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Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 9: Ketûvîm II – Reinterpretando a história de Israel Apresentação Nesta aula, apresentaremos a reinterpretação da História de Israel na literatura Cronista, de orientação sacerdotal (Priesterschrift [P]). Abordaremos as linhas gerais do Escrito sacerdotal, e analisaremos 1 Crônicas e 2 Crônicas. Objetivos Examinar o chamado Escrito sacerdotal (Priesterschrift); Esclarecer o livro de I Crônicas; Explicar o livro de II Crônicas. Escrito sacerdotal (Priesterschrift) Os livros de 1 e 2 Crônicas constituem um relato alternativo à história contada nos livros de 2 Samuel e 1-2 Reis, já que contêm material que não é encontrado nos livros anteriores e, aparentemente, utiliza algumas fontes adicionais. Esse caráter complementar, ainda que restrito, da Obra Cronista é reconhecido na Septuaginta, uma vez que ela recebe o título de paralipômena (coisas omitidas ou coisas passadas). Apesar disso, 1 e 2 Crônicas mais do que complementa, interpretam a tradição histórica de Israel, sendo livros que estão em diálogo com essa tradição. Fragmento da Septuaginta - século I (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/Lxx_Minorprophets.gif> ) O título da Obra Cronista na Bíblia Hebraica é divrei hayamim (os acontecimentos dos dias). O título Crônicas remonta a Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim (Vulgata), que se referiu aos livros como Chronicon Totius Divinae Historiae (a crônica completa da história divina). 1 e 2 Crônicas fornecem uma história contínua, que pode ser dividida em três partes: 1 1 Crônicas 1-9 Introdução 2 1 Crônicas 10-2 Crônicas 29 Reinos de Davi e Salomão 2 2 Crônicas 10 a 36 A história de Judá desde a separação das tribos do Norte Uma vez que 2 Crônicas conclui com uma referência à restauração dos judeus após o exílio babilônico por Ciro da Pérsia (2 Crônicas 36.22-23 = Esdras 1.1-3a), sabe-se que a Obra Cronista só foi completada no período pós-exílico. Assim declaro eu, Ciro, rei da Pérsia:/'O Senhor, o Deus dos céus, deu-me todos os reinos da terra e designou-me para construir um templo para ele em Jerusalém, na terra de Judá. Quem dentre vocês pertencer ao seu povo vá para Jerusalém, e que o Senhor, o seu Deus, esteja com ele. 2 Crônicas 36.23 A genealogia da casa de Davi aponta para uma data não superior a 400 a.C. Embora não haja provas conclusivas quanto à data, o período persa tardio (início do século IV a.C.) é plausível. Observaremos como a história é influenciada em grande medida pelas preocupações de seu tempo. 1 Crônicas O material introdutório de 1 Crônicas 1 a 9 consiste em genealogias extensas que começam em Adão e continuam até os tempos pós-exílicos. As listas no capítulo inicial derivam principalmente do Gênesis e pressupõem a edição sacerdotal das histórias primitivas e patriarcais. Essas listas são condensadas e se adiantam rapidamente para Abraão e seus descendentes. O foco principal é nas tribos de Israel. Os 12 Filhos de Jacó Embora Judá esteja listado em quarto lugar entre os filhos de Jacó, a sua genealogia é apresentada primeiro e ela tem maior extensão (2.3-4.23). O Cronista reconhece o pecado de Er, mas ignora o episódio de Onã e o encontro de Judá e Tamar. Algumas genealogias na lista não têm fonte bíblica: Calebe, filho de Ezron (2.18-24), Jerahmeel (2.25-41) e Calebe novamente (2.42-50). Não sabemos se o Cronista derivou essas genealogias de outras fontes. Primeira página de 1 Crônicas da Bíblia King James de 161 (Fonte: kingjamesbibleonline <http://www.kingjamesbibleonline.org/1611- Bible-KJV/2-Kings-Chapter-25-25b-1-Chronicles.jpg> ) O capítulo 3 é inteiramente dedicado à lista das gerações davídicas. Todos os governantes de Judá estão listados, exceto Atalia, a princesa do Norte de Israel que usurpou o trono (2 Reis 11). O mais interessante é a