Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DAS ENGENHARIAS ENGENHARIA DE PRODUÇÃO CAMILA GUIMARÃES LOPES ANÁLISE DE CUSTOS DA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS AGROECOLÓGICOS NA AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO NO MATO GROSSO DO SUL DOURADOS (MS) 2020 CAMILA GUIMARÃES LOPES ANÁLISE DE CUSTOS DA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS AGROECOLÓGICOS NA AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO NO MATO GROSSO DO SUL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Engenharia de Produção da Universidade Federal da Grande Dourados. Orientadora: Prof. Msc. Renata Tilemann Facó DOURADOS (MS) 2020 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus por ter sido tão generoso comigo, pois colocou as melhores pessoas em minha vida, foi minha força durante as dificuldades e incertezas. À minha mãe pelo apoio e por ter me incentivado a conhecer a APOMS e os trabalhos que são realizados no Centro de Formação, tudo isso antes mesmo de imaginar realizar o estudo de caso. Ao meu pai que sempre foi tão paciente e me ensinou a esperar o momento de todas as coisas. Ao Sr. Olácio Komori, meus agradecimentos pela disposição, por toda paciência e motivação nesse período, pois foram incontáveis aprendizados que obtive durante a caminhada e que com certeza levarei por toda a vida. Aos colaboradores da APOMS, que satisfizeram todas as minhas dúvidas com presteza, além de que sempre estiveram dispostos a me ajudar e me inserir como parte da associação. Muito obrigada pela confiança. À minha orientadora Msc. Renata Tilemann, agradeço por ter sido tão incrível, por ter me guiado e ter dedicado seu tempo a me orientar. Com muito esforço e boa vontade me incentivou a confiar e continuar, apesar das turbulências da pandemia. Expresso minha gratidão aos amigos e familiares, que foram essenciais na minha trajetória, estiveram presentes me apoiando nos momentos mais importantes e de alguma forma me fizeram sorrir. Aos demais professores por todos os ensinamentos, saibam que sou muito grata por tudo que fizeram! “(...) O crédito pertence ao homem que encontra-se na arena, cuja face está manchada de poeira, suor e sangue; aquele que esforça-se bravamente; que erra, que se depara com um revés após o outro, pois não há esforço sem erros e falhas; aquele que esforça-se para lograr suas ações, que conhece grande entusiasmo, grandes devoções, que se entrega à uma causa nobre; que, no melhor dos casos, conhece no fim o triunfo da realização grandiosa, e quem, que no pior dos casos, se falhar, ao menos falha ousando grandemente, para que seu lugar jamais seja com aquelas frias e tímidas almas que não conhecem vitória ou fracasso.” Theodore Roosevelt, 1910. RESUMO A agricultura familiar representa a sustentabilidade ambiental, social e econômica, além da sua importância para o sustento de diversas famílias rurais. As centrais responsáveis pelo escoamento da produção rural necessitam de um controle financeiro, para que se mantenham atuantes fortalecendo a agricultura familiar frente ao agronegócio e o mercado atual. O estudo de caso em uma cooperativa de produtores agroecológicos, tem por objetivo realizar uma análise dos custos envolvidos na comercialização, por meio da pesquisa bibliográfica acerca do tema, levantamento do patrimônio, análise de dados dos custos incorridos no período. Os resultados apresentados a partir do cálculo de índices financeiros, são precedidos por propostas de melhorias necessárias para auxiliar na tomada de decisões mais assertivas. Palavras-chave: Agricultura Familiar; Cooperativismo; Produção Rural. ABSTRACT Family farming represents environmental, social and economic sustainability, in addition to its importance for the support of several rural families. The centrals responsible for the flow of rural production need financial control, so that they remain active, strengthening family farming in the face of agribusiness and the current market. The case study in a cooperative of agroecological producers, aims to carry out an analysis of the costs involved in commercialization, through bibliographic research on the subject, survey of assets, analysis of data on costs incurred in the period. The results presented from the calculation of financial indices, are preceded by proposals for necessary improvements to assist in making more assertive decisions. Keywords: Family Farming; Cooperativism; Rural Production. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Regiões de planejamento do Estado de Mato Grosso do Sul 28 Figura 2 - Processo de comercialização da COOPERAPOMS 31 Figura 3 - Percentual de custos e despesas fixas do período 32 Figura 4 - Pagamentos mensais do PAA e PNAE 33 Figura 5 - Custos e despesas fixas versus entradas mensais 34 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Patrimônio adquirido em projetos 29 Tabela 2 - Custos e despesas fixas referentes ao período 32 Tabela 3- Pagamentos do período 33 Tabela 4 - Custo dos Produtos Vendidos 35 Tabela 5 - Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) 35 Tabela 6 - Relação do ativo imobilizado e determinações da Receita Federal 36 Tabela 7 - Depreciação anual dos bens e valor atual no final do exercício de 2019 36 Tabela 8 - Balanço Patrimonial (BP) no final do período 38 Tabela 9 - Custos fixos do período 39 Tabela 10 - Custos variáveis do período 39 Tabela 11 - Tarifas bancárias 40 LISTA DE SIGLAS AAO Associação de Agricultura Orgânica ATER Assistência Técnica e Extensão Rural APOMS Associação dos Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul CNPO Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos COOPERAPOMS Cooperativa da APOMS INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário OCS Organização de Controle Social PAA Programa de Aquisiçãode Alimentos PIB Produto Interno Bruto PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 10 1.1 OBJETIVOS 12 1.1.1 Objetivo Geral 12 1.1.2 Objetivos Específicos 12 1.2 JUSTIFICATIVA 13 REFERENCIAL TEÓRICO 14 2.1 Agricultura Familiar e produção orgânica 14 2.2 Contabilidade 16 2.2.1 Contabilidade Comercial 17 2.3 Contabilidade de Custos 18 2.3.1 Terminologia de Custos 18 2.3.2 Classificação dos custos 20 2.4 Depreciação 21 2.5 Índices Financeiros 22 2.6 Tomada de decisão 25 3. MÉTODO 26 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 27 4.1 Diagnóstico e análise dos custos de comercialização 31 4.1.1 Margem de contribuição 33 4.1.2 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) 34 4.2 Cálculo da depreciação 35 4.3 Cálculo da rentabilidade atual da cooperativa 36 4.4 Índices financeiros 38 4.5 Análise dos resultados 39 5. OPORTUNIDADES DE MELHORIA 41 6. CONCLUSÃO 42 REFERÊNCIAS 43 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.30j0zll https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.30j0zll https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.30j0zll https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1fob9te https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1fob9te https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3znysh7 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3znysh7 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2et92p0 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2et92p0 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.tyjcwt https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.tyjcwt https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3dy6vkm https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3dy6vkm https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1t3h5sf https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1t3h5sf https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.4d34og8 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.4d34og8 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2s8eyo1 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2s8eyo1 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3rdcrjn https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3rdcrjn https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.26in1rg https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.26in1rg https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.lnxbz9 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.lnxbz9 