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PSICOLOGIA DO TRABALHO E EMPREENDEDORISMO: UMA ANÁLISE DE SUAS RELAÇÕES Alex Eckert (UCS) alex.eckert@bol.com.br MARLEI SALETE MECCA (UCS) msmecca@terra.com.br Roberto Biasio (UCS) rbiasio@commcenter-rs.com.br JOSE ALBERTO CORAIOLA (UTFPR) coraiola@utfpr.edu.br A criação de negócios impulsiona o desenvolvimento de um país e de sua população, porem é necessário que esses negócios prosperem e para isso as competências do empreendedor, que estão presentes em todas as organizações, auxiliam significaativamente na sua evolução. A psicologia do trabalho também está presente em todas as fases do ciclo de vida das organizações, ao descrever e interpretar a natureza e a dimensão dos fenômenos psicológicos presentes na situação de trabalho proporciona ambientes profícuos ao desenvolvimento das competências. Assim, o objetivo do artigo é descrever a contribuição da psicologia do trabalho no desenvolvimento das competências do empreendedor. O artigo configura-se em um estudo descritivo com abordagem conceitual. As exigências e condições estabelecidas pelo ambiente interferem no desenvolvimento das competências do empreendedor e são abordadas pela psicologia do trabalho, daí vem a sua contribuição. Através do diagnóstico do ambiente de trabalho e dos fenômenos psicológicos incidentes neste ambiente pode-se elaborar e desenvolver atividades que propiciem transformar conhecimento em ações. Estas ações por sua vez desenvolvem nos indivíduos habilidades que somadas ao conhecimento levam a atitude, por exemplo, de criação de um novo negócio ou organização. Palavras-chaves: psicologia do trabalho; competência; empreendedor XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 2 1. Introdução O empreendedorismo tem sido abordado por vários pesquisadores. Entretanto, algumas abordagens são fragmentadas com diversas unidades de análises e com pressupostos epistemológicos distintos. Alguns dos estudos concentram-se no empreendedor em si, outros nas organizações, outros no contexto, e outros no processo. Devido a sua complexidade, alguns pesquisadores vêm se preocupando em analisar o empreendedorismo em sua totalidade. Seguindo esta abordagem pretende-se no artigo progredir no entendimento da psicologia do trabalho como disciplina influenciando nas decisões e competências do empreendedor, legitimando seu envolvimento com o empreendimento. A psicologia do trabalho nasceu da necessidade de atender as demandas dos administradores de empresas que buscavam estabelecer um controle sobre o comportamento humano no trabalho. Desde os primeiros estudos voltados à fadiga dos trabalhadores até o seu auge com a aplicação dos testes psicológicos em seleção de pessoal essa preocupação permeava os trabalhos dos psicólogos. O objetivo do artigo é apresentar os elementos de contribuição da psicologia do trabalho para o desenvolvimento das competências do empreendedor. Para tanto, inicialmente apresenta-se a revisão sobre o campo do empreendedorismo e na seqüência abordam-se as competências do empreendedor e conceitos da psicologia do trabalho relacionados ao empreendedorismo. Por fim apresentam-se algumas considerações relacionadas à importância da psicologia do trabalho no contexto das competências do empreendedor. 2. Competências do empreendedor A existência de indivíduos dispostos aos riscos de empreender é um dos pilares do desenvolvimento econômico (GEM, 2006). Diversos conceitos são encontrados na revisão da literatura para os termos empreendedor e empreendedorismo. Empreendedor, conforme Hisrich e Peters (2004, p. 26) é o indivíduo que se arrisca e dá início a algo novo. A palavra entrepeneur é francesa e literalmente traduzida significa “aquele que esta entre” ou “intermediário”. No Quadro 1 apresenta-se o desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 3 Origina-se do francês: significa aquele que está entre ou estar entre. Idade média:participante e pessoa encarregada de projetos de produção em grande escala. Século XVII:pessoa que assumia riscos de lucro (ou prejuízo) em um contrato de valor fixo com o governo. 1725Richard Cantillon – pessoa que assume riscos é diferente da que fornece capital. 1803Jean Baptiste Say – lucros do empreendedor separados dos lucros de capital. 1876Fancis Walker – distinguiu entre os que forneciam fundos e recebiam juros e aqueles que obtenham lucro com habilidades administrativas. 1934Joseph Schumpeter – o empreendedor é um inovador e desenvolve tecnologia que ainda não foi testada. 1961David McClelland – o empreendedor é alguém dinâmico que corre riscos moderados. 1964Peter Druckeer – o empreendedor maximiza oportunidades. 