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Terapia Nutricional nas Doenças do Sistema Cardiovascular Prof. Ms. Gardênia Pinheiro Gomes Sistema Circulatório • Funções: ✓Transporte de gases; ✓ Transporte de nutrientes, água e eletrólitos; ✓ Transporte de resíduos metabólicos; ✓ Transporte de hormônios, enzimas, mediadores fisiológicos; ✓ Transporte de calor; ✓ Manutenção da pressão sanguínea; ✓ Distribuição de mecanismos de defesa. OPAN/OMS, 2016 Doenças Cardiovasculares • As doenças cardiovasculares são um grupo de doenças do coração e dos vasos sanguíneos. Doença coronariana Doença cerebrovascular Doença arterial periférica Trombose venosa profunda Cardiopatia congênita Congênitas ou Adquiridas OPAN/OMS, 2016 Doença cardíaca reumática DCV no Brasil Figura 1 – Taxa de mortalidade no Brasil por doença cardiovascular (DCV) e distribuição por causas no ano de 2013. DIC: doenças isquêmicas do coração; DCbV: doença cerebrovascular; DH: doenças hipertensivas; ICC: insuficiência cardíaca congestiva. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, 2016 2013 – 1.138.670 óbitos, 339.672 dos quais (29,8%) decorrentes de DCV, a principal causa de morte no país. Figura 2 – Evolução da taxa de mortalidade por DCV no Brasil de 2000 a 2013. Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade. Secretaria de Vigilância em Saúde, MS. Fatores de Risco •Não modificáveis • Idade • Sexo • Genética. • Modificáveis DLP HAS DM SOBREPESO/OB SEDENTARISMO TABAGISMO ETILISMO I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular, 2013. Dislipidemia Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 Elevação dos níveis plasmáticos de triglicérides ou de alterações dos níveis das lipoproteínas que transportam o colesterol e as gorduras no sangue. • Hipertrigliceridemia isolada (↑ TG (≥ 150 mg/dl ou >175 mg/dL sem jejum) • Hipercolesterolemia isolada ( ↑ CT e/ou LDL (≥ 160 mg/dl); • Hiperlipidemia mista ( ↑ TG (≥ 150 mg/dl ou >175 mg/dL sem jejum) e LDL (≥ 160 mg/dl); • ↓ HDL isolada ou em associação com o ↑ LDL e/ou ↑ TG (homens HDL < 40 mg/ dl e mulheres HDL< 50 mg/dl) Dislipidemia Um evento coronário agudo é a primeira manifestação da doença aterosclerótica em pelo menos metade dos indivíduos que apresentam essa complicação. Identificação dos indivíduos assintomáticos que estão mais predispostos é crucial para a prevenção efetiva. Arq Bras Cardiol. 2013; 101(6Supl.2): 1-63 Estimar a probabilidade de ocorrer IAM ou morte por Doença coronariana em 10 anos Fatores de risco: ✓Lesão das paredes (PA > 140/90mmHg); ✓Tabagismo: oxidação das LDL-c, nicotina agrega plaquetas e ↑ P.A; ✓Hereditariedade (histórico familiar em parentes de 1º grau); ✓ Sexo e idade: > homens acima de 45 anos e em mulheres após a menopausa (> 55 anos); ✓ Obesidade (principalmente abdominal): “20% mais” colesterol circulante; CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL Mulheres: > 88 cm Homens: > 102 cm Aterosclerose ✓Estresse oxidativo ( ↑ LP/LDL oxidadas); ✓Diabetes Melito ✓Hiperhomocisteínemia ✓PCR elevada ✓Excesso de FIBRINOGÊNIO: excesso de formação de fibrinas/coágulos; Dislipidemia x Aterosclerose • Doença inflamatória crônica de origem multifatorial. O depósito de lipoproteínas na parede arterial, processo-chave no início da aterogênese, ocorre de maneira proporcional à concentração dessas lipoproteínas no plasma. DAC DAC – doença arterial coronariana Infarto agudo do miocárdio (IAM) • INFARTO: • Necrose isquêmica em um órgão ou tecido, resultante de um oclusão arterial • INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: • Limitação do fluxo sanguíneo, devido a obstrução de uma ou mais coronárias, levando a necrose do músculo cardíaco. Angina: dor ou desconforto em qualquer das seguintes regiões: tórax, epigástrio, mandíbula, ombro, dorso ou membros superiores. Usualmente acomete portadores de DAC com comprometimento de, pelo menos, uma artéria epicárdica. Sintomas: Diretrizes de Doença Coronariana Crônica - Angina Estável, 2004 • Acidente vascular encefálico: caracterizada pela obstrução ou rompimento dos vasos sanguíneos cerebrais. Acidente Vascular Cerebral Rosa, Kaufmann, Machado, 2015 Tratamento não medicamentoso: ✓ Terapia Nutricional; ✓ Atividade física regular; ✓ Cessação do tabagismo. Dislipidemia x Aterosclerose Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 Hipertensão Arterial Sistêmica • É uma condição clínica multifatorial; • Caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA) ≥ 