Prévia do material em texto
Natália Parduci Vasos Sanguíneos Deste modo, as células endoteliais mantêm uma interface sangue-tecido não trombogênica (até que a coagulação seja necessária por lesão local), modulam a resistência vascular, metabolizam hormônios, regulam reações inflamatórias e afetam o crescimento de outros tipos celulares, particularmente as células do músculo liso. Na maioria das regiões, as junções interendoteliais são substancialmente impermeáveis. No entanto, as junções estreitas das células endoteliais podem se afrouxar sob a influência de fatores hemodinâmicos (p. ex., pressão arterial alta) e/ou agentes vasoativos (p. ex., histamina em reação inflamatória), resultando na inundação dos tecidos adjacentes por eletrólitos e proteínas Na maioria das regiões, as junções interendoteliais são substancialmente impermeáveis. No entanto, as junções estreitas das células endoteliais podem se afrouxar sob a influência de fatores hemodinâmicos (p. ex., pressão arterial alta) e/ou agentes vasoativos (p. ex., histamina em reação inflamatória), resultando na inundação dos tecidos adjacentes por eletrólitos e proteínas. Os indutores da ativação endotelial incluem as citocinas e os produtos bacterianos; estresses hemodinâmicos e produtos lipídicos, críticos para a patogenia da aterosclerose; produtos finais avançados da glicosilação, assim como vírus, componentes do complemento e hipoxia. As células endoteliais ativadas, por sua vez, expressam moléculas de adesão e produzem citocinas e quimiocinas, fatores de crescimento, moléculas vasoativas que resultam em vasoconstrição ou vasodilatação, moléculas do complexo principal de histocompatibilidade, partes pró- coagulantes e anticoagulantes de moléculas. Define-se disfunção endotelial como um fenótipo alterado que compromete a vasorreatividade ou induz uma superfície trombogênica ou anormalmente adesiva às células inflamatórias. Responsável pela formação inicial de trombos, placas ateroscleróticas etc. Células musculares lisas: elemento predominante na média vascular. Têm capacidade de proliferar quando apropriadamente estimuladas; podem sintetizar colágeno da MEC, elastina, proteoglicanos e elaborar fatores de crescimento e citocinas. São responsáveis pela vasoconstrição ou dilação. As atividades migratórias e proliferativas das células musculares lisas são reguladas por promotores e inibidores do crescimento. Os promotores incluem PDGF, bem como endotelina-1, trombina, fator de crescimento de fibroblastos (FGF), interferon-γ (IFN-γ) e interleucina-1 (IL-1). Os inibidores incluem heparan- sulfatos, óxido nítrico e TGF-β. A lesão vascular – com perda de células endoteliais ou mesmo apenas disfunção – estimula o crescimento das células musculares lisas e a síntese da matriz associada, o que espessa a íntima. Desse modo, o espessamento da íntima é a resposta estereotipada da parede do vaso a qualquer agressão. Esse espessamento é permanente. Agressões persistentes causam o estreitamento da luz do vaso e dificultam a perfusão do tecido distal. As fibras da neoíntima são altamente proliferativas, sintéticas e não contráteis. Esses processos são regulados fisiologicamente, de modo positivo, por produtos derivados de plaquetas, células endoteliais, macrófagos, coagulação ativada e fatores do complemento. Antagonicamente, são reguladas por heparan-sulfatos, NO e TGF- β. Doença Vascular Hipertensiva As pressões sanguíneas sistêmica e nos tecidos locais precisam ser mantidas dentro de uma faixa estreita para impedir consequências indesejáveis. A prevalência de e a vulnerabilidade a complicações da hipertensão aumentam com a idade; também são mais altas nos afro-americanos. É um dos principais fatores de risco para aterosclerose. Pode causar hipertrofia cardíaca e insuficiência cardíaca, além de dissecção da aorta. Permanece assintomática até tarde em sua evolução. A maior parte dos pacientes apresentam causas idiopáticas (hipertensão essencial) e não causa problemas a curto prazo. Regulação da PA Normal: A pressão arterial é uma função do débito cardíaco e da resistência vascular periférica, duas variáveis hemodinâmicas que são influenciadas por múltiplos fatores genéticos, ambientais e demográficos. Tem determinantes como gênero, idade, IMC e dieta (consumo de Na+). Há mecanismos de autorregulação, explicados nos resumos de fisiologia. O