continuação da genealogia após o fim da monarquia. Os descendentes de Jeconias são listados por sete gerações. Zorobabel, o governador de Judá após a restauração, está listado como o neto de Jeconias. A extensão da lista por cinco gerações após Zorobabel coloca a obra em uma data no final do século V a.C. Percebe-se que o autor tinha interesse em que a linhagem genealógica davídica fosse conhecida e rastreada até o período persa. As outras tribos que recebem proeminência nessas genealogias são Levi e Benjamim. Tais tribos permaneceram fiéis à linhagem davídica e também foram significativas na restauração do período pós-exílico. A linhagem levítica é tratada ao longo de 1 Crônicas 6.1-81. Benjamim também é tratado extensamente em 8.1-40. Saul, o primeiro rei de Israel, está listado na genealogia de Benjamim, mas não recebe nenhuma ênfase particular. O Cronista volta a Saul, no entanto, no final das genealogias em 9.35-44 — por meio de um aviso, ele prepara o leitor para a transição para a narrativa histórica propriamente dita, que começa com a morte de Saul e a ascensão de Davi, no capítulo 10. O combate foi ficando cada vez mais violento em torno de Saul, até que os flecheiros o alcançaram e feriram gravemente. 1 Crônicas 10.3 As tribos restantes são tratadas mais brevemente. A tribo de Simeão do sul e as tribos da Transjordânia (Rúben, Gade e a meia tribo de Manassés) são discutidas entre Judá e Levi. As tribos do Norte a Oeste da Jordânia são comprimidas em 7.1-40. Há alguns problemas nessas genealogias: Zebulom e Dã são suprimidos, ao mesmo tempo em que se registra uma genealogia intrusiva e duplicada de Benjamim. No entanto, a inclusão das tribos do Norte mostra que o Cronista inclui Israel, mas não o equipara com o estado do Sul de Judá. Reino de Israel, Reino de Judá e nações vizinhas. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Kingdoms_of_Israel_and_Judah_map_830- pt.svg> ) A introdução genealógica conclui com uma lista daqueles que retornaram para formar a comunidade pós-exílica de Judá (1 Crônicas 9.1-44). Há nomes pertencentes às tribos de Judá, Benjamim, Efraim e Manassés. A maior parte da lista, no entanto, é composta de sacerdotes, levitas e vários funcionários do templo. Alusões ao templo assumem grande importância na História Cronista. A história da Obra Cronista começa com a morte de Saul e o Cronista omite a reação de Davi à morte de Saul, mas acrescenta a sua própria avaliação: Saul morreu por sua infidelidade e porque consultou uma necromante ao invés de confiar no Senhor. Saul morreu dessa forma porque foi infiel ao Senhor, não foi obediente à palavra do Senhor e chegou a consultar uma médium em busca de orientação,/em vez de consultar o Senhor. Por isso o Senhor o entregou à morte e deu o reino a Davi, filho de Jessé. 1 Crônicas 10.13-14 O Cronista não menciona a guerra civil entre Davi e a casa de Saul, e prossegue diretamente para a unção de Davi como rei em Hebrom e a conquista de Jerusalém. Aqui, ele insere uma lista dos funcionários de Davi, expandida em relação à fornecida em 2 Samuel 23. 1 Crônicas 12.1-22 menciona várias pessoas das tribos de Benjamim e Gade que se juntaram a Davi enquanto Saul ainda estava vivo, passagem que não tem nenhum paralelo em 1 ou 2 Samuel. Há ainda outras listas mencionando as forças de segurança de Davi, que inclui Zadoque, sacerdote, como um jovem guerreiro (12.28). “[...] e Zadoque, um jovem e valente guerreiro, com 22 oficiais de sua família. 