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Artigo - Conexoes do Processo Civil com outros Direitos

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CONEXÕES DO PROCESSO CIVIL COM OUTROS DIREITOS 
 
Andressa Mara Prestes Barbosa 
 
RESUMO 
 
A influência do Direito Constitucional exige que a legislação 
infraconstitucional contenha normas e procedimentos capazes de efetivar o texto da 
Constituição, protegendo seus direitos e garantias fundamentais. O Código de 
Processo Civil de 2015 é considerado pioneiro na chamada “constitucionalização do 
processo civil”, sendo construído com base no artigo 5º, LIV da CF/88, norma que 
institui o Direito fundamental ao processo justo. A partir dessa regra primordial de 
interpretação à toda e qualquer lei processual no território nacional, o presente artigo 
pretende analisar as formas de emprego das normas fundamentais do Código de 
Processo Civil, bem como examinar a aplicação supletiva e subsidiária de suas 
disposições aos demais ramos do direito. 
 
Palavras-chave: Processo Civil – Direitos Fundamentais – Justo processo – aplicação subsidiária e 
supletiva do processo civil. 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO: DIREITO E SOCIEDADE 
 
 
O Direito, respondendo aos anseios de ordenação do meio social onde se 
insere, aloca-se ao lado da Moral para "eleger" critérios culturais como legalmente 
válidos, impondo normas e moldando comportamentos. E mais, além da elaboração 
de preceitos que visem harmonizar as relações entre os indivíduos, ele é 
responsável igualmente pela criação de regras sancionatórias que serão aplicadas 
àqueles indivíduos que não se adaptam à conduta socialmente/legalmente aceita. 
Tais conflitos poderão ser resolvidos diretamente entre os interessados (de 
acordo com diversas possibilidades de autocomposição), ou por meio de decisão de 
terceiro, alheio à lide (heterocomposição), de acordo com os interesses dos 
 
 
envolvidos e das características da sociedade na qual estão insertos. A Jurisdição, a 
partir do século XIV, ganha contornos semelhantes aos que conhecemos hoje, 
tornando-se forma preponderante na solução de litígios em quase todos os países 
do mundo. O Estado, no início das sociedades inexistente, evoluiu ao longo da 
história de uma compleição fraca à uma crescente tomada de poder. Na acepção de 
MORAIS (1999, p. 118): 
 
[...] no momento que as relações sociais vão se sofisticando, em particular no 
interior do Estado Moderno de feitio liberal, o Estado passa a chamar para si o 
monopólio da Jurisdição, afastando na mesma medida a justiça privada, meio apto 
até então para a execução do direito ou interesse lesado. 
 
O Estado agrega para a si a função de criar normas primárias (preceitos de 
conduta) e secundárias (sancionatórias). A Jurisdição, neste contexto, diz respeito 
ao poder-dever que o Estado possui de formular normas que se apliquem aos casos 
concretos apresentados, obtendo uma solução justa à lide. O processo, desta forma, 
aponta como "o instrumento de que se utiliza o Estado para, no exercício da função 
jurisdicional, resolver os conflitos de interesses apresentados pelas partes" (PINHO, 
2012. p. 47). Este poder-dever estatal divide-se em três subgêneros: a decisão do 
Juiz por meio da livre apreciação das provas apresentadas nos autos, a 
possibilidade do Estado, de modo coercitivo, fazer cumprir a decisão tomada e, por 
fim, o registro dos atos processuais. 
Na definição de MARINONI e MITIDIERO (2014. p. 95): 
 
Jurisdição é o poder do Estado de aplicar e realizar o direito de maneira 
autoritativa mediante atuação de um terceiro imparcial com irreversibilidade 
externa de seus provimentos. No Estado Constitucional, essa atividade deve ser 
levada a efeito na dimensão da Constituição, sem descuidar da eficácia direta dos 
direitos fundamentais materiais e processuais sobre o problema debatido em juízo 
e da possibilidade das leis e dos atos normativos em geral pelo Poder Judiciário, 
tendo por objetivo realizar a justiça do caso concreto. 
 
No Brasil, seguindo o modelo tradicional inglês, tem-se a previsão 
constitucional do sistema de jurisdição una ou de controle judicial, no qual apenas o 
Estado possui o poder para declarar o direito por meio de decisões definitivas (coisa 
julgada). O que se divide, portanto, é a competência (capacidade), e não a 
Jurisdição em si (poder). Por conseguinte, a atividade jurisdicional (competência) é 
subdividida em diversos ramos, conforme a necessidade de especificação, como por 
 
 
exemplo: jurisdição penal e civil; justiça especial e comum ou as instâncias que 
correspondem ao duplo grau de jurisdição. Os atos da Administração Pública são 
controlados por meio do Judiciário, como forma de resguardar o ordenamento 
jurídico e proteger os direitos individuais e coletivos da sociedade. 
Conforme as injustiças acentuam-se e a tarefa do Estado em resolver os 
litígios a ele apresentados não mais corresponde aos anseios da população, novas 
formas procedimentais passam a ser buscadas. A "Reforma do Poder Judiciário”, tão 
debatida e ambicionada nos círculos de estudos jurídicos e produção legislativa, é 
pautada, mormente, no movimento de acesso à justiça. Movimento tal que, em 
busca de maior efetividade da Justiça, dá origem a três fases/ondas de 
questionamento (MORAIS, 1999. p. 81 - 97 passim): 
1) Acesso aos Hipossuficientes: O processo, visto não apenas como um meio 
para solucionar formalmente a litigância, mas como ferramenta capaz de concretizar 
o ideal da pacificação social, não pode servir apenas àqueles que possuem 
capacidade econômica e cultural. A efetividade da assistência jurídica integral e 
gratuita preconizada no bojo da Constituição Federal, em seu art. 5º, LXXIV, não 
deve restringir-se ao não pagamento de custas e honorários advocatícios, mas 
principalmente à supressão do abismo cultural que infelizmente torna inertes muitas 
pessoas diante de direitos certos. O acesso à justiça, neste ponto, significa 
proporcionar o nível adequado de informações quanto aos direitos da população, 
dirimindo dúvidas, evitando lesões provocadas pela má-fé e promovendo inclusão 
daqueles que não possuem os meios necessários de reconhecer os próprios 
direitos. 
2) Representação de novos interesses: abandonar conceitos pré-
estabelecidos sobre a aplicação de justiça em casos já sedimentados e procurar 
novas formas de trazer paz ao meio social ante o afluxo de novas tendências. Seja 
por meio da resolução de casos de direitos transindividuais ou da criação de novos 
paradigmas, o direito e seus operadores devem estar preparados para a adaptação 
conforme as necessidades da população. 
3) Novo enfoque do acesso à justiça, com a simplificação dos procedimentos 
atuais; criação de alternativas à Jurisdição; especialização das instituições e 
 
 
procedimentos; uso de agentes "parajurídicos" e formação de seguros e convênios 
que deem garantias às ações futuras, entro outros. 
Urge o clamor social para que os meios de solução de litígios, hoje 
monopolizados nas mãos de um Estado assoberbado de demandas às quais não 
provê justa e célere saída, tornem-se mais adequados e efetivos. Não a substituição 
completa dos preceitos já estabelecidos, mas sim, sua complementação com 
instrumentos mais efetivos e adequados aos casos concretos atualmente 
apresentados. Humberto Dalla Bernardina de Pinho, já advertia que (2012. p. 52): 
 
Por assim dizer, se o direito é necessário para regulamentar a vida em sociedade 
e se é certo que esta sociedade está em permanente evolução, a ciência jurídica 
encontra-se, inexoravelmente, diante do seguinte dilema: ou acompanha a 
evolução, fornecendo as soluções adequadas e necessárias a se manter a ordem 
no Estado Democrático de Direito, evitando de um lado o autoritarismo e de outro 
a anarquia; ou torna-se obsoleta e desprovida de qualquer serventia, o que 
acarretará sua mais perfeita falta de efetividade. 
[...] não fica difícil perceber a grande importância de um estudo mais aprofundado 
do direito processual, o que, indubitavelmente, só pode ser feito dentro de umaperspectiva voltada ao acesso à Justiça. 
Entretanto, tal estudo torna-se ainda mais específico, na medida em que o referido 
acesso à Justiça deve ser garantido numa ordem civil constitucional, e não apenas 
nas demandas individuais, mas também, e principalmente, nas coletivas, pois 
nestas residem as grandes carência e necessidades da sociedade de massa. 
 
