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Endocardite Aula: 02 - Professora: Renata Introdução Processo infeccioso que acomete endocárdio. Geralmente envolve a superfície valvar, mas também pode acontecer no endocárdio que reveste a comunicação interatrial (CIA) ou interventricular (CIV), em uma anormalidade cardíaca, corda tendínea ou ainda no endocárdio mural. A lesão característica, a vegetação, é composta por deposição de plaquetas, fibrina, microorganismo e células inflamatórias. O quadro clínico reflete o processo infeccioso existente, as alterações mecânicas decorrentes do crescimento local da vegetação, a embolização originada das vegetações e da circulação de complexos imunes. A grande problemática da endocardite é o fato de não ser diagnosticada corretamente. Classificação Pode ser classificada de 2 maneiras: aguda e subaguda. A endocardite aguda representa condições associada à febre alta, sinais de toxemia (sepse), disfunção cardíaca precoce e surgimento de múltiplos focos de infecção metastática à distância; Caso não tratada logo, a endocardite aguda evolui para óbito em curto espaço de tempo. Geralmente é causada por estafilococos aureus. A endocardite subaguda apresenta manifestações clínicas mais arrastadas que incluem febre baixa (37.8; 38), sudorese noturna, perda ponderal, fenômenos imunológicos. Caso não tratada a endocardite subaguda evolui para óbito num período de tempo bem mais longo (meses). Habitualmente causada por agentes menos virulentos, como estreptococos do grupo viridans. Incidência Não é uma doença rara e sua incidência vem crescendo com o envelhecimento da população. Pacientes que antes morriam em decorrência dessa doença, hoje já não ocorre mais. Isso em detrimento dos avanços tecnológicos e procedimentos relacionados com a assistência a saúde, essa população passa a viver mais e com melhor qualidade de vida. O paciente não necessita ter alguma alteração cardíaca para cursar com endocardite, mas é claro que é mais prevalente em pacientes que tem alterações cardíacas. Estar internado, com cateteres, sondas, cateterismos, acessos profundos, hemodiálises, ou seja, todos os procedimentos hospitalares predispõe o aumento da incidência da endocardite aguda. É notório que durante a ingestão de alimentos e até mesmo na escovação dos dentes, são ocasionadas bacteremias de maneira contínua, todos os dias da nossa vida. Obviamente que procedimentos dentários aumentam também a chance de desenvolver a patologia, entretanto não frequentamos dentistas todos os dias, mas é válido ressaltar que ambos podem cursar com EI. As mulheres são mais descritas na literatura, no entanto os homens com prolapso mitral tendem a cursar mais com a EI do que as mulheres saudáveis. Além disso, pacientes com doenças regurgitantes cardíacas de quaisquer Ana Carolina Picanço espécies também apresentam predisposição maior em desenvolver essa doença. ● Doença reumática é o principal fator predisponente! ● Aumento de EI por procedimentos invasivos (assistência a saúde); ● Diminuição das causas por bacteremia de flora bucal, mesmo ainda sendo a principal causa! Doenças Cardíacas mais associadas à predisposição da EI: Cardiopatias congênitas, comunicação interventricular (CIV), estenose aórtica/subaórtica, valva aórtica bicúspide, tetralogía de Fallot, Coartação aórtica, lesões associadas a sínd. de Marfan (insuficiência de valva aórtica), estenose pulmonar, doenças degenerativas. OBS: Pacientes com cardiomiopatias, assintomáticos, só descobre com ecocardiograma. Classificação Atual das Endocardites ● EVN – Endocardite de Valva Nativa; ● EDA – Endocardite em usuário de drogas; ● EPP – Endocardite Precoce em Prótese Valvar (até 1 ano); ● ETP – Endocardite Tardia em Prótese Valvar (após 1 ano) Etiologia - Estreptococos 40%; - Estafilococos Aureus 20% (principal causador da EI aguda); - Esterococos 5 – 10% OBS: A EI por bactérias de forma oral, como estrepto viridans, tem origem por bacteremias de forma transitória que ocorrem de forma CONTÍNUA. 