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TEORIA DAS ESTRUTURAS Douglas Andrini Edmundo Revisão técnica: André Luís Abitante Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais, ênfase em Controle de Processos Engenheiro Civil Rossana Piccoli Mestre em Engenharia Civil Engenheira Civil Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 T314 Teoria das estruturas / Douglas Andrini Edmundo ... [et al.] ; [revisão técnica: André Luís Abitante, Rossana Piccoli]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. 392 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-354-3 1. Engenharia civil. I. Edmundo, Douglas Andrini. CDU 624.01 Conceitos fundamentais Objetivos de aprendizagem Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Relacionar os conceitos fundamentais à prática dos sistemas estruturais de engenharia. � Identificar os princípios básicos envolvidos no conhecimento da teoria das estruturas. � Transformar os apoios/vínculos em reações. Introdução Neste capítulo, você vai aprender a analisar os elementos básicos de uma estrutura e os princípios da teoria das estruturas envolvidos na análise estrutural, além compreender as relações entre os apoios e vínculos e as reações de apoio na estabilidade e determinação das estruturas. O conhecimento dos conceitos fundamentais da teoria das estru- turas auxilia na tomada de decisões quando do desenvolvimento de uma estrutura eficiente, econômica e atraente. Permite ainda avaliar a segurança de uma estrutura por meio da sua resistência e da rigidez e também prever as cargas de construção temporárias que podem atuar sobre ela em meio à sua construção. Sistemas estruturais Toda estrutura, seja de um edifício, de uma ponte ou de uma torre de transmis- são, é um sistema estrutural. Cada sistema estrutural é composto por diversos outros elementos estruturais que, juntos, formam uma grande estrutura. Cada elemento estrutural individualmente pode ter diversas funções e características U N I D A D E 1 diferentes, o que permite uma grande variabilidade de combinações para a criação de uma estrutura com uma funcionalidade específica. Cada elemento estrutural básico possui uma característica e uma aplica- ção definidas de acordo com os esforços que podem atuar devidos às cargas aplicadas na estrutura. Elementos estruturais O engenheiro estrutural deve estar familiarizado com os diversos tipos de elementos estruturais que podem ser aplicados em uma estrutura e deve possuir capacidade de classificar esses elementos de acordo com a sua forma e a sua função. Os elementos estruturais mais comuns são vigas, colunas, treliças, pórticos, tirantes, placas, cascas e arcos, entre outros. Vejamos a seguir cada um desses elementos. Barras tracionadas: tirantes e cabos Barras submetidas a forças axiais de tração têm sua seção transversal tensionada de maneira uniforme, o que permite utilizar a resistência do material com maior eficiência. Se o material empregado for de alta resistência, como o aço, a seção transversal das barras será pequena e com grande capacidade de carga. Por outro lado, tirantes e cabos são dimensionados apenas para as forças de tração, e, em casos nos quais há inversão de carregamento devido, por exemplo, a uma ação do vento, essas barras não possuem rigidez para resistir a esforços de compressão. Na prática, utiliza-se a combinação de barras para contraventamento em forma “X”. Dessa forma, quando ocorrer a inversão dos esforços devido à ação de cargas móveis ou de ventos, a barra que estiver na direção e sentido da força será tracionada, impedindo que a barra anterior seja comprimida (Figura 1). Conceitos fundamentais14 Figura 1. Pórtico contraventado de fechamento frontal de um galpão industrial. Barras comprimidas: colunas Colunas são barras utilizadas para transmitir os esforços de compressão direta provocados pela ação das cargas permanentes e das sobrecargas e pela ação de cargas móveis e do vento. A capacidade de carga das barras das colunas está diretamente relacionada com sua esbeltez, que é a função do comprimento e do raio de giração da seção transversal da barra. Quanto mais esbelta for a barra, menor será a sua capacidade de carga e mais suscetível a sofrer falha por flambagem. Os tipos de apoios e vínculos nas extremidades das colunas influenciam também na sua capacidade de carga, que está relacionada ao comprimento efetivo de flambagem, que varia conforme o tipo de apoio. Uma coluna de comprimento L simplesmente apoiada nas extremidades possui menor capacidade de carga se estiver engastada nas extremidades (Figura 2). 