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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO em PRECEPTORIA EM SAÚDE unidade 2 Abordagens, estratégias e intervenções de qualidade e segurança do Cuidado em Saúde Cristiane Ribeiro de Melo Lino Gabriela de Sousa Martins Melo de Araújo SEGURANÇA DO PACIENTE 2 AULA 1 - Identificação e prevenção de erros e eventos adversos e estratégias para o aprendizado a partir da ocorrência de erros COMO IDENTIFICAR ERROS E INCIDENTES DE SEGURANÇA DO PACIENTE E COMO APRENDER COM ELES? OBJETIVOS DA AULA: • Definir erros, violações e incidentes de segurança. • Apresentar situações e fatores que contribuem para a ocorrência de erros. • Apresentar estratégias para aprender com os erros e reduzi-los. Depois de termos sido apresentados aos principais aspectos que interfe- rem sobre o desempenho dos profissionais de saúde, e que podem afetar a segurança do paciente e a qualidade da assistência à saúde, vamos agora discutir um pouco sobre como podemos identificar erros, violações e inci- dentes de segurança a fim de aprendermos a lidar com essas situações, de modo a nos tornarmos resilientes e crescermos em qualidade. Já aprendemos até aqui que “errar é humano”, ou seja, falhas sempre vão acontecer a despeito da alta confiabilidade de algumas organiza- ções. No entanto, o que nos torna mais humanizados enquanto parte dos sistemas de saúde, especialmente mediante a ocorrência de erros com danos, é reconhecermos que erramos e nos comprometermos jun- tos – profissionais e organização - a descobrirmos uma forma diferente de fazer as coisas para que novos erros semelhantes não mais ocorram. Mas, afinal, o que são os erros? Os erros são falhas durante a realização de procedimentos, atividades ou processos assistenciais. Por um lado, eles podem ser erros na execução (lapsos ou deslizes), quando a ação programada era correta, mas a execução dela teve falhas. Por exemplo: contaminar luvas ou materiais durante um procedimento asséptico, como sondagem vesical. Por outro lado, os erros também podem ocorrer na fase de planejamento (equívoco), quando o procedimento, diagnóstico ou processo assistencial não é o adequado para aquele paciente. 3 Por exemplo: aplicar um tratamento (medicamentoso ou não) em uma paciente que não precisava dele, em decorrência de um erro de diagnóstico, seja médico ou de enfermagem. Ressalta-se que uma característica de extrema relevância dos erros é o seu caráter não intencional. Note-se também que nem todo erro que atinge o paciente provoca danos nele (lesões ou prejuízos). Isso ocorre porque muitas vezes o profissional reconhece o erro a tempo de corrigi-lo ou, em outros casos, o pacien- te consegue resistir àquele erro sem apresentar danos em decorrência dele. Um exemplo da primeira situação seria: uma quebra de técnica asséptica (contaminação) durante um procedimento asséptico, a qual foi corrigida pelo profissional ainda durante a execução. Já um exemplo da situação poderia ser: um paciente que, mesmo tendo sido sondado com uma sonda vesical levemente contaminada na inserção, não desenvolve uma infecção relacionada ao uso da sonda. PRINCIPAIS TIPOS DE ERROS Deslizes e lapsos de habilidade Equívocos de aplicação de conhecimento Equívocos de aplicação de regras Deslizes por falta de atenção Lapsos de memória ERROS Equívocos Figura 1 - Principais tipos de erros. Fonte: OMS (2016, p. 153). 4 Além dos erros, também existem as violações. Diferente dos erros, as viola- ções correspondem a divergências deliberadas de um procedimento, padrão ou regra. Embora, as violações raramente sejam maliciosas, são inten- cionais e podem se tornar rotineiras e automáticas em certos contextos. Agora que já está mais claro o que são erros e violações, vamos entender o que são os incidentes de segurança. O primeiro conceito que gostarí- amos de apresentar, antes de adentrar aos incidentes de segurança, é o de circunstâncias notificáveis. E o que seriam as circunstâncias notificáveis? São todas as situações ou circunstâncias que aumentam de forma significativa o potencial (as chances) de ocorrerem incidentes (falhas que podem produzir danos) em pacientes. Mas observe que nas circunstâncias notificáveis o inciden- te ainda não ocorreu. Exemplos: falta de álcool gel para higienizar as mãos; falta de antissépticos para procedimentos assépticos; equipe de enfermagem com quantitativo insuficiente para o número de pacientes; falta de protocolos para procedimentos de maior risco; e falta de oferta de treinamentos para equipe de saúde. Todas são situações que aumen- tam o risco de pacientes sofrerem incidentes e danos. Outro conceito muito importante na esfera dos incidentes de segurança são os near misses (quase erros). O que são near misses ou quase erros? São erros que não se concretizam no paciente, ou seja, aquelas situa- ções em que o erro tinha tudo para atingir o paciente e causar um inci- dente, mas no último momento o profissional ou alguém da equipe, e às vezes até o paciente ou acompanhante, atentam para aquela falha e ela é corrigida a tempo de não atingir o paciente. Exemplos: medicamento que foi preparado e já está no leito para ser administrado, mas que no último momento da administração acaba não sendo dado ao paciente porque alguém percebe que não era o medicamento certo; paciente que teria uma amputação ou cirurgia feita no membro/órgão errado, mas no último momento antes da incisão cirúrgica alguém da equipe informa que não se trata daquele membro. Em relação aos incidentes propriamente ditos, existem dois tipos. O pri- meiro corresponde àqueles denominados incidentes SEM danos, que são os incidentes que atingiram o paciente, mas não causaram danos físicos nele. Exemplo: medicamento de baixo risco (como uma dose de dipirona ou simeticona), em relação ao qual o paciente não tinha alergia, mas acabou recebendo por engano (lapso), no entanto, sem haver repercussões físicas. O segundo tipo corresponde aos incidentes COM danos ou eventos adversos ou apenas danos, e diz respeito aos incidentes que atingiram o paciente e causaram danos físicos nele. Exemplos: paciente que recebeu o medicamento errado e teve uma reação anafilática a ele, uma parada car- diorrespiratória; paciente que sofreu um procedimento cirúrgico errado, no lado errado do corpo; paciente que foi diagnosticado de forma errada 5 e não recebeu o tratamento oportuno, tendo uma piora do quadro rela- cionada à demora na implementação do tratamento adequado. Quais são as situações que mais provocam o risco de erros acontecerem durante os cuidados de saúde? Diversos estudos apresentam resultados que apontam alguns fatores como sendo responsáveis por aumentar o risco de erros acontecerem. A seguir, apresentaremos um quadro-resumo que aponta os principais fatores de risco e as estratégias para gerenciá-los. RISCO DE ERROS Procedimentos deficientes Verificação / checagem inadequada Informação inadequada Preparo inadequado ou falta de conhecimento Inexperiência Falta de tempo para realização de todas etapas Além dessas situações, também existem fatores individuais que predis- põem os profissionais a cometerem mais falhas durante a prestação de cuidados de saúde: capacidade de memória limitada, fadiga, estresse, fome, doença, língua ou fatores culturais e atitudes perigosas, que já foram melhor discutidos na Aula 3 da Unidade 1, que tratou de fatores humanos. E quando acontecem erros na assistência à saúde, o que devemos fazer? 