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Transtorno Bipolar DEFINIÇÃO - É caracterizada pela presença de episódios de hipomania ou mania, intercalados por períodos de normalidade de humor (eutimia), geralmente acompanhados por episódios de depressão. Sintomas psicóticos estão presentes durante as alterações de humor em torno de 30% dos pacientes com transtorno bipolar. EPIDEMIOLOGIA - Inicia-se, em até 60% dos casos, no final da adolescência ou no início da vida adulta. - Envolve influências genéticas e ambientais múltiplas que podem variar amplamente entre os indivíduos afetados. - Parentes em 1º graus de pessoas com transtorno bipolar têm maior risco de apresentar o transtorno (há grande influência genética). QUADRO CLÍNICO Episódio maníaco - Período distinto de humor anormalmente e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento de energia ou na atividade, durando pelo menos 1 semana, ao longo da maior parte dos dias ou de qualquer duração caso seja necessária a internação. - Devem estar presentes 3 ou mais dos seguintes sintomas (ou 4 se o humor for apenas irritável) que apresentem alguma mudança notável de um padrão habitual de comportamento e com prejuízo significativo: Aumento da autoestima ou grandiosidade. Diminuição da necessidade de sono. Muito falante ou até com pressão de discurso. Fuga de ideias ou a impressão dos pensamentos estarem acontecendo muito rapidamente. Distração. Aumento de atividade direcionada a um objetivo (social, academia, trabalho, sexualmente). Agitação psicomotora (atividade sem um objetivo claro). Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas (ex. negócios arriscados, compras irresponsáveis, indiscrições sexuais). - Podem estar presentes sintomas psicóticos – os delírios (falsas crenças), em geral, têm natureza expansiva e grandiosa, com conteúdo religioso, de poder e, às vezes, persecutório; e as alucinações, geralmente auditivas, são breves, flutuantes e inconstantes. Episódio hipomaníaco - Difere do episódio maníaco pela duração de pelo menos 4 dias e os sintomas menos intensos. Não estão presentes sintomas psicóticos e o quadro traz menos prejuízos diretos. - No entanto, esta não é uma forma mais atenuada da doença, uma vez que estes indivíduos que passam muito tempo em depressão e têm repercussões importantes com a constante instabilidade de humor. Episódio depressivo maior - 5 ou mais dos seguintes sintomas (pelo menos 1 dos dois primeiros presentes) durante o mesmo período de 2 semanas, quase todos os dias: Humor deprimido na maior parte do dia. Diminuição de interesse ou prazer na maior parte das atividades. Diminuição ou aumento importante de apetite ou peso (não causado por dieta). Diminuição ou aumento do sono. Agitação ou retardo psicomotor. Perda de energia ou fadiga. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva. Dificuldade de concentração ou indecisão. Pensamentos de morte. Ideação suicida (com ou sem planos estruturados). - Humor pode apresentar-se triste, melancólico, irritável, disfórico, com baixa tolerância às frustrações do dia a dia. Pessimismo, desesperança, angustia e ansiedade são frequentes. - O pensamento pode estar lentificado, com medos irracionais, menos-valia e ruminações de atos passados, que podem adquirir caráter obsessivo. - Memória e atenção podem estar prejudicadas. - Sintomas físicos de ansiedade e diminuição da libido também são queixas frequentes. - Sintomas psicóticos (delírios ou alucinações) congruentes ou não com o humor podem estar presentes. Obs – até o momento não foram identificados sintomas específicos que diferenciem as depressões bipolares das unipolares. No entanto, observa-se com maior frequência retardo psicomotor, sintomas atípicos e psicóticos em pacientes com TB, assim como a idade de início mais precoce e episódios mais frequentes, com início abrupto e