rim tem papel importante na regulação. É responsável pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) (elevação da PA) e também produz substâncias anti- hipertensivas, como o NO, que contrabalançam os efeitos do primeiro sistema. Também influencia por mecanismos natriuréticos, que inibem a reabsorção de sódio nos túbulos distais e o SRAA Para patologia, considera-se que as influências vasoconstritoras levam a um aumento da resistência periférica (RP) e, cronicamente, induzem espessamento e rigidez dos vasos envolvidos. Fatores ambientais, como os hábitos de vida, modificam o impacto dos determinantes genéticos. Natália Parduci PATOLOGIA VASCULAR NA HIPERTENSÃO A hipertensão não apenas acelera a aterogênese, mas também causa alterações degenerativas nas paredes das grandes e médias artérias, o que pode levar à dissecção da aorta e à hemorragia cerebrovascular. Arteriosclerose É “endurecimento das artérias”; um termo genérico que reflete espessamento da parede arterial e perda de sua elasticidade. Há três padrões gerais, com diferentes consequências clínicas e patológicas: • Arteriolosclerose afeta pequenas artérias e arteríolas e pode causar lesão isquêmica distal. • A esclerose medial de Mönckeberg caracteriza- se por depósitos calcificados nas artérias. • A aterosclerose é o padrão mais frequente e clinicamente mais importante. Será discutida com mais detalhes. Arteriolosclerose Hialina. As arteríolas mostram espessamento hialino homogêneo e róseo com estreitamento luminal associado. Essas alterações se originam de vazamento de proteínas plasmáticas através das células endoteliais lesadas e do aumento da síntese da matriz de células musculares lisas em resposta ao estresse hemodinâmico crônico. Arteriolosclerose hiperplásica. Esta lesão ocorre na hipertensão grave (maligna); os vasos exibem “lesões em casca de cebola”, caracterizadas por espessamento concêntrico e laminado das paredes e estreitamento luminal. As laminações consistem em células musculares lisas com membranas basais espessadas e reduplicadas; na hipertensão maligna, são acompanhadas por depósitos fibrinoides e necrose da parede dos vasos (arteriolite necrosante). Placa ateromatosa da íntima bem desenvolvida sobre média intacta. 1. Cápsula fibrosa: células musculares lisas, macrófagos, células espumosas, linfócitos, colágenos, elastina, proteoglicanos e neovascularização. 2. Centro necrótico: restos celulares, cristais de colesterol, células espumosas e cálcio. 3. Média. Aterosclerose Caracteriza-se por lesões da íntima chamadas ateromas que fazem protrusão nas luzes dos vasos. Uma placa ateromatosa consiste em uma lesão elevada com centro mole, amarelo e grumoso de lipídios (principalmente colesterol e ésteres do colesterol), coberta por uma cápsula fibrosa branca. Essas placas, além de obstruir mecanicamente o fluxo sanguíneo, podem se romper, gerando trombose, e enfraquecem a média subjacente, levando à formação de aneurisma. Manifestação da doença está, quase sempre, relacionada com a doença das artérias coronárias. Fatores de risco constitucionais na doença cardíaca isquêmica (DCI): idade; gênero (ateroproteção do estrogênio); genética. Fatores de risco modificáveis na DCI: hiperlipidemia (hipercolesterolemia de LDL); hipertensão (por si só e por causar hipertrofia do VE); tabagismo e diabetes (induz hipercolesterolemia). Fatores derisco adicionais: Inflamação (ligada à formação da placa e sua ruptura, PCR como marcador biológico. Quando a PCR é secretada a partir de células no interior da íntima aterosclerótica, pode ativar células endoteliais locais e induzir um estado protrombótico e também aumentar a adesividade dos leucócitos ao endotélio); hiper-homocistinemia; síndrome metabólica (anormalidades associadas à resistência à insulina e posterior dislipidemia); lipoproteína (a); fatores que afetam a hemostasia (ex. trombina); estilo de vida (pouco exercício físico, estresse, obesidade, diabetes, hipertrigliceridemia). Patogenia da Aterosclerose Chamada hipótese da resposta à lesão, o modelo vê a aterosclerose como uma resposta inflamatória e de resolução crônica da parede arterial à lesão endotelial. Ocorre progressão da lesão através da interação de lipoproteínas modificadas, de macrófagos derivados de monócitos e de linfócitos T com os constituintes celulares normais da parede arterial. É