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Alcoolismo Julia Muniz 101 • CID: F-10 → DOENÇA: Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substância psicoativa AÇÃO E EFEITO DO ÁLCOOL AÇÕES E EFEITO ESTIMULANTE – BAIXAS DOSES • Estimulante, euforia e bem-estar • Receptor 5HT3: Receptor ionotrópico de serotonina, que tem seu efeito excitatório aumentado em baixas doses de álcool AÇÕES E EFEITO DEPRESSOR – ALTAS DOSES • Incoordenação motora, ataxia, estupor, anestesia profunda, coma alcoólico, parada respiratória e morte • Receptor GABA-A: Esse receptor tem 3 sítios de estimulação, alfa, beta e gama, sendo que o álcool atua sobre a subunidade alfa independente da presença de gaba, aumentando a condutância de Cl-. Esses receptores estão concentrados em interneurônios e a inibição dos mesmos causa desordenamento dessa modulação, causando a euforia inicial da bebida alcoólica Benzodiazepínicos estimulam a subunidade gama e dependem da presença de GABA e os barbitúricos estimulam a subunidade alfa, independente do GABA • Receptor glutamatérgico: Se liga ao receptor NMDA inibindo a ação do glutamato. O potencial de ação é deflagrado pela liberação do magnésio, entretanto esse passo é bloqueado pelo álcool. O bloqueio de NMDA, induz a expressão de mais receptores, o que leva ao estado de hiperexcitação glutamatérgica durante a crise de abstinência. Esse estado, leva a um sequestro de magnésio, o que pode predispor crise epiléptica • Circuito de gratificação cerebral (dopaminérgico): É o denominador comum aos efeitos das diferentes drogas de abuso, já que as drogas atuam aumentando a disponibilidade de dopamina nesse sistema, o qual é composto pela área tegmentar ventral de onde sai as vias mesolímbica e mesocortical, para o N. accubens e córtex frontal, respectivamente. A dependência é determinada geneticamente por hipofunção desse circuito de gratificação, quando há deficiência do receptor D2(inibitório) no pré- frontal • Canais de Calcio: O álcool inibe a abertura desses canais, os quais, participam da liberação de neurotransmissores. Esses canais estão mais concentrados no cerebelo, o que explica a incoordenação da marcha, alteração na atenção e sono Graus de intoxicação alcoólica: depende da dose e da sensibilidade do organismo ✓ Leve: Euforia e incoordenação motora ✓ Moderada: Humor instável, julgamento prejudicado ✓ Grave: Depressão dos centros nervosos ✓ Muito grave: Coma e morte CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DE ALCOOLISMO • A presença de 3 em 6 já é suficiente para diagnóstico: o Forte desejo de consumir álcool o Dificuldade de controlar o início e término do consumo o Sinais de síndrome de abstinência o Tolerância o Prazer apenas no uso do álcool o Persistência do uso do álcool, a despeito das consequências nocivas • Perguntas da prática clínica que podem ajudar a determinar os 6 parâmetros: Bebe? Qual a idade da primeira dose? Qual bebida você mais bebe? Qual foi o ultimo dia que bebeu? Normalmente quantas vezes na semana? SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA • CID: F10.3 o F10.3.0: Não complicado o F10.3.1: Com convulsões o F10.4: Com delirium tremens • Apresentação clínica: Taquicardia, hipertensão arterial, náuseas, vômitos, piloereção, tremores, aumento da temperatura corporal, sudorese, insônia, pesadelos, ansiedade e inquietação, depressão, confusão mental, alucinações, convulsões → Hiperatividade glutamatérgica, sinais e sintomas terminam geralmente 14 dias após a última ingestão A sd de abstinência ocorre nas primeiras horas e tende a piorar dentro de 48h, podendo ocorrer crises epilépticas e delirium tremens Pacientes que já tiveram episódio prévio de crise epiléptica devem iniciar benzodiazepínicos e reposição de magnésio CLASSIFICAÇÃO DE LESCH E O TIPO DE TRATAMENTO CIRCUITO IDEAL TIPO I – MODELO DE ALERGIA • Sd de abstinência ao álcool grave com crises convulsivas e alucinações • Hipofunção do sistema de gratificação • Alterações genéticas relacionadas ao receptor D2 da dopamina • Pacientes com boa adaptação social, com atividade de lazer, bom relacionamento familiar, não há história de alteração psíquica e não apresenta distúrbio em infância • Meta: Abstinência total + benzodiazepínicos para sair da crise + conversa sobre as complicações do uso do álcool → Boa aceitação por parte do paciente TIPO II – MODELO DE ANSIEDADE • Sd de abstinência ausente ou leve(tremores pequenos), sendo muitas vezes considerado não alcoolista • Quem percebe que ele tem problema é a família, já que tem boa atividade