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Neuropsicologia_e_Aprendizagem

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Neuropsicologia 
e aprendizagem: 
contribuições à 
Psicopedagogia 
 
Fundamentos necessários para 
planejamento do ensino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIRCULAÇÃO INTERNA 
 
 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
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1 
SUMAÁ RIO 
 
MENSAGEM............................................................................................................................................. 2 
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3 
 
UNIDADE 1 
 
Capítulo 1- Neuropsicologia: O que é? Como surgiu? 
 
O que tem a ver com a aprendizagem?.................................................................................... 5 
 
Capítulo 2- Como se organiza o Sistema Nervoso?........................................................... 16 
 
UNIDADE 2 
Capítulo 3- O cérebro: Qual sua função?................................................................................ 
24 
 
Capítulo 4- Mais um pouco sobre o cérebro........................................................................ 30 
 
UNIDADE 3 
Capítulo 5- As partes do encéfalo............................................................................................. 
34 
 
Capítulo 6- As unidades funcionais do cérebro segundo Lúria..................................... 49 
 
UNIDADE 4 
Capítulo 7- O sistema nervoso e a aprendizagem: 
considerações.......................................................................................................................................... 
 
 
53 
 
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
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2 
MENSAGEM 
 
Do ponto de vista psicopedagógico, creio que temos avançado bastante na busca 
pela compreensão dos processos de aprendizagem e conscientizado muitos profissionais 
a tornarem-se mais sensíveis ao tempo do outro, ajudando-os a perceber que cada aluno 
é um ser individualizado e, como tal, deve ser tratado, levando em consideração este ser 
nas suas relações sociais, familiares, cognitivas e escolares. 
Entretanto, compreender como esta aprendizagem acontece do ponto de vista 
neuropsicológico tem despertado o interesse de muitos, já que a Neurociência tem 
trazido informações importantes, que não são mais possíveis de serem ignoradas. Hoje já 
podemos encontrar cursos de especialização em Neuropsicologia da Aprendizagem, 
Neuropedagogia, Neuropsicopedagogia, todos buscando informar e alertar aos 
profissionais de ensino que, por trás de cada aluno, existe um cérebro e que se faz 
necessário compreender seu funcionamento para que novas formas de ensino sejam 
inventadas e reinventadas proporcionando ao cérebro melhor assimilação e acomodação 
destas informações. 
 
Muitos professores de alfabetização se questionam por que algumas crianças 
demoram a se alfabetizar, já que os mesmos recursos são utilizados para todos os 
alunos. Entretanto, não percebem, ou não se dão conta, que pode existir um cérebro 
ainda imaturo e que a idade de 6 a 7anos não é parâmetro para garantir tal 
aprendizagem, sendo imprescindível que este cognitivo seja estimulado para que 
amadureça e avance. 
Esperamos que esta disciplina possa responder a estas e tantas outras perguntas 
que possam surgir..... 
Bons estudos a todos! 
 
 
Esta disciplina busca responder à perguntas, 
tais como: 
O que é o cérebro? O que é Neuropsicologia? O 
que se pretende investigar em uma avaliação 
neuropsicológica? Que partes compõem o encéfalo? 
Como a informação se processa? Como a 
aprendizagem acontece? Se o cérebro possui 
características inatas para a aprendizagem, por 
que ainda assim não aprendem? Quais são as 
contribuições para a Psicopedagogia? 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 
 
3 
INTRODUÇAÃ O 
 
A maioria dos profissionais envolvidos com as questões do binômio ensino e 
aprendizagem, mesmo os profissionais formados academicamente nas ações 
pedagógicas, desconhece muito do como se aprende, centrada que fica nas questões de 
como se ensina, como se o binômio não existisse. 
Geralmente se pergunta a profissionais do ensino quem está na sala de aula? 
Recebe-se muitas respostas, tais como: o aluno, a família, a sociedade, o governo etc. 
(provavelmente por conta da própria formação que oferece um pensamento socializado 
e filosofizado - da existência humana), porém, em raríssimas exceções, alguém fala que o 
corpo do aluno e toda sua configuração psicobiológica está presente. Quanto ao sistema 
nervoso, nunca houve uma só resposta sobre sua presença em uma sala de aula até hoje. 
Nem mesmo quando na condição de alunos, conseguem perceber-se como um 
organismo. É como se os que aprendem fossem entidades mentais, espirituais, fora do 
plano tridimensional em que vivemos. 1 
Podemos entender melhor essa falta de reconhecimento de um aparelho 
biológico envolvido na aprendizagem quando percorremos a história e encontramos 
que, a princípio, os alunos que davam problemas eram reconhecidos como doentes, aí 
sim, seus problemas derivavam de fatores orgânicos, em uma perspectiva somática. Ao 
longo do tempo, essa perspectiva somática foi substituída por uma perspectiva 
socioeconômica que passou a admitir "apenas a influência dos fatores do meio no 
desenvolvimento da inteligência" (PINHEIRO, 2005 p.176). Continua Pinheiro: 
[...] a crença de que o aprendizado ocorre na mente e esta não tem nada a ver com o 
corpo levou muitos educadores a acreditar que o estudo do corpo cabia apenas aos 
profissionais da área da saúde, ou quiçá, ao professor de educação física. 
Assim, é possível começarmos a entender a fonte de muitos problemas dos 
processos de ensino e aprendizagem: a preparação maciça para a ensinagem e a falta de 
informações neurocientíficas que façam entender a aprendizagem propriamente dita. 
Não é mais justificável, atualmente, quando os achados neurocientíficos estão 
escancaradamente disponíveis por todos os meios de comunicação científica, como a 
Internet, por exemplo, que alguém da área se diga inocente quanto às falhas 
educacionais. É evidente, no entanto, que o próprio processo educacional ao qual 
estamos ainda vinculados tem deixado de incentivar o pensamento e a crítica e, portanto, 
mesmo com tantas informações, ainda vemos muita gente aguardando que alguém junte 
A com B e dê a receita pronta sobre o que fazer com os achados neurocientíficos em 
relação aos processos educacionais. 
Isso não ocorrerá, pois os neurocientistas não estão preocupados em formular 
receitas, seja para a área educacional, organizacional, médica ou qualquer outra. Estão 
sim preocupados em descobrir, dia após dia, coisas maravilhosas sobre a organização 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 
 
4 
neuronal do ser humano e as disponibilizar para quem queira utilizar seus achados, mas 
o trabalho da articulação entre esses achados e as áreas de interesse (no nosso caso, os 
processos de ensino e aprendizagem) precisam ocorrer a partir das necessidades dessas 
áreas e por profissionais dessas áreas. 
A proposta desta disciplina é apresentar, de forma pouco ortodoxa e na 
linguagem mais leve possível, porém com uma gama boa de referenciais bibliográficos 
para consultaposterior, os fundamentos básicos da Neuropsicologia, podados de arestas 
julgadas desnecessárias, tanto do ponto de vista histórico quanto conceitual, a fim de 
ajudar os profissionais dedicados aos processos educacionais, que tenham pouca intimi-
dade com o jargão neurocientífico, na articulação dos novos conhecimentos de forma 
mais prática que teórica, talvez permitindo promover novas formas de pensar as 
intervenções necessárias nos processos de ensino, realizando, quem sabe, o grande 
objetivo de Vygotsky: formar seres críticos e transformadores. 
Também não serão tratados os problemas nem os transtornos de aprendizagem. 
Espera-se que cada profissional comece, a partir dos fundamentos básicos, a imaginar e 
buscar explicar onde, como e por que determinados transtornos ou dificuldades 
apareceram. 
 
 
Bons estudos a todos..... 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
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5 
UNIDADE 1 
Capítulo 1 
 
Neuropsicologia: O que é? Como 
surgiu? O que tem a ver com a 
aprendizagem? 
 
 
Para nos situarmos, na história da humanidade, movimentos importantes se 
constituíram na tentativa de entender o processo do conhecimento, movimentos estes 
que se tornaram verdadeiras escolas de estudo e análise de experiências. 
 
