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Bruna Costa Wanderley e Dinah Luz Vascular Agosto/2019 1 CIRURGIA VASCULAR – TRAUMA VASCULAR 1. INTRODUÇÃO: • O trauma é um dos maiores problemas de saúde mundial, que acomete principalmente os jovens. No Brasil, assume proporções epidêmicas, causando óbito e incapacidade temporária ou definitiva em centenas de pessoas anualmente. 2. ASPECTOS HISTÓRICOS • A hemorragia é a mais temida situação em um atendimento à vítima do trauma; • A primeira descrição de um método para conter a hemorragia foi bandagem compressiva; • Posteriormente o método de ligadura vascular foi realizado para conter a hemorragia; Paré (1552)à Consolidou a ligadura vascular, estabeleceu a rapidez no atendimento; Morel (1674) àTorniquete, serve para controle de sangramento e não circulatório; Hallowell (1759)à reparo direto na artéria; Esmarch (1873)à Faixa elástica para controle circulatório; Murphy (1897)à Anastomose termino terminal na artéria humana; Goyanes (1906)à enxerto venoso para reparo arterial; Lexer (1907) à Uso da safena reversa; Alexis Carrel (1912 – Nobel) à princípios técnicos básicos da sutura vascular além de estabelecer os princípios básicos dos transplantes de orgãos. Estabeleceu a triangulação dos pontos. Ganhou premio nobel de medicina em 1912. • Somente a partir da guerra da Coréia (1951) os reparos vasculares se impuseram. Evolução na cirurgia vascular -‐ 13% de amputações x 49% 2ª Guerra Mundial. 3. EPIDEMIOLOGIA: • A base epidemiológica do trauma vascular está fundamentada nos dados históricos, principalmente, nos conflitos militares. • Os traumas vasculares são divididos em três setores: conflitos militares, conflitos urbanos e conflitos rurais. Há também iatrogenias e acidentes de trânsito. a) CONFLITOS MILITARES: • O índice de lesão vascular variou de 0,07 e 2,4% (De acordo com Bakey e Simeone), 0,96% (II Guerra Mundial) e 2% (Na guerra do vietña Rich et al). • O índice é baixo de lesão vascular devido a proteção anatômica dos vasos. Os valores, descritos acima, são heterogêneos por conta da diferença do tempo decorrido para o atendimento, da evolução dos métodos diagnósticos e terapêuticos e sistemas pré-‐ hospitalares mais ágil e eficaz. • Os locais mais comuns são as extremidades e o mecanismo mais frequente é o penetrante, geralmente arma de fogo. b) CONFLITOS URBANOS NOS EUA: • As regiões mais afetadas são as extremidades, seguida do abdome, tórax e o pescoço. O vaso mais acometido é a artéria femoral. • No mecanismo da lesão o agente mais comum foi a arma de fogo seguida pela a arma branca. è CONFLITOS URBANOS NOS CENTROS EUROPEUS: • As lesões civis são decorrentes do trauma fechado ou acidentes automobilísticos, acidentes de trabalho e lesões iatrogênicas. è CONFLITOS URBANOS NO BRASIL: • A partir do novo milênio houve uma interiorização da violência urbana. • No mecanismo da lesão o agente mais comum foi a arma de fogo. Observando o aumento de lesões causadas por projéteis de alta velocidade, levando a grande destruição da área atingida e consequentemente óbito. c) CONFLITOS RURAIS: • O trauma vascular ocorre entre 1 a 3,7% das lesões em áreas rurais. Por conta da diferença no tempo de atendimento. • Nas extremidades superiores, os traumas são em consequência de acidentes nas fábricas, com o material que o funcionário está manipulando, e domésticos com vidros e arma branca. • Nas extremidades inferiores os traumas geralmente advêm dos acidentes automobilísticos. d) IATROGENIAS: • As complicações mais frequentes são o hematoma e o sangramento sendo que o vaso mais comprometido é a artéria femoral (por causa dos procedimentos endovasculares) seguida da artéria braquial. • As causas mais frequentes de iatrogenia são os procedimentos endovasculares. • Outras causas: Laparotomias, laparoscopias e cirurgias de hérnias de disco. e) ACIDENTES DE TRÂNSITO: • No Brasil, as motocicletas transformaram-‐se no ponto focal do crescimento da mortalidade nas vias públicas. 