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G a s t r o e n t e r o l o g i aG a s t r o e n t e r o l o g i a Gab r i e l Ba g a r o l o P e t r o n i l h oG a b r i e l Ba g a r o l o P e t r o n i l h o ResumoResumo Estima-se que cerca de ⅓ da população ja foi exposta do vírus da hepatite B (HBV) e cerca de 240 milhões de pessoa sejam infectadas cronicamente. A região oeste do Paraná é considerado região endêmica para tal vírus. A hepatite B é causada por um DNA-vírus pertencente à família Hepadnaviridae e que possui 10 genótipos diferentes (A - J). O HBV propriamente dito não é citopático, mas, sim a resposta imune celular contra os antígenos virais do HBV no fígado. Transmissão A transmissão ocorrer por meio das seguintes maneiras: - Contágio em solução de continuidade (pele e mucosas) - C o m p a r t i l h a m e n t o d e m a t e r i a i s perfurocortante (seringas, alicates, lâminas de barbear, piercing, máquina de tatuagem, procedimentos odontológico e cirúrgicos nõa estéreis) - 30% das contaminações - Relação sexual - Vertical (materno-infantil) → possui maior chance de cronificação Marcadores Sorológicos Antígenos - HBsAg (de envoltório) → quando positivo prova que o paciente possui o vírus; é o primeiro que circula, aparecendo aproximadamente um mês após a exposição e desaparecendo cerca de 6 meses para as infecções com cura. - HBcAg (core do vírus - interno) → não circula, por isso não é utilizado como marcador; - HBeAg → sua detecção (+) determina altos índices de replicação viral no paciente. Anticorpos - Anti-Hbs → Anticorpo produzido contra o HBsAg. Indica imunidade contra o vírus. Pode ser originado de uma infecção curada com ou sem a intervenção médica ou por vacinação - soroconversão. Se o paciente apresente somente esse anticorpo +, significa imunização prévia por vacinação. - Anti-HBc IgG e IgM → IgM: indica infecção aguda recente pelo HBV (seis meses ou menos); IgG: surge durante a fase aguda da infecção e persiste por toda a vida da pessoa que foi infectada. Sua presença indica que a pessoa está (crônica) ou esteve infectada pelo HBV (se o HBsAG estiver negativo). - Anti-HBe → É capaz de controlar de maneira limitada a replicação do vírus por muitos anos, mas não de curar a infecção. Hepatite B Aguda O período de incubação da hepatite B aguda pode varias pode ser de 4 semanas a 6 meses, de acordo com a quantidade de vírus replicante no inóculo. As infecções aguadas são iniciadas por uma fase chamada de frase prodrômica: - Mal-estar - Astenia - Hiporexia - Náuseas - Febre - Artralgia - Glomerulonefrite → mais comum em crianças - Hepatoesplenomegalia - Erupção (maculopapular ou urticariforme) A fase prodômica resulta dos imunocomplexos HBsAg-anti-HBs circulantes que causam a ativação do complemento e são depositados na parede dos vasos sanguíneos cutâneos. Cada fase dura de dias a poucas semanas. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Hepatite B Após essa fase, essas característica diminuem antes que manifestações hepáticas e elevação sérica de aminotransferases ocorram. Depois dela, ocorre a fase ictérica que ocorre em apenas cerca de 30% dos pacientes. Os sintomas clínicos e a icterícia diminuem após cerca de 1-3meses. Após cerca de 12 semanas do início da doenças, os níveis de ALT e HBsAg desaparecem juntos e o paciente entra em fase de convalescência. Se o paciente continuar com HBsAg positivo após 6 meses demonstra que há um estado de portador crônico com pouca probalidade de cura espontânea entre os 6-12 meses seguintes. Os níveis de transaminases podem chegar a cerca de 4-5mill e não possuem relação com a gravidade. Em menos de 1% dos pacientes ocorre evolução par hepatite fulminante . Ela apresenta uma alta 1 taxa de mortalidade (maior que 80%) quando não tratada por meio de transplante de fígado. Interpretação Sorológica 1º Exemplo: HBsAg +, Anti-HBc (IgM +) (IgG -), HBeAg +, Anti-HBs - → Hepatite aguda 2º Exemplo: HBsAg +,Anti-HBc (IgM +) (IgG +), anti-HBe +, anti-Hbs - → Hepatite aguda em fase tardia 3º Exemplo: HBsAg -, Anti-HBc (IgM +) (IgG +), anti-HBe +/-, Anti-HBs - → Janela imunológica (período entre a exposição e a positivação dos exames). 