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1ksv4uv https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1ksv4uv https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.44sinio https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.44sinio https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2jxsxqh https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2jxsxqh https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.z337ya https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.z337ya https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3j2qqm3 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3j2qqm3 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3j2qqm3 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1y810tw https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1y810tw https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.4i7ojhp https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.4i7ojhp https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2xcytpi https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2xcytpi https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3whwml4 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3whwml4 https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2bn6wsx https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.2bn6wsx https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.qsh70q https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.qsh70q https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3as4poj https://docs.google.com/document/d/1Riej5YFmR3l6iXsdGsmpzLX9-ShvT3qoy8AYqoajFJs/edit#heading=h.3as4poj 1. INTRODUÇÃO A crescente competitividade no mercado atual, exige um elevado grau de inovação, expertise, análise e solução de problemas por parte dos gestores, para que o negócio se mantenha lucrativo e sustentável. A Teoria Clássica de Administração, desenvolvida por Jules Henri Fayol (1916), sugere os quatro pilares principais da administração de empresas: planejar, organizar, dirigir e controlar, para que seja possível garantir o alcance de melhores níveis de excelência e eficácia. Além da inovação e qualidade dos bens e serviços, o sucesso do negócio depende intrinsecamente de como são investidos os recursos financeiros e o nível de assertividade na análise de seus resultados por período, para que seja possível mensurar a rentabilidade, desempenho das atividades, produtividade, saúde financeira, etc. Consequentemente, a gestão de custos passa de uma mera contabilidade para uma “importantearma de controle e decisão gerencial. ” (MARTINS, 2003). Segundo Martins (2003), devido à alta competição existente, as empresas já não podem mais definir seus preços apenas de acordo com os custos incorridos no período, mas, também, com base nos preços praticados no mercado em que atuam. Sendo assim, é indispensável avaliar a rentabilidade que o mesmo gera, com relação ao custo de produção/transporte/comercialização, ao preço final, ou ao capital investido por terceiros. As informações geradas a partir da mensuração dos índices de retorno e resultados obtidos, proporcionam uma visualização mais global, tornando possíveis alterações cada vez mais assertivas nas estratégias de comercialização, visando o crescimento econômico-financeiro. De acordo com Oliveira (2017), o conhecimento das informações geradas a partir de um estudo de custos e despesas de uma empresa, propicia uma visão ampla da estrutura, suscitando em uma boa gestão dos negócios. Portanto, torna-se extremamente necessário uma análise de custos para todo e qualquer empreendimento que vise um crescimento sustentável a longo prazo. O trade off, valor x custo, e a logística de distribuição dos produtos ainda apresentam uma grande dificuldade para a agricultura familiar, principalmente nas propriedades situadas no interior do país. Uma pesquisa realizada em 2018 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), com 1.200 produtores do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), aponta que a comercialização e a assistência técnica são os 10 grandes desafios do setor. Existem associações que auxiliam na viabilização da comercialização dos produtos, porém, o alcance da análise de dados do negócio ainda é limitado devido aos requisitos técnicos para seu entendimento. “(...) A formação é em geral focada para o grande agronegócio convencional e não para a produção orgânica e ecológica, então temos uma carência de técnicos e uma falta de conhecimento apropriado sobre isso”, analisou um dos produtores entrevistados. A agricultura familiar, estabelecida pela Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, que criou a Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, consiste no cultivo da terra realizado por pequenos proprietários rurais, tendo como mão de obra o núcleo familiar. Em módulo fiscal, a propriedade rural para ser considerada como agricultura familiar deve ser uma unidade de terra cujo tamanho (definido pelo poder municipal) varia entre 20 e 400 hectares, determinada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). A importância da mesma para o Brasil é devido a grande e diversificada produção de alimentos que essa classe realiza, pois, de acordo com os dados divulgados pelo extinto Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA, 2019), a produção da agricultura familiar responde por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário brasileiro e por 74% da mão-de-obra empregada no campo. Grande parte dos produtores familiares utilizam práticas da agricultura orgânica, que consiste em um processo de produção agropecuária sem o uso de agrotóxicos, fertilizantes solúveis, organismos geneticamente modificados ou radiações ionizantes. O mesmo utiliza técnicas específicas por meio da otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a proteção do meio ambiente, emprego de métodos culturais, biológicos e mecânicos. (SEBRAE, 2018). De acordo com o SEBRAE (2019), o Brasil está se consolidando como um grande produtor e exportador de alimentos orgânicos, contando com mais de 15 mil propriedades certificadas e em processo de conversão para orgânico, sendo 75% pertencentes a agricultores familiares. O governo brasileiro tem liderado ações que oferecem linhas de financiamento especiais para o setor, incentivando projetos de transição de lavouras tradicionais para a produção orgânica. A agricultura familiar exerce um papel de grande importância para a sociedade no fornecimento de alimentos orgânicos, saudáveis, mais saborosos e de maior durabilidade; desta forma este estilo de produção ajuda a preservar a qualidade da água usada na irrigação, 11 sem poluir o solo (assegurando sua estrutura e fertilidade, evitando degradação e erosões), nem o lençol freático com substâncias químicas tóxicas. Portanto, contribui diretamente na promoção e restauração da rica biodiversidade local, sendo fonte de sustentabilidade. Segundo a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) , existem práticas que são 1 utilizadas na agricultura orgânica que aumentam a capacidade dos ecossistemas locais em prestar serviços ambientais a toda a comunidade do entorno, contribuindo para reduzir o aquecimento global. Técnicas como a adubação orgânica, o uso de compostagem, técnicas racionais de irrigação, entre outras, são verdadeiras fontes de inovação. 1.1 OBJETIVOS Em seguida são apresentados os objetivos, os mesmos se dividem em: objetivo geral e os objetivos específicos. 1.1.1 Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho é analisar os custos do processo de comercialização de produtos orgânicos, realizado por um grupo de agricultores familiares em Dourados - MS. 1.1.2 Objetivos Específicos ➢ Realizar o diagnóstico e a análise de custos do atual sistema de gestão da cooperativa, com foco no processo comercial; ➢ Calcular a depreciação do capital investido em bens e patrimônios e confrontar com a oportunidade de ganho; ➢ Calcular a rentabilidade atual da cooperativa; ➢ Apresentar os índices financeiros como critérios para tomada de decisão; ➢ Analisar os índices financeiros selecionados; ➢ Propor um plano de contas adequado para a cooperativa; ➢ Apresentar possíveis oportunidades de melhoria. 