4. ETIOPATOGENIA: • Ferimentos vasculares decorrentes de traumas fechados ou contusos de forma geral apresentam pior prognóstico do que os gerados por lesões penetrantes. Tais lesos também estão associada a maior necessidade de transfusões sanguíneas, ao tempo de internação e maiores taxas de amputação. • Lesão vascular com extravasamento do sangue. • Quando a lesão aguda não é percebida outras apresentações das lesões podem surgir tardiamente: pseudoaneurisma e fístula arteriovenosa; Complicação clinica da fistula arteriovenosa persistente é a insuficiência cardíaca. Bruna Costa Wanderley e Dinah Luz Vascular Agosto/2019 2 OBS: a fistula arteriovenosa pode ocorrer quando há lesão simultânea de uma estrutura arterial e outra venosa no mesmo ferimento. Quando não há choque hipovolêmico importante, podem-‐se perceber com nitidez frêmito e sopro na região. Arteriografia femoral visualizando-‐ se fistula arteriovenosa com enchimento precoce da veia por ferimento puntiforme da artéria poplítea por prego. ANEURISMA: Aneurismas são dilatações anormais das artérias definidas como um aumento de ≥ 50% no diâmetro arterial em comparação com os segmentos normais. São causados pelo enfraquecimento da parede arterial, especificamente, da média. Os aneurismas verdadeiros envolvem as três camadas da artéria (íntima, média e adventícia). Angiografia cerebral mostrando um aneurisma sacular (seta maior). PSEUDOANEURISMA: Um pseudoaneurisma (aneurisma falso) é a comunicação entre o lúmen arterial e o tecido conjuntivo subjacente resultante da ruptura arterial; uma cavidade cheia de sangue se forma fora da parede do vaso e sela o vazamento à medida que trombosa. É uma ruptura da artéria que forma coagulo. Não sangra de imediato. Arteriografia femoral com pseudoaneurisma após ferimento por arma de fogo. 5. DIAGNÓSTICO: - Baseia-‐se na história natural com fatores prognóstico e no exame físico. Secundariamente nos exames complementares. - História natural e fatores prognósticos: • Tempo decorrido; Mecanismo da lesão; Localização anatômica; Lesão associada; Idade e doença associada e apresentação clínica. a) Exame físico: • Palidez, sangramento, aumento do volume, abaulamentos, impotência funcional, verificar pulsos periféricos, temperatura cutânea, ausculta e lesões específicas (Ex: tamponamento cardíaco, tríade de beck: abafamento das bulhas, hipotensão e turgência de jugular). • Sinais característicos: Ausência de pulsos periféricos,isquemia distal, hemorragia ativa, hematoma em expansão ou pulsátil, sopro ou frêmito são sinais sugestivos de lesão vascular das extremidades. Entretanto, podem ser assintomáticas, por esse motivo, as vitimas de traumas que apresentam lesão em trajeto de vaso, lesão neurológica adjacente ao feixe vascular ou fratura-‐luxação em área de risco vascular devem ser investigadas por meio de exames de imagem. DA LESÃO VASCULAR: SINAIS DIRETOS OU FORTES = MAIORES SINAIS INDIRETOS OU LEVES = MENORES Hemorragia ativa e choque; Hematomas pequeno e estável; Hematomas expansivo e pulsátil; Lesões em trajetos nervosos; Sopro ou frêmito em trajeto vascular; Lesões em trajetos vasculares; Isquemia (6 Ps): 1. Dor; 2. Palidez; 3. Dormência; 4. Diminuição da força; 5. Ausência de pulso; 6. Frialidade, diferença de temperatura. Hipotensão persistente; História de hemorragia vultosa que cessou. Sinais fortes: levar para o centro cirúrgico. Bruna Costa Wanderley e Dinah Luz Vascular Agosto/2019 3 • EXAMES COMPLEMENTARES: não invasivos e invasivos; - Exames complementares não invasivos: Radiografia, Doppler portátil, ecocolor-‐Doppler. - Exames complementares invasivos: Tomografia computadorizada e arteriografia. INCIDÊNCIA DE AMPUTAÇÕES EM ARTERIAS LIGADAS Subclávia 28,6% Ilíaca externa 46,7% Axilar 43,2% Femoral 53,2% Braquial 26,1% Poplítea 72,5% Ilíaca comum 53,8% OBS: Se tiver de ligar, optar sempre pelo membro superior. Mas a primeira opção é reconstrução arterial. 6. TRATAMENTO • Profilaxia da infecção, profilaxia antitetânica, exploração cirúrgica, uso de shunt (matéria sintético provisório colocado nas artérias para aguardar o tto definitivo) e endovascular (pouco usado, é mais indicado para tto de trombos .. ). TRAUMATISMO VASCULAR DOS MEMBROS 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS • Corresponde a 42% das lesões vasculares que chegam a unidade de trauma; • O membro inferior é o mais atingido; • A artéria mais atingida é a femoral (46%) – EUA e Europa. INCIDÊNCIAS DAS LESÕES VASCULARES: 42% Membros; 30% abdome; 16% tórax; 12% região cervical. INCIDÊNCIA DAS LESÕES ARTERIAIS NO MMII: 46% femoral 19% artérias da perna 35% poplítea ANÁLISE CLÍNICA DAS LESÕES ARTERIAIS: TIPO DE LESÃO CLÍNICA Laceração parcial Pulsos diminuídos, hematoma, volumoso, sangramento contínuo e rutilante; Pode evoluir para pseudoaneurisma. Laceração total Ausência de pulso distal a lesão, isquemia franca; Contusão Exame inicial normal, exame sequencial diferente (podendo evoluir para trambose). O ideal é deixar o paciente em observação por 24hr porque ele pode evoluir com um trombo. Pseudoaneurisma e FAV (fístula arteriovenosa) Exame inicial pode ser normal. Se evoluir com frêmito e sopro o pulso distal diminui. Compressão extrínseca por fratura Pulso diminuído e após alinhamento da fratura: pulso normal. Deixar em observação porque pode evoluir para trombo. 