história familiar positiva para TB. Estado misto - Trata-se de um estado complexo, heterogêneo, de difícil diagnóstico mas frequente no curso do TB. - Presença simultânea de sintomas maníacos e depressivos SIMULTANEAMENTE. Ciclagem rápida - Caracteriza-se pela ocorrência de 4 ou mais episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos em um período de 12 meses, com intervalo de 2 meses entre eles (remissão parcial) ou com mudança de polo. - Mais frequente em mulheres, em uso de antidepressivos e uso abusivo de álcool e outras substâncias. - Nessa manifestação clínica há maior dificuldade de estabilização de humor e maior risco de piora do quadro com medicações antidepressivas. DIAGNÓSTICO - Transtorno Bipolar tipo I: foram atendidos os critérios para pelo menos 1 EPISÓDIO MANÍACO e a ocorrência dos episódios maníacos e depressivos maiores não é bem explicada por outros transtornos. - Transtorno Bipolar tipo II: foram atendidos os critérios para pelo menos 1 EPISÓDIO HIPOMANÍACO. Jamais houve um episódio maníaco. A ocorrência dos episódios hipomaníacos e depressivos maiores não é bem explicada por outros transtornos. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 1. Esquizofrenia: remissão dos sintomas psicóticos em até 2 semanas com a normalização do humor e antecedentes de episódios depressivos sem sintomas psicóticos é sugestivo de TB. 2. Depressão ansiosa: recorrência e melhora mais rápida com antidepressivos (poucos dias) é sugestivo de TB. 3. Transtorno de personalidade borderline: presença de mania/hipomania, curso episódico e períodos de remissão é sugestivo de TB. 4. Doenças neurológicas: ex. AVE, trauma, epilepsia, demências. 5. Doenças sistêmicas: ex. alterações do cortisol, hipertireoidismo, LES, infecções generalizadas, uremia. 6. Medicamentos: ex. corticoesteroides, levotiroxina, agonistas dopaminérgicos. 7. Abuso ou abstinência: ex. álcool, cocaína, metanfetamina, opioides. EXAMES COMPLEMENTARES ➢ Exames de imagem (TC, RNM), EEG, LCR são usados para descartar patologias de outra natureza principalmente em casos de apresentação ou idade de início incomum. ➢ Exames para descartar patologias de outra natureza e para monitoramento de segurança no uso dos medicamentos: T4L, TSH. Hg completo. Glicemia de jejum. TGO, TGP, gama-GT. Sódio, potássio, creatinina, ureia, cálcio. Colesterol total, HDL, TG. Em alguns casos, prolactina, FTABs, anti- HIV, etc. TRATAMENTO - Objetiva alcançar a eutimia, prevenir o aparecimento de novos episódios além de obter a recuperação do funcionamento social e ocupacional. - Como normalmente é um tratamento para toda a vida, deve-se atentar aos seus efeitos colaterais de longo prazo. - Estabilizadores de humor – TTO do episódio agudo ou mesmo no TTO profilático. Lítio – tem eficácia em torno de 70% no tratamento da mania e é o melhor estabilizador de humor a longo prazo. Deve ser feita a litemia para avaliar se a dosagem sérica do lítio atingiu o alvo terapêutico e monitorar toxicidade. Cerca de 20% dos pacientes desenvolvem hipotireoidismo subclínico em médio a longo prazo (↑TSH), que deve ser corrigido. Nefropatia induzida por lítio ocorre raramente, mas pode necessitar da suspensão do tratamento. Valproato – tem comprovada eficácia antimaniaca e é a melhor opção, em alternativa ao lítio, no tratamento de mania aguda; eficácia depressiva, no entanto, é menor quando comparada ao lítio. Enzimas hepáticas e Hg devem ser colhidos periodicamente em função do risco de desenvolvimento de hepatotoxicidade aguda. Carbamazepina – tem eficácia antimaníaca, sobretudo em manias mistas e ciclagem rápida, sendo considerada 2ª opção de TTO. Enzimas hepáticas e Hg devem ser colhidos periodicamente. Lamotrigina (?) – papel adjuvante no TTO de depressão bipolar e profilaxia de episódios depressivosem estudo; não há evidência da eficácia no TTO e prevenção