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Princípios e fontes do direito previdenciário 1ª Aula – Direito Previdenciário Professora Chris Passos Roteiro da Aula I. Conceito e Classificação do Direito Previdenciário II. Princípios do Direito Previdenciário III. Fontes normativas Conceito Breve histórico: Idade Média – surgimento de entidades e organizações sociais privadas que buscavam socorrer o necessitado, como era o caso da igreja e associações de caridade. Possuíam objetivos filantrópicos e beneficentes. 1891 – Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII – busca da justiça social. Assistência social pública – conjunto de atividades do Estado para o socorro e auxílio às pessoas em situação de exclusão social. Conceito Lei dos Pobres – Inglaterra, conhecida também como Lei do Amparo aos Pobres (Poor Relief Act ou Poor Law) – 1601, instituía socorros públicos aos mais necessitados e indigentes, por meio de uma contribuição obrigatória social. 1791 – Constituição Francesa – assegurava os chamados socorros públicos em benefício de crianças desamparadas, pobres, doentes e desempregados. Feudalismo (Século IV) e época das corporações de ofício (Século XII) – mutualismo – formação de grupos de socorro mútuo. Conceito Revolução Industrial – (Séculos XVIII e XIX) formação de grupos em defesa de melhores condições sociais de trabalho – questão social que impôs terríveis condições de vida para a classe trabalhadora. O Estado Liberal não intervinha nas relações privadas e econômicas, nem interferia na vontade das partes. Direito Privado – as situações de risco social também foram objeto de coberturas contratuais, dando origem ao seguro contratual. Conceito Estado passou a exigir das empresas o seguro contra acidentes de trabalho para que pudessem contratar trabalhadores. Século XIX – Revolução Industrial – movimentos de lutas dos trabalhadores por justiça, igualdade, melhoria nas condições de trabalho e de vida, dão origem à instituição de direitos sociais, especialmente de natureza trabalhista e previdenciária. Sindicalismo ganha força. Conceito O Estado passa a intervir nas relações sociais, com o intuito principal de frear movimentos revolucionários, dando origem ao chamado seguro social. Na Alemanha – Otto von Bismarck – leis que instituíram seguros sociais custeados pelo Estado, trabalhadores e empregadores, para cobertura de doença (1883), acidente do trabalho (1884) e invalidez e velhice (1889). Conceito Século XX – constitucionalismo social, previsão de direito sociais, econômicos, trabalhistas e previdenciários. Destaque: Constituição do Méximo (1917) ressaltando a responsabilização por danos decorrentes de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e de Weimar (1919) que estabelecia sistema de seguro social (passagem do Estado Liberal para o Estado Social). Convenção 102 de 1952 da OIT – aprova normas fundamentais trabalhistas e previdenciárias, normas mínimas da Seguridade Social. Conceito 1942 – Plano Beveridge – amplo sistema público de proteção social, com cobertura abrangente de contingências sociais e característica universal. 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos – reconhece os direitos à segurança social, direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade humana e ao livre desenvolvimento da personalidade, salientando a necessidade de proteção social, assim como a saúde e bem-estar. Conceito Século XX – (Walfare State) – decorre de insuficiências econômicas para a manutenção da ampla estrutura de atendimento e cobertura de necessidades sociais. Conceito Evolução no Brasil Constituição do Império – 1824 – previa a garantia de socorros públicos com a natureza de assistência pública (art. 179, XXXI). 1543 – Casas de Misericórdia e organizações de natureza mutualista como Montepio Geral de Servidores do Estado (1835). Constituição de 1891 – previa a aposentadoria aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação. Conceito Lei Eloy Chaves – (1923) – decorrente do Decreto 4.682 considerado o marco inicial da previdência social no Brasil, criando as Caixas de Aposentadorias e Pensões aos ferroviários em cada empresa de estrada de ferro no Brasil. 1924 – instituídas Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) para outros empregados, como portuários e marítimos, que eram organizadas por empresas. 1930 – surgem os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) – que abrangeram e se estruturaram em categorias profissionais. Conceito Constituição de 1934 – perfil democrático, assistência social, saúde e assistências públicas, bem como licenças, aposentadorias e reformas, utilizando o termo “previdência” e adotando a forma tríplice como fonte de custeio. Constituição 1937 – natureza ditatorial e autoritária – instituía os seguros sociais. Constituição 1946 – (mais democrática) – defesa e proteção da saúde, assistência, previdência social e obrigatoriedade de seguro pelo empregador contra os acidentes do trabalho. Conceito Lei 3.807 de 1960 – Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) – unidade ao sistema previdenciário, uniformizando os benefícios e as contribuições. Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) – criado pela Lei 4.214/1963, conhecido como o Estatuto dos Trabalhadores Rurais. 1966 – Decreto-lei 72/1966 – Institutos de Aposentadorias e Pensões foram reunidos no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Conceito Constituição de 1967 – institucionalizou o regime militar e mantinha as previsões sobre defesa e proteção à saúde. 