4º Exemplos: HBsAg +, Anti-HBc (IgM -) (IgG +), HBeAg +, Anti-HBs - → Hepatite crônica em replicação 5º Exemplo: HBsAg +, Anti-HBc (IgM -) (IgG +), anti-HBe +, Anti-HBs - → Hepatite crônica não replicativa 6º Exemplo: HBsAg -, Anti-HBc (IgG +), HBeAg +, Anti-HBs + → Cicatrização sorológica/Cura funcional/Hepatite B oculta 7º Exemplo: HBsAg -, Anti-HBc (IgG -), HBeAg /anti-HBe -, Anti-HBs + → vacinação prévia Tratamento Hepatite B Aguda O tratamento da hepatite B aguda é focado nos sintomáticos com recomendação de repouso e evitar ingesta de álcool por durante 6 meses. Devemos considerar o tratamento com fármacos anti-virais em hepatites consideradas severas, visando que a maioria dos casos se resolve espontaneamente. Hepatite Severa: - Coagulopatia (RNI>1.5) - Curso prolongado → sintomas ou icterícia por mais de 4 semanas - Sinais de falência hepática aguda Deve-se, então, iniciar o tratamento em até 8 semanas, preferencialmente. Todas as diretrizes indicam que as tomadas de decisões para o tratamento daevem ser idealmente feitas baseando-se nos achados histológicos, embora o tratamento não se baseie em graus ou estágios específicos na histologia hepática. Não existem estudos que comprovem que o tratamento com anti-viral seja eficiente para todos os casos, pois atualmente eles apresentam baixa eficácia. Entretanto, existem alguns agentes antivirais que têm sido licenciados para o Pode chegar até 50% de mortalidade. 1 Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Resumindo Anti-HBc IgM + 1 a 2 semanas após HBsAg, pode ficar + por 4 a 5 meses. O primeiro a positivar é o HBsAg, + antes até dos sintomas. Anti-HBc IgG aparece pouco depois do IgM. Anti-HBs: convalescência, 1 a 2 meses após início dos sintomas, logo após negativação HBsAg (janela imunológica). HBeAg: enquanto o vírus estiver replicando. O HBsAg pode ser falso negativo em até 5% dos casos. tratamento da hepatite B: Lamivudina, Adefovir, Entecavir, Tenofovir, etc. Hepatite B Crônica A hepatite B crônica é caracterizada pela persistência do HBsAg + por mais de 6 meses e Anti-HBc (IgG +). Geralmente, é assintomática ou aligossintomática. Pode haver presença de sintomas inespecíficos, como fadiga, astenia, mal-estar, dor no hipocôndrio direito. Além disso, podem ocorrer manifestações extra- hepáticas: artralgia/artrite, glomerulopatia, poliartrite nodosa (vasculite necrosante sistêmica, vasos de pequeno e médio calibre). A incidência de cirrose em HBV não tratada é de 8-20% em cerca de 5 anos e o risco de carcinoma hepatocelular em pacientes com cirrose é de 2-5% ao ano. Microscopicamente, a hepatite B crônica se diferencia da agua por apresentar, na histologia, muito linfócitos que ‘borram’ a placa limitante. Via de regra, casos de hepatite B crônica sem repercussão não é realizado tratamento. Em casos de cirrose, é realizado tratamento, porém, quando há evolução para cirrose de grau F4 o pac iente apresenta uma f ibrose irreversível, fazendo com que não seja possível a identificação do ducto hepático por conta dela. Interpretação Sorológica HBeAg + - Infeção crônica: carga viral (HBV DNA) alta, TGP normal, necroinflamação/fibrose mínima ou ausente. Equivale a imunotolerância. - Hepatite crônica: carga viral (HBV DNA) alta, TGP alterada, necroinflamação/fibrose moderara ou