1 Associação de Agricultura Orgânica (AAO) fundada em 1989 no Estado de São Paulo, foi a primeira ONG brasileira a criar normas de produção orgânica centradas na realidade local, contemplando os critérios básicos para os agricultores se credenciarem na Feira do Produtor Orgânico. 12 1.2 JUSTIFICATIVA De acordo com estudos feitos pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, em 1989 (HILEMAN, 1990), supracitado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), 2000, há evidências de que “as explorações agrícolas com sistemas alternativos apresentam resultados financeiros favoráveis em quase todos os principais produtos, normalmente a preços competitivos” e, em geral, não há participação de programas federais de subsídios e preços mínimos. Além disso, a agricultura orgânica apresenta-se como um mercado inovador devido a baixa dependência de insumos externos a partir do aumento do valor agregado ao produto e renda para o agricultor. Sendo assim, é uma fonte que cria oportunidades para pequenos e médios produtores, comunidades de agricultores familiares, auxiliando no desenvolvimento das áreas rurais. Sabe-se que, perante o cenário atual, tradicionalmente, existem associações organizadas pelos produtores que visam estabelecer relaçõescomerciais mais diretas com os consumidores, em pontos de venda como: feiras livres, lojas de produtos naturais, ou disponibilizando diretamente à universidades, escolas, órgãos e instituições através das compras institucionais. Assis (1993) demonstrou que a união e a convergência de necessidades entre agricultores e consumidores, através de mercados específicos de produtos orgânicos, tem facilitado a difusão da agricultura orgânica. Diante das informações relacionadas à importância para a sustentabilidade, inovação, economia e os benefícios para a saúde da população, por suas particularidades, a agricultura familiar orgânica ocupa espaço de destaque, sendo responsável pela geração de renda e o sustento de muitas famílias, por isso existe uma grande importância em ressaltar a necessidade de uma boa gestão de financeira das partes responsáveis por sua comercialização, para que permaneça em crescimento e valorização, sendo necessário realizar uma análise de custos. Este trabalho demonstra-se relevante no sentido que busca analisar os custos envolvidos nos processos de comercialização de produtos orgânicos na agricultura familiar. Trazendo assim, possibilidades de melhorias e mensuração da rentabilidade, para possível expansão, mas, necessariamente manter em equilíbrio o seu funcionamento de forma economicamente sustentável. 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Agricultura Familiar e produção orgânica O termo Agricultura Familiar foi destacado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (2014) como sendo aquela que engloba todas as atividades agrícolas de base familiar ligadas às diversas áreas do desenvolvimento rural. Esta categoria de agricultores de forma diferenciada organiza diversas formas de produção: agrícola, pesqueira, aquícola, pastoril e florestal; gerenciada por uma família, e dependente da mão de obra de pais e filhos, homens e mulheres. De acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, citados por Bittencourt (2018), mais de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros são provenientes da agricultura familiar. Esta categoria impulsiona fortemente economias locais, contribuindo com o desenvolvimento mais sustentável em áreas rurais, fortalecendo vínculos entre a família, a economia, o ambiente e a sociedade, criando elos duradouros e sustentáveis. No que se refere à produção orgânica, a EMBRAPA (2019) conceitua como um “sistema de manejo sustentável da unidade de produção com enfoque sistêmico que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade de vida do homem.” Neste, é possível destacar o melhor aproveitamento dos recursos naturais renováveis e a conservação dos não renováveis; redução da dependência de energias não renováveis, não utilização de fertilizantes químicos com alta solubilidade, agrotóxicos, antibióticos, hormônios, aditivos artificiais, organismos geneticamente modificados etc. Tema de discussão internacional, Silva et al., (2017) defendem que a necessidade de mudança dos sistemas agroalimentares convencionais para os sustentáveis (ecológicos) é cada vez mais urgente. É necessário intensificar os mecanismos produtivos para que, ecologicamente e com insumos naturais, aumente e aconteça em grande escala uma produção diversificada em produtos agroecológicos, visto que os recursos naturais são finitos ou limitados. De fato, segundo Meirelles (2011), há uma necessidade de tal transição, pois, o chamado sistema agroalimentar está sendo dominado por grandes empresas. Dowbor (2016) demonstra a preocupação com as grandes corporações, e ressalta que “trata-se de pessoas ou empresas que ganham não produzindo bens que nos são úteis em si, mas que ganham 14 negociando os direitos de acesso aos bens”. São exemplos o uso de sementes geneticamente modificadas e agroquímicas em sistemas monocultivos, onde a produção ocorre em grande escala, onde também fazem uso de conservantes e aditivos. A distribuição globalizada, na maioria dos casos, concentra-se em poucas empresas transnacionais, com preços oligopolizados, que são as chamadas “intermediárias”. Tal intermediação financeira, de acordo com Dowbor (2016), representa um motivo de preocupação internacional, pois as grandes corporações acabam apropriando-se de maior parcela financeira referente à produção, não permitindo ao pequeno produtor rural a competitividade neste cenário do mercado. “Os intermediários tanto podem ser úteis quando facilitam as operações, como perniciosos quando se tornam atravessadores” (Dowbor, 2016). A produção orgânica é a soma de esforços na comercialização, pois para competir no cenário comercial, tem se limitado a construir circuitos curtos de comercialização em nível regional, necessitando de maior apoio e incentivo para se desenvolver. De acordo com o CI Orgânico (2018), são três as formas de comércio de orgânicos mais utilizados: venda direta, venda indireta ou mista. Na comercialização direta, as transações ocorrem entre o produtor de orgânico e o consumidor final por meio de feiras, entregas em domicílio ou venda na própria propriedade. Na indireta, pode ocorrer via supermercados, atacado, lojas ou distribuidoras independentes, sendo necessária a certificação, onde o produtor de orgânicos esteja vinculado a uma Organização de Controle Social (OCS) para ter o direito de uso do selo orgânico. 2 Os produtores possuem responsabilidade compartilhada pelo cumprimento da Lei Federal No 10.831, de 23 dezembro de 2003, que trata sobre a agricultura orgânica e outras providências, bem como pela manutenção da boa imagem da produção e dos produtos orgânicos (BRASIL, 2003) No artigo 192º da Constituição Brasileira é prescrito que “o sistema financeiro nacional [será] estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade” (BRASIL, 1988). A coletividade, cooperativismo e colaborativismo, representam fonte de grande poder de realização que provém dos esforços coletivos (Sampaio, 2011). A agricultura familiar reforça o colaborativismo, que, segundo Akamine (2016), “trata-se de um modelo sustentável, com forte apelo no equilíbrio das relações, que visa ao benefício do grupo, gerando e garantindo oportunidades para todos os participantes, hoje e sempre”. 2Associação, cooperativa ou consórcio, com ou sem personalidade jurídica, cadastradas na superintendência do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), ou em outro órgão fiscalizador conveniado do governo federal, estadual ou do Distrito Federal. 15 http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.831-2003?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.831-2003?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.831-2003?