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Pigmentação patológica pode representar o resultado de alterações bioquímicas pronunciadas, sendo o acúmulo ou a redução de determinados pigmentos um dos aspectos mais marcantes em várias doenças. Pigmentação é o processo de formação e/ou acúmulo, normal ou patológico, de pigmentos no organismo. Os pigmentos, que são substâncias com cor própria, origem, composição química e significado biológico diversos, acham-se distribuídos amplamente na natureza e são encontrados em células vegetais e animais, nas quais desempenham importantes funções (p. ex., clorofila, citocromos, melanina). ❖ Pigmentos endógenos: Originado de substâncias sintetizadas no próprio organismo. Podem ser: (1) derivadas da hemoglobina (pigmentos biliares, hematoidina, hemossiderina, pigmento malárico, pigmento esquistossomótico); (2) melanina; (3) ácido homogentísico; (4) lipofuscina. ❖ Pigmentos exógenos: Pigmentos diversos penetram no organismo juntamente com o ar inspirado e com os alimentos deglutidos, ou são introduzidos por via parenteral, como ocorre com as injeções e tatuagens. As partículas depositam-se nos pontos do primeiro contato com as mucosas ou a pele; aí podem ficar retidas ou ser eliminadas ou transportadas para outros locais pela circulação linfática ou sanguínea, ou por macrófagos. PIGMENTOS EXÓGENOS Tatuagens- imagens introduzidas na derme através de picadas com corantes (titânio, alumínio, carbono). Pneumoconiose- Os trabalhadores de minas de carvão e os expostos à sílica estão sujeitos a desenvolver doença grave que se caracteriza por fibrose pulmonar acentuada e difusa, capaz de levar à insuficiência respiratória e ao cor pulmonale. Nos dois casos, contudo, a doença só se instala após longo tempo de exposição a alta concentração de partículas, parecendo haver influência da constituição genética no aparecimento e na evolução das lesões. As principais pneumoconioses são antracose, silicose, sílico-antracose, beriliose e asbestose. Argiria- Deposição de sais de prata nos tecidos. Crisíase- Deposição de ouro. Asbestose- Deposição de asbesto. Antracose- Inalação de diversos pós, o mais comum é o carvão, que ora são inertes, ora irritantes para o pulmão. A deposição do carvão gera a antracose, que é encontrada em trabalhadores de minas de carvão ou fumantes e em praticamente todo indivíduo adulto morador nas grandes ou médias cidades onde exista certo grau de poluição atmosférica. e. Uma vez inalado, o pigmento de carvão é fagocitado por macrófagos alveolares e transportado por vasos linfáticos aos linfonodos regionais. Acúmulo progressivo do pigmento produz coloração negra nas partes afetadas, em forma de manchas irregulares no parênquima dos pulmões, na pleura e nos linfonodos do hilo pulmonar. Em trabalhadores de minas de carvão, o grande acúmulo de pigmento nos pulmões pode acompanhar-se de fibrose e levar a diminuição considerável da capacidade respiratória. Silicose- Doença pulmonar causada pela inalação da forma cristalina de dióxido de silício, principalmente o quartzo. Inicialmente, as partículas inaladas de sílica evocam a formação de pequenos nódulos, que, com o tempo, formam áreas de fibrose nodular coalescente. PIGMENTAÇÕES ENDÓGENAS Melanina- A melanina é um polímero complexo sintetizado em melanócitos (originados de células precursoras da crista neural e migradas para várias partes do organismo), especialmente na pele, globo ocular e leptomeninge. Na pele, os melanócitos estão situados junto à camada basal da epiderme (10% das células nessa camada) e na matriz do folículo piloso. As funções da pigmentação melânica cutânea são proteção contra a radiação ultravioleta B (fotoproteção). A ação fotoprotetora da melanina deve-se à sua eficiência em absorver e dispersar fótons, convertendo rapidamente sua energia em calor. A biossíntese da melanina (melanogênese) inicia-se a partir da tirosina, originada da hidroxilação da fenilalanina (via fenilalanina hidroxilase). A enzima tirosinase hidroxila a tirosina em 3,4-di-hidroxifenilalanina (DOPA) e a oxida em dopaquinona, que é o precursor comum da melanina. A armazenagem é no melanossomo. Os reguladores são (1) MSHR, (2) diversos hormônios: ACTH, hormônio estimulante do melanócito-α (α-MSH), estrógeno, progesterona, etc (3) luz solar (UVB). - Hipermelanoses: efélides (sardas), melasmas, nevo melanocítico, melanoma. - Hipomelanoses: Pode ser congênita (p. ex., albinismo) ou adquirida (p. ex., vitiligo). Atividade alterada da tirosinase, defeito na melanização dos melanossomos, melanoma sem melanina. Vitiligo é a diminuição