moderada. Progressão de fibrose acelerada. HBeAg - - Infecção crônica: carga viral <2.000, TGP normal e mínima necroinflamação. Baixo risco de cirrose e carcinoma hepatocelular. - Hepatite crônica: carga viral persiste alta ou flutuante, TGP alterada ou flutuante e presença de necroinflamação/fibrose. HBsAg - - Anti-Hbc + e anti-HBs +→ infecção crônica oculta com HBsAg não detectado. Acompanhamento Os casos de hepatite B crônica que é recomendado somente acompanhamento sem indicação de tratamento são: - Infecção HBeAg + → TGP 3 em 3 meses, PCR HBV 6 em 6 meses e avaliação de fibrose 12 em 12 meses. - Infecção HBeAg - → carga viral < 2mil: TGP 6 em 6 meses, PCR HBV e avaliação de fibrose a cada 2 ou 3 anos. - Infecção HBeAg - → carga viral > 2mil: TGP 3 em 3 meses no 1º ano, após 6 em 6 meses. PCR HBV.e avaliação de fibrose cada 2 ou 3 anos. Tratamento Hepatite B Crônica No tratamento da hepatite B crônica os principais objetivos são indução de supressão do HBV- DNA, induzir a perda do HBeAg, normalização do TGP e perda da HBsAg com ou sem sorococonversão anti-HBs. A soroconversão de HBsAg para Anti-HBs representa a cura funcional ou hepatite oculta. Esses objetivos, consequentemente, promovem a redução do risco de progressão da doença, da evolução para cirrose e hepatocarcinoma. Quando Tratar? Deve-se tratar paciente consideração HBeAg: - HBeAg reagente e TGP > 2x (LSN - limite superior da normalidade); - Adulto maior de 30 anos com HBeAg reagente; - HBeAg não reagente, HBV-DNA > 2.000UI/mL e TGP >2x LSN. Independent de HBeAg, HBV-DNA e TGP: - História familia de CHC; - M a n i f e s t a ç õ e s e x t r a - h e p á t i c a s c o m acometimento motor incapacitante, artrite, vasculares, glomerulonefrites e poliartrite nodosa. - Coinfecção por HIV ou HCV; - Hepatite aguda grade (coagulopatias ou icterícia por mais de 14 dias); Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG - Reativação de Hepatite B crônica; - Cirrose ou insuficiência hepática; - Biópsia hepática ≥ A2F2 ou elastografia > 7,0 kPA; - Prevenção de reatividade viral em pacientes que irão receber imunossupressores ou quimioterapia. Antivirais de Alta Barreira - Tenofovir (TDF) → 1ª linha de tratamento; contra-indicado: doença renal crônica, osteoporose e outras doenças o metabolismo ósseo, portadores de coinfecção por HIV ou HCV em uso de didanosina. Portadores de cirrose hepática apresentam melhora clínica e histológico com uso de tenofovir em 5 anos de terapia. Possui baixo índice de resistência. - Entecavir (ETV) → utilizado quando há contraindicação ao uso do tenofovir ou alteração de função renal em decorrência do seu uso. É a 1ª linha para pacientes em t r a t a m e n t o d e i m u n o s s u p r e s s ã o e quimioterapia. Em setembro de 2019, a ANVISA, liberou o tenofovir alafenamida (Vemlidy®) para o tratamento de hepatite B crônica em adultos. A principal vantagem é a redução dos efeitos colaterais a longo prazo quando comparado a outras fórmulas do mercado. Tratamento Alternativo - Alfapeguinterferon → tratamento alternativo de 48 semanas com pacientes HBeAg REAGENTE. Considerar o uso em paciente com HBV leve a moderada, pacientes com cirrose compensada sem hipertensão portal, HBeAg + ou -. A contraindicação é consumo de álcool ou drogas , card iopat ia grave , d isfunção tireoidianas não controlada, distúrbios psiquiátrico não tratados, neoplasia recente, insuficiência hepática, exacerbação aguda de hepatite viral e transplante. Se não apresentar soroconversão em até 48 semanas deve-se trocar para TDF ou ETV. Se o paciente a p r e s e n t a r d e p r e s s ã o , g r a v i d e z , descompensação cardíaca, alteração de tireoide e DM2 deve-se parar o tratamento. O acompanhamento dos tratamentos deve ser feito