produzida pelos seguintes eventos patogênicos: • Lesão endotelial, que causa aumento da permeabilidade vascular, adesão de leucócitos, Natália Parduci trombose e espessamento da íntima. Motivada, principalmente, por desequilíbrios hemodinâmicos (fluxo turbulento) e hipercolesterolemia (alto LDL, baixo LDL e aumento dos níveis da lipo (a)). Hipercolesterolemia leva à produção de EROS, acúmulo de lipoproteínas. • Acúmulo de lipoproteínas (principalmente LDL e suas formas oxidadas) na parede do vaso. Ingestão por macrófagos e formação de células espumosas; liberação de fatores de crescimento, citocinas e quimiocinas; LDL é citotóxico e causa lesão endotelial. • Adesão de monócitos ao endotélio, seguida por migração para a íntima e transformação em macrófagos e células espumosas. as células endoteliais arteriais disfuncionais expressam moléculas de adesão que incentivam a adesão de leucócitos; a molécula de adesão a células vasculares-1 (VCAM-1), em particular, liga-se a monócitos e linfócitos T. Depois que estas células aderem ao endotélio, migram para a íntima sob a influência de quimiocinas produzidas localmente. Os macrófagos ativados também elaboram fatores de crescimento que estimulem a proliferação de células musculares lisas. Os linfócitos T recrutados para a íntima interagem com os macrófagos e podem gerar um estado inflamatório crônico. Em consequência do estado inflamatório crônico, os leucócitos ativados e as células da parede vascular liberam fatores de crescimento que promovem proliferação de células musculares lisas e síntese de MEC. • Adesão plaquetária. • Liberação de fatores das plaquetas, macrófagos e células da parede vascular ativados, induzindo recrutamento de células musculares lisas, seja da média, seja de precursores circulantes. • Proliferação de células musculares lisas e produção de MEC. Converte estria gordurosa em ateroma maduro e contribui para o crescimento das lesões. As células musculares lisas recrutadas sintetizam MEC (notavelmente colágeno), que estabiliza as placas ateroscleróticas. No entanto, as células infl amatórias ativadas dos ateromas podem causar apoptose de células musculares lisas da íntima e também podem aumentar o catabolismo da MEC, resultando em placas instáveis. • Acúmulo de lipídios extracelularmente e dentro das células (macrófagos e células musculares lisas). • Infecção: Embora haja evidências estimulantes de que as infecções possam impulsionar o processo inflamatório local que está por trás da aterosclerose, esta hipótese ainda precisa ser conclusivamente comprovada. Todavia, certamente é possível que tais organismos possam infectar locais de formação de ateromas; seus antígenos estranhos poderiam potencializar a aterogênese, impulsionando as respostas imunes locais, ou agentes infecciosos locais poderiam contribuir para o estado protrombótico local. A redução do colesterol sérico por dieta ou medicamentos torna mais lenta a taxa de progressão da aterosclerose, causa regressão de algumas placas e reduz o risco de eventos cardiovasculares. Natália Parduci Nas etapas iniciais, as placas da íntima são pouco mais do que agregados de células musculares lisas e de macrófagos sob a forma de células espumosas. Com a progressão, o ateroma é modificado pela MEC sintetizada pelas células musculares lisas; o tecido conjuntivo é particularmente proeminente na íntima, onde forma uma cápsula fibrosa, embora as lesões possam, tipicamente, reter um centro de células carregadas de lipídios e resíduos gordurosos que podem se calcificar. A placa da íntima pode progressivamente invadir a luz do vaso ou comprimir e causar degeneração da média subjacente; a ruptura da cápsula fibrosa pode levar à trombose e à oclusão vascular aguda. Estrias gordurosas: São compostas por macrófagos espumosos cheios de lipídios; não são significativamente elevadas e não causam desequilíbrio de fluxo. Começam a se formar, na adolescência, no mesmo local onde as placas tendem a se desenvolver. Placa aterosclerótica: seus fundamentos são o espessamento da íntima e o acúmulo de lipídios. As lesões são focais. Os vasos mais extensamente envolvidos são as artérias abdominal, coronárias, poplíteas, carótidas internas e os vasos do círculo de Willis. Em qualquer vaso, coexistem lesões em vários estágios. As placas ateroscleróticas têm três componentes principais: (1) células, incluindo