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Dissertação Maria Jucilândia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE 
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: LINGUAGEM E IDENTIDADE 
 
 
 
MARIA JUCILANDIA VANDERLEI CAVALCANTE 
 
 
 
 
 
 
 
OS NEOLOGISMOS POPULARES EM LETRAS DOS GRUPOS DE RAP DE RIO 
BRANCO: KALIBRE 12, ZONA IX E YACONAWAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO BRANCO – ACRE 
2017 
 
 
MARIA JUCILANDIA VANDERLEI CAVALCANTE 
 
 
 
 
 
 
 
OS NEOLOGISMOS POPULARES EM LETRAS DOS GRUPOS DE RAP DE RIO 
BRANCO: KALIBRE 12, ZONA IX E YACONAWAS 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras: Linguagem e Identidade, 
da Universidade Federal do Acre, como requisito 
parcial para a obtenção do título de Mestre em 
Letras: Linguagem e Identidade. Linha de 
Pesquisa: Língua(gens) e Formação Docente. Área 
de Concentração: Linguagem e cultura. 
 
Orientador: 
Professor Dr. Alexandre Melo de Sousa. 
 
 
 
 
 
 
 
RIO BRANCO – AC 
 2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARIA JUCILANDIA VANDERLEI CAVALCANTE 
 
 
OS NEOLOGISMOS POPULARES EM LETRAS DOS GRUPOS DE RAP DE RIO 
BRANCO: KALIBRE 12, ZONA IX E YACONAWAS 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras: Linguagem e Identidade, 
da Universidade Federal do Acre, como requisito 
parcial para a obtenção do título de Mestre em 
Letras: Linguagem e Identidade. Linha de 
Pesquisa: Língua(gens) e Formação Docente. Área 
de Concentração: Linguagem e cultura. 
 
Orientador: 
Professor Dr. Alexandre Melo de Sousa. 
 
 
Aprovada em: 31 de Julho de 2017 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
_____________________________________________ 
 
Prof. Dr. Alexandre Melo de Sousa 
Universidade Federal do Acre – UFAC 
(Orientador) 
_____________________________________________ 
 
Profa. Dra. Francielle Maria Modesto Mendes 
Universidade Federal do Acre – UFAC 
(Membro Interno) 
_____________________________________________ 
 
Profa. Dra. Maria do Socorro Silva de Aragão 
Universidade Federal do Ceará – UFC 
(Membro Externo) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DEDICATÓRIA 
 
 
Dedico este trabalho à minha filha Jéssica, meu 
maior tesouro, minha grande incentivadora e 
razão de toda minha força. De tudo que Deus me 
deu, nada se compara à dádiva de ser mãe e 
conhecer o verdadeiro sentido da palavra amor. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Ao meu Deus, sem o qual nada posso fazer, toda honra, glória e minha gratidão, por ser minha 
força, socorro bem presente nos momentos de angústia. 
 
Ao meu orientador, Professor Dr. Alexandre Melo de Sousa, por acreditar no meu trabalho e 
pela forma brilhante e respeitosa com que conduziu as orientações, sempre pronto a ajudar. 
Muito obrigada por tudo, sem sua ajuda eu não teria conseguido! 
 
Às Professoras Dra. Francielle Maria Modesto Mendes e Dra. Maria do Socorro Silva de 
Aragão, pelas significativas contribuições, tanto na banca de qualificação quanto na defesa 
desta dissertação. Muito obrigada, suas sugestões foram todas muito importantes para o 
aperfeiçoamento e conclusão desta pesquisa! 
 
À Professora Dra. Lindinalva Messias do Nascimento Chaves, por suas contribuições na fase 
inicial do mestrado, por todo incentivo e dedicação durante minha graduação em Letras 
Francês/Português. Muito obrigada por toda ajuda e aprendizado! 
 
Aos demais Professores do Curso de Letras Francês, em especial ao Professor Dr. Humberto 
de Freitas Espeleta, que muito contribuiu com minha formação. Um ser humano incrível que 
sempre me incentivou a prosseguir em meus estudos; aos professores Adilson Tadeu e Cidália 
Paschoal, por todos os ensinamentos. 
 
À minha família, por ser sempre meu alicerce. Em especial a minha filha, Jéssica, por abdicar 
de momentos de lazer e descanso durante todo o percurso da minha pesquisa. 
 
À minha mãe, Conceição Vanderlei, por suas orações e ajuda em todos os momentos. Sem 
sua ajuda e conselhos eu não teria conseguido. 
 
Ao meu pai, Silvanir Cavalcante, que junto com minha mãe, me ensinou valores essenciais 
para a formação do meu caráter. 
 
Aos meus irmãos, Silmaria, Evânio, Emerson e Enderson, minhas sobrinhas e sobrinhos, 
cunhadas, cunhado, por serem minha alegria e meu porto seguro, para onde sempre sei que 
posso voltar e encontrar abraços e sorrisos sinceros. 
 
Ao meu companheiro, noivo e amigo, Marco Melo, por estar ao meu lado e por toda sua ajuda 
e compreensão durante os fins de semana em que precisei me dedicar às leituras e escrita 
deste trabalho. Obrigada por sonhar comigo e permanecer ao meu lado nos momentos de 
dificuldade. 
 
A todos os professores do Mestrado em Letras: Linguagem e Identidade por suas 
 
 
contribuições. 
 
A todos os colegas de mestrado, por suas contribuições, em especial à Sandra Mara, pela 
amizade e incentivo. 
 
À minha grande amiga Suziane Alves, por todos os momentos de alegria durante os dois anos 
de mestrado, mas, sobretudo, por ter se tornado minha amiga e irmã, sempre disposta a me 
ouvir e ajudar nos momentos de tristeza. Muito obrigada, minha amiga, por ser essa pessoa 
incrível que ilumina a vida das pessoas ao seu redor! 
 
Aos integrantes das bandas Kalibre 12, Zona IX e Yaconawas, por suas contribuições tão 
importantes para esta pesquisa. 
 
Ao meu amigo, Israel Batista, por toda paciência e auxílio durante todo o percurso da coleta 
de dados. Muito obrigada, sua ajuda foi imprescindível para a conclusão desta pesquisa! 
 
Ao meu amigo Francisco Nogueira, por toda ajuda nos momentos de dificuldade na fase incial 
do mestrado, cujas palavras e conselhos em momentos de incerteza me fizeram seguir em 
frente. 
 
A todos aqueles que contribuíram, mesmo que indiretamente, para a realização desta pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rap é compromisso, não é viagem. 
 Sabotage
 
 
 
RESUMO 
 
 
A pesquisa está situada no campo da Lexicologia, uma vez que, como bem lembra Biderman, 
(2001b, p. 16), a Lexicologia “[...] tem como objetos básicos de estudo e análise a palavra, a 
categorização lexical e a estruturação do léxico [...]. A Lexicologia faz fronteira com a 
semântica, já que, por ocupar-se do léxico e da palavra, tem que considerar sua dimensão 
significativa”. Analisamos as ocorrências de neologismos nas letras de rap de Rio Branco – 
Acre. Para tanto, nos apoiamos em Biderman (2001a), (2001b), (1998); Alves (1994), Preti 
(1984), Correia e Almeida (2012), cujos estudos situam-se no campo do léxico. Partimos da 
hipótese de que os neologismos presentes nas referidas letras de rap contenham marcas 
socioculturais oriundas tanto do contexto social acreano como do nacional; de que os fatores 
sociais influenciam os usuários da língua na formação de neologismos e de que os fatores 
culturais amazônicos aparecem estratificados nesses neologismos. O objetivo geral da 
presente pesquisa é conhecer os neologismos/gírias presentes nas letras de música do gênero 
rap: Chico dos Chicos da banda Yaconawas, Cotidiano da banda Zona IX e Noite na 
quebrada, da banda Kalibre 12 para tecer uma discussão de natureza gramatical e semântica 
desses neologismos. Os objetivos específicos desta pesquisa consistem em: a) verificar os 
mecanismos dos neologismos populares presentes nas letras das referidas músicas; b) 
identificar a neologia como recurso para a criação lexical; c) apontar, a partir dos neologismos 
presentes nas letras de música do gênero rap, a produtividade e criatividade lexical, para em 
seguida, elaborar um glossário dos neologismos semânticos populares que encontrarmos nas 
letras pesquisadas. Seguimos a metodologia proposta por Correia e Almeida (2012, p. 25-32). 
Utilizamos o critério lexicográfico, já que nos apoiamos em dicionários da língua Portuguesa,organizamos um glossário com as ocorrências neológicas presentes nas letras analisadas. 
 