6 Caso você se envolva em incidentes de segurança, especialmente os even- tos adversos e near misses, o primeiro passo é ofertar tratamento das complicações do paciente, a fim de minimizar o impacto do incidente, quando houver danos decorrentes, e em seguida dar início à notificação do incidente de segurança. Por isso, você e todos os profissionais de saúde precisam conhecer os conceitos de incidentes de segurança apresentados anteriormente, para reconhecê-los e aplicá-los em sua prática profissional.Cada serviço de saúde pode escolher as formas mais adequadas a seu contexto e sua cultura para realização da notificação de eventos adver- sos e outros incidentes de segurança. Há serviços que criam sistemas de notificação informatizados, outros adotam um sistema com uso de impressos próprios para essas situações. Alguns adotam a busca ativa de incidentes de segurança somada ao incentivo de notificações volun- tárias por parte de profissionais de saúde, e, por vezes, os serviços per- mitem até que as notificações sejam anônimas para incentivar a cultura da não punição, principalmente na fase de implantação da notificação. CICLO VICIOSO 2 Limitação da aprendizagem a partir do erro 1 Subnotificações de eventos adversos 3 Maior probabilidade de ocorrer erros A notificação de eventos adversos e outros incidentes de segurança será amplamente utilizada em organizações que não tratam o erro com a abordagem centrada no sujeito, ou seja, culpando, humilhando e excluin- do os profissionais que se envolvem em situações de danos a pacientes. 7 No entanto, quando a ênfase da organização é na culpa e punição do profissional que erra, acontece o ciclo vicioso que incorre em subnotifi- cação de eventos adversos, limitação da aprendizagem a partir do erro e maior probabilidade de ocorrer outros erros semelhantes no futuro. Por meio das notificações, os Núcleos de Segurança do Paciente, institu- ídos pelo Programa Nacional de Segurança do Paciente, deverão iniciar o ciclo de investigação do incidente, que compreende as ações seguir: determinar a magnitude do dano, o número e tipos de eventos adversos que prejudicam os pacientes naquele serviço; entender as causas funda- mentais dos danos ocasionados aos pacientes; identificar soluções para alcançar uma atenção à saúde mais segura; e avaliar o impacto das solu- ções em situações da vida real (BRASIL, 2016, p. 10). Durante o ciclo de investigação podem ser usados diversos métodos para investigação das causas e fatores contribuintes de eventos adversos, como, por exem- plo, Análise de Causa Raiz (RCA), que está mais detalhada na aula 3 da Unidade 2, e o protocolo de Londres, resumido abaixo. DETALHES DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO • Quais incidentes devem ser investigados? • Rever os registros do caso. • Enquadrar o problema. • Entrevistar os funcionários. • Como aconteceu? – Identificar os problemas com a gerência dos cuidados. • Por que aconteceu? – Identifi- car os fatores contribuintes. Análise do caso Se o protocolo for seguido sistematica- mente e a entrevista conduzida de maneira minuciosa, o relatório e as implicações do incidente devem emergir da análise de forma relativamente direta. Quando a investigação estiver completa, ela deve incluir um resumo claro do problema e das circunstâncias que o causaram, bem como as falhas no processo de cuidados devem aparecer facilmente. A parte final do relatório deve considerar quais implicações o incidente tem para o departamento ou organização e fazer recomendações para as ações corretivas. Quadro 1 - O protocolo de Londres. Fonte: OMS (2016, p. 156). 8 AULA 2 - Por que atuar em equipe e desenvolver uma cultura de segurança são elementos essenciais para a segurança do paciente? Objetivos da aula: • Definir a importância do trabalho em equipe nos cuidados à saúde. • Descrever como atuar em equipe de forma eficaz. • Conhecer as principais estratégias para melhorar a comunicação nas equipes de saúde. • Identificar os princípios básicos da cultura de segurança. • Conhecer os estágios de evolução da cultura de segurança e suas formas de avaliação. Caro aluno, agora que você já conhece os principais conceitos, a evo- lução histórica da segurança do paciente no Brasil e no mundo, como se dá a organização dos sistemas de saúde e a complexidade dos cui- dados ao paciente, além das abordagens ao erro, a relação dos fatores humanos com a segurança do paciente e gerenciamento de risco, vamos estudar mais detalhadamente sobre: a atuação em equipe de forma efi- caz, a importância da comunicação eficiente e a influência da cultura de segurança nas instituições. A natureza das equipes é variada e complexa. Em saúde, a equipe mais eficaz, do ponto de vista do paciente, é a multidisciplinar. Você já parou para pensar quem são os integrantes da equipe de saúde na qual você está inserido como profissional? Como se dá a comunicação entre vocês? Acompanhe a trajetória de um paciente em uma unidade de internação de um hospital universitário na história em quadrinhos 1 no AVASUS. ACESSO NA PLATAFORMA HISTÓRIA EM QUADRINHOS 1 9 Para refletir De acordo com o caso relatado na história em quadrinhos no início da aula, observe as características do incidente. Quais foram os fatores contribuintes? Que tipos de consequências organizacionais você imagina que devem ter ocorrido? Você acha que teria sido possível evitar o incidente? De que maneira? Percebemos que um cuidado complexo, como o do caso apresentado, envolve vários profissionais e diferentes equipes, incluindo médicos, residentes, enfermeiros, técnicos de enfermagem, além do próprio pacien- te e acompanhante. A importância de equipes eficazes na prestação do cuidado tem aumentado devido a fatores como: maior incidência da com- plexidade e da especialização no atendimento ao paciente; aumento de comorbidades; aumento da expectativa de vida da população e de doen- ças crônicas; escassez de força de trabalho em nível mundial; e iniciativas para alcançar uma jornada de trabalho que seja segura. Fica claro que atuar em equipe de forma eficaz nos cuidados à saúde gera um impacto direto e, muitas vezes imediato, na segurança do paciente. Em uma instituição de saúde, como um hospital de ensino, existem profissio- nais de diversas formações e especialidades, alunos e equipe responsável pelos cuidados àquele paciente, necessitando de uma atuação coordena- da e que mantenha uma boa comunicação todo o tempo, somando-se o fato de que os profissionais que cuidam de um paciente durante o dia nem sempre são os mesmo que o fazem no período noturno e fim de semana. Assim, a natureza das equipes de saúde é variada e complexa, podendo se originar de uma única categoria profissional ou multiprofissional, que trabalham próximos ou separados geograficamente; alguns são mem- bros permanentes, enquanto outros podem ser variáveis, sendo funda- mental o aproveitamento de diferentes potenciais e competências de cada membro da equipe. Mas o que determina o sucesso de uma equipe de saúde? Quais as características que você considera fundamental para que uma equipe de saúde seja considerada competente? Existem muitos modelos para descrever um trabalho em equipe eficaz, pois, independentemente dos seus níveis de estabilidade, configuração e local de atuação, algumas características são essenciais. 10 Liderança eficaz Estabelecimento e manutenção das estruturas da equipe Gerenciamento de conflitos Confiança e apoio por parte da liderança Desenvolvimento de acordo e compartilhamento das funções de liderança Objetivo comum Definição de um propósito comum Inclusão de interesses coletivos e responsabilidades compartilhadas Metas mensuráveis Estabelecimento de objetivos mensuráveis e concentrados na tarefa da equipe Boa comunicação Compartilhamento de ideias de forma rápida e regular Realização de registro escrito Reserva de tempo para reflexão Requisitos adicionais Acompanhamento da situação Flexibilidade Capacidade de monitorar o próprio desempenho Boa coesão e respeito mútuo Comprometimento e espírito de equipe Respeito aos talentos, crenças e diversidade de opinião de cada membro Incentivo às contribuições profissionais Figura 2 - Características das equipes competentes. Fonte: Mickan; Roger (2005). E o paciente? Também é considerado membro da equipe de saúde? Tradicionalmente, ele assume um papel passivo, de receptor dos cui- dados. Contudo, precisamosmodificar esse posicionamento e incluir o paciente e o acompanhante/cuidador na equipe, especialmente pelo seu domínio de informações e pela experiência sobre sua situação, assim como por serem eles os únicos integrantes que estão presente o tempo todo durante a prestação dos cuidados. 