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TRAUMA VASCULAR SBCMC III - 2021.2 Cirurgia Vascular INTRODUÇÃO O trauma vascular caracteriza uma emergência médica, isso porque qualquer vaso, seja ele venoso ou arterial, determina uma hemorragia ou uma isquemia crítica, as quais se não forem contidas evoluem com choque hipovolêmico e morte ou amputação de membro. EPIDEMIOLOGIA ● Problema de saúde pública (altas taxas de incidência e prevalência) ● Elevadas taxas de morbidade e mortalidade ○ É a 3ª maior causa de morte no mundo ● Óbito e incapacidade temporária ou definitiva ● Traumas vasculares complexos ● Incidência maior em áreas urbanas, porém crescente na zona rural AGENTES DOS TRAUMAS ● Arma de fogo - principalmente as de alto calibre ● Arma branca - poder destrutivo menor ● Acidentes de trânsito - automobilísticos e motociclísticos ● Iatrogenia - principalmente nos procedimentos em que os vasos são os meios de acesso HISTÓRICO Conflitos Militares: ● Os grandes conflitos militares contribuíram muito com a evolução das cirurgias vasculares, isso devido à grande violência do momento. ○ Primeira e Segunda GM: ligadura com taxa de amputação acima de 50% ○ Guerra da Coreia: efetivação da restauração vascular ■ Desenvolvimento de técnicas e materiais apropriados ○ Guerra do Vietnã: o grande marco no atendimento das vítimas, reduzindo a taxa de amputação para 7 a 13% Vida Civil: ● O aumento da violência urbana é de grande importância para o aumento na incidência de traumas vasculares ○ 80% lesões nos membros ○ Projéteis de < poder destrutivo ○ Projéteis de alta velocidade ○ Lesões devastadoras nos vasos e tecidos vizinhos TIPOS DE LESÕES VASCULARES Hematoma de Adventícia: ● A camada adventícia é a mais externa dos vasos, tem irrigação própria pelos vasos que chamamos de Vasa Vasorum. A contusão da Vasa Vasorum leva ao sangramento da mesma, o que determina o hematoma. ● Causas: trauma fechado pelo estiramento ou trauma direto no vaso, ou por projétil de arma de fogo passando próximo do vaso. ● Quadro Clínico: normalmente assintomático e raramente pode progredir e comprimir a luz do vaso, provocando estenose e até oclusão. ● Tardiamente pode evoluir para um pseudo-aneurisma pelo enfraquecimento da parede do vaso. Lesão da Íntima: ● A camada íntima é a mais interna dos vasos, fica diretamente em contato com o sangue. A lesão da camada íntima leva a exposição de colágeno, o que induz a agregação plaquetária levando a formação de coágulos. ● Causas: traumas contusos. ● Quadro Clínico: no geral são lesões assintomáticas, mas que podem evoluir com trombose do segmento acometido. Ferimento Puntiforme: ● Causas: instrumentos perfurocortantes (agulhas, estiletes e punhais) ● Quadro Clínico: parada espontânea do sangramento ou evolução para um pseudoaneurisma expansivo. Secção/Ruptura Parcial ou Total da Parede do Vaso: ● A secção parcial do ponto de vista de restauração é menos complexo, no entanto, do ponto de vista de perda volêmica é mais grave. ● Na secção total, os cotos tendem a se retrair e parar de sangrar, o que reduz a perda de sangue. Pseudoaneurisma: ● Os aneurismas verdadeiros tem dilatação das três camadas da parede arterial, já o pseudoaneurisma não ocorre dilatação das três camadas. ● Quadro Clínico: ocorre um sangramento e a formação de um hematoma tenso com característica pulsátil, semelhante a um aneurisma. Fístula Arteriovenosa: ● Um ferimento contuso faz com que a luz de uma artéria e uma veia se comuniquem entre si. ● Quando não há choque hipovolêmico importante, podem-se perceber com nitidez frêmito contínuo e sopro característico na região da fístula. Outras: ● Espasmos - normalmente são causados por injúria ou por efeito térmico (calor). ● Contusão da parede - pode levar à trombose ou enfraquecimento da parede do vaso, podendo evoluir com a formação de aneurisma. ● Laceração - não há perda volêmica, mas pode ocorrer trombose. ATENDIMENTO INICIAL Exceto nos casos de trauma iatrogênico, é muito provável que o paciente em questão seja um caso de politraumatismo, logo, deve ser atendido na emergência conforme o ATLS (ABCDE do trauma) ● Observar as prioridades corretas em todos os pacientes vítima de trauma ● Condições respiratórias ● Condições hemodinâmicas ● Estabilização da coluna ● Controle dos ferimentos sangrantes com compressão ou dígito-pressão ○ Evitar garroteamento ■ Além de parar o sangramento, vai coibir a circulação venosa, vai interromper a circulação colateral que é importante para a manutenção do fluxo distal. SÍNDROMES CLÍNICAS De acordo com a causa do trauma e o quadro clínico, o paciente pode ser classificado em 03 síndromes: a hemorrágica, a isquêmica e a tumoral. **Um paciente pode apresentar mais de 01 síndrome diante do mesmo trauma. Síndromes Hemorrágicas: ● A síndrome hemorrágica ocorre quando há interrupção da continuidade da luz do vaso, com consequente extravasamento de sangue para