1 Crônicas 12.28 A decisão de trazer a arca para Jerusalém é relatada com mais detalhes na Obra Cronista do que em 2 Samuel 6. Davi decreta que ninguém além dos levitas deve levar a arca. O Cronista fornece listas de sacerdotes e levitas que são encarregados dessa tarefa, e também dos cantores e músicos cultuais. Davi usava um manto de linho fino e um efode de linho. Tal fato não coincide com a imagem do rei pulando e dançando, incorrendo assim no desprezo de sua esposa Mical (ver 2 Samuel 5.20-23). Crônicas omite a queixa de Mical e a rejeição de Davi a ela. Comentário Percebe-se que a história narrada pelo Cronista é uma históriaseletiva, em que episódios são ampliados e omitidos segundo a sensibilidade do seu redator ou redatores. Grande triunfo de Davi. Miniaturas com inscrições em latim, persa e judeu- persa. Manuscrito medieval conhecido como Bíblia Iluminada de Morgan (por volta de 1240 d.C.). – Fonte: themorgan <http://www.themorgan.org/sites/default/files/styles/collection_image/public/images/collection/m638_39v.j itok=H3OBqHTF> . O relatório do oráculo de Natã, que promete uma dinastia eterna a Davi, em 1 Crônicas 17, segue de perto 2 Samuel 7. No entanto, existem algumas diferenças cruciais: Crônicas não diz que o Senhor deu a Davi um descanso (e, portanto, forneceu condições adequadas para a construção de um templo). Não há menção de castigo em caso de pecado. O oráculo conclui com uma promessa enfática de “confirmá-lo na minha casa e no meu reino para sempre, e seu trono será estabelecido para sempre” (1 Crônicas 17.14). Comentário O uso do pronome da primeira pessoa aqui pode ser significativo. A expressão minha casa, falada por Deus, pode ser entendida como o templo. A ligação entre a linhagem davídica ao templo é feita na Obra Cronista de uma forma distinta à utilizada em 2 Samuel 7. 1 Crônicas 18-20 apresenta as guerras feitas por Davi, uma narrativa retirada de 2 Samuel 8,10 e 19-22. Mas há omissões importantes na Obra Cronista: O episódio inteiro com Bate-Seba (2 Samuel 11-12). A violação de Tamar por Amnon e a posterior rebelião de Absalão (2 Samuel 13-19). As histórias da bondade de Davi para o filho de Saul, Mefibosete (2 Samuel 9). A rebelião de Seba, o benjamita (2 Samuel 20). Os salmos de Davi em 2 Samuel 22-23. Comentário Há, no Cronista, uma clara tendência para evitar histórias que possam ser consideradas embaraçosas ou que possam prejudicar a representação de Davi como um rei ideal. Natã admoesta Davi. Pintura de Eugene Siberdt - entre 1866 e 1931. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ee/Eug%C3%A8ne_Siberdt_- _The_Prophet_Nathan_rebukes_King_David.jpg> ) O caso mais célebre de 1 Crônicas é a história do censo de 2 Samuel 24. Várias discrepâncias chamam a atenção. 2 Samuel Em 2 Samuel 24.1, Davi foi incitado pela ira do Senhor. Levi e Benjamin não estão incluídos no recenseamento. De acordo com 2 Samuel, havia 800 mil soldados em potencial em Israel e 500 mil em Judá. Em 2 Samuel, o coração de Davi o acusa imediatamente após o recenseamento. × 1 Crônicas Em 1 Crônicas 21:1, é Satanás quem incita Davi a contar o povo. Foram contados os levitas de vinte anos para cima. Em Crônicas, existem 1.100.000 em todo o Israel. Em Crônicas, Deus se desagrada, Israel é atacado e só então Davi se arrepende. Comentário A não inclusão de Benjamim e Levi em 2 Samuel pode ser devido à sua associação com Jerusalém, que posteriormente foi isento da praga. A discrepância na contagem em 1 Crônicas pode ser explicada da seguinte forma: é a soma do número de soldados dados em 2 Samuel e 100.000 soldados de cada uma das duas tribos que não foram contadas. Tanto em 1 Crônicas quanto em 2 Samuel, a compra de um terreno para a construção do futuro templo é mencionada. Em 2 Samuel, Davi comprou o terreno por 50 siclos de prata, um valor bem baixo. Em 1 Crônicas, o preço é inflacionado: 600 shekels de ouro. Mausoléu de Salomão em Jerusalém. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/c/c9/Mausoleum_of_Nabi_Suleman.JPG> ) 1 Os últimos dias de Davi na Obra Cronista são bem distintos do relato de 1 Reis 1 e 2. Não há intriga em torno da sucessão. Salomão é o único herdeiro. Em 1 Reis 2, os conselhos de despedida de Davi advertiam seu filho a eliminar potenciais inimigos, como Joabe. Em Crônicas, seus pensamentos estão dedicados inteiramente à tarefa de construir o templo. Davi facilita essa tarefa fornecendo materiais em grande quantidade. As atividades finais de Davi nos capítulos 23 a 29 não têm paralelo em 2 Samuel e refletem as preocupações do Cronista: Davi garante que o reino esteja totalmente organizado antes de passá-lo para Salomão. Os levitas e o culto do templo são organizados nos capítulos 23 a 26. 24 mil levitas, seis mil oficiais e juízes, quatro mil porteiros e quatro mil músicos são postos para trabalhar, números inflados (1 Crônicas 12.28 diz que 4.600 levitas vieram para fazer Davi rei em Hebrom — mas em Esdras 8.15-20, menos de 300 levitas retornaram da Babilônia). Há, na Obra Cronista, relatos da organização do clero. Os sacerdotes são divididos em 24 turnos, para se revezarem no serviço do templo, um desenvolvimento após o exílio da Babilônia. Os músicos assumem a tarefa de profetizar (1 Crônicas 25.1), o que mostra que a profecia se tornou parte da liturgia. Além disso, Davi e os capitães do exército separaram para o serviço alguns dos filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, que deveriam profetizar com harpas, com saltérios, e com címbalos; e o número dos trabalhadores, segundo o seu serviço, era: 1 Crônicas 25.1 A organização dos assuntos temporais do reino é descrita brevemente no capítulo 27. Em 1 Crônicas 28, Davi faz um discurso aos oficiais reunidos. Ele repete a profecia feita por Natã, designa Salomão como herdeiro escolhido e identifica sua principal tarefa como a construção do templo. Ele dá para Salomão o projeto para a edificação do templo. Há aqui uma analogia clara com Moisés, que recebe um projeto para a edificação do tabernáculo no livro do Êxodo. Planta do templo de Salomão. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/35/SolomonsTemple.png> ) Em 1 Crônicas 29, Davi orienta seus súditos a contribuírem com o templo, e dá sua colaboração de seu tesouro pessoal. Aqui novamente há uma analogia com o Êxodo, em que as pessoas são convocadas para fazer ofertas para o tabernáculo (Êxodo 25.1-7; 35.4-9, 20-29). Davi conclui com uma oração em que ele louva a Deus, agradece a abundância das oferendas feitas e ora pelo povo e por Salomão. A conclusão de 1 Crônicas consiste de um resumo do reinado de Davi e uma lista de supostas fontes: os registros do vidente Samuel, do profeta Natã e de Gade, o vidente. Não há dúvida de que a principal fonte atual foi 2 Samuel. Ao afirmar que sua fonte era a obra dos profetas que eram contemporâneos de Davi, o Cronista está fazendo uma forte afirmação teológica e, ao mesmo tempo, pleiteia legitimidade para o seu relato. 2 Crônicas 2 Crônicas faz, inicialmente, o relato do reinado de Salomão. Tal narrativa é idealizada de forma semelhante à relacionada a Davi, e se concentra na construção do templo. A história começa com o pedido de Salomão a Deus: ele pede a Yahweh sabedoria. Dá-me sabedoria e conhecimento, para que eu possa liderar esta nação, pois quem pode governar este teu grande povo? 2 Crônicas 1.10 A escolha de Gibeão é justificada pela afirmação de que a tenda da reunião estava lá (em 1 Reis 3.4, Gibeão era o grande lugar alto). Nada é dito sobre a eliminação de seus rivais por Salomão (1 Reis 2). Tampouco há menção ao julgamento das duas mulheres que reivindicaram o mesmo filho (1 Reis 3.16-28). Salomão é apresentado em Crônicas como um modelo de piedade, tendo dignidade para construir o templo. Em 2 Crônicas 2, Salomão volta sua atenção para a construção do templo. Como em 1 Reis, ele faz um acordo com Hirão de Tiro para obter suprimentos de madeira e artesãos. De acordo com 1 Reis 9.20-22, Salomão recrutou os amorreus e outros povos que foram deixados na terra para o trabalho escravo, mas não escravizou os israelitas. Em 1 Reis 5.13, no entanto, lemos que Salomão recrutou para o trabalho forçado trinta mil