Palavras-chave: Neologismos, Léxico, Gírias, Rap acreano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMÉ 
 
La recherche est située dans le domaine de la Lexicologie, puisque, ainsi rappelle Biderman, 
(2001b, p. 16), la Lexicologie « [...] a les objets de base d'étude et d’analyse le mot, la 
catégorisation lexicale et structuration du lexique [...]. La Lexicologie fait frontières avec la 
sémantique, puisque, par cette science s’occuper du lexique et du mot, elle doit considérer sa 
dimension significative ". Nous avons analysé les ocurrences de néologismes dans les lettres 
de rap écrites à Rio Branco – Acre. Pour ce faire nous comptons sur Biderman (2001a), 
(2001b), (1998); Alves (1994), Preti (1984), Correia et Almeida (2012), dont les études sont 
situés dans le champ du lexique. Nous partons de l’hypothèse que les néologismes présents 
dans les paroles de rap mentionnées contiennent des marques socioculturelles originaires du 
contexte social acreano et aussi du national; que les facteurs sociaux influencent les 
utilisateurs de la langue dans la formation des néologismes et que les facteurs culturels 
amazoniens apparaissent stratifiés dans ces néologismes. L’óbjectif général de cette recherche 
est de connaître les néologismes/argots présents dans les lettres de musique du genre rap : 
Chico dos Chicos, de la bande Yaconawas, Cotidiano, de la bande Zona IX et Noite na 
quebrada, de la bande Kalibre 12, pour faire une discussion de nature grammaticale et 
sémantique sur ces néologismes. Les objectifs spécifiques de cette recherche sont : a) vérifier 
les mécanismes des néologismes populaires présents dans les lettres de cettes musiques ; b) 
identifier la néologie comme recours pour la création lexicale ; c) montrer, a partir des 
néologismes présents dans les lettres de musique du genre rap, la productivité et la créativité 
lexicale, pour élaborer après un glossaire des néologismes sémantiques populaires que nous 
avons trouvé dans les lettres analysées. Nous avons suivi la méthodologie proposée par 
Correia e Almeida (2012, p. 25-32). Nous avons utilisé le critère lexicographique, puisque 
nous nous sommes appuyés sur les dictionnaires de la langue portugaise, nous avons aussi 
organisé un glossaire avec les ocurrences néologiques présentes dans les lettres analysées. 
 
Mots-clés: Les néologismes, Le lexique, Les argots, Le rap acreano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
 
Esquema 1.....................................................................................................................17 
Esquema 2.....................................................................................................................37 
Esquema 3.....................................................................................................................38 
Esquema 4.....................................................................................................................39 
Esquema 5.....................................................................................................................40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
 
S.m. – Substantivo masculino 
S. f. – Substantivo feminino 
S. 2 g. – Substantivo de dois gêneros 
Adj. – Adjetivo 
V. – Verbo 
V. t. d. – Verbo transitivo direto 
V. t. i. – Verbo transitivo indireto 
V. t. d. i. – Verbo transitivo direto e indireto 
V. int. – Verbo intransitivo 
Exp. – Expressão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE MÚSICAS 
 
 
 
Música 1: Noite na quebrada – Kalibre 12...........................................................................110 
Música 2: Cotidiano – Zona IX............................................................................................111 
Música 3: Chico dos chicos – Yaconawas............................................................................113 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13 
 
1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ......................................................................................... 17 
1.1 LÉXICO E CULTURA ...................................................................................................... 17 
1.2 LÉXICO, PALAVRA, VOCÁBULO E LEXIA ................................................................ 19 
1.3 AS CIÊNCIAS DO LÉXICO ............................................................................................. 21 
1.3.1 A Lexicologia: léxico, sociedade, cultura ....................................................................... 22 
1.3.2 A Lexicografia: léxico e dicionarização .......................................................................... 23 
1.3.3 A Terminologia: léxico, termos técnicos específicos ...................................................... 25 
1.3.4 Neologismo: criação e produção Lexical ........................................................................ 27 
1. 3.5 Neologia e neologismos: novidade lexical ..................................................................... 28 
1.3.6 Tipos de Neologismos ..................................................................................................... 29 
 
2. GÍRIA: NEOLOGISMO SEMÂNTICO POPULAR ...................................................... 32 
2. 1 PALAVRA GRÁFICA E PALAVRA DA LÍNGUA ....................................................... 34 
2.2 A GÍRIA E A CRIATIVIDADE LEXICAL DE CARÁTER SEMÂNTICO .................... 35 
2.3 GÍRIA: SIGNO SOCIAL ................................................................................................... 36 
2.3.1 Da gíria de grupo para gíria comum ................................................................................ 38 
2.3.2 Dialetos sociais ................................................................................................................ 40 
2. 4 NÍVEIS DE LINGUAGEM (REGISTROS) ..................................................................... 41 
2.4.1 O uso consciente e/ou inconsciente da gíria .................................................................... 46 
 
3. DAS RUAS DO BRONX PARA O ACRE: UMA BREVE HISTÓRIA DO HIP 
HOP..........................................................................................................................................50 
3.1 HIP HOP: MOVIMENTO SOCIAL OU CULTURA DE RUA? ...................................... 50
 
 
 
3.2 A ORIGEM DO MOVIMENTO HIP HOP ....................................................................... 52 
3.2.1 Rap: bem mais que ritmo e poesia ................................................................................... 56 
3.2.1.1 O rap na cidade de Rio Branco .................................................................................... 59 
3.2.1.2 Como tudo começou ..................................................................................................... 61 
3.2.1.3 Grupo Kalibre 12 .......................................................................................................... 63 
3.2 1.4 Grupo Zona IX ............................................................................................................. 66 
3.2.1.5 Grupo Yaconawas ........................................................................................................ 68 
3.2.2 O break ............................................................................................................................ 71 
3.2.3 O grafite ........................................................................................................................... 72 
 
4 METODOLOGIA E ANÁLISE DOCORPUS ................................................................. 75 
4.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................ 77 
4.1.1 Descrição e análise das unidades lexicais quebrada/quebra/área/morro/favela/baixada
 .................................................................................................................................................. 78 
4.1.2 Descrição e análise das unidades lexicais ganso/gambé/alemão/os homi (os “zomi”)
 .............................................................................................................................................. ....82 
4.1.3 Descrição e análise da unidade lexical (neológica) Dá um rolé ...................................... 85 
4.1.4 Descrição e análise da unidade lexical (neológica) Mina................................................ 86 
4.1.5 Descrição e análise da unidade lexical (neológica) Botar fé .......................................... 87 
4.1.6 Descrição e análise da unidade lexical (neológica) Neguinho ........................................ 88 
 
GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 90 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 107 
 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 110 
 
ANEXOS ............................................................................................................................... 114 
13 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Nesta pesquisa, apresentamos um estudo lexicológico e lexicográfico sobre os 
neologismos semânticos populares (gírias) presentes nas letras de rap: Chico dos Chicos, da 
banda Yaconawas; Noite na Quebrada, da banda Kalibre 12 e Cotidiano, da banda Zona IX. 
Nosso objetivo geral é conhecer os neologismos/gírias presentes nas referidas letras de música 
do gênero rap para tecer uma discussão de natureza gramatical e semântica desses 
neologismos. Já os objetivos específicos consistem em: 
a) Verificar os mecanismos dos neologismos populares presentes nas letras das 
referidas músicas; 
b) Identificar a neologia como recurso para a criação lexical; 
c) Apontar, a partir dos neologismos presentes nas letras de música do gênero rap, a 
produtividade e criatividade lexical, para em seguida, elaborar um vocabulário dos 
neologismos semânticos populares que encontrarmos nas letras pesquisadas. 
Para tanto, seguiremos os vieses de estudo de Biderman (2001a), (2001b), (1998); 
Alves (1994), Preti (1984), Correia e Almeida (2012), cujos estudos situam-se no campo do 
léxico. Segundo Biderman (2001a), o neologismo é uma das formas de expansão do léxico e 
“[...] uma criação vocabular nova, incorporada à língua” (BIDERMAN, 2001a, p.203). 
Quanto ao léxico, Biderman (1998, p. 179) afirma: “O léxico de qualquer língua constitui um 
vasto universo de limites imprecisos e indefinidos. Abrange todo o universo conceptual dessa 
língua. [...]” (BIDERMAN, 2001a, p. 179). 
 A partir dos conhecimentos construídos após a leitura desses teóricos, afirmamos 
que o léxico consiste numa espécie de conjunto de palavras criado, gerenciado e usado 
coletivamente na sociedade. Então, diante da proposta de estudar o neologismo, situamos esta 
pesquisa no campo das ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia que, 
segundo Biderman (2001b), são ciências que têm como objeto de estudo, o léxico. Contudo, 
concentramos a discussão na Lexicologia, visto que esta ciência, segundo Biderman (2001b, 
p. 16), “[...] tem como objetos básicos de estudo e análise a palavra, a categorização lexical e 
a estruturação do léxico [...] a Lexicologia faz fronteira com a semântica, já que, por ocupar-
se do léxico e da palavra, tem que considerar sua dimensão significativa”. 
Os preceitos da Lexicografia também foram de importância ímpar para esta pesquisa, 
já que organizamos um glossário dos neologismos catalogados nas letras. Os vocábulos foram 
organizados por ordem alfabética de acordo com a macroestrutura que, segundo Miranda 
(2007), é um instrumento lexicográfico, dentre outros aspectos. Em relação à organização de 
14 
 
