Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Bioquímica II (ISCTEM. MG 2019) METABOLISMO DAS PROTEÍNAS E DOS AMINOÁCIDOS Prof. Doutor R. Ráice (ruiraice@yahoo.com.br) [Adaptação da aula da Dra. Graça Salomé (Regente)] 29.Julh – 22.Nov/2019 RR-2019 1 9/12/19 DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS E ABSORÇÃO DOS AMINOÁCIDOS CATABOLISMO DE AMINOÁCIDOS Objectivos educacionais 1. Explicar a importância da digestão das proteínas 2. Listar os locais de digestão e as enzimas que digerem as proteínas 3. Listar os locais onde são segregadas as enzimas 4. Explicar a importância da secreção de enzimas digestivas na sua forma não activa. 5. Explicar a importância do ácido clorídrico na digestão das proteínas 6. Explicar como são absorvidos os aminoácidos e dipéptidos 7. Mencionar as situações em ocorre o catabolismo dos aminoácidos 8. Listar os tipos de reações que os aminoácidos sofrem para a eliminação do grupo amino e as respetivas enzimas. 9. Descrever de forma geral o catabolismo dos aminoácidos 10. Nomear os locais e as formas de eliminação do grupo amino NECESSIDADES EM PROTEÍNAS • Homem adulto 70 Kg → 0,8 g/kg/dia (56g/dia) • Criança →1,6 - 2,4 g/kg/dia • Mulher grávida → adicional de 10 g/dia • Mulher lactante → adicional de 15 g/dia A m i n o á c i d o s e s s e n c i a i s Proteínas Aminoácidos Enzimas: peptidases (endo e exopeptidases) Acido clorídrico Enzimas digestivas • Enzimas são secretadas na forma inactive – os zimogénios (proennzimas) → Evita a degradação das células secretoras do pâncreas e do estômago. • Ainda o pâncreas segrega o inibidor da tripsina que evita a activação prematura das proenzimas. DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS Locais de digestão e absorção • Estômago: • Suco gástrico – enzima gástrica e ácido clorídrico DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS • HCl promove aumento da superfície de acção das enzimas digestivas e activa o pepsinogénio. • Estímulos para secreção: • Gastrina • Pensar nos alimentos • Ver os alimentos • Ingestão de alimentos • Presença de alimentos no estômago Intestino delgado: • Suco intestinal - enzimas intestinais e pancreáticas • Duodeno produz: • Secretina: promove secreção de bicarbonato • colecistoquinina: proenzimas digestivas pelo pâncreas • Enteropeptidase → activa zimogénios. • Jejuno produz: • Enzimas • Ileo: → Absorção DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS ENZIMA FONTE FORMA INACTIVA ESPECIFICIDADE NA CLIVAGEM Pepsina Estômago Pepsinogénio Lado NH de aa hidrofóbicos Tripsina Pâncreas Tripsinogenio Lado C=O de aa básicos Quimotripsina Pâncreas Quimotripsinogenio Lado C=O de aa hidrofóbicos Elastase Pâncreas Proelastase Lado C=O de aa pequenos DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS Enzima Fonte Forma inactiva Especificidade na clivagem Carboxi- peptidase A Pâncreas ProCarboxi- peptidase Extremidade –COO- com aminoácidos hidrofóbicos Carboxi- peptidase B Pâncreas ProCarboxi- peptidase Extermidade –COO- com aminoácidos básicos Amino- peptidases Jejuno - Extremidade amino Di e tri- peptidases Jejuno - - Entero- peptidase Duodeno - - Quimotripsinogênio quimotripsina procarboxipeptidase carboxipeptidase Proelastase elastase. Tripsina DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS pepsinogênio pepsina. pepsina (processo de autocatálise) ácido clorídrico Tripsinogénio Enteropeptidase Produtos da digestão das proteínas: • Aminoácidos • Pequenos péptidos Aminoácidos são absorvidos na mucosa do jejuno e Íleo por transporte activo secundário com simporte de sódio. Há absorção de alguns di e tripétidos por cotransporte com H+. A maior parte sofre hidrólise intracitoplasmática. • Absorção de pequenos péptidos → Alergia Em alguns animais ocorre absorção de