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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Médica DISCIPLINA INTERAÇÃO CELULAR I 2020.PLE Nomes da dupla: Glenda Domingos Mascarenhas e Isabela Batista Gonçalves Moreira (grupo 29) “Somitos sem relógio” A formação dos segmentos corpóreos (somitos) em embriões de vertebrados é acompanhada por oscilações moleculares (relógio de segmentação). Acredita-se que interação deste oscilador com uma onda que viaja ao longo do eixo do corpo (modelo de relógio e onda frontal) controla o número, tamanho e identidade dos somitos. Neste estudo nós mostramos que o mecanismo de relógio e onda frontal não é necessário para formação dos somitos. Mesoderma não somítico tratado com Noggin gera muitos somitos que se formam simultaneamente, sem a expressão cíclica dos genes dia via de Notch, mas ainda com tamanho, forma e destino normais. Estes somitos possuem identidade axial: o código Hox é estabelecido independentemente do destino dos somitos. Todavia, estes somitos não são subdivididos em metade cranial e metade caudal, que é necessária pela segmentação neural. Nós propomos que os somitos são estruturas auto-organizantes, cujas formas e tamanhos são determinadas por interações locais célula- célula. Após a leitura do resumo e das legendas das figuras, a dupla deve: 1. Comparar as conclusões do estudo com o conteúdo da aula ministrada pelo professor. A somitogênese é um processo referente a formação de somitos. Como visto em sala de aula, o modelo proposto para regular esse processo é denominado modelo de relógio e onda frontal. Esse modelo determina que a somitogênese é decorrente de um processo oscilatório, que irá determinar em que local que o somito será formado e quando que ele deverá ser formado, estabelecendo, assim, um relógio de segmentação. A parte referente a onda frontal desse modelo retrata o local em que o somito deverá ser formado e esse processo ocorre mediante o controle do gradiente de duas moléculas ao longo do mesoderma pré-somítico, o fgf8 e o ácido retinóico. O fgf8 é uma molécula difusora produzida na região caudal do embrião e o ácido retinóico também é uma molécula difusora que é produzida, no entanto, na região rostral do embrião pelo mesoderma da cabeça e pelos próprios somitos que já tinham sido formados. O gradiente dessas moléculas é maior nos locais em que elas são produzidas e perde força à medida que se afastam do seu local de produção. Na região em que ambos os gradientes dessas moléculas estão muito reduzidos, esta sinalização é o indicativo para que um novo par de somitos seja formado. Como a formação de novos somitos aumenta o gradiente de ácido retinóico, o local de formação dos somitos é dinâmico e, então, acompanhando o alongamento cefalocaudal do embrião, a formação dos somitos ocorre de maneira sequencial em direção a região caudal do embrião ao longo do mesoderma pré-somítico. A outra parte referente ao modelo, é a parte do relógio, relacionada a quando que esse somito deverá ser formado, e ele é regulado pelo padrão oscilatório da proteína NOTCH. A proteína NOTCH é um morfógeno presente na membrana das células do mesoderma pré-somítico e ela tem a sua expressão regulada por meio de feedback negativo, o que resulta em um ciclo oscilatório que é concomitante ao local em que cada par de somitos é formado. A formação dos somitos, então, é realizada quando altos níveis de NOTCH induzem a expressão do gene Mesp que é responsável, por sua vez, por induzir a expressão de Eph no compartimento anterior do somito. Os somitos apresentam uma peculiaridade já que quando estão em processo de formação, neste modelo, são constituídos em compartimentos anteriores e posteriores e não como uma unidade por completo; sendo assim, a Eph do compartimento anterior do somito é responsável por induzir a expressão de Efrina no compartimento posterior do somito anteriormente a ele formado em relação ao eixo cefalocaudal. A Efrina expressa no compartimento posterior do somito é responsável por promover a epitelização, ou seja, transição mesenquimal-epitelial do mesoderma pré-somítico, formando um limite entre dois somitos vizinhos. O artigo “Somites Without a Clock” contrapõe o modelo proposto em aula, ou seja, ele propõe que o modelo do relógio e da onda frontal não são necessários para a formação dos somitos, mas sim para a determinação das porções rostral e caudal. É, então, realizado um tratamento de um mesoderma não somítico pela inibição da proteína morfogenética óssea (BMP) por Noggin, em que os cientistas tentaram avaliar se há formação dos somitos de maneira independentemente de um relógio de segmentação. Assim, eles utilizaram explantes de embriões embebidos em Noggin, constatando a formação de estruturas com morfologia semelhante a dos somitos, embora não dispostas linearmente. Esses somitos ectópicos formados exibiam mesmas características morfológicas quando comparados aos somitos encontrados nas posições normais do embrião, entretanto, eles obtinham processos de segmentação que diferiam entre si, uma vez que esses somitos ectópicos tinham formação simultânea sem expressão cíclica dos genes que eram expressos no modelo do relógio. A fim de analisar se os somitos ectópicos apresentavam também a subdivisão rostrocaudal, os cientistas avaliaram a expressão gênica da porção rostral pelo gene Eph-A4 e caudal pelos genes Hairy1, Hairy2, LFng, Uncx4.1 e Meso2. No entanto, os resultados foram inconclusivos, o que evidencia a necessidade do modelo do relógio e da onda frontal para determinar essa característica de segmentação. Outro experimento realizado foi com relação a expressão de HOX, genes que conferem a identidade aos somitos. Com esse experimento, eles puderam observar que os genes Hoxb6 e Hoxb9 são expressos em estágios mais tardios do desenvolvimento (estágio 8), mas não em estágios mais iniciais (estágio 5), como Hoxb3 e Hoxb4. A partir desses dados, foi constatado, então, que esses genes, independentemente do relógio de segmentação, favorecem a determinação da identidade axial dos somitos. Através desse estudo, é possível, inferir que não é atribuído aos somitos ectópicos a capacidade de sofrer diferenciação rostrocaudal, sendo essa a função das oscilações de Notch. Além disso, os somitos ectópicos são morfologicamente semelhantes a um somito normal, o que indica que o relógio de segmentação não é necessário para sua formação. Dessa forma, a conclusão do artigo demonstra através de simulações no CompuCell-3D, que a formação dos somitos em tamanho e forma devem ocorrer por meio de interações célula-célula. 