 
cada verbete, utilizamos os preceitos da microestrutura que, de acordo com Miranda (2007), é 
um instrumento lexicográfico que normatiza a ordenação de cada verbete que constitui um 
dicionário, glossário e/ou vocabulário. Para Miranda (2007), no plano da microestrutura de 
uma obra lexicográfica deve conter a palavra-entrada, informações gramaticais, informações 
etimológicas, definições sobre a forma de cada verbete, bem como definições semânticas. 
Neste trabalho, os verbetes foram organizados da seguinte forma: entrada do verbete + 
informação gramatical + definição do verbete + definição neológica. 
De acordo com Alves (1994), a criação de novas palavras é um fato que marca toda 
língua natural. E o ato de criar ou renovar o sentido de dadas palavras é facultado a qualquer 
membro de uma sociedade. De modo que, em todas as línguas naturais é comum a 
dinamicidade com que são criadas novas palavras e a modificação de significado de palavras 
já existentes. Isso ocorre por meio das interações sociais e culturais de um povo, em suas 
práticas discursivas diárias, nas quais os falantes trocam experiências, vivências que permitem 
o desenvolvimento de novos vocabulários, muitas vezes para significar coisas específicas de 
determinados meios sociais. 
No meio do hip hop é comum o uso de gírias, sendo esta uma característica marcante 
nesse movimento. Na interação comunicativa entre seus integrantes, o uso das gírias é um 
bem usual. Mas quando se desloca a linguagem utilizada nas ruas, nas situações corriqueiras 
de comunicação, para as letras de músicas, as gírias podem atingir uma camada muito maior 
de falantes, o que implica em renovação e expansão lexical. 
De acordo com Preti (1984, p. 1-3), a gíria é um dos fenômenos lexicais decorrentes 
da relação língua/sociedade. A gíria consiste num “signo de agressão e defesa na sociedade” 
diante de situações corriqueiras da vivência em grupo, a linguagem de cada indivíduo deixa 
transparecer as marcas culturais de sua comunidade. Como a linguagem é forjada pela 
interação social, Preti (1984) afirma que ocorre uma espécie de nivelamento linguístico, mas 
em decorrência de embates na esfera política, alguns grupos desenvolvem uma linguagem 
especial como instrumento de oposição ao já instituído. A possibilidade de produção e 
reprodução do léxico, bem como a possibilidade de criação e recriação lexical, torna a gíria 
um fenômeno de variação linguística que, de acordo com Preti (1984) pode ser signo de 
agressão, de poder e também irreverência. Para o autor, a gíria como signo de irreverência 
pode ter conotação positiva ou negativa, porque dependendo da situação, uma gíria obscena 
pode ser usada numa conotação afetiva, por exemplo. 
Preti (1984) denomina a gíria como “vocabulário-parasita” utilizado como “elemento 
diferenciador e catártico a certos grupos (e, afinal, as camadas mais diversas da população) 
15 
 
 
[...]” (PRETI, 1984, p. 8). Diante do exposto, inferimos as gírias como um tipo de 
neologismo. Considera-se a música como um terreno propício aos neologismos. Ela atinge 
uma camada significativa da sociedade, disseminando ideias, novos falares, novas formas de 
expressão, através das palavras, as quais, muitas vezes, têm seus sentidos renovados. 
Rocha et al (2001) afirma que o rap tem grande “poder de sedução sobre o jovem da 
periferia.” Desse modo, as gírias presentes em suas letras representam o que já se fala nas 
comunidades, por muitos falantes em suas práticas sociais e culturais. Contudo, o rap 
brasileiro hoje alcança diversas classes sociais, visto que a globalizaçãofacilita o acesso a 
esse gênero musical, tanto na mídia televisiva quanto nas demais. Isso implica numa expansão 
desse estilo musical nas várias classes da sociedade, o que resulta também na popularização 
da linguagem presente nessas músicas. Desse modo, se o rap não é uma cultura exclusiva das 
periferias, tampouco as gírias o são. É possível observar a presença de gírias nas práticas 
comunicativas das mais diversas camadas sociais, ainda que estejam presentes de modo mais 
marcante em alguns grupos sociais. 
Diante desse fato, guiamo-nos pela hipótese de que os neologismos presentes nas 
referidas letras de rap contenham marcas socioculturais oriundas tanto do contexto social 
acreano como do nacional; de que os fatores sociais influenciam os usuários da língua na 
formação de neologismos e de que os fatores culturais amazônicos aparecem estratificados 
nesses neologismos. 
Para atingir os referidos objetivos, dividimos a dissertação em três capítulos: no 
primeiro, fazemos uma exposição panorâmica sobre as Ciências do Léxico (Lexicologia, 
Lexicografia e Terminologia), bem como fazemos uma breve discussão sobre Neologia e 
Neologismos, explicitando os tipos de neologismos. No segundo, discorremos sobre as gírias, 
de modo a aprimorar nossas análises e tendo em vista a relevância desse fenômeno. No 
terceiro capítulo apresentamos breves definições conceituais do hip hop, explicitando a 
origem desse movimento, sua chegada ao Brasil e ao Acre. De igual modo, abordamos sobre 
as expressões artísticas que o integram. Ainda no terceiro capítulo, traçamos um breve perfil 
das três bandas de rap cujas letras foram utilizadas em nossas análises. Por fim, no quarto 
capítulo, expomos a metodologia e análise o corpus desta pesquisa. 
Para a catalogação e descrição dos dados, seguimos a metodologia proposta por 
Correia e Almeida (2012, p. 25-32). Assim, o corpus de extração, ou seja, a fonte de onde 
retiramos os neologismos foi três letras de músicas do gênero rap acreano: Chico dos Chicos, 
Noite da quebrada e Cotidiano. Para validar o status de neologismo a cada vocábulo, 
utilizamos os dicionários gerais de língua portuguesa como: Aurélio, Houaiss, dicionário 
16 
 
 
etimológico e dicionário de gírias. Esses dicionários serviram como corpus de exclusão, já 
que, segundo Correia e Almeida (2012), os dicionários servem para validar o status de 
neologismo de cada vocábulo. Segundo as autoras, um vocábulo só é considerado neologismo 
se não constar no dicionário convencional, caso esteja inserido no dicionário não pode ser 
considerado neologismo. 
Para traçar um breve perfil dos três grupos de rap de Rio Branco, tivemos que 
trabalhar com a fonte oral, que se trata de uma fonte primária, tendo em vista não haver ainda 
nenhuma outra fonte construída acerca dos três grupos. De modo que, pelo fato de não termos 
encontrado artigos, entrevistas ou outros tipos de registros, tivemos que ir pessoalmente aos 
integrantes das bandas/grupos para colhermos as informações necessárias sobre cada uma 
delas. Sendo assim, realizamos entrevistas com James Santos Pinheiro e Fernando Lucas, da 
banda Kalibre 12, com Jorge Neto da banda Zona IX e Kinho Dubass, da banda Yaconawas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS 
 
Entendendo que os conhecimentos teóricos são fundamentais para a compreensão 
dos objetivos que nortearam o presente trabalho, neste capítulo introdutório apresentaremos 
conceitos essenciais à pesquisa que foi desenvolvida. Neste campo de conceitos, estivemos 
atentos às relações léxicas que compreendem cultura e sociedade, visto que sem este 
embasamento teórico não seria possível analisar a correlação dos mecanismos linguísticos e 
extralinguísticos que motivaram a criação dos neologismos presentes nas letras das músicas 
Chico dos Chicos, Cotidiano e Noite na Quebrada. Estivemos atentos, portanto, aos conceitos 
teóricos que fundamentam o respectivo trabalho, bem como léxico, palavra, vocábulo, lexia, 
Lexicologia e Terminologia a serem apresentados a seguir. 
 
1.1 LÉXICO E CULTURA 
A palavra léxico, de forma geral, “designa o conjunto das unidades que formam a 
língua de uma comunidade, de uma atividade humana, de um locutor, etc. [...]” (DUBOIS et 
al, 2004, p. 364). Esta assertiva sobre o léxico mostra a inter-relação das entidades língua, 
sociedade e cultura, pois a vivência cotidiana da comunidade requer uso da língua e o uso 
desta, implica produção de conhecimento e de cultura. Isso se confirma em Biderman (1998) 
que afirma: “[...] O léxico é a somatória de toda experiência acumulada de uma sociedade e o 
acervo de sua cultura através das idades”. 
Como vimos, a cultura se processa no seio da comunidade, vejamos o que afirma 
Dubois et al: 
 
Cultura é o conjunto complexo das representações, dos juízos ideológicos e 
dos sentimentos que se transmitem no interior de uma comunidade [...] a cultura 
compreende todas as formas de se representar o mundo exterior [...] entra também 
tudo que é juízo explícito ou implícito feito sobre a linguagem ou pelo exercício 
dessa faculdade. [...] (DUBOIS, 2004, p. 162). 
 
A partir da proposição de Dubois (2004), compreendemos que o conceito de cultura 
apresentado por ele abarca “todas as formas de representar o mundo exterior”, em que a 
linguagem é o ponto propulsor de produção cultural de uma dada comunidade e isso inclui 
conhecimento empírico e científico, em que este, por seu turno, envolve desde a Literatura às 
Belas-artes; já o conhecimento empírico consiste elemento social forjado pelas relações 
18 
 
 
triviais do cotidiano. Ou seja, o termo cultura abarca o conhecimento ou conceitos gerados 
por todo tipo de linguagem e inclui até os preconceitos raciais, por exemplo. 
Conforme Biderman (2001b, p.13-22), léxico e cultura são entidades que se 
correlacionam, pois, o léxico se estrutura a partir da atuação linguística do homem no meio 
social em que a atuação linguística gera cultura, já que a atuação linguística implica interação 
do homem com meio/mundo e com os demais humanos. O homem precisa se comunicar e ao 
comunicar-se faz uso de uma série de conhecimentos linguísticos que já existia na 
comunidade linguística a qual ele pertence antes mesmo dele nascer. Nesse sentido, cabe citar 
Silva Neto (1992, p. 30): “A evolução linguística está intimamente ligada à evolução 
histórico-social: a rapidez ou a lentidão das transformações depende da estrutura da 
sociedade”. 
A citação anterior enfatiza a relação língua/sociedade, uma correlação genérica que 
abriga a interface léxico/cultura, pois Biderman afirma que “[...] o léxico de uma língua 
natural pode ser identificado como patrimônio vocabular de uma comunidade linguística ao 
longo de sua história [...] esse patrimônio constitui um tesouro cultural abstrato [...]”. 
(BIDERMAN, 2001b, p 14). Ou seja, o léxico como patrimônio vocabular está estreitamente 
ligado à cultura, porque ele é estruturado pelo indivíduo por meio da cognição da realidade, 
processo cognitivo pelo qual os indivíduos formulam as conceituações relativas às 
informações que apreendem do meio social. 
De modo que a correlação léxico/cultura coexiste em meio a um ciclo de influências 
correlatas de criação lexical baseado em conhecimentos já produzidos por uma sociedade 
situada num tempo pretérito que lega seu conhecimento linguístico à posteridade. E nesse 
circuito cultural o homem expande o léxico. As comunidades humanas primitivas geraram um 
léxico básico que se expandiu devido à produção conhecimento que estimulou outras criações 
lexicais, ampliando cada vez mais o léxico. A progressão na produção de conhecimento dos 
povos se intensificou, paulatinamente, até atingir o conhecimento técnico-científico da 
atualidade que cresce de maneira rápida, motivado pela interação cultural entre os povos 
mediante os meios de comunicaçãode massa como a internet, por exemplo. 
Contudo, ainda de acordo com Biderman (2011b, p. 15), o intercâmbio cultural entre 
os povos resulta em expansão do léxico sem comprometer a estrutura das línguas já 
instituídas. Isso é possível porque o fenômeno neológico permite a criação e expansão lexical 
baseado em mecanismos próprios de cada língua. Ou seja, o sistema linguístico do português, 
por exemplo, possui um sistema já formulado pelos falantes dessa língua através do tempo. 
19 
 
 
Partindo da premissa de que o objeto de estudo da Lexicologia é a palavra, a 
categorização e a estruturação lexical, ressaltamos que neste campo de estudo científico há o 
uso de termos técnico-científicos como: léxico, lexema, lexia, palavra, vocabulário, vocábulo, 
que designam entidades linguísticas distintas. Sendo assim, abordamos essas distinções na 
seção 1.2. 
 