Concomitantemente ao movimento que fomentou a Reforma do Código de 
Processo Civil de 2015, tem-se, nos últimos anos, a busca pela legitimação de 
meios alternativos de acesso à Justiça Pública. A cultura do litígio está de tal forma 
impregnada em nossa sociedade contemporânea que a quebra deste paradigma, 
mesmo que em prol de garantir maior efetividade à prestação jurisdicional do 
Estado, ainda apresenta críticas daqueles que julgam esta mudança desnecessária 
(CAHALI, 2014. p. 27). Os mecanismos alternativos (mediação, arbitragem, 
negociação e conciliação), não objetam a evolução do sistema tradicional, pelo 
contrário, permitem que o Judiciário se concentre nas causas que versam sobre 
direitos indisponíveis ou eivados de subjetividade e complexidade que justifiquem a 
composição da lide. 
Com a sanção do Código de Processo Civil 2015, logo nos artigos 3º e 4º, 
percebe-se a inclinação legislativa na busca da satisfação das partes por meio da 
forma mais adequada ao caso concreto, reflexo, sobretudo, dos movimentos sociais 
 
 
e constitucionais, impactando diretamente neste, que é o primeiro Código de 
Processo Civil (CPC) redigido sob a égide de um regime democrático. 
Todavia, independente das reformas que estejam sendo arquitetadas para 
solucionar o problema do atual reduzido acesso à justiça, é preciso estar atento à 
crítica feita por Morais (1999, p. 97), no sentido de que "as reformas pontuais 
produzidas não excluem e não substituem as reformas sociais e políticas, sendo 
mesmo inúteis em ambientes sociais profundamente injustos". 
 
1) DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS COMO ALICERCES JURÍDICOS 
 
Os doutrinadores ainda divergem em relação a origem positivada dos direitos 
fundamentais, alguns apontam para a Declaração de Direitos dos Povos da Virgínia, 
de 1776, outros para a Declaração Francesa de 1789. Todavia, a supremacia 
normativa alcançada pela transição entre os direitos de liberdade legais para os 
direitos fundamentais constitucionalmente regulamentados só foi obtida por meio 
das primeiras emendas incorporadas à Constituição norte-americana em 1791. 
Em um primeiro momento associados à separação entre o Estado e a 
sociedade no período pós-absolutista, os direitos fundamentais foram caracterizados 
pelos desejos da burguesia (direitos de liberdade e proteção da propriedade), 
traduzindo a afirmação de um espaço privado vital não sujeito a violações pelo 
Estado. Neste contexto o Estado deveria apenas, e tão somente, cumprir o papel de 
evitar conflitos entre liberdades individuais. Após a primeira guerra mundial o 
fomento ao contexto político de universalização dos direitos naturais levou, entre 
outros fatores históricos relevantes, ao surgimento do chamado Estado Social. Esse 
novo modelo estatal dá ensejo á coletivização e ao posicionamento prestacional do 
estado, surgindo assim os direitos de segunda geração, conhecidos como direitos 
sociais. Paulatinamente noções como solidariedade, universalidade e paz mundial 
deram origem às demais gerações dos direitos fundamentais. Conforme elucida 
Gustavo Osna (2014. p. 59): 
 
Com o incremento de reconhecimento dos sentidos de fraternidade e 
solidariedade especialmente no período pós Segunda Guerra, entretanto, a visão 
do operador do direito foi alargada, compreendendo que há interesses cuja 
titularidade não pode ser individualmente expressa ou reduzida. Tais interesses 
 
 
pertenceriam a grupos ou a própria coletividade, e a sua salvaguarda não 
constituiria mecanismos de proteção de um único sujeito, mas de satisfação de 
anseios metaindividuais. [...] Sua titularidade, por óbvio, não pertence a indivíduos 
determinados, não sendo factível que sua proteção seja objeto de divisão ou de 
livre disposição. Porém, o novo traçado dos direitos fundamentais materiais 
observou que o fato de o direito isoladamente a ninguém pertencer não acarreta 
na consequência de não ser essencial a qualquer indivíduo. Sua importância teria 
lugar perante toda a comunidade, de modo que sua proteção, longe de capricho, 
representaria medida inarredável. 
 
Mesmo que a proteção dos direitos à propriedade e à liberdade individual 
tenham recebido destaque no século XVIII, a separação entre direito material e 
direito processual é conceito recente, concebido tão somente no século XIX. A visão 
“plana do direito material”, nas palavras de Gustavo Henrique Schneider Nunes 
(2010, p. 63), pode ser traduzida como: 
 
A ação era conceituada como o resultado da lesão ao direito subjetivo, a jurisdição 
como sistema para promoção da tutela dos direitos e o processo como sistema 
voltado para a promoção da tutela aos direitos e o processo como uma mera 
sucessão de atos previamente definidos (procedimento). A ação, dessa forma, era 
incluída no sistema de exercício de direitos, e o processo era considerado como 
um conjunto de formas apto para esse exercício, sob a condução pouco 
participativa – para não se dizer quase passiva do Juiz. 
 
Apenas no Século XIX a “ação”, que até o momento ainda estava revestida 
com o conceito civilista herdado do Direito Romano, passou a ser interpretada de 
maneira autônoma, relacionada não mais ao bem litigioso em si, mas à prestação 
jurisdicional realizada pelo Juiz, “implicando o surgimento de uma ciência dotada de 
objeto e métodos próprios. Portanto, o direito de ação passou a não ter mais 
nenhuma relação com o direito material, consistindo-se fim em si mesmo” (NUNES, 
2010. p. 64). 
Todavia, esta autonomia recém-instaurada passou a impor ao direito 
processual normas gerais e abstratas, menos relacionadas com os aspetos culturais 
da sociedade na qual estava inserido, e mais com o racionalismo diante da 
aplicação das leis. Tal interpretação restritivamente matemática do direito processual 
estava fadada ao fracasso, visto que ignorou o fato do direito material anteceder a 
relação processual. NUNES explica que: 
 
Com o evoluir das relações sociais houve certo abrandamento dos ideais 
formadores da autonomia processual, a fim de colocar à disposição do 
jurisdicionado, em algumas hipóteses expressamente excepcionadas, 
 
 
instrumentos capazes de garantir a efetivação da tutela preventiva e a realização 
concreta do direito material, ou seja, mecanismos legais capazes de impedir que a 
ameaça do direito venha a se tornar lesão e de impedir que a prestação 
jurisdicional não se apresente inócua. (2010. p. 67). 
 
Somente após a superação dessa visão eminentemente racional e positivista 
que a Jurisdição pôde se adequar à proteção e realização dos direitos fundamentais 
por meio do devido processo legal. A chamada constitucionalização do processo civil 
remonta “a primeira metade do século passado, em países europeus que outrora 
foram submetidos a regimes autoritários, houve a preocupação em se 
constitucionalizar as garantias e os direitos fundamentais mínimos do processo” 
(NUNES, 2010. p. 112). No Brasil, todavia, a constitucionalização destes direitos 
apenas foi retomada de maneira efetiva com o encerramento do regime ditatorial em 
1988, e a consolidação do Regime Democrático ao país. 
 
A previsão dos direitos fundamentais é feita na Constituição e a sua teoria deve 
ser entendida como verdadeira teoria de princípios. A fundamentalidade desses 
direitos aufere natureza principiológica. O direito à igualdade, por exemplo, que 
detém prioridade prima facie, é entendido como um princípio, passível de ser 
valorado no momento de sua aplicação em determinado caso concreto. 
[...] 
De qualquer sorte, o critério que realmente importapara a caracterização de um 
direito fundamental é o referente à análise de seu conteúdo, porque, se de um 
direito decorre a exigibilidade da dignidade humana, por exemplo, será ele 
fundamental e tido como “cláusula superconstitucional” (NUNES, 2010. p. 81 e 
82). 
 
O ordenamento jurídico nacional foi construído pautado na tutela dos 
interesses individuais, ou seja, os instrumentos processuais aplicáveis à Jurisdição 
foram construídos para atingir o escopo dos litígios exclusivamente intersubjetivos. 
Entretanto, e de modo relativamente recente, o reconhecimento de uma espécie de 
direitos distinta começou a ser discutida. A previsão dos chamados direitos 
metaindividuais (transindividuais, supraindividuais ou superindividuais), 
transcendentes a indivíduos isoladamente averiguados, tornou imprescindível a 
adequação da prestação jurisdicional, dando vazão ao crescente número de 
demandas envolvendo a coletividade. Gustavo Osna (2014. p. 60) explica que: 
 
Esta constatação de que nem todo interesse importaria em um direito subjetivo 
individualmente titularizado, entretanto, evidencia a existência de direitos 
incompatíveis com o processo civil então vigente, exigindo que para atuar nesta 
área a disciplina rompesse com alguns de seus dogmas e majorasse seus 
alcances e suas possibilidades. O debate que aqui se coloca é francamente 
 
 
condizente com aquele posto na parte inicial do presente estudo: cotejar a 
proteção jurisdicional dos direitos de “terceira dimensão” é trazer um 
redimensionamento das finalidades do direito processual, demandando 
adaptações estruturais para suprir sua insuficiência. 
 
Os direitos metaindividuais (ou coletivos em sentido amplo) se subdividem em 
coletivos em sentido estrito, direitos difusos e individuais homogêneos, e somente 
passaram a ser adequadamente normatizados com a Constituição Federal de 1988, 
tanto aqueles de natureza material (proteção do patrimônio cultural, defesa do meio 
ambiente, entre outros), quanto os processuais (Mandado de Segurança Coletivo, 
Ação Popular, legitimação de sindicatos e entidades associativas para representar 
os interessados em ações coletivas próprias), o que implica dizer que: 
 
O fato de o Direito Coletivo pertencer, no Brasil, à teoria dos direitos 
constitucionais fundamentais, impõe que se imprima à expressão uma leitura 
aberta e ampliativa, própria da interpretação dos direitos constitucionais 
fundamentais do pós-positivismo. Destarte, a cláusula constitucional Direito 
Coletivo (Título II, capítulo I, da CF/88) abrange os direitos e interesses difusos, os 
direitos e interesses coletivos, em sentido restrito, e os direitos e interesses 
individuais homogêneos, integrando também, em um plano geral e abstrato, o 
conjunto de garantias, regras e princípios que compõem o Direito Coletivo 
positivado no País, bem como, e especialmente, a Constituição, cuja proteção, em 
abstrato e na forma concentrada, é uma exigência do constitucionalismo brasileiro 
e se legitima por um inquestionável interesse coletivo objetivo legítimo (ALMEIDA; 
MELLO NETO, 2011. p. 81.). 
 