15Conceitos fundamentais Figura 2. Coeficiente de flambagem de colunas. Barras submetidas à flexão e ao cisalhamento: vigas Os elementos estruturais esbeltos submetidos a carregamentos perpendiculares ao seu eixo longitudinal são chamados de vigas. O carregamento imposto sobre uma viga tende a provocar sua curvatura no sentido e na direção da força. Esse comportamento provoca na viga o surgimento esforços internos devido à flexão e ao cisalhamento. A flexão viga na ocorre em função do momento fletor atuante, que gera tensões normais de tração e compressão na mesma seção da viga. Surgem também tensões tangenciais, que são decorrentes do cisalhamento originado pela força cortante (Figuras 3 e 4). Figura 3. Distribuição de tensões na seção da viga submetida à flexão. Conceitos fundamentais16 Figura 4. Treliça de cobertura de um galpão industrial. Barras axialmente carregadas: treliças planas Elementos estruturais compostos por barras esbeltas e submetidas apenas por cargas pontuais nos nós de ligação das barras são chamadas de treliças. Os nós, pontos de ligação das barras, são considerados como articulações e sem atrito. Devido ao carregamento ser aplicado apenas nos nós de ligação, os esforços internos que surgem nas barras serão apenas axiais, de tração e de compressão, tornando o sistema mais eficiente devido à maior utilização do material empregado nas barras. As estruturas treliçadas são geralmente projetadas formando um padrão triangular entre as barras, por ser a configu- ração geométrica mais simples e estável. As treliças podem ser utilizadas para compor vigas, colunas, arcos e pór- ticos, entre outras estruturas (Figuras 5 e 6). Figura 5. Treliça de cobertura de um galpão industrial. 17Conceitos fundamentais Figura 6. Elementos de uma treliça. Barras curvas submetidas a compressão direta: arcos Arcos são elementos estruturais geralmente submetidos a esforços de compres- são direta. Essa condição de carregamento permite projetar uma estrutura mais eficiente; entretanto, o arco deve ser projetado de forma que as resultantes do sistema de forças sejam posicionadas no centroide de cada seção transversal. A solicitação do arco por compressão direta é determinada para uma determinada flecha e vão. Em outras condições de carregamento, serão pro- vocados esforços internos devido à flexão, podendo produzir deslocamentos excessivos em arcos esbeltos. Arcos são estruturas nas quais a linha da base cruza os apoios formando um ângulo agudo, exercendo um empuxo horizontal e vertical sobre esses apoios. Para os casos nos quais os vãos são muito grandes, os carregamentos, o peso próprio do arco e os empuxos criados são muito grandes, por causa das baixas inclinações. Nesses casos, a base do arco deve ser apoiada em maciços rochosos, que poderão absorver os empuxos horizontais, ou na construção de maciços em concreto armado, para conter os empuxos e estabilizar a estrutura. Outra opção é a ligação dos apoios do arco por tirantes ou ainda o apoio sobre blocos de fundação sobre estacas (Figura 7). Conceitos fundamentais18 Figura 7. Cobertura em arco treliçado biapoiado. Barras flexíveis tracionadas: cabos Cabos são elementos estruturais flexíveis e muito esbeltos, geralmente formados por um feixe de fios de aço de alta resistência. Como não possuem nenhuma resistência à compressão, só podem ser submetidos a forças axiais de tração direta;entretanto, devido à grande capacidade de carga axial de tração, os cabos são utilizados em estruturas de grandes vãos, possibilitando maior economia dos demais elementos estruturais (Figura 8). Figura 8. Cabo suspenso sujeito apenas à ação do peso próprio, a configuração geométrica da curva é denominada catenária. 