1975Albert Shapero – o empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos sociais e econômicos, e aceita riscos de fracasso. 1980Kari Vésper – o empreendedor é visto de modo diferente por economistas, psicólogos, negociantes e políticos. 1983Girfford Pinchot – o intra-empreendedorismo é um empreendedor que atua dentro de uma organização já estabelecida. 1985Robert Hisrich – o empreendedor é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo recompensas da satisfação econômica e pessoal. Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor Fonte: HISRICH, Robert “Entrepreneuship and Intrapreneurship: Methods for Creating New Companies That Have an Impact on the Economic Renaissance of an Area”. In Entrepreneurship, and Venture Capital. Ed. Robert D. Hisrich (Lexington, MA: Lexington Books, 1986), p.96 Outros conceitos de empreendedor e empreendedorismo surgiram após a definição de Hisrich em 1985. Empreender, segundo Dolabela (1999) não significa apenas criar novas propostas, inventar novos produtos ou processos, produzir novas teorias, engendrar melhores concepções de representação da realidade ou tecnologias sociais. Empreender significa modificar a realidade para dela obter a auto-realização e oferecer valores positivos para a coletividade. Significa engendrar formas de gerar e distribuir riquezas materiais e imateriais por meio de idéias, conhecimentos, teorias, artes, filosofia. Empreendedores são, para Dornelas (2001, p. 19), pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonados pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidos e admirados, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado. Para Lezana e Tonelli (2004), empreendedores são pessoas que perseguem o benefício, trabalham individual e coletivamente. Podem ser definidos como indivíduos que inovam, identificam e criam oportunidades de negócios, montam e coordenam novas combinações de recursos, para extrair os melhores benefícios de suas inovações num meio incerto. Filion (2001) define o empreendedor como uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões. Para ele, visão é “uma imagem projetada no futuro, do lugar que se quer ver ocupado pelos seus produtos no mercado, assim como a imagem projetada do tipo de organizaçãonecessária para consegui-lo”. Para tal, o desenvolvimento das competências pessoal do empreendedor são fundamentais. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 4 Diferentes autores conceituam o empreendedorismo e o empreendedor, cabe ressaltar que através do empreendedorismo criam-se inúmeras novas organizações que de forma direta e indireta movimentam a economia seja ela local, nacional ou o mercado externo. Devido a grande concorrência existente e as características dos consumidores e clientes, faz-se necessário que o empreendedor apresente competências que proporcionem o desenvolvimento da sua organização. Toda e qualquer organização, desde a sua criação, enfrenta mudanças que a fazem de forma geral, evoluir. Vários são os ciclos de vida das organizações, é importante que o empreendedor possa sobreviver a todas essas fases e prosperar em seu empreendimento. Dessa forma estará promovendo o desenvolvimento do mercado a onde está inserido e da economia de formal geral. As competências do empreendedor são necessárias e estão presentes em todas as fases do ciclo de vida das organizações, inclusive no momento da decisão de criação do empreendimento. Ao descrever os atributos do empreendedor, os pesquisadores o fazem em termos de atitudes, competências, e características. Referindo-se às atitudes, Salim (2004), observa que há um consenso entre os estudiosos do empreendedorismo de que existe um conjunto de atitudes presentes no sujeito empreendedor: assumir riscos, identificar oportunidades, conhecimento, organização, tomar decisões, liderança, dinamismo, independência, otimismo e tino empresarial. Dornelas (2001) acrescenta dedicação, busca de riqueza, planejamento, valor para a sociedade, networking e visão de futuro. No que se refere às competências, vários autores procuram estruturar o desenvolvimento do conceito de competência. Dentre eles, cabe destacar os seguintes: Le Boterf (1998), Perrenoud (2000), Zarifian (2001), Quinn (2003), Fleury (2004), Dutra (2004) e Miranda (2006). O Quadro 2 apresenta o conceito de competência na ótica dos autores citados. 1998 Le Boterf Competência é uma construção, a partir de uma combinação de recursos (conhecimentos, saber fazer, qualidades e atitudes) e do ambiente (relacionamentos, documentos, informações e outros) que são mobilizados para alcançar um desempenho. 2000 Perrenoud Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. 