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.831-2003?OpenDocument Dado que as principais demandas da agricultura familiar, segundo Komori (2019), são:1) ATER - Assistência Técnica para inovação tecnológica; 2) Comercialização - construção de canais de comercialização mais solidários que aproximem produtores de consumidores e 3) Acesso às linhas de Crédito para estruturação produtiva com juros subsidiados. Apesar das diversas políticas públicas em curso, são necessárias ações mais efetivas em apoio à agricultura familiar. Apesar dos desafios, o PRONAF tem se firmado com suas ações e linhas de crédito pelo Brasil e representa fontes de incentivo financeiro ao produtor rural, visando seu desenvolvimento e colaborando para uma alimentação mais saudável, ecológica e sustentável. No Mato Grosso do Sul, segundo Rotondaro (2020), o programa de microcrédito produtivo desenvolvido pela Alimi Impact Ventures e a APOMS (Associação de Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul) com recursos financeiros viabilizados com a Rabo Foundation (Holanda) e operacionalizado pela CRESOL MS, uma cooperativa de crédito; experimenta uma metodologia que conjuga acesso a crédito com cursos de formação que abrange desde Gestão na Agricultura Familiar, até métodos de produção em agroecologia e insumos alternativos. Tem representado um grande estímulo ao produtor da Agricultura Familiar, visando seu desenvolvimento a partir de oportunidades criadas. 2.2 Contabilidade Santos e Veiga (2014) afirmam que, desde a Antiguidade, a contabilidade exerce um papel essencial para o controle e registro de patrimônio. Por sua abrangência qualitativa e quantitativa, é considerada uma Ciência Social Aplicada e permite o alcance de objetivos especificados e parametrizados a partir de sua análise. Para Santos (2017), a contabilidade é um ramo do conhecimento necessário pois é um instrumento eficiente de controle, planejamento e gestão de um negócio, com ou sem finalidades lucrativas. Mostra-se essencial para a análise de dados históricos, atuais e futuros, na tomada de decisão estratégica e mais assertiva. Padoveze (2012), ressalta o objetivo da contabilidade, que, segundo ele, é coletar, armazenar e processar os dados, a fim de mensurar o patrimônio da empresa, seja ela com ou sem fins lucrativos. Com um Sistema de Contabilidade implantado e atualizado periodicamente com informações da empresa, é possível ter a resposta para os mais diversos questionamentos, a partir de suas ferramentas e métodos, sendo indispensável para a continuidade e o sucesso de um negócio. 16 A contabilidade é importante para a administração na atividade rural, pois somente assim é possível obter o real resultado de cada produto. Conforme Crepaldi (2011), a contabilidade rural “fornece informações sobre condições de expandir-se, sobre necessidades de reduzir custos ou despesas, necessidades de buscar recursos etc.” 2.2.1 Contabilidade Comercial A atividade comercial, existente há muitos anos, de acordo com Iudícibus e Marion (1995), “é inerente à natureza e às necessidades humanas”, pois para satisfazer tais necessidades, faz-se necessário a troca em transações monetárias ou em outro bem, caso não existisse a moeda). Sendo assim, é uma das mais importantes atividades pois coloca à disposição uma grande variedade de bens e serviços, além de aproximar produtor e consumidor. Para Franco (1997), o conceito de Contabilidade Comercial é definido pelo ramo da Contabilidade aplicado ao controle e estudo do patrimônio das empresas comerciais, para dispor informações perante sua composição e variações, assim como o resultado decorrente da atividade mercantil num período de tempo. Para que seja possível acompanhar a variação quantitativa e qualitativa do patrimônio de tal entidade, é preciso entender o quadro econômico e jurídico ao qual operam, bem como características essenciais de sua gestão. Pelo Código Civil de 2002, previsto entre os artigos 1052 à 1087, as sociedades dividem-se em Empresária e Simples, sendo que a Sociedade Empresária é a sociedade que tem por objetivo o exercício de atividade própria de empresário; Sociedade Simples é aquela que explora atividade de prestação de serviços resultantes atividade intelectual e de cooperativa. Nesta, os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações. É também conhecida como Sociedade Irregular. Sendo assim, para cada uma delas é delimitado o caráter, objetivos e alcance das atividades. (BRASIL, 2002). Dutra (2017) define que os custos de comercialização são os imprescindíveis a movimentação, controle e distribuição dos produtos, no que se refere a sua compra e pagamento aos fornecedores, até a distribuição e recebimento dos clientes. Por exemplo: embalagem de expedição, fretes, aluguéis de depósitos, comissões, lojas, propaganda etc. O custo total (CT) em nível gerencial, corresponde a soma dos custos administrativos (CA) com os custos de comercialização (CC) e com os custos de produção (CP), vide a seguinte equação: CT = CA + CC + CP 17 2.3 Contabilidade de Custos Hendriksen e Breda (1999) citados por Dutra (2017), afirmam que: “À medida que aumentava a necessidade de informação gerencial sobre os custos de produção e os custos a serem atribuídos à avaliação dos estoques, o mesmo acontecia com a necessidade de sistemas de custos.” Sendo assim, a fim de racionalizar a produção, surge o controle dos custos, permitindo a mensuração de quanto custa produzir cada um dos bens/serviços de uma empresa. Na comparativa ao preço de venda, os custos indicam a margem de lucro, tornando fácil a tomada de decisão, trazendo vantagens competitivas. Sabe-se que é necessário além do controle, a análise de custos para qualquer atividade que manipule valores e volumes, para avaliar seu desempenho. Cada empresa possui uma estrutura de custos diferente, sendo que atualmente, o custo da mercadoria comercializada envolve muito mais fatores além do valor de venda, de acordo com Franco (1997). Bruni e Fama (2007), acrescentam que as informações sobre custos devem atender a três razões básicas: Determinar o lucro; Controle das Operações (detalhado e na comparativa entre previsto e realizado); e Tomada de decisão. Em grande parte das empresas, os preços de vendas são calculados antecipadamente, com a parcela de lucro, que é obtida a partir do ponto de equilíbrio, que, para Horngren et al. (2004) é o “nível de vendas no qual a receita se iguala às despesas e o lucro é igual a zero”. 2.3.1 Terminologia de Custos Faz-se necessário a compreensão de conceitos e termos utilizados na análise de custos, para que se possa facilitar o entendimento no momento da análise, sendo eles: preço, gastos, receitas, desembolso, investimento, custo, despesas e perdas. Para Dutra (2013), preço corresponde ao valor estabelecido pelo vendedor, na transferência da propriedade de um bem ao consumidor. O preço pode incluir ou não, além do custo, o lucro ou prejuízo. Pode também ser simplesmente igual ao custo; igual ao custo mais o lucro; ou ao custo menos o prejuízo, sendo então consequente o valor final retornado ao vendedor. O preço nada mais é do que a proposição do vendedore a aceitação do comprador, o que permite competir no mercado. Martins (2003) conceitua gastos como um termo extremamente amplo, aplicável a todos os bens e serviços adquiridos, como: gastos com a compra de matérias-primas; mão de obra; gastos com honorários da diretoria; compra de um imobilizado, etc. Dutra (2013) 18 afirma que é o valor pago ou assumido para obtenção de um bem, sendo incluso ou não a elaboração e a comercialização, no que se refere às quantidades adquiridas. O mesmo se efetiva no reconhecimento da obrigação, que ocasionará um desembolso futuro. As receitas podem ser divididas em bruta e líquida, de acordo com Camargo (2018): - Receita bruta: corresponde ao valor que se obtém com a venda de um produto ou mercadoria, ou com a prestação de serviço.Trata-se do faturamento do negócio. Para Dutra (2013) “é seu preço de venda multiplicado pela quantidade vendida”. - Receita líquida: valor que se obtém com a venda de um produto ou mercadoria, ou com a prestação de serviço, após deduções de impostos sobre a venda do produto/serviço (ICMS, ISS), com descontos concedidos e devoluções de venda. O desembolso é o pagamento de parte ou total adquirido e, em termos, significa pagar ou quitar algo. O ato do desembolso ocorre após a aquisição da propriedade de um bem ou serviço, antes ou após sua posse, inteiramente ou em parcelas. (Martins, 2013). Para Dutra (2013), investimento é um gasto cuja finalidade é a geração de benefícios futuros, sendo ativado em função de vida útil. Na visão estritamente contábil, é um bem com caráter permanente, que não objetiva destinação à venda e nem objetivos sociais. De acordo com o Comitê de Pronunciamento Técnico (2009), corresponde à propriedade para investimento, sendo mantida a fim de arrecadar aluguel ou para valorização do capital (ou ambos), não podendo ser destinada para uso na “produção ou fornecimento de bens ou serviços ou para finalidades administrativas ou para a venda no curso ordinário do negócio”. Hastings (2013), defende que um investimento pode não se apresentar imediatamente como dinheiro ou títulos, mas também como tempo gasto no planejamento de um empreendimento, sendo um exemplo considerado como um investimento, medido pelos salários das pessoas envolvidas em tal atividade. Além disso, ressalta que é a alocação de valores em um período de tempo, visando a agregação de valores monetários futuros. O custo é também um gasto, mas que somente é reconhecido como tal, isto é, como custo, no momento da utilização dos fatores de produção de bens ou serviços, para a fabricação de um produto ou execução de um serviço. (Martins, 2013). Para Dutra (2013) “é a parcela do gasto que é aplicada na produção ou em qualquer outra função do custo, gasto esse desembolsado ou não”. 