Prévia do material em texto
PRÁTICA DE ESTÁGIO: PROJETO DE INTERVENÇÃO AULA 6 Profª Sandra Aparecida Silva dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo! Nesta aula, discutiremos os desafios que se impõem ao trabalho do assistente social nos diferentes espaços de atuação do serviço social. TEMA 1 – ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL Entendido como produto histórico, o espaço profissional do assistente social depende do nível de luta pela hegemonia de classes e pelas respostas teórico-práticas da categoria (Iamamoto; Carvalho, 2014). Chamado a atuar na mediação das relações entre instituições e população, o assistente social atuante nas instituições públicas e privadas planeja, operacionaliza e viabiliza os serviços sociais à população. Atuando em situações da vida cotidiana, o profissional depara-se com questões relativas a saúde, trabalho, educação, moradia etc., intervindo a partir dessas expressões concretas das relações sociais; relações estas que se concretizam no espaço do estágio (Iamamoto; Carvalho, 2014). Segundo pesquisa realizada pelo CFESS (2005), o Estado é o principal empregador de assistentes sociais, perfazendo 78,16% do total de trabalhadores. Esses profissionais atuam na formulação, no planejamento e na execução das políticas sociais, com destaque para as políticas de saúde, assistência social, educação e habitação. Mais frequentemente, o assistente social opera nas áreas de assistência, da criança, do adolescente e da saúde. Também estão inseridos em empresas privadas (13,19%) e no terceiro setor (6,81%). Destes, 6,6% trabalham em autarquias, instituições de economia mista, cooperativas, fundações, instituições científicas culturais e paraestatais. As relações entre o projeto ético-político da categoria e o trabalho assalariado constituem-se, para Iamamoto (2014), em relações tensas, pois as últimas submetem o trabalhador a regras de mercado, reduzindo a sua autonomia na condução do trabalho e na implementação do projeto profissional da categoria. TEMA 2 – O ASSISTENTE SOCIAL COMO TRABALHADOR ASSALARIADO Para Iamamoto (2000), “o serviço social reproduz-se como um trabalho especializado na sociedade por ser socialmente necessário: produz serviços 3 que atendem às necessidades sociais, isto é, tem um valor de uso, uma utilidade social”. Como ocorre com qualquer área profissional, ele depende da relação de “compra e venda" da força de trabalho. O entendimento do assistente social como um assalariado inserido na divisão técnica do trabalho submete-o às regras do sistema, que compra a sua força de trabalho e detém, segundo Raichelis (2011), os recursos para a operacionalização dela; ela está ligada ao desenvolvimento de programas, projetos, serviços, benefícios e um conjunto de outras atribuições e competências de atendimento direto ou em nível de gestão e gerenciamento institucional. O profissional depara-se com muitos desafios: ele está inserido na divisão do trabalho e vende a sua força de trabalho, mas não detém os meios de efetivação de sua prática profissional; trabalha com questão social e sequelas da desigualdade; precisa lidar ainda com a supremacia do interesse privado com relação ao interesse público no desenvolvimento de programas e projetos sociais (Iamamoto, 2014). Somada à questão do interesse privado na permanência das relações de exploração, o assistente social, ao vender a sua força de trabalho, submete-se “a dilemas e constrangimentos comuns a todos os trabalhadores assalariados” (Raichelis, 2011, p. 4) em uma realidade profissional de tensão pelo compromisso de viabilização do projeto ético-político da profissão; em uma realidade de vendedor de sua força de trabalho e não detentor das condições e dos meios de efetivação desse trabalho, em um cenário político neoliberal e de condições de trabalho impactadas por precarização, terceirização e flexibilização. TEMA 3 – O ESTADO COMO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL A assistência social compreendida como política de seguridade social pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS, 2001, p. 7) foi legalmente reconhecida como direito social e dever do Estado pela Constituição de 1988 e pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) (Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993). Essa lei regulamentada pelo Governo Federal com aprovação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da Política Nacional de Assistência Social (2004) e pelo Sistema Único de 4 Assistência Social. Constitui-se em um dos mais importantes campos de atuação do assistente social. Os desafios da questão social no Brasil requerem um profissional que, além do atendimento da assistência social, seja capaz de realizar uma intervenção mais ampla, além de desenvolver pesquisas e ações, elaborando, executando e avaliando as políticas públicas. Outro campo de atuação do assistente social que é de significativa importância em termos de volume de profissionais e vagas de estágio é o da área de saúde, na qual, segundo Kruger (2010), ele opera no âmbito da gestão e do planejamento, também coordenando e operacionalizando os diversos programas para atendimento a populações diversas em idade, gênero, patologias etc., e acompanhando os programas referentes a tratamentos, promoção da saúde e prevenção. TEMA 4 – A ÁREA DE EDUCAÇÃO COMO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL São inúmeras as tentativas de efetivação da atuação do assistente social no espaço escolar, na rede de ensino, assim como são incontáveis as justificativas