2. DIAGNÓSTICO História clínica: Pesquisar estado clínico do paciente no cenário do trauma, o tipo de trauma e o tipo de agente causal, história de sangramento no cenário do trauma. Exame físico: Avaliação dos pulsos comparando com o contralateral, dor à palpação da musculatura, e presença de edema, identificar lesões ortopédicas e neurológicas. Identificar as lesões, se há sangramento ativo, hematomas no trajeto dos vasos, presença de frêmitos ou sopro, enchimento capilar, presença de paresia ou parestesia. OBS: A paresia e parestesia é devido a intimidade do nervo com a artéria e/ou a isquemia que pode levar a lesão nervosa e muscular. Assim, o paciente pode apresentar estes sintomas SEM LESÃO neurológica. Podendo ser um indicativo de isquemia grave. Síndrome compartimental é o aumento de pressão num espaço anatómico restrito (compartimento fascial ou loja anatômica) com queda da perfusão sanguínea dos músculos e órgãos nele contidos. Caracterizada por parestesia, dor contínua, hipoestesia, edema e enrijecimento da região acometida. Exame complementares: Raio X, Doppler bidirecional, ecocolor-‐Doppler, angiografia e angiotomografia computadorizada. Angiografia é o padrão ouro para diagnóstico da lesão vascular no trauma (não quer dizer que todo mundo precisa ser submetido a angiografia). è ARTERIOGRAFIA: Os achados arteriográficos são extravasamento de contraste, falhas de enchimento, falso aneurisma, enchimento venoso precoce (significa presença da fistula arteriovenosa), lentidão no enchimento do leito distal. INDICAÇÃO PARA ARTERIOGRAFIA NO TRAUMA • Avaliação das lesões: localização e extensão; • Grandes lesões das partes moles; • Fraturas e luxações; Ex: úmero, tíbia, fíbula – locais ondem passam muitos vasos. • Lesão em trajeto dos feixes vasculares; • Multiperfurações em trajeto vascular; 3. TRATAMENTO • Tratamento não cirúrgico para lesões vasculares mínimas – menos que 5mm -‐ Sendo necessário o acompanhamento pelo eco-‐Doppler, semanal, no período da internação até 3 meses após a alta. • Tratamento cirúrgico: Controle do sangramento, restauração do fluxo com reconstruções vasculares, fixação e redução da fratura, cobertura dos vasos expostos e fasciotomia, quando necessário. Algumas recomendações para o tratamento cirúrgico: -‐ O uso de antibióticos de amplo espectro deve ser iniciado no pré-‐op, proporcionando níveis terapêuticos teciduais durante a operação. -‐ Pacientes com hipovolemia grave devem ter o comportamento intravascular restaurado, com soluções cristaloides e/ou derivados de sangue, pois o Bruna Costa Wanderley e Dinah Luz Vascular Agosto/2019 4 destamponamento de uma lesão e o consequente sangramento podem ser. Aqueles com sinais de exsanguinação devem ser rapidamente operados. -‐ Prevenção de hipotermia. OBS: A reconstrução vascular pode ser realizada com uma rafia simples da parede arterial, anastomose termino-‐ terminal sem enxerto, interposição de enxerto (com a safena) na construção vascular que pode ser prótese sintética (PTFe) e enxerto de veia safena interna reversa (mais usado). è INDICAÇÃO DE FASCIOTOMIA NO TRAUMA • Retardo na restauração do fluxo (isquemia > 6 horas); • Choque prolongado; • Edema maciço da extremidade; • Lesão de artéria e veia associada; • Esmagamento do membro; • Ausência de pulso; • Ligadura da veia poplítea ou de múltiplas veias da perna. OUTRAS INFORMAÇÕES: • A perna possui: 4 compartimentos. São eles: Anterior, lateral, posterior superficial e profundo. Normalmente faz fasciotomia no compartimento posterior e anterior. • Teste de Allen é um teste usado para avaliaro suprimento sanguíneo da mão. O teste avalia a circulação colateral da mão através da avaliação das artérias ulnar e radial. O teste consiste em comprimir tanto a artéria ulnar como a radial com a nossa mão, sem o suprimento sanguíneo a mão ficará pálida. Após isto deve-‐se soltar uma delas e verificar se assim toda a mão vai ser perfundida pela artéria que nós desocluimos, e posteriormente repetir e soltar a outra artéria. Caso a mão não volte a ficar vermelha há alguma alteração na artéria.
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