grampos de próteses removíveis. Após algumas semanas ou meses da troca das restaurações, as lesões tendem a desaparecer. Conduta/Tratamento Em pacientes que apresentam apenas lesões brancas e não têm sintomas, o tratamento não parece trazer benefício. O objetivo do tratamento é controlar os sintomas e atenuar as manifestações mais agressivas da doença (lesões atróficas e erosivas). Não existe um tratamento definitivo para a doença. Como, em geral, as lesões são múltiplas, as soluções para bochecho parecem ser uma alternativa mais interessante do que os medicamentos que exigem aplicação tópica local (Triancinolona em orabase, por exemplo). Os corticoides por via tópica são a primeira escolha. Esses medicamentos são seguros e bem tolerados. A dexametasona é a primeira opção, devido ao menor risco de efeitos colaterais. Caso o paciente não tenha boa resposta a esse medicamento, a opção passa a ser o dipropionato de clobetasol. O dipropionato de clobetasol é um medicamento mais potente, por isso há risco de infeção por Candida secundariamente. Em função disso, costuma- se associar o uso profilático da Nistatina em combinação com este medicamento. Além disso, recomenda-se que o paciente tenha um bom controle de biofilme e não durma com as próteses removíveis (caso o paciente as utilize), visto que os cuidados com higiene bucal são importantes e interferem no curso da doença. As lesões erosivas gengivais podem ser mais difíceis de tratar. Uma alternativa para esses casos é utilizar uma moldeira, como as utilizadas para clareamento dentário, para aplicar o corticoide. Alguns autores são contrários a esta medida por associá-la com o risco de retração gengival, mas os pacientes mostramboa resposta. Quando houver algum problema emocional/psicológico mais importante ou sintomas depressivos, é recomendável o encaminhamento para tratamento psicoterápico, opção que deve ser apresentada de forma delicada com vistas a sua melhor aceitação. USO EXTERNO (APLICAÇÃO TÓPICA): 1. Dexametasona elixir 0,1ml/ml -------------------------------- 1 frasco Bochechar 15 ml da solução (medida de 1 colher de sopa), por 2 minutos, 4 vezes ao dia, durante 14 dias. Não engolir. Não lavar a boca, comer ou beber nos 30 minutos após as aplicações. USO EXTERNO (APLICAÇÃO TÓPICA) – Fórmula para manipulação: 2. Propionato de clobetasol 0,05% Nistatina 100.000 UI/ml Água destilada Conteúdo final=1000 ml Bochechar 15 ml da solução (medida de 1 colher de sopa), por 2 minutos, 4 vezes ao dia, durante 14 dias. Não engolir.Não lavar a boca, comer ou beber nos 30 minutos após as aplicações. 6 Curso EAD Estomatologia USO INTERNO (VIA ORAL): Prednisona 20 mg -------------------------------------- 1 caixa Tomar 3 comprimidos pela manhã* durante 7 dias. *Obs.: Costuma-se utilizar uma faixa de dose que varia de 0,5-1,0 mg/kg/dia. Quando algum tratamento for prescrito, o/a paciente deve ser reavaliado/a após 3-4 semanas. A potência do corticoide tópico e a frequência de sua utilização devem ser reduzidas à medida que o quadro clínico e os sintomas melhoram. Como os medicamentos são corticoides, existe um risco mínimo de haver absorção e, consequentemente, efeitos adversos. A dexametasona, por ser um medicamento menos potente, pode ser mantida por mais tempo, mas nem todos pacientes respondem bem a este medicamento. Alguns pacientes não respondem aos tratamentos tópicos. Nestes casos, a opção é utilizar corticoide sistêmico por curto período, caracterizando um esquema de tratamento chamado de pulsoterapia. A pulsoterapia consiste em administrar uma dose alta de corticoide por um período curto de tempo, permitindo que o uso da medicação seja interrompido de forma abrupta sem que haja os efeitos adversos conhecidos para os corticoides sistêmicos. Independentemente do tratamento prescrito, consultas de reavaliação devem ser agendadas a cada 4 ou 6 meses, de acordo com a atividade da doença. Caso haja agravamento do quadro entre as revisões, o paciente deve ser orientado a antecipar a consulta. Prognóstico Como o potencial de malignização do líquen plano permanece em discussão, é importante manter os paciente sob controle clínico periódico. Os autores que defendem que a lesão não apresenta risco de transformação, acreditam que os casos que sofrem transformação não são de fato líquen plano, e sim lesões que simulam líquen plano e que apresentam displasia epitelial ao exame microscópico. Segundo essa forma de pensar, casos com aspecto clínico de líquen (presença de estrias e/ou placas brancas múltiplas) com presença de displasia epitelial ao exame microscópico seriam uma outro lesão chamada displasia liquenóide, a qual não foi completamente reconhecida até o presente momento. Enquanto essa polêmica da literatura não é resolvida, pacientes com diagnóstico de líquen plano devem ser acompanhados e os que apresentarem úlceras que não respondam aos tratamentos com corticoides devem ser biopsiados, a fim de detectar uma posível transformação maligna o mais precocemente possível. 