2001 Zarifian Competência é tomar iniciativa e responsabilizar-se com êxito, tanto a nível individual como em grupo, diante de uma situação profissional 2003 Quinn et al Uma competência implica a detenção tanto de um conhecimento quanto do comportamento de agir de maneira adequada. Segundo o autor, “... para desenvolver determinadas competências é preciso não só ser apresentado ao conhecimento teórico como ter a oportunidade de praticá-las”. 2004 Fleury “... é saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” 2004 Dutra A agregação de valor das pessoas é sua contribuição efetiva ao patrimônio de conhecimentos da organização, permitindo-lhe manter suas vantagens competitivas no tempo. 2006 Miranda A lógica da competência significa uma mudança radical com respeito ao modelo de posto de trabalho vigente na sociedade industrial. Competência refere-se a recursos possuídos e/ou adquiridos e colocados em ação numa situação prática, significando a iniciativa, sob condições de autonomia, que pressupõe a mobilização dos recursos internos pessoais e coletivos (trazidos e colocados à disposição pelas XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 5 organizações). Quadro 2: Desenvolvimento do Conceito de Competências Fonte: Autores Como a competência precisa da atividade prática para se manifestar, Fleury (2004, p. 55) diz que competência é “um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. A figura 1 evidencia as competências como fonte de valor para o individuo e para a organização. Figura 1: Competências como fonte de valor para o indivíduo e para a organização. Fonte: Fleury, 2004, p. 55. Na abordagem do empreendedorismo, Lezana e Tonelli (2004) apresentam as competências do empreendedor em três dimensões: conhecimentos, habilidades e atitudes, conforme apresentado na figura 2. O conhecimento na perspectiva do empreendedor indica que para operar uma empresa com sucesso, o mesmo deve possuir alguns conhecimentos que são diferenciados em cada etapa na qual a empresa se encontra. Apesar dessa diferenciação, é possível fazer uma descrição dos conhecimentos gerais necessários para o empreendedor. Os autores situam os seguintes: aspectos técnicos relacionados com o negócio; experiência na área comercial, escolaridade, experiência em empresas, formação complementar e vivências com situações novas. A habilidade é a capacidade, de acordo com Chiavenato (1999), de transformar conhecimento em ação e que resulta em um desempenho desejado. Para Lezana e Toneli (2004) as habilidades necessárias para a operação de uma empresa de pequena dimensão, são: identificação de novas oportunidades, valoração de oportunidades e pensamento criativo, comunicação persuasiva, negociação, aquisição de informações e resolução de problemas. As atitudes formam, segundo Maximiano (1995), os quadros de referências, isto é, as “molduras” valorativas dentro das quais as pessoas, fatos, idéias e objetivos são vistos, interpretados e avaliados. De forma geral, o conhecimento resulta do processo de aprendizagem que ocorrem através do tempo. As habilidades se manifestam a partir do conhecimento de cada indivíduo e as Saber agir Saber mobilizar Saber transferir Saber aprender Saber se engajar Visão estratégica Assumir responsabilidade Organização Indivíduo Conhecimentos Habilidades Atitudes Agregar Valor Econômico Social XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 6 atitudes estão ligadas à percepção, personalidade, aprendizagem e motivação. Na união de conhecimentos, habilidades e atitudes encontra-se a competência, conforme figura 2. Adotando também a perspectiva baseada em competências, Farrel (1993) elaborara um modelo intitulado “esquema integrativo das competências do empreendedor”. Para isto realizaram uma pesquisa de caráter exploratório que, por intermédio de entrevistas em profundidade focada nas trajetórias profissionais de empreendedores bem sucedidos, procurou compreender as competências que eles apresentaram e que foram, na visão deles, importantes para vencer barreiras e prosperar no mundo dos negócios. Na pesquisa foram identificadas duas grandes dimensões: a afetiva e a cognitiva. Além disso, algumas respostas dos entrevistados faziam referência a variáveis que não puderam ser classificadas em uma dimensão de competência específica, mas que asinfluenciam fortemente. Essas variáveis foram identificadas como influências do ambiente e dos valores do indivíduo. No dia a dia o indivíduo percebe a necessidade de aperfeiçoamento para empreender com sucesso suas funções. Empreendedores não são apenas os indivíduos que abrem seu próprio negócio, existem os intra-empreendedores