1. Enterococos - Colonizam mucosas gastrointestinais e uretrais; - Pacientes masculinos maiores de 60 anos; - Procedimentos genitourinários: Cistoscopia, cateterismo vesical, biopsia de próstata, colonoscopia; - Mulheres jovens que realizam parto normal/aborto; - Infecção de valva normal ou danificada (na normal é muito rara). Exemplo: Paciente idoso chega à emergência com quadro de AVE, desacordado. Em conversa com a família, descobre que o paciente estava com febre há 3 semanas e faz cateterismos intermitentes. Na ausculta observa um sopro cardíaco. 2. Estreptococos Bovis e Equinos - Acometem mais os idosos; - Colonizam o intestino; - Pacientes com lesões estruturais no cólon: neoplasias, pólipos, doença inflamatória intestinal; - Boa sensibilidade a penicilinas; - Infecção de valvas danificadas. 3. Estafilococos - S. aureus envolvido com quadro agudo fulminante e agressivo, acometendo tanto valvas normais quanto danificadas. Geralmente pacientes que fizeram procedimentos em ambiente hospitalar e também usuários de drogas (microbiota da pele); - S. coagulase negativa (epidermidis) está envolvido com EI subaguda de valvas protéticas/valvas danificadas. 4. Usuário de drogas Ana Carolina Picanço - É o grupo mais “complicadinho”, pois o usuário está exposto a vários microorganismos concomitantemente. Assim, encontra-se a EI por germes de pele e germes não usuais; - S. Aureus 55 – 75%; - Estreptococos e Enterococos 30%; - BGN 8%; - Fungos 5%; - Normalmente esses pacientes são homem de 30 anos, 20% com lesões cardíacas prévias (febre reumática, endocardite prévia); - Valvas mais afetadas- tricúspide (54%), aórtica (25%) e mitral (20%); - Ainda, esses usuários possuem muitas pneumonias por complicações da endocardite. 5. EI em prótese Valvar - Contaminação da prótese no ato cirúrgico ou pelas bacteremias no pós operatório precoce (principal – estafilos); - Estafilococos epidermides (30-40%) e estafilococos aureus (10-20%); - BGN 10 – 15%; - Fungos/Estrepto/Enterococos 10– 20%; - Difteróides 5 – 10%; - Quanto mais tardia a infecção, os estreptococos e enterococos são mais encontrados, como nas valvas nativas. Patogenia A endocardite é uma patologia infecciosa caracterizada pela instalação de um patógeno em uma vegetação estéril que é formada em qualquer valva cardíaca. Essa vegetação é formada quando há um fluxo sanguíneo em alta velocidade, que passa de uma câmara de alta pressão para uma de baixa pressão, promovendo um turbilhonamento. Um exemplo disso é no prolapso de valva mitral (valva flexível).Sabemos que o sangue chegará ao átrio esquerdo e passará passivamente para o ventrículo esquerdo devido à diferença de pressão. Após isso, o ventrículo esquerdo se contrai para que esse fluxo seja levado para o restante do corpo. No prolapso de mitral, quando o VE se contrair a mitral não estará fechada de modo eficiente, o que provocará um turbilhonamento sanguíneo que é denominado Fator de Rodbard. O orifício pequeno por onde o sangue reflui é chamado de Vena contracta. A pressão constante em contato com a valva promove um desnudamento dela e agressão, ativando o sistema de coagulação e promovendo depósito de plaquetas e de fibrina em sua estrutura. Então, forma-se a vegetação estéril (porque não possui bactéria, ainda). Quando temos uma bacteremia (por processo odontológico, mastigação ou escovação), a bactéria é levada pelo fluxo sanguíneo até o coração e se fixa na vegetação devido ao turbilhonamento, levando ao quadro de endocardite