as células musculares lisas, macrófagos e células T; (2) MEC, incluindo colágeno, fibras elásticas e proteoglicanos; e (3) lipídios intra e extracelulares. Tipicamente, há uma cápsula fibrosa superficial composta por células musculares lisas e colágeno relativamente denso. Abaixo da cápsula e ao lado dela, há uma área mais celular contendo macrófagos, linfócitos T e células musculares lisas. Profundamente à cápsula fibrosa, há um centro necrótico que contém lipídios (primariamente colesterol e ésteres do colesterol), restos de células mortas, células espumosas (macrófagos carregados de lipídios e células musculares lisas), fibrina, trombo com organização variável e outras proteínas plasmáticas. As placas são susceptíveis às seguintes alterações clinicamente importantes: • Calcificação; • Ruptura, ulceração ou erosão da superfície da íntima de placas ateromatosas expõem o sangue a substâncias altamente trombogênicas e induzem trombose e pode ocluir parcial ou completamente a luz e levar à isquemia distal • Hemorragia em uma placa. A ruptura da cápsula fibrosa sobrejacente ou dos vasos com paredes finas nas áreas de neovascularização pode causar hemorragia intraplaca; um hematoma contido pode expandir a placa ou induzir ruptura da placa. • Ateroembolia. A ruptura da placa pode descarregar resíduos ateroscleróticos na corrente sanguínea, produzindo microêmbolos. • Formação de aneurisma. A pressão induzida pela aterosclerose ou a atrofia isquêmica da média subjacente, com perda de tecido elástico, causa fraqueza que resulta em dilatação aneurismática e potencial ruptura. Consequência da doença aterosclerótica As grandes artérias elásticas e as musculares de grande e médio calibre são os principais alvos da aterosclerose. O infarto do miocárdio (ataque cardíaco), o infarto cerebral (acidente vascular cerebral), os aneurismas da aorta e a doença vascular periférica (gangrena dos membros inferiores) são as principais consequências da aterosclerose. Os principais resultados dependem do tamanho dos vasos envolvidos, da relativa estabilidade da própria placa e do grau de degeneração da parede arterial subjacente: • Oclusão de vasos menores e comprometimento da perfusão distal dos tecidos; • Rompimento da placa pode causar trombose e embolia; • Formação de aneurisma, com ruptura e/ou trombose secundárias. EstenoseAterosclerótica: em pequenas artérias, as placas podem ocluir gradativamente a luz dos vasos, comprometendo o fluxo sanguíneo e causando lesão isquêmica. Inicialmente, remodelação da média resolve. Quando “foge do controle”, há uma estenose crítica, com apresentação de angina aos esforços. Alteração Aguda da Placa: A erosão ou ruptura da placa é seguida prontamente por trombose vascular parcial ou completa, resultando em infarto agudo do tecido (p. ex., infarto do miocárdio ou cerebral). As alterações da placa caem em três categorias gerais: • Ruptura/fissura, expondo constituintes da placa altamente trombogênicos. • Erosão/ulceração, expondo ao sangue a membrana basal subendotelial trombogênica. • Hemorragia no ateroma, expandindo seu volume. Natália Parduci Os eventos que desencadeiam alterações abruptas na configuração da placa e trombose superposta são complexos e incluem fatores intrínsecos (p. ex., estrutura e composição da placa) e extrínsecos (p. ex., pressão arterial, reatividade plaquetária); a ruptura de uma placa indica que ela foi incapaz de suportar as tensões mecânicas das forças de cisalhamento vasculares. O colágeno é o principal responsável pela força e pela estabilidade mecânica das placas. Necessidade de equilíbrio entre síntese (células musculares lisas) e degradação (processos inflamatórios). As estatinas podem ter efeito terapêutico, por reduzirem os níveis circulantes de colesterol e estabilizarem as placas pela diminuição da inflamação. Entre os fatores extrínsecos, tem-se que a estimulação adrenérgica promove vasconstrição e aumento da PA. O estresse também pode levar ao rompimento de placa. Placas estáveis apresentam cápsulas fibrosas densamente colagenosas e espessadas, com mínima inflamação e centro ateromatoso subjacente desprezível. As placas vulneráveis se caracterizam por cápsulas fibrosas finas, grandes centros lipídicos e aumento da inflamação. Diferentemente, em outras síndromes coronarianas, a obstrução luminal pela trombose geralmente