que aplicam em suas profissões os conhecimentos e as habilidades que desenvolveram, trazendo inovações e melhorias garantindo o sucesso de sua profissão e do empreendimento. Assim, é importante para o empreendedor ter consciência de seu potencial e limitações, pois sempre existe a opção de desenvolver suas potencialidades ou se associar a alguém que possua as características necessárias ao sucesso do empreendimento. O sistema psicológico vai se modificando e se estruturando sempre que um novo dado é inserido no espaço vital da pessoa, ou quando há uma reestruturação desse sistema. Desta maneira o desenvolvimento de habilidades acaba alterando o comportamento humano, é uma parte re-configurando o todo, isso é possível, pois de acordo com a Psicologia da Gestalt. 3. Psicologia do Trabalho A psicologia do trabalho aplicada às organizações passou por várias etapas desde o seu surgimento como instrumento das indústrias que seguiam os pressupostos Taylorista. A psicologia industrial, classificada por Sampaio (1998) como a primeira face da psicologia no campo, tinha como função realizar seleção e colocação profissional, ou seja, se integrava ao princípio Taylorista de colocar o sujeito na função que melhor se adequasse às suas Conhecimento Habilidade Hatitude Competência Figua 2: Competências Fonte: Autores Conhecimento Habilidade Atitude Competência XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 7 características. Além disso, fazia orientação profissional e avaliava as condições de trabalho com o objetivo de aumentar a produtividade. O mesmo autor classifica a segunda face da psicologia aplicada ao trabalho como psicologia organizacional, argumenta que essa face não foi uma ruptura com a primeira, mas sim a incorporação de novas atividades como treinamento, classificação de pessoal e avaliação de desempenho, além de passarem a discutir as estruturas das organizações de trabalho. Nesse período foram incorporadas as novidades do estruturalismo e da teoria sistêmica da administração. Fica claro que essa passagem não representou mudanças nos objetivos da psicologia, pautados no aumento da produtividade nas empresas. Sampaio (1998) critica o caráter instrumental da disciplina, mesmo quando da introdução de novas teorias, como a teoria contingencialista. Esta teoria, introduzida pela Administração nos anos 70, buscava compreender os fenômenos produtivos a partir dos condicionantes externos, mas mantinha o foco no aumento da lucratividade. O questionamento dos objetivos da psicologia organizacional originou a terceira face da psicologia do trabalho, que busca compreender o trabalho humano nos seus significados e em todas as suas manifestações. Diferencia-se das faces anteriores por se voltar para a saúde e bem-estar dos trabalhadores, não priorizando o lucro e a produtividade. A psicologia do trabalho, para Cruz (2007), se apresenta como uma disciplina que consiste em descrever e interpretar a natureza e a dimensão dos fenômenos psicológicos incidentes na situação de trabalho, tendo em vista as exigências e condições estabelecidas pelo meio técnico e social, contingentes à organização e processos de trabalho. Ainda, segundo Cruz et al. (2000), a psicologia do trabalho se constitui como um campo de estudos sobre os determinantes da atividade do trabalho sobre a conduta das pessoas, seja em seus aspectos individuais ou coletivos. Do ponto de vista epistemológico, segundo Leplat & Cuni (1983), tanto a psicologia do trabalho quanto a ergonomia se definiram inicialmente a partir dos objetivos de suas aplicações: a situação do trabalho. O trabalho, segundo Teiger (1992, p. 113), é uma atividade finalística, realizada de modo individual ou coletiva numa temporalidade dada, por um homem ou uma mulher singular, situada num contexto particular que estabelece as exigências imediatas da situação. Esta atividade não é neutra, ela engaja e transforma, em contrapartida, aquele ou aquela que a executa”. Para Dejours & Molinier (1994, p.61), o trabalho é uma atividade coordenada de homens e mulheres para responder ao que não está posto, desde o início, pela organização prescrita do trabalho. Do ponto de vista de Terssac (1995, p.8) o trabalho é uma ação coletiva finalística. É uma ação „organizada‟ porque ela se situa num contexto estruturado por regras, convenções, culturas. É também uma ação „organizadora‟ porque ela visa, não somente preencher as lacunas provenientes das imprecisões da prescrição, mas produzir um acordo, um espaço de ações pertinentes. É pela ação que se define, de forma interativa, o problema e a solução. É na ação que se operam as trocas de informações e que se constroem