1.2 LÉXICO, PALAVRA, VOCÁBULO E LEXIA 
 
Biderman (2001) afirma que as indagações sobre o conceito de palavra, numa 
perspectiva empírica e científica, marcam a evolução histórica do estudo linguístico. Partindo 
da ideia de que cada comunidade elabora seu sistema linguístico de acordo com suas 
respectivas culturas, ressalta-se a inviabilidade de se formular uma conceituação universal 
para a palavra. A maioria dos usuários da língua detém uma ideia intuitiva do que seja o 
conceito de palavra que, geralmente, gira em torno da ideia de palavra como unidade mínima 
de uma frase. 
No dicionário de linguística consta da seguinte forma: 
 
Em linguística tradicional, a palavra é um elemento linguístico significativo 
composto de um ou mais fonemas; essa sequência é suscetível de uma transcrição 
escrita (ideogramática, silabária ou alfabética) compreendida entre dois espaços em 
branco; ela conserva sua forma, total ou parcialmente (no caso da flexão), em seus 
diversos empregos sintagmáticos; a palavra denota um objeto (substantivo), uma 
ação ou estado (verbo), uma qualidade (adjetivo), uma relação (preposição), etc. 
(DUBOIS et al, 2004, p. 450) 
 
Contudo, os mesmos autores acrescentam que essa conceituação tradicional não 
contempla os estudos lexicológicos, porque há questões semânticas envolvidas como, por 
exemplo, o fato de uma mesma palavra possuir vários sentidos, também pela variação de 
grafia em palavras gramaticais como verbo e adjetivo. Exemplo: branco e brancura para 
expressar qualidade. Ou seja, no conceito tradicional de palavra há várias lacunas que 
inviabilizam um estudo do léxico situado no campo da Linguística estrutural. 
A oposição entre termo vs. palavra constitue uma das lacunas supramencionadas, já 
que termo carrega apenas um significado, visto que os termos designam conceitos técnico-
científicos, enquanto palavra pode expressar vários significados por situar-se no vocabulário 
geral. Há também a oposição palavra vs. vocábulo. A palavra numa acepção lexicológica 
consiste numa “unidade de texto inscrita entre dois brancos gráficos. Cada nova ocorrência é 
uma nova palavra [...]” (DUBOIS et al, 2004, p. 450). O vocábulo pode expressar uma ideia 
20 
 
 
por meio de duas ou mais palavras como, por exemplo, raio de ação, ideia expressa por três 
palavras. 
Esses questionamentos acerca do estudo da linguagem são oriundos das 
peculiaridades entre língua e fala: 
 
A língua não pode ser abordada diretamente. A linguagem, manifestando-se 
na fala, ou na escrita, constitui a nossa única fonte de acesso à realidade imaterial 
que é a língua. Nosso conhecimento sobre a estrutura e a realidade linguísticas será 
sempre precário porque a língua é uma realidade mental que, nos seus limites, se 
confunde com o próprio pensamento. Se quiser evitar a arbitrariedade nas suas 
deduções o estudioso dos problemas da linguagem terá de ascender da observação 
dos fatos da fala para concluir sobre os fatos da língua. (BIDERMAN, 2001a, p.5) 
 
A abstração da língua em contraposição com a concretude da fala promove a 
problemática dos termos técnico-científicos em torno do estudo da linguagem porque segundo 
Biderman (2001a, p. 167) as palavras são elementos da língua, portanto, abstratas. Numa 
acepção não linguista os termos palavra e vocábulo são utilizados de maneiras aleatórias, mas 
num contexto de estudo científico devido a Linguística lidar com o âmbito linguístico 
(abstrato) e o âmbito discursivo (concreto) os termos palavra e vocábulo precisam ser tratados 
de modo a contemplar as referidas peculiaridades linguísticas. 
O léxico situa-se no âmbito da língua, ou seja, na dimensão abstrata. O lexema é 
unidade do léxico e, portanto, também, abstrata. Conforme consta na citação acima a 
fala/discurso é o único acesso aos elementos lexicais e gramaticais da língua. O léxico é um 
acervo de palavras/lexemas que têm forma singular, original, quando o usuário acessa o léxico 
e efetiva a fala, ele transforma o lexema em lexia porque no discurso ocorre a flexão das 
palavras/lexemas. 
Os referidos recursos linguísticos contribuem com o estudo lexicológico, evitando 
ambiguidades entre determinados conceitos primordiais para o entendimento dos processos 
lexicais e gramaticais. Nesse particular, temos: 
 
O termo vocábulo designa a ocorrência de um lexema no discurso, na 
terminologia da estatística lexical. Como o termo lexema está reservado às unidades 
(virtuais) que compõem o léxico, o termo palavra a qualquer ocorrência realizada na 
fala, o vocábulo será a atualização de um lexema particular no discurso. (DUBOIS, 
2004, p. 614) 
 
Para melhor compreensão, formulamos o seguinte esquema que representa o uso dos 
termos vocábulo, lexema e lexia em que estes permeiam o campo terminológico da linguagem 
científica e aquele (vocábulo) configura termo que permeia o campo da linguagem comum: 
 
21 
 
 
 
 
 Linguagem comum Linguagem científica 
 
 Palavra 
 
 Linguagem comum Abstrata (língua) Concreto (discurso) 
 
 
 Vocábulo Lexema Lexia 
Menino/meninos/meninada 
 
 Menino Meninos/meninada 
 
 Fonte: elaborado pela autora 
 
 Biderman (2001a, p. 125) assegura que diante da inviabilidade de trabalhar com 
unidade léxica palavra em estudos linguísticos de qualquer língua, precisamos pautar os 
estudos no morfema, unidade mínima de significação. Diante de um trabalho de descrição de 
um determinado corpus oriundo uma língua de natureza articulável como o português, o 
morfema mostra-se eficaz na descrição dos processos gramaticais. Os morfemas são afixos 
que se acoplam a determinados radicais. Exemplo: Claro, clareza, claridade, etc. Neste caso, 
clar- é a raiz da palavra e compreende um mesmo substrato semântico, isto é, detém o mesmo 
sentido tanto em claro, como em clareza e claridade. Contudo, os afixos o-, eza- e dade- são 
partículas que formam palavras (lexemas) que fazem parte do campo semântico de Claro. 
Vale ressaltar que, no presente trabalho, guardadas as discussões travadas pelos 
teóricos ligados aos estudos lexicais e/ou morfológicos, os termos palavra, vocábulo, lexia e 
lexema serão usados como sinônimos. 
Concluída esta descrição sobre o léxico e sua relação com a cultura, convém 
descrever as ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. 
 
1.3 AS CIÊNCIAS DO LÉXICO 
 
22 
 
 
A seguir, descreveremos as ciências que se encarregam do estudo do léxico. As 
descrições que se seguem têm como objetivo situar a pesquisa que ora nos debruçamos. 
Nessa perspectiva, destacamos a importância das ciências do léxico para a 
linguística, uma vez que o patrimônio cultural de um povo está estreitamente ligado ao seu 
léxico. Logo, o interesse dos estudiosos da língua em estudar o léxicovem desde muito 
tempo. Muitos linguistas voltam seu olhar para este assunto, o que promoveu a criação das 
ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. 
Essas ciências trazem a referência ao léxico inscrita em seus nomes. De modo que 
todas elas têm como objetivo maior a descrição desse léxico, apesar de que cada ciência 
analisa o léxico sob aspectos distintos. Nesse sentido, ao passo que a Lexicologia concentra-se 
em pesquisar e analisar teoricamente os problemas que fundamentam os saberes científicos do 
léxico, a Lexicografia tem o seu olhar voltado para os métodos de elaboração de dicionários, a 
fim de contribuir com as análises da descrição da língua. Já a Terminologia estuda o termo, as 
palavras e conceitos específicos das áreas distintas do conhecimento. (OLIVEIRA; 
ISQUERDO, 2001, p. 9-10) 
 