é incompleta e pode aumentar e diminuir com o passar do tempo. O trombo mural numa artéria coronária também pode embolizar. Finalmente, o trombo é um potente ativador de múltiplos sinais relacionados com a proliferação das células musculares lisas, o que pode contribuir para o crescimento das lesões ateroscleróticas. Vasoconstrição. A vasoconstrição compromete o tamanho da luz e, por aumentar as forças mecânicas locais, pode potencializar a ruptura da placa. Estimulada por: (1) agonistas adrenérgicos circulantes; (2) conteúdo plaquetário localmente liberado; (3) comprometimento da secreção de fatores relaxantes das células endoteliais (óxido nítrico) e (4) mediadores liberados das células inflamatórias perivasculares. ANEURISMAS E DISSECÇÃO Um aneurisma é uma dilatação anormal localizada de um vaso sanguíneo ou do coração pode ser congênito ou adquirido. Quando um aneurisma envolve uma parede arterial atenuada intacta ou a parede ventricular mais fina do coração, é chamado de aneurisma verdadeiro. Diferentemente, um falso aneurisma (também chamado de pseudoaneurisma) é um defeito da parede vascular levando a um hematoma extravascular que se comunica livremente com o espaço intravascular (“hematoma pulsante”). Uma dissecção arterial se origina quando o sangue entra na própria parede arterial, como um hematoma dissecando entre suas camadas. Os aneurismas saculares são bolsas esféricas (envolvendo apenas uma parte da parede do vaso); costumam conter trombo. Os aneurismas fusiformes envolvem dilatação difusa e circunferencial de um segmento vascular longo; têm variações de diâmetro e de comprimento e podem envolver porções extensas do arco aórtico, aorta abdominal ou até das artérias ilíacas. Patogenia dos Aneurismas: Os aneurismas podem ocorrer quando a estrutura ou a função do tecido conjuntivo no interior da parede vascular é comprometida. Natália Parduci • Baixa qualidade do tecido conjuntivo vascular o Síndrome de Marfan: síntese defeituosa de firbrilina leva à ativação aberrante de TGF-β e ao progressivo enfraquecimento do tecido elástico. o Síndrome de Loeys-Dietz: mutações dos receptores de TGF-β levam a anormalidades da elastina e dos colágenos I e III. • O equilíbrio entre degradação (MPMs) e síntese de colágeno se altera por infiltrados inflamatórios locais e pelas enzimas proteolíticas destrutivas que eles produzem. • A parede vascular fica enfraquecida através da perda de células musculares lisas ou pela síntese imprópria de MEC não colagenosa ou não elástica. Espessamento da íntima e HAS levam à isquemia da média, refletida em alterações degenerativas da aorta (formação de cicatrizes, síntese inadequada de MEC e produção alta de glicosaminoglicanos). Os dois transtornos mais importantes na predisposição aos aneurismas da aorta são a aterosclerose (para aorta abdominal) e a hipertensão (para aorta descendente). Outras causas incluem traumas, vasculite e infecções. Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) Os aneurismas associados à aterosclerose ocorrem mais comumente na aorta abdominal. A placa aterosclerótica na íntima comprime a média subjacente e compromete a difusão de nutrientes e de resíduos da luz vascular para a parede arterial. A média, portanto, sofre degeneração e necrose, o que resulta em fraqueza da parede arterial e consequente diminuição da espessura. Mais comum em homens e tabagistas, tendo raro desenvolvimento antes dos 50 anos. Aterosclerose é a principal causa. Geralmente posicionados abaixo das artérias renais e acima da bifurcação da aorta, os AAAs podem ser saculares ou fusiformes, ter até 15 cm de diâmetro e até 25 cm de comprimento. Tipicamente, a superfície da íntima do aneurisma mostra aterosclerose complicada intensa, com destruição e diminuição da espessura da média da aorta subjacente; o aneurisma frequentemente contém um trombo mural de pequena consistência, laminado e pouco organizado, que pode preencher uma parte do ou todo o segmento dilatado. Aspectos Clínicos. As consequências clínicas do AAA incluem: • Ruptura na cavidade peritoneal ou nos tecidos retroperitoneais com hemorragia maciça potencialmente fatal. • Obstrução de um ramo, resultando em lesão isquêmica de tecidos distais, por exemplo, artérias ilíacas (perna), renais (rim), mesentéricas (trato gastrointestinal) ou vertebrais (medula espinal). • Embolia do