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Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) Sarampo, Rubéola e Enterovirus ---------------------------------------------------------------------------------------------- INTRODUÇÃO DOENCAS EXANTEMÁTICAS: doenças nas quais ocorrem erupção cutâneas (rashes) de manifestação predominantemente viral ou bacteriana Exantemas: erupções cutâneas na pele → Exemplos: sarampo, rubéola, herpesvírus (3, 6, 7), enterovirus, dengue, Chikungunya e zika vírus Enantema: erupções cutâneas nas mucosas Diagnósticos: necessário a análise da lesão, dos sinais e sintomas e da epidemiologia (etiologia) Sarampo Doença infecciosa aguda e altamente contagiosa Transmissão: transmitido de pessoa a pessoa através de gotículas 6 dias antes do surgimento do exantema até 4 dias após aparecimento PATOGÊNESE E IMUNIDADE Patogênese: Realizam fusão celular, forma células gigantes (devido a proteína F) Podem passar diretamente célula a célula, escapando da ação dos anticorpos (evasão) A produção dos vírus pode causar lise celular Há formação de sincícios e de células multinucleadas Sintomas: febre, coriza, conjuntivite, enantema (manchas de Koplic: pontos brancos na mucosa oral), exantema (inicia na região retroauricular e dissemina para rosto, tronco e membros), tosse, coriza Pode causar encefalite de três maneiras: infecção direta dos neurônios, encefalite pós-infecção e panencefalite esclerosante (causada por uma variante defeituosa do sarampo gerada na fase aguda da doença → provoca sintomas e efeitos em neurônios anos após a fase aguda da doença) Desenvolvimento da doença: 1. O vírus liga-se à receptores: à proteína de cofator de membrana presente na maioria das células (CD46), à nectina 4 em células epiteliais e à molécula sinalizadora da ativação de linfócitos (CD150-SLAM), nas células T e B ativada 2. Após replicação em células epiteliais do trato respiratório, o vírus infecta monócitos e linfócitos e se propaga pelo sistema linfático 3. A disseminação do vírus causa infecção da conjuntiva, do trato respiratório, do trato urinário, de capilares sanguíneos, do sistema linfático e do sistema nervoso central Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) Características da doença: Exantema maculopapular: causado por células T, direcionadas às células endoteliais infectadas pelo vírus e que revestem os capilares sanguíneos (vasculite generalizada) Período de incubação: 10 à 14 dias Recuperação: na maioria dos pacientes afetados pela doença, ocorre após o aparecimento do exantema (desenvolvem imunidade ao vírus) Sarampo deprime a resposta imune por meio da infecção direta de monócitos e células T e B, por deprimir a produção de interleucina (IL)-12 e a resposta de células T auxiliares → A infecção do sarampo é imunossupressora, aumentando o risco de infecções oportunistas e outras infecções concomitantes, as quais podem causar a morte O vírus possui disseminação sistêmica nos linfócitos e por viremias → Viremia primária: leucócitos infectados (ocorre disseminação para o sistema reticulo endotelial) → Viremia secundária: endotélio vascular (ocorre disseminação para tecidos não linfóides), o final desse tipo de viremia é marcado por leucopenia Características do vírus: Gênero: Paramyxovirinae Capsídeo helicoidal Possuem RNAss negativo, linear, não segmentado e envelopado Codifica 6 proteínas estruturais (P, L, N, H, F e M) e 2 não estruturais (NSP): V e C (regulam transcrição) Proteínas do envelope: H (hemaglutinina - se liga aos receptores) e F (proteína de fusão) EPIDEMIOLOGIA: Doença comum na infância Uma das infecções virais mais comuns e temidas, pois havia a possibilidade de sequelas graves O desenvolvimento de programas de vacinação eficazes tornou o sarampo uma doença rara em países desenvolvidos, crianças não ser vacinadas ou que não receberam os reforços da vacina podem desenvolver a doença (surtos de sarampo) Pacientes imunocomprometidos, desnutridos e com deficiência de vitamina A com sarampo podem não conseguir superar a infecção, o que pode resultar em morte Possui um único sorotipo, infectando somente humanos Doença de notificação compulsória, com isolamento hospitalar Sarampo