A possibilidade de ingresso de ações coletivas, seja por grupos conexos, 
classes ou categorias profissionais, promove inúmeros benefícios, tanto para as 
partes quanto ao Judiciário: menor número de ações, celeridade, redução de custos 
operacionais (honorários, custas, deslocamento de advogados, prepostos e partes), 
valorização de questões que, ao serem analisadas de forma individual tornar-se-iam 
irrelevantes, além da isonomia no julgamento e tratamento. Estes são os objetivos 
almejados por aqueles que criticam o modelo jurisdicional vigente, formas de 
respostas às crises da Jurisdição alcançadas por meio do movimento do "Acesso à 
Justiça". 
Com o Código de Processo Civil de 2015 muita expectativa foi criada em 
relação à correta regulamentação e ao destaque direcionado aos dissídios coletivos. 
Alguns artigos efetivamente direcionaram a possibilidade de defesa desta classe de 
direitos, como por exemplo: “Art. 185. A Defensoria Pública exercerá a orientação 
 
 
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e 
coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita”. 
Entretanto, o artigo com maior ousadia processual, dispondo sobre a 
possibilidade de conversão da ação individual em ação coletiva, quando cumpridos 
os requisitos legais e presentes os pressupostos de "relevância social e dificuldade 
na formação de litisconsórcio", foi vetado a pedido da Advocacia Geral da União, sob 
a seguinte fundamentação: 
 
Da forma como foi redigido, o dispositivo poderia levar à conversão de ação 
individual em ação coletiva de maneira pouco criteriosa, inclusive em detrimento 
do interesse das partes. O tema exige disciplina própria para garantir a plena 
eficácia do instituto. Além disso, o novo Código já contempla mecanismos para 
tratar demandas repetitivas. No sentido do veto manifestou-se também a Ordem 
dos Advogados do Brasil – OAB. 
 
A instrumentalidade presente no Estado Social reveste o processo com a 
finalidade de pacificação, por meio de uma ordem jurídica justa, adaptável às 
mudanças sociais, de modo que se espera que o sistema jurídico englobe a 
necessidade de tutela dos direitos metaindividuais, tornando sua aplicação viável. A 
superação da ideologia individualista exige a normatização não apenas das regras 
de direito material, mas, sobretudo da construção de mecanismos processuais que 
possam tornar exequíveis tais direitos. 
 
Se a construção instrumental previamente realizada demonstra uma expansão no 
rol de direitos merecedores de atenção jurisdicional, passando a incorporar e 
oferecer qualidade jurídica também a interesses cuja titularidade não é 
disponibilizada por um ou alguns indivíduos, foi para englobar esta nova realidade 
que o legislador instituiu os conceitos de “direitos coletivos” e “direitos difusos”. 
(OSNA, 2014. p. 68) 
 
Após a Constituição Federal de 1988 diversos instrumentos buscaram traduzir 
a valorização dos direitos coletivos almejada pelo legislador constituinte: o Código 
de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990), a Lei do Mandado de Segurança (Lei 
12.016/2009), o Código de Processo Civil de 2015, e demais disposições em 
legislação infraconstitucional. 
 
2) NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 
 
 
 
A promulgação da Constituição Federal em 1988 influenciou de sobremaneira 
a redação do Código de Processo Civil de 2015, moldando o conteúdo processual 
conforme a interpretação e aplicação das normas constitucionais, buscando maior 
efetivação da justiça e dos direitos fundamentais. ARENHART, MARINONI e 
MITIDIERO (2015, p. 485 e 486) esclarecem que: 
 
O processo não pode mais ser visto como uma relação jurídica processual. Aliás, 
não importa nem mesmo saber se realmente existe uma relação jurídica 
processual. É que a sua existência revelaria apenas o aspecto interno do 
processo, dando ainda a equivocada ideia de que o processo seria algo 
simplesmente estático, quando o que importe diante do estágio que o direito 
processual atingiu no Estado Constitucional é sublinhar não só o seu interno, mas 
a sua percepção sob um ângulo externo, compreendido no quadro maior das 
funções de tutela aos direito do Estado, realçando-se ainda o seu perfil dinâmico, 
inerente à temporalidade que caracteriza o conceito de processo e procedimento. 
[...] É indiscutível que a jurisdição, por constituir manifestação do poder estatal, 
deve revelar os fins do Estado constitucional. Portanto, se a jurisdição atua por 
meio do processo, não há como negar a importância dos fins do processo. Alguém 
diria que, nesse caso, não se estaria falando dos fins do processo, mas sim dos 
fins da jurisdição. 
 
A influência do Direito Constitucional fez com que o processo civil passasse 
não apenas a conter mecanismos capazes de efetivar o texto da Constituição,mas 
também a citá-la expressamente por meio de normas fundamentais de interpretação 
diante dos casos concretos. Conforme o artigo 5º, inciso LIV da CF/88: “Ninguém 
será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Tal norma 
institui o Direito fundamental ao processo justo, regra primordial para 
interpretação de toda e qualquer lei processual no território nacional. Conforme 
MARINONI, MITIDIERO E SARLET (2015. p. 730 e 731) explicam: 
 
O direito ao processo justo constitui princípio fundamental para organização do 
processo no Estado Constitucional. É o modelo mínimo de atuação processual do 
Estado e mesmo de particulares em determinadas situações substanciais. A sua 
observação é condição necessária e indispensável para obtenção de decisões 
justas. [...] O direito ao processo justo é um direito de natureza processual. Ele 
impõe deveres organizacionais ao Estado e na sua função legislativa, judiciária e 
executiva. É por essa razão que se enquadra dentro da categoria dos direitos à 
organização de ao procedimento. A legislação infraconstitucional constitui um 
meio de densificação do direito ao processo justo pelo legislador. É a forma pela 
qual esse cumpre com o seu dever de organizar um processo idôneo à tutela dos 
direitos. As leis processuais não são nada mais, nada menos do que 
concretizações do direito ao processo justo. [...] o Estado Constitucional tem o 
dever de tutelar de forma efetiva os direitos. Se essa proteção depende do 
processo, ela só pode ocorrer mediante processo justo. No Estado Constitucional, 
 
 
o processo só pode ser compreendido como o meio pelo qual se tutelam os 
direitos na dimensão da Constituição. 
 
O Livro I da parte geral do CPC de 2015 é denominado “Das Normas 
Processuais Civis”, tendo como Título Único: “Das Normas Fundamentais e da 
Aplicação das Normas Processuais Civis”. O capítulo I, referente às Normas 
Fundamentais do Processo Civil, conta com 12 artigos em um rol exemplificativo, e 
deixa explícito logo em seu artigo 1º de que maneira todo o Código deverá ser 
interpretado, ao preceituar que: “O processo civil será ordenado, disciplinado e 
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidas na 
Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste 
Código”. É nítido que o legislador pretendeu reiterar as normas presentes na 
Constituição, dando amparo ao conceito de direito processual constitucional, 
pautado no devido processo legal. Conforme elucidam os professores CAMBI, 
DOTTI, KOZIKOSKI, MARTINS E PINHEIRO (2017, p. 61): 
 
O Código de Processo Civil adota um modelo de processo profundamente ligado 
aos valores e às garantias constitucionais. Isso significa que todos os princípios 
constitucionais devem ser utilizados para a correta interpretação e aplicação das 
normas processuais. Estas devem ser lidas e compreendidas a partir daqueles. 
Em outras palavras, não é a lei que deve assegurar a incidência do princípio, mas 
este que permite a leitura adequada da lei. Nesse contexto, as normas 
fundamentais constituem a reiteração das principais garantias constitucionais 
aplicáveis ao Processo Civil. 
 
O 2º artigo do CPC dispõe que “O Processo começa por iniciativa da parte e 
se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”. Ficam aqui 
consagrados, portanto, tanto o princípio da ação, ou princípio dispositivo; quanto o 
princípio da inércia, direcionado ao Poder Judiciário. Entre as exceções que podem 
ser apontadas a essa regra geral, cita-se como exemplo a instauração do incidente 
de resolução de demandas repetitivas (art. 977 do CPC), o qual pode ser solicitado 
pelo Juiz ou Relator de Ofício ou através de petição elaborada pelas partes, pelo 
Ministério Público ou pela Defensoria Pública. 
O Direito fundamental à inafastabilidade da Jurisdição, ou à tutela 
adequada e efetiva, encontra previsão no artigo 3º do CPC, remetendo diretamente 
ao disposto no artigo 5º, XXXV da CF/1988, conforme: 
 
CPC/2015 - Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a 
direito. 
 