11 Saiba mais Você sabia que existe uma cartilha desenvolvida para orientar o paciente sobre os cuidados aos quais ele será submetido durante a sua internação ou passagem pela instituição de saúde/hospital? Essa é uma das formas de incluir o paciente enquanto mem- bro da equipe de saúde, ajudando-o a compreender o que é segurança do paciente, como se proteger e o que perguntar. Também é possível informá-lo sobre procedimentos que devem ser seguidos por ele, familiares, visitantes e por toda a equipe de profissionais do hospital. Para acessar a cartilha, entre no site: <ht tps : / /proqual i s .net /s i tes/proqual i s .net / f i les / Cartilha_Seguranca_do_Paciente_VF.pdf>. Nossa, são muitas características que uma equipe precisa desenvolver! Será? Você realiza ou participa de atividades com outros membros da sua equipe? Em algum momento vocês já conversaram sobre essas carac- terísticas e a forma como alcançá-las? Em relação a isso, estratégias têm sido desenvolvidas e avaliadas para melhorar a comunicação e o trabalho em equipe. Algumas das técnicas empregadas baseiam-se em treinamento em equipe, baseado em simulações multidisciplinares, com ênfase em temas como liderança, confiança mútua, comunicação e o papel de cada membro na equipe. Outras ferramentas também conside- radas fundamentais são: autocorreção e reuniões de equipes. O quadro a seguir descreve algumas estratégias e exemplos de sua aplicação. https://proqualis.net/sites/proqualis.net/files/Cartilha_Seguranca_do_Paciente_VF.pdf https://proqualis.net/sites/proqualis.net/files/Cartilha_Seguranca_do_Paciente_VF.pdf 12 ESTRATÉGIA DESCRIÇÃO EXEMPLO ISBAR (Introduction, Situation, Background, Assessment, Recommendation) ou, em português, ASHAR (Apresentação, Situação, Histórico, Avaliação e Recomendação) Comunicar informações críticas de interesse do paciente que requeiram imediata atenção e ação. Visa à certificação de precisão na informação e no grau de preocupação durante a comunicação, estruturando a comunicação entre a equipe multidisciplinar. Apresentação: “Meu nome é Sandra e sou a enfermeira que está cuidando da Sra. Antônia, que se encon- tra no leito 204 A. Situação: O que está acontecendo com a paciente? “Estou ligando sobre a Sra. Antônia, do leito 204 A, que está se queixando de recente dificuldade respiratória.” Histórico Qual é o histórico ou contexto clínico? “A paciente tem 57 anos e está no primeiro dia do pós-operatório de cirurgia abdominal. Nenhum histórico de doença cardíaca ou pulmonar”. Avaliação Qual é a minha opinião sobre o problema? “Os ruídos respiratórios estão reduzidos no lado direito, com queixa de dor. Gostaria de descartar pneumotórax”. Recomendação O que eu faria para corrigi-lo? “Recomendo que a paciente seja avaliada imediatamente. Você pode vir agora?”. Call-out – convocatória Comunicar informações importantes ou críticas, de forma simultânea, para todos os membros da equipe durante situa- ções de emergência. Líder: estado das vias aéreas? Residente: vias aéreas desim- pedidas Líder: ruídos respiratórios? Residente: ruídos respirató- rios estão reduzidos no lado direito. Líder: pressão arterial? Residente: PA de 96/92 mmHg Check-back - confirmação da informação recebida Garantir que a informação transmitida pelo remetente seja compreendida perfeitamente pelo destinatário. Médico(a): Administre 1 mg de adrenalina IV em bolus. Enfermeiro(a): 1 mg de adre- nalina IV em bolus? Médico(a): Confirmado. 13 ESTRATÉGIA DESCRIÇÃO EXEMPLO Hand-over (passagem de plantão) ou han- d-off (passagem de caso) - transição do cuidado Estruturação e padronização que auxilie na execução de uma transferência de informação oportuna e precisa. Técnica de “passar o bastão” (“I pass the baton”), acrômio que estrutura a transferência de um paciente com informações fundamentais e estruturadas. I– Introduction (Apresentação) P- Patient (Paciente) A- Assessment (Avaliação) S- Situation (Situação) S-Safety concerns (Precauções de segurança) The B- Background (Antecedentes) A- Actions (Ações) T- Timing (Coordenação) O-Ownership (Responsabilidade) N- Next (Seguimento) Quadro 2 - Estratégias para melhorar a comunicação nas equipes de saúde. Fonte: OMS (2016). Saiba mais TeamSTEPPS®: Ferramentas e estratégias para equipes melho- rar o desempenho e a segurança do paciente, sendo uma abordagem desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Colaboração com a Agência para Pesquisa e Qualidade na Saúde (em inglês, AHRQ), para melhorar a quali- dade, a segurança e a eficiência do cuidado de saúde. O método baseia-se em 25 anos de pesquisa ligada ao trabalho em equipe, ao treinamento de equipes e à mudança de cultura. Visite o site e tenha acesso às ferramentas e aos vídeos: <https://www.ahrq. gov/teamstepps/abouttoolsmaterials.html>. https://www.ahrq.gov/teamstepps/abouttoolsmaterials.html https://www.ahrq.gov/teamstepps/abouttoolsmaterials.html 14 Os profissionais de saúde apresentam dificuldades para manter uma comunicação que favoreça o trabalho em equipe na prestação do cuida- do. Existem desafios que geram barreiras específicas para se estabele- cer e manter a atuação em equipe de forma eficaz, sendo alguns deles: • Trocas e sobreposições de funções; • Ambientes em mudança com criação de novas equipes e modificação das existentes; • Hierarquização dos cuidados em saúde; • Diferenças de poder e conflitos no contexto do trabalho; • Natureza individualista dos cuidados em saúde; • Instabilidade e caráter transitório das equipes; • Diversidade na formação dos profissionais relacionada à divergência de treinamento para comunicação. Cabe a cada um dos profissionais envolvidos diretamente (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, entre outros) e indiretamente (gestores, agentes administrativos, entre outros) refleti- rem sobre o tema, buscando o desenvolvimento de ações para melhoria da atuação em equipe e comunicação baseadas nas necessidades locais, não esquecendo a importância do processo de avaliação do desempe- nho do trabalho em equipe. A comunicação tem potencial para subsidiar o cuidado integral e huma- nizado em todos os níveis de atenção, bem como falhas nas linhas de comunicação podem propiciar o desenvolvimento de eventos adversos. Outro ponto que pode gerar influência em tais falhas está relacionado ao modelo de gestão e da cultura organizacional vigente, o que pode desdobrar-se em práticas inseguras para o paciente e a equipe. Assim, acredita-se que investigar a comunicação, como também a cultu- ra de segurança do paciente, é relevante, uma vez que tais informações podem subsidiar a tomada de decisão gerencial com vistas ao aprimora- mento das linhas de comunicação e a reflexões para os profissionais de saúde repensarem suas ações de comunicação. Conforme os profissionais e gestores da área da saúde começaram a se preocupar mais com a segurança, naturalmente buscaram outras orga- nizações que haviam aparentemente conseguido trabalhar de forma efetiva com problemas relacionados aos erros para aprender com suas experiências. Organizações que, dado o reconhecimento de alto risco e 15 a tendência de falhas inerentes ao processo, são consideradas seguras e associadas a condições de aparente ausência de erros caracterizaram o conceito de organização de alta confiabilidade (OAC), como as compa- nhias aéreas, usinas nucleares e porta-aviões. A cultura de segurança é uma característica comum das organizações de alta confiabilidade, em que uma preocupação constante relacionada à segurança é desenvolvida dentro daestrutura organizacional, na qual os colaboradores se sentem confortáveis em relatar potenciais riscos ou falhas reais, sem medo de repreensão por parte do gestor. Mas os hospitais podem ser pensados como organizações complexas? E as unidades de saúde da atenção primária? Tenho certeza de que esta resposta está bem clara, mas quais são os fatores presentes nas organizações de saúde que afetam a segurança do cuidado ao paciente? Vamos comparar as crenças prevalentes nas OAC com as crenças dominantes nas organizações de saúde. ORGANIZAÇÕES DE ALTA CONFIABILIDADE ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE Crença em que algo pode sair errado Crença em que tudo vai dar certo Foco sobre a confiabilidade do sistema Foco sobre a eficiência do sistema Humildade para buscar entender e aprender o que não se conhece Crença