19 https://www.treasy.com.br/blog/ebook-icms-st-e-cest https://www.treasy.com.br/blog/iss-imposto-sobre-servicos “As despesas são itens que reduzem o Patrimônio Líquido e que tem essa característica por representar sacrifícios no processo de obtenção de receitas”. (Martins, 2013). Ou seja, São bens consumidos direta ou indiretamente na produção, e são gastos incorridos durante a comercialização dos produtos, por exemplo a comissão de vendas. Dutra (2003) afirma que perda é um gasto que ocorre de forma involuntária, não intencional. Ou seja, é todo bem ou serviço consumido sem obtenção de produto e que não tem obtenção de receita. Exemplos comuns: perdas com incêndios, obsoletismo de estoques, matérias primas que são perdidas, acidentalmente, por inundações, etc. 2.3.2 Classificação dos custos Para que se possa utilizar e transformar os dados fornecidos pela contabilidade de Custos em informações úteis, é preciso entender e classificar os custos. Supracitado por Machado et al. (2012) “custo é a medida em moeda dos sacrifícios com que a organização tem que arcar para alcançar seus objetivos” (CAGGIANO; FIGUEIREDO, 2006). Segundo Martins (2003), podemos classificar em custos como: diretos, indiretos, fixos e variáveis, por definição. Dutra (2017) conceitua custos diretos como aqueles que podem ser diretamente apropriados ao produto, através de medidas de consumo, cuja parcela pertencente a uma função de custo possa ser separada e medida no momento de sua ocorrência. Para Leone (2000), os “custos diretos são todos os custos que se conseguem identificar com as obras, do modo mais econômico e lógico”. De acordo com Crepaldi (2010), esses custos variam de acordo com a quantidade produzida, podendo ser exemplificados através de: materiais diretos (MD) e mão de obra direta (MOD). São exemplos de custos diretos: horas de mão-de-obra, quilos de sementes, gastos com funcionamento e manutenção de equipamentos, etc. Custos indiretos, de acordo com Dutra (2017), são aqueles que participam de todas ou de várias das funções simultaneamente, ou seja, não existe a possibilidade de segregação da parcela que está onerando em cada uma das funções no momento de sua aplicação. Exemplo disso, a produção de um banco de madeira: a matéria prima representa um custo direto e a energia elétrica, necessária para sua produção, representa um custo indireto, pois também é utilizada em outros serviços e não é possível mensurar especificamente para o mesmo. 20 Martins (2003) afirma que os custos indiretos “não oferecem condição de uma medida objetiva e qualquer tentativa de alocação tem que ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária”, ou seja através de estimativas e rateios. Porém, os custos indiretos não podem ser remetidos diretamente às unidades produzidas, sendo então necessário a utilização de critérios de rateio para tal. (BORNIA, 2010). É possível, de acordo com Dutra (2017), adotar um critério de rateio que engloba grupos de custos indiretos na mesma base, para que o mesmo seja simplificado. Porém, os critérios podem ser utilizados somente após um estudo muito analítico de cada custo e consequente unanimidade dos responsáveis de cada área ou atividade. Martins (2003), afirma que, diferentemente dos custos direto e indireto, os custos variáveis consideram o tempo ao invés da unidade. Ou seja, o valor do custo com tais materiais varia de acordo com o volume de produção no período, logo, quanto maior a produção, maior o consumo, então materiais diretos são exemplos de custos variáveis. Segundo Cruz (2012), como estes custos são os gastos da produção, que variam em função da quantidade produzida, existem apenas no caso dos eventos operacionais. Os custos fixos são aqueles que existem independentemente de aumentos ou diminuições de produção naquele mês do volume elaborado de produtos, como por exemplo o aluguel. Martins (2003) explica que esse custo se refere à obrigação que a entidade tem todo mês, podendo ser reajustado, não dependendo da produção. Ressaltando a afirmação de Cruz (2012), estes valores fixos permanecem iguais, mesmo não havendo produção por um determinado período. De acordo com Megliorini (2012), estes custos se mantêm inalterados pois estão diretamente relacionadosà manutenção da estrutura produtiva da empresa, ou seja, são intrínsecos ao seu funcionamento. 2.4 Depreciação Períodos contábeis, de acordo com Iudícibus et al. (2019), são os períodos finitos em que se mensura a duração dos ativos imobilizados, visto que a maior parte deles tem a vida útil limitada. Os bens que são permanentes, garantem as atividades da empresa e são utilizados em prol de benefícios econômicos, contudo, possuem uma expectativa de utilização em médio e longo prazo. O desgaste apresentado pelo ativo imobilizado representa um custo que deve ser registrado na medida em que esses períodos forem decorrendo, sendo assim, torna-se uma 21 despesa. Alguns exemplos são os veículos, máquinas, imóveis e equipamentos. Para essa conversão do ativo imobilizado em despesa, existe um processo contábil, chamado depreciação. A depreciação, de acordo com o Iudícibus et al. (2019), é definida como a perda de valor de um bem decorrente de seu uso, obsolescência ou desgaste natural. É registrada em cada exercício como um percentual (taxa de perda anual) do valor contábil correspondente ao desgaste, descontado de acordo com a expectativa de vida útil. Favero et al. (1997) define depreciação como sendo: “reconhecimento da perda ou diminuição da capacidade de geração de caixa dos bens’’. 2.5 Índices Financeiros Marion (2017) afirma que “os índices são relações que se estabelecem entre duas grandezas” visando facilitar a análise do negócio, dado que a apreciação de relações ou percentuais se torna mais relevante do que a visualização de montantes. A principal função dos índices é fornecer informações que auxiliem a análise da performance organizacional, consequentemente a tomada de decisão. São relevantes: lucratividade, ponto de equilíbrio, margem de contribuição, liquidez e rentabilidade. O Índice de Lucratividade (IL), de acordo com Guimarães (2020), é um indicador fundamental para o negócio, visto que permite calcular a eficiência da empresa na geração de lucro. Pode ser calculado, segundo Voitto (2020), abordando todos os setores da empresa, ou individualmente, possibilitando a mensuração da lucratividade de um setor específico a partir da seguinte fórmula: LI = Receita total Lucro líquido Lucratividade segundo SEBRAE (2019) “é um indicador de eficiência operacional obtido sob a forma de valor percentual e que indica qual é o ganho que a empresa consegue gerar sobre o trabalho que desenvolve”. O Ponto de Equilíbrio (E), segundo Dutra (2017), é um parâmetro que determina o ponto em que a empresa equilibra custos com receita. Isso quer dizer que, quando encontra-se no ponto de equilíbrio, a empresa está operando em um nível de produção que satisfaz somente o necessário para gerar receita que se iguala ao custo. O cálculo é dado em porcentagem pela seguinte fórmula, sendo analisado graficamente utilizando valor versus quantidade para cada custo e receita, de acordo com a seguinte fórmula: 22 E = CF1 − CV ÷RT Onde: CT = Custo Total; CF = Custo Fixo Total; CV = Custo Variável Total; RT = Receita Total; De acordo com Dutra (2017), não