 
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos 
conflitos. 
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de 
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e 
membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. 
 
CF/1988 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a 
direito. 
 
O direito à tutela jurisdicional adequada e efetiva, na definição de MARINONI, 
MITIDIERO e SARLET (2015, p. 742): 
 
[...] deve ser analisado no mínimo sob três perspectivas: (i) do acesso à justiça; (ii) 
da adequação da tutela; e (iii) da efetividade da tutela. Note-se que o art. 5º, XXXV 
da CF, posto que descenda nitidamente dos arts. 141, §4º, da CF/1946, e 153, 
§4º, da CF/1967, tem âmbito de proteção com espectro muito mais largo que os 
seus antecessores. 
O acesso à justiça diz respeito à amplitude da prestação da tutela jurisdicional, ao 
momento em que pode ser proposta a ação e ao custo financeiro do processo. 
A tutela jurisdicional tem que ser adequada para tutela dos direitos. O processo 
tem de ser capaz de promover a realização do direito material. O meio tem que de 
ser idôneo à promoção do fim. A adequação da tutela revela a necessidade de 
análise do direito material posto em causa para se estruturar, a partir daí, um 
processo dotado de técnicas processuais aderentes à situação levada a juízo. A 
igualdade material entre as pessoas – e entre as situações substanciais carentes 
de tutela por elas titularizadas – só pode ser alcançada na medida em que se 
possibilite a tutela jurisdicional diferenciada aos direitos. 
 
Além disso, o artigo 3º, em seus três parágrafos, ressalta a importância dos 
métodos alternativos de resolução dos conflitos, deixando claro que sempre que 
possível, a solução consensual deverá ser priorizada. A doutrina nomeia essa 
abertura de “modelo multiportas”, no qual a judicialização dos conflitos deixa de ser 
o único acesso possível à Justiça, ou à resolução justa do caso concreto. 
O artigo 4º do CPC traduz o Direito Fundamental à duração razoável do 
processo, em nítida referência ao disposto no artigo 5º, LXXVIII da Constituição 
Federal, deixando claro que a duração do processo de modo razoável deve 
contemplar a solução integral do mérito, incluindo a atividade satisfativa. 
 
CPC/2015 - Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução 
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. 
 
CF/1988 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
 
 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável 
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua 
tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 
 
A duração razoável do processo, como cláusula geral a ser aplicada em todo 
o processo civil: 
 
[...] prevê no seu suporte fático termo indeterminado - duração razoável -, e não 
comina consequências jurídicas ao seu não atendimento. Seu conteúdo mínimo 
está em determinar: (i) ao legislador, a adoção de técnicas processuais que 
viabilizem a prestação da tutela jurisdicional aos direitos em prazo razoável (por 
exemplo, previsão da tutela definitiva da parcela incontroversa da demanda no 
curso do processo), a ediçãode legislação que reprima o comportamento 
inadequado das partes em juízo (litigância de má-fé e comtempt of court) e 
regulamente minimamente a responsabilidade civil do Estado por duração não 
razoável do processo; (ii) ao administrador judiciário, a adoção de técnicas 
gerenciais capazes de viabilizar o adequado fluxo dos atos processuais, bem 
como organizar os órgãos judiciários de forma idônea (número de juízes e 
funcionários, infraestrutura e meios tecnológicos); e (iii) ao juiz, a condução do 
processo de modo a prestar a tutela jurisdicional em prazo razoável. (MARINONI, 
MITIDIERO, SARLET, 2015. p. 790). 
 
A Norma fundamental da Boa Fé objetiva encontra fundamento direto no 
artigo 5º do CPC, conforme: “Aquele que de qualquer forma participa do processo 
deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. De acordo com entendimento do 
Superior Tribunal de Justiça: “O princípio da boa-fé processual impõe aos envolvidos 
na relação jurídica processual deveres de conduta, relacionados à noção de ordem 
pública e à de função social de qualquer bem ou atividade jurídica” (STJ, 3ª Turma, 
RHC 99.606/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018, publicado em 
20/11/2018). 
Esse dever de lealdade e boa-fé objetiva implica não apenas em uma exigência de 
conduta positiva, como veda igualmente a omissão maliciosa. Não se trata apenas 
de exigir que as partes atuem com base na verdade dos fatos, mas também que 
não violem o dever se não se omitir. O silencio, se utilizado com o intuito de omitir 
eventuais nulidades para apresentá-las em momento futuro, também contraria a 
boa-fé objetiva. (CAMBI, DOTTI, KOZIKOSKI, MARTINS E PINHEIRO, 2017. p. 
68). 
 
O artigo 6º do CPC, ao determinar que: “Todos os sujeitos do processo 
devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito 
justa e efetiva”, remete ao Direito fundamental à cooperação. É entendimento 
jurisprudencial que: 
 
 
 
O princípio da cooperação é desdobramento do princípio da boa-fé processual, 
que consagrou a superação do modelo adversarial vigente no modelo do anterior 
CPC, impondo aos litigantes e ao juiz a busca da solução integral, harmônica, 
pacífica e que melhor atenda aos interesses dos litigantes. (STJ, 3ª Turma, RHC 
99.606/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018, publicado em 
20/11/2018) 
 
Os professores MARINONI, MITIDIERO e SARLET (2015, p. 740) explicam 
que a colaboração, enquanto princípio jurídico, impõe um “estado de coisas que tem 
de ser promovido”, conforme: 
 
O princípio da colaboração está em servir de elemento para a organização de 
processo justo idôneo a alcançar a decisão justa. Para que o processo seja 
organizado de forma justa, os seus participantes devem ter posições jurídicas 
equilibradas ao longo do procedimento. Portanto, é preciso perceber que a 
organização do processo cooperativo envolve – antes de qualquer coisa – a 
necessidade de um novo dimensionamento de poderes no processo, o que implica 
a necessidade de revisão da cota de participação que se defere a cada um de 
seus participantes ao longo do arco processual. Em outras palavras: a 
colaboração visa a organizar a participação do juiz e das partes no processo de 
forma equilibrada. 
A colaboração estrutura-se a partir da previsão de regras que devem ser seguidas 
pelo juiz na condução do processo. O juiz tem os deveres de esclarecimento, de 
diálogo, de prevenção e de auxílio para com os litigantes. É assim que funciona a 
cooperação. Esses deveres consubstanciam as regras que estão sendo 
enunciadas quando se fala em colaboração no processo. A doutrina é tranquila a 
respeito do assunto. 
O dever de esclarecimento constitui “o dever de o tribunal se esclarecer junto das 
partes quanto às dúvidas que tenham sobre as suas alegações, pedidos ou 
posições em juízo”. O de prevenção, o dever de o órgão jurisdicional prevenir as 
partes do perigo de seus pedidos “ser frustrado pelo uso inadequado do 
processo”. O de consulta, o dever se o órgão judicial consultar as partes antes de 
decidir sobre qualquer questão, possibilitando antes que essas o influenciem a 
respeito do rumo a ser dado à causa. O dever de auxílio, “o dever de auxiliar as 
partes na superação de eventuais dificuldades que impeçam o exercício de 
direitos ou faculdades ou o cumprimento de ônus ou deveres processuais”. 
O artigo 7º, por sua vez, pode ser traduzido não apenas como o princípio da 
paridade e da igualdade processual, mas também ressalta a importância do 
contraditório e da ampla defesa dentro aplicação das regras e sanções processuais. 
CPC/ 2015 - Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao 
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, 
aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo 
efetivo contraditório. 
 
CF/ 1988 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta 
Constituição. 
 
 
 
Não se pode pensar em processo, diante do contexto do Estado 
Constitucional, sem falar sobre igualdade, sem o respeito aos direitos e a divisão 
dos ônus apresentados. É por meio da simetria de oportunidades, ou seja, da 
igualdade de ferramentas à disposição de ambas as partes, que as alegações serão 
demonstradas e a decisão será fundamentada. MARINONI, MITIDIERO E SARLET 
(2015, p. 753) explicam que: 
 
A igualdade no processo tem que ser analisada sob suas perspectivas distintas. 
Na primeira, importa ter presente a distinção entre igualdade perante à legislação 
(igualdade formal), e igualdade na legislação (igualdade material). Na segunda, é 
preciso ressaltar a diferença entre igualdade no processo e igualdade pelo 
processo – igualdade diante do resultado da aplicação da legislação no processo. 
A igualdade perante a legislação determina a aplicação uniforma da lei processual. 
O juiz tem o dever de aplicar a legislação de modo igualitário. É seu dever dirigir o 
processo e velar pela igualdade das partes (art. 125, I, do CPC). A propósito, 
“prover à regularidade do processo” (art. 253 do CPC) implica velar pela aplicação 
da legislação de modo igualitário. 
A igualdade na legislação pressupõe a inexistência de distinções arbitrárias no seu 
conteúdo. A distinção tem que ser feita de forma racional pelo legislador. É claro 
que a igualdade “não consiste em um tratamento igual sem distinção de todos em 
todas as suas relações”, já que “senão aquilo que é igual deve ser tratado 
igualmente”. O problema da igualdade na legislação, portanto, está na utilização 
de critérios legítimos para distinção entre pessoas e situações no processo. É 
vedada, em outras palavras, a existência de “distinções arbitrárias” na legislação, 
isto é, realização sem finalidade legítima. 
 
