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GT 4 – MÓD. 26 - DAC Karen Soares – 2020.2 DEFINIÇÃO Doença arterial coronariana (DAC): é o resultado da obstrução das artérias coronarianas → os vasos sanguíneos que irrigam o coração; isquemia miocárdica transitória, esforço-induzida, que melhora com o repouso. Isquemia: desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio → queda na produção de ATP → perda da função → necrose celular. Forma crônica → angina estável: o paciente refere sinais e sintomas de isquemia durante o esforço, mas em repouso as manifestações desaparecem, pois não há instabilidade da placa de ateroma. Entretanto, a placa é grande o suficiente para obstruir >50% do lúmen coronariano, produzindo isquemia somente em face de um aumento da demanda cardíaca. A depender da área isquêmica → complicações elétricas (arritmias, morte súbita por FV/TV) e/ou mecânicas (falência ventricular esquerda, ruptura de parede livre, ruptura de septointerventricular, ruptura de músculos papilares, aneurisma miocárdico) A principal causa de isquemia cardíaca ocorre por conta da aterosclerose das artérias coronarianas, sendo as demais causas (embolia, vasculite, dissecção coronariana) bastante incomuns. Angina: síndrome clínica caracterizada por dor ou desconforto nas seguintes regiões: tórax, epigástrio, mandíbula, ombro, dorso ou MMSS; desencadeada ou agravada por atividade física ou estresse emocional e atenuada com uso de nitroglicerina. ATEROSCLEROSE DAS ARTÉRIAS CORONARIANAS 1. ASSINTOMÁTICA: Isquemia silenciosa → ausência de queixas clínicas. Paciente portador de fatores de risco para aterosclerose. A isquemia miocárdica só é detectada através de exames complementares. Aumenta a chance de óbitos e outras complicações. 2. CRÔNICA Pode estar presente por anos → estável. Manifesta-se apenas durante a realização de esforços. 3. AGUDA: Evolui em um curto espaço de tempo. O paciente evolui em curto espaço de tempo com sinais e sintomas de isquemia progressiva, que acaba se manifestando em repouso. Este evento evolui em decorrência da instabilidade da placa de ateroma, que sofre rupturas em sua superfície originando um trombo (plaquetas e fibrina). SCA: - Angina instável (AI) ISQUEMIA MIOCÁRDICA ASSINTOMÁTICA AGUDA (SCA) ANGINA INSTÁVEL IAM SEM SUPRA DE ST IAM COM SUPRA DE ST CRÔNICA (DAC) - Infarto agudo do miocárdio sem supra de ST (IAMSST) - Infarto agudo do miocárdio com supra de ST (IAMST) EPIDEMIOLOGIA Principal causa de óbito no Brasil e em outros países. O que tem contribuído para esse cenário? - Estilo de vida moderno → dieta rica em gordura e calorias, sedentarismo, tabagismo → pandemia de obesidade, resistência à insulina e DM2. - Envelhecimento populacional 12-14% dos homens com idade entre 65-84 anos são portadores de angina estável → forma crônica e sintomática da aterosclerose (em mulheres essa porcentag4em é de 10-12%). FATORES DE RISCO PARA ATEROSCLEROSE 1. Idade (homens >45 anos; mulheres >55 anos); 2. Colesterol LDL alto; 3. Colesterol HDL baixo; 4. Tabagismo; 5. HAS; 6. DM; 7. Obesidade; 8. Sedentarismo; 9. História família de doença coronariana precoce; 10. Dieta aterogênica; 11. Aumento de Lipoproteína A (LpA); 12. Aumento de fatores pró-trombóticos; 13. Aumento de fatores ró-inflamatórios; 14. Resistência à insulina; FISIOPATOLOGIA ISQUEMIA MIOCÁRDICA Tecido miocárdico: maior taxa de extração de O2 do organismo (75%) → essa taxa se relaciona com a fração do conteúdo arterial de oxigênio captada pelos tecidos quando há a passagem do sangue pela microcirculação. Reserva coronariana: as arteríolas pré-capilares do leito coronário são capazes de se dilatar de acordo com a necessidade de oxigênio. QUADRO CLÍNICO HISTÓRIA Sensação de aperto, peso ou pressão retroesternal (as vezes queimação ou montada, mas raramente ‘dor’); Início durante esforço físico ou emoções; Alívio após repouso ou nitrato sublingual (1-5 minutos); Precordialgia atípica: presença de apenas 2 dos sintomas supracitados; mais comum em mulheres, idosos, diabéticos e portadores de transplante cardíaco. Não anginoso: somente uma ou nenhuma das características supracitadas. Avaliar: qualidade, localização, irradiação, duração, fator desencadeante, fator de alívio e sintomas associados. Sinal