do perfeccionismo, em que se sabe tudo o que se precisa saber Comportamento que valoriza o trabalho em equipe Presença de elevados gradientes de hierarquia entre os profissionais Quadro 3 - Cultura de segurança prevalente nas OAC e a cultura dominante nas organizações de saúde. Fonte: Chassin e Loeb (2011). Dessa forma, para que a segurança se torne um fator decisivo da qua- lidade nas organizações de saúde, é imprescindível que seja implemen- tada dentro da instituição a cultura de segurança, entendida psegundo a Agency for Healthcare Researt and Quality como “o produto individual ou coletivo, de valores, atitudes, percepções, competências e padrões de comportamentos que determinam o compromisso, o estilo e a 16 competência de uma organização de saúde na promoção de segurança” (SAMMER et al., 2010). No Brasil, a Portaria MS/GM nº 529/2013, que institui o PNSP, definiu quatro eixos que fundamentam o programa, e a cultura de segurança do paciente é elemento que perpassa todos eles. Para tanto, na por- taria definiu-se a Cultura de Segurança a partir de cinco características operacionalizadas pela gestão de segurança da organização, conforme apresentado no infográfico a seguir. Trabalhadores assumem responsabilidade pela própria segurança, pela segurança de seus colegas, pacientes e familiares. Proporciona recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção efetiva da segurança. CUL TURA DE SEGURANÇA EIXO Estímulo ao cuidado seguro EIXO Incremento da pesquisa EIXO Envolvimento do cidadão na sua segurança EIXO Inclusão do tema no ensino PNSP Promove o aprendizado organizacional a partir da ocorrência de incidentes. Segurança acima de metas financeiras e operacionais. Encoraja e recompensa a identificação, notificação e resolução dos problemas relacionados à segurança. A cultura de segurança incentiva os profissionais a serem responsáveis pelos seus atos mediante o envolvimento de uma liderança proativa, na qual se potencializa o entendimento e se explicitam os benefícios, assegurando uma abordagem sistêmica dos erros. Dessa forma, imple- menta a cultura justa e não punitiva, na qual as pessoas são incentivadas a proverem informações fundamentais relacionadas à segurança, mas na qual também está clara a linha entre um comportamento aceitável, com responsabilidade individual, e comportamentos de risco, imprudentes e inaceitáveis, estabelecendo a necessidade de responsabilização. Contudo, a promoção da cultura da segurança no sistema é algo complexo. Reconhecer sua importância e impacto nas organizações é imperativo para desenvolver qualquer tipo de programa de segurança. 17 Vimos que a cultura de segurança é um dos pilares da segurança do pacien- te, mas como eu posso fortalecer essa cultura de segurança e o comprome- timento dos profissionais no meu local de trabalho? Será que é possível? Com certeza a disseminação e fortalecimento da cultura de segurança do paciente não é algo fácil e que possa ser desenvolvido pontualmente, pois é um conceito multidimensional e complexo. Isso se dá por exis- tirem fatores que levam a uma cultura subdesenvolvida de segurança em saúde, como falta de trabalho em equipe, comunicação frágil, uma “cultura de baixas expectativas” e hierarquia/autoridade. Conseguir melhorias sustentadas na cultura de segurança pode ser difícil, para tanto há necessidade de investimentos financeiros para a melhoria dos processos. Assim, é fundamental o apoio da alta gestão e das lideranças; investimentos em capacitação e treinamentos, visando o aprendizado contínuo; valorização de todos os profissionais que com- põem a equipe de trabalho, com restrição de hierarquias, e comunicação aberta e eficaz; e a notificação de incidentes deve ser encorajada e siste- matizada, promovendo uma cultura não punitiva. Para refletir Você já presenciou ou se envolveu em algum evento adverso em seu ambiente de trabalho? Qual foi o primeiro questiona- mento que você fez sobre isso: quem foi o responsável ou o que efetivamente aconteceu? Foi imposta punição ao profissional ou aplicadas ações corretivas? O receio de notificar um incidente de segurança impede que as reais falhas nos processos e estrutura de trabalho sejam reconhecidas. A cultura de segurança não é implantada imediatamente, existindo está- gio de evolução, indo do estágio inicial, o patológico, até um estágio final ideal, o construtivo. A Figura a seguir mostra os estágios de evolução da cultura de segurança (adaptado de HUDSON, 2003): 18 Aumenta a confiança e a responsabilidade Sem gestão, a segurança pode evoluir de maneira errada CONSTRUTIVO Participação ativa em todos os níveis – a segurança é inerente ao negócio PROATIVO Funcionários tomam a iniciativa para melhorar a segurança – melhoria dos processos CALCULATIVO A segurança é gerenciada administrativamente, com muita coleta de dados – as melhorias são impostas REATIVO Ações corretivas são tomadas apenas após a ocorrência de incidentes PATOLÓGICO A segurança é um problema causado pelos trabalhadores Figura 3 - Estágios de evolução da cultura de segurança. Fonte: Adaptado de Hudson (2003). Cabe um destaque para o estudo realizado por Sammer et al. (2010), em que, a partir de uma revisão sistemática com meta-análise, os autores identificaram fatores que apontavam para importância das crenças, atitudes e comportamentos como componentes da cultura de segurança nos hospitais. Eles verificaram várias propriedades relacionadas à cultura de segurança, que organizaram em sete subculturas (descrição na figu- ra abaixo), que facilitam o entendimento do processo de implantação de uma cultura de segurança nas instituições. 19 Saiba mais Para mais informações sobre esse estudo, acesse: <https://proqualis.net/artigo/o-que-%C3%A9-cultura-de- seguran%C3%A7a-do-paciente-uma-revis%C3%A3o-da- literatura>. Celebrar sucessos Compartilhar aprendizado Aprender com os erros Analise dados Notificação Consciência Técnicas adequadas de comunicação Estruturada Clara Cuidado centrado no paciente Colaboração Flexibilidade Respeito mútuo Horizontalidade Mudança de gerenciamento Relacionamento aberto Responsabilidade Alta confiabilidade Resultados dirigidos Ciência da segurança Melhores práticas Trabalho em equipe Prática baseada em evidência Liderança Comunicação Aprendercom os erros Compaixão / cuidado História do paciente Foco no paciente Envolvimento do paciente, família e comunidade Verdade Sistemas não individuais Relato não punitivo Divulgação Cultura justa Justiça Feedback Figura 4 - Tipologia da cultura de segurança. Fonte: Sammer et al. (2010). Como avaliar se a cultura de segurança está implementada na insti- tuição que trabalho? Existem ferramentas que avaliam a cultura de segurança do paciente, várias estão disponíveis gratuitamente e são validadas internacionalmente. https://proqualis.net/artigo/o-que-%C3%A9-cultura-de-seguran%C3%A7a-do-paciente-uma-revis%C3%A3o-da-literatura https://proqualis.net/artigo/o-que-%C3%A9-cultura-de-seguran%C3%A7a-do-paciente-uma-revis%C3%A3o-da-literatura https://proqualis.net/artigo/o-que-%C3%A9-cultura-de-seguran%C3%A7a-do-paciente-uma-revis%C3%A3o-da-literatura20 A avaliação da cultura como ferramenta de gestão é comumente realiza- da com objetivos específicos, como: • compreender como os funcionários percebem a segurança do paciente na organização; • identificar áreas/unidades cujas características da cultura necessi- tam de melhorias; • avaliar a efetividade de ações implementadas para a melhoria da segurança ao longo do tempo; • comparar dados internos e externos à organização; • priorizar esforços de fortalecimento da cultura. Como métodos para avaliar a cultura de segurança, existe a abordagem socioantropológica qualitativa, na qual são empregadas entrevistas e técnicas de observação, sendo estudos mais prolongados; e a aborda- gem epidemiológica quantitativa, em que, geralmente, é feita a aplicação de questionários autoaplicados. No Brasil, estão disponíveis dois questionários já validados em estu- dos prévios. O primeiro possui duas versões, uma conduzida pelo staff da ENSP/FIOCRUZ e outro pelo staff do Programa de Pós-Graduação QualiSaude/UFRN, que produziu uma versão do instrumento em software. A seguir, os endereços para acesso aos instrumentos de pesquisa e ao software: 1) Questionário sobre Segurança do Paciente em Hospitais (Hospital Survey on Patient Safety Culture – HSOPSC) (SORRA; NIEVA, 2004), traduzido para o português e adaptado para uso no Brasil (REIS; LAGUARDIA; MARTINS, 2012): <https://proqualis.net/cartaz/question%C3%A1rio- sobre-seguran%C3%A7a-do-paciente-em-hospitais-hsopsc>; 2) Questionário sobre Segurança do Paciente em Hospitais (Hospital Survey on Patient Safety Culture – HSOPSC) Andrade, L.E. L. de; et al . Adaptação e validação do Hospital Survey on Patient Safety Culture em versão brasileira eletrônica. Epidemiol. Serv. Saúde [Internet]. 