imunoglobulinas por poucos dias depois do nascimento. ABSORÇÃO DE AMINOÁCIDOS E PÉPTIDOS ABSORÇÃO DE AMINOÁCIDOS E PÉPTIDOS Nos animais há degradação oxidativa de aminoácidos: • Renovação de proteínas celulares (aa desnecessários são catabolisados) • Ingestão excede necessidades para a síntese proteica (não armazena aa) - excesso é catabolizado. • Quando glícidos não estão disponíveis ou não são utilizados, proteínas celulares produção de energia. Catabolismo de aminoácidos Catabolismo de aminoácidos da dieta: lúmen intestinal bactérias. Células intestinais glutaminase, glutamato desidrogenase Fígado cataboliza maior parte. Restante usado pelo fígado e outros tecidos síntese de proteínas. Catabolismo de aminoácidos Destino dos componentes do aminoácidos: • O grupo amino eliminado na forma de: ião amónia, ácido úrico ou ureia, na urina. • Os esqueletos carbónicos -------» produção de energia ou biossíntese Alguns aminoácidos -----------» produtos vasoactivos e pigmento melanina. Catabolismo de aminoácidos • Transaminação • Mais comum • ALT (GPT) • AST (GOT) • Amidação • reacção de fixação de nitrogénio (-NH3+). • Mais importante glutamina sintetase Glutamato + NH4+ + ATP glutamina + ADP + Pi Asparagina sintetase. Catabolismo de aminoácidos - Reacções Desaminação oxidativa Trata-se de um processo meramente irreversível. Ocorre em várias etapas. 1. Desidrogenação do AAs à iminoácido em presença de flavoproteina como catalisador. 2. Os dois hidrogénios retirados do AAs reduzem o FAD à FADH2 (ou FMN à FMNH2) e o iminoácido hidroliza-se em alfa-cetoácido e NH3. 3. A coenzima é reoxidada com O2 atmosférico com produção de H2O. FADH2 ainda podem ser oxidados por outros aceitadores de electrões. Apenas aminoácidos oxidantes L (enzimas esteroespecíficas) catalizam os aminoácidos proteicos. FAD FADH2 NH3 Aminoácido iminoácido α - cetoácido 16 NH OHO R OR OHO NH2 HR OHO Desaminação oxidante do ác. Glutâmico e formação do NH3 Esta conversão do ác. Glutâmico para ác. α-cetoglutárico por desaminação oxidante ou aminação redutora marca o ponto de contacto entre metabolismo glucónico e protéico. Trata-se de uma desaminação reversível com participação da L-glutamato- desidrogenase que possui NAD ou NADP. NAD+ NADH + H+ NH3 Ác. glutâmico àc. α -iminoglutâmico Ác. α -cetoglutârico α–aminoácido + NAD+ + H2O à α–cetoácido + NH3 + NADH + H+ 17 NH2 H HH OHO OHO HH NH HH OHO OHO HH O HH OHO OHO HH Desaminação oxidativa – por desidrogenase • Mais importante é a catalisada pela glutamato desidrogenase. Ocorre na matriz mitocondrial fígado e rim e outros. Catabolismo de aminoácidos - Reacções Desaminação oxidativa – por L-aminoácido oxidases (flavoproteinas – FMN) Catabolismo de aminoácidos - Reacções . Desaminação nao-oxidativa • De treonina, serina, histidina, metionina e cisteina Catabolismo de aminoácidos - Reacções Desaminação de Ser, Tre e Cis A desaminação ocorre geralmente por via de desaminação oxidante ou alguns processos particulares, específicos de determinados AAs (Ser, Tre, Cis) coenzimados por fosfato piridoxal com formação de ác. pirúvico. Os AAs Ser, Tre, Cis contém grupo oxidrilo ou Sulfidrilo nas cadeias laterais e podem ser convertidos directamente em NH3. 21 Desaminação L-Serina H2O Ser-desidratase H2O H2SNH3 ác. aminoacrílico ác. pirúvico Cis-dessulfidrase L-Cisteina 22 NH2 H HH OH OHO NH2 HH OHO CH3 NH OHO CH3 O OHO NH2 H HH SH OHO . Desamidação Glutaminase no fígado, rins, intestino e outros. Catabolismo de aminoácidos - Reacções Fígado é onde ocorre a maior parte do catabolismo dos aminoácidos da dieta excepto os de cadeia ramificada, porque não possui as transaminases específicas. • Os orgãos periféricos têm transaminases mas não são capazes de degradar o -NH3+. • Este é transportado para o fígado onde “catabolizado”. Catabolismo de aminoácidos Excreção de ião amónio (-NH3+) O ião amónio é tóxico para o tecido cerebral por isso deve ser eliminado ou então neutralizado rapidamente. É transportado na forma de alanina, glutamato e glutamina até ao fígado ou rim. No fígado o –NH3+ é convertido em ureia que é menos tóxica e é eliminada no rim No rim o –NH3+ é eliminado por acção da glutaminase. Catabolismo de aminoácidos Catabolismo de aminoácidos O amoníaco resultante da degradação dos AAs e que não é utilizado na biossintese de compostos azotados é excretado de diferentes formas pelos organismos: - Na forma de NH4+ nos animais aquáticos; - Na forma de ácido úrico nas aves e répteis terrestres e - Na forma de urea na maioria dos mamíferos terrestres. Nos vertebrados o NH3 é transformado no Ciclo de Urea (ureogénese ou Ciclo de Krebs-Henseleit) As principais fontes dos átomos da urea são: C (CO2), H (NH3) e N (ácido aspártico). 27 Ciclo de Cahil ou de alanina-glucose. Transporte de Ião amónio Catabolismo de aminoácidos Outros tecidos Glu Gln Transporte de Ião amónio BIBLIOGRAFIA 1. A. Lehninger - LEHNINGER: Principles of Biochemistry. 4ª Edição – FREEMAN. 2005 2. R. K. Murray; D.A.Bender; K.M.Botham; P.J. Kennelly; V. W. Rodwell; P.A. Weil - Harper’s Ilustrated Biochemistry – 30th edition – McGraw Hill Education. 2015 3. M.N. Chatterjea; R. Shinde – Textbook of Medical Biochemistry 8th Edition – JAYPEE. 2012 4. G. Meisenberg; W. Simmons – Principles of Medical Biochemistry – 4th Edition – Elsevier. 2017 CICLO DE UREIA e DESTINO DOS ESQUELETOS DE CARBONO DOS AMINOÁCIDOS OBJECTIVOS EDUCACIONAIS 1. Explicar a importância biomédica da síntese de ureia 2. Mencionar as características gerais 3. Descrever resumidamente o processo de formação de ureia 4. Mencionar quanto ATP se gasta na síntese de ureia 5. Explicar como se processa a regulação do ciclo de ureia 6. Explicar como o ciclo de ureia está interligado ao ciclo de Krebs 7. Mencionar alguns distúrbios clínicos associados. 8. Listar os principais destinos dos esqueletos carbónicos dos aminoácidos 9. Mencionar alguns distúrbios do metabolismo de proteínas e aminoácidos. DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS Catabolismo de aminoácidos Glutamina NH4+ Glutamato NH4+ Ureia Excreção de NH3 A NH3 deve ser rapidamente eliminada ou então neutralizada porque é tóxica para o tecido cerebral. Amoniemia normal: 5-35mM (40-70mg/dl) Para evitar toxicidade o neurónio diminui a concentração de amónia livre por: • Aminação redutiva do α-cetoglutarato por ação da glutamato desidrogenase e • Amidação do glutamato por ação da glutamina sintetase; Excreção de amónia Principalmente na urina ● Animais amoniotélicos ● Animais uricotélicos ☻Animais ureotélicos Excreção de ião amónio Nos seres humanos: Maior parte em forma de UREIA (80% do nitrogénio excretado) produzida no fígado no ciclo de ureia ou ciclo de Krebs-Henseleit. Excreção de ião amónio Ciclo de ureia Importância biomédica • Metabolização de amónia • Deficiências de enzimas do ciclo ou insuficiência hepática à Hiperamonémia Características gerais • Ocorre no citosol e mitocôndria de hepatócitos apenas. • Rim não possui arginase e cérebro não possui transportador de ornitina • O primeiro passo não faz parte das reacções que formam o “ciclo”. • Há cinco reacções • Há gasto de ATP • A enzima chave é a carbamoil fosfato sintetase-I (mitocondrial) Ciclo de ureia Ciclo de ureia Mitocôndria Enzima: carbamoil-fosfato sintetase I Curto prazo: Activada alostericamente. Longo prazo: Regulado pela taxa de síntese de enzimas do ciclo (depende do estado nutricional do indivíduo). Ciclo de ureia - Regulação Ligação entre ciclo de ureia e ciclo de Krebs A síntese de ureia consome 4 ATP. Havendo interligação com o ciclo de Krebs, via