140 e/ou 90 mmHg ; • Se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). Consequências: Morte súbita Doença arterial periférica (DAP) Acidente vascular encefálico (AVE), Infarto agudo do miocárdio (IAM), Insuficiência cardíaca (IC) Doença renal crônica (DRC) fatal e não fatal Hipertensão Arterial Sistêmica Terapia Nutricional: Hipertensão Arterial Sistêmica ➢ Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension): • Enfatiza o consumo de frutas, hortaliças e laticínios com baixo teor de gordura; inclui a ingestão de cereais integrais, frango, peixe e frutas oleaginosas; preconiza a redução da ingestão de carne vermelha, doces e bebidas com açúcar. • Ela é rica em potássio, cálcio, magnésio e fibras, e contém quantidades reduzidas de colesterol, gordura total e saturada. A adoção desse padrão alimentar reduz a PA. (GR:I; NE: A). Hipertensão Arterial Sistêmica ➢ Dieta do Mediterrâneo: • Apesar da limitação de estudos, a adoção dessa dieta parece ter efeito hipotensor.(GR: IIa; NE: B). Hipertensão Arterial Sistêmica ➢ Ácidos graxos insaturados: • Ácidos graxos ômega-3 provenientes dos óleos de peixe (eicosapentaenoico – EPA e docosaexaenoico - DHA) estão associados com redução modesta da PA; • Estudos recentes indicam que a ingestão ≥ 2g/dia de EPA+DHA reduz a PA e que doses menores (1 a 2 g/dia) reduzem apenas a PAS; • O consumo de ácidos graxos monoinsaturados (ômega-9) também tem sido associado à redução da PA. ➢ Fibras: • A ingestão de fibras solúveis promove discreta diminuição da PA, destacando-se o beta glucano proveniente da aveia e da cevada. Hipertensão Arterial Sistêmica ➢ Laticínios e Vitamina D: • Existem evidências que a ingestão de laticínios com baixo teor de gordura, reduz a PA; Cálcio, potássio e peptídeos bioativos que podem diminuir a PA; • Em alguns estudos, níveis séricos baixos de vitamina D se associaram com maior incidência de HAS; Entretanto, em estudos com suplementação dessa vitamina, não se observou redução da PA. ➢ Oleaginosas: • O consumo de oleaginosas auxilia no controle de vários FRCV, mas poucos estudos relacionam esse consumo com a diminuição da PA; ➢ Álcool: • O consumo habitual de álcool eleva a PA de forma linear e o consumo excessivo associa-se com aumento na incidência de HAS; • Aumento de 10 g/dia na ingestão de álcool eleve a PA em 1 mmHg, sendo que a diminuição nesse consumo reduz a PA; • Recomenda-se moderação no consumo de álcool. ➢ Sódio: • O aumento do consumo de sódio está relacionado com o aumento da PA; • Impacto do consumo de sódio na saúde CV é controverso. Alguns estudos sugerem que o consumo muito baixo eleva o risco de DCV, enquanto outros sustentam que a diminuição de sódio diminui o risco CV; • Sendo esse benefício maior com a restrição acentuada; • O limite de consumo diário de sódio em 2,0 g está associado à diminuição da PA; • No entanto, o consumo médio do brasileiro é de 11,4 g/dia- de NaCl. Hipertensão Arterial Sistêmica DIETOTERAPIA • Objetivos: - Reduzir a pressão arterial; - Reduzir o peso; - Promover reeducação alimentar. Características: • Geral, fracionada, hipossódica rica em potássio. Hipertensão Arterial Sistêmica Orientações gerais: - Retirar o saleiro da mesa; - Restringir fontes de industrializados: embutidos, conservas, enlatados, defumados, salgadinhos,petiscos; - Dar preferência aos temperos naturais: limão, ervas, alho, salsa, cebola, cebolinha ao invés de temperos prontos - Identificar novas formas de preparo dos alimentos: assados, cozidos, grelhados, ao vapor - Evitar preparados prontos: sopas, biscoitos, sucos Insuficiência Cardíaca • A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica ocasionada por uma anormalidade da função do coração em bombear e/ou em acomodar o retorno sangüíneo, não atendendo às necessidades de oxigênio dos tecidos ou apenas oferecendo um adequado débito cardíaco pelo aumento anormal das pressões de enchimento, deflagrando uma complexa resposta neuro- -humoral e inflamatória. • Problema grave e crescente de saúde pública em todo o mundo, sendo a via final comum da maioria das cardiopatias. Rev. Nutr., Campinas, 22(3):399-408, 2009 Remodelação ventricular Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) Síndrome ou estado fisiológico, resultante de um processo prolongado de alterações cardíacas, com alteração muscular ou isquêmica, quando o coração perde gradualmente a capacidade de manter um débito suficiente para o organismo. Moreira,2008. Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) Principais consequências: - Hipertrofia cardíaca - Taquicardia - Congestão pulmonar - Edema agudo de pulmão - Congestão hepática - Redução do fluxo renal e uremia Manifestações clínicas: - Cansaço - Dispnéia - Edema (MMII) - Cianose - Desnutrição Ingestão inadequada, Metabolismo alterado, Estado pró-inflamatório, Aumento do estresse oxidativo Maior perda de nutrientes, até mesmo pelas interações medicamentosas Terapia Nutricional •Pacientes com IC clinicamente estáveis 28kcal/kg para pacientes com estado nutricional adequado e 32kcal/kg para pacientes nutricionalmente depletados. Considerar o peso do paciente na ausência de retenção hídrica. •Pacientes com sobrepeso e obesidade, a restrição energética é discutível. Rev. Nutr., Campinas, 22(3):399-408, 2009 Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) Carboidratos – 50-60% VET Evitar açúcares simples Excesso de carboidratos, especialmente os de alta carga glicêmica agrava o quadro de resistência à insulina: hormônio natriurético e sua resistência pode agravar a retenção de sódio e água • Terapia Nutricional • Proteínas • 1,1g/kg – EN adequado • 1,5g – 2,0g/kg/dia - depleção nutricional ou que apresentem perdas por nefropatia ou má absorção intestinal. Pacientes que desenvolvem insuficiência renal: orientações individualizadas em relação às proteínas Rev. Nutr., Campinas, 22(3):399-408, 2009 Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) Lipídeos - Não exceder 30% • QUALIDADE • Evitar trans • Reduzir a ingestão de gordura saturada • Preferência às gorduras mono e polinsaturadas, com ênfase aos ácidos graxos da série ômega 3 = efeitos positivos em pacientes com insuficiência cardíaca sintomáticos Má absorção = 1/3 dos pacientes com caquexia cardíaca. Esteatorreia suplementação de TCM. • Terapia Nutricional • Restrição de Na e Líquidos • quantidade de Na depende da gravidade. • IC severa: no máximo, de 2-3g/dia, podendo ser modificada de acordo com o sódio plasmático e a tolerância à dieta hipossódica • Orientar o paciente quanto aos alimentos com alto teor de sódio. • Na prática diária, a quantidade máxima de água é de 2,0L/dia é recomendada. • Pacientes com estado congestivo, a ingestão hídrica pode ser menor, devendo ser restringida de acordo com a superfície corporal, na busca de um balanço hídrico negativo. Rev. Nutr., Campinas, 22(3):399-408, 2009 Dieta HS= Baixa adesão Orientações e receitas com temperos e ervas naturais para serem usados nas preparações Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) • Terapia Nutricional • Álcool • Até 30g/dia para homens e 20g/dia para mulheres • Fracionamento e volume • Volume reduzido e fracionamento aumentado (6 a 8 refeições/dia) • Alterar consistência se dispneia, disfagia, odinofagia, dificuldade para mastigar • Ingestão <60% - SVO ou TNE. Rev. Nutr., Campinas, 22(3):399-408, 2009 Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) Fibras: • 20 a 30g previne a obstipação intestinal e o consequente esforço para evacuar, o qual deve ser evitado. • AGCC – redução permeabilidade intestinal - diminuindo a passagem de moléculas capazes de ativar o sistema imune, o que aumentaria o estado pró-inflamatório Estudo de caso • Paciente J.M.A., 50 anos, sexo masculino, procurou seu consultório por encaminhamento do cardiologista. É advogado, trabalha cerca de 10 horas por dia, sedentário. Histórico familiar: pai HAS, DM, obeso, apresentou AVCI aos 52 anos, vivo. Mãe CA endométrio aos 73 anos. Irmãos hipertensos. • Paciente refere não ter tempo para fazer as refeições. Refere fazer 3 refeições por dia: desjejum, almoço e jantar. Consumo de refrigerante de cola em média 1l/dia. Consome 4x/semana frituras, e costuma tomar 2 doses de whisky diariamente. • Faz uso de losartana e lasix. • Dados antropométricos: • Peso: 98 Kg • Estatura:1,75m • Cc: 100 cm Dados bioquímicos Exame Valor encontrado Glicemia jejum 106 mg/dL Colesterol total 205mg/dL LDL 180 mg/dL A partir dos dados do paciente responda: 1) Diagnóstico nutricional 2) Calcule suas necessidades energéticas e faça a divisão de macronutrientes. Se o paciente precisar emagrecer, programe sua perda de peso. 3) Quais exames você solicitaria para fechar o diagnóstico nutricional? Justifique sua resposta 4) Quais medidas antropométricas você solicitaria? Justifique sua resposta. 5) Quais recomendações você faria para esse paciente? Lembre-se de orientar e justificar sua conduta.