homens. Representação artística da dedicação do templo por Salomão. Pintura de James Tissot (1896-1902). (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0a/Tissot_Solomon_Dedicates_the_Temple_at_Jerusalem ) A construção do templo (2 Crônicas 3.1-5.1) é o centro do relato do Cronista sobre Salomão. Então Salomão começou a construir o templo do Senhor em Jerusalém, no monteMoriá, onde o Senhor havia aparecido a seu pai Davi, na eira de Araúna, o jebuseu, local que havia sido providenciado por Davi. 2 Crônicas 3.1 Ao contrário do relato Deuteronomista em 1 Reis, o Cronista atribui grande importância à localização do templo. O templo é edificado no Monte Moriá, cena do sacrifício de Isaque, e na eira de Ornã, o jebuseu, onde o Senhor apareceu para Davi e designou aquele local como lugar para edificação do templo (em 1 Crônicas 21, é o anjo do Senhor que aparece para Davi). 2 Crônicas 5.2-7.22 Relato da dedicação do templo e introdução da arca. 2 Crônicas 6.3-11 Discurso de Salomão após a introdução da arca, abençoando a assembleia e agradecendo a Deus pela realização de algumas das promessas feitas a Davi. 2 Crônicas 6.12-42 Oração de Salomão, em que ele afirma que o templo não é a morada de Deus, mas o lugar onde as pessoas podem trazer suas petições. 2 Crônicas 7.1-11 A conclusão das cerimônias. Yahweh, ao fim do texto, aparece novamente a Salomão à noite, como aconteceu em Gibeão (7.12-22), confirmando a escolha do lugar como uma casa de sacrifício e afirmando que ele estabelecerá o trono de Salomão se for obediente como Davi. 2 Crônicas 8 resume os outros projetos de construção de Salomão. Só aqui se sabe de seu casamento com a filha de Faraó. Salomão levou a filha do faraó da Cidade de Davi para o palácio que ele havia construído para ela, pois dissera: Minha mulher não deve morar no palácio de Davi, rei de Israel, pois os lugares onde entrou a arca do Senhor são sagrados. 2 Crônicas 8.11 O capítulo 9 relata a visita da rainha de Sabá e enfatiza a riqueza de Salomão. No entanto, não há menção em Crônicas de seu amor pelas mulheres estrangeiras ou pela multidão de suas esposas (1 Reis 11). Como no caso de Davi, o Cronista afirma ter extraído sua informação dos escritos dos profetas. Saiba mais Leia 1 Reis 10 <https://www.bibliaon.com/1_reis_10/> . Roboão. Fragmento da pintura no muro da Câmara do Conselho Municipal da Basileia. Pintura de Hans Holbein, o jovem, 1529. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/Rehoboam._Fragment_of_Wall_Painting_from_Basel_ ) Em Reis, Yahweh decide dividir o reino de Salomão porque ele se afastou da fidelidade a Deus sob a influência de suas muitas esposas. Essa apostasia não é mencionada em Crônicas. O Cronista afirma que o reino se dividiu porque Roboão, filho de Salomão, se recusou a aliviar a carga dos seus súditos, mas condena o ato: Então Israel está em rebelião contra a casa de Davi até hoje. 2 Crônicas 10.18-19 Apesar dessa afirmação, no entanto, Crônicas não identifica simplesmente Israel com o reino do Norte. 2 Crônicas 11.3 refere-se a “todo o Israel em Benjamim e Judá”. Depois disso, 2 Crônicas dá pouca atenção ao reino do Norte, exceto na medida em que este coloca obstáculos a Judá. O Cronista não compartilha da obsessão do Deuteronômio com o pecado de Jeroboão na criação de lugares de culto fora de Jerusalém. Os últimos anos de Judá são narrados mais brevemente em Crônicas do que em 2 Reis. A História Deuteronomista denunciou os pecados de Manassés (2 Reis 24.3). O Cronista culpou a infidelidade de governantes, sacerdotes e do povo na recusa em ouvir os profetas. A profanação e destruição do templo fornece uma conclusão apropriada para a história do Cronista. No entanto, o livro termina com uma nota esperançosa, apontando para a restauração sob Ciro da Pérsia. O último verso de Crônicas é também o primeiro verso do livro de Esdras. Assim declaro eu, Ciro, rei da