há um ponto de equilíbrio ideal, porém o mesmo deve ser o mais baixo possível, visto que quanto menor ele for, maior será a segurança para que a empresa não entre na área de prejuízo. A Margem de Contribuição é conceituada por Dutra (2017) como a “diferença entre o total da receita e a soma de custos e despesas variáveis”, sendo que facilita visualmente o grau de potencialidade de cada produto, na absorção de custos fixos e geração de lucro. Além disso, mostra a contribuição de cada produto para amortizar os custos e despesas fixas (recursos necessários para sua comercialização) e, posteriormente, formar o lucro. Segundo Crepaldi e Crepaldi (2017), a margem de contribuição pode ser representada pela fórmula: MC = RV - CV Onde, MC = margem de contribuição; RV= vendas totais; CV = custo variável total. Os Índices de Liquidez medem a capacidade de pagamento de dívidas, podendo ser avaliadas, considerando: longo, curto ou prazo imediato, de acordo com Marion, (2007). São divididas em: corrente, seca, imediata e geral. Liquidez Corrente considera o valor monetário que uma empresa tem para receber no curto prazo, ao valor que precisa pagar no mesmo período, de acordo com a seguinte fórmula: Índice de Liquidez Corrente = Ativo Circulante / Passivo Circulante Liquidez Imediata mede a capacidade de pagamento instantâneo, considerando apenas o dinheiro em caixa, bancos e aplicações de liquidez imediata (1) A Liquidez Seca, assim 23 como a imediata, mede a capacidade de pagamento da empresa em curto prazo, mas sem considerar o estoque (2). A Liquidez Geral, também conhecida como Índice de Liquidez Financeira, mostra a capacidade de pagamento da empresa a longo prazo (3). Índice de Liquidez Imediata = Disponibilidades / Passivo Circulante (1) Ativo Circulante Líquido = Ativo Circulante – Estoques (2) Liquidez Geral = (Ativo Circulante + Não circulante) / (Passivo Circulante + Não Circulante) (3) O Índice de Rentabilidade, de acordo com Vallejos et al. (2018), visa avaliar os resultados obtidos por uma empresa, considerando alguns parâmetros estabelecidos, para que haja uma melhor compreensão e análise dos mesmos. Ao medir o Retorno do Capital Investido (grau de êxito), é necessário calcular alguns índices, sendo eles a margem bruta e líquida, retorno sobre o patrimônio líquido e o retorno sobre os investimentos, descritos no Quadro 1. Quadro 1 - Formulário do Índice de Rentabilidade Fonte: LEMES JR; CHEROBIM; RIGO, 2015 apud VALLEJOS et al. (2018). Segundo Padoveze (2010), “uma rentabilidade adequada obtida continuadamente é, possivelmente, o maior indicador da sobrevivência e sucesso da empresa”. A análise da rentabilidade se divide em dois aspectos: 3 LAJIR - Lucro Antes dos Juros e Imposto de Renda. 24 Índices de rentabilidade Fórmula Margem Bruta - MB Lucro Bruto / Receitas de Vendas Margem Operacional – MO LAJIR / Receita de Vendas 3 Margem Líquida - ML Lucro Líquido do Exercício / Receitas de Vendas Retorno sobre o Investimento – ROI Lucro Líquido do Exercício / Ativo Total Retorno sobre o Patrimônio Líquido – ROE Lucro Líquido do Exercício / Patrimônio Líquido - Análise da geração da margem de lucro: Considera, pelo giro do ativo, o desempenho operacional da empresa. - Análise da destinação do lucro: Considera a alavancagem do capital de terceiros, em vista do aumento da rentabilidade do capital próprio. Margem Bruta, de acordo com David (2019), é aquela que representa o quanto a empresa ganha ao vender um produto/serviço após descontar as despesas relacionadas à produção e venda. Margem Operacional, apresenta a quantidade de geração operacional em caixa , ou seja, quanto a empresa gera de lucro (ou prejuízo) somente exercendo suas atividades operacionais, desconsiderando efeitos de pagamento de tributos e financeiros. Margem Líquida, conceituada por Marion (2019), “é a divisão do lucro líquido pelas vendas, em porcentagem” e mostra o lucro porunidade de venda, sendo que quanto maior a margem, maior a sobra após recebimento de vendas e retirada de taxas e deduções. Retorno sobre o Investimento (ROI), segundo Marion (2019), é o payback (tempo médio do retorno) e representa o “poder de ganho da empresa: para cada $1,00 investido”. Em termos percentuais, é quanto dinheiro a organização tem capacidade de gerar com o capital investido. É um indicador abrangente, capaz de apresentar com precisão o desempenho financeiro de uma empresa. Dado fórmula a seguir para cálculos: RIT = Ativo total Lucro líquido O Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL) é o “payback” dos proprietários e representa a taxa de rentabilidade obtida pelo capital próprio, ou seja, se refere à capacidade de uma empresa em agregar valor a ela mesma, utilizando os próprios recursos dispostos. Marion (2019) define como o “poder de ganho dos proprietários: para cada $1,00 investido há um ganho de $0,25." Dado pela fórmula: RP LT = Lucro líquidoP atrimônio líquido 2.6 Tomada de decisão Os dados resultantes de uma análise de custos são essenciais para uma gestão eficaz. O tratamento dos mesmos envolve conceitos da Contabilidade Gerencial, definida por Atkinson et al. (2015) como um processo de “identificar, mensurar, reportar e analisar 25 informações sobre os eventos econômicos das empresas”. É a fonte primordial para a tomada de decisão em diversos fatores, mas principalmente para definição de preço, a fim de decidir se a estrutura torna possível competir rentavelmente ou, em caso de mercados onde a organização tem a possibilidade de estipular seu preço, o mesmo será um incremento do custo. No que se refere ao orçamento, segundo Atkinson et al. (2015), a Contabilidade Gerencial é uma ferramenta categórica em sua capacidade de projetar custos em diversos níveis de produção e vendas, assim como contratação e expansão. Além de estabelecer a direção da organização em determinado período, de forma a equilibrar as finanças, tendo bases e previsões de perdas e ganhos, é possível comparar os resultados dos períodos orçamentários com as expectativas, de forma a avaliar o desempenho. A partir dos índices financeiros, é possível mensurar percentualmente questões de risco de um negócio ou de um projeto, e a partir dos mesmos tomar decisões mais assertivas. Compreender o comportamento dos custos e das receitas é crucial para o processo decisório. De acordo com Simon (1972) a tomada de uma decisão é um acontecimento cotidiano e essencial em todas as organizações (apud Alves et al., 2002), Stoner e Freeman (1992) fragmentam o processo de decisão em dois níveis: decisões programadas e decisões não programadas. As decisões programadas são as direcionadas para a solução de problemas constantes, estabelecidas por meio de procedimentos, regras e hábitos. As decisões não programadas são aquelas que, por meio de um processo não estruturado, buscam soluções específicas de problemas não frequentes, sendo analisadas a partir dos custos. 3. MÉTODO Inicialmente, para a familiarização com o tema estudado foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Para Malheiros (2011 apud Sganzerla 2019), a finalidade de uma pesquisa bibliográfica é identificar na literatura as contribuições científicas. Neste trabalho, foram analisados materiais disponíveis no meio acadêmico, tais como: artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, e livros. A pesquisa bibliográfica teve como objetivo apresentar e discutir conceitos acerca da análise de custos, agricultura familiar, comercialização e assuntos similares. 