As principais escolas foram: 
A. empirismo: pensadores, como Locke, Hume e Condillac, defendiam que o 
conhecimento se dava pelo contato da pessoa com a experiência, em particular por 
Por mais que possa parecer o contrário, nada é fruto do acaso. Tudo tem uma 
história, um lugar e um contexto em que ocorre. Com as ciências, não foi diferente, e 
muito menos com a Neuropsicologia. 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
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6 
meio dos órgãos sensoriais; 
B. racionalismo: Platão, Descartes, Espinosa, Kant, Leibinitz entre outros, 
acreditavam que a fonte do conhecimento era a razão, a mente, e que essa poderia 
operar independentemente do acesso ao mundo das sensações; ou ainda 
C. intuicionismo: Bergson e muitos outros acreditavam que o conhecimento 
ocorria pelo acesso direto a um manancial por meio de uma faculdade chamada 
intuição que não necessitaria nem dos sentidos, nem da razão para acontecer. 
(METRING, 2009 p.17) 
 
Seja como for, todas essas correntes eram teóricas. Não havia como fundamentar 
suas teses sobre o conhecimento a não ser pela observação, o que exigiu a criação de 
métodos específicos que foram evoluindo ao longo dos tempos, até chegar ao que 
conhecemos hoje como método científico de investigação. 
O que devemos ressaltar, no entanto, é que: 
Seja como for, mesmo contemplando essas três vertentes ideológicas sobre a origem 
e a produção do conhecimento, contemporaneamente entendemos que o acesso, a 
produção e a transferência do conhecimento se faz para além das simples defesas de 
cada uma das partes apresentadas - empirismo, racionalismo e intuicionismo - bem 
como é também mais que a simples soma dessas partes entre si, visto que o ser 
humano é capaz de, além de produzir e reproduzir conhecimentos, também de criar, 
recriar e aplicar o que aprende, transformar, fazer previsões de fenômenos futuros, e, 
acima de tudo, criar um sistema de símbolos que permitam o registro, a ordenação e 
a transferência desses conhecimentos. A linguagem, por exemplo, é um desses sím-
bolos. (METRING, 2009 p.18) 
Bem, essa constatação é inequívoca, porém, como é possível que isso aconteça, e 
como e onde se processa esse tipo de organização que permite que tudo isso ocorra? 
Essa preocupação não é nova. Sumérios, egípcios e gregos já se incomodavam 
com isso. A partir de lesões cerebrais, foram os gregos que primeiro começam a observar 
as correlações entre o cérebro e os estados de consciência, culminando no século XIX 
com as localizações cerebrais de Gall (frenologia1) e, posteriormente, os achados de 
Broca e Wernicke sobre as localizações cerebrais das habilidades verbais. (ANDRADE et 
ai, 2004) 
Note-se, no entanto, que os achados até então somente eram possíveis 
analisando cérebros mortos, ou vitimados por acidentes, normalmente de guerras. Tor-
nava-se muito difícil constatar uma relação apropriada entre o funcionamento do 
cérebro vivo e normal e cérebros mortos ou de funcionamento anormal. Mesmo assim, 
muitos apontamentos acertados fizeram diferença na compreensão do funcionamento 
cerebral e na construção do conhecimento. Infelizmente a maioria desses apontamentos 
somente foi estudada por profissionais envolvidos com a Neurologia e ciências afins. 
Uma das mais antigas informações encontradas sobre o sistema nervoso foi 
descoberta, por Edwin Smith, no século XIX, em um papiro egípcio escrito por volta de 
1 Teoria que estuda o caráter e as funções intelectuais humanas, baseando-se na conformação do crânio; frenologismo. (FERREIRA, 2004) 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
 
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7 
1.700 a.C., provavelmente baseado em outras informações mais antigas, talvez de algum 
tempo por volta de 3.000 a.C. (PINHEIRO, 2005). Como a Grécia era o berço da Filosofia, 
os estudos e as discussões tinham essa característica e viés. As questões sobre corpo e 
alma eram discutidas filosoficamente, e somente ganharam corpo não mitológico a partir 
do século V a.C., quando Filosofia e Medicina se diferenciaram, e as doenças começam a 
ser discutidas em termos mais científicos. 
Conforme proposta inicial, vamos omitir algumas partes históricas e trataremos 
diretamente daquilo que possa nos ajudar de forma mais objetiva. Então vamos pular 
diretamente ao século XVIII a fim de nos encontrarmos com René Descartes. 
A teoria Cartesiana propunha uma pseudodissociação de corpo e mente. 
Descartes admitia a hipótese de que a alma (res cogitans, ou simplesmente a coisa pen-
sante) era não material, livre e indivisível e que o corpo (res extensa, ou simplesmente 
extensão da coisa) era uma parte mecânica, divisível, material. Portanto, a alma para 
Descartes transcenderia ao corpo, sendo este somente uma máquina à sua disposição. 
(PINHEIRO, 2005) 
 
Descartes foi um divisor de águas. A partir dele, a Medicina tomava seus rumos, e 
a Filosofia também. A primeira passou a cuidar do corpo, de forma mais científica e 
objetiva; a segunda, a cuidar das coisas da alma, de maneira mais empírica e subjetiva. 
Os conflitos psicológicos começam a ser negligenciados pela Medicina enquanto 
disparadores potenciais das doenças e dos transtornos físicos. (DAMÁSIO, 1996) 
Com uma visão bastante acertada, Marta Pinheiro defende que: 
[...] a ideia cartesiana da mente separada do corpo explica porque ainda hoje muitos 
investigadores em Psicologia se julgam capazes de entender a mente sem nenhum 
recurso à Neurobiologia ("Psicologia sem cérebro"). (PINHEIRO, 2005 p.183) 
Podemos complementar dizendo que fora os profissionais da área da saúde 
biológica, de forma geral, quase todos os outros negligenciam as questões orgânicas em 
favor das questões mentais e racionais. Exceção seja feita a Sara Paín, quando afirma: 
A origem de toda aprendizagem está nos esquemas de ação desdobrados mediante 
o corpo. Para a leitura a integração da experiência é fundamental a integridade 
anatômica e de funcionamento dos órgãos diretamente comprometidos com a 
manipulação do entorno, bem como dos dispositivos que garantem sua coordenação 
no Sistema Nervoso Central. (PAÍN, 1992 p.29) 
Na continuidade, ainda na mesma obra e página, Paín reforça seu pensamento 
afirmando que "a investigação neurológica é necessária para conhecer a adequação do 
instrumento às demandas da aprendizagem. O sistema nervoso sadio se caracteriza [...] 
pelo seu ritmo, sua plasticidade, seu equilíbrio". Este é umcrédito importante vindo de 
uma psicopedagoga de renome, que nos avaliza a continuar essa obra. 
No século XIX, surge a Biologia e, também, Charles Robert Darwin (1809-1882), 
um naturalista que defendeu a teoria da evolução das espécies. Não chegou a ser um 
problema propriamente dito enquanto desenvolvia suas ideias, porém, até então, a 
mente era um atributo supremo e divino só permitido ao ser humano, filho de Deus e 
senhor de um universo que orbitava em torno do seu habitat, o planeta Terra. Com sua 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
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teoria totalmente revolucionária, os dogmas religiosos foram ameaçados de se 
vaporizarem. A mente começa a ganhar corpo, e um sistema para seu funcionamento: o 
Sistema Nervoso. 
Por esse tempo, Franz Joseph Gall (1758-1828) já vinha propondo algum ensaio 
sobre a possibilidade de o cérebro ser um conjunto de pequenos órgãos distintos, cada 
um dos quais controlando uma determinada faculdade. Quando uma faculdade era 
desenvolvida, criava uma protuberância no crânio por uma hipertrofia2 ocorrida na zona 
cortical3 correspondente, decorrente do próprio desenvolvimento. Gall se propôs a 
mapear o crânio procurando correspondências entre as faculdades e as protuberâncias. 
Seu método de estudo ficou conhecido como frenologia, e o mapa criado com indi-
cadores das áreas envolvidas com as faculdades, como mapa frenológico (fig.4). 
 
Suas ideias não foram aceitas por muito tempo, e foram descartadas já no início 
do século XX, mas alguns outros investigadores, alinhados à possibilidade de realmente 
poderem localizar áreas em que determinadas coisas aconteceriam no cérebro, criaram 
um movimento que ficou conhecido como corrente localizacionista. Cientistas desse 
movimento começaram então a remover porções delimitadas do cérebro de animais para 
verificar o que acontecia, que funções ou habilidades deixavam de operar. Esses 
experimentos acabaram por marcar o início da Neurociência experimental (HERCULANO-
HOUZEL, 2001). Como não poderia deixar de ocorrer, surgiram cientistas que se 
opunham ao localizacionismo. 
Uma dessas correntes opositoras importante ficou conhecida como corrente 
holista (holos = todo). Defendia que o cérebro funcionava de maneira orquestrada e inte-
grada, e o que quer que fosse gerado no cérebro não era fruto de áreas particulares 
deste, mas do conjunto. 
Ambas as correntes tinham razão. Tanto o cérebro funciona por áreas particulares 
como cada área particular do cérebro é integrada a outra para gerar um pensamento, 
uma lembrança, um comportamento. A visão holista, no entanto, permitiu a evolução 
para a formulação do conceito de equipotencialidade4, que, na verdade, culmina com o 
que conhecemos hoje por plasticidade neuronal, que nada mais é que a capacidade de 
uma determinada massa neuronal de uma área específica do córtex assumir funções que 
eram caracteristicamente desempenhadas por neurônios de outra região, agora lesada. 
Outro acontecimento importante do século XIX foram as descobertas do médico e 
2 Hipertrofia: aumento de tamanho de um órgão, ou de parte de um órgão. 
3 Por córtex podemos, de forma empobrecida, entender cérebro. 
4 O equivalente a dizer que tudo tem o mesmo valor. 
 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
 
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antropólogo francês Pierre-Paul Broca (1824-1880) e do neurologista alemão Carl 
Wernicke (1848-1905). Suas descobertas trouxeram informações que inauguraram a era 
da Neuropsicologia da linguagem. 
Broca, em 1865, verificou vários casos de pacientes lesionados em uma 
determinada área do cérebro, que simplesmente perdiam a capacidade de falar (amnésia 
verbal). A região que Broca localizou no cérebro foi a parte posterior da terceira 
circunvolução frontal do hemisfério esquerdo (esqueça isso e veja a figura 5), ou 
simplesmente área de Broca. Esta área do cérebro produziria a articulação da linguagem. 
O distúrbio da fala por ele identificado recebeu o nome de afemia, que na literatura 
médica atual, é conhecido hoje por afasia5. 
 