1976 – Consolidação das Leis de Previdência Social (CLPS). Lei 6.439 de 1977 – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS) que abrangia INPS com as atribuições voltadas à concessão das prestações previdenciárias; Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Conceito 1988 – Constituição Federal (Constituição cidadã) – passou a regular no sentido mais amplo da Ordem Social (Título VIII). Conceito Direito da Seguridade Social – ramo jurídico que disciplina a Seguridade Social, que nada mais é do que um sistema de proteção social mais amplo, integrado pelos subsistemas da Previdência Social, Assistência Social e da Saúde. Contingência social: evento, ou algo que pode acontecer, acarretando a perda ou diminuição dos ganhos, como acidente de trabalho, desemprego. (GARCIA, 2020, p. 36). Seguridade Social Seguridade Social – conjunto que engloba a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde (art. 194, CF). Previdência Social – natureza contributiva. Disciplinada nos arts. 201 e 202 da Constituição Federal. De filiação obrigatória, muito embora admita o ingresso como segurado facultativo. Seguridade Social Assistência Social – não possui o caráter contributivo e atende pessoas em situação de necessidade social e econômica para assegurar as necessidades básicas de si e sua família. Está disciplinada nos arts. 203 e 204 da Constituição Federal. Saúde – direito universal, com acesso igualitário, promoção e proteção, bem como recuperação do completo bem-estar físico, psíquico e social. Disciplinado nos arts. 196 a 200 da Constituição Federal. Fontes normativas Fontes materiais: acontecimentos históricos, sociológicos, econômicos e políticos que deram origem à norma jurídica. Fontes formais: exteriorização das normas jurídicas. Costume: não é uma fonte formal específica no Direito da Seguridade Social. Fontes normativas Doutrina – atividade científica desenvolvida por estudiosos. Fontes formais: nacionais e internacionais. Princípios Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento Previsto no art. 194 da Constituição Federal (BRASIL, 2019a, on-line), “a proteção social é estendida a todos os riscos sociais como doenças, acidentes, invalidez ou velhice, por exemplo, que possam acarretar estado de necessidade. Já a universalidade tem como escopo o atendimento acessível a todos que residem no Brasil, inclusive os estrangeiros.” (GOES, 2018, pág. 48). Princípioda uniformidade e equivalência de benefícios e serviços Entre as populações urbanas e rurais significa que as populações rurais e urbanas terão as mesmas contingências cobertas, como velhice, invalidez etc. De forma equivalente, ou seja, no sentido pecuniário dos benefícios, a qualidade dos serviços podem não ser necessariamente iguais, mas serão equivalentes conforme as necessidades. O art. 201, § 2º da Constituição Federal prevê que o benefício previdenciário nunca será inferior a um salário mínimo (BRASIL, 2019a, on-line). Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços Previsto no art. 194, parágrafo único, III da Constituição Federal (BRASIL, 2019a, on-line), em que a seletividade atua na delimitação do rol de prestações, isto é, na escolha dos benefícios e serviços que serão mantidos pela Seguridade Social. Já a distributividade vai direcionar a atuação do sistema protetivo para as pessoas com maior necessidade, definindo, nesse sentido, o grau de proteção. Portanto, os benefícios da assistência social serão destinados apenas aos necessitados, os benefícios salário-família e auxílio-reclusão só serão concedidos aos beneficiários de baixa renda segundo critérios objetivos preconizados pelas normas legais (GOES, 2018, pág. 49). Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios Insculpido no art. 194, parágrafo único, IV da Constituição Federal (BRASIL, 2019a, on-line) — segundo esse princípio, os valores concedidos não poderão ser reduzidos em seu valor nominal. Existe, ainda, a previsão no art. 201, § 4º da Constituição Federal (BRASIL, 2019a, on-line), de reajuste para o valor real a fim de manter as condições do poder de compra e manutenção da vida do segurado, tratando-se de um princípio distinto do princípio da irredutibilidade, o princípio da preservação (GOES, 2018, pág. 49). Princípio da equidade na forma de participação no custeio previsto Art. 194, parágrafo único, V da Constituição Federal (BRASIL, 2019a), quem tem maior capacidade econômica fará maior contribuição do que aquele que possui capacidade econômica menor. Princípio da diversidade da base de financiamento Previsto no art. 194, parágrafo único, VI da Constituição Federal (BRASIL, 2019a, on-line) significa que a Seguridade Social tem formas diferentes de custeio, dando maior segurança ao sistema: caso haja dificuldade na arrecadação de determinadas contribuições, haverá outras para lhes suprir a falta. (GOES, 2018, pág. 51). Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração Esse princípio terá a gestão quadripartite prevista no art. 194, parágrafo único, VII da Constituição Federal (BRASIL, 2019a, on-line), “a gestão de recursos, programas, planos, serviços e ações nas três áreas da Seguridade Social já mencionadas (Saúde, Previdência Social e Assistência Social) em todas as esferas de poder serão realizadas por meio de discussão com a sociedade” (GOES, 2018, pág. 51). Portanto, terá a participação dos trabalhadores, dependentes, empresas (empregadores) e governo. Para dar um exemplo dessa forma descentralizada, podemos citar o Conselho Nacional de Previdência Social previsto na Lei nº 8.213/1991 em seu art. 3º (BRASIL, 1991, on-line) que determina, inclusive, a participação de representante de empregados que terão estabilidade em seus empregos, garantidos pela lei. Referências Bibliográficas BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, [1998]. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_194_.asp. Acesso em 29 dez. 2019. GLASENAPP, R. Direito Previdenciário. 2 ed. São Paulo: Pearson, 2019. GOES, H. Manual de Direito Previdenciário. Teoria e questões. 15 ed. Rio de Janeiro: Editora, Ferreira, 2019.