pelo monitorização das transaminases e PCR-HBV a cada 3 ou 4 meses no primeiro e depois semestralmente. Se o PCR tiver resultado indetectável pode-se realizar HBsAg anual. Quando parar o tratamento? Pode-se considerar a interrupção do tratamento quando PCR indetectável e perda sustentada do HBsAg ou soroconversão HBeAg para anti-HBe comprovados por meio de 2 exames de realização anual. Além disso, em pacientes com HBeAg - e supressão virológica por mais de 3 anos podemos considerar suspensão. NUNCA suspender tratamento em cirróticos ou fibrose F4. Após suspensão, acompanhar TGP e HBV por pelo menos 1 ano. Todo paciente cirrótico ou com fibrose grau F3 deve ser submetido a rasteiro de carcinoma hepatocelular. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG TAKE NOTE A veia porta leva a maior parte do suprimento do fígado, cerca de 70%. A fibrose causa, nesse local, a hipertensão portal fazendo com que haja dificuldade no sangue de entrar no fígado e nutri-lo. HBV e Gestação Toda gestante deve ter HBsAg testado no primeiro trimestre de gravidez, pois há risco de transmissão da mãe para o feto. Risco de Transmissão: - Perinatal - Risco intrauterino → HBeAg +, parto prematura trabalhoso e procedimentos com manipulação da placenta. - Amamentação não é contraindicada. - Não há comprovação de que o parto cesáreo ofereça menor risco de transmissão. Toda gestante não vacinada ou com esquema de vacinação incompleto deve receber as 3 doses da vacina. Imunoglobulina (HBIg) + vacina → previne em até 90% o risco de transmissão vertical. A profilaxia, mostrada no esquema abaixo, deve ser feita com TDF 300mg/dia. Se o paciente estiver em uso de ETV, trocar par TDF. Quando exposto, o RN deve receber a vacina + imunoglobulina em até 12 horas. Vacinação Todo RN deve receber a vacina para HBV: ao nascimento, 1º mês e 6º mês. Adultos e adolescente que não receberam a vacina ou que não fizeram esquema completo devem receber a vacina. Hepatopatas, transplantados, imunossuprimidos e paciente em hemodiálise → 0, 1, 2 e 6 meses com dose dobrada. Profissionais da saúde e pacientes do citado no parágrafo acima, devem testar anti-HBs de 30-60 dias após a última dose. Se anti-HBs <10mU/mL deve-se repetir todo o esquema mais uma vez. Se não correr soroconversão, não repetir novamente. A vacina é feita com HBsAg recombinante e a soroconversão ocorrem em até 90% dos pacientes. Além disso, ela é gratuita e disponível para toda a população. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Imunização Passiva A imunoglobulina hiperimune (HBIg) deve ser administrada em 7-14 dias da exposição e em RN no máximo 12 horas. Situações de exposição: - RN de mães HBsAg + - Vítimas de acidente com material biológico + ou fortemente suspeito de infecção por HBV - Comunicantes sexuais de casos agudos de HBV - Vítimas de abuso sexual - Imunodeprimido após exposição de risco Deve-se receber a vacina além da HBIg. HBV e HDV O HDV é um RNA vírus citotóxico, causador da hepatite D, que necessita do HBV para sobrevivência e sua disseminação. Os países do Mediterrâneo, norte da África e Amazônia são locais endêmicos desse vírus. A transmissão pode ocorrer por exposição percutânea, hemotransfusão e uso de drogas EV. Coinfecção: ocorre quando o HDV é transmitido juntamente com o HBV em pacientes sem contato prévio com HBV. Superinfecção: ocorre quando o HDV infecta um paciente portador prévio do HBV - é mais frequente. A hepatite D tente a ser mais grave do que a hepatite B isolada. O tratamento deve ser feito com interferon pegu i l ado (PEG-IFN) por 48 semanas independente da reposta, se bem tolerado pelo paciente. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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