adquirida e progressiva do número e função de melanócitos. O nevo pigmentado (anomalia do desenvolvimento) (sinais) é devido a proliferação neoplásica benigna de melanócitos, possui cor uniforme, bordas bem delimitadas. Já o melanoma é uma lesão maligna, que apresenta-se assimétrico, possui coloração heterogênea e margem mal delimitada. Lipofuscina- Também chamada lipocromo, pigmento de desgaste, pigmento do envelhecimento ( ou em situação de atrofia intensa, AIDS, dieta extensa) e ceroide, a lipofuscina é um marcador biológico de envelhecimento celular, representa o complexo lipoproteico insolúvel oriundo da oxidação de membranas. A lipofuscina aparece como grânulos intracitoplasmáticos, pardo-amarelados, autofluorescentes e PAS-positivos. A lipofuscina tende a localizar-se nos polos dos núcleos. Não tem maior importância por que não afeta o desempenho funcional das células. Com o avançar da idade, a lipofuscina deposita-se especialmente em células pós-mitóticas como neurônios, células musculares cardíacas e esqueléticas e epitélio pigmentar da retina. Células diferenciadas de vida curta, como ceratinócitos, enterócitos e hemácias, são logo substituídas e, portanto, não acumulam quantidades significativas de corpos residuais. Os órgãos afetados pelo acúmulo de lipofuscina sofrem redução volumétrica e ponderal e adquirem coloração parda (hipotrofia parda). O acúmulo de lipofuscina no epitélio pigmentar da retina associa-se à degeneração macular relacionada com a idade. O pigmento acumula-se também no miocárdio e no fígado de indivíduos desnutridos, particularmente aqueles com caquexia. Admite-se que a lipofuscina tenha efeito citotóxico mediado por vários mecanismos, como formação de espécies reativas derivadas do oxigênio, inibição da degradação proteica em proteassomos e formação de substâncias derivadas de glicação e peroxidação capazes de promover ligações cruzadas entre macromoléculas.Hemoglobina - Globina - Bilirrubina: Produto final do catabolismo da fração heme da hemoglobina e de outras hemoproteínas. A hiperbilirrubinemia é a produção excessiva de bilirrubina ou defeito hepático na remoção do pigmento da circulação, que pode causar a icterícia neonatal (também pode ser causada por hemólise que é a desintegração maciça dos glóbulos vermelhos). Leva a baixa conjugação por carência de enzimas envolvidas no processo (ligandinas), diminuição da captação hepática da bilirrubina, queda no transporte da bilirrubina conjugada (UGT), comprometimento do fluxo biliar, baixa excreção celular de Bb. A Bb conjugada reage rápida e diretamente com o ácido sulfanílico diazotado (diazorreativo), razão pela qual é chamada de Bb direta; a Bb não conjugada só reage rapidamente com o diazorreativo após adição de um solvente orgânico, sendo denominada Bb indireta. o aumento dos níveis sanguíneos da Bb não conjugada, particularmente em recém-nascidos, pode causar lesão cerebral irreversível, morte e, nos casos de sobrevida, sequelas neurológicas permanentes, condição chamada kernicterus, porque a impregnação do tecido nervoso pela Bb pode ser vista macroscopicamente em diversos núcleos cerebrais, cerebelares e do tronco encefálico. - Hemossiderina: Hemossiderina e ferritina são as duas principais formas de armazenamento intracelular de ferro. A degradação da ferritina no citosol libera ferro. Quando há excesso de ferro, micelas de ferritina se agregam e formam a hemossiderina, que é um pigmento visível à microscopia de luz. Pigmento malárico- Também denominado hemozoína, resulta da degradação da hemoglobina ingerida pelos parasitos da malária (Plasmodium) durante o seu ciclo de vida assexuado nas hemácias. Com a formação de merozoítas, rompem-se as hemácias e os parasitos são liberados, enquanto o pigmento, sob a forma de grânulos castanho-escuros, acumula-se nos macrófagos do fígado, baço, medula óssea, linfonodos e de outros locais, aí permanecendo por muitos anos. A quantidade de pigmento nos tecidos aumenta com a duração da infecção. O pigmento malárico é inerte e não tóxico, mas sua retenção maciça em grande número de monócitos circulantes e macrófagos pode afetar algumas funções dessas células, como a fagocitose, contribuindo para a redução da resposta imunitária observada em muitos pacientes com a doença, além de inibir a eritropoese pelo acúmulo do pigmento na medula óssea. Pigmento esquistossomótico- gmento esquistossomótico O pigmento esquistossomótico origina-se no tubo digestivo do Schistosoma a partir do sangue do hospedeiro, o qual é ingerido pelo verme adulto como fonte de nutrientes. A hemozoína é regurgitada