de Levine: paciente esfrega a mão difusamente sobre o esterno ou coloca o punho cerrado no meio do peito. No desconforto não isquêmico o paciente consegue delimitar bem a sensação, podendo apontar com o dedo a região inframamária. Outros sintomas que são associados as consequências da isquemia miocárdica: - Dispneia (queda na fração de ejeção do VE levando a congestão pulmonar); - Fadiga/ tonteira/ sensação de desmaio (baixo DC); - Sopro transitório de regurgitação mitral; - Palpitações; - Náuseas, vômitos, sudorese e palidez; Irradiação: costuma irradiar para ambos os lados do corpo, podendo ser referida em qualquer localização entre a mandíbula e o umbigo, incluindo o dorso → o mais comum é a irradiação para o MSE, em particular para a sua face ulnar. Angina decubitus: desencadeada pelo decúbito, despertando o paciente durante a noite. Outros sintomas associados a aterosclerose: - Claudicação intermitente (aterosclerose em MMII) - História de AIT/AVC (aterosclerose cerebrovascular) - Massa abdominal palpável (aneurisma de aorta) EXAME FÍSICO Pode ser absolutamente normal quando o paciente está em repouso e sem sintomas. Alterações que podem aparecer durante a angina: - Inspeção e palpação: percepção de um impulso discinético no ápice cardíaco; frêmito da regurgitação mitral; - Ausculta: surgimento de B4 (disfunção diastólica do VE) e/ou B3 (disfunção sistólica do VE); sopro de regurgitação mitral; desdobramento paradoxal de B2; estertoração pulmonar (edema pulmonar por falência do VE). Muitos pacientes possuem exame físico alterado não pela doença coronariana em si, mas sim pelos seus fatores de risco → HAS, obesidade centrípeta e acantose nigricans (resistência à insulina); diminuição e assimetria dos pulsos periféricos, sopro carotídeo e aneurisma de aorta abdominal (aterosclerose); xantomas e xantelasmas (hipercolesterolemia); alterações no fundo de olho (HAS/DM); CLASSIFICAÇÃO EXAMES COMPLEMENTARES EXAMES LABORATORIAIS GERAIS Hemograma Perfil lipídico Função renal Glicemia/ hemoglobina glicada Sumário de urina Função tireoidiana Proteína C reativa: quanto mais inflamado estiver o paciente, maior o risco de instabilidade e rotura das placas de ateroma. ECG DE REPOUSO Eletrocardiograma de doze derivações em repouso. Entretanto, pode evoluir sem alterações, mas podem indicar (não isoladamente) uma maior probabilidade de doença aguda subjacente: hipertrofia do ventrículo esquerdo, arritmias, distúrbios do sistema de condução. TESTE ERGOMÉTRICO/ ECG DE ESFORÇO Teste provocativo. Barato, fácil execução e amplamente disponível. Além de confirmação diagnóstica, pode ser útil para estratificar o prognóstico. Como é realizado? - Registro contínuo do ECG antes, durante a após um protocolo específico de esforço físico (realização de esteira ou bicicleta ergométrica). - A PA, FC e sintomas também devem ser monitorados. - Protocolo de Bruce: a velocidade e a inclinação da esteira são aumentados a cada três minutos → o surgimento de desconforto precordial, dispneia, tontura, exaustão, depressão de ST > 2mm (0,2 Mv), queda da PA >10mmHg ou taquirritimias ventriculares obrigada a suspensão imediata do exame. Critério diagnóstico: infradesnível do segmento ST >11 mm (0,1 Mv). Contraindicações para realizá-lo incluem infarto agudo do miocárdio (< 4 dias), angina instável de moderado e alto risco, ritmos cardíacos instáveis, estenose aórtica grave, miocardite aguda e endocarditeinfecciosa ativa. CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA: Indicado em indivíduos com ECG de repouso anormal e na dificuldade de interpretação do segmento ST; Diagnóstico e prognóstico. Permite a mensuração da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. O teste é realizado em dois momentos consecutivos: - Estresse: esforço físico ou de fármacos. - Repouso Identifica defeitos perfusionais reversíveis ou fixos. ECOCARDIOGRAFIA Pode detectar alterações da contratilidade regional ou global da parede do ventrículo decorrente de uma cicatriz antiga ou de isquemia miocárdica persistente. Alterações do relaxamento também podem ser um indicativo da presença de DAC. Com estresse e contraste (solução salina com microbolhas). CINEANGIOCORONARIOGRAFIA Pacientes com sinais de alto risco nos testes não invasivos; Permanência de sintomas com terapia ideal; Pacientes muito sintomáticos com esforço mínimo. CORONARIOGRAFIA Padrão-ouro. Exame com baixo risco de complicações. Identifica obstruções anatômicas secundárias à aterosclerose, espasmo coronariano, anomalias anatômicas, vasculite e dissecção arterial primária. Focar em quem realmente é indicado o uso desse método diagnóstico: TOMOGRAFIA CORONARIANA 1. Escore de cálcio: quantificação da calcificação nas artérias coronarianas. 