na gravidez: Causa aborto ou nascimento prematuro Possui morbidade e a mortalidade acentuadas durante o trimestre e o período puerperal Sarampo congênito: Exantema presente no nascimento ou nos primeiros 10 dias de vida Doença pode ser tanto branda a fatal Mortalidade ↑ em bebês e crianças que não desenvolvem exantema (ineficiência da resposta imune) Na ausência de anticorpos materno, taxa de mortalidade excede 3% (maioria por pneumonia) e sem profilaxia com imunoglobulina a mortalidade pode chegar a 30% Possíveis complicações: Grave em crianças desnutridas, infecções secundárias (pneumonia, otite média, estomatite), ulcerações na boca dificultam a hidratação e alimentação, ulcerações na córnea podem causar cegueira, encefalomielite aguda (desmielinação por ação de anticorpos) Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O vírus do sarampo não deve ser isolado Secreções do trato respiratório, urina, sangue e tecido cerebral são os espécimes recomendados O antígeno pode ser detectado por imunofluorescência em células da faringe ou sedimentos da urina O genoma pode ser identificado pelo PCR em secreções do trato respiratório, da urina, do sangue e do tecido cerebral realizando a detecção de RNA viral (detecção por biologia molecular) As células gigantes multinucleadas, podem ser visualizados pela coloração das células do trato respiratório superior e sedimentos da urina corados com Giemsa Os anticorpos, principalmente a imunoglobulina IgM, podem ser detectados quando há exantema (diagnóstico sorológico) Obs: As manifestações clínicas do sarampo são normalmente características e raramente se faz necessária a realização de testes laboratoriais para estabelecer um diagnóstico TRATAMENTO – PREVENÇÃO – CONTROLE Vacina viva e atenuada Aplicada em todas as crianças após 12 meses de idade e reforço posterior Eficiência: 95% de imunização vitalícia em uma única dose Rubéola Doença exantemática aguda Vírus respiratório que não causa efeitos citopatológicos prontamente detectáveis Transmissão: Transmitido de pessoa a pessoa por aerossóis ou contato direto com sangue e urina (pouco comum) → A pessoa infectada pode disseminar o vírus em gotículas respiratórias durante o período prodrômico e por até 2 semanas após o início do exantema Transmissão indireta: contato com objetos contaminados - fômites (pouco frequente) Transmissão vertical: de mãe para filho através da placenta PATOGÊNESE E IMUNIDADE Patogênese: Vírus não citolítico Replicação da rubéola evita a replicação de picornavírus superinfectantes Infecta o trato respiratório superior e se dissemina para os linfonodos locais, o que coincide com período de linfadenopatia Viremia, que dissemina o vírus pelo corpo, promovendo a infecção de outros tecidos e o leve exantema cutâneo característico → Viremia primária: ocorre replicação nas células epiteliais da nasofaringe, havendo resposta de células Th1 – citotóxica (causa apoptose) e lise de células infectadas, nessa fase há disseminação viralpara os linfonodos → Viremia secundária: a replicação passa a ser nos linfonodos cervicais, retroauriculares e occipitais, ocorre infartamento ganglionar cervical e suboccipital inicial (quinto e décimo dia, antes do exantema), levando à formação de imunocomplexos Período de incubação: aproximadamente 14 dias Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) Resposta imunológica: O anticorpo é gerado após a viremia e o aparecimento está relacionado com o surgimento do exantema (resultado da formação de complexo antígeno/anticorpo no endotélio capilar) Anticorpo limita a disseminação do vírus, mas a imunidade mediada por células desempenha importante papel na resolução da infecção O anticorpo sérico em uma mulher grávida evita a disseminação do vírus para o feto Complexos imunes causam o exantema e a artralgia associados com a infecção A resposta do tipo IgA na nasofaringe é a principal barreira contra reinfecções Sintomas: Infecção aguda: ocorrem erupções cutâneas benignas infantis, aumento das glândulas (inchadas), febre baixa, conjuntivite, faringite e artralgia Infecção congênita: teratogênica, podendo causar cataratas, surdez, microcefalia Sintomas semelhantes aos da gripe devido a