social, mas apenas relacionado ao álcool, não tem problemas familiares, mas tem extrema dependência da figura materna (seja mãe, filha ou esposa). Seu comportamento é passivo quando sóbrio, porém quando associado ao álcool muda (Ex: briga em bar). Esses pacientes, portanto, tem alteração do desenvolvimento psíquico e, geralmente, apresentam história anterior de abuso • Responde bem aos ttm alternativos/psicoterapia (AA) TIPO III – MODELO DE DEPRESSÃO(PSIQUIÁTRICO) • Sd de abstinência gravíssima • Paciente psiquiátrico, que utiliza o álcool como medicação. Já apresenta desde sempre alterações psíquicas, é pouco sociável, tem histórico de agressões e crimes com e sem álcool • Tratamento é baseado nas desordens psiquiátricas TIPO IV – MODELO DE ADAPTAÇÃO • Sd de abstinência é grave • Indivíduo que teve dano neonatal (Ex: hipóxia peri-parto) ou até 14 anos (encefalite por sarampo, meningite, TCE), com baixo desenvolvimento escolar associado e/ou dislalia e enurese noturna • Novas terapêuticas de neurorreabilitação necessitam ser desenvolvidas A determinação de qual tipo o paciente se enquadra deve ser feita na forma de eliminação: Primeiramente exclui-se o tipo IV(indagar se houve acometimento durante nascimento e infância no desenvolvimento cognitivo e os outros parâmetros analisados nesse tipo como: andou, falou na hora certa? Já reprovou na escola? Enurese noturna? Gagueja? O que você aprendeu na escola ficou guardado?), sendo excluído iniciamos a pesquisa do Tipo III (teve alteração psíquica na infância ou adolescência? Sofreu abuso sexual ou físico? Já teve ideia suicidas, já pensou em morrer ou se matar?) Se nas perguntas anteriores ele não se enquadrou em nenhum dos dois tipos, mas tem sinais de síndrome de abstinência grave é Tipo I. Porém se a síndrome de abstinência é leve (tremor pequeno) procure saber sobre a dependência na figura materna, feminina, se tem problemas quando bebe provavelmente é um Tipo II. DETERMINAÇÃO DO NÍVEL DE ATENDIMENTO PARA SD DE ABSTINENCIA ATENDIMENTO AMBULATORIAL • Leve agitação, tremores finos, sudorese discreta, náuseas, orientado no tempo e espaço, juízo crítico mantido, ansiedade + Respaldo familiar e rede social de apoio + sem complicações clínicas ou psiquiátricas INTERNAÇÃO • Agitação psicomotora intensa, tremores generalizados, vômitos, hipersensibilidade visual, desorientação, juízo crítico prejudicado, ansiedade intensa, episódios de violência, delírio e alucinações + Ausência de apoio social + complicações clínicas ou psiquiátricas graves CONDUTA EXAMES LABORATORIAIS • Exame neurológico (polineuropatia periférica, memória, FAB) • Hemograma • TGO, TGP, FA → Pesquisa de hepatopatias o OBS: Hepatopatia de causa alcoólica: AST/ALT > 2 • Magnésio, sódio e potássio • Glicose, colesterol, HDL e triglicérides • Exame cardiovascular (ICC, arritmias, fazer ECG- QT longo) • Parasitológico fezes • Sorologias (vírus B e C, sífilis, HIV) • US abdominal- se hepatomegalia, dor abdominal ou diabetes TRATAMENTO • Não farmacológico o Esclarecimento sobre sd de abstinência, a qual, geralmente dura 15 dias o Monitorização do paciente o Ambiente tranquiloo Limitação de contatos pessoais o Hidratação e nutrição adequados o Encorajamento positivo • Farmacológico o Reposição de tiamina: O álcool compete pelo sítio de absorção da tiamina, logo, TODO paciente precisam fazer reposição por três meses. Nos casos em que há quadro neurológico associado (alteração periférica, demência) deve ser feita por 6 meses o Benzodiazepínicos: A prescrição é baseada em sintomas e trata-se de uma terapia de substituição (também se liga a subunidade gabaergico, porém dependente de GABA). Deve ser feita por no máximo 15 dias, com retirada gradual em 1 semana. Pode ser usado 600mg de Diazepam, mas normalmente se usa no máximo 120mg o Reposição de magnésio em casos graves, para prevenir crises epilépticas • Pacientes com alucinações devem ser manejados com Haloperidol, para poder reduzir a posologia de Diazepam • Contraindicações: Clorpromazina → Induz convulsões; Fenitoina → Não tem ação em alcoolistas • Administração de solução glicosada em pacientes com deficiência de tiamina predispõe Sd de Wernicke-Korsakoff (Deficiência de tiamina + psicose de Korsakoff, que consiste na sequela neurológica crônica da deficiência de tiamina). Isso ocorre, pois, a tiamina é uma coenzima do metabolismo da glicose, dessa forma, estimular o metabolismo da glicose, agrava ainda mais a deficiência de tiamina clínica ou subclínica existente
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