ateroma ou de trombo mural. • Invasão de uma estrutura adjacente, por exemplo, compressão de um ureter ou erosão de vértebras. • Apresentação como massa abdominal (muitas vezes palpavelmente pulsátil) que simule um tumor. O risco de ruptura é diretamente proporcional ao tamanho do aneurisma. Atualmente, o tratamento dos aneurismas está evoluindo para abordagens endoluminais usando enxertos com stents (estruturas expansíveis cobertas por uma manga feita com tecido) em pacientes selecionados. Vale a pena reiterar que, como a aterosclerose é uma doença sistêmica, uma pessoa com AAA também tem muita probabilidade de apresentar aterosclerose em outros leitos vasculares. Aneurisma da Aorta Torácica Os aneurismas da aorta torácica se associam, mais comumente, à hipertensão, embora sejam cada vez mais reconhecidas outras causas, como as síndromes de Marfan e de Loeys-Dietz.58 Independentemente da etiologia, eles dão origem a sinais e sintomas referíveis a: (1) invasão de estruturas do mediastino; (2) dificuldades respiratórias causadas por invasão dos pulmões e das vias aéreas; (3) dificuldade para deglutir pela compressão do esôfago; (4) tosse persistente por irritação dos nervos laríngeos recorrentes ou pressão sobre eles; (5) dor causada por erosão do osso (i. e., costelas e corpos vertebrais); (6) doença cardíaca, pois o aneurisma aórticoleva à dilatação da valva aórtica, com insuficiência valvar ou estreitamento dos óstios coronarianos, causando isquemia do miocárdio e (7) ruptura. Dissecção da Aorta A dissecção aórtica ocorre quando o sangue separa em leque os planos laminares da média, formando um canal cheio de sangue dentro da parede aórtica. Pode ser catastrófico se a dissecção se romper pela adventícia e gerar hemorragia nos espaços adjacentes. Ocorre em basicamente dois grupos: (1) homens com 40 a 60 anos com antecedentes de HA e (2) pacientes mais jovens, com anormalidade sistêmicas ou localizadas no tecido conjuntivo. Patogenia: A hipertensão é um fator de risco importante na dissecção aórtica. A aorta de pacientes hipertensos tem hipertrofia da média dos vasa vasorum associada a alterações degenerativas na média da aorta e à perda variável de células musculares lisas da média, sugerindo que a lesão mecânica relacionada com a pressão e/ou a lesão isquêmica (causada por diminuição do fluxo através dos vasa vasorum) sejam contribuintes. No entanto, ocorrida a laceração, o fluxo sanguíneo sob a pressão sistêmica opera através do meio, estimulando a progressão do hematoma da média. Consequentemente, a terapia agressiva para redução da pressão pode ter Natália Parduci efeito em limitar uma dissecção em evolução. Em alguns casos, a ruptura de vasos penetrantes dos vasa vasorum pode dar origem a um hematoma intramural sem laceração da íntima. Uma dissecção aórtica geralmente se inicia com uma laceração da íntima. Aspectos Clínicos. O risco e a natureza das complicações da dissecção da aorta dependem fortemente da região(ões) afetada(s); divididas em dois tipos: • Lesões proximais (tipo A): Mais comuns e perigosas, envolvem a aorta ascendente e descendente ou só essa úlitma. • Lesões distais não envolvendo a parte ascendente e, geralmente, começando distalmente à subclávia (tipo B). Os sintomas clínicos clássicos de dissecção da aorta são o início súbito de dor excruciante, geralmente começando na parte anterior do tórax, irradiando-se para o dorso entre as escápulas, e descendo à medida que progride a dissecção; a dor pode ser confundida com a do infarto do miocárdio. A causa mais comum de óbito é a ruptura da dissecção nas cavidades pericárdica, pleural ou peritoneal. A dissecção retrógrada para a raiz aórtica pode causar ruptura do aparelho valvar aórtico. Desse modo, as manifestações clínicas comuns incluem tamponamento cardíaco, insuficiência aórtica e infarto do miocárdio ou extensão da dissecção às grandes artérias do pescoço ou às artérias coronárias, renais, mesentéricas ou ilíacas, causando obstrução vascular crítica e consequências isquêmicas associadas No passado, a dissecção aórtica era tipicamente fatal, mas o prognóstico tem melhorado acentuadamente. O rápido diagnóstico e a instituição de terapia anti- hipertensiva intensa, juntamente com procedimentos cirúrgicos envolvendo plicação da parede aórtica, permitem que sejam salvos 65% a 75% dos indivíduos acometidos.