A partir dessa descoberta, Broca defende não somente a hemisferização cerebral 
(hemisfério esquerdo e direito) mas também que, em questões de linguagem, o 
hemisfério esquerdo teria dominância sobre o direito, tendo este um papel secundário e 
complementar para a organização da fala. Essa região conteria a programação motora da 
fala, como bem defendeu depois Wernicke em seu modelo científico de processamento 
linguístico. 
Wernicke, em 1874, apontou que, assim como ocorria de a área de Broca atingida 
trazer problemas para a articulação de fala, outra área, igualmente no hemisfério 
esquerdo, quando afetada, produzia alterações na compreensão da linguagem falada. As 
pessoas lesionadas nessa área - terço posterior do giro temporal superior esquerdo 
(esqueça isso também e veja a figura 6), que ficou conhecida como área de Wernicke- 
pareciam saber o que desejavam falar, porém erravam nas palavras ou nos sons 
emitidos6 (LENT, 2010). A área de Wernicke seria responsável pela memória dos sons que 
comporiam as palavras, o que permitiria sua compreensão. 
 
À mesma época, o neurologista inglês John Huhlings Jackson (1834-1911), 
opositor ao localizacionismo, baseado em observações clínicas, defende sua "teoria de 
organização neurológica da função mental", e prega que o funcionamento mental su-
perior não deriva de áreas isoladas do cérebro, mas de uma complexa organização de 
5 Afasia de Boca, afasia não fluente, afasia de expressão ou, ainda, afasia motora: grande dificuldade de falar, porém a compreensão da 
linguagem está preservada. Também ocorre de a pessoa não ter nenhum problema na leitura silenciosa, mas sua capacidade de transmitir 
o que leu ou de escrever sobre o assunto está comprometida. A pessoa tem consciência do seu déficit, podendo levar a casos de 
depressão. 
6 Afasia de Wernicke, afasia fluente, afasia de recepção ou, ainda, afasia sensorial: caracteriza-se pela dificuldade na compreensão da 
palavra. A pessoa fala fluentemente, de modo vago, perdendo ou saindo do objetivo da conversa, ou seja, uma fala fluente que faz pouco 
sentido. A pessoa também pode apresentar parafasia, ou seja, usa uma palavra querendo dizer outra (micro-ondas por geladeira), ou usar 
um som quando deseja usar outro (diz mulher quando quer dizer colher). A pessoa não tem consciência do seu déficit. Difícil tratamento. 
 
 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
 
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todas as áreas no sentido de produzir um resultado. Uma função mental seria construída 
partindo de unidades inferiores básicas mais fundamentais (medula e tronco cerebral), 
passando por unidades mediais voluntárias (porções motora e sensorial do córtex), 
terminando sua significação em um nível superior (lobos frontal e pré-frontal do córtex). 
De acordo com a teoria de Jackson, a localização simples de um sintoma que 
acompanha uma lesão não é indicativo seguro da localização da lesão no cérebro. Assim, 
uma dificuldade da linguagem não é sinal seguro de que exista alguma alteração nas 
áreas de Broca ou Wernicke. É preciso avaliar todo o sistema envolvido na produção da 
linguagem para se definir o diagnóstico. Porém, se houver uma alteração ou anomalia na 
área de Broca, seguramente, irá afetar a produção da fala. Seu raciocínio, em uma 
analogia pobre, mas que pode ser entendida, é o mesmo que dizer que, se o carro não 
pega quando dada a partida, é problema de gasolina. Pode até ser, mas como pode ser 
problema de falta de gasolina, podem ser também problemas na bomba que leva a 
gasolina até o carburador, problemas no próprio carburador, problemasno sistema de 
distribuição de faíscas e tantos outros, embora, seguramente, se não houver gasolina no 
tanque, o veículo não irá funcionar. Da mesma forma, quando apontamos um problema 
na aprendizagem, precisamos conhecer todos os circuitos que direcionam a tal problema 
para entendermos o que realmente está ocorrendo, antes de fecharmos a questão. 
No século XX, vemos o advento da Neuropsicologia moderna. Donald Olding 
Hebb (1904-1985), Karl Spencer Lashley (1890-1958) e Alexander Romanovitch Luria 
(1902-1977) são seus representantes (ENGELHAR- DT et ai, 1995). 
Em 1913, surge pela primeira vez o termo Neuropsicologia, mas somente após a 
década de 40, com a publicação de trabalhos de Hebb, onde ele apresentava sua teoria 
sobre a multiplicidade de conexões sinápticas7 entre os neurônios, é que o termo ganhou 
força e notoriedade. Hebb, em sua teoria, permite verificar que não há uma rigidez na 
capacidade de comunicação entre os neurônios, sendo essa transmissão algo moldável 
de acordo com as necessidades ou as circunstâncias, o que se configuraria em uma base 
conceitual para a plasticidade sináptica. 
Defende também Hebb que, em termos de memória, nenhum dos neurônios 
isoladamente contém em si a informação necessária à lembrança, e também que a 
memória não seria resultado da modificação da propriedade física do neurônio. A 
memória, para Hebb seria o resultado de uma eficiente e ampla rede de comunicação 
entre os neurônios que, uma vez persistindo a necessidade de manter uma determinada 
transmissão de informação, formaria o traço sinésico. A rede neural, e não um neurônio 
em si, seria a responsável pela memória (SANVITO, 1991, in PINHEIRO 2005; SANTO & 
BRUNO, 2009). Essa informação é muito importante para profissionais do ensino e 
voltaremos a ela no capítulo de considerações. 
 
A sinapse é um espaço entre dois neurônios, por 
eles se comunicam, ou seja, por onde ocorre a 
transmissão de informações por meio de elementos 
químicos chamados neurotransmissores. 
Textos extraídos Do Livro Neuropsicologia e Aprendizagem: Contribuições á Pesicopedagogia 
 
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Lashley trabalhou com o conceito de massa cerebral. Seus estudos foram rigorosa 
e cientificamente controlados e conduziram a pensar na importância da massa cerebral 
como organizadora de processos (ação de massa) e a diminuição da importância de 
neurônios individuais, de conexões neuronais específicas e de regiões cerebrais distintas. 
Luria concentrou seus estudos nas funções superiores do funcionamento cerebral 
e sofreu influência de Pavlov, Vygotsky e Anokhim. Sua teoria procurou organizar o 
sistema nervoso como um todo, em um grande concerto. 
[...] toda atividade mental humana é um sistema funcional complexo efetuado por 
meio de uma combinação de estruturas cerebrais funcionando em concerto, cada 
uma das quais dá a sua contribuição particular para o sistema funcional como um 
todo. (LURIA, 1981 p.23) 
Luria defendeu a divisão do sistema cortical em unidades funcionais, cada unidade 
com um papel na formação da cognição. Essas unidades serão apresentadas em capítulo 
próprio. Por ora, basta-nos saber o que Luria pensou e que sua obra é de particular 
importância para todo profissional envolvido com as questões de ensino. 
Na década de 90, Roger W. Sperry (1913-1994) ganha o prêmio Nobel de 
Medicina e Fisiologia por seu trabalho investigativo sobre a comissurotomização (divisão 
do cérebro ao meio), quando mostrou que cada hemisfério pode ter uma especialização 
diferente, e que raramente uma especialização cerebral hemisférica significa 
exclusividade funcional, já que o funcionamento do cérebro é global. (PINHEIRO, 2005 
p.190) 
Gil (2005 p.9) complementa dizendo que essa especialização ficou conhecida com 
o nome dominância, e que, por conta de as afasias terem inaugurado a história da 
Neuropsicologia, resolveu-se chamar de dominante o hemisfério esquerdo, que é o 
hemisfério que gerencia a função da linguagem - função essencialmente humana e que 
comanda a mão mais hábil das pessoas. 
Apesar de os achados de Sperry mostrarem que, em 95% das pessoas, o 
hemisfério esquerdo controla a fala, nada aponta que o hemisfério direito não participe 
da organização dos mecanismos da fala de alguma forma. Assim como na mesma 
proporção o hemisfério esquerdo se mostra responsável pela realização mental de 
cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela, o hemisfério 
direito funciona melhor na função de percepção de sons musicais e reconhecimento de 
faces e detecção de relações espaciais. Mas isso tudo só é possível porque os hemisférios 
se complementam na elaboração dos significados dos estímulos apreendidos. Por isso, 
não devemos nos equivocar que, ao estimularmos as crianças em determinadas 
atividades, estaremos estimulando um hemisfério cerebral somente. Isso seria um 
reducionismo equivocado. As informações derivadas da estimulação alcançarão os dois 
hemisférios, cada um trabalhando com sua especificidade. 
Podemos crer que, depois de ler tudo o que ficou para antes desse parágrafo, já é 
possível pensar que o cérebro se desenvolve como um todo, e que é esse todo que 
organiza as funções e os comportamentos. Ressalte-se que é preciso pensar no cérebro 
co
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12 
mo uma orquestra. É claro que ela tem músicos individuais, mas o que nós escutamos, 
naquela configuração final (a música), é a orquestra, não os músicos, e uma boa orques-
tra é aquela em que não se percebe a ação isolada de um músico ou outro, a não ser que 
seja esse o objetivo, é claro. O que vemos como resultado do funcionamento cerebral é 
obra do conjunto, não de áreas específicas. Também devemos pensar que um músico 
afetado por qualquer problema vai prejudicar o resultado final. Assim também é o caso 
do cérebro. 
Wernicke havia proposto um modelo neurolinguístico, que, neste momento 
histórico, já pode ser revisado partindo-se das conceituações posteriores à sua constru-
ção. Os problemas da fala e da linguagem não se circunscrevem mais somente às áreas 
de Broca e Wernicke. O processo é muito mais global e funcional do que presumido 
outrora. No século XX, já é possível pensar e conceituar um modelo neuroanatômico 
conexionista da linguagem falada. Esse modelo é resultado da observação de pacientes 
portadores de lesões menores, não circunscritas às áreas de Broca ou Wernicke, mas que 
afetavam tanto a compreensão quando a expressão da linguagem. Nesse modelo 
conexionista, tanto as áreas de Broca como de Wernicke passam a fazer parte de um 
complexo funcional maior. 
 