para a efetivação desse espaço de atuação. Entendendo a atuação do assistente social nas escolas como uma estratégia de consolidação da cidadania, Almeida (2000, p. 2) alerta que o assistente social na escola deve [...] pensar sua inserção na área de educação não como uma especulação sobre a possibilidade de ampliação do mercado de trabalho, mas como uma reflexão de natureza política e profissional sobre a função social da profissão em relação às estratégias de luta pela conquista da cidadania através da defesa dos direitos sociais das políticas sociais. A respeito da atuação do assistente social na área escolar, o CFESS (2011) aponta como possíveis focos de atuação profissional o baixo rendimento escolar, a evasão escolar, o desinteresse pelo aprendizado, os problemas com indisciplina, a insubordinação a qualquer limite escolar, a vulnerabilidade às drogas e as atitudes e os comportamentos agressivos e violentos. Os problemas sociais repercutem diretamente nos resultados esperados na área de educação, mas, apesar dessa constatação, a efetivação da incorporação do assistente social no espaço sócio-ocupacional das escolas 5 ainda enfrenta resistências: o Projeto de Lei n. 837/2003, que institui o serviço social nas escolas públicas, ainda não foi efetivado. TEMA 5 – A INICIATIVA PRIVADA E O TERCEIRO SETOR COMO ESPAÇOS SÓCIO-OCUPACIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL A institucionalização do serviço social como profissão encontra-se, para Iamamoto e Carvalho (2014), intimamente relacionada ao crescimento de instituições assistenciais gerenciadas ou geridas pelo Estado e à demanda de técnicos na área de relações humanas na indústria que buscam garantir as relações de trabalho e o modo de produção. A partir dos anos 1990, com a intensificação da política do Estado Liberal, ocorre o afastamento do Estado no acompanhamento às expressões da questão social. Esse papel foi delegado à sociedade civil, que transformou o discurso de direito em um discurso de filantropia, promovendo, segundo Montaño (2002), juntamente com o avanço do terceiro setor, a substituição dos avanços históricos sociais e dos trabalhadores. A respeito da atuação do assistente social tanto em instituições privadas ‒ no acompanhamento ao trabalhador ‒ quanto no terceiro setor, Iamamoto (2001)alerta que a posição de trabalhador assalariado do assistente social interfere diretamente em sua autonomia em termos de direcionamento de sua prática profissional. Apesar de seus papéis históricos na manutenção do sistema de produção capitalista, as empresas e o terceiro setor não se constituem em grandes empregadores de assistentes sociais, contabilizando, segundo uma pesquisa do CFESS (2005), apenas 20% dos postos de trabalho. A respeito da atuação do assistente social, Iamamoto (2000, p. 20) aponta como grande desafio o conhecimento da realidade para construir propostas de trabalho "capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo”. NA PRÁTICA O assistente social ocupa diferentes espaços sócio-ocupacionais, estando, em sua maioria, inseridos no setor público, o que requer desse 6 profissional o conhecimento de políticas públicas, planejamento e pesquisa. Para elaborar, executar e avaliar essas políticas, ele tem que ser crítico, além de estar atento e atualizado. Durante a realização do estágio supervisionado, o aluno buscará o conhecimento a respeito do campo em que seu estágio se insere de forma crítica e histórica para construir seu plano de estágio e seu projeto de intervenção. FINALIZANDO Diferentes são os espaços de atuação do assistente social. Durante o estágio supervisionado, você, estagiário, se apropriará das particularidades de seu campo, devendo, no entanto, conhecer e discutir as possibilidades de atuação e de trabalho em rede com os diversos espaços de atuação. 7 REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. L. T. O serviço social na educação. Revista Inscrita, Brasília, ano 3, n. 6, jul. 2000. BRASIL. Comissão de Educação e Cultura. Projeto de Lei PL 837/2003. Disponível em: <http://www.cress-mg.org.br/arquivos/projeto_lei_837.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2017. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Assistentes sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil profissional. Brasília: UFAL/CRESS, maio 2005. _____. Parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de assistência social. Brasília: CFESS, 2011. IAMAMOTO, M. V. A questão social no capitalismo. Temporalis, Brasília, v. 2, n. 3, jan./jun. 2001. _____. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional! 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000. IAMAMOTO M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014. KRUGER, T. R. Serviço social e saúde: espaços de atuação a partir do SUS. Revista Serviço Social e Saúde. Campinas, UNICAMP, v. IX, n.10, dez. 2010. MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social: crítica do padrão emergente de intervenção social. São Paulo: Cortez, 2002. NETTO, J. P. Cinco notas a propósito da questão Social. Temporalis, Brasília, v. 2, n. 3, jan./jun. 2001. RAICHELIS, R. O assistente social como trabalhador assalariado: desafios frente à violação de seus direitos. Serviço Social e Sociedade, n. 107, 2011. RODRIGUES, J. S. et al. Questão social e serviço social: entre contexto e repercussões. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v .2, n. 2, jul./dez. 2014. SILVA, I. M. F. Questão social e serviço social na formação sócio-histórica brasileira. Temporalis, v. 13, n. 25, 2013.