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2018 Comportamento do Consumidor Prof.a Luciana Ronchi Prof. Tulio Kléber Vicenzi Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof.a Luciana Ronchi Prof. Tulio Kléber Vicenzi Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 338.02 R769c Ronchi, Luciana Comportamento do consumidor / Luciana Ronchi; Tulio Kléber Vicenzi. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 218 p. : il. ISBN 978-85-515-0140-5 1.Produtos e Serviços. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III apresentação Caro acadêmico, entender o comportamento do consumidor é importante para que as organizações consigam alcançar seus objetivos e se diferenciem em um mercado cada vez mais competitivo. No entanto, as organizações precisam entender que somente ter dados demográficos sobre os seus clientes (idade, gênero etc.) não é mais suficiente. As organizações precisam compreender em profundidade os consumidores. Quando falamos em profundidade, queremos dizer que é importante conhecermos aspectos da personalidade, estilo de vida, traços emocionais e também os papéis que exercem no processo de compra, entre tantos outros aspectos. Não é uma tarefa fácil, pois para que as organizações consigam traçar estes perfis, diversas áreas do conhecimento são envolvidas, como economia, psicologia, sociologia e antropologia. É fato que ouvir o cliente e entendê-lo faz com que as ações das organizações sejam mais assertivas, poupando assim recursos e fazendo com que as mesmas sejam mais eficazes e rápidas em suas tomadas de decisão. Neste livro didático você encontrará um panorama geral sobre o estudo do comportamento do consumidor, tanto final quando organizacional, que dará subsídios para que você consiga refletir e entender melhor o assunto. Iniciaremos nossos estudos (Unidade 1) apresentando os principais conceitos sobre o comportamento do consumidor e refletindo sobre a importância de estudarmos esse tema, que apesar de não ser novo, é uma disciplina recente no mundo acadêmico. As principais bases teóricas para estudarmos o comportamento do consumidor serão apresentadas, e é importante ressaltarmos que estas teorias são das mais diversas áreas de conhecimento, mas nos darão subsídios para a compreensão do comportamento do consumidor. Apresentaremos também alguns métodos de pesquisa que utilizamos para compreendermos o comportamento do consumidor. Na segunda unidade entenderemos o consumo como um processo que é realizado em etapas. Podemos entender o comportamento do consumidor como um processo de escolhas que é realizado cumprindo uma série de passos. Verificaremos que estas etapas têm características específicas, mas é o todo que definirá o comportamento de compra do consumidor. Também nesta unidade, apresentaremos algumas estratégias que as organizações podem desenvolver a partir do conhecimento do comportamento do consumidor, também focaremos o processo de gestão de vendas e a influência da comunicação para a satisfação do consumidor neste processo. Apresentaremos também alguns insights sobre os efeitos da globalização no consumidor e como este movimento transformou o consumo, e consequentemente, o comportamento do consumidor. IV Finalizamos nosso estudo sobre o comportamento do consumidor apresentando os principais fatores psicológicos e socioculturais que influenciam o seu comportamento, afinal estamos tratando de seres humanos que interagem entre si, e estas interações podem influenciar seu comportamento como consumidores. Além disso, trataremos nesta unidade sobre o comportamento de compra organizacional. Abordaremos as semelhanças e diferenças entre o comportamento do consumidor final e o consumidor organizacional e, em vista destas diferenças, o que influencia o comportamento do consumidor organizacional, pois apesar de estarmos tratando de pessoas (compradores), seu comportamento é influenciado por fatores organizacionais e ambientais, entre outros fatores. Estudar o comportamento do consumidor é estudar o ser humano e todas as nuances envolvidas, assim, não é uma tarefa fácil, mas que pode trazer muitos benefícios para as organizações. Além disso, estudar o comportamento do consumidor é também uma forma de entendermos como nós mesmos, como consumidores, nos relacionamos com as organizações. Bons estudos! V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................. 1 TÓPICO 1 – ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 DEFINIÇÃO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ................................................... 3 3 QUEM SE BENEFICIA DO ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................................................................................................................... 8 4 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A ORIENTAÇÃO PARA O CLIENTE ....... 11 5 DESENVOLVENDO INFORMAÇÕES SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................................................................................................................... 12 5.1 QUESTIONÁRIO ............................................................................................................................. 13 5.2 GRUPOS DE DISCUSSÃO OU FOCUS GROUP ........................................................................ 16 5.3 ENTREVISTAS ................................................................................................................................. 17 5.4 NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS .......................................................................................................18 5.5 EXPERIMENTO ............................................................................................................................... 18 5.6 OBSERVAÇÕES (PESQUISAS ETNOGRÁFICAS) ..................................................................... 18 5.7 NEUROCIÊNCIA ............................................................................................................................ 19 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 21 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 – ENTENDENDO OS CONSUMIDORES ...................................................................... 23 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23 2 TIPOS DE CONSUMIDORES ........................................................................................................... 23 3 OS DIFERENTES PAPÉIS DO CONSUMIDOR ............................................................................ 28 4 SEGMENTANDO O MERCADO ...................................................................................................... 34 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 43 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 44 TÓPICO 3 – TEORIAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................... 45 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 45 2 BASE PARA O ESTUDO DAS TEORIAS SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................................................................................................................... 45 3 TEORIAS RACIONAIS SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................... 51 3.1 TEORIAS ECONÔMICAS .............................................................................................................. 51 3.2 TEORIAS DE AVALIAÇÃO DE RISCO E DECISÃO ................................................................. 52 4 TEORIAS DA MOTIVAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ..................... 53 4.1 A TEORIA DE FREUD E A QUESTÃO DO INCONSCIENTE NO CONSUMO ................... 54 4.2 A TEORIA DE MASLOW E O CONSUMO ................................................................................. 55 5 TEORIAS COMPORTAMENTAIS SOBRE O CONSUMO ......................................................... 57 5.1 TEORIA DE SKINNER .................................................................................................................... 58 6 TEORIAS SOCIAIS SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ........................... 61 7 TEORIAS EXISTENCIAIS SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............... 63 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 69 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 73 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75 sumário VIII UNIDADE 2 – ESTÁGIOS DO PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA NO MERCADO DE BENS DE CONSUMO .......................................................................................... 77 TÓPICO 1 – ESTÁGIOS DO PROCESSO DE COMPRA ................................................................ 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 PARADIGMAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................. 80 3 AS ETAPAS QUE ANTECEDEM O CONSUMO DAS PESSOAS .............................................. 87 3.1 PRIMEIRA ETAPA: AS EXPERIÊNCIAS AO LONGO DO TEMPO ........................................ 87 3.2 SEGUNDA ETAPA: AS EXPECTATIVAS DO CONSUMO ....................................................... 89 3.3 TERCEIRA ETAPA: CONSTRUÇÃO DAS ALTERNATIVAS PARA A SELEÇÃO DO PRODUTO ........................................................................................................................................ 