19Conceitos fundamentais Quando o cabo está sujeito a uma carga uniformemente distribuída, o cabo assume a forma geométrica de uma parábola (Figura 9). Figura 9. Diagrama de corpo livre (DCL) de uma seção do cabo. Estruturas submetidas a flexão e carga axial: pórticos rígidos Pórticos são considerados rígidos quando o ângulo formado pelas barras, vigas e pilares não muda. Para que essa condição seja satisfeita, as ligações entre as barras devem ser rígidas o suficiente para impedir a deformação nessas ligações. Nas estruturas de concreto, construir uma ligação rígida é mais simples que em aço, devido a sua constituição monolítica que permite maior integração entre os elementos estruturais. Nas estruturas metálicas, as Conceitos fundamentais20 ligações devem ser projetadas com o uso de soldas e parafusos de maneira que possam atender às condições de rigidez da ligação (Figura 10). Figura 10. Pórtico rígido constituído por pilares de concreto e de aço e vigas em aço. As ligações entre as vigas e os pilares metálicos foram dimensionadas para suportar os esforços de momento fletor e da força cortante de tal forma que a ligação tenha rigidez suficiente para impedir deformações nas ligações. Estruturas planas submetidas à flexão: placas e lajes Estruturas planas são aquelas consideradas bidimensionais devido às dimensões de largura e comprimento predominarem sobre a sua espessura (Figura 11). a,b >>> e 21Conceitos fundamentais Figura 11. Estrutura plana. As placas são muito utilizadas como lajes e pisos de edificações e, de- pendendo do sistema construtivo da laje, pré-moldada ou maciça, seu com- portamento será definido dependendo da maneira que for apoiada nas vigas. Geralmente, uma laje pré-moldada é apoiada em apenas duas vigas. Essa disposição de montagem fará com que a laje sofra flexão apenas em um sentido, no sentido dos apoios. No caso de lajes maciças apoiadas em todas as bordas, a flexão ocorrerá nos dois sentidos (Figuras 12 e 13). Figura 12. Laje apoiada somente em duas vigas. A flexão ocorre em uma direção. Conceitos fundamentais22 Figura 13. Laje apoiada em todas as bordas. A flexão ocorre nas duas direções. As lajes podem ser projetadas em conjunto com as vigas para resistir aos esforços, formando uma seção tipo T. Uma parcela da laje atua como mesa colaborante de uma viga, que por sua vez tem sua rigidez aumentada devido ao aumento da seção transversal proporcionado pela laje (Figuras 14 e 15). Figura 14. Viga T constituída de perfil metálico e laje de concreto. 23Conceitos fundamentais Figura 15. Viga em T formada por viga e laje de concreto armado. Estruturas de superfície curva submetidas a tensões: cascas finas Diferentes das estruturas planas, as cascas finas são estruturas tridimensionais. As cascas, embora tenham espessura muito menor do que as demais dimensões, assim como as placas, têm conformação curva que permite vencer grandes vãos em função da rigidez e da resistência decorrentes da curvatura. As formas das cascas variam muito, desde cúpulas e abóbodas até geome- trias paraboloides hiperbólicas ou cilíndricas. As tensões em uma estrutura de superfície se desenvolvem no plano de apoio das cargas externas e são chamadas de tensões de membrana. Essas tensões, de maneira geral, possuem pequena dimensão, mas, devido aos carregamentos, surgem outras tensões na membrana, como tensões normais, tangenciais e de torção. Para que possam ser equilibradas as tensões na membrana, as bordas devem absorvê-las. Porém, se as bordas não forem capazes de fornecer o equilíbrio necessário através das reações de apoio, as regiões próximas da borda estarão sujeitas a deformações. Essas deformações vão provocar o surgimento de maiores tensões normais e tangenciais, sendo necessária uma maior espessura da membrana para resistir a essas tensões. Conceitos fundamentais24 Devido a sua geometria, as cascas podem vencer grandes vãos sem a ne- cessidade de apoios intermediários, mas essa condição muito favorável oferece em contrapartida outros desafios. O elevado custo de execução das cascas, problemas acústicos, a não impermeabilidade da cobertura, a flambagem provocada com baixas tensões, a falta de capacidade de suporte das cascas para cargas concentradas sem que sejam adicionados elementos estruturais que enrijeçam a membrana, todos esses aspectos são impeditivos do uso de membranas, o que restringe muito o seu uso (Figuras 16, 17, 18, 19 e 20). Figura 16. Cúpula esférica apoiada em viga de borda contínua. Figura 17. Cúpula esférica com diversos apoios. Viga de borda acompanha a curvatura das bordas. 