 
Para o novo modelo, conexionista, a área de Wernicke seria então responsável 
pela identificação das palavras tão somente (léxico fonológico), em sua Gestalt7, porém 
não pelo significado delas para a pessoa. O significado estaria associado a áreas mais 
posteriores do córtex, giro angular e supramarginal, onde se localizaria o léxico 
semântico das palavras. Portanto, pessoas com lesões nas áreas do léxico semântico 
podem repetir corretamente as palavras, mas não conseguem entender o que dizem por 
que não conceituam a palavra. 
O mesmo ocorre com a revisão dos mecanismos envolvidos com a área de Broca. 
O fato de uma pessoa não expressar adequadamente ou não articular apropriadamente 
as palavras pode ser um caso de disartria (um distúrbio motor) ou um agramatismo 
(dificuldades em construir frases gramaticalmente corretas) e não uma afasia de Broca 
pura e simplesmente. 
Embora a principal área de investigação ainda fosse a linguagem, o século XX 
trouxe muitas novidades tecnológicas (Tomografia por Emissão de Pósitrons - PET Scan e 
a Imagem por Ressonância Magnética Funcional -IRMf) que permitiram o estudo das 
relações entre o cérebro e o comportamento, agora já em cérebros vivos e emmovimento, tanto em sujeitos sadios como naqueles acometidos por morbidades. 
7 Forma, configuração. Por exemplo, o reconhecimento do símbolo P como a letra pê. 
 
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Com esses avanços, muitas informações que estavam segmentadas começaram a 
ser unificadas, integradas, mesmo aquelas que derivavam de observações puramente 
empíricas. Várias áreas de interesse começam a se unir para tentar esclarecer um mesmo 
ponto (Medicina, Neuroanatomia, Neuroquímica, Psicologia, Fisiologia, Sociologia etc.). 
Como no século XX a Psicologia se consolidou enquanto ciência do estudo do 
comportamento humano, suas áreas de pesquisa também se solidificaram, e ela passou a 
ser então uma ciência aglutinadora de muitas informações e dados que estavam 
consolidados sob um viés específico. Essa permissividade que a Psicologia conferiu às 
novas interpretações de achados mais antigos com os mais recentes permitiu 
efetivamente a existência de um novo campo dentro da ciência maior: a Neuropsicologia. 
(ANDRADE & SANTOS, 2004) 
 
Pinheiro assim apresenta a Neuropsicologia: 
A Neuropsicologia é uma ciência do século XX, que se desenvolveu inicialmente a 
partir da convergência da Neurologia com a Psicologia, no objetivo comum de 
estudar as modificações comportamentais resultantes de lesão cerebral. Atualmente, 
podemos situá-la em uma área de interface entre as Neurociências (neste caso, ela 
também pode ser chamada de Neurociência Cognitiva), e as ciências do com-
portamento (Psicologia do Desenvolvimento, Psicolinguística, entre outras) 
entendendo que o seu enfoque central é o estudo da relação sistema nervoso, 
comportamento, e cognição, ou seja, o estudo das capacidades mentais mais 
complexas como a linguagem, a memória e a consciência. (PINHEIRO, 2005 p.176) 
O fato de a Neuropsicologia ter surgido da confluência e da convergência de 
várias outras áreas científicas pode ter colaborado para que houvesse uma de: mora 
considerável no direcionamento da formação de profissionais específicos dessa área, 
bem como do seu objetivo específico de investigação. Atualmente é bem- aceito o 
conceito de que "o Neuropsicologia preocupa- se com a complexa organização cerebral e 
suas relações com o comportamento e a cognição, tanto em quadros de doenças como no 
desenvolvimento normal". (MÀDER- JOAQUIM, 2010) 
Enquanto ciência, a Neuropsicologia foi oficialmente reconhecida no Brasil, em 
1988, com a fundação da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. (ORTIZ et ai, 2008) 
Enquanto profissionalização surgiu em 2004 com a publicação da Resolução n.° 
002/2004, do Conselho Federal de Psicologia, que regulamentou a prática da 
Neuropsicologia como especialidade para psicólogos. (ANDRADE & SANTOS, 2004; 
Conselho Federal de Psicologia, 2004) 
Assim ficam claras duas posições importantes: Neuropsicologia enquanto ciência 
e Neuropsicologia enquanto profissão. 
E
 
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14 
nquanto ciência, está aberta a todos os que queiram colaborar, investigar e teorizar, 
vindos de qualquer área do conhecimento. Hoje temos pesquisadores da Medicina, da 
Psicologia, da Sociologia, da Pedagogia, da Física, tecnólogos e tantos quantos possam 
se interessar envolvidos com os estudos e a aplicabilidade dos achados. Todos os 
profissionais envolvidos com a ciência Neuropsicológica podem trazer questões e levar 
os achados para dentro de suas especialidades e produzir resultados antes não possíveis. 
Enquanto profissão, somente psicólogos estão autorizados a se intitularem 
neuropsicólogos. 
Em relação aos profissionais do ensino - que serão considerados cientistas a partir 
daqui -, devemos ressaltar que, ao acessarmos ou criarmos um modelo neuropsicológico 
para entender a aprendizagem ou suas dificuldades, estamos falando da análise das fun-
ções mentais, particularmente das superiores (linguagem, atenção, memória, 
planejamento, julgamento etc.), envolvidas nesse processo, que estão relacionadas à 
organização funcional do cérebro, condição "sine qua non" para que a aprendizagem 
simbólica (formação de conceitos, escrita, leitura etc.) se realize. 
Quando se realiza uma avaliação, investigação ou um constructo 
neuropsicológico, em geral, as funções cognitivas avaliadas são (AMBRÓZIO & RIECHI): 
 
Funções 
cognitivas 
Conceito 
Atenção Função mental complexa que corresponde à capacidade do indivíduo de focalizar a 
mente e algum aspecto do ambiente ou de algum conteúdo da própria mente. (LAKS 
et ai, 1996) 
Memória Sistema integrado que permite tanto processamento ativo quanto armazenamento 
transitório de informações. Inclui as habilidades de armazenar, recordar e reconhecer 
conscientemente fatos e acontecimentos envolvidos em tarefas cognitivas, tais como: 
compreensão, aprendizado e raciocínio. 
Tátil- 
Cinestésica 
Reconhecer objetos, por meio do tato, sua forma e tamanho sem ajuda da visão, e 
reconhecer sensações tácteis em sua localização no corpo, intensidade e direção. 
Quem possui inteligência cinestésica tem a habilidade para usar a coordenação grossa 
ou fina na finalidade que precisar. 
Funções 
motoras 
Implica na análise das praxias, isto é, das formas complexas da construção dos 
movimentos voluntários (tônus muscular, sistema ótico-espacial, regulação verbal do 
ato motor). 
Funções 
Superiores 
Capacidade global agregada de o indivíduo agir com propósito, pensar racionalmente 
e lidar efetivamente com o meio que está inserido. Reflete a soma das experiências 
aprendidas pelo indivíduo que permitem conceituar, organizar, desenvolver, resolver 
problemas e ser criativo. 
Orientação É a consciência de si em relação ao ambiente, necessita da integração da atenção, da 
percepção e da memória. 
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15 
Verbais Inclui aspectos da linguagem, tanto da programação como da compreensão ou da 
expressão da fala. Inclui a capacidade de adequar os conceitos de relação, sucessão e 
consequência por meio de elementos gramaticais, de nomear por meio da codificação 
e combinação das características essenciais. 
 
 
Todas essas funções cognitivas avaliadas estão, de alguma forma, diretamente 
envolvidas com os processos de aprendizagem, o que justifica, por si só, pelo menos o 
conhecimento dos fundamentos básicos da Neuropsicologia por qualquer profissional 
que deseje estar envolvido nos processos de ensino e aprendizagem, e que esteja 
preocupado em descobrir "como mudar o ambiente de todas as crianças, de maneira que 
seus cérebros possam desenvolver-se ao máximo?" (ROSE, 1984 p.253) 
 
 
 
 
Para saber mais: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/15876/15876_3.PDF. 
 
 
Atividade de Síntese 
 
Comente com suas palavras o que você entendeu sobre este capítulo. Destaque 
os principais pontos. 
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__
 
Sendo que "a aprendizagem é uma função do cére-
bro [...] é uma resultante de complexas 
operações neurofisiológicas" (FONSECA, 1995a), a 
Neuropsicologia, como representante do processo 
investigativo das funções neurocognitivas, vem 
corroborar e esclarecer o como e o onde se 
processaa aprendizagem. (SILVA, 2008) 
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16 
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Capítulo 2 
 
 Como se organiza o Sistema 
Nervoso?
 