2. Angiotomografia coronariana: avaliação da luz das artérias coronárias de maneira não invasiva. DIAGNÓSTICO CLASSIFICAÇÃO GRAU DE RISCO ALTO RISCO (> 3% MORTE/ANO) • Disfunção do ventrículo esquerdo em repouso grave (FE < 0,35). • Escore de risco elevado ao TE (escore de Duke < - 11). • Disfunção ventricular esquerda grave ao teste de imagem com estresse (< 0,35). • Grandes defeitos de perfusão durante teste de imagem com estresse. • Múltiplos defeitos de perfusão de tamanho moderado durante teste de imagem com estresse. • Grandes defeitos fixos de perfusão com dilatação do ventrículo esquerdo ou aumento na captação pulmonar, usando a angiografia com radionuclídeos com tálio. • Moderados defeitos com dilatação do ventrículo esquerdo ou aumento na captação pulmonar durante teste de imagem com estresse, utilizando o tálio. • Defeitos em mais de dois segmentos com baixa frequência cardíaca(< 120 bpm) ou com baixa dose de dobutamina (= 10 µg/kg/minuto) durante teste do ecocardiograma com estresse. • Evidência de isquemia extensa durante ecocardiograma com estresse. MODERADO RISCO (1 A 3% MORTE/ANO) • Leve a moderada disfunção ventricular esquerda em repouso (FE 0,49 a 0,35). • Risco intermediário no TE (escore de Duke entre 4 e -10). • Moderados defeitos de perfusão sem dilatação ventricular esquerda ou captação pulmonar durante teste de imagem com estresse. • Defeitos de perfusão limitados, envolvendo dois segmentos e com doses de dobutamina > 10 µg/kg/min durante teste de ecocardiograma com estresse. BAIXO RISCO (< 1% MORTE/ANO) • Escore baixo ao TE (escore de Duke >5). • Teste normal ou pequenos defeitos de perfusão em repouso ou em teste de imagem com estresse. • Contração miocárdica normal ou nenhuma mudança em limitada porção do miocárdio durante teste do ecocardiograma com estresse. O escore de Duke177, que resulta da equação: tempo do exercício (em minutos) – 5 x depressão do ST (em milímetros) – 4 x índice anginoso (1 para ausência de angina, 2 para presença de angina e 3 para angina como causa de interrupção do exercício). Valor ≥ 5 representa baixo risco, com mortalidade anual ≤ 1%. Valor compreendido entre 4 e -10 representa risco intermediário, com mortalidade anual estimada entre 1 a 3%. Valor < -10 representa risco elevado de futuros eventos. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS TRATAMENTO TRATAMENTO CLÍNICO Mudanças dos hábitos de vida: - Parar de fumar; - Fazer dieta; - Emagrecer - Exercício físico regular - Controlar a PA - Controlar níveis de LDL-colesterol (< 70 mg/dl para pacientes de alto risco, e < 100 mg/ dl para pacientes de risco intermediário); e de HDL-C (manter acima de 50 mg/dl); - Controlar DM - Controlar obesidade - Vacinação contra influenza. Nitrato sublingual profilático: previne angina por atividade física quando dado 15-30 min antes do esforço. ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS 1. Ácido acetilsalicílico (AAS): 100 mg/dia. - Age inibindo de forma irreversível a enzima ciclo-oxigenase das plaquetas, impedindo a formação do tromboxane A2. 2. Tienopiridinas (Clopidogrel, Ticlopidina): 75 mg/dia. ANTICOAGULANTE ORAL – CUMARÍNICO - Warfarina ANTILIPÊMICAS – ESTALINAS - Tratar dislipidemia DROGAS ANTIANGINOSAS Nitratos Betabloqueadores Antagonistas de cálcio - Anlodipina e verapamil IECA e BRA REVASCULARIZAÇÃO CARDÍACA EFEITOS COLATERAIS REFERÊNCIAS 1. Guia de doenças e sintomas, Doença arterial coronariana (DAC), Hospital Albert Einsten. 2. MedCurso 2019 – Cardiologia, Doenças coronarianas. 3. Artigo: Doença arterial coronariana – Arquivo Brasileiro de Cardiologia, Volume 93, São Paulo – 2009. 4. Diretriz de Doença Coronariana Estável, 2014 – Arquivos Brasileiros de Cardiologia.
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