1.3.1 A Lexicologia: léxico, sociedade, cultura 
 
Biderman (2001) afirma que a Lexicologia está inserida na área da linguística e tem 
seus estudos voltados para o léxico, se ocupando de analisá-lo e descrevê-lo. Mas, como já 
sabemos, o léxico de uma língua muito tem a ver com as relações socioculturais do grupo em 
que ele se forma e é transmitido de geração a geração. Sendo a língua um sistema aberto e de 
caráter social, logo, o léxico de uma língua não é fechado, estável, mas se atualiza e se renova 
constantemente, através das vivências culturais e sociais dos seus falantes. Dessa forma, a 
Lexicologia tem a tarefa de estudar e descrever, não simplesmente o vocabulário de uma 
língua, mas também as relações, circunstâncias históricas, socioculturais em que esses 
vocabulários surgem e são utilizados. A respeito disso, Abbade (2011) diz que: 
 
A lexicologia enquanto ciência do léxico estuda as suas diversas relações 
com os outros sistemas da língua, e, sobretudo as relações internas do próprio léxico. 
Essa ciência abrange diversos domínios como a formação de palavras, a etimologia, 
a criação e importação de palavras, a estatística lexical, relacionando-se 
necessariamente com a fonologia, a morfologia, a sintaxe e em particular com a 
semântica. (ABBADE, 2011, p.1.332) 
 
 
Embora pareça ser uma tarefa simples, definir Lexicologia não é tão trivial, pois 
analisando o conceito trazido por Abbade (2011), surgem alguns questionamentos a respeito 
23 
 
 
do lugar que a Lexicologia ocupa nos estudos linguísticos e quais são, de fato, seus objetivos, 
suas metodologias de pesquisa e análise do seu objeto. Na tentativa de esclarecer melhor essas 
questões, nos propomos aqui a trazer outras definições acerca dessa ciência. 
Nessa perspectiva, Andrade (2001), citando Barbosa (1991), define a Lexicologia 
como sendo 
 
o estudo científico do léxico, isto, é, propõe-se a estudar o universo de todas as 
palavras de uma língua, vistas em sua estruturação, funcionamento e mudança, 
cabendo-lhe, entre outras tarefas: definir conjuntos e subconjuntos lexicais; 
examinar as relações do léxico de uma língua com o universo natural, social e 
cultural; conceituar e delimitar a unidade lexical de base – a lexia -, bem como 
elaborar os modelos teóricos subjacentes às suas diferentes denominações; abordar a 
palavra como um instrumento de construção e detecção de uma “visão de mundo”, 
de uma ideologia, de um sistema de valores, como geradora e reflexo de sistemas 
culturais; analisar e descrever as relações entre expressão e conteúdo das palavras e 
os fenômenos daí decorrentes. (BARBOSA, 1991 apud ANDRADE, 2001, p. 191) 
 
Assim, a autora afirma que esta ciência procura analisar as palavras em seu sentido 
macro, considerando-a como ferramenta na construção de uma ideologia, de pensamentos e 
valores, levando em conta toda sua estrutura e funcionamento, inclusive observando o seu 
caráter dinâmico, sendo-lhe incumbida, dentre outras, a tarefa de analisar o universo social e 
cultural de uma língua natural, conceituar a lexia e delimitá-la. 
Conforme as palavras de Biderman (2001, p.372), “Chama-se lexicologia o estudo 
científico do vocabulário.” Segundo a autora, “Existem estudos de forma léxica desde a 
Antiguidade [...]”. 
Diante das considerações feitas pelos três autores, consideramos que a Lexicologia 
enquanto ciência do léxico é essencial para trabalhos de análise e descrição das palavras, já 
que ela fornece informações teóricas para essas pesquisas. 
 
1.3.2 A Lexicografia: léxico e dicionarização 
 
A Lexicografia se preocupava, desde os primórdios da história dos estudos 
linguísticos, em estudar essencialmente os significados das palavras, mas com o passar do 
tempo ela passou a se ocupar do estudo do léxico e sua descrição. Nas tradições teóricas 
sempre foi vista como a vertente aplicada da lexicologia (LORENTE, 2004, p. 21). 
A Lexicografia foi instituída, de fato, com a elaboração dos primeiros dicionários nos 
séculos XVI e XVII. Desde então, a chamada ciência dos dicionários vem ganhando espaço 
nos meios científicos. Na atualidade, os dicionários de uma língua são valiosos tesouros no 
24 
 
 
que se refere ao acervo cultural de um povo. Isso porque ele possui as mais significativas 
descrições conceituais de dada sociedade, o que certamente está ligado à sua cultura. 
(BIDERMAN 2001 apud OLIVEIRA; ISQUERDO 2001, p.17). Convém insistir que o 
dicionário de uma língua deve ser visto como um objeto muito valioso no que tange à cultura 
de um povo, sendo considerado pelos mais renomados estudiosos do léxico como um tesouro 
cultural e lexical. 
Partindo dessas considerações, compreendemos que estudar sobre a Lexicografia e 
versar sobre esta ciência é muito importante para a preservação e propagação dos conceitos 
adquiridos e empregados ao longo das experiências cognitivas e sociais dos povos. Pois a 
pesquisa da cultura de um povo é uma tarefa fascinante e motivadora. Pois, diante da 
dinamicidade da língua e seu caráter mutável, é que torna possível descrever o léxico que as 
gerações futuras das comunidades linguísticas podem ter acesso aos seus acervos lexicais. 
 Com efeito, não é uma prática tão comum quanto deveria ser o uso de dicionários 
por uma camada significativa de brasileiros, muito embora já disponhamos de trabalhos 
lexicográficos muito valiosos em nosso país. Mas esta é uma questão a ser discutida em outro 
momento. O certo é que temos excelentes trabalhos nesse ramo, como o dicionário Aurélio da 
Língua Portuguesa, escrito por Aurélio Buarque de Holanda, um dos nomes mais respeitado 
quando o assunto é trabalho lexicográfico no Brasil. 
Tomando “o dicionário como um objeto semiótico”, Krieger (2008) diz que 
 
Ao registrarem o conjunto das unidades lexicais das línguas comuns ou das 
chamadas linguagens de especialidade, as obras lexicográficas remetem a universos 
sociais, culturais, científicos, tecnológicos, jurídicos entre outros, estabelecendo sua 
dimensão textual. Trata-se assim de uma categoria de texto que fala da cultura, pois 
o léxico, em virtude de sua natureza primeira de nomear, é semanticamente co-
extensivo à cultura que o suporta e à realidade por ele recortada. (KRIEGER, 2008, 
p.3). 
 
Nesse sentido, os estudos lexicográficos contribuem para a manutenção e 
formalização de registros linguísticos dos povos, de modo a perpetuar também informações 
valiosas sobre a cultura desses povos, tendo em vista o caráter social e cultural do léxico. 
Mas, embora o trabalho feito por profissionais desta área seja fundamental para a 
perpetuação das normas lexicais vigentes no meio social, conforme sugere (BIDERMAN, 
apud OLIVEIRA e ISQUERDO 2001, p.19), o dicionarista é apenas o responsável por 
registrar os vários conceitos e dizeres presentes em uma dada comunidade linguística. Em 
outras palavras, é no cotidiano de um povo, em suas práticas sociais que se estabelecem os 
conceitos e novas palavras. Sendo, portanto, a comunidade linguística, a peça mais importante 
25 
 
 
nesse processo, apesar de o papel do lexicógrafoser indispensável para a descrição e registro 
dessas normas. 
Feitas tais considerações, vale destacar ainda a importância dos dicionários bilíngues 
que são imprescindíveis aos estudantes de língua estrangeira nos seus primeiros contatos com 
outras línguas. Pois é nesse tipo de material que os estudantes fazem suas primeiras pesquisas 
acerca do vocabulário vigente nessa nova língua a ser descoberta. Acerca da importância dada 
à “obra lexicográfica”, Krieger (2008, p.4)
, 
afirma que ela é “o cartório das palavras”, já que 
dá a elas a “certidão de nascimento”. Assim, o dicionário bilíngue é tão importante quanto os 
demais tipos de obras lexicográficas. No entanto, vale dizer que ainda percebemos uma lacuna 
a ser preenchida nesse tipo de obra no tocante ao registro de algumas ocorrências comuns nas 
línguas estrangeiras, mas que os estudantes bilíngues costumam ter pouco acesso: as gírias e 
expressões idiomáticas. 
Com efeito, sabemos que existem materiais específicos voltados para os registros 
desse tipo de ocorrência linguística. Todavia, entendemos que a agregação dessas ocorrências, 
em dicionários oficiais, ainda que nos dicionários digitais/online facilitariam a compreensão 
tanto da língua em desenvolvimento quanto da cultura que a permeia. 
 