90 3.4 QUARTA ETAPA: O JULGAMENTO DO CONSUMO ............................................................. 91 4 ESTÁGIOS DO PROCESSO DE DECISÃO DE COMPRA NO MERCADO DE BENS DE CONSUMO ............................................................................................................................................ 91 4.1 TIPOS DE COMPORTAMENTO DE COMPRA ......................................................................... 95 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 98 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 100 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 101 TÓPICO 2 – ESTRATÉGIAS DE VENDAS COM BASE NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................................................................... 103 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 103 2 GESTÃO ESTRATÉGICA DE VENDAS VERSUS PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES .... 103 2.1 A VENDA PESSOAL ....................................................................................................................... 104 2.2 A FORÇA DE VENDAS .................................................................................................................. 104 3 DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS COM SUSTENTAÇÃO AO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ................................................................................... 106 4 A SATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR ............................................................................................. 108 4.1 O FEEDBACK DO CONSUMIDOR INSATISFEITO................................................................... 111 5 A INFLUÊNCIA DA INOVAÇÃO NA COMUNICAÇÃO PARA SATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR ..................................................................................................................................... 114 6 CONSUMIR OU NÃO CONSUMIR, EIS A QUESTÃO .............................................................. 116 7 OS CUSTOS NO ENVOLVIMENTO DO CONSUMIDOR ......................................................... 120 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 123 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 126 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 127 TÓPICO 3 – O NOVO CONSUMIDOR GLOBAL ........................................................................... 129 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 129 2 O CONSUMIDOR DO FUTURO ...................................................................................................... 130 2.1 OS EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO E O CONSUMIDOR INTERNACIONAL .................... 132 2.2 A TRANSFORMAÇÃO DO CONSUMO ..................................................................................... 1352.3 A NOVA TIPOLOGIA DO CONSUMIDOR ................................................................................ 136 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 139 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 143 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 144 UNIDADE 3 – FATORES QUE INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................................................................ 145 TÓPICO 1 – FATORES PSICOLÓGICOS ........................................................................................... 147 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 147 IX 2 PERCEPÇÃO .......................................................................................................................................... 147 2.1 EXPOSIÇÃO, ATENÇÃO E INTERPRETAÇÃO ......................................................................... 152 3 APRENDIZAGEM E MEMÓRIA ..................................................................................................... 157 4 MOTIVAÇÃO ........................................................................................................................................ 162 5 ATITUDES E PERSUASÃO ................................................................................................................ 165 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 167 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 168 TÓPICO 2 – FATORES SOCIOCULTURAIS ..................................................................................... 169 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 169 2 INFLUÊNCIA DO GRUPO ............................................................................................................... 169 2.1 GRUPOS DE REFERÊNCIA ........................................................................................................... 170 2.2 INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA .......................................................................................................... 176 3 INFLUÊNCIA DA CULTURA ............................................................................................................ 181 4 INFLUÊNCIA DA CLASSE SOCIAL ................................................................................................ 186 5 INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS ..................................................................................................... 190 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 197 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 198 TÓPICO 3 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ORGANIZACIONAL ...................... 199 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 199 2 FATORES AMBIENTAIS, ORGANIZACIONAIS, INTERPESSOAIS E DO COMPRADOR ...................................................................................................................................... 200 3 TIPO DE COMPRA E RISCO PERCEBIDO .................................................................................... 203 4 MERCADOS INSTITUCIONAIS E GOVERNAMENTAIS ........................................................ 205 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 208 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 212 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 213 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 215 X 1 UNIDADE 1 O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • familiarizar o acadêmico com o comportamento do consumidor; • apresentar os principais conceitos sobre o comportamento do consumidor; • debater sobre a importância do estudo do comportamento do consumidor; • entender os tipos e papéis do consumidor; • explorar alguns métodos de pesquisa usados para entender o comporta- mento do consumidor; • definir por que e como segmentamos o mercado; • identificar as principais teorias do comportamento do consumidor. Caro acadêmico! Esta unidade de estudos encontra-se dividida em três tópicos de conteúdos. Ao longo de cada um deles, você encontrará sugestões e dicas que visam potencializar os temas abordados, e ao final de cada um deles estão disponíveis resumos e autoatividades que visam fixar os temas estudados. TÓPICO 1 – ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR TÓPICO 2 – ENTENDENDO OS CONSUMIDORES TÓPICO 3 – TEORIAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, estamos iniciando mais um livro didático e nele investigaremos o comportamento do consumidor. Nesta primeira unidade nos familiarizaremos com o comportamento do consumidor. Todos nós somos consumidores, assim nos parece fácil definir comportamento do consumidor, no entanto, estudar pessoas é uma tarefa complexa. Apesar do interesse pelo estudo do consumidor não ser algo novo, a disciplina que estuda o comportamento do consumidor é recente. A disciplina do marketing que trata do comportamento do consumidor é dinâmica e busca contribuições de diversas áreas do conhecimento, como na economia, na psicologia, na sociologia e na antropologia. Assim, neste primeiro tópico, iniciaremos nossos estudos abordando e debatendo alguns conceitos importantes para fundamentarmos os próximos tópicos, e também destacaremos a importância do estudo do comportamento do consumidor para as organizações. 2 DEFINIÇÃO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Já que todos nós somos consumidores, você conseguiria definir o que é comportamento do consumidor? Talvez você definiria como o estudo de como as pessoas compram, mas, como veremos a seguir, o comportamento do consumidor envolve muito mais do que a compra. Solomon (2011 p. 33) define comportamento do consumidor como “[...] o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos”. Percebe-se que a definição de Solomon vai além da compra, passa pela seleção do bem ou serviço, antes da compra, e vai até o descarte, após a compra. De certa forma, podemos sugerir que o comportamento do consumidor é um processo que envolve desde a seleção até o descarte, passando pela compra. Sheth, Mittal e Newman (2001 p. 29) sugerem que o comportamento do consumidor é definido como “[...] atividades físicas e mentais realizadas por clientes de bens de consumo e industriais que resultam em decisões e ações, como compra e utilizar produtos e serviços, bem como pagar por eles”. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 4 As atividades mentais podem ser o julgamento que se faz da qualidade de determinado produto. Assim, as atividadesmentais dizem respeito ao processo de informação e tomada de decisão. Já as atividades físicas envolvem visitas a lojas e até mesmo conversa com vendedores. Referem-se ao esforço físico e gasto de energia do consumidor relacionados à compra. Desta forma, o comportamento do consumidor envolve aspectos físicos e mentais. Enquanto uma pessoa decide sobre a compra (atividade mental), pode estar se movendo dentro da loja em busca de outro produto (atividade física). Observe também que na definição de Sheth, Mittal e Newman (2001), as atividades são realizadas por clientes de bens de consumo e industriais. Assim, o comportamento do consumidor não diz respeito à ação de uma só pessoa. Muitas vezes há uma série de pessoas envolvidas. Um grupo de amigos planejando uma viagem no final de semana, uma família comprando um carro novo, são alguns exemplos. Outro tipo de consumidor são os industriais, ou também chamados de organizacionais. São pessoas que compram bens, serviços, ideias, em nome de empresas para uso nos processos de fabricação, distribuição ou revenda da empresa. Após analisarmos todas essas definições sobre comportamento do consumidor, podemos dizer que comprar é apenas uma parte do conceito. Ao definirem o comportamento do consumidor, Hoyer e Macinnis (2011) incluem ainda um outro elemento às definições já apresentadas. Para os autores, o comportamento do consumidor é “a totalidade das decisões dos consumidores em relação à aquisição, consumo e descarte de bens, serviços, tempo e ideias, por unidades humanas de decisão (ao longo do tempo)” (HOYER; MACINNIS, 2011, p. 4). O elemento incluído pelos autores é unidades humanas de decisão, sugerindo que a sequência de aquisição, consumo e descarte ocorre em um período de tempo em uma ordem dinâmica. Outro ponto importante a ser observado nas definições sobre comportamento do consumidor é que ele não se restringe a bens tangíveis, como roupas ou carros. Todas as definições aqui apresentadas tratam também de serviços, ideias, experiências e até mesmo do tempo. Então, o comportamento do consumidor trata também do filme ao qual assistiremos, do candidato que votaremos nas eleições e até mesmo se terminaremos de assistir ao seriado que começamos. Não podemos mais dizer que o comportamento do consumidor é o estudo de como as pessoas compram, certo? O comportamento do consumidor envolve o entendimento de um conjunto de decisões que um indivíduo, um grupo ou até mesmo uma organização toma sobre: selecionar, comprar, usar e descartar bens, serviços, ideias, experiências e até mesmo o tempo, para satisfazer suas necessidades e desejos. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 5 Agora que já definimos o que é comportamento do consumidor, vamos estudar as três importantes situações que nos darão subsídios para compreender como os consumidores adquirem, consomem e descartam bens e serviços. a) Adquirir um bem ou serviço: os consumidores podem adquirir um bem ou serviço de diferentes maneiras. Vejamos oito maneiras diferentes no quadro a seguir: Modo de Aquisição Descrição Comprar É o método de aquisição comumente usado para muitos bens e serviços, se obtém algo em troca de dinheiro. Trocar Nesta situação os consumidores podem receber um produto ou serviço como parte de uma troca. Por exemplo, dar livros antigos como parte do pagamento por livros novos. Alugar ou arrendar Em vez de comprar, os consumidores alugam ou arrendam. No aluguel, uma das partes cede à outra o usufruto de um bem de sua propriedade em troca de um pagamento. Alugamos carros, casas, roupas de festa etc. Permutar Existe troca de bens ou serviços sem que haja qualquer troca de dinheiro. No Brasil existem alguns sites especialistas em trocas, um deles é o <http://bliive.com/>. Encontrar Nesta situação os consumidores encontram bens que outros perderam ou jogaram fora. Quem nunca perdeu um guarda-chuva? Furtar Trata-se de apoderar-se de coisa alheia. Muitos bens podem ser adquiridos desta forma, mas profissionais de marketing desenvolveram bens e serviços para deter esse método de aquisição, por exemplo, alarmes e travas que impedem furtos de carros. Compartilhar Outro método de aquisição é compartilhar ou emprestar. O Time Sharing é um exemplo deste método, pois o consumidor não adquire a totalidade de um bem, por exemplo, uma casa de praia, e sim uma cota, assim o bem será compartilhado por todos que fizeram a aquisição de cotas. QUADRO 1 – MANEIRAS DE ADQUIRIR UM BEM OU SERVIÇO FONTE: Adaptado de Hoyer e Macinnis (2011) UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 6 ESTUDOS FU TUROS Como os consumidores optam por um destes modos de aquisição, envolve uma série de fatores que entenderemos com mais profundidade na Unidade 2 deste livro. b) Usar um bem ou serviço: além de saber como adquirem, é importante saber como os consumidores usam estes bens ou serviços. É importante para as empresas que os consumidores utilizem seus produtos ou serviços de forma correta, em alguns casos o uso de forma inadequada pode trazer sérios riscos à saúde do consumidor (por exemplo, o uso de remédios de forma errada). Hoyer e Macinnis (2011) citam o exemplo dos consumidores que colecionam itens, para apontar a importância de as organizações entenderem os modos de usos dos consumidores. Segundo os autores, os colecionadores criam um grande mercado de compra, venda, transporte e até mesmo seguro de itens colecionáveis. Neste caso é importante que a empresa entenda como o consumidor está usando seu produto, para, em alguns casos, até dar um novo uso a um produto que não está dando o retorno necessário. Um exemplo para ilustrar esta situação é o leite condensado. Não imaginamos outro uso para o leite condensado a não ser para fazer doces, mas não foi sempre assim. Muito utilizado aqui no Brasil, o leite condensado surgiu na Europa em 1866 como uma forma de conservar o leite in natura para possibilitar seu longo transporte, sendo assim uma alternativa de leite fresco. No seu rótulo trazia a forma de uso, como por exemplo, tomar com café ou chocolate, diluído em água ou não. No Brasil, em 1946, o leite condensado ganhou fama com o brigadeiro, famoso doce brasileiro, assim o leite condensado começou a ser utilizado na culinária para o preparo de doces, tanto que a partir de 1962 começaram a introduzir receitas nas suas embalagens (NESTLÉ BRASIL LTDA, 2014). c) Modos de descartar um bem: é a fase em que os consumidores definem o que irão fazer quando o bem perde a sua utilidade. A primeira coisa que pensamos quando não queremos mais um bem é jogá-lo fora. Será? No quadro a seguir veremos outras formas possíveis de descartar bens. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 7 Opção Descrição Encontrar um novo uso Muitos consumidores gostam de dar novos usos a bens antigos, por exemplo, uma calça jeans vira um short, ou até mesmo uma bolsa. Livrar-se do bem temporariamente Algumas formas de livrar-se temporariamente é emprestando ou alugando um bem. Livrar-se definitivamente Jogar fora, trocar ou doar fazem parte deste item. QUADRO 2 – MODOS DE DESCARTE DE UM BEM FONTE: Adaptado de Hoyer e Macinnis (2011) Jacoby, Berning e Dietvorst (1977) sugerem ainda que, no descarte, também existe a possibilidade de decidir sobre manter o bem. Solomon (2011) sugere que as pessoas geralmente formam fortes laços com os bens e a decisão de descartar algo pode ser dolorosa. Um exemplo dessa situação são os bens de valor sentimental. No caso de uma mãe que guarda o primeiro sapato do seu filho, o sapato não é mais necessário, mas tem um valor sentimental para a mãe, assim ela prefere guardar o sapato pelo valor sentimental que ele possui. A escolha pelo tipo de descarte será influenciada “pelos aspectos concretos, funcionais ou simbólicos relacionados aos produtos, como a funcionalidade, estilo, obsolescência, capacidade de estoque e valor” (JACOBY; BERNING; DIETVORST,1977, p. 27). Já Solomon (2011, p. 398) aponta um outro fator importante, o descarte de bens está se tornando um problema cada vez maior, pois “não existe mais fora onde jogar as coisas”. NOTA Vivemos em uma sociedade em que os descartáveis imperam, causando um grande problema ambiental. No entanto, a preocupação com o meio ambiente e como vamos descartar os bens que adquirimos sem causar impacto está criando novos mercados e novas oportunidades para empreendedores que encontrarem alternativas para o problema. Ao entendermos as possibilidades de adquirir um bem ou serviço, a importância de definir como os consumidores utilizam bens e serviços e como descartam, ou não, estes bens, conseguimos entender melhor tudo o que envolve o comportamento do consumidor. O interessante disso tudo é que, ao estudarmos o comportamento do consumidor, podemos fazer relações em um nível pessoal, afinal, todos nós somos consumidores. Então, já pensou como é importante para as organizações entenderem como os consumidores se comportam? Vamos tratar disso no próximo item. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 8 3 QUEM SE BENEFICIA DO ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Quando descrevemos o que é comportamento do consumidor, no item anterior, vimos que se trata de um processo que as pessoas utilizam para satisfazer suas necessidades e desejos. O propósito do marketing é satisfazer as necessidades e desejos do público-alvo da empresa. Solomon (2011) sugere que tais necessidades só podem ser atendidas se os profissionais de marketing entenderem as pessoas e organizações que usarão seus produtos e serviços. Assim, para que as empresas sejam bem-sucedidas, devem entender seus clientes, ou seja, o consumidor. De forma bem simples, estudar o comportamento do consumidor é importante para entendê-lo e assim conseguir entregar o que ele necessita. Kotler e Keller (2006, p. 172) apontam que estudar o comportamento do consumidor “ajuda a melhorar ou lançar produtos e serviços, determinar preços, projetar canais, elaborar mensagens e desenvolver outras atividades de marketing”. Enfim, para os autores, estudar o consumidor e como ele se comporta é o que vai balizar a estratégia do Mix de Marketing da empresa. DICAS Dois filmes que retratam a importância de entender o consumidor são: Quero ser Grande, um filme de 1988 estrelado por Tom Hanks. No filme, Tom Hanks é uma criança que se transforma em um adulto com mente de criança. Ele vai trabalhar em uma fábrica de brinquedos e logo chama a atenção por seus comentários, que trouxeram muitos insights para o dono da empresa. Será que ele entendia o comportamento do consumidor da empresa? Outro filme interessante é: Do que as mulheres gostam, filme de 2000, com Mel Gibson e Helen Hunt. Mel Gibson é um publicitário que após sofrer um acidente, passa a ter o dom de ler os pensamentos das mulheres, desta forma passa a conhecê-las melhor. Como será que ele usou esse conhecimento? Assista e descubra! Vamos aprofundar nosso estudo das implicações do comportamento do consumidor no marketing. No quadro a seguir podemos associar as atividades de marketing com as implicações do estudo do comportamento do consumidor. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 9 Atividades de Marketing Como o comportamento do consumidor ajuda Estratégia orientada ao consumidor O marketing cria, entrega e comunica valor. Desta forma é necessário que o profissional de marketing faça pesquisas com diversos grupos de consumidores dentro do mercado para elaborar estratégias que ofereçam tal valor. Além disso, as pesquisas com consumidores podem ajudar os profissionais a identificar consumidores que têm necessidades não satisfeitas. Mercado-alvo Ajuda os profissionais de marketing a identificar grupos- alvos de consumidores para táticas de marketing e como usuários frequentes diferem de usuários ocasionais. Também identificam os envolvidos nas decisões de aquisição, uso e descarte. Posicionamento Outra ação estratégica é analisar como a oferta deverá ser posicionada na mente do consumidor. Deve refletir o que é produto e como ele difere da concorrência. Produtos e serviços Profissionais de marketing realizam pesquisas do consumidor para tomarem uma série de decisões sobre o produto, como: que ideia os consumidores têm para novos produtos, ou os atributos que podem ser mudados em uma oferta existente. Também em decisões que se referem a nome, embalagem e logomarca de produtos é importante entender o consumidor. Comunicação As pesquisas de consumidor podem ajudar a determinar os objetivos publicitários, apoiando na escolha de palavras e paisagens que melhor são lembradas por determinado segmento, além de apoiarem a escolha dos veículos de comunicação em que as mensagens serão veiculadas. Dão suporte também ajudando na seleção de vendedores e apontando a quantidade necessária de vendedores para atender aos consumidores. Preço É importante que os profissionais de marketing conheçam a influência que o preço tem sobre as decisões de aquisição, uso e descarte do consumidor. Distribuição Como o produto vai ser distribuído e vendido ao consumidor, também pode ter ajuda do comportamento do consumidor. É necessário analisar onde o consumidor- alvo compra e como as lojas devem ser projetadas para atender às necessidades dos consumidores. QUADRO 3 – IMPLICAÇÕES DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NO MARKETING FONTE: Adaptado de Hoyer e Macinnis (2011) UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 10 No Quadro 3 é possível observar que os profissionais de marketing usam o estudo do comportamento do consumidor para definir estratégias e táticas mais eficazes de marketing, mas não é só isso, o comportamento do consumidor pode beneficiar outros segmentos. Solomon (2011) aponta que o estudo do comportamento do consumidor ajuda as empresas a garantir a continuidade dos produtos para o público- alvo que atendem. Além de ajudar as empresas a continuarem seus negócios e serem prósperas, o estudo do comportamento do consumidor também ajuda os consumidores e a sociedade. Você imaginou que o estudo do comportamento do consumidor pode ajudar o consumidor criando um ambiente melhor de consumo? Hoyer e Macinnis (2011) sugerem que: a) ajuda o consumidor a tomar melhores decisões; b) protege certos segmentos de consumidores, por ex., as crianças; e c) ao estudar o comportamento dos consumidores descartando os produtos, auxilia em programas de reciclagem e relacionados à proteção ambiental. NOTA A criança tem um importante papel no mercado consumidor, indo muito além dos produtos diretamente ligados a ela. A criança influencia decisivamente nos hábitos de compra dos pais, tios e avós. Outro benefício importante do estudo do comportamento do consumidor são as políticas e regras que protegem o consumidor de práticas abusivas de marketing. Hoyer e Macinnis (2011) sugerem que os profissionais de marketing precisam regular suas ações com base nestas regras. Um exemplo disso são as restrições legais sobre a propaganda de bebidas alcoólicas e cigarros. Agora já conseguimos compreender a complexidade e a importância do estudo do comportamento. Não basta conhecer quem é o consumidor, precisamos entender como ele se comporta, como reage a determinados produtos, empresas e aos estímulos do ambiente. As pesquisas sobre o comportamento do consumidor podem ajudar os consumidores, a sociedade e as empresas. Para as organizações, entender o comportamento do consumidor trará o conhecimento das características dos consumidores e auxiliará na definição do mercado quanto ao produto, abordagem de vendas, canais de distribuição, entre outras estratégias. Dessa forma, surge a necessidade de as empresas serem orientadas para o cliente. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 11 4 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A ORIENTAÇÃO PARA O CLIENTE Como identificamos na seção anterior, é apartir do estudo do comportamento do consumidor que as empresas terão subsídios para oferecer respostas às necessidades dos clientes. Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 39) sugerem que a orientação para o cliente, ou mercado, significa “pleno entendimento dos desejos e necessidades dos clientes, do ambiente competitivo e da natureza do mercado, empregado para formular todos os planos e ações da empresa a fim de criar clientes satisfeitos”. Os autores apontam que a orientação para o cliente faz com que as empresas criem valor tanto para os seus clientes internos quanto externos. Assim, as empresas orientadas para o cliente criam uma vantagem competitiva no mercado. As vantagens competitivas, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), levam a empresa a ter um melhor desempenho em função de um aumento da lucratividade e de um crescimento da receita. As vantagens que aumentam a lucratividade, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), são: a) Eficiência de custo em virtude de clientes que compram repetidamente: as estratégias para manter clientes são menos custosas do que as de conquistar novos clientes. Ao adotar uma estratégia de orientação aos clientes e entender melhor suas necessidades e desejos, a empresa é capaz de satisfazê-los e assim mantê-los por longo prazo. Ao comprarem repetidamente, significa eficiência de custos, pois assim como conquistar novos clientes, o custo de atender novos clientes também é mais alto. Por exemplo, um novo usuário de um sistema de computador precisa de mais tempo de apoio da empresa do que usuários recorrentes. b) Preços mais altos em virtude de clientes estabelecidos: uma empresa orientada para o cliente está constantemente inovando e melhorando o desempenho de seus produtos para atender cada vez mais às necessidades de seus clientes. Isso influencia diretamente a experiência do cliente ao tratar com a empresa, criando uma sensação de que “a empresa se preocupa com eles”. Esses clientes nutrem um sentimento de lealdade com a empresa e não irão mudar para a concorrência por um menor preço. c) Lealdade do cliente em tempos de crise: quando a empresa utiliza uma orientação para o cliente para cultivar clientes mais comprometidos, estes são mais dispostos a ajudar a empresa em épocas de crise. Esses clientes leais são mais resistentes a práticas de negócios injustas ou antiéticas contra a empresa. Já as vantagens que geram crescimento da receita, para Sheth, Mittal e Newman (2001), são: UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 