Além disso, a atividade jurisdicional exercida pelo Juiz deve ser aplicada 
objetivando os fins sociais e a dignidade da pessoa humana. O Artigo 8º do CPC é 
considerado o mais controverso dentro das normas fundamentais, por fazer 
remissão direta a tipos abertos que dão ampla margem interpretativa: 
 
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às 
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa 
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a 
publicidade e a eficiência. 
 
Quando se exige atenção aos fins sociais e a dignidade da pessoa, ou se 
impõe limites com base na proporcionalidade ou razoabilidade, deixa-se abertura 
para a discricionariedade do Juiz, autorizando uma aplicação demasiada subjetiva 
das normas processuais. Tal abertura pode ser prejudicial a um sistema que busca a 
segurança jurídica e a isonomia processual. 
 
 
Sob outroprisma, o artigo oitavo também remete à normas do direito 
administrativo brasileiro, como a legalidade, publicidade e eficiência. A função 
jurisdicional nada mais é que uma função pública, sujeita, portanto, aos princípios 
que regem a Administração Pública. Esses parâmetros são os responsáveis por 
frear a subjetividade do Juiz diante do caso concreto, consagrando o princípio 
basilar do devido processo legal. Garantia essa complementada por meio do 
disposto no artigo 9º do CPC: 
 
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja 
previamente ouvida. 
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: 
I - à tutela provisória de urgência; 
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; 
III - à decisão prevista no art. 701. 
 
As garantias ao contraditório e à ampla defesa estão diretamente 
conectadas ao princípio da cooperação entre as partes, oportunizando que ambas 
se manifestem previamente a uma decisão, tutelando a segurança jurídica perante 
os atos judiciais. E mais: é um direito que submete não apenas as partes, mas 
também ao Juiz, traduzindo-se na garantia de pleno conhecimento do processo 
dado às partes, possibilitando sua reação, evitando surpresas e garantindo sua 
influência nas decisões. 
 
Em geral, do ponto de vista do seu conteúdo, o direito ao contraditório é 
identificado com a simples bilateralidade da instância, dirigindo-se tão somente às 
partes. Neste contexto, o contraditório realiza-se apenas com a observância do 
binômio conhecimento-reação. Isto é, uma parte tem o direito de conhecer as 
alegações feitas no processo pela outra e tem o direito de, querendo, contrariá-las. 
Semelhante faculdade estende-se igualmente à produção de prova. Trata-se de 
feição do contraditório própria à cultura do Estado Liberal, confinando as partes, 
no fundo, no terreno das alegações de fato e da respectiva prova. 
[...] Contraditório significa hoje conhecer e reagir, mas não só. Significa participar 
do processo e influir nos seus rumos. Isto é: direito à influência. Com essa nova 
dimensão o direito ao contraditório deixou de ser algo cujos destinatários são tão 
somente as partes e começou a gravar igualmente o juiz. Daí a razão pela qual se 
observa que o juiz tem o dever não só de velar pelo contraditório entre as partes, 
mas fundamentalmente a ele também se submeter. O juiz encontra-se igualmente 
sujeito ao contraditório (MARINONI, MITIDIERO, SARLET. 2015, p. 760). 
 
As três exceções previstas no artigo 9º não implicam em negativa do direito, 
mas apenas o adiamento desse contraditório em prol da efetividade pretendida. São 
exceções ao contraditório prévio, não ao contraditório em si. A decisão do Juiz 
 
 
nesses casos pontuais exige a tomada de decisão antes da oitiva da parte contrária 
para que o direito não pereça, todavia, essa decisão irá se tornar definitiva apenas 
após o cumprimento de todos os requisitos legais exigidos, podendo eventualmente 
ser revertida após a oitiva da parte contrária. 
Ratificando os princípios do contraditório e da ampla defesa previstos no 
artigo anterior, o artigo 10 do CPC determina que o Juiz não poderá decidir com 
base em fundamento sobre o qual as partes não tenham se manifestado. Será o 
contraditório o elemento de legitimação da ação do juiz, princípio com 
correspondência direta às regras de fundamentação analítica previstas no artigo 
489, parágrafo 1º do CPC. Mesmo nas hipóteses nas quais o Juiz pode decidir de 
ofício, deve ser oportunizado às partes o direito à manifestação. 
 
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em 
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se 
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 
 
De modo complementar, o artigo 11 do CPC apresenta o direito fundamental 
à motivação das decisões e o direito à publicidade. A motivação é a verdadeira 
documentação do contraditório desenvolvido no processo, enquanto a publicidade, 
por sua vez, garante a imparcialidade dos julgamentos e a resposta à sociedade 
quanto aos temas ali discutidos. 
 
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. 
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença 
somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério 
Público. 
 
Relacionado diretamente com o artigo 93, IX e X da Constituição Federal, o 
artigo 11 do CPC, MARINONI, MITIDIERO e SARLET (2015, p. 776) elucidam que: 
A publicidade é elemento indispensável para conformação do processo justo. 
Conforme assevera nossa Constituição, “a lei só poderá restringir a publicidade 
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o 
exigirem” (art. 5º, LX). Adiante, determina que “todos os julgamentos do Poder 
Judiciário serão públicos (...) podendo a lei limitar a presença, em determinados 
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, nos casos nos 
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique 
o interesse público à informação” (art. 93, IX). 
[...] Nossa Constituição refere que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder 
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de 
nulidade” (art. 93, IX). O dever de motivação das decisões judiciais é inerente ao 
Estado Constitucional e constitui verdadeiro banco de prova do direito ao 
 
 
contraditório das partes. Não por acaso que a doutrina liga de forma muito 
especial contraditório, motivação e direito ao processo justo. Sem motivação a 
decisão judicial perde duas características centrais: a justificação da norma 
constitucional para o caso concreto e a capacidade de orientação de condutas 
sociais. Perde, em uma palavra, o seu próprio caráter constitucional. 
 
Por fim, encerrando o rol de normas fundamentais do processo civil, o dever 
de observância da Ordem cronológica dos processos é uma inovação relevante 
trazida pelo movimento de Reforma Processual, inserido no artigo 12 do CPC. 
 
Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem 
cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. (Redação dada 
pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência) 
§ 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à 
disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores. 
§ 2º Estão excluídos da regra do caput: 
I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de 
improcedência liminar do pedido; 
II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada 
em julgamento de casos repetitivos; 
III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de 
demandas repetitivas; 
IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; 
V - o julgamento de embargos de declaração; 
VI - o julgamento de agravo interno; 
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de 
Justiça; 
VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência 
penal; 
IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão 
fundamentada. 
§ 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das 
conclusões entre as preferências legais. 
§ 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento 
formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto 
quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em 
diligência. 
§ 5º Decidido o requerimento previsto no § 4º, o processo retornará à mesma 
posição em que anteriormente se encontrava na lista. 
§ 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o caso, no § 
3º, o processo que: 
I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quandohouver necessidade de 
realização de diligência ou de complementação da instrução; 
II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II. 
 
Essa novidade visa promover o tratamento igualitário entre as partes e a 
duração razoável do processo, impedindo que processos mais recentes sejam 
julgados antes do que aqueles que já estão pendentes. A Lei nº 13.256/2016 foi 
elaborada, votada e sancionada ainda durante o prazo de vigência do CPC 2015, e 
introduziu o termo “preferencialmente” no caput desse artigo 12. 
 
 
 
3. APLICAÇÃO SUPLETIVA E SUBSIDIÁRIA DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
O Código de Processo Civil está submetido à Constituição, razão pela qual o 
legislador infraconstitucional busca criar procedimentos que concretizem a garantia a 
um processo justo. Em sua parte geral, o CPC apresenta no Capítulo I, um rol (não 
taxativo) de 12 artigos que submetem expressamente o processo civil à 
interpretação constitucional e conduzem sua hermenêutica com base em seus 
princípios e garantias. O capítulo II, por sua vez, é responsável por elucidar, ainda 
que brevemente, de que maneira essas normas processuais deverão ser 
devidamente aplicadas. 
O artigo 13 do CPC é responsável por instituir a regra geral de 
territorialidade do direito processual brasileiro, ou seja, como a lei processual 
funcionará no espaço. 
 
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, 
ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou 
acordos internacionais de que o Brasil seja parte. 
 