7 Curso EAD Estomatologia Painel de imagens – Diagnósticos Diferenciais Alguns diagnósticos diferenciais a serem considerados antes de fazer o diagnóstico de líquen plano: Candidíase pseudomembranosa (A). Gengivite descamativa (B), a qual pode representar um caso de líquen plano, de pênfigo vulgar ou de penfigóide benigno de mucosas. Reação liquenóide (C), lesão que simula um líquen plano mas que representa uma reação de hipersensibilidade a materiais metálicos, mostrando remissão após o agente irritativo ser removido (D). Fonte: A - Williams e Lewis (2011), B – FO/UFRGS, C e D - Montebugnoli et al (2009) A B DC 8 Curso EAD Estomatologia Painel de imagens – Líquen Plano A e B: Paciente com líquen plano de aspecto reticular, com distribuição simétrica e bilateral na mucosa jugal. Este padrão geralmente não gera sintomas. O líquen plano pode apresentar padrão misto (erosivo/ reticular) mostrando área erosiva central contornada por estrias (C) ou placas (D). Fonte: Neville et al (2009). A B DC 9 Curso EAD Estomatologia Líquen plano apresentando padrão papular (A). As pápulas podem se juntar e formar placas (C). Em B, observa-se o típico padrão reticular. As lesões em dorso de língua geralmente levam à perda das papilas e podem apresentar áreas erosivas (D). Fonte: Nico et al (2015) A B DC Painel de imagens – Líquen Plano 10 Curso EAD Estomatologia Líquen plano apresentando padrão atrófico/erosivo (A e B). Líquen plano pigmentoso, com áreas de pigmentação em áreas cicatriciais (C). Quando na fase menos ativa, as lesões podem se tornar bem discretas (D), mas dificilmente desaparecem por completo. Fonte: Nico et al (2015) A B DC Painel de imagens – Líquen Plano 11 Curso EAD Estomatologia Painel de imagens – Líquen Plano Lesão erosiva em lábio (A) e na gengiva (B), sendo esta chamada de gengivite descamativa. Fonte: Nico et al (2015) A B Referências Kaugars GE, Pillion T, Svirsky JA, Page DG, Burns JC, Abbey LM. Actinic cheilitis: a review of 152 cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod., v.88, no.2, p.181-6, 1999. Montebugnoli L, et al. Clinical and histologic healing of lichenoid oral lesions following amal- gam removal: a prospective study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol., v.113, no. 6, p.766-72, 2012. Neville, B. W.; Damm, D. D.; Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral e Maxilofacial - 3ª Ed., Else- vier, 2009. Nico, M. M. S., et al. Líquen plano oral. An Bras Dermatol., v. 86, no.4, p. 633-43, 2011. Regezi, J. A.; Sciubba, J.; Jordan, R. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas - 6ª Edição, Elsevier, 2013. 12 Curso EAD Estomatologia TelessaúdeRS-UFRGS Coordenação Geral Roberto Nunes Umpierre Marcelo Rodrigues Gonçalves Gerência de Projetos Ana Célia da Silva Siqueira Coordenação Executiva Rodolfo Souza da Silva Coordenação do curso Vinicius Coelho Carrard Coordenação da Teleducação Ana Paula Borngräber Corrêa Conteudistas do Curso Manoela Domingues Martins Marco Antonio Trevizani Martins Vinicius Coelho Carrard Vivian Petersen Wagner Conteudistas do Objeto Virtual de Aprendizagem Renata de Almeida Zieger Fernando Neves Hugo Stefanie Thieme Perotto Karla Frichembruder Vinicius Coelho Carrard Manoela Domingues Martins Marco Antônio Trevizani Martins Revisores Bianca Dutra Guzenski Michelle Roxo Gonçalves Otávio Pereira D’Avila Thiago Tomazetti Casotti A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS/UFRGS) e do Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes. Diagramação e Ilustração Carolyne Vasquez Cabral Angélica Dias Pinheiro Iasmine Paim Nique da Silva Lorenzo Costa Kupstaitis Projeto Gráfico Iasmine Paim Nique da Silva Lorenzo Costa Kupstaitis Luiz Felipe Telles Design do Objeto Virtual de Aprendizagem Lorenzo Costa Kupstaitis Matheus Lima dos Santos Garay Edição/Filmagem/Animação Diego Santos Madia Rafael Martins Alves Bruno Tavares Rocha Luís Gustavo Ruwer da Silva Divulgação Camila Hofstetter Camini Jovana Dullius Design Instrucional Ana Paula Borngräber Corrêa Equipe de Teleducação Angélica Dias Pinheiro Ylana Elias Rodrigues Equipe Responsável: Dúvidas e informações sobre o curso Site: www.telessauders.ufrgs.br E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br Telefone: 51 33082098
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