1.3.3 A Terminologia: léxico, termos técnicos específicos 
 
Compreender alguns termos aplicados na linguagem técnica/científica de uma língua 
não era tão viável em tempos passados, sobretudo quando se tratava de uma língua 
estrangeira. A Lexicografia muito contribuiu, desde suas primeiras obras, para o registro e 
popularização desses termos. Hoje, com a globalização e o advento da internet já é possível 
ter acesso a informações, outrora restritas, em apenas um clique. 
Com efeito, as obras lexicográficas são fundamentais para se fazer conhecer esse 
universo de palavras que permeiam as várias áreas do conhecimento científico e tecnológico. 
No entanto, sem os trabalhos terminológicos isso não seria possível. Como o próprio nome 
infere, a Terminologia é a ciência que se ocupa de estudar o léxico de uma língua, com o 
olhar voltado para os termos específicos das várias áreas do conhecimento. 
 Para muitos estudiosos da linguística, a Terminologia é considerada uma disciplina 
que se ocupa em estudar os termos específicos das várias áreas da ciência, artes, dentre outros. 
Acredita-se que os estudos terminológicos no Brasil começam a se fortalecer somente na 
década de 1980. Conforme a evolução tecnológica, científica, etc, das sociedades em geral, 
houve a necessidade de se estudar os termos técnicos que iam surgindo, até mesmo para 
26 
 
 
falantes de línguas estrangeiras que se deparavam com termos específicos de determinadas 
áreas profissionais ou científicas e tinham dificuldade em compreendê-los. Para suprir essa 
necessidade, surge a Terminologia, na qualidade de disciplina científica que estuda as 
chamadas línguas (ou linguagens) de especialidade e seu vocabulário, que desempenha um 
papel fundamental nesse processo (BARROS, 2004, p.21). Mas, apesar da sua grande 
importância para as várias áreas do conhecimento, essa ciência ainda se restringia ao meio 
universitário. 
 Com o passar do tempo esses estudos se expandiram, deixando de ser somente 
pesquisas universitárias e chegando às empresas com o intuito de simplificar a compreensão e 
comunicação na troca de informações entre os mais diversos campos do conhecimento. Nesse 
sentido, a terminologia passa a ser de interesse não só dos cientistas renomados da área, mas 
se torna interessante para cientistas das mais variadas áreas. 
Segundo Andrade (2001, p. 192), a Terminologia e a Lexicologia estão interligadas 
de modo que a Lexicologia pode ser considerada como parte específica da Terminologia, 
tendo em vista que a terminologia estuda as palavras que integram as linguagens técnicas, 
especializadas das várias áreas de conhecimento e a Lexicologia se ocupa dos estudos do 
léxico de modo mais amplo, integral. Nesse sentido, Lorente (2004, p. 29) afirma que o 
objetivo da Terminologia “é dar conta do funcionamento das unidades lexicais especializadas 
em situações comunicativas profissionais, acadêmicas ou científicas”. 
Num tecer de fios sobre a Terminologia, Clas (2004) diz que “o sentido vai opor, 
certamente, a palavra ao termo, especificando que a palavra está ligada, de forma ampla, a seu 
ambiente textual, mas que o termo depende de seu ambiente pragmático”. (CLAS, 2004, p. 
225). Em outras palavras, a palavra é mais ampla, abrange conceitos de modo geral, enquanto 
que o termo é voltado para conceitos específicos que se constituem por meio das palavras em 
práticas cotidianas de um povo em áreas específicas e não em uma esfera global. Por fim, 
palavra e termo são semelhantes no que se refere à sua função comunicativa e conceitual, mas 
distintas em suas ações/finalidades específicas. 
Ainda conceituando Terminologia, Andrade (2001) diz que “a terminologia pode ser 
encarada como uma “especificidade” da Lexicologia, uma vez que trata, não de todas as 
palavras da língua, mas daquelas que constituem as linguagens especializadas. ” (ANDRADE, 
2001, p. 192) 
Sendo assim, entendemos que os estudos lexicais são trabalhos de suma importância 
para a linguística, de modo que com a criação das ciências do léxico esses trabalhos puderam 
ser realizados de forma sistematizada, propiciando melhor compreensão do léxico e seu 
27 
 
 
funcionamento. E como já foi dito anteriormente, essas ciências têm em comum o seu objeto 
de estudo, o léxico, embora o analisem de modos distintos. O que implica numa contribuição 
significativa dessas disciplinas para os estudos linguísticos, englobando cientificamente 
pesquisas e descrições acerca do léxico de um povo e sua cultura. 
Diante de tais descrições sobre as ciências do léxico, ressaltamos que a ciência que 
nos interessa para nortear nossa pesquisa é a Lexicologia, em outras palavras, é na 
Lexicologia que nossa pesquisa está fundamentada. 
 
1.3.4 Neologismo: criação e produção Lexical 
 
A criatividade lexical, segundo Alves (1994), vincula-se à Neologia, processo de 
criação lexical que propicia aos falantes expandirem e renovarem o acervo lexical que usam 
articulando o signo linguístico criativamente. A autora em tela afirma, ainda, que o 
neologismo é o resultado do processo de neologia e que esses neologismos podem se formar a 
partir de processos autóctones ou por mecanismos linguísticos provenientes de outros 
sistemas linguísticos. 
 Derivação e composição são mecanismos de ampliação lexical que a língua 
portuguesa herdou do latim. Além desse mecanismo, há também o mecanismo de criação 
lexical por empréstimo que se dá por meio de intercâmbio cultural entre povos e resulta numa 
intensa inserção de vocábulos estrangeiros no léxico da língua portuguesa. Diante da 
premissa de que a língua portuguesa possui mecanismo de ampliação lexical e que esse 
sistema perpassa gerações, como patrimônio linguístico, em que os usuários nativos dominam 
com exímia eficiência, destaca-se a criatividade léxica que permite ao usuário da língua 
operacionalizar a expansão lexical por meio de sua competência linguística. 
Correia e Almeida (2012, p. 19) assinalam a “produtividade lexical como a 
capacidade inerente ao próprio sistema linguístico que permite a construção de palavras por 
processos interiorizados, aplicados normalmente de modo inconsciente e sistemático.” O 
neologismo correlaciona-se com a produtividade lexical, uma vez que a criação de palavras 
consiste em produzi-las. Entretanto, as autoras destacam o neologismo de língua como 
unidades lexicais que constituem palavra nova, mas não detém característica inovadora, 
porque os usuários da língua se valem da competência derivacional que possuem para 
produzir neologismos que aparentemente iguais às unidades lexicais já existentes. Exemplo: 
advérbios constituídospelo sufixo -mente. 
28 
 
 
Quanto à criatividade lexical, Correia e Almeida (2012, p. 19) assinalam: “[...] 
criatividade lexical, entendida como a capacidade que o falante possui para alargar o sistema 
linguístico, de forma consciente, por meio de princípios de abstração e comparação 
imprevisíveis, mas claramente motivados.” Os neologismos estilísticos são exemplos da 
criatividade envolvida na produção de palavras novas, visto que tal mecanismo consiste numa 
expressividade discursiva enfática de algo já existente, mas que precisa ser expresso de 
maneira inovadora, diferente. 
 
1. 3.5 Neologia e neologismos: novidade lexical 
 
Como foi dito anteriormente, de acordo com Correia e Almeida (2012), a neologia 
consiste no processo de criação lexical enquanto que o neologismo é o produto desse 
processo, isto é, o neologismo é a palavra nova em si. O estudo voltado para o aspecto de 
expansão do léxico envolve vários fenômenos linguísticos, no entanto, nesta abordagem, nos 
deteremos no neologismo. Um dos parâmetros essenciais para entendermos esse fenômeno é o 
conhecimento sobre o caráter natural da língua portuguesa. 
A língua portuguesa, segundo Teyssier (1982), constituiu-se numa dinâmica de 
intercâmbio cultural entre os romanos e os povos situados na península itálica. A partir dessa 
interação originou-se o latim vulgar, isto é, do latim falado pelos soldados que falavam o 
latim vulgar, uma variação do latim clássico, falado pelos eclesiásticos. O latim vulgar ao 
conectar-se com outras línguas foi naturalmente variando, inovando, mudando, expandindo-
se. O neologismo é um dos fenômenos linguísticos que propiciam essa dinâmica, já que, 
segundo Correia e Almeida (2012), a mudança, a inovação são peculiaridades da língua 
natural. 
A flexibilidade das palavras, característica do sistema das línguas naturais, se 
fundamenta nas combinações entre radicais e afixos. Correia e Almeida (2012) afirmam que 
os radicais/raízes são unidades de significado lexical, enquanto que os afixos (sufixos e 
prefixos) detêm significado gramatical. Os radicais apesar de terem significado e significante 
não possuem status de palavra porque não são articuláveis, flexíveis. Contudo, a formação de 
novas palavras incide, justamente, na junção do radical (unidade de significação lexical) com 
sufixos e prefixos (unidades de significação gramatical). 
O processo de criação do léxico pode ocorrer por meio da neologia denominativa que 
nada mais é do que nomear novas realidades, objetos e entidades em geral. Há também a 
neologia estilística atrelada à necessidade de nomear algo que já existe, projetando a 
29 
 
 
subjetividade do agente nomeador sobre o objeto por ele denominado, tornando a nomeação 
original, inédita e inovadora. Ocorre, também, a neologia de língua que é um tipo de 
mecanismo de expansão lexical que cria uma palavra nova a partir do mecanismo próprio da 
língua sem destoar da estrutura usual da língua, em que se formam advérbios terminados em 
–mente; adjetivo em –vel ou particípios passados adjetivados. Assim, explicitamos os tipos 
de neologismos em 1.3.6. 
 