26 Para complementar e aplicar a pesquisa, de acordo com Malheiros (2011), deve ser realizado o estudo de caso, por ser uma pesquisa que utiliza um caso concreto, sendo possível a convivência com as dificuldades dos gestores e a compreensão das mesmas a fim de orientar possíveis melhorias. Triviños (1987) estabelece o estudo de caso como uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente, onde o objetivo é descrever detalhadamente tal realidade. Para Kathlemm M. Eisenhardt (2020), o estudo de caso “é uma estratégia de pesquisa que se foca em compreender a dinâmica apresentada dentro de contextos específicos”. Buscando alcançar o objetivo geral e os específicos deste trabalho, em seguida foi realizado um estudo de caso único na Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul (APOMS). Localizada na cidade de Dourados - MS, a APOMS foi fundada em 9 setembro de 2000, entretanto, desde 1998 o grupo se reunia com o intuito inicial de apoiar a questão do café orgânico e convencional. Atualmente, o ramo de atuação compreende a produção sustentável, atuando com certificação de orgânicos; comercialização de produtos de hortifruti para programas governamentais; apoio aos produtores e ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural). Gil (1994 apud Branski 2019), classifica a pesquisa referente ao estudo de caso em três categorias básicas quanto ao objetivo: exploratória, explicativa e descritiva. No entanto, a mesma será de nível exploratório, pois há o objetivo de buscar esclarecimentos em relação aos produtos comercializados, sendo que, somente após conclusão da pesquisa o resultado será encontrado, além de registrar e analisar os dados por meio da aplicação de métodos experimentais e matemáticos, como pela interpretação dos métodos qualitativos. Foram levantadas todas as despesas operacionais e administrativas além das receitas referentes ao período de um ano (2019) e realizada a definição e cálculo dos custos atrelados à cooperativa. Nesta etapa, também foi calculada a depreciação do capital investido em bens e patrimônios. Após a coleta de dados, foi realizado um diagnóstico e análise do atual sistema de gestão de custos através da elaboração da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) da empresa. Na etapa seguinte, com base nos dados coletados das planilhas de autorização de pagamentos, foi calculada a rentabilidade atual da cooperativa, além dos índices financeiros definidos para acompanhamento. Por fim, foi realizada uma análise dos resultados e foi proposto um plano de contas adequado para a realidade da cooperativa, além de apresentadas as possíveis oportunidades de melhoria. 27 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este trabalho buscou analisar os custos do processo de comercialização de produtos orgânicos, através de um estudo de caso realizado na Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul (APOMS). A associação tem 120 produtores associados em diversos municípios do Estado do Mato Grosso do Sul, especificamente nas regiões de Campo Grande, Grande Dourados, Sul- fronteira, Cone-sul e Leste (ou Vale do Ivinhema), conforme apresentado na Figura 1. Dentre os produtores associados, 76 agricultores entregam produtos para a comercialização em Dourados - MS pela cooperativa a partir dos programas governamentais. Figura 1 - Regiões de planejamento do Estado de Mato Grosso do Sul Fonte:IMASUL MS. Elaboração: UNIMON (2016). A APOMS conta com 1 funcionário registrado, 5 colaboradores assalariados e o auxílio de diaristas que são solicitados de acordo com a demanda de entregas, todos exercendo trabalhos na cooperativa COOPERAPOMS que foi fundada para atuar diretamente na comercialização dos produtos. Há 02 bolsistas; 01 técnico em agroecologia e 01 funcionário que atuam no Centro de Treinamento para a Agricultura Familiar Dr. Edwin Baur localizado em Glória de Dourados - MS, sendo que a gestão do espaço é de responsabilidade da APOMS. Além disso, existem técnicos em diversas áreas como agropecuária, gestão, 28 agroecologia etc, que realizam cursos de variados temas aos produtores, por meio de projetos contratados a partir de recursos de uma instituição parceira. A análise de custos deste trabalho foi realizada referente às atividades comerciais da COOPERAPOMS, pois os outros custos supracitados da APOMS são quitados com recursos de instituição parceira. A Central de Comercialização é localizada no município de Dourados-MS, na Rua Mozart Calheiros do bairro Izidro Pedroso. Tal terreno foi cedido pela Prefeitura Municipal de Dourados, contudo, a construção do espaço foi com recursos do projeto do Programa ECOFORTE da Fundação Banco do Brasil e BNDES. A inauguração foi no dia 20 de Dezembro de 2016. A estrutura compreende um barracão de 450 m², contendo além do espaço para as etapas de processamento dos produtos, um escritório, alojamento com cozinha adaptada e banheiros, sendo ideal para a realização das atividades em período integral. Fazem parte do patrimônio da APOMS os itens listados na Tabela 1. Tabela 1 - Patrimônio adquirido em projetos Fonte: Elaboração do autor (2020). O projeto Petrobrás, do Edital Desenvolvimento e Cidadania teve por destinação cursos, dias de campo, visitas técnicas, oficinas, implantação de Unidades de Referências e as 29 ITEM ESPECIFICAÇÃO QUANTIDADE Veículos Fiat Strada working 2 Veículos Fiat uno mille economy 1 Veículos Fiat uno way 1.0 1 Veículos Fiat palio fire way 2 Veículos Caminhão VW/15.190 1 Veículos Caminhão VW/10.160 1 Equipamentos Computador completo desktop 1 Equipamentos Notebook Acer 3 Equipamentos Impressora HP multifuncional 1 Equipamentos Projetor multimídia 1 Equipamentos Tela de projeção 1 Equipamentos Câmera fotográfica digital 3 Equipamentos Aparelhos telefônicos 2 Móveis Mesas em L 3 Móveis Mesa recepção 2 Móveis Mesa de reunião 1 Móveis Arquivos em aço 4 Móveis Armários em aço 4 Móveis Longarinas 2 Móveis Cadeiras giratórias 5 Móveis Cadeiras de escritório 20 aquisições de: 01 caminhão baú, 01 Fiat Strada, 01 Fiat Uno. O projeto supracitado do Programa ECOFORTE, beneficiou a aquisição de um caminhão pequeno, 01 Fiat Strada e 02 Fiat Palio. A Prefeitura Municipal de Glória de Dourados cedeu 01 Fiat Uno para a utilização, listados anteriormente na Tabela 1. Atualmente, a comercialização ocorre por meio de contratos realizados com a Prefeitura Municipal de Dourados a partir de Programas Governamentais (PAA e PNAE). Estes contratos prevêem o abastecimento de 22 escolas estaduais, 18 escolas municipais, 21 centros de educação infantil, 2 escolas rurais, 6 escolas indígenas e o quartel. São atendidas 70 instituições e aproximadamente 26.450 pessoas de acordo com a estimativa de matriculados no ano analisado. As entregas são realizadas em períodos pré-definidos em contrato, sendo semanal ou quinzenal, com a lista de produtos que contemplam tal acordo e a quantidade em quilos (kg). Os produtores participantes dos programas governamentais (PAA e PNAE) devem respeitar além dos requisitos de qualidade do produto, a questão fiscal onde pode vender até R$ 20.000,00 por órgão comprador por ano. A COOPERAPOMS também possui a limitação onde pode vender até R$ 6 milhões por órgão comprador por ano, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Os produtos contratados pelos programas em 2019 foram: abobrinha verde, abóbora cabotiã, cebola de cabeça, alface, banana nanica, banana maçã, batata doce, beterraba, cenoura, cheiro-verde, couve manteiga, espinafre, goiaba, limão taiti, mandioca, melancia, milho verde, ponkan, repolho, rúcula, tomate, chuchu, mel de abelha e vagem. O preço em quilograma de cada produto é definido por contrato, sendo que atualmente a COOPERAPOMS opera com uma margem de contribuição definida em 26,3%, onde o percentual de 1,3% é recolhido para o FUNRURAL, que é o imposto incidente sobre a receita bruta oriunda da comercialização da produção rural. As atividades desempenhadas pelos funcionários são descritas na Figura 2 a seguir. Vale ressaltar que existe um plano de rotas definido, para facilitar e viabilizar a logística, pois há produtores espalhados por vários municípios. Figura 2 - Processo de comercialização da COOPERAPOMS 30 Fonte: Elaboração do autor (2020). Na primeira etapa ocorre o transporte, onde o responsável por tal ação recolhe os produtos semanalmente nas propriedades e os transporta até a central em Dourados. O dia e horário da coleta dos produtos é previamente informado aos produtores, sendo assim, o tempo necessário para realizar o carregamento é otimizado. Na etapa seguinte, acontece o descarregamento dos produtos no entreposto comercial, onde passa para o pré-processamento que corresponde à separação e limpeza dos produtos. Aqueles que apresentam alguma inconformidade com as especificações de qualidade, são descartados e tal informação é repassada posteriormente ao produtor para reforçar os requisitos básicos do projeto e para que seja possível aplicar melhorias seja no plantio ou na colheita. Após o pré-processamento, os produtos são armazenados em caixas plásticas vazadas, essenciais para manter a estrutura de folhagens principalmente e organizadas no barracão. Dependendo do produto, é necessário armazenar em uma sala que contenha ar condicionado, devido às condições climáticas. Por fim, no dia da entrega, os caminhões são carregados e o funcionário responsável realiza o transporte até as instituições. As atividades descritas começam no domingo e terminam na terça-feira, sendo realizadas em período integral. Com o término das obrigações, os funcionários realizam organização e limpeza do barracão, a fim de preparar o ambiente para a próxima semana e só retornam à Central caso seja necessário. Além do operacional, as atividades administrativas são realizadas durante a semana como elaboração de relatórios, reuniões, prestação de contas, contato com os produtores, ademais. 