25Conceitos fundamentais Figura 18. Membrana com geométrica em forma de paraboloide hiperbólico. As vigas de borda fornecem os apoios necessários para o equilíbrio das reações e das forças. Figura 19. Cúpula esférica com anel superior de compressão e anel inferior de tração. Esse sistema estrutural permite transmitir para as colunas apenas cargas verticais. Conceitos fundamentais26 Figura 20. Casca cilíndrica apoiada em vigas de borda longitudinais. Os sistemas estruturais fornecem informações sobre o comportamento de cada tipo de estrutura e sobre como os elementos estruturais também se comportam individualmente e em conjunto com outros elementos da estrutura. Conhecer cada sistema estrutural e quais são as melhores aplicações na solução dos problemas de engenharia permite ao engenheiro calculista projetar uma estrutura que seja estável e segura, funcional e econômica, além de inserir seu traçado na arquitetura de uma construção. Princípios básicos da estática das estruturas O processo de criação de uma estrutura inicia com a idealização dessa es- trutura a partir de um projeto arquitetônico, de um equipamento ou de uma necessidade específica, como, por exemplo, um reforço estrutural. Idealizar uma estrutura nada mais é do que imaginar, criar uma estrutura utilizando as informações de projeto para definir a posição de colunas, os vãos das vigas 27Conceitos fundamentais e os apoios de cada elemento estrutural, ao mesmo tempo prevendo como a estrutura se comportará. Esse modelo simplificado é constituído apenas de linhas simples, formando um modelo unifilar que representa cada um dos elementos estruturais reais. A partir do modelo unifilar definido pelo projetista, são aplicadas as cargas que devem atuar na estrutura, como o peso próprio da estrutura e dos demais elementos permanentes, da sobrecarga de utilização e das cargas devidas ao vento, seguindo os requisitos especificados nas normas técnicas vigentes (Figuras 21 e 22). Figura 21. Pórtico rígido para suportar a carga de uma parede de alvenaria de blocos. Conceitos fundamentais28 Figura 22. Estrutura idealizada do pórtico real utilizada na análise. Apoios e vínculos Os apoios ou vínculos são os pontos de fixação da estrutura com o meio externo ou entre os elementos estruturais. Todo ponto de fixação de uma estrutura é um apoio ou vínculo. Os apoios podem ser simples, quando se trata de estruturas muito leves, como um simples pórtico, ou bastante complexos, quando as estruturas são pesadas e necessitam suportar grandes cargas, como os apoios de uma ponte rodoviária. A função dos apoios é fornecer à estrutura a esta- bilidade necessária para que todo o sistema de forças que atuam na estrutura esteja em equilíbrio. O tipo e o sistema de apoio influenciam diretamente no comportamento de uma estrutura, bem como na distribuição das forças que serão transmitidas para os apoios. Abaixo temos o esquema estrutural idealizado de metade do vão da Ponte do Porto de Sidnei, na Austrália. A estrutura do arcoé reforçada pela ação de cabos de aço onde essa força é representada por Fc. O peso total de metade da estrutura do arco da ponte é de aproximadamente 10.000 toneladas (Figuras 23, 24, 25, 26 e 27). 29Conceitos fundamentais Figura 23. Esquema unifilar da estrutura do arco da Ponte do Porto de Sidnei. Figura 24. Linha de ação das forças que atuam na estrutura passando pelo apoio do arco inferior e arco superior. Conceitos fundamentais30 Figura 25. Diagrama de Corpo Livre (DCL) do sistema de forças da estrutura. Figura 26. Projeto do apoio da Ponte do Porto de Sidnei, Austrália. Desenvolvido a partir da análise estrutural. Fonte: Dorman Long (1932). 31Conceitos fundamentais Figura 27. Apoio da ponte do Porto de Sidnei após a execução. Fonte: Bridge (2014). O exemplo no Quadro 1 demonstra como funciona o desenvolvimento de um projeto estrutural a partir da sua concepção inicial, passando pela análise de forças e de equilíbrio, finalizando na execução do projeto. Conceitos fundamentais32 Apoio/Vínculo Graus de liberdade Restrições Reações de apoio APOIO 1º GÊNERO 02 01 01 APOIO 2º GÊNERO 01 02 02 APOIO 3º GÊNERO 0 03 03 Quadro 1. Condições de contornos dos apoios. O que realmente significam graus de liberdade e restrições para os apoios? Os graus de liberdade em um apoio indicam quais movimentos o elemento estrutural pode fazer quando solicitado pelas cargas. Vejamos o apoio do 1º gênero: no apoio do 1º gênero temos dois graus de liberdade e apenas uma restrição. Quando falamos de graus de liberdade estamos falando de deslo- camentos e rotações no apoio. Um grau de liberdade é aquele que permite um