2. Interprete os padrões de expressão gênicas na figura 2. O que estes resultados nos dizem a respeito do modelo do relógio e onda frontal? A figura 2 do artigo “Somites Without a Clock” representa os resultados de um experimento que foi realizado com time-lapse microscopy com imagens geradas de 3h a 7h30 com intervalos de 45 minutos. O experimentovisava analisar se a formação dos somitos ectópicos transplantados em uma região extraembrionária, de um embrião de galinha, respeitava o relógio de segmentação, o qual era observado na formação dos somitos normais. Para realizar esse experimento, foram analisados os padrões de expressão de genes como Hairy1, Hairy2 e LFng que na formação dos somitos normais desempenham um padrão oscilatório responsável pela periodicidade em que os somitos são formados ao longo do mesoderma pré-somítico no embrião. Esse padrão oscilatório, característico do modelo de relógio e da onda frontal, permite que a formação dos somitos ocorra de maneira sequencial. Na figura, podemos visualizar o nível de expressão dos genes analisados ao longo das horas por meio de marcações na cor roxa. No embrião em si, estas marcações se apresentavam de maneira dinâmica, ou seja, elas variavam ao longo do mesoderma pré-somítico conforme ocorria o alongamento cefalocaudal do embrião. Dessa forma, se traçamos uma reta imaginária nas imagens respectivas aos períodos de 3 horas, 5h15, 6h45 e 7h30, e compararmos as localizações das marcações em roxo mais acentuadas conseguimos visualizar que elas não se encontram na mesma posição no decorrer do tempo, indicando que os padrões de expressão dos genes analisados ao longo do mesoderma pré-somítico são oscilatórios. Contudo, quando os padrões de expressão desses mesmos genes foram analisados nos somitos ectópicos transplantados (destacados pelos retângulos menores em preto), as marcações em roxo não sofreram variações significativas, sendo a expressão genética uniforme ao longo do experimento, o que indica que o padrão oscilatório da expressão dos genes analisados, neste caso, era inexistente. Então, pode-se inferir que os somitos ectópicos transplantados não seguiam o relógio de segmentação para a sua formação. 3. Interprete os painéis na figura 3 e destaque as diferenças com o modelo descrito na aula. A figura 3 do artigo “Somites Without a Clock” representa os resultados dos dois experimentos que visavam analisar se os somitos ectópicos, assim como os somitos normais, eram subdivididos em compartimento anterior e posterior. Para realizar o primeiro desses experimentos, cujos resultados são representados da letra A a F, foram analisados os níveis de expressão de marcadores caudais (Hairy1, Hairy2, LFng, Uncx4, Meso2) e rostrais (EphA4) nos somitos ectópicos. Diferentemente dos somitos normais, nos somitos ectópicos, os níveis de expressão desses marcadores eram muitos baixos ou até mesmo inexistentes, como se pode observar pelas figuras de A a F, em que a marcação evidenciada nos quadrados em roxo é muito tênue. Dessa forma, esse experimento demonstra que os somitos ectópicos não são subdivididos e não apresentam uma identidade rostrocaudal. Para realizar o segundo experimento, cujos resultados estão representados da letra G a O, um somito ectópico marcado com GFP foi colocado no local de um somito normal em um outro embrião secundário para se analisar o crescimento de axônios motores e migração de células da crista neural. Foram analisados esses dois processos porque eles dependem da identidade rostrocaudal do somito para que ocorram com êxito. Isso porque, como vimos em aula, no somito normal, as células da crista neural, por exemplo, só conseguiriam ultrapassar o somito por meio de seu compartimento anterior. Isso se deve, pela Efrina, que é um “chemorepellent”, promover uma sinalização existente no compartimento posterior desses somitos para impedir que essas células migratórias da crista neural perpassem os somitos por esse compartimento. Contudo, como pode ser observado principalmente na imagem L, a sinalização que deveria ocorrer para a passagem adequada dos axônios motores e das células da crista neural migratórias se encontra perturbada, e, então, essas estruturas perdem a sua regulação de passagem pelo somito, podendo causar anomalias. No somito ectópico marcado com GFP, que está representado na imagem por uma coloração amarelo fluorescente, foi-se observado várias anormalidades no processo de crescimento de axônios motores e migração das células da crista neural, como aumento da lacuna entre raízes motoras e fusão de raízes ventrais adjacentes. Com isso, evidenciou-se com esse experimento que somitos ectópicos analisados não são subdivididos em compartimentos rostrais e caudais (anteriores e posteriores, respectivamente), sendo o modelo de relógio e onda frontal necessário para o processo de segmentação, principalmente do sistema nervoso periférico do embrião.
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