1.3.6 Tipos de Neologismos 
 
Alves (1994) assinala que o neologismo fonológico é um tipo de criação lexical, cuja 
novidade afeta o significante do signo linguístico, ou seja, na dimensão sonora do signo. 
Contudo, segundo a autora, é raro um neologismo essencialmente fonológico, porque para ser 
completamente inédito não pode ser baseado em nenhuma outra palavra já existente, teria de 
ser imotivado. 
Correia e Almeida (2012) asseguram que a onomatopeia é como um neologismo 
fonológico, que de certa forma, tem o significante inédito. Entretanto, ocorre que esta criação 
não é totalmente imotivada, porque, geralmente, as onomatopeias são criadas para expressar 
algum tipo de entidade sonora como grito, ruídos em geral e isso a tira o caráter de ineditismo. 
As autoras também explicitam que o neologismo sintático é um tipo de criação 
lexical que, ao contrário do fonológico vincula-se a elementos linguísticos já existentes, numa 
combinação de elementos constituintes tanto no nível lexical que inclui combinação de 
radicais e afixos quanto no nível frásico. Nesse contexto, para Correia e Almeida (2012), há 
neologismos formados por derivação prefixal, derivação sufixal que podem provocar 
mudança de classe de palavras, mudança de função; há, também, o recurso de criação de 
palavras por composição que envolve justaposição e aglutinação, sintagmática, por siglas, etc. 
As autoras/pesquisadoras asseguram que os neologismos semânticos promovem 
mudança e inovação de significado/sentido da unidade lexical sem, contudo, promover 
alteração na estrutura da mesma. Assim, destacamos a metáfora, metonímia, sinédoque, a 
gíria como recursos neológicos semânticos. Destacam-se, ainda, processos neológicos de 
truncação, palavra-valise, reduplicação, derivação regressiva, Neologismos por empréstimos 
como estrangeirismo, decalque, etc. 
Cabe destacar a diferença entre os processos neológicos de derivação e composição 
abordada por Correia e Almeida (2012). Para elas, esses processos de construção se 
distinguem a princípio pela dificuldade de definir se a construção de determinadas palavras se 
30 
 
 
deu por meio do processo de derivação por prefixação ou por composição como nas seguintes 
construções: hipermercado, psicopedagogo. 
As autoras explicitam as peculiaridades do processo de derivação afixal e de 
composição. 
a. Na derivação afixal em que um prefixo e/ou sufixo se juntam a um determinado 
radical para formar uma nova palavra, nestas hipotéticas construções, apenas o 
radical possui propriedade significativa. 
b. No processo de composição, as unidades composicionais já existem de maneira 
autônoma ou não no léxico e, por isso, têm propriedades significativas, pois são 
unidades lexicais que se unem para formar outra. 
c. A derivação é um processo de formação de palavras regido por regras, o que 
permite, dentre outras coisas, prever o significado da hipotética palavra nova, os 
afixos de uma dada língua são limitados o que torna tal processo mais regular que o 
processo de composição. 
d. Os afixos são unidades essencialmente gramaticais, o que significa que não 
oscilam semanticamente, por isso são conhecidas, também, como unidades fechadas. 
Outra característica dos afixos consiste no fato de que existem em número limitado. 
(CORREIA; ALMEIDA, 2012, p. 36) 
 
Já o processo de composição, de acordo com Correia e Almeida (2012), é um 
processo menos previsível, já que: 
 
a. As possibilidades de combinação são praticamente ilimitadas, visto que o 
processo de composição pode ser efetuado por qualquer unidade; 
b. A imprevisibilidade também se estende ao nível sintático, visto que nesse a 
composição é influenciada por fatores extralinguísticos; 
c. Os elementos integrantes de uma dada composição possuem significado lexical e 
pertencem às classes de palavras, tais como: substantivos, adjetivos, verbo, 
advérbio. (CORREIA; ALMEIDA, 2012, p. 37) 
 
Correia e Almeida (2012) informam que a derivação e a composição são mecanismos 
neológicos que se desdobram por meio vários outros mecanismos como derivação imprópria 
(quando ocorre mudança de classe de palavra) derivação regressiva (um tipo de derivação que 
se constrói por meio da retirada de um elemento da unidade lexical que, no caso, sempre é um 
verbo que se nominaliza); derivação afixal (que pode ser prefixal, sufixal ou parassintética). 
No caso da composição pode ser: morfológica (relação entre os elementos constituintes das 
palavras), composição morfossintática (relação estabelecida entre as palavras num sintagma), 
recomposição (quando um determinado radical é ressignificado e o usuário da língua constrói 
outras palavras com tal radical que teve seu campo semântico dilatado). 
 Para Correia e Almeida (2012), há o fenômeno neológico pormeio dos amálgamas 
que são vocábulos constituídos pela junção de fragmentos de palavras distintas, como por 
exemplo, aborrescente que se configura pela fusão das palavras aborrecimento e adolescente. 
As autoras apresentam o processo de produtividade lexical ao qual elas denominam truncação 
31 
 
 
ou abreviação vocabular que ocorre mediante o corte de palavras de quatro sílabas em diante, 
de modo que o corte diminui a palavra provocando uma espécie de abreviação como, por 
exemplo, o uso do vocábulo cerva para designar a ideia vinculada ao vocábulo cerveja. 
As autoras também apontam os recursos semânticos como fonte geradora de novas 
palavras. Elas usam a expressão extensão semântica para tratar da operacionalização que os 
usuários da língua efetuam atribuindo novos significados às palavras/vocábulos já existentes. 
A metáfora e a metonímia são mecanismos do processo de extensão semântica. Esses 
mecanismos são abordados por Correia e Almeida (2012) que incluem a gíria dentre os vários 
mecanismos neológicos. Para Preti (1984), a gíria consiste numa estratégia de comunicação 
que facilita a troca de informações entre indivíduos que têm necessidades em comum, uma 
vez que a vivência em grupo requer compartilhamento de ideias via língua(gem). Por isso, 
entendemos a gíria como um fenômeno linguístico de expansão do léxico que de acordo com 
Preti (1984) permite que o usuário da língua ante a necessidade de se deslocar dentro de um 
discurso, inovando, atualizando o léxico do grupo linguístico do qual faz parte. 
Assim, o estudo da gíria como fenômeno linguístico que, de acordo Preti (1984), é 
uma linguagem especial que mostra a originalidade de um recurso utilizado como elemento de 
autoafirmação. Mas, além da originalidade, a gíria é usada como elemento de oposição à 
linguagem tradicional, se opondo, principalmente, ao padrão linguístico. 
Após a apresentação dos aspectos teóricos que envolvem, em primeira instância, a 
linguagem, discorrermos sobre as gírias, afim de melhor expor os estudos das letras de rap. 
Então, dada à significância desse fenômeno, elaboramos um capítulo sobre gíria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
2. GÍRIA: NEOLOGISMO SEMÂNTICO POPULAR 
 
Preti (1984) explica que o fenômeno gírio teve origem no vocabulário popular, 
principalmente no vocabulário dos malfeitores, sem descartar os grupos de universitários e 
grupos de trabalhadores, etc. O autor afirma também que a gíria nasce no seio de grupos 
sociais e permanece restrito ao uso dos falantes desses grupos e, num momento posterior, 
perde seu caráter restrito e torna-se de uso comum. Agora, vejamos o conceito de gíria no 
Dicionário Aurélio (1988): 
 
Gíria s.f 1. Linguagem de malfeitores, malandros, etc., com a qual procuram 
não ser entendidos pelas outras pessoas, calão. 2. Linguagem peculiar àqueles que 
exercem a mesma profissão ou arte; jargão. 3. Linguagem que, nascida num 
determinado grupo social, termina estendendo-se, por sua expressividade, à 
linguagem familiar de todas as camadas sociais. 4. Palavra ou expressão gíria. 
(FERREIRA, 1988, p. 323). 
 
O conceito do verbete gíria contidos no dicionário Aurélio, provavelmente, foram 
baseados nas proposições de Preti (1984), pois a publicação do referido dicionário ocorreu 
quatro anos após a publicação desse pesquisador do fenômeno gírio cujo registro foi 
exatamente igual ao que consta no dicionário Aurélio. A conceituação de Preti (1984) mostra 
que apesar de o fenômeno gírio ser essencialmente popular, não se apresenta da mesma forma 
em todas as sociedades, visto que existe sociedade na qual a gíria é mais restrita aos grupos, 
mantendo um perfil mais sigiloso; em outras, a gíria se apresenta mais popular, de uso geral, 
disponível a todos. Isso indica, segundo o autor, que o estudo do fenômeno gírio implica 
estudar, também, as estruturas sociais de tais grupos. 
Para o autor, o estudo da gíria, dos termos técnicos e das palavras obscenas está 
ligado à sociolinguística e, por isso se relaciona à questão da variedade linguística, dos 
dialetos sociais, dos registros que constam em cada dialeto, do idioleto, ao contexto, à 
situação circunstancial, etc. 
Vejamos a definição do termo gíria no dicionário Houaiss (2015, p.489) “Gíria. sf. 
LING. vocabulário informal e próprio de um grupo social.”. Percebamos que, nesta definição, 
usa-se o termo vocabulário para abordar o fenômeno gírio. A partir da afirmação de que a 
gíria é proveniente da linguagem popular e é um elemento do vocabulário, compreendemos 
que a gíria é fenômeno que nasce da língua em uso, ou seja, a gíria está no nível da fala, uma 
vez que, para Barbosa (2001), o termo vocabulário é relativo à fala. Ainda acerca do termo 
vocábulo, Dubois et al (2004) diz que um vocábulo pode expressar uma ideia por meio de 
33 
 
 
uma ou mais palavras, exatamente como está definido no dicionário Aurélio “palavra ou 
expressão gíria”. 
Partindo da proposição de Preti (1984) de que vocábulo expressa ideia constituída 
por uma ou por mais de uma palavra, expomos dois vocábulos, que segundo Preti (1984, 
p.25), pertencem à gíria carcerária, tais como: “abutre diz-se do detento que explora o 
companheiro, vendendo-o, delatando-o, com benefícios próprios”. Em abutre a construção de 
sentido é realizada por apenas um formante/palavra. Já em “Cela das noivas é, no seu humor 
amargo, aquela em que os prisioneiros passam a primeira noite, não raro sujeitos às violências 
sexuais dos líderes”. Neste caso, a construção de sentido se dá por meio de um sintagma 
constituído por: substantivo + preposição + substantivo. 
No caso do vocábulo gírio abutre, ocorre o neologismo semântico, visto que o 
sentido do vocábulo se dilata, por meio da polissemia. Neste caso, ocorre uma extensão 
semântica que para Correia e Almeida (2012, p. 62) é “um dos processos mais produtivos de 
inovação vocabular consiste na aquisição de novos significados por parte de palavras já 
existentes”. Já na composição, cela das noivas que apesar de, também, transmitir uma 
modificação no sentido, chamamos atenção para forma do sintagma. Este tipo de formação 
com mais de um formante/palavras, para Alves (1994) o neologismo formado por sintagma é 
considerado como neologismo sintático. 
 Neste tipo de construção neológica, segundo Alves (1994) ocorre uma combinação 
de vários elementos linguísticos que extrapolam nível lexical e alcançam o nível frásico, 
constituindo um construto frasal com valor de unidade lexical. Nestes dois exemplos, o que 
chama atenção é que a extensão semântica ocorre nas duas construções, mas no segundo 
exemplo, a dilatação de sentido se dá no conjunto das três palavras cela + das + noivas, ou 
seja, a dilatação de sentido se dá em bloco. 
Nesse contexto de uso da gíria, Preti (1984) destaca que e a maioria dos falantes, 
apesar de transgredir o signo linguístico, articulando com destreza os mecanismos léxico-
semânticos que exemplificamos anteriormente, não descaracteriza o sistema linguístico, no 
sentido de criar um novo código linguístico. Para o autor, o que ocorre é tão somente 
alterações que se dão no nível do significado/sentido por intermédio de metáforas e alterações 
de significantes de vocábulos usuais como, por exemplo, satisfa, vivaldino, etc., o que não 
descaracteriza o sistema linguístico. 
Para Preti (1984), o estudo do fenômeno gírio pode ser abordado por dois vieses, um 
que priorize os aspectos sociais e outro direcionado ao fato linguístico. Este último, ele, o 
autor, coloca como: “interesse linguístico pelo fato social”. Nesta direção, o autor explicita 
34 
 