 
 
É devido ao funcionamento coordenado de recursos cognitivos e às múltiplas 
conexões que o cérebro tece por meio de uma rede complexa de neurônios, que as 
pessoas podem conhecer o mundo e atuar nele. (VALLE & CAPOVILLA, 2004) 
Mas, afinal, o que é isso que chamados de SN, de que é constituído? 
Não vamos adentrar aos estudos profundos sobre Neurofisiologia ou Biologia 
Neuronal. Vamos nos ater aos componentes necessários ao entendimento da proposta 
Nada ocorre em nossa vida sem que a presença do 
Sistema Nervoso (SN) seja marcante. 
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17 
da obra. Por isso, não estranhem os mais eruditos. 
Neurônios8, células glias9 - ou gliócitos - e nervos são partes integrantes do SN. 
Em termos práticos, o SN é um conjunto bem arquitetado entre terminais nervosos, 
nervos, medula, tronco encefálico, cerebelo e córtex cerebral, que permitem ainda uma 
divisão entre Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). 
A unidade básica fundamental do SN é um sujeito chamado neurônio (fig.14), que 
permite a transmissão e o tratamento de dados e informações que transitam entre o 
meio (externo ou interno) e o córtex cerebral. 
 
A quantidade de neurônios no SN é enorme (estimada em 100 bilhões 
aproximadamente), e a quantidade de conexões que existe entre eles é ainda mais 
impressionante, o que faz dessa pequena máquina biológica - o cérebro - uma espécie 
de computador cuja cópia ainda não pôde ser criada pela tecnologia. 
O neurônio, grosso modo, constitui-se de um corpo celular e de terminais de 
comunicação: axônio, dendritos e telodendros. 
O axônio (fig.15), em número de um somente, é um prolongamento do neurônio 
responsável por conduzir os impulsos elétricos que partem do corpo celular para regiões 
mais distantes, que podem ser órgãos, músculos, tendões ou, o que é mais comum, ou-
tro neurônio. No ser humano, um axônio pode chegar até um metro de comprimento. É 
revestido de uma camada conhecida como mielina, que permite o isolamento elétrico e 
acelera a velocidade da transmissão dos dados. O axônio não se ramifica abundantemen-
te, mas, em sua parte final, se ramifica, e essas ramificações são denominadas 
telodendro. 
 
Os dendritos são prolongamentos especializados na recepção de estímulos 
nervosos que podem vir do meio ou de outros neurônios para dentro do neurônio de 
origem. Podem chegar ao número de 100 mil por neurônio (fig.15). 
8 Massa cinzenta que se localiza quase que totalmente no córtex cerebral, mas que também pode se organizar em gânglios, que são 
aglomerados neuronais que se localizam fora do SNC. 
9 Células glias são responsáveis por funções como nutrição, sustentação, regeneração e controle do metabolismo neural, que se sabe 
hoje, são em número 10 a 15 vezes mais numerosas que o número de neurônios. (ANNUN- CIATO & DA-SILVA, 1995) 
 
Figura 14 - 
Neurônio 
 
Figura 15 - 
Neurônio 
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18 
 
Os neurônios se comunicam entre si por meio de sinapses (fig.16). Uma sinapse é 
um espaço que existe entre dois neurônios com a finalidade de transitar dados entre eles 
- um dendrito pode ter de uma até dez mil sinapses aproximadamente. Antigamente se 
pensava que as conexões entre os neurônios eram mecânicas, hoje sabemos que são 
virtuais. 
As sinapses podem ser elétricas (menos comuns e normalmente em sistemas 
muito especializados como músculos e coração) onde as informações passam dire-
tamente de um neurônio a outro de forma ultrarrápida sem mediadores; ou químicas 
(mais comuns), e neste caso, somente são possíveis porque existem alguns elementos 
que servem de alfabetos para essa comunicação, os chamados neurotransmissores. 
Hoje, conhecem-se aproximadamente 60 deles. Imagine então um alfabeto com 
aproximadamente 60 letras, e saberá no que pode dar essa comunicação toda. 
A partir daqui, fica impossível qualquer conta matemática pelo excesso de zeros à 
direita que isso proporcionaria. Mas não vamos perder de vista que, se multiplicarmos 
tudo isso, chegaremos à conclusão da loucura que é. Por essa razão, quase um quinto do 
que ingerimos é utilizado pelo cérebro. Não é nada fácil processar tantos dados assim 
sem gastar muita energia, em particular a glicose (5g por hora) e o oxigênio (20% do 
oxigênio que respiramos). 
Imagine agora que um único neurônio pode receber, em uma determinada fração 
de tempo, digamos que, na sua potência máxima, dados de 100.000 dendritos, que cada 
dendrito seja daqueles que possuem 10.000 sinapses. Pois é, é assim que o cérebro 
funciona de forma ininterrupta. Por isso, é tão difícil não pensar. Quando o neurônio 
manda um dado para fora de si, ou seja, quando disponibiliza o dado para outro 
neurônio, aquele outro neurônio em fração de segundos igualmente transforma o dado 
anterior em outro dado novo, reformulado, e já o remete à frente, o que fará com que, 
em um intervalo de fração de segundos, tenha retornado ao neurônio do qual estávamos 
falando. E, assim, eles vão se retroalimentando o tempo todo. 
Para tentar deixar mais claro, pense que você está ligado por 10.000 telefones 
celulares a 10.000 outras pessoas, e que cada pessoa está ligada a outras 10.000 pessoas, 
e que vocês compõem uma cidade de 100 bilhões de pessoas (a população do planeta 
Terra está estimada em sete bilhões de pessoas em 2011), todos falando com todos ao 
mesmo tempo. É mais ou menos assim o seu cérebro funcionando. 
 
 
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19 
Figura 17 - Cidade 
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20 
Corte* cerebral 
Na primeira infância, em particular, os neurônios já têm os telefones celulares 
(sinapses), mas inda não sabem para quem ligar, ou seja, as conexões sinápticas ainda 
não estão formadas em rede, mas os neurônios já têm toda essa habilidade. Conforme o 
tipo de estímulo que esse cérebro receba, alguns tipos de conexões se formarão (talvez 
possamos dizer amizade entre os neurônios), criando redes neurais que serão utilizadas 
no futuro, e talvez até mesmo pelo resto da vida. 
O sistema nervoso é dividido em central (SNC) e periférico (SNP) (fig. 18). O SNC 
está diretamente associado às questões do processamento de dados e informações, 
geração de soluções, comportamentos, memórias, julgamentos e avaliações. É 
constituído da medula espinhal (fora da caixa craniana) e do encéfalo (que está dentro da 
caixa craniana). 
A medula espinhal é a porção alongada do SNC, uma continuação do encéfalo 
alojada no interior da coluna vertebral, com um comprimento entre 44 e 46 centímetros 
no ser humano adulto. Dela surgem os gânglios nervosos10, que vão enervar membros 
superiores e inferiores. Seu papel principal é levar informações eletroquímicas dos 
terminais nervosos parao encéfalo, e deste para os terminais nervosos. Porém, alguns 
comportamentos simples como os comportamentos reflexos podem ser organizados a 
partir da própria medula, sem que haja necessidade do processamento cerebral para que 
ocorram. No entanto, se o comportamento precisar ser mais elaborado, envolvendo 
áreas diferentes do aparato sensorial e motor, é necessário um processamento mais 
aprimorado, então o cérebro é acionado. 
O encéfalo11 (fig.19) é constituído do córtex cerebral - popularmente 
conhecido por cérebro, ponte, hipotálamo, tálamo, bulbo e cerebelo. No seu tempo, 
vamos falar de cada um. É o centro nervoso de todos os animais vertebrados e de 
alguns invertebrados. Filosoficamente, podemos dizer que é a estrutura física 
subjacente à mente. Do ponto de vista biológico, pensamos na produção de 
comportamentos adaptativos e que tragam bem-estar ao animal. 
 
 
 
 
Figura 19-0 encéfalo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 Aglomerados de neurônios que se localizam fora do SNC. 
11 Devemos entender por encéfalo tudo o que está dentro da caixa craniana. 
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21 
Tudo o que atinge de alguma maneira o sistema nervoso periférico entra12 ou 
sai13 do sistema nervoso central (salvo em caso de anomalias ou doenças neurológicas). 
O conjunto do SNC é chamado em anatomia de neuroeixo. 
O SNP está associado ao trânsito da informação eletroquímica elaborada no SNC 
às várias partes do organismo, e destas partes ao SNC. Basicamente é constituído de 
fibras nervosas (nervos14), gânglios nervosos e órgãos terminais. 
Os nervos (fig.20) são divididos em três classes: sensitivos, motores e mistos. 
 
 Figura 20 - Nervo 
 
Os nervos sensitivos recebem informações do meio externo por meio dos órgãos 
dos sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato), ou do meio interno (órgãos e vísce-
ras) , e transmitem esses impulsos nervosos ao SNC. 
 