oxalacetato: àprodução de NADH è 3 ATP, ⇒Reduz grandemente o custo energético do ciclo. Ligação entre ciclo de ureia e ciclo de Krebs A sua toxicidade é explicada com base nos seguintes acontecimentos: Toxicidade da amónia 1. O excesso de NH4+ leva a redução da quantidade de ATP com consequente dano celular irreparável e morte. A neutralização de NH4+ consome alfa-cetoglutarato comprometendo o ciclo de Krebs com consequente produção insuficiente de ATP. Catabolismo de aminoácidos 2. Formação de glutamina consome glutamato que é neurotransmissor e precursor de GABA à falha neuronal. Glutamato + NH4+ + ATP à Glutamina + ADP + Pi X X GABA X Neurotransmissão 3. O excesso de glutamina nos neurónios levam a saturação dos transportadores que também permitem captação do triptofano à aumento de serotonina (neurotransmissor inib.) 4. Os níveis elevados de glutamina nos astrócitos (Pressão osmótica), levam ao acúmulo de líquido com posterior edema cerebral. Bibliografia 1. A. Lehninger - LEHNINGER: Principles of Biochemistry. 4ª Edição – FREEMAN. 2005 2. R. K. Murray; D.A.Bender; K.M.Botham; P.J. Kennelly; V. W. Rodwell; P.A. Weil - Harper’s Ilustrated Biochemistry – 30th edition – McGraw Hill Education. 2015 3. M.N. Chatterjea; R. Shinde – Textbook of Medical Biochemistry 8th Edition – JAYPEE. 2012 4. G. Meisenberg; W. Simmons – Principles of Medical Biochemistry – 4th Edition – Elsevier. 2017 DESTINO DOS ESQUELETOS DE CARBONO DOS AMINOÁCIDOS Catabolismo de aminoácidos ? Durante o catabolismo dos aminoácidos o esqueleto carbónico pode dar origem a seis principais intermediários: Os aminoácidos podem ser classificados em 3 grupos: • Glucogénicos • Cetogénicos • Glucogénicos e cetogénicos Destino dos esqueletos de carbono dos aminoácidos – Acetil-CoA – Piruvato – Oxalacetato – Fumarato – Succinil-CoA – α-cetoglutarato Destino dos esqueletos de carbono dos aminoácidos • O destino final do aminoácido depende das necessidades da celula: – Produzir ATP – Produzir glucose – Produzir ácidos gordos – Produzir outros compostos nitrogenados não protéicos: Nucleótidos, aminas biogénicas, catecolaminas, etc. Exemplo: Qual dos destinos irá seguir a fenilalanina na célula hepatica se este aminoácido e a tirosina estiverem em excesso na dieta que também contém excesso de glícidos? CATABOLISMO DE AMINOÁCIDOS 1. Defeitos na digestão das proteínas e absorção de aminoácidos: • Deficiência de peptidases • Como resultado de Pancreatite; enterite viral • Defeitos nos transportadores • Doença de Hartnup – deficiência no transportador de aminoácidos hidrofóbicos grandes e aromáticos. è Deficiência de aminoácidos essenciais. Alguns transtornos do metabolismo das proteínas e dos aminoácidos 2. Defeitos no metabolismo de aminoácidos levam a aminoacidúrias e outras patologias. • Fenilicetonúria – deficiência de fenilalanina hidroxilase • Albinismo oculocutâneo – deficiência de tirosinase 3. Defeitos no ciclo de ureia levam a hiperamonémia. • Hiperamonémia– deficiência de enzimas do ciclo. É mais severa no caso de: • Deficiência de CPS-I é autossómica recessiva • Deficiência de OTC é recessiva ligada ao sexo • Deficiência de outras enzimas cursam com hiperamonémia de menor grau porque a citrulina já tem amónia covalentemente ligada. Alguns transtornos do metabolismo das proteínas e dos aminoácidos Bibliografia 1. A. Lehninger - LEHNINGER: Principles of Biochemistry. 4ª Edição – FREEMAN. 2005 2. R. K. Murray; D.A.Bender; K.M.Botham; P.J. Kennelly; V. W. Rodwell; P.A. Weil - Harper’s Ilustrated Biochemistry – 30th edition – McGraw Hill Education. 2015 3. M.N. Chatterjea; R. Shinde – Textbook of Medical Biochemistry 8th Edition – JAYPEE. 2012 4. G. Meisenberg; W. Simmons – Principles of Medical Biochemistry – 4th Edition – Elsevier. 2017
Compartilhar