infecciosa. Importante salientar que o exemplo citado foi o acometimento da valva mitral, mas, qualquer valva pode ser acometida. Assim como no prolapso de mitral, na Tetralogia de Fallot também há predisposição para esse tipo de situação devido à alteração estrutural. Além disso, a endocardite também pode acometer pacientes imunodeprimidos (usuário de drogas, idosos) e pacientes com prótese valvar. Complicações Ana Carolina Picanço - Destruição valvar, abcessos miocárdicos, destruição do sistema de condução, BAV; - Ruptura de cordoalhas tendíneas, necrose músculo papilar; - Fibrose, estenose, ICC. Quanto mais tempo de vegetação, mais problemas! Quadro Clínico O quadro clínico da endocardite infecciosa possui sintomas inespecíficos, principalmente a endocardite infecciosa subaguda (EIS), que é a que mais comum. Os sintomas mais comuns encontrados são: - Febre (80%), - Mal estar, - Emagrecimento, - Sudorese noturna, - Dispnéia. Os sinais mais frequentes: - Febre, - Sopro cardíaco, - Mudança do sopro (mau prognóstico), - Fenômeno embólico, - Esplenomegalia, - Manifestações cutâneas. Esses sinais e sintomas possuem origem de 3 aspectos: 1. Infecção sistêmica: alterações promovidas pelas citocinas e imunocomplexos produzidos em doenças de longa instalação (subaguda/crônica). Ex: Vasculites, glomerulopatia. 2. Lesão estrutural cardíaca/vascular: Com a bacteremia contínua pode haver descolamento da uma parte da vegetação, e essa, ao circular pode obstruir algum vaso importante. Ex: Embolia, aneurisma micótico (infeccioso). 3. Complexos imunocirculantes: Falou novamente sobre glomerulopatias, afirmou que maioria dos pcts com endocardite possuem fator reumatóide positivo, VHS altíssimo. Falou da protéina M, que é o mesmo processo. Há também as manifestações periféricas: - Baqueteamento Splinter (sangramento linear na unha) Isso ocorre, pq o oxigênio não consegue chegar tão bem nas extremidades; - Petéquias; - Nódulos de Osler (por deposição de imunocomplexos, muito dolorosos); - Manchas de Janeway (placas ou máculas hemorrágicas, palma da mão e pé); Ana Carolina Picanço - Manchas de Roth (infartos na retina). Diagnóstico diferencial 1. cardiológico - febre reumática; - mixoma; - embolia pulmonar; - dissecção aórtica (endocardite por estafilo). 2. não cardiológico - colagenoses; - infecções > meningite é um diagnóstico diferencial importante (prova!) - neoplasias Outros acometimentos - Pneumonia secundária: A endocardite se localiza em câmara cardíaca direita (valva pulmonar ou tricúspide - fala a favor de estafilo aureus). Normalmente quem tem muita pneumonia por endocardite são os usuários de droga ou pacientes que se submeteram a procedimentos hospitalares. - Abscesso cerebral por êmbolo metastático; - AVC, infartos em geral; - Formação de aneurisma micótico: Dilatação do vaso para “vencer” a resistência do trombo. Então, a Endocardite Infecciosa é uma doença rápida, com mudança nas manifestações clínicas e sinais em relação em questão de horas (2-3h), sendo que quando essas mudanças começam a aparecer é um sinal de pior prognóstico. Por exemplo, a alteração do sopro ou aparecimento de um novo sopro é indicativa de mau prognóstico e se esse paciente não for operado o mais rápido possível ele “vai morrer na sua frente”. Isso porque o ATB só vai começar a reduzir esses efeitos depois de pelo menos 3-4 dias. Para isso, a cirurgia cardíaca é IMPORTANTÍSSIMA! Cabe ao clínico e o cirurgião chegar a um consenso do que é melhor para esse paciente, uma válvula protética artificial ou uma válvula biológica (boi, porco) > menores complicações. Diagnóstico Para diagnóstico é preciso da história clínica do paciente, exame físico, exames laboratoriais e imagem e principalmente envolvimento e comprometimento do paciente. Paciente com febre a mais de 1 semana com sopro na ausculta cardíaca: 1. É usuário de drogas? Manchas de Splinter Manchas de Janeway Ana Carolina Picanço 2. Teve febre reumática na infância? Muito importante! Na maioria das vezes o pct não sabe o que é. Então, questionar o uso de Benzetacil contínuo na infância. 