pelo verme adulto, intermitentemente, na circulação sanguínea do hospedeiro. Forma-se, assim, o pigmento esquistossomótico, que se acumula como grânulos castanho-escuros ou negros nas células de Kupffer, nos macrófagos do baço e no tecido conjuntivo dos espaços portobiliares. A deposição do pigmento não traz repercussões para o organismo. Calcificação: Depósito de cálcio A calcificação patológica é a deposição anormal de sais de cálcio nos tecidos, junto com quantidades menores de ferro, magnésio e outros sais minerais. Há duas formas de calcificação patológica. Quando a deposição ocorre localmente em tecidos mortos, é conhecida como calcificação distrófica; ela ocorre apesar de níveis séricos de cálcio normais e na ausência de alterações no metabolismo do cálcio. Em contraste, a deposição de sais de cálcio em tecidos normais é conhecida como calcificação metastática, e quase sempre resulta da hipercalcemia secundária a algum desequilíbrio no metabolismo do cálcio. Os estoques de cálcio e de fosfato no organismo estão em constante mobilização, por meio de deposição, reabsorção e remodelação ósseas, absorção intestinal e excreção urinária. Com tudo isso, os níveis séricos de cálcio são mantidos em 10 ± 1 mg/dL, e os de fosfato, em 3,5 ± 0,5 mg/dL. Apenas parte do cálcio sérico está presente na forma iônica, fisiologicamente ativa; ainda assim, trata-se de concentração elevada, próxima da saturação. A regulação/absorção do cálcio se dá pelo paratormônio, calcitonina e vitamina D- ação sobre osteoclastos e intestino. ● Calcificação distrófica A calcificação distrófica é encontrada em áreas de necrose, sejam elas do tipo coagulativa, caseosa ou liquefativa, e em focos de necrose enzimática da gordura. A calcificação quase sempre está presente nos ateromas da aterosclerose avançada. Também se desenvolve comumente nas valvas cardíacas envelhecidas ou danificadas, dificultando ainda mais a sua função (Fig. 2-34). Qualquer que seja o local da deposição, os sais de cálcio aparecem macroscopicamente como delicados grânulos ou grumos brancos, muitas vezes palpáveis como depósitos arenosos. Às vezes, um linfonodo tuberculoso é praticamente convertido em pedra. ● Calcificação metastática A calcificação metastática ocorre nos tecidos normais sempre que há hipercalcemia. A hipercalcemia também acentua a calcificação distrófica. Há quatro causas principais de hipercalcemia: (1) aumento da secreção do paratormônio (PTH) com subsequente reabsorção óssea, como no hiperparatireoidismo devido a tumores das paratireoides, e secreção ectópica de proteína relacionada ao PTH por tumores malignos; (2) destruição de tecido ósseo, decorrente de tumores primários da medula óssea (p. ex., mieloma múltiplo, leucemia) ou metástases esqueléticas disseminadas (p. ex., câncer de mama), remodelamento ósseo acelerado (p. ex., doença de Paget) ou imobilização; (3) distúrbios relacionados à vitamina D, incluindo intoxicação por vitamina D, sarcoidose (na qual macrófagos ativam um precursor da vitamina D) e hipercalcemia idiopática da lactância (síndrome de Williams), caracterizada por sensibilidade anormal à vitamina D, e (4) insuficiência renal, que causa retenção de fosfato, provocando hiperparatireoidismo secundário. Causas menos comuns incluem intoxicação por alumínio, que ocorre em pacientes sob diálise renal crônica, e na síndrome leite-álcali, que resulta da ingestão excessiva de cálcio e antiácidos absorvíveis como o leite ou carbonato de cálcio. A calcificação metastática pode ocorrer em qualquer lugar do corpo, mas afeta principalmente os tecidos intersticiais da mucosa gástrica, rins, pulmões, artérias sistêmicas e veias pulmonares. Embora em localização bastante diferente, todos esses tecidos excretamácido e, portanto, têm um compartimento interno alcalino que os predispõe à calcificação metastática. Em todos esses locais, os sais de cálcio morfologicamente se assemelham aos descritos na calcificação distrófica. Assim, eles ocorrem como depósitos amorfos não cristalinos ou, em outras vezes, como cristais de hidroxiapatita. *Nefrocalcinose: Focos de calcificação disseminados no túbulo renal. *Cálculo renal: Os cálculos renais são concreções formadas pela agregação de sais minerais presentes na urina. Os rins, além de água para formar a urina, eles retêm diversos elementos, como cálcio, ácido úrico e oxalato. Quando essas moléculas aparecem em grande quantidade e há pouco líquido para dissolvê-las, surgem cristais ou agregados que se avolumam e viram os cálculos. Resposta inflamatória renal.
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