12 a) Aumento da propaganda boca a boca: o boca a boca é a melhor forma da empresa crescer e conquistar novos clientes sem muitos investimentos. A orientação para o cliente produz clientes satisfeitos que estão dispostos a contar para os outros sobre a empresa, sendo que a comunicação boca a boca é muito importante quando falamos de serviços ou produtos e serviços arriscados. b) Compra em um único lugar: clientes satisfeitos e leais promovem mais negócios para a empresa, mesmo porque a maioria dos clientes prefere fazer compras em um único lugar. Assim, as empresas têm a possibilidade de ampliar sua linha de produtos e serviços, atendendo às necessidades dos clientes. c) Inovações em produtos: outra vantagem de se ter clientes satisfeitos e leais é que estes são mais abertos a compartilharem suas experiências. Essas informações são muito importantes para a inovação em produtos. A probabilidade de um novo produto dar certo nestas circunstâncias é bem maior, pois a empresa está levando em consideração as necessidades e desejos dos clientes. Observamos a importância de as empresas criarem sistemas que possibilitem aproximá-las de seus clientes, para que possam escutá-los e identificar suas necessidades e desejos e, assim, agir de forma mais eficiente para atendê-los. Agora você deve estar se perguntando: E onde ficam os clientes internos? Para Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 46), “os funcionários gabam-se de trabalhar em uma empresa que lhes ofereça senso de orgulho”. Para os autores, clientes satisfeitos geram funcionários satisfeitos. Além disso, é preciso que a empresa invista em qualidade e ofereça treinamentos e ferramentas a seus funcionários para que possam fazer suas atividades com qualidade e se orgulhar. Então, não nos restam mais dúvidas do quanto é importante conhecermos o consumidor, seu comportamento e também a importância de as empresas terem uma orientação para o cliente e uma vantagem competitiva no mercado. Afinal, se não entendermos como o consumidor se comporta, como atenderemos as suas necessidades e desejos? Como fazemos para compreender essas necessidades e desejos dos consumidores? Na nossa próxima seção trataremos das pesquisas sobre o comportamento do consumidor, que ajudam as empresas a determinar como os consumidores se comportam. 5 DESENVOLVENDO INFORMAÇÕES SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Entendendo a importância de compreender o comportamento do consumidor, chegou a hora de analisarmos como buscamos informações para entender a estes consumidores. Solomon (2011) aponta que o estudo do comportamento do consumidor se aplica a praticamente qualquer contexto, desde sobre um detergente para louças ou sobre a compra de uma complexa rede de computadores para uma rede de lojas. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 13 Hoyer e Macinnis (2011) sugerem que os pesquisadores usam dois tipos de dados para fazer suas pesquisas, os dados primários e os dados secundários. Os autores explicam que os dados primários são dados que não existem, que serão coletados com um objetivo específico. Já os dados secundários são os dados que já foram coletados por uma entidade com um objetivo e usados posteriormente por outras instituições com outros objetivos. Vamos a um exemplo para ficar mais claro. Quando uma empresa cria um questionário e faz uma pesquisa com seus clientes para compreender como eles estão se sentindo com a mudança no layout da loja, essa pesquisa usa dados primários. Quando uma empresa usa dados coletados no último Censo pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para fazer uma pesquisa sobre como as famílias estão se estruturando, essa pesquisa usa dados secundários. IMPORTANT E Dados primários: dados que originam de um pesquisador e são coletados para fornecer informações relevantes a um projeto de pesquisa específico. Dados secundários: dados coletados para algum propósito que são subsequentemente usados em um projeto de pesquisa. Podemos coletar dados com algumas poucas pessoas ou fazer uma pesquisa com muitos participantes. Vamos examinar algumas opções? 5.1 QUESTIONÁRIO Provavelmente você já deve ter respondido a um questionário, ele é uma das ferramentas de pesquisa mais utilizadas. Sheth, Mittal e Newman (2001) explicam que esse método é utilizado para explicar crenças, opiniões, atitudes e percepções dos consumidores. Segundo Hoyer e Macinnis (2011), funciona com respostas abertas que o respondente precisa preencher, ou com escalas de notas ou seleção de itens. Veja no quadro a seguir alguns tipos e exemplos: UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 14 PERGUNTAS FECHADAS Denominação Descrição Exemplo Dicotômico Uma pergunta com duas respostas possíveis. Para programar esta viagem, você ligou pessoalmente para a American Airlines? ᵒ Sim ᵒ Não Múltipla escolha Uma pergunta com três ou mais respostas. Com quem você está viajando neste voo? ᵒ Ninguém ᵒ Cônjuge ᵒ Cônjuge e filhos ᵒ Apenas filhos ᵒ Colegas de trabalho/amigos/parentes ᵒ Estou participando de uma excursão Escala Likert Uma afirmação em que o entrevistado indica seu grau de concordância/ discordância. As companhias aéreas menores geralmente oferecem melhores serviços que as grandes. 1___ Discorda totalmente 2____Discorda 3____Não concorda nem discorda 4____Concorda 5____Concorda totalmente Diferencial semântico Uma escala ligando duas palavras bipolares. Oentrevistado seleciona o ponto que representa sua opinião. American Airlines Grande___________________Pequena Experiente_______________Inexperiente Moderna_________________Antiquada Escala de importância Uma escala que mede a importância dada a um atributo qualquer. Para mim a comida servida a bordo é: 1 ___Extremamente importante 2____Muito importante 3____De alguma importância 4____Pouco Importante 5____Totalmente sem importância Escala de classificação Uma escala que classifica algum atributo de “excelente” a “ruim”. A comida servida pela American Airlines é: 1 ___Excelente 2____Muito boa 3____Boa 4____Razoável 5____Ruim QUADRO 4 – TIPOS DE PERGUNTAS E ESCALAS TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 15 Escala de intenção de compra Uma escala que descreve a intenção de compra do entrevistado. Se um serviço de internet a bordo estivesse disponível em um voo longo, eu: 1 ___Certamente usaria 2____Provavelmente usaria 3____Não tenho certeza 4____Provavelmente não usaria 5____Certamente não usaria PERGUNTAS ABERTAS Completamente não estruturada Uma pergunta a que os entrevistados podem responder de diversas maneiras. Qual sua opinião sobre a American Airlines? Associação de palavras São apresentadas várias palavras, uma de cada vez, e os entrevistados mencionam a primeira palavra que lhes vem à mente. Qual a primeira palavra que lhe vem à mente quando ouve: Companhia aérea___________________ American Airlines____________________ Viagem____________________________ Complemento da frase É apresentada uma frase incompleta e o entrevistado tem que complementá-la. Quando escolho uma companhia aérea, o que mais pesa na minha decisão é_______________________. Complemento da história É apresentada uma história incompleta e o entrevistado deve completá-la. “Voei pela American há alguns dias. Notei que as partes externas e internas da aeronave ostentavam cores muito vivas, isso suscitou os seguintes pensamentos e sentimentos em mim...” (Agora complete a história). Complemento de figura É apresentada uma figura com dois personagens, um deles está afirmando algo. Pede-se aos entrevistados que se imaginem no lugar do interlocutor e completem o balão vazio. Aqui está o livro. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 16 Teste de percepção temática É apresentada uma figura e os entrevistados têm que inventar uma história sobre o que pensam estar acontecendo, ou acontecerá, na figura. FONTE: Adaptado de Kotler e Keller (2006) Podemos utilizar questionários já aplicados em outras pesquisas, no entanto, Giglio (2010) sugere que se faça um levantamento do objetivo e situação em que foram criados. Caso tenha ocorrido alguma alteração, é relevante fazer um novo questionário. As pesquisas com questionários podem ser realizadas pessoalmente, por telefone, por correspondência ou mesmo pela internet. Uma das limitações dos questionários, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), é que os entrevistados darão respostas que considerem seguras e certas, muitas vezes não sendo sua verdadeira opinião. 5.2 GRUPOS DE DISCUSSÃO OU FOCUS GROUP Hoyer e Macinnis (2011) explicam que um grupo de discussão, diferentemente do questionário que pode coletar informações de um grande número de pessoas, foca em alguns participantes. O grupo de discussão selecionará de seis a 12 consumidores que discutirão sobre determinado assunto. Estes participantes serão liderados por um moderador capacitado que orienta a discussão. Giglio (2010) explica que, após uma fase inicial de aquecimento em que os participantes são apresentados, o moderador lançará um tema que tem relação com o bem ou serviço. Primeiro é uma questão ampla, mas durante a discussão o moderador foca em temas específicos que interessam. Na figura a seguir observamos um modelo de sala espelhada para a realização de grupo de discussão ou focus group. Nesse modelo de sala, os participantes da pesquisa não conseguem observar as pessoas que estão por trás de um falso espelho. Dessa forma, mais pessoas podem observar e fazer as análises do comportamento dos participantes durante a pesquisa. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 17 FIGURA 1 – SALA ESPELHADA PARA A REALIZAÇÃO DE FOCUS GROUP FONTE: Disponível em: <http://www.institutophd.com.br/blog/a-importancia-das- pesquisas-qualitativas-nas-eleicoes/>. Acesso em: 31 out. 2017. Grupo de discussão é indicado para identificação e teste de ideias de produtos novos. Sheth, Mittal e Newman (2001) sugerem que estas discussões devam ser gravadas em áudio e vídeo para posterior análise. NOTA O grupo de discussão pode ser realizado via computador, nesse caso os consumidores vão a um laboratório e dão sua opinião de forma anônima, é muito utilizado quando o assunto é delicado. No entanto, Hoyer e Macinnis (2011) ponderam que este tipo de discussão impede que os pesquisadores coletem outros dados relevantes, como expressões faciais e linguagem corporal. 5.3 ENTREVISTAS É uma outra forma de contato direto com o consumidor. Hoyer e Macinnis (2011) avaliam que a entrevista oferece dados mais aprofundados a respeito do comportamento do consumidor. Giglio (2010, p. 25) sugere, antes de qualquer outro método, a entrevista pessoal aberta. “Essa entrevista consiste em um encontro entre o profissional e a pessoa – de preferência com horário marcado, com duração média de 30 a 40 minutos – sem questionário prévio, apenas o tema do diálogo”. O objetivo é deixar a pessoa falar a respeito do tema, só interferindo quando se perder o foco ou quando algo não for compreendido. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 18 Essa ferramenta, assim como o grupo de discussão, necessita de um profissional capacitado para estabelecer uma relação com o consumidor, fazendo com que este consiga captar também as reações não verbais do entrevistado. Também é importante a gravação para posterior transcrição e análises. 5.4 NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS Esta ferramenta conduz o consumidor a contar para o entrevistador sua experiência com o produto. Além de contarem suas experiências, Hoyer e Macinnis (2011) sugerem que os pesquisadores podem também pedir aos consumidores que contem ou escrevam histórias sobre situações hipotéticas descritas em uma imagem ou cenário. O objetivo é que os consumidores expressem suas necessidades, sentimentos e percepções através da interpretação da imagem ou do cenário propostos. Essa técnica ajuda a obter esclarecimentos sobre necessidades do consumidor e também a identificar os atributos do produto que satisfazem essas necessidades. 5.5 EXPERIMENTO Com o experimento, os pesquisadores conseguirão saber o que o consumidor faz e não o que diz que faz (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001). Isso se dá porque, no experimento, o pesquisador colocará os entrevistados em uma situação em que não estão acostumados, para observá-los. Um bom exemplo de experimento é quando uma empresa decide lançar um novo produto e, ao invés de lançar o produto em nível nacional, escolhe algumas cidades e observa a resposta dos consumidores. Fica claro que esse método ajuda a empresa a ser mais assertiva, servindo para que se verifique a eficácia do mix de marketing no mercado real. Hoyer e Macinnis (2011) também lembram que experimentos podem ser feitos em laboratórios. 5.6 OBSERVAÇÕES (PESQUISAS ETNOGRÁFICAS) Muitas vezes é importante que os pesquisadores observem os consumidores para obterem informações sobre seu comportamento. Nesses casos, as empresas usam pesquisas etnográficas. Hoyer e Macinnis (2011) explicam que nesse tipo de pesquisa os pesquisadores entrevistam e observam como os consumidores se comportam no mundo real. TÓPICO 1 | ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 19 DICAS Para você entender melhor o método de pesquisa etnográfica, uma ótima opção é a leitura do artigo “Marketing etnográfico: colocando a etnografia em seu devido lugar”,escrito pela professora Lívia Barbosa, que discute o uso da etnografia no estudo do comportamento do consumidor. Acesse <http://www.scielo.br/pdf/rae/v43n3/v43n3a07.pdf>. Boa leitura! Outra forma de realizarmos observações é a partir da Netnografia. Kozinets (1998, p. 366) explica que a netnografia “é um método interpretativo concebido especialmente para investigar o comportamento do consumidor de culturas e comunidades da internet”. Nada mais apropriado, pois a internet mudou nossa realidade como cidadãos e como consumidores. Além disso, a netnografia nos permite alcançarmos lugares antes inimagináveis em virtude da própria dinâmica da internet. É importante lembrar que, na netnografia, os pressupostos da etnografia continuam presentes (caráter investigativo e observação da realidade) e somente são realizados em outro ambiente e com uma metodologia específica. DICAS O livro Netnografia: realizando pesquisa etnográfica on-line, de Robert V. Kozinets (Penso Editora, 2014), é um guia para quem quer aprofundar seus estudos na área de netnografia. 5.7 NEUROCIÊNCIA Como vimos nas ferramentas de pesquisas que já listamos, o grande dilema é que às vezes questionamos o consumidor, então baseamos nossos estudos em suas declarações, o que muitas vezes não corresponde à verdade, mesmo o consumidor acreditando que o que ele falou seja verdade. A neurociência busca entender o comportamento do consumidor por meio da análise da atividade cerebral, usando imagens de ressonância magnética (HOYER; MACINNIS, 2011). Lindstrom (2016, p. 14) descreve a neurociência como “[...] um instrumento usado para nos ajudar a decodificar o que nós, consumidores, já estamos pensando ao sermos confrontados por um produto ou marca [...]”. Para fazer isso, Hoyer e Macinnis (2011) explicam que os neurocientistas examinam quais partes do cérebro são ativadas quando consumidores se envolvem em atividades como tomar uma decisão de compra ou assistem a UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 20 um comercial. Observe que uma das grandes vantagens da neurociência é que ela mede as respostas inconscientes do consumidor, inclusive as respostas que não temos capacidade de falar. Quantas vezes nos perguntamos: Mas por que comprei isto, afinal? Compreender o consumidor em uma sociedade que passa por constantes transformações não é simples. Aqui mostramos algumas ferramentas que apoiam as empresas no entendimento de como os consumidores se comportam e por que consomem. Você notou que as ferramentas de pesquisas têm suas limitações? Uma das principais questões é que quando somos perguntados sobre determinado comportamento, nós, como consumidores, não conseguimos explicar. Apesar de suas diferenças e limitações, todas têm um mesmo objetivo: ajudar a entender o comportamento do consumidor e dar subsídios para as organizações compreenderem as necessidades e desejos dos consumidores. Hoyer e Macinnis (2011) apontam algumas questões éticas quanto à pesquisa com consumidores e alguns aspectos negativos, entre eles estão: a) dificuldade de conduzir pesquisas em países estrangeiros, principalmente por questões culturais diferentes; b) altos custos de conduzir uma pesquisa, no entanto, a partir de uma pesquisa bem feita é possível ser mais assertivo, e com isso os custos de promoção e distribuição serão menores; c) preocupações com a invasão de privacidade, os clientes possuem a preocupação e a impressão, muitas vezes, de que as empresas sabem demais sobre ele, além da venda e uso de informações de forma indevida; d) uso de práticas enganosas. Infelizmente, algumas empresas não éticas podem usar as informações sobre o consumidor de maneira inapropriada e até mesmo enganando o consumidor. Um exemplo é quando os pesquisadores informam que a resposta permanecerá anônima, no entanto as empresas identificam as respostas e usam estas informações para fazer marketing. Antes mesmo das ferramentas apuradas de marketing, os pequenos empreendedores utilizavam vários artifícios para entender o que os seus compradores queriam. Estes empreendedores, muitas vezes de pequeno porte, tinham contato com os clientes e os conheciam a ponto de oferecer produtos personalizados. A partir destes empreendedores é que entendemos que é possível estudar o comportamento do consumidor, o qual pode ser entendido através de pesquisa. Não é possível uma previsão perfeita, mas através das informações levantadas podemos ter melhores resultados se utilizarmos os dados de forma adequada. Assim, são necessários o contato e o entendimento do consumidor, em um cenário competitivo e dinâmico a empresa precisa ser proativa e não reativa. 