 
O SNS (fig.21) é composto de neurônios que funcionam por ação consciente do 
indivíduo, gerando ações motoras voluntárias e intencionais pelo controle de músculos 
esqueléticos. Por meio desse sistema, é que o leitor pode movimentar um braço ou uma 
perna para caminhar ou alcançar algum objeto. 
Ao movimento de entrada de estímulos no SNC vindos do SNP, é chamado de aferência. 
Ao movimento de saída de estímulos do SNC para o periférico, é chamado de eferência. 
Nervo é uma estrutura muito semelhante a um cabo elétrico, constituído de axônios e dendritos, que tem por objetivo transitar ciados 
entre o SNC a algum lugar do organismo e vice-versa. 
Os nervos motores conduzem o impulso do SNC para 
as áreas que envolvem músculos, tendões, órgãos 
e vísceras. 
Os nervos mistos conseguem realizar as funções 
dos dois primeiros ao mesmo tempo. 
O SNP divide-se ainda em Sistema Nervoso So-
mático (SNS) e Sistema Nervoso Autônomo (SNA). 
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22 
 
O SNA (fig. 22) é composto de neurônios que regulam a vida vegetativa de uma 
pessoa, sem que necessariamente tenha de haver qualquer intenção consciente. São 
exemplos os controles da respiração, da digestão, da pressão arterial, da temperatura etc. 
Ele também regula as relações do organismo com o ambiente e suas 
modificações. Por exemplo, quando entramos no cinema, há necessidade de uma 
dilatação pupilar para dar conta da pouca luminosidade. Essa regulação ocorre por esse 
sistema. O mesmo ocorre se entramos em uma sala com ar condicionado ligado. 
Certamente que nosso corpo sentirá frio, e esse sistema corrigirá a temperatura corporal. 
Em resumo, a homeostase15 é função desse sistema. 
O Sistema Nervoso Autônomo ainda pode se dividido em Sistema Nervoso 
Autônomo Parassimpático (SNAp), Simpático (SNAs) (fig.22) e Entérico ou Visceral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
Homeostase: propriedade autorreguladora de um sistema ou organismo que permite manter o 
estado de equilíbrio de suas variáveis essenciais ou de seu meio ambiente. (FERREIRA, 2004) 
 
Contrai a 
pupila 
Estimula a 
salivação 
Contrai 
os 
brônquio
s 
Dilata a pupila 
InJbe a sali 
vação 
Estimula a 
atividade do 
estômago e do 
pâncreas 
Estimula a 
visícula 
biliar 
Contraí m bexiga 
Promove & 
ereção 
Acelera os 
batimentos 
cardíacos 
Figura 22 - SN Autônomo 
Iniba a atividade do 
estômago e do pâncreas 
Estimula a liberação de 
glicose peto fígado 
Estimula a produção 
da adrenalina e 
noradrenalina 
Relaxa a bexiga Promove 
£ ejaculação 
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23 
O SNAs (fig.22 lado direito) é responsável pela estimulação de ações orgânicas 
que permitam a esse organismo responder adequadamente às situações de estresse, ou 
seja, coloca o organismo em situação de alerta, ora excitando determinados órgãos e 
vísceras, ora relaxando, conforme o caso. Por exemplo, a aceleração dos batimentos 
cardíacos e a dilatação pupilar. 
O SNAp (fig.22 lado esquerdo) é responsável pela estimulação de ações orgânicas 
que coloquem esse organismo em situação de repouso e calma, como, por exemplo, a 
desaceleração dos batimentos cardíacos e a contração pupilar. 
O Sistema Nervoso Entérico ou Visceral é constituído de uma rede de neurônios 
que integram o sistema digestivo como um todo - trato gastrointestinal, pâncreas e 
vesícula biliar. Pode funcionar de forma independente, porém o SNAS e o SNAP podem 
afetá-lo mutuamente. 
 
Em termos gerais, podemos esquematizar o SN assim: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SN 
SN 
PERIFÉRICO 
SN 
SOMÁTICO 
SN 
AUTÔNOMO 
SN 
CENTRAL 
SNA 
SIMPÁTICO 
SNA 
PARASSIMPÁTICO 
 
SNA 
VEGETATIVO 
 
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Para a área da educação, importa muito saber disso. O SNAs, quando nascemos, 
já começa a atuar e vai continuar atuando até o final de nossas vidas. O SNAp precisa ser 
treinado. Isso quer dizer que estamos organicamente prontos para manter estado de 
vigília, alerta, mas não para relaxarmos. 
Em estado de permanente alerta, as funções viscerais estão preocupadas somente 
com a manutenção da vida, e, para isso, podemos usar o instinto muito bem sem 
necessidade do uso das funções mentais superiores. Quando dizemos que o SPAp 
precisa ser treinado, queremos dizer que, desde crianças, precisamos de instruções de 
como manter o organismo em situação de equilíbrio, repouso relativo, pois somente 
assim as funções mentais superiores, tão necessárias ao aprendizado, serão possíveis. 
Muitas crianças têm problemas de aprendizagem em decorrência da falta de 
conhecimento desse fato por parte dos profissionais do ensino. Por isso, ambientes que 
coloquem o aprendiz em situação de estresse ativarão as atividades do SNAs. Como 
resultado, todo um complexo de situações orgânicas será ativado: adrenalina despejada 
na corrente sanguínea que fará com que haja alterações em todo sistema 
cardiorrespiratório, alterações nos sistemas de apoio (digestão, produção de hormônios 
etc.), e, em último caso, um sequestro de sangue do cérebro para manter a musculatura 
irrigada e alimentada para a situação de luta ou fuga. 
 
As escolas deveriam estar sempre atentas a essas necessidades, preparando 
ambientes e situações que provoquem o mínimo de aversão e estresse para pensar no 
melhor aproveitamento do cérebro para os processos de aprendizagem. 
Ora, já vimos que o cérebro é um grande consu-
midor de energia. Essa energia é levada a ele 
pelo sangue. Se houver menos sangue, ha verá 
menos energia; se houvermenos energia, haverá 
menos capacidade cognitiva, e assim, a 
aprendizagem é dificultada ou, até mesmo, em 
casos mais graves, impossível. 
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UNIDADE 2 
Capítulo 3 
O cérebro, qual sua função?
 
Se perguntássemos para as pessoas sobre qual seria a maior diferença entre os 
homens e os outros animais, provavelmente a maioria citaria alguma atividade 
relacionada ao cérebro [...]. Desse modo, compreender o funcionamento do cérebro 
humano [...], ajudaria a nos conhecer melhor. (TEIXEIRA, 2004 p.86) 
Este capítulo objetiva apresentar aos leitores uma visão geral da evolução 
cerebral. Para tanto, será necessário lançarmos mão do ponto de vista evolucionista, 
defendido por Darwin, já que estaremos falando de desenvolvimento. 
 
Vamos começar com a pergunta: Por que o cérebro existe? 
 
Não creio que tenhamos parado muitas vezes na vida para refletir sobre essa 
questão, embora saibamos perfeitamente bem da importância que esse órgão tem, e que 
é o único que não pode ser substituído. 
No século XIX, Darwin propôs a teoria da evolução das espécies que mudou a 
forma como encaramos a existência da vida no planeta. Levemos em consideração que 
Darwin aparece com sua teoria em um momento histórico onde a Igreja comandava 
praticamente todas as ações políticas e sociais, e o ensinamento corrente sempre foi o 
criacionismo16. 
16 Não há o menor sentido entrar em crise de ensinamentos nesse momento. Simplesmente vamos abdicar, com todo respeito, dos 
ensinamentos criacionistas para bem entender a teoria darwiniana. 
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Para Darwin, os organismos não poderiam ter sido criados todos ao mesmo 
tempo, mas teriam se desenvolvido ao longo das eras, segundo determinadas 
contingências e necessidades, e que organismos mais complexos teriam sido originados 
em organismos mais simples. 
Sempre que há uma modificação orgânica, é um processo natural a seleção, ou 
seja, uma análise sobre se a modificação favorece a adaptação do organismo ou não. Se 
for sim, a modificação será bem-sucedida, registrada e mantida. O organismo fixa os 
registros geneticamente para que possa se reproduzir naquela nova configuração. Se a 
adaptação foi desfavorável à continuidade daquela espécie, não há fixação, e não haverá 
a reprodução. 
A unidade responsável pela transmissão dessas informações é o gene, um 
replicador da hereditariedade. Portanto, podemos começar a chamar esse processo de 
modificação, de mutação genética. Um acúmulo de modificações genéticas tende 
sempre a gerar novos organismos, cada vez mais complexos em sua estrutura e 
finalidade, já que uma modificação se sobrepõe à outra, gerando sempre novos códigos 
genéticos. 
 