resposta do interferon e citocinas Características do vírus: Gênero: Rubivirus Simetria icosaédrica: composto de uma única proteína (C) Tamanho pequeno, envelope originado de membranas celulares (E1 e E2) envolve o nucleocapsídeo icosaédrico, genoma de RNA (+) Glicoproteína E1: associada à capacidade hemaglutinante e de indução de anticorpos neutralizantes (principal estrutura envolvida na adsorção do vírus à célula – fusão) Produção de RNAm e proteínas nas fases precoce e tardia Propaga-se por via sanguínea aos neurônios e cérebro Complicações da doença: Diminuição transitória do número de plaquetas → Púrpura trombocitopênica ocorre em somente 1 em cada 1.500 casos Complicações em adultos: pode causar artrite e encefalite → Dores nas articulações: artrite e poliartralgia transitórias, podem evoluir para um estado crônico Raramente pode ocorrer: anemia hemolítica, arritmias cardíacas em crianças e tireoidite ou hepatite em adultos EPIDEMIOLOGIA Geralmente adquirido durante a infância Humanos são os únicos hospedeiros para a rubéola O vírus é disseminado nas secreções respiratórias Disseminação do vírus, antes ou na ausência dos sintomas promovem o contágio Existe apenas um sorotipo Infecção natural produz imunidade protetora por toda a vida Importância epidemiológica: relacionada ao risco de abortos, natimortos e malformações congênitas Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) INFECÇÃO CONGÊNITA A infecção em uma grávida pode resultar em anormalidades congênitas graves na criança Se a mãe não possui anticorpos, o vírus pode se replicar na placenta e se disseminar para o suprimento sanguíneo fetal e para todo o feto (rubéola pode se replicar na maioria dos tecidos) Crescimento normal, mitose e estrutura cromossômica do feto podem ser alterados pela infecção, podendo acarretar em desenvolvimento inapropriado do feto, tamanho pequeno do bebê infectado e efeitos teratogênicos associados com a infecção A natureza do distúrbio é determinada pelo: Tecido afetado Estágio de desenvolvimento prejudicado Síndrome da Rubéola Congênita Clássica tríade da SRC: catarata, patologias cardíacas e surdez neurossensoria As crianças com essa síndrome podem apresentar: → Em 80% dos casos: comprometimento neurológico, manifestado por alteração das fontanelas, letargia, irritabilidade, alterações no tônus muscular, retardo mental, alteração postural e surdez → Em 10% dos casos: baixo peso, perda da audição, doenças cardíacas, alterações endócrinas, retardo psicomotor, catarata ou glaucoma, retinopatia, microftalmia, púrpura trombocitopênica, hepatoesplenomegalia e crescimento atrofiado Taxa de infecção: → Primeiro trimestre: 67 a 85% dos recém-nascidos apresentando sequelas graves → Segundo trimestre: 25 a 35% dos recém-nascidos apresentando sequelas graves → Último trimestre: até 10% dos recém-nascidos apresentando sequelas graves A reinfecção durante a gestação, normalmente, não trás dano ao embrião ou ao feto DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Isolamento do vírus é difícil e raramente tentado Quando é necessário, o vírus geralmente é obtido na urina A presença do vírus pode ser detectada por meio do RNA viral pelo PCR (teste sorológico) Diagnóstico é confirmado pela presença de IgM específica antirrubéola Anticorpos contra a rubéola são pesquisados no início da gestação para determinar o estado de imunização da mulher (deveria ser obrigatório) TRATAMENTO – PREVENÇÃO – CONTROLE Não há tratamento disponível para a rubéola O melhor método para prevenir a rubéola é a vacinação com vacina de uma cepa de vírus RA27/3 vivos adaptados ao frio A vacina de vírus vivos da rubéola costuma ser administrada junto com as vacinas de sarampo e caxumba após os 12 meses de idade A vacinação promove imunidade humoral e celular Grávidas não podem tomar a vacina (imunossuprimidas) Uso de gamaglobulina hiperimune reduz viremia materna – diminui os riscos para o feto Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) Enterovírus Família: Picornaviridae 27 Gêneros – 7 espécies parasitas de humanos Gênero: Enterovirus PATOGÊNESE E IMUNIDADE Patogênese: Geralmente não causam doença entérica Se replicam no intestino Transmissão: transmitidos