as formas de agir. A variabilidade de aspectos mencionados pelos autores (por exemplo, contexto, objetivo, organização) não aparece marcada pela contradição, mas pela ênfase em dimensões que se complementam e se enriquecem mutuamente. Esta constatação suscita uma primeira pista com vocação de hipótese geral: a construção do conceito de trabalho em ergonomia é, pelos menos por ora, de natureza interdisciplinar. Quer dizer, a delimitação do conceito implica em considerar os conhecimentos de disciplinas vizinhas (sociologia, psicologia, filosofia...) e, XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 8 especialmente, com as quais a ergonomia mantém uma estreita colaboração (caso da psicodinâmica, por exemplo). Contudo, se, de um lado, as definições reforçam o caráter do trabalho como um objeto multidimensional e polissêmico, de outro, elas permitem identificar um fio condutor que parece costurar as diferentes abordagens. Neste sentido, a "atividade real" do sujeito aparece como categoria central tendo um papel estruturador dos conceitos. Em torno do fator atividade real, gravitam os elementos constitutivos das formulações dos autores. Tais elementos fazem da atividade uma casa de múltiplas portas permitindo o acesso ao seu interior pelas portas da linguagem, da cooperação e da competência dentre outros. 4. Competências do Empreendedor e a Contribuição da Psicologia do Trabalho As competências do empreendedor conforme apresentado por Lezana e Tonelli (2004) abordam conhecimento, habilidades e atitudes. Alguns aspectos técnicos relacionados ao negócio e a transformação do conhecimento em ação são citados pelos autores. O conhecimento surge do processo de aprendizagem que se desenvolve com o tempo e a manifestação do conhecimento de cada indivíduo, bem como suas atitudes estão intimamente ligadas à percepção, personalidade, aprendizagem e motivação. O conhecimento, bem como as habilidades, são adquiridos com o passar do tempo e em sua maioria no ambiente de trabalho. A psicologia do trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de um ambiente que propicie, por exemplo, o intra-empreendedorismo através de ações desenvolvidas pelos indivíduos em seu próprio ambiente de trabalho. Pode ainda, desenvolver nestes mesmos indivíduos habilidades que somadas ao conhecimento levam a atitude, por exemplo, de criação de um novo negócio ou organização. A transformação do conhecimento em ação talvezseja o desejo de muitas organizações, logo, a contribuição dos estudos em psicologia do trabalho passa a ser de interesse para os empreendedores. Através do diagnóstico do ambiente de trabalho e dos fenômenos psicológicos incidentes neste ambiente pode-se elaborar e desenvolver atividades que propiciem esta transformação. Para o indivíduo empreendedor aplica-se o mesmo entendimento, pois sem ambiente e condições propícias a geração e criação de novos negócios diminuem. As habilidades, que fazem parte das competências do empreendedor, e que envolvem, dentre outros, a comunicação persuasiva, aquisição de informações e resoluções de problemas também são desenvolvidas com o decorrer do tempo e tem grande participação da psicologia do trabalho. Essas habilidades são importantes para a operação das empresas, seja micro, pequeno, médio ou grande porte e muitas delas são desenvolvidas a partir do ambiente de trabalho. 5. Conclusão O empreendedorismo impulsiona o desenvolvimento econômico de todo e qualquer país. É importante ressaltar a necessidade não apenas de criação de novas empresas, mas a permanência e o desenvolvimento destas organizações. As competências do empreendedor que estão presentes em todas as fases do ciclo de vida da organização, desde o seu surgimento, interferem significativamente no desenvolvimento das organizações, daí a importância da contribuição da psicologia do trabalho. O presente trabalho nos remete a compreensão e a conclusão de que a psicologia do trabalho enquanto busca descrever e interpretar a natureza e a dimensão dos fenômenos psicológicos incidentes na situação do trabalho contribui significativamente no desenvolvimento das XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 9 competências do empreendedor. Percebe-se assim de forma clara, que o indivíduo ao se deparar com a realidade, evidencia fenômenos psicológicos que variam em função de conceitos e fundamentos teóricos desenvolvidos por ele e que aprimoram a sua competência. Referências CHIAVENATO, I., Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. CRUZ, R. M. Psicologia do trabalho. Florianópolis, UFSC, PPGEP, 2007. (Apostila). CRUZ, R. M. et al. 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