5.1 Diagnóstico e análise dos custos de comercialização Para realizar o diagnóstico dos custos de comercialização, foi feito um levantamento de todos os custos e despesas fixas do ano analisado a partir das planilhas de autorização de 31 pagamento da cooperativa, que contém todos os dados mês a mês. Na Tabela 2 são apresentados tais dados com os respectivos valores pagos em 2019. Tabela 2 - Custos e despesas fixas referentes ao período Fonte: Elaboração do autor (2020). A partir das despesas da cooperativa no ano de 2019 analisou-seos principais custos e despesas fixas da cooperativa em fatias percentuais, conforme apresentado na Figura 3. É possível afirmar que 78,4% dos recursos financeiros estão destinados ao pagamento de salários. Na sequência com o maior percentual, os custos com combustíveis representam 14,4%. Entretanto, as demais serão consideradas no DRE visto que juntas somam 7,2% do total. Figura 3 - Percentual de custos e despesas fixas do período Fonte: Elaboração do autor (2020). 32 DESPESAS VALOR Água R$ 1.105,93 Combustível R$ 27.462,37 Energia R$ 2.362,75 Serviços contábeis R$ 4.000,00 Internet R$ 1.195,05 Manutenção R$ 1.127,00 Gráfica R$ 273,24 Salários R$ 150.000,00 Tarifas bancárias R$ 3.811,50 TOTAL R$ 191.337,84 Os contratantes realizam o pagamento mensalmente a partir da nota fiscal da entrega executada. Na Tabela 3 são apresentadas as receitas (por contrato) no período analisado, considerando de 03/2019 à 12/2019. Tabela 3 - Pagamentos do período Fonte: Elaboração do autor (2020). É possível analisar a variação de entradas financeiras em cada período do ano conforme a Figura 4. A partir da linha de tendência, pode-se notar que não há pagamentos em janeiro e fevereiro. Entre junho e agosto, há uma queda considerável nas entradas devido às férias escolares, pois nestes meses não ocorrem entregas, o que se repete no mês de dezembro. Figura 4 - Pagamentos mensais do PAA e PNAE Fonte: Elaboração do autor (2020). 5.1.1 Margem de contribuição A margem de contribuição é um indicador financeiro-econômico que demonstrará se a receita da cooperativa é suficiente para pagar os custos e as despesas fixas. Os valores inseridos na fórmula de acordo com os dados apresentados nas Tabelas 2 e 3. Dado a fórmula: 33 CONTRATO VALOR Escolas municipais R$ 182.441,26 Escolas estaduais R$ 62.409,60 Quartel R$ 12.356,57 TOTAL R$ 257.207,42 MC = RV - CV MC = R$ 257.207,42 - R$ 191.337,84 = R$ 65.869,58 Sendo assim, pode-se perceber que a receita é suficiente para pagar os custos e despesas fixas do ano em questão, pois do valor total de entradas de R$ 257.207,42, após a dedução dos custos de R$ 191.337,84 a Cooperapoms tem uma sobra de R$ 65.869,58. Ao dividir os custos totais pela receita, obtemos um percentual de 74,4%, ou seja, a margem de contribuição é de 25,6%. Os dados referentes aos custos e despesas fixas mensais foram apurados a partir da planilha de autorização de pagamentos disponibilizada pela cooperativa. Com os valores obtidos, o gráfico de área da Figura 5 foi elaborado relacionando tais dados de forma a visualizar o fluxo de caixa desde o início das atividades até o fim do período analisado Figura 5 - Custos e despesas fixas versus entradas mensais Fonte: Elaboração do autor (2020). Nos meses de julho e agosto, houve uma queda na linha de entradas, pois as entregas neste período são realizadas apenas no quartel. A partir de setembro, entretanto, esta realidade se alterou, sendo em novembro o pico de entradas, em sua maioria provenientes de entregas nas escolas municipais. Pode-se observar que as despesas se mantêm durante o ano, apresentando uma média de R$ 16.396,07 com um desvio médio de R$ 2.175,78.± 5.1.2 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Para realizar a Demonstração do Resultado do Exercício, foi calculado o Custo dos Produtos Vendidos (CPV) a partir da fórmula (1) onde, MOD representa a mão de obra direta 34 e GGF os gastos gerais na fabricação. O custo dos produtos vendidos está presente na Tabela 4. CPV = MOD + GGF (1) Tabela 4 - Custo dos Produtos Vendidos Fonte: Elaboração do autor (2020). Considerando os dados do período, são detalhadas a formação do resultado líquido do exercício, confrontando receitas, custos e despesas apuradas segundo o princípio contábil do regime de competência. Tabela 5 - Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Fonte: Elaboração do autor (2020). A partir do DRE apresentado, verifica-se que ao final do exercício o resultado líquido apresentado é um lucro de R$65.869,57. Entretanto, serão calculados os índices financeiros para interpretações assertivas da atual situação financeira da cooperativa, de forma a auxiliar na análise do sistema de gestão de custos. 35 CUSTOS Mão de obra direta R$ 150.000,00 Água R$ 1.105,93 Energia R$ 2.362,75 (=) CPV R$ 153.468,68 Receita Operacional Bruta R$ 271.389,91 (-) ICMS R$ 807,71 Receita Operacional Líquida R$ 270.582,20 (-) CPV R$ 153.468,68 Resultado Operacional Bruto R$ 117.113,52 Despesas Operacionais (-) Combustível R$ 27.462,37 (-) Manutenção R$ 1.127,00 (-) Gráfica R$ 273,24 (-) Internet R$ 1.195,05 Despesas Administrativas (-) Serviços contábeis R$ 4.000,00 Despesas Financeiras (-) Tarifas bancárias R$ 3.811,50 Resultado Operacional Líquido Antes de Contribuições R$ 79.244,36 (-) FUNRURAL R$ 13.374,79 (=) Lucro Líquido do Exercício R$ 65.869,57 5.2 Cálculo da depreciação Os bens apresentam uma perda de valor decorrente do seu uso, obsolescência ou desgaste natural. Em cada exercício deve ser registrada esta perda, descontado de acordo com a vida útil. Pelas normas contábeis, a depreciação de uma máquina deve obedecer às determinações da Secretaria da Receita Federal, no artigo 305 do RIR/99. A vida útil estipulada em anos para cada um dos bens, assim como a taxa de depreciação é apresentada na Tabela 6 juntamente aos valores pagos no ano de aquisição do patrimônio imobilizado adquirido por projetos, listado na Tabela 1. O valor residual corresponde ao quanto um bem perde a cada ano do valor de compra, sendo representado pelo produto entre o valor pago e a taxa de depreciação anual. Tabela 6 - Relação do ativo imobilizado e determinações da Receita Federal Fonte: Elaboração do autor (2020). A depreciação anual (Da) dos bens do ativo imobilizado da cooperativa foi calculado a partir do método de linha reta, considerando o valor novo no momento da aquisição (VN); o valor residual (VR) e a vida útil em anos (N), de acordo com a fórmula (2). O valor atual no ano de 2019 após a dedução da depreciação anual de cada um dos bens é apresentado na Tabela 7. (2)epreciação anual (Da)D = N (V N − V R) Tabela 7 - Depreciação anual dos bens e valor atual no final do exercício de 2019 Fonte: Elaboração do autor (2020). 36 BENS VALOR NOVO VIDA ÚTIL TAXA ANUAL VALOR DEPRECIADO VEÍCULOS R$ 530.590,38 5 20% R$ 106.118,08 COMPUTADOR R$ 4.000,00 5 20% R$ 800,00 MÓVEIS E EQUIPAMENTOS R$ 64.525,00 10 10% R$ 6.452,50 IMÓVEL R$ 200.000,00 25 4% R$ 8.000,00 BENS DEPRECIAÇÃO ANUAL AQUISIÇÃO VALOR ATUAL VEÍCULOS R$ 84.894,46 2016 R$ 191.012,54 COMPUTADOR R$ 640,00 2016 R$ 1.440,00 MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS R$ 5.807,25 2016 R$ 41.296,00 IMÓVEL R$ 7.680,00 2016 R$ 169.280,00 DEPRECIAÇÃO ACUMULADA R$ 99.021,71 Após os cálculos, a depreciação acumulada no final do período é de R$99.021,71, sendo que esse valor é contabilizado no balanço patrimonial do exercício contábil correspondente para que se possa mensurar o patrimônio líquido da cooperativa. 5.3 Cálculo da rentabilidade atual da cooperativa Para que se possa mensurar em termos percentuais a rentabilidade da cooperativa, foram considerados
Compartilhar