Pérsia: 'O Senhor, o Deus dos céus, deu-me todos os reinos da terra e designou-me para construir um templo para ele em Jerusalém, na terra de Judá. Quem dentre vocês pertencer ao seu povo vá para Jerusa lém, e que o Senhor, o seu Deus, esteja com ele. 2 Crônicas 10.18-19 Relevo de Ciro publicada em Illustrerad världshistoria utgifven av E. Wallis, volume I. (Fonte: Wikimedia <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2e/Illustrerad_Verldshistoria_band_I_Ill_058.jpg> ) As preocupações centrais de 1 e 2 Crônicas são muito evidentes. A aliança com Davi é fundamental, e o Norte de Israel é culpado por não respeitá-la. O foco dessa aliança está no templo. O cuidado apropriado do templo é a responsabilidade dos sacerdotes e dos levitas, e o Cronista nunca se cansa de enfatizar os papéis do clero. Quando o culto é devidamente mantido e praticado, tudo está bem. A apostasia, a adoração de outros deuses e outras irregularidades levam ao desastre. Existe um princípio de retribuição na narrativa histórica cronista. Obediência A morte pacífica de Manassés deve ser explicada por sua conversão. Desobediência A morte violenta do reformador Josias é evidência da sua insubordinação. Os profetas são figuras proeminentes na História Cronista, mas sua função é limitada a lembrar as pessoas o que elas já sabem por meio da Torah. Alguns dos profetas são identificados como levitas. A música do templo está associada à profecia, e os profetas são creditados na compilação de registros históricos. O Cronista está preocupado com Israel, que inclui o território do Norte, mas ele mostra pouco interesse no reino do Norte e não se preocupa em denunciar sua destruição. Os reis da Judeia são criticados por fazerem alianças com seus homólogos do Norte, já que essas alianças levam apenas à apostasia. Saiba mais Veja o esboço Básico dos Livros de 1 e 2 Crônicas <galeria/aula9/anexo/a9_doc1.pdf> . Atividade 1. Explique a teoria da Obra Cronista como paraleipoménon, como midrash e como interpretação. 2. Quais são as três partes que compõem as obras de 1 e 2 Crônicas? 3. No início da narrativa histórica da Obra Cronista, a morte de Saul, há algumas omissões e acréscimos em relação à 2 Samuel. Descreva, em linhas gerais, que omissões e acréscimos são esses. 4. O livro de 2 Crônicas trata, entre outras coisas, da responsabilidade de Salomão de construir o templo. Assinale a alternativa que melhor justifica a razão de Salomão estar apto a cumprir a tarefa de construir o templo de Jerusalém. a) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de sabedoria, tendo condição intelectual para construir o templo. b) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de administração, tendo recursos para construir o templo. c) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de justiça, tendo condição moral para construir o templo. d) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de filho, tendo recebido de seu pai a incumbência de construir o templo. e) 2 Crônicas apresenta Salomão como um modelo de piedade, tendo dignidade para construir o templo. Notas Satanás Em 1 Crônicas, Satanás ainda não é apresentado como o diabo que aparece na crença judaica e cristã posteriores, mas ele é um adversário que coloca as pessoas à prova. Nós já o encontramos em Zacarias 3. Sua aparição mais famosa na Bíblia Hebraica está no livro de Jó. Nada mais é dito sobre o seu papel aqui. Referências ALTER, Robert; KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus Editora, 1997. HILL, Andrew E; WALTON, John H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006. SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2013. Próximos Passos Lendo a Torah em um mundo hostil; Gênero apocalíptico; Daniel. Explore mais Saiba mais sobre o gênero literário de 1 e 2 Crônicas <galeria/aula9/anexo/a9_doc2.pdf> . 1
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