deslocamento ou uma rotação, ao passo que uma restrição impede um deslocamento ou uma rotação. Quando ocorre um impedimento, ou seja, existe uma restrição, surgem o que chamamos de reações de apoio. As reações de apoio são forças provocadas pelas restrições nos apoios. Por exemplo, no apoio 33Conceitos fundamentais de 1º gênero no Quadro 1 existe uma restrição ao deslocamento vertical no apoio da barra. Essa restrição fará com que surja uma reação de apoio, uma força de sentido contrário ao sentido das cargas aplicadas na barra. Nesse mesmo apoio podemos observar dois graus de liberdade, uma liberdade para se deslocar no sentido horizontal e uma liberdade para que ocorram rotações no apoio. Nesses dois casos não surgem reações de apoio, pois não existe impedimento para esses deslocamentos e rotações. No apoio do 2º gênero, temos um grau de liberdade e duas restrições. O grau de liberdade permite que a barra rotacione no apoio, portanto não provoca o surgimento de reação de apoio. Por outro lado, temos as duas restrições, ao deslocamento vertical e ao deslocamento horizontal. Nesses dois casos teremos reações de apoio, uma no sentido horizontal e outra no sentido vertical. Já no apoio do 3º gênero não temos nenhum grau de liberdade, o que significa que a barra não pode ser deslocada em nenhuma direção nem rota- cionar nesse apoio, o que provoca o surgimento de três reações de apoio, uma reação vertical, devido ao impedimento de se deslocar na vertical, uma reação horizontal, devido ao impedimento de se deslocar na horizontal e uma reação de momento, devido ao impedimento de rotacionar nesse apoio. Diagrama de corpo livre (DCL) O diagrama de corpo livre (DCL) é a forma esquematizada simplificada da estrutura real onde são apresentadas as condições de contorno da estrutura através da geometria, do apoio, das reações de apoio e dos carregamentos. A estrutura na Figura 28 representa a idealização de uma viga submetida a diversos carregamentos e estando essa viga engastada nas extremidades e com dois apoios intermediários. Nesse modelo podemos observar apenas as cargas aplicadas e como a estrutura será vinculada, mas não podemos ver quais outras forças atuam nessa estrutura devido a cada tipo de apoio. Conceitos fundamentais34 Figura 28. Viga contínua submetida a diversos carregamentos. O DCL de uma estrutura apresentará todas as forças que atuam na estrutura permitindo uma análise mais precisa do modelo estrutural (Figura 29). Figura 29. Diagrama de corpo livre de uma viga contínua. No DCL, demonstramos todas as forças que estão atuando na estrutura e as reações de apoio que existem devido às restrições impostas pelos apoios, além de podermos decompor as forças por ventura aplicadas em um ângulo fora dos planos vertical ou horizontal, como é o caso da força de 18 kN aplicada à estrutura em um ângulo de 68º. Essa força deve ser decomposta em duas componentes, uma vertical e outra horizontal, permitindo dessa forma aplicar as equações de equilíbrio da estática. 35Conceitos fundamentais Equações de equilíbrio da estática As análises das equações de equilíbrio partem da premissa de que o corpo está em equilíbrio estático, ou seja, está em repouso, de forma que a aceleração linear do centro de gravidade desse corpo e a aceleração angular desse mesmo corpo em relação ao centro de gravidade são iguais a zero. Considerando que um sistema de forças atuando no mesmo plano podem ser reduzidas a duas forças resultantes, uma força R e um momento M, ambos em relação ao centro de gravidade do corpo e admitindo que o corpo está em repouso, temos que: R = 0 M = 0 Admitindo que uma força resultante é uma única força que pode produzir no corpo o mesmo efeito que todas as demais forças aplicadas ao corpo produ- zem e substituindo R por duas componentes, uma vertical e outra horizontal, temos Rx e Ry, que devem satisfazer as mesmas condições de equilíbrio. Assim, teremos: Rx = ΣFx Ry = ΣFy M = ΣF.d+ ΣM Onde, ΣF.d = somatória dos momentos provocados por todas as forças sobre um eixo de referência ΣM = somatória de todos os momentos aplicados no corpo em relação ao eixo de referência Assim, teremos as equações fundamentais de equilíbrio da estática: ΣFx = 0 ΣFy = 0 ΣM = 0 Conceitos fundamentais36 As equações de equilíbrio estabelecem que a estrutura não se move em nenhuma direção, seja na direção x ou y, e que a estrutura