Partindo-se do pressuposto de que a Jurisdição é o poder conferido ao 
Estado, em razão de sua soberania, para editar leis e aplicá-las ao caso concreto, 
nada mais lógico que um sistema processual no qual a lei aplicável, em regra, seja 
aquela existente no local onde será realizada a prestação jurisdicional. Este artigo é 
complementado por meio do disposto no artigo 13 da Lei de Introdução às normas 
do Direito Brasileiro, Decreto Lei 4.657/1942: “A prova dos fatos ocorridos em país 
estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de 
produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira 
desconheça”. 
Essa validade das normas processuais dentro do território nacional comporta 
como exceções as disposições específicas que estiverem previstas em tratados, 
convenções ou acordo internacionais dos quais o Brasil seja signatário. Nesses 
casos específicos, a norma internacional processual pode redefinir critérios de 
 
 
competência e influenciar a aplicação, a interpretação e também a prestação dos 
serviços jurisdicionais no Brasil. 
A Jurisdição constitui uma das formas de exercício do poder estatal. Justamente 
por isso, vigora em nosso sistema o princípio da territorialidade das leis, segundo 
o qual a lei aplicável é aquela existente no local onde ocorre a prestação 
jurisdicional. 
Tal princípio se vincula a soberania estatal, impedindo a aplicação de leis 
estrangeiras nos julgamentos aqui realizados. 
Por outro lado, a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro disciplina a 
forma de comprovação dos fatos ocorridos em países estrangeiros. Segundo ela, 
a lei vigente no respectivo Estado estrangeiro é que disciplinará os ônus e os 
meios de prova (Decreto-Lei 4.657/42, art. 13). Não se admitirá, contudo, em 
tribunais brasileiros a utilização de meios de prova desconhecidas pelo nosso 
ordenamento. (CAMBI, DOTTI, KOZIKOSKI, MARTINS, PINHEIRO. 2017, p. 91). 
 
Enquanto o artigo 13 é responsável por instituir a regra de aplicação do 
direito processual no espaço, ao artigo 14 cabe a adequação do processo no tempo. 
A regra geral das leis processuais é da incidência imediata, porém não retroativa. 
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos 
processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações 
jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. 
O Brasil adota o sistema de isolamento dos atos processuais: em nome da 
garantia da segurança jurídica, todos os atos válidos e perfeitos praticados de 
acordo com a lei anterior devem ser preservados. A própria Constituição Federal, em 
seu artigo 5º, inciso XXXVI, determina que: “a lei não prejudicará o direito adquirido, 
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Significa dizer que há direito fundamental à 
observância do direito processual adquirido, por meio da não retroatividade sobre 
atos já praticados (respeito ao princípio do tempus regi actum). 
Encerrando o primeiro livro da parte geral do CPC, o artigo 15 determina 
que: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou 
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e 
subsidiariamente”, deixando clara a viabilidade de utilização do processo civil em 
outros ramos do direito. A própria Constituição, quando trata de processo, em 
nenhum momento faz a diferenciação para aplicação de suas normas fundamentais, 
sejam para os processos judiciais ou mesmo para administrativos, devendo todos se 
submeter às suas garantias e princípios. 
O CPC, em razão da natureza transsetorial do processo Civil, especifica a 
sua aplicação ao processo eleitoral, trabalhista ou administrativo, mas também será 
 
 
possível a sua utilização, por analogia, em processos tributários, de direito do 
consumidor ou direito ambiental, sempre que houver ausência de norma processual 
específica. 
A aplicação supletiva tem a função de suprir, ocorre quando há a ausência 
ou omissão absoluta de normas dentro do processo específico; a subsidiária em 
casos de omissão relativa ou parcial, quando são necessárias apenas determinadas 
regras ou institutos do processo civil para auxiliar na interpretação no caso concreto. 
Conforme explica o professor José Miguel Garcia Medina (2015, p. 99): 
 
O Código de Processo Civil disciplina os procedimentos de tomada de decisão 
pelo órgão jurisdicional de modo bastante amplo. Por isso, vários Códigos 
dedicados a procedimentos mais específicos ou relacionados a outros âmbitos do 
direito que não abrangidos pelo Código de Processo Civil a ele se referem, 
afirmando sua aplicação supletiva. 
[...] A aplicação do Código de Processo Civil deve dar-se somente naquilo em que 
for compatível com a lei omissa. Ademais, a regra prevista no art. 15 do CPC, não 
exclui que as disposições do Código de Processo Penal sejam aplicadas 
subsidiariamente, sempre que isso mostrar-se mais adequado (é o que pode 
suceder, por exemplo, em se tratando de processo administrativo de caráter 
sancionador). 
Aplicar supletivamente é mais que subsidiariamente, e disso dá conta o próprio 
sentido de tais expressões: naquele caso, está-se a suprir a ausência de disciplina 
na lei omissa; a aplicação subsidiária, por sua vez, é auxiliar, operando como a 
dar sentido a uma disposição legal menos precisa. 
 
Isso significa, em termos gerais, que o CPC tem aplicação supletiva e 
subsidiária, seja na esfera judicial ou administrativa, em lides que envolvam direitos 
individuais ou coletivos, corroborando o disposto na Lei de Introdução às normas do 
Direito Brasileiro (Decreto Lei 4.657/1942) em seu artigo 4º: “Quando a lei for 
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios 
gerais de direito”. 
O Processo Civil, por óbvio, será aplicado à todas as vertentes do Direito 
Civil e Empresarial, responsáveis por regular as relações jurídicas entre particulares, 
como o Direito de Família, o Direito das Coisas, Direito das Obrigações, entre outros. 
Conforme será discutido a seguir, a relação do Processo Civil com os demais ramos 
do Direito é de vital importância para coesão do ordenamento jurídico nacional, 
sendo aplicado supletiva ou subsidiariamente, a depender do caso analisado. 
3.1 . Relações com o Direito Constitucional. 
 
 
 
A Constituição Federal de 1988 tem sua eficáciadiretamente atrelada à 
atuação dos legisladores e de todo o Poder Judiciário, sendo concretizada por meio 
da construção de práticas capazes de promover esses direitos e da correta 
interpretação e aplicação de seus valores. 
A Constituição, em razão da hierarquia normativa, é referência para toda 
norma infraconstitucional, em especial para o Código de Processo Civil, que em seu 
primeiro artigo determina que sua orientação, disciplina e interpretação serão 
realizadas em conformidade com as normas fundamentais estabelecidas na 
Constituição da República Federativa do Brasil. 
Conforme explica o professor Gustavo Henrique Schneider Nunes (2010, p. 
72): 
A eficácia das normas constitucionais encontra-se interligada às condições 
naturais, técnicas, econômicas e sociais, e, com base nisso, não pode ser 
desprezado, ainda, o “substrato espiritual que se consubstancia num determinado 
povo, isto é, as concepções sociais concretas e o baldrame axiológico que 
influenciam decisivamente a conformação, o entendimento e a autoridade das 
proposições normativas”. 
[...] Ante o fato de a interpretação tratar-se de um fator extremamente decisivo 
para a preservação da força normativa da Constituição, sendo submetida ao 
princípio da ótima concretização da norma, apresenta-se um pouco mais que 
evidente que meios fornecidos pela subsunção lógica e pela construção conceitual 
devam ser deixados de lado. E, por interpretação adequada, nesse caso, deve-se 
entender “a que consegue concretizar, de forma excelente, o sentido (‘Sinn’) da 
proposição normativa dentro das condições reais dominantes numa determinada 
situação”. 
 
Desse modo, ainda não constam no rol dos direitos fundamentais expressos 
no Código de Processo Civil, os princípios e garantias processuais dispostos na 
Constituição Federal são de suma importância para construção de um processo 
justo e adequado. 
O direito processual civil possui também uma forte vinculação com o direito 
constitucional. Na verdade, todas as regras processuais devem ser interpretadas à 
luz da Constituição Federal. E esta não é uma novidade do atual sistema. Mesmo 
sob a égide dos Códigos anteriores isso já ocorria. Em virtude da hierarquia das 
normas, a Constituição sempre desempenhou um papel de referência e 
orientação. Mas o legislador de 2015 quis deixar isso muito evidenciado. Não é a 
toa que o art. 1º do Código, dispõe que o processo civil será ordenado, 
disciplinado e interpretado conforme as normas fundamentais estabelecidas na 
Constituição da República Federativa do Brasil. Nesse contexto, pode-se dizer que 
os princípios e garantias são recipientes que guardam e protegem os valores mais 
relevantes de determinada coletividade. [...] O estudo do direito processual, 
portanto, não pode ser indiferente a esses valores e à busca de realização do 
direito material. Entre direito constitucional e direito processual civil existe uma 
grande e profunda vinculação. Este deve ser lido e estudado a partir do prisma 
 
 
daquele. Daí a noção de direito constitucional processual. (CAMBI, DOTTI, 
KOZIKOSKI, MARTINS, PINHEIRO. 2017. p. 52). 
 