2017 Set [citado 2018 Jun 01]; 26( 3 ): 455-468. <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222017000300455&lng=pt>; software: <http://www.telessaude.ufrn.br/index.php/2013-11-04-22- 58-23/seguranca-do-paciente>. https://proqualis.net/cartaz/question%C3%A1rio-sobre-seguran%C3%A7a-do-paciente-em-hospitais-hsopsc https://proqualis.net/cartaz/question%C3%A1rio-sobre-seguran%C3%A7a-do-paciente-em-hospitais-hsopsc http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222017000300455&lng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222017000300455&lng=pt http://www.telessaude.ufrn.br/index.php/2013-11-04-22-58-23/seguranca-do-paciente http://www.telessaude.ufrn.br/index.php/2013-11-04-22-58-23/seguranca-do-paciente 21 3) Safety Attitude Questionnaire (SAQ), Questionário Atitudes de Segurança, traduzido para o português e adaptado para uso no Brasil por Carvalho e Cassiani (2012): <http://www.scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext&pid=S0104-11692012000300020&lng=en&nrm=iso>. A avaliação da cultura deve ser sistemática, sempre com feedback para os profissionais de saúde. A partir dos resultados obtidos, têm-se a pos- sibilidade de identificação dos pontos de melhoria e os fortalecidos rela- cionados à cultura de segurança, para assim traçar um planejamento de priorização de ações, buscando uma assistência segura e de qualidade. O Proqualis disponibiliza por meio de seu portal uma página dedicada à Cultura de Segurança do Paciente (<https://proqualis.net/cultura-de- seguran%C3%A7a>), com vários artigos, links e orientações sobre a temática. http://www.scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext&pid=S0104-11692012000300020&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext&pid=S0104-11692012000300020&lng=en&nrm=iso https://proqualis.net/cultura-de-seguran%C3%A7a https://proqualis.net/cultura-de-seguran%C3%A7a 22 AULA 3 - Métodos de melhoria da qualidade e segurança do cuidado em saúde Objetivos da aula: • Identificar os princípios básicos da melhoria da qualidade dos cuidados em saúde. • Conhecer os principais métodos e ferramentas para melhorar a qualidade dos cuidados em saúde. Por que precisamos conhecer as ferramentas e os métodos para a diminuição dos danos e melhoria dos cuidados em saúde? A história antiga e recente nos traz o alerta sobre a extensão dos danos causados a pacientes. Contudo, o reconhecimento que eventos adversos ocorrem não é suficiente. Precisamos compreender suas causas e gerar as mudanças necessárias para impedir que eventos semelhantes ocor- ram no futuro. 23 Suponha que você seja o coordenador de uma equipe de cuidados. Você está preocupado com a segurança no seu serviço, mas os recursos e o tempo estão limitados. Ao planejar um programa, você se questiona: O que posso fazer para melhorar a segurança? Quais estratégias de segurança estão disponíveis? Como combinar essas estratégias de forma mais efetiva? Entender as múltiplas causas de eventos adversos exige o uso de méto- dos elaborados, para que todas as prováveis causas sejam identificadas, requer conhecimento dos processos de cuidados ao paciente, habilida- de de avaliar os resultados e testar se as intervenções realizadas para corrigir um problema foram eficazes. Métodos de pesquisa científica cen- trados na melhoria podem agregar uma ampla variedade de metodolo- gias e, em geral, consideram o contexto e a complexidade da mudança social. Nesta aula, vamos conhecer um pouco sobre os princípios básicos da melhoria da qualidade dos cuidados em saúde e os principais méto- dos e ferramentas para melhorar a qualidade e segurança. O QUE É A QUALIDADE? Não há um consenso sobre a definição de “qualidade” quando rela- cionada ao cuidado em saúde. Entre as mais utilizadas, tem-se a defi- nição do Institute of Medicine dos EUA, que define qualidade como “o grau em que os serviços de saúde prestados a indivíduos e populações aumentam a probabilidade de ocorrência de resultados desejados e são consistentes com o conhecimento profissional atual”. Esse instituto também identificou seis dimensões essenciais para a qualidade do cuidado de saúde, que precisarão ser equilibradas, con- siderando quais os elementos mais importantes e as áreas prioritárias para uma organização na visão dos envolvidos. 24 QUALIDADE DO CUIDADO DE SAÚDE EQUITATIVO Cuidado que não apresente variações de qualidade devido às características de uma pessoa. Evitar desperdícios. Reduzir o tempo de espera e atrasos potencialmente danosos. EFICIENTE OPORTUNO SEGURO Evitar que os cuidados em saúde acabem provocando danos. Prestar serviços baseados em evidências que gerem benefícios claros. EFETIVO FOCO NO PACIENTE Parceria entre profissionais e pacientes garantindo que o cuidado respeite as necessidades e preferências dos pacientes. O QUE É A MELHORIA DA QUALIDADE? Assim como para qualidade, existem várias definições para melhoria da qualidade. Resumidamente, consiste numa abordagem sistemática que utiliza métodos e estratégias específicas para melhorar a qualidade, gerando melhores resultados e experiência do paciente com o cuidado de saúde. A forma como as mudanças são introduzidas e implementadas, tanto pelos prestadores de cuidado como pela organização, é fundamen- tal para que a melhoria da qualidade seja sustentada e bem-sucedida. Entre as várias metodologias, abordagens e ferramentas, há alguns prin- cípios básicos que são compartilhados entre eles, como: • Compreensão do problema, com ênfase no que os dados nos dizem; • Compreensão dos processos e sistemas dentro da organização, e se eles podem ser simplificados; • Análise da demanda, da capacidade e do fluxo do serviço; • Escolha das ferramentas a serem utilizadas para realizar mudanças, como o envolvimento da liderança e dos profissionais de saúde que lidam diretamente com o paciente, a capacitação e a participação dos profissionais e dos pacientes; • Avaliação e medida do impacto das mudanças. 25 Independentemente da abordagem utilizada, é essencial combinar de forma criativa o conhecimento específico e a ciência da melhoria para desenvolver ideias efetivas de mudança, examinando omodo como as mudanças são implementadas. Além disso, projetos desenvolvidos e implementados com a participação dos profissionais de saúde, pacien- tes e gestores têm maior probabilidade de resultarem em mudanças sustentáveis do que os projetos baseados num modelo de “comando e controle”, implementado “de cima para baixo”. Acreditamos que, em vez de adotar soluções fragmentadas, seja necessária uma visão abrangente das estratégias disponíveis e de como elas poderiam ser empregadas em cada contexto. Vincent e Amalberti (2016), no livro Cuidado de saúde mais seguro: estratégias para o cotidiano do cuidado, disponível gratuitamente em <https://proqualis.net/livro/cuidado-de-sa% C3%BAde-mais-seguro-estrat%C3%A9gias-para-o-cotidiano-do-cuidado>, destacam cinco estratégias de segurança abrangentes que podem ser aplicadas em todos os níveis de cuidados, desde a linha de frente até a governança da organização de saúde, sendo as duas primeiras voltadas para buscar a segurança, otimizando o cuidado prestado aos pacientes, e as demais concentradas na gestão de risco e prevenção do dano. ESTRATÉGIA OBJETIVO EXEMPLO DE INTERVENÇÕES Segurança como melhor prática: aspirar padrões Reduzir danos específicos e melhorar os processos clínicos, aspirando padrões (normas e procedimentos básicos) para melhores práticas, não esquecendo que o cuidado