não sofre rotação, garantindo o equilíbrio estático da estrutura. As reações de apoio e sua influência na estabilidade e determinação de uma estrutura Uma estrutura estável é aquela em que todos os elementos são impedidos de se mover, como um corpo rígido. Essa condição é estabelecida através da aplicação de apoios idealizados por um projetista, com as quantidades e tipos de apoios necessários para garantir a condição de equilíbrio da estrutura. O número de reações de apoio influencia na estabilidade e na determinação da estrutura. Essa condição é estabelecida em relação ao número de equações fundamentais da estática, que determina se a estrutura é determinada ou indeterminada, estável ou instável. A estabilidade da estrutura, ou seja, manter a estrutura em repouso, de- pende de que o conjunto de apoios impeça o movimento de cada elemento da estrutura para qualquer tipo de carregamento que possa ser aplicado a essa estrutura em relação às reações de apoio provadas pelas restrições em cada apoio, além da satisfação das condições de equilíbrio determinadas pelas três equações fundamentais da estática: ΣFx = 0 ΣFy = 0 ΣM = 0 O critério para se estabelecer a estabilidade e a determinação de uma estru- tura se baseia nas reações de apoio que surgem devido às restrições impostas por cara tipo de apoio. Essa análise é feita considerando três condições, onde R é o número de restrições: R < 3: Número de reações menor que o número de equações fundamentais da estática; R = 3: Número de reações igual ao número de equações fundamentais da estática; R > 3: Número de reações maior que o número de equações fundamentais de estática. 37Conceitos fundamentais Vejamos cada um dos casos a seguir. Condição I: R < 3 Para que uma estrutura esteja em equilíbrio, a condição que deve ser satisfeita é que a somatória das forças que atuam na estrutura seja igual a zero. Quando o número dereações de apoio é menor que o número de equações, significa que uma ou mais equações não poderão ser satisfeitas, o que implica em uma estrutura instável. Na estrutura retratada na Figura 30, temos uma viga em dois apoios do 1º gênero que possuem dois graus de liberdade e uma restrição apenas. Figura 30. Viga com dois apoios do 1º gênero. O DCL da estrutura na Figura 30 será (Figura 31): Conceitos fundamentais38 Figura 31. Diagrama de corpo livre da estrutura da Figura 30. Podemos observar no DCL da Figura 31 que, devido aos apoios possuírem apenas uma restrição, cada apoio terá apenas uma reação de apoio. Nesse caso, as reações de apoio são verticais. Aplicando as equações da estática nessa estrutura para verificar sua estabilidade e determinação. Para a análise das reações de apoio vamos adotar a convenção de sinais abaixo (Figura 32): Figura 32. Sentido positivo das forças e dos momentos. 39Conceitos fundamentais +↑ ∑Fy = 0 VA + VB – 15 = 0 ⟳ + ∑MA = 0 (15.2) – VB.4 = 0 → + ∑Fx = 0 10 ≠ 0 (não satisfaz a condição de equilíbrio) Analisando os resultados, podemos observar que a estrutura não possui estabilidade quando submetida a forças horizontais, porque a somatória das forças não é igual a zero. Portanto, essa estrutura é classificada como instável e indeterminada. Condição II: R = 3 Nessa condição, em que o número de reações é igual ao número de equações, será possível satisfazer as três equações de equilíbrio. Isso porque o número de incógnitas é igual ao número de equações. Analisando a estrutura abaixo, podemos observar que o elemento está biapoiado sobre dois apoios, sendo um do 2º gênero e outro do 1º gênero (Figura 33). Conceitos fundamentais40 Figura 33. Elemento biapoiado. O DCL da estrutura será (Figura 34): Figura 34. Diagrama de corpo livre da estrutura da Figura 33. 41Conceitos fundamentais Nesse caso podemos observar que a estrutura possui três reações de apoio devido ao tipo dos apoios aplicados à estrutura. Aplicando as equações de equilíbrio da estática, temos, + ↑ ∑Fy = 0 VA + VB – 15 = 0 VA = 15 – VB = 15 – 7,5 = 7,5 kN ⟳ + ∑MA = 0 (15.2) – VB.4 = 0 VB = = 7,5 kN304 → + ∑Fx = 0 10 – HA = 0 HA = 10 kN Analisando os resultados de cada uma das equações, podemos observar facilmente que possuem solução e que a somatória das forças aplicadas e das reações de apoio é igual a zero. Portanto, podemos classificar essa estrutura como estável e determinada externamente. O termo externamente significa que essa estrutura pode