pela rota fecal-oral As doenças são determinadas por diferenças no tropismo tecidual e na capacidade citolítica São adquiridos através do trato respiratório superior e da boca A replicação viral é iniciada na mucosa e no tecido linfoide de amígdalas e faringe, e, posteriormente infecta células M, linfócitos das placas de Peyer e enterócitos na mucosa intestinal → Inibição da síntese de Interferon → Inibição de fatores de alongamento, impedem a tradução de diferentes proteínas celulares Viremia: → Viremia primária: dissemina o vírus aos tecidos-alvo que possuem receptores, incluindo as células reticulo endoteliais de linfonodos, baço e fígado, para iniciar uma segunda fase de replicação viral que resulta em viremia secundária e sintomas Sintomas: Febre: 24-48 horas, erupções cutâneas (lesões pápulo vesiculares), é autolimitada Síndromes clínicas: Doença dos pés, mão, boca (HFMD) Características do vírus: Vírus não envelopados Capsídeo icosaédrico: VP1, VP2, VP3, VP4 Genoma RNAss positivo Estáveis em pH 3 – 9 (não são afetados pelo ácido gástrico, proteases e bile) Resistentes a desinfetantes, como álcool 70% Estáveis a temperatura de -20 a 70ºC EPIDEMIOLOGIA São exclusivamente patógenos humanos Eliminação assintomática pode ocorrer durante até um mês, espalhando vírus para o ambiente Saneamento precário e condições de vida de superpovoamento favorecem a transmissão dos vírus do suprimento de água por esgoto pode resultar em epidemias de enterovírus Surtos de doença por enterovírus são observados em escolas e creches O verão é a principal estação para esses surtos da doença Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A.Pfaller 8ª edição – Capítulos: 48: Paramixovírus (sarampo), 52: Togavírus e Flavivírus (rubéola) e 46: Picornavírus (Enterovirus) INFECÇÕES POR POLIOVÍRUS Há três tipos de poliovírus: Tipo 1: causa 85% dos casos de pólio paralítica Tipos 2 e 3: pode provocar doença associada com vacina Tipo selvagem: são raras, em razão do sucesso das vacinas contra pólio O poliovírus pode causar um dos quatro resultados seguintes em pessoas não vacinadas, dependendo da progressão da infecção: 1. Doença assintomática: resulta se a infecção viral for limitada à orofaringe e ao intestino (90% das infecções por poliovírus) → São assintomáticas 2. Poliomielite abortiva: doença menor, é uma doença febril inespecífica (ocorre em cerca de 5% das pessoas infectadas) → Sintomas: febre, dor de cabeça, mal-estar, dor de garganta e vômito 3. Poliomielite não paralítica ou meningite asséptica: nessa doença, o vírus progride para o sistema nervoso central e as meninges (ocorre em 1% - 2% dos pacientes com infecções por poliovírus) → Sintomas: causa dor nas costas e espasmos musculares, além dos sintomas da doença menor 4. Pólio paralítica: doença maior, possui o resultado mais grave, aparece cerca de 3-4 dias depois que a doença menor regrediu, produzindo enfermidade bifásica, nessa doença, o vírus se dissemina do sangue para as células do corno anterior da medula espinal e para o córtex motor do cérebro (ocorre em 0,1% a 2% das pessoas com infecções por poliovírus) → A gravidade da paralisia é determinada pela extensão da infecção e pelos neurônios afetados - Paralisia espinal: pode comprometer um ou mais membros (sintomas: paralisia flácida assimétrica, sem perda sensitiva) - Paralisia bulbar (craniana): pode envolver uma combinação de nervos cranianos e mesmo o centro respiratório medular (sintomas: mais grave, envolvendo os músculos da faringe, as cordas vocais e da respiração, além de resultar na morte de 75% dos pacientes) Resposta imunológica: Imunidade aos enterovírus é duradoura e sorotipo-específica: mediada principalmente por anticorpos A infecção primária resulta em uma resposta de IgM e é seguida pela produção de IgG e IgA Infecções secundárias resultam em altos títulos de anticorpos Neutralização IgA: importante nas mucosas (porta de entrada) Diagnóstico Diagnóstico clínico Diagnóstico laboratorial: testes sorológicos e testes moleculares Imunofluorescência em culturas celulares Profilaxia Vacinação: VOP: atenuado (Sabin) e VIP: Inativado (Salk) Saneamento básico
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