ideal vai além das normas. • Uso da lista de verificação da OMS para segurança cirúrgi- ca e outras. • Programa focal com interven- ções para reduzir lesão por pressão. • Intervenções para reduzir infecção associada a cateter venoso central. Melhoria dos pro- cessos e sistemas de saúde Intervir para apoiar pessoas e equipes, melhorar as condições de trabalho e as práticas orga- nizacionais. • Introdução de código de bar- ra para os medicamentos. • Melhoria da comunicação e da passagem de casos duran- te o itinerário cirúrgico. • Uso da tecnologia da informa- ção para reduzir ocorrência de erros de medicação. DETALHES DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO • Quais incidentes devem ser investigados? • Rever os registros do caso. • Enquadrar o problema. • Entrevistar os funcionários. • Como aconteceu? – Identificar os problemas com a gerência dos cuidados. • Por que aconteceu? – Identifi- car os fatores contribuintes. Análise do caso Se o protocolo for seguido sistematica- mente e a entrevista conduzida de maneira minuciosa, o relatório e as implicações do incidente devem emergir da análise de forma relativamente direta. Quando a investigação estiver completa, ela deve incluir um resumo claro do problema e das circunstâncias que o causaram, bem como as falhas no processo de cuidados devem aparecer facilmente. A parte final do relatório deve considerar quais implicações o incidente tem para o departamento ou organização e fazer recomendações para as ações corretivas. SE G U RA N ÇA C O M O M EL H O R PR ÁT IC A https://proqualis.net/livro/cuidado-de-sa% C3%BAde-mais-seguro-estrat%C3%A9gias-para-o-cotidiano-do-cuidado https://proqualis.net/livro/cuidado-de-sa% C3%BAde-mais-seguro-estrat%C3%A9gias-para-o-cotidiano-do-cuidado 26 ESTRATÉGIA OBJETIVO EXEMPLO DE INTERVENÇÕES Controle de riscos Impor limites ou restrições ao desempenho, demanda ou con- dições de trabalho, aumentan- do o controle dos riscos, para aumentar a segurança. • Selecionar e enfatizar normas de segurança, permitindo certa redução de outras fun- ções de forma temporária ou permanente. • Definir condições nas quais exames e tratamentos defi- nitivamente não devem ser realizados. • Reduzir o fluxo de pacien- tes de forma temporária ou definitiva. Monitoramento, adaptação e resposta Gerir de forma ativa os proble- mas e erros que acontecem, reconhecendo que os mesmos podem acontecer, sendo neces- sário desenvolver métodos de monitoramento, adaptação, resposta e recuperação frente as falhas. • Envolver pacientes e familiares. • Desenvolver sistemas e rotinas de respostas às emergências. • Adotar briefings e sistemas de antecipação de problemas nas rotinas clínicas. Mitigar (reduzir a gravidade) o dano Planejar para possíveis danos e recuperação diante deles, reco- nhecendo que pacientes e pro- fissionais de saúde, às vezes, serão prejudicados durante o cuidado, sendo fundamental que as organizações contem com sistemas eficazes de apoio após danos graves • Resposta rápida e comunica- ção clara com os pacientes e cuidadores. • Criar programas de apoio entre pares aos profissionais de saúde. • Assegurar a proteção legal da organização contra queixas injustificadas. Quadro 4 - Cinco estratégias de segurança. Fonte: Vincent e Amalberti (2016). Cada contexto de saúde apresenta seus próprios desafios, requerendo uma combinação de diferentes abordagens, independentemente da situação atual. Assim, é preciso deixar claro como e por que cada estra- tégia e intervenção é utilizada, como elas podem ser combinadas e em que proporções. Para tanto, a figura a seguir exemplifica a ideia geral de como desenvolver estratégias de segurança em diferentes ambientes. M EL H O RA R O S IS TE M A 27 Dano ocorrido anteriormente Confiabilidade Sensibilidade às operações Antecipação e preparação Integração e aprendizagem Segurança, medição e monitoramento ANÁLISE CONTEXTO COMBINAÇÃODE ESTRATÉGIAS Figura 6 - Análise da segurança, contexto clínico e estratégias. Fonte: Vincent e Amalberti (2016). Posteriormente a etapa inicial de diagnóstico do problema de segurança, é a partir do contexto situacional e clínico que serão indicadas as com- binações específicas de estratégias necessárias. No contexto em que o cuidado pode ser definido com precisão, predominarão estratégias para controlar a exposição aos riscos e garantir a adesão às normas. Em con- trapartida, em ambientes dinâmicos, pode ser mais importante adotar estratégias para melhorar o monitoramento e a adaptação, embora todos os ambientes precisem se assentar numa base sólida de procedimentos. Até agora, examinamos os conceitos envolvendo a qualidade e a melho- ria da qualidade e exploramos informações sobre estratégias de segu- rança de uma forma mais abrangente. Agora buscaremos identificar algumas das abordagens mais conhecidas para a melhoria da qualidade. Lembrando que a melhoria envolve tanto a construção quanto a aplica- ção de conhecimentos e que nenhuma abordagem é melhor do que a outra, podendo serem usadas inclusive simultaneamente. Geralmente, a maioria dos modelos envolve uma fase de questionamento. Destacamos aqui o modelo de melhoria proposto por Deming, o qual se configura por uma abordagem de melhoria contínua, envolvendo tenta- tivas e erros, na qual as mudanças são testadas em pequenos ciclos que envolvem planejar (plan), fazer (do), estudar (study) e agir (act) (PDSA, 28 na sigla em inglês), sendo este um processo cíclico. Tais ciclos são asso- ciados a três perguntas fundamentais: • O que estamos tentando realizar? • Como saberemos se uma mudança é uma melhoria? • Que mudanças podemos fazer que resultarão melhoria? Cada ciclo começa com um planejamento, evolui transformando-se em conhecimentos capazes de embasar as ações e produzir resultados posi- tivos. O modelo PDSA necessita que os passos sejam repetidos inúmeras vezes até que as melhorias sejam realizadas e mantidas. O MODELO PARA MELHORIA O que estamos tentando realizar? Como saberemos se uma mudança é uma melhoria? Que mudança podemos fazer que resulte em uma melhoria? DO ( fazer) PLAN (planejar) STUDY (estudar) ACT (agir) Localizar os problemas Objetivos Predições Executar o plano Documentar as observações Coletar os resultados Iniciar a análise dos dados Completar a análise dos resultados Comparar resultados com predições Resumir o que foi aprendido Determina que mudanças devem ser realizadas Executar ações em função dos resultados Outro ciclo? Figura 7 - Modelo PDSA. Fonte: Langley GL,Nolan, KM, Nolan, TW, Norman, CL& Provost, LP 1999. 29 Ao nos questionarmos “o que estamos tentando realizar?”, buscamos identificar áreas que requerem melhorias ou correção. Esse processo de questionamento precisa ser feito por toda equipe de saúde, a qual deve concordar que o problema existe e vale a pena tentar resolvê-lo. Mas a confirmação do problema não se baseia apenas na opinião da equipe, são necessárias evidências (qualitativas ou quantitativas) que sustentem a sua existência. Podemos citar o exemplo da alta taxa de infecção de ferida operatória em pacientes que passam por cirurgia de revasculari- zação do miocárdio, cujos números poderiam ser uma evidência. E como saberemos se uma mudança resultou em melhoria? Para tanto, é essencial avaliar os resultados e indicadores envolvidos antes e depois da mudança. A confirmação da melhoria vai além do avanço da situação dos dados coletados com o tempo, precisa haver uma manutenção contínua dessas melhorias antes que a equipe confie na eficácia das mudanças. Saiba mais Você já participou de um ciclo de melhorias? A aplicação do modelo PDSA pode ser simples ou complexa, formal ou informal, exigindo conhecimento do processo de desenvolvimento do projeto de melhoria. Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, acesse o artigo sobre revisão sistemática da aplicação do método PDSA para melhorar a qualidade do cuidado de saúde na biblioteca do AVASUS ou no link: <https:// proqualis.net/artigo/revis%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-da- aplica%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%A9todo-pdsa-para- melhorar-qualidade-do-cuidado-de-sa%C3%BAde>. As atividades de melhoria de qualidade precisam de profissionais de saú- de para coletar e analisar os dados gerados pelos processos da área de saúde, sendo a avaliação um elemento essencial da melhoria, pois força as pessoas a olharem para o que fazem e como fazem. Entre os princi- pais indicadores utilizados para avaliação da melhoria, destacam-se três: o indicadores de resultados: inclui desenvolvimento de pesquisas, auditorias dos registros de saúde, entrevistas e outras ferramentas que busquem avaliar a incidência de eventos adversos, a percepção das pessoas ou atitudes em relação ao serviço e seu nível de satisfação com o mesmo. Ex.: número de erros de administração de medicamentos que ocorreram ou foram detectados. https://proqualis.net/artigo/revis%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-da-aplica%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%A9todo-pdsa-para-melhorar-qualidade-do-cuidado-de-sa%C3%BAde https://proqualis.net/artigo/revis%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-da-aplica%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%A9todo-pdsa-para-melhorar-qualidade-do-cuidado-de-sa%C3%BAde https://proqualis.net/artigo/revis%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-da-aplica%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%A9todo-pdsa-para-melhorar-qualidade-do-cuidado-de-sa%C3%BAde https://proqualis.net/artigo/revis%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-da-aplica%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%A9todo-pdsa-para-melhorar-qualidade-do-cuidado-de-sa%C3%BAde 30 o indicadores de processos: envolve a avaliação de processos referentes às avaliações ou funcionamento de um sistema associado à um resulta- do negativo, em oposição à incidência desses eventos. Ex.: considerar os fatores que comprometem a prescrição, fornecimento e administração do medicamento. o indicadores de equilíbrio: aplicados para que as mudanças não criem problemas extras, sendo um exame do serviço sob uma perspectiva diferente. Ex.: avaliação do fato das ações para reduzir o período de internação no hospital para um grupo específico de pacientes não leve a um aumento nos índices de readmissão devido aos pacientes que não souberam como se cuidar em casa. O Proqualis disponibiliza por meio de seu portal uma página dedicada à melhoria da qualidade, para fornecer informações, instrumentos, ferramentas e técnicas que deem suporte para aqueles que realizam a prestação de cuidados, além do compartilhamento de experiências de sucesso na aplicação das mesmas. Acesse as informações em: <https://proqualis. net/melhoria-de-qualidade> e saiba mais! Entre os métodos de melhoria utilizados no campo da saúde, iremos des- tacar três. São eles: a metodologia de Melhoria da Prática Clínica (CPI), Análise de Causa-Raiz (RCA) e Análise de Falha de Modo e Efeito (FMEA). A metodologia Melhoria da Prática Clínica, do inglês Clinical Practice Improvement – CPI, é utilizada para melhoria da qualidade e segurança no cuidado em saúde, e analisa detalhadamente os processos e resulta- dos dos cuidados clínicos. Para tanto, envolve cinco fases: https://proqualis.net/melhoria-de-qualidade https://proqualis.net/melhoria-de-qualidade 31 O que desejamos corrigir ou realizar? Quais são as intervenções apropriadas? Como faremos a implementação de mudanças? As intervenções fizeram alguma diferença? Quais evidências utilizadas para essa mensuração? O problema que identificamos vale a pena ser resolvido? 2 1 3 4 5 Fase de projeto • Missão do projeto • Equipe do projeto Fase de impacto • Gráficos de série comentados • Gráficos de SPC Fase de diagnóstico • Fluxo de processo conceitual • Dados da grade do cliente – Espinha de peixe – Diagrama de Pareto – Gráficos de série – Gráficos estatísticos (SPC) Fase de intervenção • Planeje uma mudança • Faça isso num pequeno teste • Analise seus efeitos • Atue sobre os resultados Fase de melhoria sustentada • Monitorização contínua do resultado • Sustentação de ganhos – Padronização – Documentação • Futuros planos – Mensuração – Treinamento 1 m ês 2 m eses 2 m es es Como faremos o monitoramento? Como faremos para que a melhoria seja continuada? D S P A S A D PS A D P S A D P S A D P Já pensou em aplicar esse método para melhoria da qualidade em seu setor de trabalho? Para mais informações, acesse o “Easy guide to clinical practice improvement: a guide for health professionals”, desenvolvido pelo New South Wales Health Department (2002), disponível em: <http:// www.cec.health.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/286052/cpi- Easyguide.pdf>. Você já ouviu falar do método Análise de Causa-Raiz? Muitos hospitais e serviços de saúde utilizam esse método para determinar as causas relacionadas a um evento adverso. A Análise de Causa Raiz (do inglês root cause analysis – RCA) teve seu início no campo da engenharia. Trata-se de um processo sistemático interativo em que os fatores que contribuíram para um incidente são identificados pela reconstrução da sequência de eventos e pelo constante questionamento do porquê, até que as causas raízes subjacentes sejam elucidadas. Assim, é um processo reativo, de análise retrospectiva, geralmente implemen- tado após a ocorrência de incidentes que requerem melhorias em processos/sistemas, especialmente eventos críticos ou sentinelas. http://www.cec.health.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/286052/cpi-Easyguide.pdf http://www.cec.health.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/286052/cpi-Easyguide.pdf http://www.cec.health.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/286052/cpi-Easyguide.pdf 32 Esse método apresenta natureza interdisciplinar, incluindo pessoas com conhecimento sobre os processos envolvidos no evento e com diferentes níveis de experiência e formação profissional. Focaliza, principalmente, em sistemas e processos e não apenas no desempenho individual, além de identificar o redesenho de sistemas e processos a fim de reduzir o risco de novo incidente. Você já parou para se perguntar o quê? e por quê? algo aconteceu. É dessa forma, a partir do questionamento, que a análise RCA se apro- funda, até que todos os aspectos do processo sejam analisados e os fatores que contribuíram para o incidente sejam considerados. Assim, têm-se os seguintes questionamentos: • O que aconteceu? • Como aconteceu? • Por que aconteceu? • O que pode ser feito para impedir que isso aconteça de novo? • As ações implementadas realmente melhoraram a segurança dos processos/ sistemas? 33 Para que o método seja desenvolvido, é necessário seguiralgumas eta- pas. São elas: TRABALHO EM EQUIPE Organize uma equipe interdisciplinar; Não mais do que 8 a 10 pessoas. Coleta de dados mediante entrevistas, visitas aos locais, análise de prontuário, etc; Descrição detalhada do evento, incluindo sua cronologia (fluxograma); Áreas, serviços, setores afetados pelo evento e/ou que participaram do mesmo. Estão mais perto do evento e são diretamente responsáveis por ele ter ocorrido; Variações que surgem em circunstancias não usuais. Elaboração de um plano de ação para cada causa raiz identificada; Deve conter: estratégias/ações para redução do risco; pessoa responsável pela execução; prazos; e as medidas de efetividade. Uso de indicadores quantificáveis; A metodologia de coleta de dados deve estar clara e descrita; Definição de uma meta alcançável. O QUE E POR QUE? CAUSAS PROXIMAIS CAUSAS RAÍZES IMPLEMENTAÇÕES AVALIE AS AÇÕES Causas comuns no sistema maior do qual o processo faz parte; Variações inerentes ao desenho do processo. 34 Considere a seguinte situação-problema relacionada a um erro de medicação em um pronto socorro. Seu João da Silva sofre um acidente de moto, é transportado pelo SAMU para o hospital de referência. Na emergência, é avaliado pelo médico plantonista, o qual prescreve morfina para dor. A técnica da enfermagem prepara hidromorfona e em seguida aplica no paciente. Após alguns minutos, o mesmo refere forte tontura e sinais de depressão respiratória, com respiração lenta e saturação de oxigênio baixa. O médico é chamado para nova avaliação e prescreve Naloxone, o qual é administrado. A pres- crição é checada – o erro é identificado. A partir da situação problema do senhor João da Silva, como poderíamos aplicar a análise de causa-raiz para compreender as causas do evento adverso relacionado ao medicamento? Iniciaremos definindo a equipe de trabalho. Para coleta de dados, cole- te dados sobre o que aconteceu e como aconteceu. Poderíamos fazer uso de um fluxograma para descrever detalhadamente a cronologia do incidente, assim pontos críticos em processos estratégicos vão sendo identificados. Veja a seguir um exemplo de como seria o fluxograma. 