21 Neste tópico, você viu que: • O comportamento do consumidor envolve mais do que a maneira como uma pessoa compra produtos tangíveis, por exemplo, um computador. Esse comportamento também inclui bens, serviços, experiências, ideias e até mesmo o tempo. • O comportamento do consumidor envolve mais do que comprar, está relacionado também com o uso e o descarte. Esta sequência de compra, uso e descarte pode ocorrer em uma ordem dinâmica. • O comportamento do consumidor envolve muitas decisões, dessa forma é necessário entender por que, quando, onde, como, com que frequência e por quanto tempo os consumidores vão selecionar, comprar, usar e descartar uma oferta. • O estudo do comportamento do consumidor também auxilia a desenvolver políticas públicas que têm impacto sobre os consumidores. • Os consumidores também são beneficiados com o estudo do comportamento do consumidor, auxiliando os consumidores a tomarem melhores decisões. • À medida que os profissionais de marketing entendem como os consumidores descartam os produtos, a sociedade pode se beneficiar com programas de reciclagem e proteção ambiental. • A análise do comportamento do consumidor é que norteará as decisões do mix de marketing da empresa. • A orientação para o cliente traz benefícios para a empresa tanto no mercado externo, com clientes mais leais, quanto no mercado interno, com funcionários mais satisfeitos e orgulhosos. • Existem várias ferramentas de pesquisa de comportamento do consumidor, mas o objetivo de todas elas é compreender o comportamento do consumidor e dar subsídios para as organizações compreenderem as necessidades e desejos dos consumidores. RESUMO DO TÓPICO 1 22 Questão única: Agora que finalizamos o Tópico 1, como você define o comportamento do consumidor e qual a sua importância? AUTOATIVIDADE 23 TÓPICO 2 ENTENDENDO OS CONSUMIDORES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Manter clientes satisfeitos, atendendo as suas necessidades e desejos, é o propósito das organizações. Agora que já vimos, no Tópico 1, o que é comportamento do consumidor, qual a sua importância para as organizações e como fazemos para entender esse comportamento, vamos definir o que são consumidores. Você já percebeu que os usuários dos bens ou serviços não são os únicos afetados pela decisão de compra? Já percebeu que, muitas vezes, a pessoa que usa um produto não é a mesma que comprou? Então, se o comportamento do consumidor trata da seleção, compra, uso e descarte de bens e serviços, quem é o consumidor no caso da compra de um presente, por exemplo? Para qualquer transação de compra o consumidor pode assumir diferentes papéis, conforme a situação. Neste tópico abordaremos os diferentes papéis do consumidor e a importância de entendermos estes papéis e suas implicações para as decisões que as organizações precisam tomar. Vamos lá? 2 TIPOS DE CONSUMIDORES O comportamento do consumidor envolve o entendimento de um conjunto de decisões que um indivíduo, um grupo ou até mesmo uma organização tomam sobre: selecionar, comprar, usar e descartar bens, serviços, ideias, experiências e até mesmo o tempo, para satisfazer as suas necessidades e desejos. Então, consumidores podem ser pessoas, grupos ou organizações, certo? Vamos entender um pouco mais a respeito. O termo consumidoré utilizado para descrever dois tipos de comprador: o consumidor pessoal e o consumidor organizacional (BOECHT, 2015). O autor explica que o consumidor pessoal é aquele que compra bens ou serviços para o seu próprio uso, já o consumidor organizacional é aquele que compra bens ou serviços para uso na empresa. Boone e Kurtz (2009) sugerem, no entanto, que o comportamento do consumidor só trata de consumidores individuais (consumidor pessoal), tratando o mercado organizacional como comportamento do cliente e não do consumidor. Sheth, Mittal e Newman (2001, p. 29) definem cliente como “uma pessoa ou uma unidade organizacional que desempenha um papel na consumação de uma transação com o profissional de marketing ou com uma entidade. Os clientes de uma empresa podem estar atuando como membros de uma família ou representantes UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 24 de outra empresa”. Nesse sentido, Sheth, Mittal e Newman (2001) reafirmam o entendimento de Boone e Kurtz (2009) de que o termo consumidor é usado para se referir aos mercados de bens de consumo ou consumidores individuais, sendo o termo cliente correspondente ao mercado industrial ou organizacional. Sheth, Mittal e Newman (2001) fazem uma observação muito pertinente no que tange à questão consumidor e cliente, sugerindo que o termo consumidor é empregado somente em livros didáticos, pois na prática, o termo utilizado tanto para o mercado de bens de consumo, quanto o organizacional ou industrial, é o termo cliente. Por exemplo, os bancos chamam de clientes aqueles que são atendidos por eles, assim como os lojistas ou os prestadores de serviços, e nunca como consumidores. Para Sheth, Mittal e Newman (2001), o termo cliente pode ser utilizado para se referir tanto aos consumidores finais quanto aos organizacionais. Você deve estar se perguntando, então, quem é consumidor, afinal? Vamos analisar um pouquinho mais a respeito do mercado organizacional ou industrial para depois chegarmos a uma conclusão? Solomon (2011) sugere que os compradores organizacionais são pessoas que compram bens ou serviços em nome da empresa para uso nos processos de fabricação, distribuição ou revenda. O autor considera ainda que estes compradores compram de outras empresas (mercado Business to Business – B2B), especializadas em satisfazer as necessidades de organizações. Vamos entender como podemos definir compra organizacional. Para Kotler e Keller (2006, p. 321), a compra organizacional é “o processo de decisão segundo o qual as organizações formais estabelecem a necessidade de comprar bens ou serviços para, depois, identificar, avaliar e escolher entre marcas e fornecedores alternativos”. A partir dessa definição, podemos identificar muitas semelhanças com a definição de comportamento do consumidor. Vamos relembrar? O comportamento do consumidor trata de como pessoas, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam bens e serviços para satisfazer suas necessidades e desejos. No quadro a seguir conseguimos fazer uma comparação entre as oito fases da compra organizacional, sugeridas por Kotler e Keller (2006), com o processo de comportamento do consumidor. TÓPICO 2 | ENTENDENDO OS CONSUMIDORES 25 Fases de compra Comportamento do consumidor Reconhecimento do problema Satisfazer necessidades Descrição geral da necessidade Especificação do produto SelecionarProcura de fornecedoresSolicitação de propostas Seleção do fornecedor Especificação do pedido de rotina Comprar Revisão do desempenho Usar e descartar QUADRO 5 – FASES DA COMPRA ORGANIZACIONAL E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FONTE: Adaptado de Kotler e Keller (2006) Ao analisarmos o quadro anterior, fica evidente que as compras organizacionais envolvem o entendimento de um conjunto de decisões que um indivíduo ou um grupo toma sobre: selecionar, comprar, usar e descartar bens, serviços, ideias, experiências e até mesmo o tempo, para satisfazer as necessidades da organização, assim como o consumidor final o faz. Outro fato importante apontado por Solomon (2011) é que o volume das transações B2B é superior ao volume comprado por consumidores finais. Dessa forma, conseguimos observar a importância de estudarmos também como estes consumidores se comportam. Boone e Kurtz (2009) sugerem algumas diferenças principais entre os mercados organizacionais e o mercado consumidor: a concentração geográfica do mercado, portes e números de compradores, procedimentos de decisão de compra e a relação entre compradores e vendedores. A seguir, vamos especificar estas diferenças. Concentração geográfica: os fabricantes convergem em determinadas regiões do país, tornando essas áreas os alvos principais para as empresas que atendem a estes mercados organizacionais. No Brasil, por exemplo, temos algumas áreas onde se concentram a indústria têxtil, entre elas o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, como um dos maiores polos deste setor; outro exemplo é o Polo Industrial de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, um dos principais polos de produção de lingerie, ou ainda o Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, e a produção de calçados. Assim como estes exemplos, existem muitos outros. Portes e números de compradores: diferentemente das empresas que atendem aos consumidores individuais, as empresas que vendem para o mercado organizacional lidam com um número menor de compradores, no entanto estes compradores são de maior porte. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 26 Procedimentos e decisão de compra: o processo de compra organizacional possui múltiplos compradores, além de tomadores de decisão em vários níveis que podem influenciar a compra. O processo é mais formal e profissional do que o processo de compra do consumidor. Além de exigir mais de uma rodada de negociações, principalmente nas compras mais complexas. Relacionamento estreito entre compradores e fornecedores: os fornecedores organizacionais geralmente customizam suas ofertas para atender necessidades específicas de determinado cliente organizacional. Isso só é possível pelo fator do número de clientes ser menor e pelo fato da importância e do poder de clientes de grande porte. Já Kotler e Keller (2006) apontam as principais características que tornam o mercado organizacional diferente dos mercados de consumidores individuais, como: menos compradores, porém de maior porte, relacionamento estreito entre fornecedor e cliente, compra profissional, diversas influências de compra, demanda derivada, demanda inelástica, demanda oscilante, concentração geográfica dos compradores e compra direta. Vamos entender os fatores que não foram abordados por Boone e Kurtz (2009): Compra profissional: muitos passos de uma compra organizacional são diferentes de uma compra do consumidor individual, por exemplo, solicitação de cotação, propostas e contratos são vistos em maior frequência nas compras organizacionais. Compradores organizacionais precisam seguir alguns padrões e políticas da organização para a qual trabalham e, além disso, os compradores organizacionais são profissionais que se especializam durante sua vida profissional a comprar melhor. Diversas influências de compra: a tomada de decisão de compra organizacional é influenciada por um número maior de pessoas. Quanto mais importante para a organização, mais pessoas envolvidas, nesses casos é comum criar um comitê de compra, formado por técnicos e até pela alta administração. Vários contatos de venda: devido principalmente ao maior número de pessoas envolvidas e também ao valor da compra, é necessário fazer vários contatos para efetuar a venda. Aqui também se observa que, quanto mais importante a compra para a organização, mais contatos serão efetuados para o fechamento da mesma. Estas três características apresentadas por Kotler e Keller (2006) se juntam à característica apresentada por Boone e Kurtz (2009) de procedimentos de decisões de compra, percebe-seque Kotler e Keller criam vários itens, mas que em sua maioria foram tratados também por Boone e Kurtz. Vamos continuar descrevendo as outras características apresentadas por Kotler e Keller (2006): TÓPICO 2 | ENTENDENDO OS CONSUMIDORES 27 Demanda derivada: a demanda por bens organizacionais depende da demanda dos bens de consumo. Faz sentido assim que as empresas que vendem para mercados organizacionais entendam os padrões de compra do consumidor individual, pois serão eles que ditarão a demanda organizacional. Outra questão importante nesse sentido, segundo Kotler e Keller (2006), são os fatores econômicos atuais e previstos, tais como nível de produção, investimento, gastos do consumidor e taxas de juros, que também devem ser levados em consideração. Os autores citam como exemplo desta situação quando, em períodos de recessão, os compradores organizacionais reduzem seus investimentos em fábricas, equipamentos e estoques. Demanda inelástica: sugere-se que a demanda total de bens e serviços organizacionais é inelástica, pois não é muito afetada pelo preço. Por exemplo, os fabricantes de calçados não comprarão uma quantidade muito maior de couro se seu preço cair. Kotler e Keller (2006) enfatizam que a demanda é inelástica principalmente a curto prazo, pois os produtores muitas vezes não conseguem fazer rápidas alterações no seu método produtivo. Demanda oscilante: segundo Kotler e Keller (2006, p. 209), “a demanda por bens e serviços organizacionais é bem mais volátil do que a demanda por bens e serviços de consumo. Determinado aumento percentual na demanda de consumo pode levar a um aumento percentual muito maior na demanda de instalações e equipamentos necessários à produção adicional”. Por exemplo, um aumento de 10% de consumo pode levar a um aumento de 200% na demanda de produtos organizacionais no período seguinte. Já a queda de 10% na demanda de consumo pode levar ao colapso completo da demanda organizacional. Compra direta: os compradores organizacionais preferem comprar direto dos fabricantes e não de seus intermediários, principalmente quando os itens a serem comprados são tecnicamente complexos. Isso se explica pelo fato de que a negociação sem intermediários irá ajudar no melhor entendimento das necessidades do cliente. Conforme observamos as diferenças listadas por Boone e Kurtz (2009) e Kotler e Keller (2006), existem várias diferenças entre o mercado organizacional e o mercado consumidor. É importante entendermos essas diferenças, principalmente se nossa organização atender aos dois mercados, para assim conseguirmos definir o comportamento do consumidor da nossa organização. Então, podemos concluir que, ao estudarmos o comportamento do consumidor, iremos estudar como se comportam os consumidores individuais e também os organizacionais, dentro de suas diferenças. Vamos compreender melhor estes consumidores? Na próxima seção vamos listar os principais papéis do consumidor. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 28 3 OS DIFERENTES PAPÉIS DO CONSUMIDOR Você já analisou quem é o consumidor quando compramos um presente? Lembrando que o estudo do comportamento do consumidor trata da seleção, da compra, do uso e do descarte de bens e serviços, assim podemos sugerir que temos mais de um consumidor envolvido, certo? Engel, Blackwell e Miniard (2000) argumentam que o comprador pode exercer cinco papéis: iniciador, influenciador, decisor, comprador e usuário. Vejamos algumas características destes papéis no quadro a seguir: Papel do consumidor Características Iniciador Tem o papel de começar a pensar sobre a compra e reúne informações para auxiliar na decisão de compra. Influenciador Tem sua própria opinião a respeito dos critérios que devem ser analisados para a compra. Decisor Tem o poder de decidir como irá empregar o dinheiro. Comprador É quem realiza efetivamente a compra. Usuário É quem utiliza o bem ou serviço adquirido. QUADRO 6 – PAPÉIS DO CONSUMIDOR FONTE: Adaptado de Engel, Blackwell e Miniard (2000) Estes papéis podem ser exercidos por mais de uma pessoa ou simultaneamente por uma mesma pessoa. Engel, Blackwell e Miniard (2000) lembram que isso vai depender da situação de compra e também do bem ou serviço que será adquirido. É importante que as organizações consigam identificar estes papéis do consumidor para então traçar estratégias adequadas para atendê- los. Vamos conhecer melhor estes papéis? O iniciador, ou indicador, vai sugerir que outros consumidores adquiram determinado bem ou serviço, geralmente já experimentado anteriormente por ele. Nesse papel o consumidor faz propaganda boca a boca, lembrando que pode ser positiva ou negativa. Quando o consumidor teve uma experiência satisfatória, ele repassará estas informações positivas para ajudar na decisão de outros consumidores. No entanto, quando a experiência for negativa, este consumidor irá sugerir que o bem ou serviço não seja adquirido. Já quando a opinião ou ponto de vista do comprador pode influenciar a decisão de compra de outra pessoa, o comprador está exercendo o papel de influenciador. Grupos de referência, formadores de opinião, hoje em dia ouvimos falar muito dos influenciadores digitais, que são exemplos de influenciadores. O que essas pessoas falam, vestem, influenciam o comportamento de outros TÓPICO 2 | ENTENDENDO OS CONSUMIDORES 29 consumidores. A família é um dos primeiros grupos de influência que temos em nossa vida. Não nos aprofundaremos muito neste tema agora, pois na Unidade 3 discutiremos esta e outras influências no comportamento do consumidor. O papel de decisor é exercido pelo comprador que detém poder de decisão de compra, que muitas vezes está nas mãos de quem vai pagar pelo bem ou serviço que está adquirindo. O decisor é quem definirá o momento de realizar a compra, o que deve ser comprado, de que forma deve ser adquirido e inclusive escolhendo o melhor local para a compra. Quem realmente realiza a compra é o comprador. Geralmente esse papel independe do poder aquisitivo de quem realiza a compra. Durante muito tempo as mulheres exerceram esse papel, visto sua disponibilidade de tempo e dedicação aos trabalhos domésticos. No entanto, hoje percebemos que quem exerce esse papel é quem está com disponibilidade. Por último, temos o papel do usuário, que realmente é quem vai utilizar o bem ou serviço adquirido, podendo ser uma pessoa ou até mesmo um grupo. Então, quando compramos um presente para outra pessoa, podemos exercer o papel de iniciador, influenciador, decisor e comprador. Agora, quando eu ganho o presente, posso exercer o papel de usuário, mas também o de iniciador e influenciador, você concorda? DICAS Assista ao vídeo “A evolução do Consumidor” acessando o link <https://youtu. be/zWm40F79As4> e entenda a evolução do consumidor em relação à internet. E quanto aos consumidores organizacionais, será que apresentam estes mesmos papéis? Kotler e Keller (2006) sugerem sete papéis no processo organizacional, que são os seguintes: 1. Iniciadores: são aqueles que solicitam a compra de um bem ou serviço. Essas pessoas podem ser os usuários do bem ou produto, ou outros membros da empresa, como no caso de empresas que possuem pessoas responsáveis por compras e cuidam dos estoques dos vários departamentos da organização. 2. Usuários: são aqueles que irão utilizar o bem ou serviço. Segundo os autores, na maioria das vezes os usuários iniciam a proposta de compra e ainda ajudam a definir os parâmetros necessários a serem atendidos pelo bem ou serviço. UNIDADE 1 | O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 30 3. Influenciadores: são as pessoas que influenciam a decisão de compra. São aqueles que ajudam a especificar e também podem fornecer informações sobre outras alternativas disponíveis, geralmente é a equipe técnica da empresa que irá exercer este papel. 4. Decisores: são aqueles que decidem as exigências que devem ser atendidas pelo bem ou serviço. 5.
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