os tecidos vizinhos, cavidades abdominal e torácica e, freqüentemente, para o meio externo. ● Tratando-se de uma hemorragia, precisamos identificar se a origem é arterial ou venosa: ○ Na hemorragia arterial, o sangue é vermelho vivo e sai em jatos, acompanhando as sístoles . ○ Na hemorragia venosa, o sangramento é contínuo e de coloração mais escurecida. ● Existe um risco alto de evolução para choque hipovolêmico, então o paciente deve ser encaminhado rapidamente para o centro cirúrgico, onde serão feitos os reparos necessários. Síndromes Isquêmicas: ● A síndrome isquêmica ocorre quando o traumatismo leva à oclusão aguda do vaso. ● Clinicamente a isquemia é caracterizada por: ➔ Dor ➔ Palidez ➔ Cianose ➔ Diminuição da temperatura ➔ Veias colabadas ➔ Formigamento ➔ Impotência funcional ➔ Redução ou ausência total de pulso Síndromes Tumorais: ● A síndrome tumoral é caracterizada pela saída de sangue do vaso, o qual fica contido pelos tecidos vizinhos, formando uma tumoração/um hematoma na área da lesão. ● Quando o ferimento lesa simultaneamente artéria e veia, forma -se uma fístula arteriovenosa que sempre é acompanhada de um hematoma pulsátil . ● Quando esta tumoração membro é causada por grandes edemas e/ou hematomas, que se situam em compartimentos fechados, pode ocorrer a síndrome de compartimento e isquemia distal. ○ É mais frequente nas pernas e no antebraço. DIAGNÓSTICO CLÍNICO ● Sangramento ativo ● Ausência ou diminuição dos pulsos ● Isquemia: palidez, perfusão diminuída, cianose móvel (trauma recente) ou fixa ● Hematoma expansivo ou pulsátil ● Frêmito ou sopro no local Fístula Arteriovenosa: ● Frêmito e sopro ● Sopro contínuo com reforço sistólico (patognomônico) ● Ectasia da artéria proximal ● Veias superficiais varicosas ● Sinais de má perfusão distal ● Hipertensão venosa crônica DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR O diagnóstico de fato é clínico, os exames de imagem são indicados somente para os pacientes estáveis hemodinamicamente e servem mais para guiar a conduta. ● Arteriografia: é invasivo ○ Opacificação extraluminal ○ Afilamentos ou defeitos de enchimento da luz ○ Opacificação precoce de veias ● Ecografia Doppler: não invasivo, sem contraindicações e barato ○ Avalia bem pseudoaneurismas e FAV ○ Pode ser repetido várias vezes ○ Examinador dependente ○ Avalia melhor os membros e região cervical LESÕES CLINICAMENTE OCULTAS São lesões que não afetam o feixe vascular principal, somente um segmento de seu trajeto. ● São lesões de baixa malignidade. ● Tratar ou não tratar? ○ Varia para cada caso ○ Na dúvida: trata. TRATAMENTO ● Controle do sangramento (reparação da artéria) ● Desbridar tecidos desvitalizados (evita infecção do sítio) ● Restauração do fluxo sanguíneo ● Fixação das fraturas (muito comum a associação com lesões ortopédicas) ● Cobertura dos vasos (pele, músculo… o importante é não deixar o vaso exposto) ● Fasciotomias ● Amputação primária (em casos extremos, onde houve perda de componentes que inviabilizam a restauração) Restauração Vascular: ● Ligaduras ● Sutura simples ● Remendo (patch) ● Anastomose término-terminal (aproximação dos cotosquando não há tensão) ● Implante de veia em continuidade ou em derivação (by-pass) ○ Veia Safena Magna como substituto adequado ○ Usa o membro contralateral ○ Na impossibilidade de uso da Safena Magna, opta-se pela Safena Parva ou veias dos membros superiores ○ Controle proximal e distal do vaso ● Implante de prótese em continuidade ou em derivação TRATAMENTO ENDOVASCULAR Embolização: ● É uma alternativa à ligadura cirúrgica ● A artéria para ser embolizada não pode ser essencial para o funcionamento ou vitalidade do órgão a ser tratado Stents: ● Podem ser de grande utilidade no trauma arterial, evitando cirurgias em locais de difícil acesso SÍNDROME COMPARTIMENTAL Aumento da pressão tecidual dentro do compartimento osteofascial que compromete a perfusão tecidual. Causas: ● Contusões ● Fraturas ● Hematomas ● Obstrução venosa ● Síndrome de reperfusão Sintomas: ● Déficit sensitivo ● Dor desproporcional ao trauma ● Abolição da dorsiflexão do pé ● Tensão muscular Tratamento: ● Fasciotomia - incisões longitudinais amplas da pele e da fáscia muscular ○ Abranger todos os compartimentos ○ Avaliar debridamento muscular ou até a amputação primária ○ Síntese ou enxertia de pele TRAUMA VENOSO ● Respondem por 13 a 51% das lesões. ● Podem vir isolados, mas na maioria das vezes vêm associados a lesões arteriais. ● Se expressam por sangramento sem pulsatilidade e de coloração vermelho escuro, podem evoluir com trombose tardia ● Ao exame físico, o paciente apresenta pulsos caso a lesão seja exclusivamente venosa. ● O diagnóstico se dá por flebografia ou duplex scan ● Conduta Inicial: ○ Analgesia ○ Compressão ○ Antibiótico ○ Vacina Antitetânica ● Restaurar o fluxo sempre que possível - o tratamento é por ligadura.
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