O planeta, igualmente, foi passando por séries incansáveis de modificações, que 
devem, certamente, ter gerado série infindável de adaptações orgânicas, e não é difícil 
pensar que, na luta pela sobrevivência, quando mais adaptado, melhor. 
A teoria darwiniana prega que, em organismos mais simples, o processo 
adaptativo exige pelo menos uma geração para ocorrer: primeiro a mutação nas células 
germinativas dos progenitores, depois a transmissão do novo código aos seus filhos, e, 
se a adaptação foi acertada, desses para as outras gerações. Se não, perdeu-se uma 
geração. Não há nessa teoria nenhuma garantia de sobrevivência aos pais. Também, 
nessa teoria, é aceito que possa haver uma mutação ao acaso, sem que tenha havido 
necessidade do organismo se adaptar a coisa alguma. 
Esse processo é muito produtivo para seres muito simples, com tempo de vida 
curto e alta taxa de reprodução - como as bactérias -, já que a evolução tem o custo de 
uma geração. Se pensarmos nesse processo para o ser humano, que vive em média 70 
anos e com uma taxa de reprodução baixíssima em relação à maioria dos animais 
primitivos, ainda não teríamos saído da era do barro. Já não é o caso, por exemplo, da 
adaptação de um organismo primitivo a um antibiótico. Em pouquíssimo tempo, os 
 
Figura 23 - Teoria da Evolução das Espécies 
 
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laboratórios têm de criar outro mais eficiente, porque o anterior já não dá mais conta: o 
micro-organismo fez as mutações necessárias para não ser afetado e continuar se 
reproduzindo e vivendo. 
Conforme foram ocorrendo a evolução e a complexidade desse processo, não 
sobraram muitos recursos: ou o organismo se adapta às mudanças promovidas pelo 
meio, ou modifica o meio. Os vegetais, por exemplo, não modificam o meio de forma 
inteligente, e a samambaia é samambaia desde que passou a existir há milhares de anos. 
O homem já é capaz de modificar o meio inteligentemente (pelo menos era o esperado). 
Pois bem, se temos um tempo de vida longo e uma taxa de reprodução baixa, 
estamos catalogados dentro da classe dos organismos que não sobreviverão 
simplesmente reagindo às modificações do meio, precisamos mudá-lo segundo nossas 
necessidades e tendências. Qual a solução? 
A natureza encontrou uma solução: dotar o organismo de um sistema especial que possa 
gerar comportamentos mais elaborados e que permita criar meios de manipular o 
próprio meio - o cérebro e seu sistema de apoio. Os vegetais sofrem a ação, os animais 
(da escala inferior até o homem) podem criar estratégias para aumentar suas chances de 
sobrevivência. 
 
 
Mesmo o sistema nervoso dos animais mais simples, permite a esses organismos 
observar o meio em que vivem, por meio de seus receptores sensoriais, e elaborar 
alguma ação motora [...] na tentativa de garantir sua sobrevivência. (ROCHA, 1999 
p.13) 
O grande marco da evolução do sistema nervoso foi a cefalização, ou seja, o 
desenvolvimento de neurônios na região da cabeça (o encéfalo) que era responsável 
pela coordenação de todas as ações do corpo animal. (SABBATINI, 2002, in TEIXEIRA, 
2004 p. 87) 
Percebamos que, com a existência desse novo sistema, não há mais necessidade 
de se “gastar" uma geração para fazer modificações. O novo sistema permite que 
ocorram modificações de comportamento segundo as necessidades do ambiente, de 
forma rápida e organizada, em um mesmo elemento ao longo da sua vida, e, em último 
caso, esse organismo muda o ambiente para sobreviver. A transmissão dos conheci-
mentos adquiridos aos descendentes não precisa mais ocorrer somente via genética. 
Agora podemos transmitir instruções que facilitem a modificação do ambiente quando 
necessário. 
Para os profissionais do ensino, isso é de fundamental importância, pois a 
existência do cérebro é um acontecimento maravilhoso, que tem por função aprender a 
mudar o meio ou adaptar-se a ele em tempo curto, e, para tanto, só é preciso que ocorra 
Figura 25 - Cérebro 
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alguma aprendizagem. Não é fantástico? O aprendizado é uma arma poderosa na luta 
pela sobrevivência e é uma característica inata do cérebro. Então, por que algumas 
crianças não aprendem, se é uma característica inata do cérebro aprender? Pensemos 
nisso! 
É claro que não podemos comparar o cérebro primitivo com a extraordinária 
máquina que conhecemos hoje. O cérebro também evoluiu, e esse processo tem gasto 
aproximadamente 4 milhões de anos. 
A evolução mais importante para os seres humanos foi a mudança para a postura 
bípede. Agora podemos andar, mas não podemos mais correr como os animais 
quadrúpedes, velozes. Portanto, começamos a ficar fragilizados. Qual a opção? Ver 
melhor. Se osrecursos motores ficaram deficitários, a velocidade diminuída, a 
necessidade agora é utilizar a visão para poder identificar o predador a distância. 
Não podemos correr, mas podemos subir, e a vida em cima das árvores exigiu 
também uma visão de profundidade que não era tão necessária antes. Assim, vemos o 
crescimento no cérebro do córtex visual, uma das principais características dos primatas. 
 
Assim, agora que já conseguimos ter uma boa capacidade visual, surge o 
desenvolvimento aprimorado do controle motor da mão. Mais uma área cortical é 
necessária, e vemos o crescimento de áreas motoras especializadas. 
Outro problema: alimentação. Melhor comer folhas, não? Afinal, árvores têm 
muitas folhas, o chão tem folhas, e elas não são predadoras (a não ser a plantas canibais), 
não comem ninguém. Já ao contrário, agora muitos animais tornaram-se nossos 
predadores, portanto, se insistirmos em comer animais, podemos ver o tiro saindo pela 
culatra. Surge então o desenvolvimento da orofaringe a fim de facilitar a ingestão de 
frutas, insetos, animais pequenos (bem menores e não ameaçadores), folhas etc. 
Novamente torna-se necessário que o cérebro crie outra área para essa nova 
aprendizagem e controle de movimentos. 
Bem, agora estamos protegidos entre as folhas das árvores, mas e a 
comunicação? O sistema visual está aprimorado, mas não resolve nosso problema, pois 
estamos, na maioria das vezes, escondidos dos predadores. Agora começa ser 
importante o som como veiculo de contato, a vocalização começa a ser aprimorada para 
garantir a vida social e a sobrevivência do grupo. A princípio, há sons guturais, grunhidos 
e gemidos, evoluindo para o uso de símbolos que poderiam se tornar palavras. 
Mas viver nas árvores não é fácil. Imagine se, cada vez que pretender mudar de 
galho, você tenha de descer da árvore para subir novamente por outro galho. Havia 
necessidade de mais um aprimoramento: uma boa organização visório-motora1 que 
permitisse pular de galho em galho sem precisar descer. Que tal? 
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Figura 27 - Gritar 
 
Muito bom, quase tudo está no lugar. No entanto, agora na condição bípede, 
nossa cabeça está mais acima do corpo e recebe maior quantidade de calor do que 
antes. A energia dos raios solares pode aumentar a temperatura intracraniana. A questão 
é que uma célula nervosa é exigente demais para funcionar e não abre mão de 
condições, no mínimo, ótimas: muito oxigênio, muita energia na forma de glicose e 
temperatura agradável. O que acham das exigências? 
Entra novamente a natureza para dar conta disso: melhorar o serviço de irrigação 
cerebral, aumentar a quantidade de líquido refrigerante (liquor ente os ventrículos 
cerebrais) e, é claro, por via das dúvidas, aumentar a quantidade de neurônios para 
ampliar a gama de circuitos neuronais, favorecendo que haja redundância no 
processamento de informações (melhora na resolução de tarefas) e, é claro, diminuição 
considerável dos problemas relacionados à morte neuronal. (ROCHA, 1999) 
 
Agora sim, tudo certo! Certo? 
Quando assumimos a postura bípede, houve uma diminuição dos diâmetros da 
bacia. Até aí tudo bem, só que isso agora é um perigo para a sobrevivência. O feto 
precisa nascer antes, senão ele cresce demais e não consegue abandonar o corpo 
materno. Nascer antes significa nascer imaturo. O cérebro não pode maturar muito, pois, 
no nascimento, o diâmetro da cabeça é muito importante. 
Vamos ver o lado bom disso. Um cérebro imaturo pode ser melhor moldado pelas 
condições do ambiente. Além do que, pode ser desenvolvida maior plasticidade neuronal 
e podem-se garantir melhores condições de sobrevivência. 
Por outro lado, se houver maior imaturidade, haverá maior necessidade de 
proteção e cuidado por parte dos pais. É necessário agora criar uma estrutura familiar, 
com laços mais fortalecidos que permitam maior proteção e cuidados. Quando há laços 
mais favorecidos entre indivíduos da mesma espécie, quanto maior for a socialização, 
maior será a proteção. É importante então um sistema cortical para lidar com algumas 
regras, questões subjetivas. 
 