de episódios maníacos. Dose deve ser aumentada lentamente e evitar associação com valproato dado o aumento do risco de rash e sd de Stevens-Johnson. - Antipsicóticos – têm papel importante no manejo do TB, principalmente os de 2ªG e atípicos, que podem apresentar efeitos mais rápidos que os estabilizadores de humor na mania aguda. Quetiapina – eficácia antimaníaca e antidepressiva. Risperidona, ziprazidona, aripiprazol, paliperidona, asenapina – eficácia antimaníaca. Clozapina – casos refratários, pelo risco de agranulocitose. - Antidepressivos – deve ser evitado no tratamento do TB, pois pode induzir episódios maníacos/hipomaníacos e acelerar a ciclagem, piorando a evolução da doença. Seu uso é reservado em associação com o lítio, valproato ou olanzapina ou para casos em que as estratégias de 1ª linha não tiveram eficácia no tratamento dos episódios depressivos. ISRS. Bupropiona – têm menor potencial de provocar episódio de mania. - Benzodiazepínicos – devem ser considerados quando se precisa de efeitos sedativos a curto prazo ate que a medicação de escolha faça efeito. - Intervenções psicossociais – psicoeducação, psicoterapia (cognitivo-comportamental e interpessoal). Transtornos depressivos - A depressão, quando patológica, se caracteriza por humor depressivo, desinteresse, perda do prazer e falta de energia. EPIDEMIOLOGIA - Há prevalência em mulheres, em idade fértil, com início na idade de adulto jovem. - Fatores de risco: uso de álcool, drogas, inibidores de apetite, privação de sono e eventos adversos precoces (ex. perda parental, falta de carinho dos pais, baixo suporte social, abuso físico ou sexual na infância). QUADRO CLÍNICO → Redução de energia e da capacidade de sentir prazer (anedonia). → Humor depressivo, irritabilidade ou desinteresse com apatia. → Retardo psicomotor (lentidão de raciocínio, queda da concentração, cansaço). → Pensamentos enviesados para o polo negativo (baixa autoestima, culpa, pessimismo, tédio, desesperança, morte). → Distorção da realidade para o negativo; aumentar ou criar problemas. → Insônia, sono não reparador. → Alteração no apetite e no peso. → Ideação suicida sem plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. CLASSIFICAÇÃO 1. Transtorno depressivo maior (TDM). a. Episódio único. b. Episódio recorrente. c. Em remissão parcial ou total. d. Intensidade leve – não incapacita, mas acarreta sofrimento significativo. e. Intensidade moderada – afeta principalmente o desempenho profissional ou doméstico. f. Intensidade grave – incapacita social e/ou profissionalmente. 2. Transtorno depressivo persistente (distimia) – sintomas depressivos crônicos (≥2 anos). 3. Transtorno disfórico pré-menstrual, induzido por medicamentos/substâncias ou induzido por outra condição médica. 4. Transtorno disruptivo de desregulação de humor (crianças). DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 1. Transtorno bipolar (TB): clinicamente indistinguível, mas de pior prognóstico. Cursa com depressões recorrentes, mais graves, crônicas, de difícil tratamento e maior risco de suicídio. Mesmo na ausência de história familiar positiva, em deprimidos recorrentes e presença de sintomas maníacos inter/intraepisódicos sugere-se que a depressão seja bipolar – ATT ao uso de antidepressivos (pode agravar o quadro clínico!). 2. Anemia, deficiência de ácido fólico e B12. 3. Hipo ou hipertireoidismo. 4. Hepatopatias. 5. Diabetes. TRATAMENTO - Antidepressivos – a manutenção da dose deve ser feita por pelo menos 1 ano para evitar recaídas. ISRS – considerado TTO de 1ª linha. De amplo espectro – Vanlafaxina, duloxetina (IRSN), Mirtazapina (DISN). ADT, IMAO – vem sendo menos utilizados em razão da maior taxa de eventos adversos e toxicidade em superdosagem. - Psicoterapia – cognitiva comportamental e interpessoal.
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