 
que o estudo da gíria tomado por um viés linguístico envolve apreciação do vocabulário, das 
variações, das particularidades semânticas e morfológicas. Por isso, destacamos algumas 
peculiaridades do sistema linguístico do português. 
 
2. 1 PALAVRA GRÁFICA E PALAVRA DA LÍNGUA 
 
Considerando aspremissas que Preti (1984) expõe acerca do estudo da gíria, convém 
assinalar algumas ideias básicas do estudo lexicológico, já que a gíria é uma unidade 
vocábulo/unidade lexical/palavra. Para Correia e Almeida (2012), o termo palavra é de difícil 
definição, contudo, as autoras conceituam palavra como uma sequência de sons (significante) 
ao qual é associado um padrão flexional, uma categoria morfossintática e um ou vários 
significados. 
As autoras em tela apresentam dois tipos de palavras, as palavras gráficas e as 
palavras da língua que representam a modalidade escrita e a modalidade falada, 
respectivamente. A palavra gráfica é uma sequência de caracteres delimitados por espaços em 
branco e, as palavras da língua apresentam-se tanto numa dimensão superior quanto numa 
dimensão inferior à palavra gráfica. 
De acordo com as asserções de Correia e Almeida (2012), entendemos que a palavra 
gráfica é única, já que os espaços em branco a delimitam, enquanto a palavra da língua pode 
ser superior à palavra gráfica pelo fato de ser constituída por várias sequências de caracteres 
delimitados por espaços em branco. As autoras afirmam que os compostos sintáticos, como 
por exemplo, casa da saúde e sala de jantar; e as locuções por cima de (preposicional), visto 
que (conjuncional), eu mesmo (a) (pronominal) e de cor (adverbial) são exemplos de palavras 
da língua. 
 Correia e Almeida (2012) destacam, também, as estruturas inferiores à palavra 
gráfica que elas denominam de unidades infralexicais que são as raízes e os afixos. A 
raiz/radical é classificada, pelas autoras, como unidade infralexical de significado lexical, cuja 
principal característica é a falta de autonomia, uma vez que não se flexionam, apesar de 
possuir significante, significado e categoria morfossintática não possuem o padrão flexional. 
Ou seja, as unidades infralexicais de significado lexical, segundo Correia e Almeida (2012), 
não podem funcionar sintaticamente, funcionam tão somente para a formação de outras 
palavras. Quanto aos afixos que, segundo as autoras, são classificados como unidades 
infralexicais de significado gramatical que têm apenas função gramatical de se associar às 
unidades de significado lexical para construírem novas palavras. 
35 
 
 
Na construção da gíria, estes mecanismos podem ser operacionalizados de muitas 
formas. O falante tem liberdade de trabalhar com as palavras da língua da maneira que a sua 
criatividade linguística permitir. De acordo com Preti (1984, p. 80-81), “[...] a língua toma 
uma função instrumental e serve aos interesses imediatos das relações sociais, destinando-se a 
comunicar e expressar nossos pensamentos.” Assim sendo, verificamos que o diálogo do 
usuário da língua com o meio e com os demais usuários da língua é o fator que estimula o uso 
gíria, já que esta emerge do convívio social. 
 
2.2 A GÍRIA E A CRIATIVIDADE LEXICAL DE CARÁTER SEMÂNTICO 
 
Para Preti (1984) a gíria e, principalmente, as palavras obscenas e o discurso de 
malícia são envoltos num “jogo semântico”, numa acepção de ambiguidades, significações 
implícitas, Para Marcuschi (2007, p.59), “[...] o significado é parte integrante da palavra, 
pertencendo tanto ao pensamento como à linguagem: uma palavra sem significação é vazia.” 
Segundo Preti (1984), o falante ao usar gírias ou discursos maliciosos, algumas vezes, 
manifesta seus pensamentos, suas intenções de maneira velada, numa estratégia de usar tais 
recursos linguísticos de maneira sutil de modo a não se comprometer. 
Contudo, o autor diz que tal estratégia requer um diálogo em que os interlocutores 
compartilhem das mesmas informações contextuais, situacionais, culturais que permitam 
inferências que possibilitem ao interlocutor entender o significado implícito. Essas estratégias 
semânticas, segundo Alves (1994), podem ocorrer por meio da metáfora, metonímia, 
sinódoque, etc. 
Neste particular, o que se destaca é a criatividade linguística. Nos termos de 
Marcuschi (2007), “[...] a criatividade não se acha ao nível do uso de símbolos linguísticos, 
mas no nível da atividade que produz o conhecimento que os símbolos transmitem”. Para o 
autor em tela, a criatividade centra-se na capacidade de transmitir, com excelência, o 
conhecimento que foi criado a partir da transgressão da norma linguística instituída. Assim, de 
acordo com Preti (1984) a gíria e o discurso obsceno é uma estratégia em que os falantes 
usam muito os recursos semânticos e ignoram toda tentativa de padronização linguística, pois 
nos termos de Preti (1984, p.8), “a gíria esse vocabulário parasita continuará como elemento 
diferenciador e catártico a que certos grupos jamais renunciariam sob pena de perderem uma 
das formas mais eficientes de marcarem sua presença na grande comunidade”. 
36 
 
 
2.3 GÍRIA: SIGNO SOCIAL 
 
 Preti (1984) aborda a temática gíria, enfatizando-a como “um signo de agressão e 
defesa na sociedade”, nessa abordagem ele afirma que a gíria se origina ante aos anseios 
sócio-políticos que emanam da comunicação necessária para a interação e vivência em 
sociedade e, consequentemente, das relações socioculturais entre os falantes. Para o autor, o 
seio social é um aspecto muito importante no estudo da gíria porque é na linguagem popular 
que a gíria se torna fenômeno linguístico. Para o autor, a gíria é um hábito linguístico cuja 
manutenção se dá por meio do uso. Ou seja, o falante, ao comunicar-se, atualiza o código 
linguístico, pautado em tudo que o rodeia, principalmente, nos aspectos políticos/ideológicos 
que permeiam a vida deles no grupo social. 
Considerando a comunicação como foco da interação dos falantes em perspectiva 
social, cultural e política, Preti (1984) afirma que dentro do seio social existem vários grupos 
de falantes que atuam politicamente, como por exemplo, os estudantes, policiais, marginais, 
etc. Para o autor, os falantes, enquanto atores sociais tendem a manifestar seus anseios 
políticos por meio de estratégias linguísticas como a gíria, já que este fenômeno diferencia-se 
do uso do vocabulário comum, convencional e, devido a isso, causa estranhamento. Nesse 
sentido, cabe destacar os rappers como grupo de falantes que atuam politicamente na 
sociedade e que fazem uso da gíria para expor a realidade das periferias e protestar contra 
preconceitos raciais, desigualdades sociais, etc. Contudo, ao fazerem uso de gírias, os 
rappers, são vistos, geralmente, como marginais. 
O estranhamento, por sua vez, é manifestado, segundo o autor, por intermédio da 
crítica, uma vez que o uso da gíria, geralmente, soa num tom agressivo, e o estranhamento se 
dá, justamente, por infringir as normas linguísticas preestabelecidas na comunidade 
linguística em geral. Contudo, Preti (1984) assegura que além da crítica surge também, em 
contrapartida, a curiosidade, uma vez que a gíria é uma forma de o falante demonstrar seu 
posicionamento político dentro da sociedade e tal posicionamento é manifestado por ideias 
implícitas nos termos giriáticos e o uso deles instiga os demais falantes quanto aos seus 
eventuais significados. 
Assim, Preti (1984) assinala que o surgimento da gíria ocorreu dentro de grupos 
restritos que coexistem dentro da sociedade e que tal fenômeno marca o conflito de ideais 
entre variados grupos que incluem marginais e intelectuais, cuja maioria é formada por 
jovens. Para o autor, a cosmovisão do jovem é, naturalmente, questionadora, crítica, de modo 
37 
 
 
que os jovens tendem a posicionarem-se, politicamente, de modo transgressor. Para o autor, 
essa transgressão se dá no sentido de que o jovem faz uma releitura das circunstâncias sociais 
e tende a contestar as regras de um modo geral por intermédio da fala. Essa subversão das 
regras é demonstrada no âmbito da linguagem, principalmente, por meio da modalidade 
falada, visto que isso constitui uma estratégia que marca de forma imediata e explícita a

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