 
O princípio da legalidade, inserto no artigo 5º, inciso II da Constituição 
Federal, determina que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei”. Seu objetivo é concretizar a segurança jurídica e a 
igualdade formal, de modo que a prestação jurisdicional em sua totalidade deve 
estar fundamentada em leis processuais. Seja a previsão abstrata dos fatos; a 
definição de regras de Jurisdição, como competência, condições de ação ou 
pressupostos; a normatização dos atos das partes, dos magistrados, de terceiros e 
de servidores; ou a previsão de sanções e normas disciplinares; toda a prática 
processual deve repousar sob leis previamente definidas. 
O direito fundamental à segurança jurídica no processo, previsto no 
caput do artigo 5º da Constituição Federal prevê que: “Todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade”. MARINONI, MITIDIERO e SARLET (2015, 
p. 784) explicam que: 
O direito à segurança jurídica no processo constitui direito à certeza, à 
estabilidade, à confiabilidade e à efetividade das situações jurídicas processuais. 
Ainda, a segurança jurídica determina não só a segurança no processo, mas 
também segurança pelo processo. Nessa linha, o direito fundamental à segurança 
jurídica processual exige respeito: (i) à preclusão, (ii) à coisa julgada; (iii) à forma 
processual em geral, e ao (iv) precedente judicial. 
Preclusão constitui a perda, extinção ou consumação de uma posição jurídica 
processual em face do decurso do tempo (preclusão temporal), da adoção de 
comportamento contraditório (preclusão lógica) e do efetivo exercício da posição 
processual (preclusão consumativa). Dirige-se às partes e ao juiz. 
[...] Segurança jurídica exige respeito à coisa julgada. A Constituição é expressa 
em determiná-lo ao legislador infraconstitucional (art. 5º, XXXVI). Isso quer dizer 
que é vedado ao legislador atuar de modo a enfraquecer ou abolir a coisa julgada 
no Estado Constitucional. 
As formas processuais fundamentam-se na necessidade de segurança jurídica. 
Não só, aliás, as formas processuais são instituídas igualmente em respeito à 
liberdade e à igualdade no processo. É claro que o valor outorgado à forma – e o 
modo de com ela trabalhar no processo – é determinado, como tudo mais, pela 
cultura. 
 
Quanto ao direito fundamental à ampla defesa, nas palavras dos 
professores Luiz Guilherme Marinoni, Daniel Mitidiero e Ingo Wolfgang Sarlet (2015, 
p. 764): “o direito à ampla defesa constitui direito do demandado. É direito à 
resistência no processo e, à luz da necessidade de paridade de armas no processo, 
 
 
deve ser simetricamente construído a partir do direito de ação”. Todos os processos, 
sejam jurisdicionais ou não, serão adstritos a esse direito, de modo a garantir: (i) que 
as alegações do autor sejam pormenorizadas de modo claro, justificando a razão 
pela qual pretende impor consequências jurídicas ao demandado; (ii) a adoção de 
procedimentos de cognição plena e exauriente; (iii) o direito à defesa pessoal e à 
defesa técnica; e (iv) o direito à ampla cientificação da sentença. 
Nos termos do artigo 5º da Constituição Federal, inciso LVI: “são 
inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. Isso significa dizer 
que o processo justo depende do direito fundamental à prova para sua 
concretização Podemos verificar a existência desse direito quando temos a 
distribuição adequada dos ônus entre as partes, a determinação do momento e dos 
meios de produção de provas admitidos, a análise de admissibilidade e a valoração 
das provas para motivação da decisão do Juiz, por exemplo. No processo civil 
admite-se, em casos excepcionais: 
No âmbito do processo civil é possível a utilização de provas ilícitas em casos 
excepcionais. É que, ao negar eficácia às provas ilícitas no processo, nossa 
Constituição realizou inequívoca ponderação entre a efetividade da proteção do 
direito material e o direito à descoberta da verdade no processo. Cumpre 
observar, contudo, que quase todos os ordenamentos jurídicos que acolheram a 
proibição da utilização da prova ilícita no processo foram obrigados a admitir 
exceções à regra geral a fim de realizarem igualmente outros valores dignos de 
proteção. 
No âmbito do processo civil, a ponderação realizada pela Constituição não exclui a 
necessidade de uma segunda ponderação entre o direito afirmado em juízo pelo 
autor e o direito violado pela prova ilícita, haja vista os diversos bens passíveis de 
proteção e discussão no nosso direito processual civil. Negar a necessidade dessa 
segunda ponderação importa em negar a priori tutela jurisdicional a uma das 
partes. Essa ponderaçãodeve ser realizada em concreto pelo juiz para cotejar a 
relevância dos valores e dos interesses em jogo a fim de aquilatar a 
proporcionalidade do emprego da prova para proteção do direito afirmado em juízo 
(MARINONI, MITIDIERO, SARLET. 2015, p. 772). 
 
A Constituição Federal garante, por meio de seu artigo 5º, incisos XXXVII e 
LIII, o direito fundamental ao juiz natural e ao promotor natural. A tutela 
jurisdicional somente será prestada de modo justo quando ao Juiz estiver ausente o 
interesse judicial quanto ao resultado do processo, “a imparcialidade está na 
ausência de interesse judicial na sorte de qualquer das partes quanto ao resultado 
do processo. É um requisito anímico do juiz” (MARINONI, MITIDIERO e SARLET. 
2015, p. 757). 
 
 
A decisão judicial só poderá ser proferida por autoridade competente, 
representando a garantia de um órgão julgador técnico e isento, com competência 
estabelecida na própria Constituição e nas leis de organização judiciária de cada 
Estado. 
O direito à assistência jurídica integral é o meio de garantir a tutela 
jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva a todos aqueles que necessitam de 
proteção jurídica (art. 3º, inciso IV c/c art. 5º, incisos XXXV, LXXVIII e LXXXIV, 
ambos da CF). O processo democrático, que respeita a igualdade entre as partes e 
a paridade de armas, deve necessariamente levar em consideração a perspectiva 
social, construir seu regramento de modo democrático e acessível. A prestação 
estatal da assistência jurídica gratuita compreende: 
[...] direito à informação jurídica e direito à tutela jurisdicional adequada e efetiva 
mediante processo justo. O direito à assistência jurídica integral outorga a todos 
os necessitados direito à orientação jurídica e ao benefício da gratuidade 
judiciária, que compreende isenções de taxas judiciárias, dos emolumentos e 
custas, atos oficiais, das indenizações devidas às testemunhas, dos honorários de 
advogado e de perito, das despesas com a realização do exame de código 
genético – DNA que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de 
investigação de paternidade ou maternidade e dos depósitos para interposição de 
recurso, ajuizamento de ação e demais atos processuais (art. 3º da Lei 
1.060/1950). Ainda, implica obviamente direito ao patrocínio judiciário, elemento 
inerente ao nosso processo justo. Nossa Constituição confia à Defensoria Pública 
“a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma 
do art. 5º, LXXXIV” (art. 134 da CF). Nada obsta, contudo, a que a parte menos 
favorecida economicamente litigue com o benefício da gratuidade judiciária com o 
patrocínio de um advogado privado de sua confiança. (MARINONI, MITIDIERO e 
SARLET. 2015, p. 788). 
 
Terá direito à gratuidade judiciária todas as pessoas físicas e jurídicas que 
não possuam condições econômicas de arcar com as custas e honorários de 
advogado sem prejuízo do sustento próprio ou da família. No caso das pessoas 
físicas basta a simples afirmação da necessidade (presunção iuris tantum), 
enquanto para as pessoas jurídicas se exige além da alegação, também a 
comprovação da necessidade da concessão da gratuidade da justiça. 
Quanto às ações constitucionais há de se destacar: o Mandado de 
segurança (Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009), o Mandado de injunção (Lei nº 
13.300, de 23 de junho de 2016), a Ação Popular (Lei nº 4.717, de 29 de junho de 
1965) e a Ação Civil Pública (Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985). 
 
 
Tratando-se de Leis majoritariamente anteriores ao Código de Processo Civil 
de 2015, é necessário destacar o que está previsto no artigo 1046, §2º do CPC: 
“permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em 
outras leias, aos quais se aplicará supletivamente este Código”. Enquanto seu §4º 
especifica que “as remissões a disposições do Código de Processo Civil revogado, 
existentes em outras leis, passam a referir-se às que lhes são correspondentes 
neste Código”. 
Considerando que o Código de Processo Civil rege o processo na jurisdição 
civil, sua aplicação subsidiária será realizada em todas as leis reguladoras das 
ações constitucionais, desde que não contrariem dispositivos específicos. 
A ação popular, a Lei nº 4.717, de 1965, em seu artigo 22 determina que: 
“Aplicam-se à ação popular as regras do Código de Processo Civil, naquilo em que 
não contrariem os dispositivos desta lei, nem a natureza específica da ação”. A Lei 
da Ação Civil Pública, nº 7.347, de 1985, em seu artigo 19, determina que: “Aplica-se 
à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil, aprovado pela 
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas 
disposições”. Já no Mandado de Segurança, Lei nº 12.016, de 2009, tem em seu 
artigo 24ª determinação de que “Aplicam-se ao Mandado de segurança os artigos 46 
a 49 do Código de Processo Civil de 1973”. 
Estes três regramentos anteriormente citados fazem menção direta ao 
Código de Processo Civil de 1973, em razão da data de sua publicação. 
Empregando a regra de transição inscrita no artigo 1.046, § 2º e § 4º do CPC/2015, 
deve-se realizar a aplicação subsidiária do novo Código, nos termos do que está 
previsto nas leis indicadas. 
No caso do Mandado de Injunção, visto que a Lei nº 13.300 é de 2016, a 
remissão ao CPC de 2015 é direta. Conforme seu artigo 14: “Aplicam-se 
subsidiariamente ao mandado de injunção as normas do mandado de segurança, 
disciplinado pela lei nº 12.016 de 2009, e pelo Código de Processo Civil de 2015, 
observado o disposto em seus artigos 1045 e 1046”. 
Além dessas disposições específicas, também serão utilizados os preceitos 
que dizem respeito às normas fundamentais ao processo civil, às condições de 
ação, aos pressupostos para o desenvolvimento válido do processo, as normas de 
 
 
cooperação jurídica, aos deveres das partes e dos seus procuradores, aos poderes 
e responsabilidades do Juiz, e todos os dispositivos que tratam do conflito de 
competência, da ação rescisória; do incidente de arguição de inconstitucionalidade; 
e do incidente de resolução de demandas repetitivas. 
3.2. Relações com o Direito do Consumidor. 
 
O Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 1990, em seu artigo 
90, prevê que: “se aplicam às ações de defesa do consumidor em juízo as normas 
do Código de Processo Civil e da Lei número 7.347, de 1985, que disciplina a ação 
civil pública, naquilo que não contrariar suas disposições”. 
Considerando que o direito do consumidor é uma das facetas do direito civil, 
e diante da ausência de normas processuais específicas, o Código de Processo Civil 
será a ele aplicado de modo supletivo e subsidiário. Ainda que o Código de defesa 
do consumidor, por ser datado de 1990, tenha feito menção ao Código de processo 
civil de 1973, a reforma processual permite que a leitura do artigo 90 atualmente 
seja interpretada como remissão ao Código Processual de 2015, sobretudo diante 
da intrínseca relação, e porque não dizer proteção, que o novo CPC faz em relação 
à Constituição Federal e aos valores nela previstos. Nas palavras da professora 
Gisele Leite (2018): 
Reflete a índole protetiva no plano do direito processual, sendo uma decorrência 
natural à criação de normas procedimentais defensivas do consumidor, até 
porque, conforme entende a melhor doutrina a respeito do tema “sem essas 
garantias processuais”, os direitos materiais tornam-se normas programáticas sem 
maior contrato com a realidade cotidiana. 
Portanto, não basta garantir a defesa do consumidor no plano material, é preciso 
garanti-lo também no plano processual. O tratamento diferenciado no plano do 
direito material ao consumidor é ainda mais justificável no plano do direito 
processual principalmente em razão da diferença entre as espécies de litigantes 
formadas por consumidores e fornecedores. 
Observa-se que os consumidores são chamados de litigantes eventuais,porque 
não participem dos processos judiciais com frequência, os fornecedores são 
chamados de litigantes contumazes e frequentam o Judiciário principalmente em 
razão de estarem invariavelmente no polo passivo das demandas. 
[...] Afora isso, há a disparidade econômica entre o consumidor e o fornecedor 
(que aguenta o processo e suportar os custos gerados). A regra de que a lei deve 
tratar todos de forma legal, o que se aplica igualmente ao processo, devendo tanto 
a legislação como o juiz no caso concreto garantir às partes a paridade de 
normas, como forma de manter equilibrada a disputa judicial entre elas, 
A isonomia no tratamento processual dado as partes é forma, inclusive de o juiz 
demonstrar a sua imparcialidade, porque demonstra igualmente que não há 
favorecimento de qualquer uma destas. 
 
 
 
Nos termos do artigo 6º do CDC, incisos VII e VIII, são direito básicos do 
consumidor, entre outros, o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com 
vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica dos 
necessitados, e a facilitação da defesa dos seus direitos, inclusive com a inversão 
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências. 
Inquestionável a importância do princípio da igualdade de tratamento, ou da 
isonomia, na defesa judicial do consumidor e para a concretização do devido 
processo legal. Este princípio, introduzido no Código de Processo Civil como 
ratificação do preceito constitucional, busca garantir a igualdade formal e material 
entre as partes, seja por meio da aplicação uniforme da lei, ou da interpretação 
imparcial realizada pelo Juiz com o objetivo de promover a paridade de armas e a 
equidade entre as partes. 
A redistribuição do ônus da prova é um dos maiores exemplos de isonomia 
interna do processo, possibilitando a inversão desse ônus quando o consumidor 
demonstrar sua hipossuficiência diante do fornecedor. O artigo 373 do CPC de 2015, 
em seu parágrafo 1º, informa que: 
 
Art. 373. O ônus da prova incumbe: 
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas 
à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos 
do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o 
juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão 
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir 
do ônus que lhe foi atribuído. 
 
No artigo 83 do CDC há a determinação de que: “Para a defesa dos direitos 
e interesses protegidos por este código, são admissíveis todas as espécies de ações 
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”. São cabíveis, portanto, todas 
as ações, procedimentos e espécies de tutela jurisdicional presentes no sistema 
processual brasileiro com a finalidade de proteger os interesses do consumidor. 
 
De qualquer forma, a menor preocupação do legislador pátrio quanto à tutela 
jurisdicional individual do consumidor já é o suficiente para o apontamento de 
 
 
alguns dispositivos do CDC que criam algumas prerrogativas processuais, sempre 
com o fito de facilitar o exercício de sua ampla defesa no caso concreto. 
Não há, entretanto, uma ação específica e exclusiva à disposição do consumidor, 
como também não está previsto na Lei 8.078/1990 um procedimento 
especialmente criado para a sua tutela individual. Há apenas algumas regras que 
tratam de forma diferenciada o consumidor em sua atuação processual. 
A falta de uma estrutura procedimental resta evidente no artigo 83 do CDC, que 
garante, para a defesa do direito do consumidor (individual ou coletivo), a 
utilização de todas as coes capazes de propiciar a adequada e efetiva tutela de 
interesses consagrados no CDC. 
O consumidor pode ser valer de todas as ações, procedimentos e espécies de 
tutela jurisdicional presentes no sistema processual brasileiro. (LEITE, 2018). 
 
Em seu artigo 84, o CDC determina que: “Na ação que tenha por objeto o 
cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica 
da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático 
equivalente ao do adimplemento”. 
Nas hipóteses de ação indenizatória por danos materiais, cabe ao 
consumidor comprovar o prejuízo financeiro sofrido em decorrência de ação irregular 
praticada pelo fornecedor, demonstrando o fato e o nexo de causalidade. Esse dano 
material poderá ser cobrado em decorrência de prejuízo direto (dano emergente), ou 
como a pretensão de reparação do que o consumidor deixou de receber em razão 
do prejuízo (lucro cessante). Quanto aos danos morais o que se pretende não é a 
reparação de um dano, mas sim a compensação em razão de constrangimentos e 
conduta irregulares que atinjam a honra, a credibilidade ou capacidade de respeito 
do consumidor. 
A forma preferencial para resolução dos conflitos consumeristas é a 
mediação, sendo inclusive estimulada pelo Conselho Nacional de Justiça. Daí a 
relevância da aplicação supletiva do artigo 3º do CPC que prevê a mediação e a 
conciliação como formas preferenciais de resolução dos conflitos. Essa disposição 
se coaduna com o princípio previsto no artigo 4º, inciso V do CDC, o qual dispõe ser 
necessário o “incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle 
de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos 
alternativos de solução de conflitos de consumo”. 
Tais ferramentas são extremamente benéficas na esfera consumerista, 
sobretudo em razão da simplicidade da maior parte dos casos, que não justificam a 
utilização do aparelho judiciário para sua resolução, e muitas vezes desestimulam os 
https://juridmais.com.br/codigo-de-defesa-do-consumidor---cdc-1
https://juridmais.com.br/codigo-de-defesa-do-consumidor---cdc-83
 
 
consumidores a buscarem a tutela dos seus direitos, em nada contribuindo para a 
pacificação social idealizada. 
Cláudia Lima Marques destaca a importância do tema do 
Superendividamento na seara do Direito do Consumidor. Conforme sua definição: 
 
O superendividamento define-se, justamente, pela impossibilidade de o devedor 
pessoa física, leigo e de boa fé, pagar suas dívidas de consumo e a necessidade 
de o direito prever algum tipo de saída, parcelamento ou prazo de graça, fruto do 
dever de cooperação e lealdade para evitar a “morte civil” deste “falido”- leigo ou 
“falido”- civil. 
[...] Três temas emergem, pois, desse contexto: as possibilidades de reequilíbrio 
das relações contratuais de consumo, os limites materiais nas cobranças aos 
consumidores e as soluções possíveis ou possibilidades para viabilizar uma 
cobrança de dívidas do consumidor superendividado, mantendo-se a sua 
dignidade e o mínimo vital para ele e sua família. 
[...] O STJ já ensinou que é possível ao consumidor rescindir o contrato e que 
devemos superar a estreita visão do CC/1916 e do CPC/1973, que só permitiam 
ao parceiro contratual inadimplente rescindir o contrato: há um novo direito 
(pretensão de direito material e ação de direito processual) do consumidor em 
situação de perigo, em situação subjetiva de força maior ou superendividamento, 
de requerer o fim do vínculo antes que este o leve à ruína, sendo a cláusula que 
interdita tal direito de boa fé, abusiva e nula. O novo CPC de 2015, ao contrário, 
parece mais moldado a dificultar esta exceção de ruína. (MARQUES. 2016, p. 
1450 e ss.) 
 
Ao consumidor que esteja em situação subjetiva de Superendividamento por 
força de um contrato excessivamente oneroso, deve ser aplicável o dever de 
cooperação dos fornecedores, permitindo a rescisão ou o fim do vínculo a favor do 
inadimplente mais vulnerável, conforme inclusive reconhece o Superior Tribunal de 
Justiça, por meio da exceção

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