3. Paciente com quadro neurológico agudo? 4. Portador de prótese valvar? Laboratório - Anemia (geralmente normocítica e normocrômica); - Com ou sem leucocitose; - ↑PCR e ↑VHS (>50); - Fator reumatóide + em 50% dos casos; - EAS com proteinúria e hematúria (deposição de imunocomplexo, infarto renal); - Fator do complemento ↓ no glomerulonefrite aguda. Imagem - ECO (transesofágico ou transtorácico): observa-se a vegetação. - Usa-se o transesofágico para melhor visualização quando a vegetação é muito pequena. - Quando a vegetação é maior conseguimos visualizar por transtorácico. Hemocultura ATENÇÃO: Diferentemente da malária, na ENDOCARDITE não se deve fazer hemocultura na presença de febre. Isso porque as citocinas “matam” as bactérias. - Colher de no mínimo 2 sítios diferentes, com intervalos entre essas coletas (pode ser 1/dia), de preferência 3 locais e coletas! - Cuidar com o álcool; - Uso prévio de ATB (ideal é retirar os atb). CRITÉRIOS DE DUCK: 2 critérios maiores OU 1 maior + 3 menores OU 5 maiores. Importante! Critérios menores - Uso de drogas IV ou cardiopatia predisponente; - Febre maior ou igual a 38 graus; - Fenômenos vasculares; - Fenômenos imunológicos; - Evidência microbiológica de outro microorganismo que não seja evidência maior. OBS: Coxiella burnetti é o germe encontrado nas aves. Endocardite rara. Profilaxia Para TODOS os pacientes que possuem: alteraçõescardíacas valvares, sejam congênitas ou não, válvas protéticas e endocardite prévia > AMOXICILINA. Palitar , escovar, limpeza, mastigação, são fatores de risco! Todos os procedimentos em dentista podem causar Ana Carolina Picanço endocardite! Muito cuidado em pacientes com lesão valvar. Tratamento Geralmente começamos um esquema (Ceftriaxona + Gentamicina + Vancomicina) mais abrangente para pegar todos os tipos, depois vamos retirando aos poucos. S. viridans (coco Gram +) usar: Penicilina G, Amoxicilina, Ceftriaxona, Gentamicina + Penicilina (sinergismo). S.aureus, usar: Oxacilina + Rifampicina + Gentamicina. A rifampicina é muito usada para tratamento de biofilme, já que a Oxacilina não penetra muito bem. A gentamicina atua como sinergista juntamente com a Oxacilina. Pacientes alérgicos/resistentes a penicilina, optar: Vancomicina + Rifampicina + Gentamicina. - Alguns protocolos indicam que se inicie pensando em MRSA (até que a cultura chegue), pode-se usar a VANCOMICINA com a OXACILINA. Lembrar que germes sensíveis (S.aureus), a OXA é muito mais potente que a VANCO. Assim, quando a cultura chegar, se for uma bactéria resistente, deve-se retirar a OXA e manter-se a VANCO. Em contrapartida, se for uma bactéria sensível, retira-se a VANCO apenas. Sulfas pegam CA-MRSA (não é usado em âmbito hospitalar). Terapia empírica em prótese valvar precoce (< 2 meses): vancomicina + gentamicina + rifampicina + cefepime (pseudomonas) germes de pele, enterococcos, p.aeruginosa. Terapia empírica em prótese valvar tardia (>2 meses): VANCOMICINA + GENTAMICINA + RIFAMPICINA. Mesmos agentes da endocardite nativa (Streptococcus). No final ela perguntou se entendemos a diferença da endocardite aguda e subaguda (febre há 1 mês já). - Ela falou que o principal germe que faz a endocardite subaguda é o estreptococos viridans (orofaringe é o local mais comum). - O quadro agudo é muito comum em jovens usuários de droga. Ela falou da importância da cirurgia! Ana Carolina Picanço
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