Agora nosso cérebro já depende, entre outras coisas, de uma cultura que o 
ali
 
Figura 28 - Proteção 
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mente com as normas e as regras da convivência. Quando mais complexa for a cultura, 
maior será a rede neuronal necessária para lidar com os também complexos problemas 
dessa cultura. Portanto, a cultura força a criação de uma rede neuronal bastante 
complexa e um melhor aproveitamento das funções neuronais. A aprendizagem das 
questões relacionais e culturais parece ser uma das primeiras formas de enriquecimento 
cerebral. 
Definitivamente deixamos a força bruta e passamos a depender da inteligência 
para sobreviver nesse novo mundo. A aprendizagem surge como ferramenta mais 
importante que o machado. O cérebro agora passa a ser moldado (já que não nasce mais 
pronto), programado. A comunicação precisa ser eficiente para transmitir as soluções 
adaptativas entre os indivíduos daquela sociedade. 
Agora, protegidos pelos mais velhos, crianças podem começar a brincar mais, 
fazem amizades, jogam, aprendem truques e soluções que são transmitidas não somente 
pelos mais velhos, mas também de criança à criança. É impossível não se lembrar de 
Vygotsky e sua teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal e de que o profissional do 
ensino deveria ser um mediador entre o que a criança sabe e o que ela está pronta para 
saber, e isso ocorre mais facilmente quando ela está entre seus pares. 
É certo que já temos uma série de informações que precisam ser organizadas. Não 
estamos mais reagindo de forma mecânica e irracional. Nosso cérebro não nasce mais 
pronto, estamos moldando e manipulando a natureza, precisamos aprender a maioria 
das coisas que vão nos permitir viver por muitos anos. 
O processo de ensino começa a se institucionalizar até chegarmos ao que 
conhecemos hoje como escola. Porém, a escola não dá conta de tudo e, até hoje, está 
incompleta, pois que se coloca na condição de organizadora e transmissora de 
informações (embora alguns achem que a escola educa, continuo a afirmar que ela 
formaliza dados e informações). As escolas ainda pecam em uma função básica: não 
aprenderam a ensinar o cérebro, nem mesmo o cérebro comum, quanto mais criar 
condições para ensinar cérebros que funcionam de forma não comum. 
O ser humano tem uma característica peculiar e original no reino animal, nasce com 
um cérebro imaturo e inconcluso. (FONSECA, 1995b p. 50) 
 
Para saber mais: http://saude.ig.com.br/cerebro/. 
 
EXERCÍCIO DE SÍNTESE...Para pensar.... 
 
Sintetize quais foram as principais mudanças sofridas pelo cérebro humano através dos 
tempos. 
 
 
 
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Capítulo 4 
 Mais um pouco sobre o cérebro
 
 
Desde o início da história evolutiva, os dois movimentos básicos dos organismos 
são a busca daquilo que pode dar prazer e a fuga daquilo que pode infligir dor, ou seja, 
mecanismos de luta e fuga são norteadores da vida1 (recorde o que falamos sobre SNAs 
e SNAp). 
Assim, já de muito cedo nos organismos animais, desde os mais primitivos até o 
homem, uma das tarefas mais importantes foi aprender a identificar ambientes hostis a 
fim de fugir ou fazer o enfrentamento, ou de identificar ambientes favoráveis ao 
desenvolvimento e ao prazer, e desencadear comportamento de aproximação a esses 
ambientes. A dor, o medo, a agressividade, a luta, o prazer, o amor etc. são mecanismos 
bastante eficientes criados pela natureza para dar conta dessasdificuldades. 
O sistema nervoso é um canal de comunicação que fica entre a vida orgânica e a 
vida mental. Por ele, transitam todas as informações que vão gerar os comportamentos 
acima citados. O cérebro é um dos componentes desse sistema nervoso (medula, nervos, 
cerebelo, tronco encefálico são outros). 
No cérebro, em particular, que, como vimos no capítulo anterior, foi criado para 
processar informações e promover comportamentos adaptativos, existem vários lugares 
onde as coisas acontecem. 
Existe uma parte do cérebro que atua processando a necessidade de as reações 
básicas ocorrerem (luta ou fuga, e acasalamento). Esta área é a mais antiga no processo 
de desenvolvimento, a que apareceu primeiro quando a natureza resolver criar um 
cérebro. Apesar de muito antiga, é conservada em todo sistema nervoso dos animais. 
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Seu nome científico é arquipálio e é característico dos répteis e, por isso, também é 
conhecido como cérebro reptiliano. (GIL, 2005 p.3) 
 
 
Não satisfeita, a natureza aumentou a complexidade e a necessidade de um 
aparelho mais sofisticado para dar conta das adaptações necessárias que se fizeram 
presentes. Assim surge uma camada que se sobrepõe ao arquipálio, assentando-lhe 
como uma manta (pallium, do Latim é equivalente à manta). Esse mecanismo surge e 
coloca o animal em condições de sentir e expressar emoções mais delicadas. É caracte-
rístico dos mamíferos inferiores, é o paleopálio ou sistema límbico (fig.30). 
 
Figura 30 - Paleopálio 
Então aparece o cérebro humano que é a máquina mais perfeita e complexa 
existente hoje no planeta. O cérebro humano passou a existir no momento em que o 
animal começou a necessitar de planos mais elaborados para dar conta da sua 
sobrevivência e manipular o meio onde vivia. Essa camada é chamada neopálio, ou neo- 
córtex. Neo de novo, portanto a manta mais nova. Nessa nova massa, concentram-se as 
funções intelectuais, a lógica e a razão. O neocórtex existe em muitos animais racionais, 
mas, somente no ser humano, ele consegue seu pleno desenvolvimento. 
 
 
No entanto, hoje sabemos que essas unidades somente atingem funcionamento 
adequado quando trabalham juntas. Por exemplo, ainda hoje o arquipálio (o mais antigo) 
tem ação direta em nossas vidas, na medida em que regula nossas ações para 
enfrentamento ou fuga e, até mesmo, nos permite algumas funções mais automáticas, 
como respirar, digerir, dormir e acordar etc. Quando há lesões que isolam essa área 
cortical, pode ocorrer de o indivíduo perder a capacidade de tomar decisões adequadas 
à sua sobrevivência. (ROCHA, 1999) 
O paleopálio ainda é influente, e, quando não temos controle racional sobre as 
situações, somos vítimas dessa área reagindo tão emocionalmente quanto um cão ao ser 
chutado. Quando ocorrem lesões nessa área, podemos tanto presenciar situações de 
descontrole emocional quanto o inverso, com total embotamento emocional. 
O neopálio apareceu exatamente para colocar "ordem na casa", ou seja, permitir 
ao ser humano ser dono das suas condições e das suas emoções. Quando temos lesões 
ou anomalias nessa área, podemos ter pessoas com sérios problemas de planejamento, 
por excesso ou por falta. "A razão sem a emoção é tão irracional quanto a emoção não 
con
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tida." (ROCHA, 1999 p.17) 
Pois bem, quando nascemos, não surgimos com o cérebro zerado. Lembrem que, 
no capítulo anterior dissemos que a natureza foi evoluindo conforme as necessidades de 
adaptação e que um organismo adaptado transfere as informações do novo 
comportamento para seus descendentes por herança genética. 
 
Essa herança genética traz, gravadas no cérebro, as informações mais importantes 
para a sobrevivência do animal já ao nascer, algumas bastante reflexas, como respirar, 
digerir, sugar, entre tantas, assim como outras mais aprimoradas. O animal recém-
nascido já sabe, por exemplo, distinguir a face amiga da face do predador, assim tem 
muito mais chances de sobreviver. Crianças conseguem distinguir faces agressivas de 
faces amigáveis antes que qualquer tipo de raciocínio apareça. Depois ele vai precisar 
aprender sobre o mundo onde viverá e, mais uma vez, vai ter a oportunidade de realizar 
alterações comportamentais para se adaptar a todas as mudanças que ocorrerem. 
Notemos que novamente aparece o termo aprender. 
Para termos uma ideia de como já nascemos com informações adaptativas 
gravadas geneticamente, pesquisas apontam que nascidos cegos podem desenhar 
figuras, como casa, pássaro, coração etc., isto explica a teoria anterior de que, quando 
nascemos, os neurônios já receberam algumas informações comuns à raça, herança 
filogenética2, que lhes permite adaptação social. (ROCHA, 1999) 
Dessa forma, ao nascermos, não somos o que se costumou chamar de tabula rasa, 
ou um cérebro zera- do. Porém, esse conhecimento que trazemos é somente inicial e foi 
selecionado durante o período evolutivo. A partir desse conhecimento inicial, vamos 
organizando e aprendendo o mundo. Isso justifica perfeitamente o que chamamos de 
traços ou tendências das crianças. Novamente o termo aprendizagem se torna evidente. 
É impossível não pensar que essa é uma das funções básicas do cérebro. 
Quanto aos traços ou às tendências inatas, quando encontramos educadores - e 
aqui uso o termo educador não na mesma qualificação de professor17 - que levam isso 
em consideração, sabemos que eles tomarão o cuidado de não eliminar essas tendências, 
mas de aproveitá-las em benefício das aprendizagens que se segmentarão sobre elas, e 
de criar um meio por onde isso possa ocorrer. 
 
É claro que, como a adaptação exige tanto comportamentos nobres como muito 
violentos, as tendências que trazemos podem ser nobres ou não. Os pais e os envolvidos 
no processo educacional deverão então "polir" a criança. 
Polir significa que os cuidados serão redobrados, porque, assim como no cristal 
bruto, se o artífice forçar o polimento segundo seu desejo, o cristal partirá, e tudo estará 
17 Etimologicamente, educar tem seu radical no Latim educare ou educere que significa extrair, tirar de dento, cultivar. Professor é aquele 
que professa, fala, versa, propaga, faz propaganda. 
 
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perdido; mas, se souber polir segundo a estrutura que o cristal apresenta, tirará dele uma 
forma que o converterá em uma joia única e de valor muitas vezes incalculável, já que 
não há dois cristais com a mesma estrutura. 
 
Para saber mais: http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/07/o-cerebro-foi-bpara-
escolab.html. 
 
 
Atividade de Síntese 
 
Escreva sobre os mecanismos de aprendizagem. 
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