ser determinada utilizando apenas as reações de apoio, ou seja, forças externas ao elemento estrutural. Condição III: R > 3 Nessa condição, em que o número de reações é maior que o número de equa- ções, não é possível determinar a estrutura devido ao número de incógnitas ser maior que o número de equações. Essa indeterminação é denominada como grau de indeterminação, sendo igual ao número de restrições superior a 3. Conceitos fundamentais42 Analisando a estrutura na Figura 35, podemos observar que o elemento está engastado no apoio A e simplesmente apoiado em B, através de um apoio do 1º gênero. Figura 35. Elemento engastado. O DCL da estrutura será (Figura 36), Figura 36. Diagrama de corpo livre da estrutura da Figura 35. 43Conceitos fundamentais Nesse caso, temos três reações de apoio no apoio A, devido ao engaste (apoio do 3º gênero), e mais uma reação vertical, devido ao apoio de 1º gênero, em B, totalizando 4 reações de apoio. Como o número de reações é superior ao número de equações, uma das reações não poderá ser determinada com a simples aplicação das equações de equilíbrio da estática. Esse problema poderá ser resolvido aplicando outras teorias para a determinação das incógnitas dessa estrutura. O grau de indeterminação de uma estrutura é dado pela diferença entre o número de reações e número de equações fundamentais da estática. No caso particular dessa estrutura, o grau de indeterminação é 1, como podemos ver a seguir, Grau de indeterminação = R – 3 G.I. = 4 (reações) – 3 (equações) = 1 Grau de indeterminação = 1 Considerando que uma ou mais equações não podem ser determinadas com a aplicação direta das equações fundamentais da estática, essa estrutura é considerada indeterminada, com grau de indeterminação igual a 1. Figura 37. Contraventamento em um edifício, conectado às colunas e vigas dos pavimentos Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010). Conceitos fundamentais44 Classificação da estrutura Condição Estável Instável Determinada Indeterminada I) R < 3 - - Instável (pois as equações de equilíbrio não podem ser satisfeitas considerando as condições de carregamento aplicado) II) R = 3 Determinada (se as reações forem determinadas unicamente com uso das equações de equilíbrio) - Somente será instável se as reações formarem um sistema de forças paralelas ou concorrentes III) R > 3 - Indeterminada (com grau de indeterminação igual a R – 3) Somente será instável se as reações formarem um sistema de forças paralelas ou concorrentes Quadro 2. Critérios de estabilidade e determinação de um único elemento estrutural. Dada a estrutura abaixo, determinar as reações de apoio. 45Conceitos fundamentais O primeiro passo é desenvolver o DCL da estrutura e analisar as reações de apoio. DCL A estrutura possui 3 reações de apoio, portanto é uma estrutura estável e determinada externamente. Aplicando as equações de equilíbrio da estática, teremos: + ↑ ∑Fy = 0 VA + VB – 26,14 – (27,5 . 4,77) = 0 VA + VB = 157,32 kN VA = – VB + 157,32 VA = 157,32 – 46,07 VA = 111,25kN ⟳ + ∑MA = 0 (27,5 * 4,77 * ( )) + 26,14 * 7,88 – VB * 12 + 34 = 0 4,772 – VB * 12= – 312,85 – 205,98 – 34 – VB = – 552,83 12 VB = 46,07kN → + ∑Fx = 0 –15,71 + HA = 0 HA = 15,71kN Todas as reações de apoio foram determinadas, portanto a estrutura é estável e determinada, pois satisfaz as condições de equilíbrio da estática. Conceitos fundamentais46 Como as estruturas são formadas pela composição de estruturas determinadas e indeterminadas de forma extensiva, o projetista deve saber como cada estrutura se comporta. A análise do comportamento de uma estrutura permite prever problemas que podem surgir durante a construção ou depois da estrutura concluída, já estando em utilização. Se uma estrutura determinada perde um dos apoios, a falha ocorre imediatamente, porque com a perda do apoio a estrutura passou a ser instável. Já com uma estrutura indeterminada as cargas transmitidas podem seguir diversos caminhos alternativos caso ocorra a perda de um ou mais apoios. Essa estrutura ainda poderá ser estável, desde que as restrições dos apoios restantes sejam iguais ou maiores que três. Confira no link a seguir o estudo sobre a Introdução de Análise Estrutural e Estabilidade – Conceitos e Fundamentações – Aplicação à queda da Ciclovia Tim Maia. O artigo apresenta uma análise dos conceitos fundamentais e iniciais de análise e