35 Paciente sofre acidente É transportado para o Hospital pelo SAMU Avaliado pelo médico, que solicita Raio X Paciente retorna do Raio X (sinais vitais checados) Avaliado pela enfermeira na triagem (verificado sinais vitais) Discussão entre médico e paciente sobre alívio da dor Médico solicita a enfermeira para administrar Morfina 10 mg IM; escreve no prontuário Morf 10 mg IM A técnica lê Morf 10 mg IM e pega uma ampola de Hidromorfona Ela prepara e administra a Hidromorfona Paciente queixa-se de forte tontura Checa a administração do medicamento no prontuário Sinais vitais indicam bradipneia e saturação de O2 baixa Técnica de enfermagem leva o prontuário para área de preparo de medicamentos A técnica chama o médico para avaliar o paciente (É prescrito Naloxone) A prescrição é checada e o erro é identificado ! Fluxograma 1 - Cronologia do incidente. Fonte: CPSI (2006). A terceira e quarta etapas envolvem a identificação das causas- -proximais e causas- raízes. Quais seriam elas? Uma ferramenta que pode ser aplicada para tal identificação é o diagrama de causa e efeito (ou Diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe), utilizada para explorar e apresentar as possíveis causas de um determinado efeito, mostrando de forma gráfica a relação entre causa e efeito, podendo ajudar a focar em áreas para melhoria. Inicialmente, a equipe deve realizar uma tempestade de ideias (brains- torming) para identificar as possíveis causas do incidente e gerar o con- teúdo de cada braço do diagrama, as quais são agrupadas em categorias. Ao se identificar as possíveis causas, é necessário seguir perguntando “por quê” até que uma possível causa-raiz seja identificada, a qual pode explicar o efeito diretamente ou é aquela que, quando removida, elimina ou reduz o problema. 36 EFEITO Causa Causa Subcausa Subcausa Subcausa Su bc au sa Subcausa Subcausa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Time InstituiçãoTarefa Paciente Indivíduo Ambiente Vamos pensar no levantamento das causas associadas ao problema sofri- do pelo Sr. João? Como ficaria à disposição do diagrama de causa e efeito? 37 DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO: Incidente Morfina e Hidromorfona CAUSAS EFEITO Emergência lotada Medicamento pouco utilizado na Emergência Rótulos semelhantes Barreiras Erro de medicação (administração de Hidromorfona ao invés de Morfina) Confusão com nome do medicamento Ausência de política para dupla checagem de medicamentos de alta vigilância Ausência de alerta na embalagem de medicamentos de alta vigilância Uso de abreviação Comunicação Treinamento Fadiga Políticas / Procedimentos Ambiente / Equipamento Figura 8 - Diagrama de causa e efeito. Fonte: CPSI (2006). Quando a equipe julgar concluída a identificação das causas, ela deve descrever textualmente as causas-raiz, o que deve ser feito cuidadosa- mente para que a comunicação dessas declarações seja compreensível e tenha como alvo os sistemas da instituição e não os indivíduos. Por fim, deve-se identificar e implementar ações realistas para a redução do risco de recorrência do incidente por meio de um plano de ação elaborado para cada causa-raiz identificada, estando as responsabilidades e fun- ções bem definidas e claras; e avaliar a efetividade das ações tomadas. 38 Saiba mais Pensou em aplicar o método de análise de causa-raiz em sua instituição? Para aprofundar seus conhecimentos sobre esse método e suas ferramentas, acesse: <https://www.patientsafety. va.gov/media/rca.asp>. Outra ferramenta utilizada para reduzir a ocorrência ou recorrência das falhas no cuidado em saúde é a Análise de Modo de Falha e Efeito, do inglês Failure Mode and Effect Analysis – FMEA. Trata-se de um método com abordagem pró-ativa, de análise de risco sistemático, preventivo e pros- pectivo, tendo como conceito chave o que poderia dar errado. Baseia-se no trabalho multidisciplinar em equipe, identificando problemas nos sistemas e infraestrutura antes que eventos adversos aconteçam, e avalia os efeitos e causas potenciais das falhas, determinando a magnitude do risco. Como essas falhas ainda não aconteceram, utiliza-se uma pontuação probabilística de chance e significância de impacto. As equipes podem quantificar modos de falhas a partir da severidade, ocorrência e detec- ção, e esses quantificadores geralmente são avaliados em uma escala de 1 a 10, para a partir da análise produzir um número de prioridade de risco, facilitando a ordenação e direcionamento dos esforços. Para aplicação da ferramenta, quais questionamentos você faria? O que poderia dar errado (modos de falha)? Por que seria errado (causas da falha)? Quais são as consequências (efeitos da falha)? Lembrando que é a FMEA costuma ser uma parte de um conjunto mais amplo de iniciativas para melhoria da qualidade em organizações de saúde. Para tanto, algu- mas etapas são necessárias para seu bom desenvolvimento, sendo elas: https://www.patientsafety.va.gov/media/rca.asp https://www.patientsafety.va.gov/media/rca.asp 39 Diagramar o processo de cuidados existente ETAPA 2 Identificar os potenciais modos de falhas e determinar os efeitos (tempestade de ideias) ETAPA 3 Redesenhar o processo ETAPA 4 Escolher um processo que resulte em algum dano e formar uma equipe ETAPA 1 Identificar causas dos modos de falha (análise de causa raiz) ETAPA 6 Priorizar modos de falhas (índice de prioridade de risco – severidade X ocorrência X detecção) ETAPA 5 Implementar e monitorar o processo redesenhado ETAPA 7 O que poderia dar errado? De que modo o processo pode falhar em cumprir sua função? Quais são as consequências? Por que seria errado? Qual a causa do modo de falha? Trabalhar com métodos de melhoria da qualidade pode ser desafia- dor,pois requer convencimento de que existe um problema e a solução escolhida para resolvê-lo é a correta; as pessoas envolvidas precisam ter conhecimento sobre as ferramentas a serem utilizadas, experiência de aplicação real e estar familiarizadas com os benefícios associados ao seu uso. Implementar as melhorias não é o fim do processo, elas precisam ser mantidas ao longo do tempo. Com a dedicação de algum tempo para aperfeiçoar a teoria da mudança, a medição e o envolvimento dos interessados numa intervenção, será possível gerar o entusiasmo e engajamento dos envolvidos. Assim, os esforços serão recompensados com resultados reais e sustentáveis que caracterizam a melhoria da qualidade. “Acreditamos que as pessoas vão trabalhar com o objetivo de fazer um bom trabalho, e não o contrário. Dado um conjunto de circunstâncias, qualquer um de nós pode cometer um erro. Precisamos nos esforçar para olhar além da resposta fácil de atribuir culpa, e passar a identi- ficar estratégias e ações que realmente ajudem os nossos pacientes”. Department of Veterans Affairs, National Center for Patient Safety, 2005. 40 CONCLUINDO... Caros alunos, estamos finalizando o nosso módulo. Esperamos que tenha sido proveitosa a oportunidade para rever e se aproximar de temas rela- cionados com a segurança do paciente, e talvez até conhecer assuntos novos. Nosso intuito foi de provocar em você uma reflexão acerca do seu papel como profissional de saúde e preceptor para a melhoria da qualidade do cuidado e da segurança do paciente, sendo um ponta pé inicial nessa direção. Agora, é o momento de aferir objetivamente aquilo que você apren- deu. Preparamos um instrumento de avaliação com oito questões. Lá no projeto do curso, está prevista a distribuição da pontuação e o seu correspondente em conceitos. Boa avaliação! 41 REFERÊNCIAS ANDRADE L.E. L. et al . 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