estabilidade estrutural que não podem ser negligenciados, como: tipos de apoio; reação de apoios; vínculos estruturais; fundamentos de isostática e hiperestática; esta- bilidade das estruturas. Esses conceitos iniciais são estudados no curso de graduação de Engenharia Civil, baseados em matemática e física elementares, como sistemas de equações lineares e as três Leis de Newton. Se ignorados, podem provocar acidentes estruturais graves (CARMO, 2017). https://goo.gl/Eeba2y 47Conceitos fundamentais https://goo.gl/Eeba2y 1. O contato de uma caneta inclinada em relação à superfície rugosa do papel gera um esforço suficiente para riscá-lo. De acordo com as reações envolvidas com esse tipo de vínculo, pode-se dizer que: Fonte: Volodymyr Horbovyy/Shutterstock.com. a) existirá somente uma reação perpendicular à superfície. b) existirão duas reações perpendiculares entre si. c) existirão duas reações colineares. d) existirá somente uma reação paralela à superfície. e) todas as alternativas estão incorretas. 2. Deacordo com a imagem em destaque, em que uma haste com peso P é sustentada por uma rótula em A e uma corda CG, sabendo que a haste encosta na parede sem fricção, determine quantas reações não nulas serão encontradas se resolvermos o problema. a) Uma reação de força e duas de momento. b) Três reações de força e três de momento. c) Três reações de momento e duas de força. d) Duas reações de força e duas de momento. e) Cinco reações de força. 3. De acordo com a imagem em destaque, em que a mola deve equilibrar um cursor de peso P, quantas reações não nulas serão encontradas, se resolvermos o problema? Conceitos fundamentais48 a) Uma reação de força e duas de momento. b) Três reações de força. c) Três reações de momento. d) Duas reações de força e duas de momento. e) Uma reação de força e uma de momento. 4. De acordo com o princípio da transmissibilidade, se mudarmos o ponto de aplicação de uma força e, ao mesmo tempo, desejarmos manter o efeito gerado por ela, devemos: a) manter seu módulo e sentido. b) manter seu módulo e sentido, mas variar a direção de acordo com o ângulo alterado. c) manter seu módulo, direção e sentido. d) manter sua direção e seu sentido, mas variar o módulo de acordo com a distância deslocada. e) manter seu módulo e sua direção e inverter o sentido. 5. O vínculo tipo engaste, em uma análise tridimensional, evita quantos graus de liberdade (gera quantas reações), de acordo com os esforços possíveis de serem aplicados em um corpo rígido? a) Evita três graus de liberdade. b) Evita quatro graus de liberdade. c) Evita cinco graus de liberdade. d) Evita seis graus de liberdade. e) Engaste permite graus de liberdade. BEER, F. P. et al. Estática e mecânica dos materiais. Porto Alegre: AMGH, 2013. BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. edição. Porto Alegre: AMGH, 2015. BRIDGE. Sydney harbour bridge abutment at The Rocks. 2014. Disponível em: <https:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Sydney_Harbour_Bridge_abutment_at_The_Ro- cks.jpg>. Acesso em: 17 fev. 2018. CARMO, P. F. B. Introdução de análise estrutural e estabilidade: conceitos e funda- mentações: aplicação à queda da ciclovia Tim Maia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS, 19., 2017, Foz do Iguaçu. Anais... São Paulo: IBAPE, 2017. Disponível em: <https://ibape-nacional.com.br/biblioteca/wp-content/ uploads/2017/08/078.pdf >. Acesso em: 17 fev. 2018. DORMAN Long. Sydney harbour bridge: outside elevation of link plates. 1932. Disponível em: <https://sydney-harbour-bridge.nesa.nsw.edu.au/images_content/Elev-of-link- -plate-big.jpg >. Acesso em: 17 fev. 2018. LEET, K. M.; UANG, C.; GILBERT, A. M. Fundamentos da análise estrutural. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. 49Conceitos fundamentais http://commons.wikimedia.org/wiki/File https://ibape-nacional.com.br/biblioteca/wp-content/ https://sydney-harbour-bridge.nesa.nsw.edu.au/images_content/Elev-of-link- Leituras recomendadas HIBBELER, R. C. Análise das estruturas. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013. ILKIU, A. M. Teoria das estruturas: parte I. [S.l.]: [s.n.], 1998. Notas de aula. TIMOSHENKO, S. P.; GERE, J. E. Mecânica dos sólidos: volume I. Rio de Janeiro: LTC, 1983. Conceitos fundamentais50 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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