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Fisiopato Doenças da tireoide Bócio - É o aumento volumétrico da tireoide - Decorre da hiperplasia do parênquima tireoidiano Classificação -> Quanto a distribuição no parênquima . Bócio difuso (acomete todo parênquima) . Bócio nodular (uninodular ou multinodular) -> Quanto à produção de hormônios tireoidianos . Bócio hiperfuncionante/tóxico (há aumento na produção de hormônios) . Bócio não-hiperfuncionante (não há aumento na produção de hormônios) -> Quanto à prevalência na população . Bócio endêmico (quando mais de 10% da população em determinada área geográfica apresenta a doença) . Bócio esporádico Tireotoxicose/hipertireoidismo - É um estado hipermetabólico causado por níveis circulantes elevados de T3 e T4 livres - É desencadeada, na maioria das vezes, pela hiperfunção da glândula tireóide (hipertireoidismo) - Em certas condições, o excesso de oferta está relacionado com a liberação excessiva de hormônio tireoidiano pré-formado ou é proveniente de uma fonte extratireroidiana e não de uma glândula hiperfuncional - As manifestações clínicas são atribuíveis, ao estado hipermetabólico induzido pelo hormônio tireoidiano e à hiperatividade do sistema nervoso simpático Manifestações clínicas . Emagrecimento , fadiga, astenia, hipertermia, intolerância ao calor . Pele quente, úmida, eritema palmar, dermatografismo, prurido, urticária, cabelo quebradiço e úmido, alopecia discreta, unhas quebradiças, onicólise (unhas de Plummer) . Taquicardia, palpitação, ICC, HAS, angina do peito, arritmias atriais, sinais de hipercinesia cardíaca . Taquidispneia . Aumento do número de evacuações, elevação de enzimas hepáticas, diminuição de colesterol, colesterol LDL e triglicerídeos . Insônia, irritabilidade, agitação psicomotora, diminuição da capacidade de concentração, tremor fino de extremidades, clônus, . Fraqueza muscular proximal, redução da massa óssea (osteopenia e osteoporose) . Oligomenorreia, amenorreia, anovulação Fisiopato Causas -> Causas primárias associadas ao hipertireoidismo . Hiperplasia tóxica difusa (Doença de Graves) . Bócio multinodular hiperfuncionante . Adenoma hiperfuncionante . Hipertireoidismo induzido por iodo -> Causas secundárias associadas ao hipertireoidismo . Adenoma hipofisário secretor de TSH -> Causas não associadas ao hipertireoidismo . Tireoidite granulomatosa (de Quervain) . Tireoidite linfocítica subaguda . Struma ovarii (teratoma ovariano com tireóide ectópica) . Tireotoxicose factícia (ingestão de tireoxina exógena) Patologias associadas 1. Doença de graves - É um bócio difuso tóxico - É a principal causa de hipertireoidismo endógeno (85% tireotoxicose) - É uma doença autoimune caracterizada pela formação de auto-anticorpos contra o receptor de TSH que se ligam e estimulam células foliculares tireoidianas independentes dos hormônios tróficos endógenos - Acomete mais mulheres entre 20-40 anos de idade (risco nas mulheres é 7x maior do que os homens) - A incidência é elevada em familiares de pacientes afetados e a taxa de concordância em gêmeos monozigóticos chega a 60% Fatores etiológicos - Suscetibilidade genética = associada ao sistema HLA (HLA-DR3) e polimorfismos em genes cujos produtos regulam as respostas das células T (incluindo o receptor inibidor da célula T, o CTLA-4 e a tirosina fosfatase PTPN22) Patogênese - Dentre os auto-anticorpos formados estão: . Imunoglobulina estimuladora da tireoide (TSI): esse anticorpo IgG se liga ao receptor de TSH e mimetiza a ação do TSH, estimulando a adenilciclase e resultando no aumento da liberação de hormônios tireoidianos. . Imunoglobulinas estimuladoras do crescimento da tireoide: são direcionados contra o receptor de TSH (implicados na proliferação do epitélio folicular da tireoide) . Imunoglobulinas inibidoras de ligação do TSH: esses anticorpos antirreceptores de TSH impedem o TSH de se ligar ao seu receptor nas células epiteliais da tireoide, resultando na inibição da função das células da tireoide Fisiopato Macroscopia - Tireoide aumentada simetricamente (em função da hipertrofia e da hiperplasia difusas das células epiteliais foliculares da tireoide) - Parênquima com aparência macia e “carnosa” Microscopia - Os folículos são revestidos por células epiteliais colunares altas que reabsorvem ativamente o coloide nos centros dos folículos, resultando em uma aparência “recortada” do coloide Manifestações clínicas - Manifestações clínicas da tireotoxicose e manifestações exclusivas, dentre elas: . Hiperplasia difusa da tireóide (bócio simétrico e homogêneo) . Oftalmopatia (infiltração do espaço retro- orbitário por células LMN, edema inflamatório e tumefação dos músculos extra-oculares, acúmulo de componentes da MEC como ácido hialurônico e condroitina, infiltração gordurosa) . Dermopatia (espessamento escamoso e endurecimento em região pré-tibial, nódulos ou pápulas pigmentados aspecto “casca de laranja”) 2. Bócio difuso multinodular tóxico - Os bócios multinodulares costumam ser hormonalmente silenciosos - Uma minoria (aproximadamente 10% ao longo de 10 anos) manifesta-se com tireotoxicose secundária ao desenvolvimento de nódulos autônomos que produzem hormônio tireoidiano independente da estimulação do TSH - A incidência de malignidade é baixa (<5%), mas não chega a zero, a preocupação com malignidade surge com os bócios que demonstram mudanças súbitas no tamanho ou sintomas associados 3. Síndrome de Plummer - É um bócio multinodular tóxico Fisiopato - Não é acompanhada pela oftalmopatia infiltrativa e dermopatia da tireotoxicose associada à doença de Graves 4. Tireoidite sub-aguda granulomatosa - Também conhecida como tireoidite de quervain - É um processo inflamatório que acomete a tireóide de etiologia viral ou que surge após infecção viral - Acomete mulheres 30-50 anos (risco > do que homens) - O início pode ser agudo ou insidioso - Ocasionalmente, é assintomática Patogênese 1- Infecção viral pelos vírus : adenovírus, vírus da caxumba, coxsackie ou influenza 2- Antígenos virais estimulam a formação de linfócitos T citotóxicos que lesam as células foliculares Manifestações clínicas - Aumento de volume da tireoide e dor intensa na região cervical que se irradia para o ângulo da mandíbula e a região auricular (piora com a movimentação da cabeça, a deglutição ou a tosse) - Dor faríngea e odinofagia - Febre, mal-estar, cansaço e mialgias - Hipertireoidismo transitório (presente em 50% dos casos, desencadeado pela ruptura dos folículos e liberação excessiva de hormônio tireoidiano) - Tireotoxicose - Eutireoidismo - Hipotireoidismo (presente em 25%) Macroscopia - Aumento unilateral ou bilateral da glândula - As áreas acometidas são firmes e amarelo- esbranquiçada e se sobressaem à substância marrom normal e flexível Microscopia - Acúmulo de células gigantes multinucleadas (as quais desenvolvem lagos ou fragmentos de colóide) - Resto de coloide - Fibrose 5. Tireoidite linfocítica sub-aguda - É o aumento indolor da glândula tireóide (bócio) - Acomete crianças e adolescentes - Não possui sinais de infecção aguda - Manifestação clínica = hipertireoidismo transitório Fisiopato 6. Tireoidite pós-parto - É o aumento indolor da glândula - Possui caráter auto-imune - Manifestação clínica = hipertireoidismo transitório Hipotireoidismo - É desencadeado por distúrbios estruturais ou funcionais que interferem na produção de hormônio tireoidiano - Pode ser classificado em hipotireoidismo primário (decorrente de uma anormalidade intrínseca na tireoide) ou hipotireoidismo seceundário (decorrente de uma doença hipotalâmica ou hipofisária) Causas -> Causas primárias . Pós ablativa = tireoidectomia . Hipotireoidismo auto-imune = tireoidite de hashimoto . Deficiência de Iodo . Fármacos (lítio, iodetos, ácido aminossalicílico . Defeito biossintético congênito (bócio disormonogenético) (raro) . Defeitos genéticosno desenvolvimento da tireoide (raro) . Síndrome de resistência ao hormônio da tireoide (raro) -> Causas secundárias . Insuficiência hipofisária . Insuficiência hipotalâmica Manifestações clínicas - Fadiga generalizada, apatia e lentidão mental, depressão - Pele fria, pálida, seca, áspera, intolerância ao frio, iminuição da sudorese - Obstipação intestinal, redução do apetite - Redução do débito cardíaco (diminuição da FC) - Alteração no metabolismo de lipídeos e carboidratos (aumento nos níveis de colesterol total e LDL) - Obesidade, edema (mixedema) - Fraqueza muscular, parestesia Patologias associadas 1. Hipotireoidismo congênito (cretinismo) - Acomete o bebe - Ocorre através de um feedback negativo na passagem transplacentária de uma mãe que tem hipertireoidismo - O diagnóstico é feito através do teste do pezinho - Manifestações clínicas = desenvolvimento prejudicado do sistema esquelético e do sistema nervoso central, retardo mental grave, baixa estatura, características faciais grosseiras (ex: língua protuberante), hérnia umbilical 2. Tireoidite de hashimoto - É a causa mais comum de hipotireoidismo em áreas do mundo onde os níveis de iodo são suficientes - É caracterizada por insuficiência tireoidiana gradual secundária à destruição auto-imune da glândula tireóide - É mais prevalente em mulheres entre 45 e 65 anos de idade (mas pode ocorrer em qualquer idade, inclusive em crianças) Patogênese - É provocada pela ruptura da autotolerância aos antígenos tireoidianos - Os autoanticorpos circulantes contra os antígenos tireoidianos estão presentes na imensa maioria dos pacientes, que demonstram depleção progressiva das células epiteliais tireoidianas (tireócitos) e a sua Fisiopato substituição por infiltrado celular mononuclear e fibrose - Os mecanismos imunológicos que podem contribuir para a lesão dos tireócitos são: . Morte celular mediada por células TCD8 = As células T citotóxicas CD8+ podem provocar a destruição dos tireócitos . Morte celular mediada por citocinas = A ativação excessiva das células T leva à produção de citocinas inflamatórias como por exemplo, o interferon gama na glândula tireoide resultando no recrutamento e ativação de macrófagos e lesão dos folículos . Ligação de autoanticorpos antitireoidianos (anticorpos antitireoglobulina e antiperoxidase tireoidiana) acompanhados por citotoxicidade anticorpo dependente mediada por células * Suscetibilidade aumentada para a tireoidite de Hashimoto está associada a polimorfismos em múltiplos genes associados à regulação imune, sendo a mais significativa a vinculação ao gene do antígeno 4 associado ao linfócitoT citotóxico (CTLA4), que codifica um regulador negativo da função da célula T Macroscopia - Glândula difusamente aumentada - Superfície pálida - Pode haver a formação de nódulos Microscopia - Há extensa infiltração do parênquima por infiltrado inflamatório mononuclear contendo pequenos linfócitos, plasmócitos e centros germinativos bem desenvolvidos - Os folículos tireoidianos são atróficos e revestidos - Há presença de células de Hürthle (metaplasia do epitélio folicular cuboide) * Na tireoidite de Hashimoto “clássica”, o tecido conjuntivo intersticial está aumentado e pode ser abundante Manifestações clínicas - Aumento indolor, simétrico e difuso da tireóide - Em alguns casos há nódulos (não palpaveis) - Sinais de hipotireoidismo - Pode ser haver tireotoxicose transitória (causada pela ruptura dos folículos Fisiopato tireoidianos, com liberação secundária de hormônios tireoidianos) 3. Tireoidite de riedel - É uma manifestação da doença relacionada com a IgG4 - É caracterizada por fibrose extensa envolvendo a tireoide e estruturas cervicais contíguas - A avaliação clínica demonstra uma massa tireoidiana fixa e dura, simulando neoplasia maligna - Pode estar associada a fibrose idiopática em outros locais do corpo, como o retroperitônio - Possui características clínicas de hipotireoidismo - Apresenta 3 etapas: hiperplásico, bócio coloide verdadeiro e nodular (com hemorragia e calcificação) 4. Bócio difuso multinodular não tóxico - Decorre da síntese prejudicada do hormônio tireoidiano, causada pela deficiência alimentar de iodo - Produz os aumentos mais extremos da tireoide e podem ser confundido com uma neoplasia Patogênese - A diminuição da síntese do hormônio tireoidiano promove aumento compensatório no TSH sérico, que acarreta na hipertrofia e a hiperplasia das células foliculares tireoidianas e por fim o aumento da glândula tireóide Manifestações clínicas - O grau de aumento da tireóide é proporcional ao nível e duração da deficiência de hormônio tireoidiano - As alterações compensatórias superam a deficiência hormonal e mantêm o estado metabólico eutireoidiano na maioria dos indivíduos afetados - Se houver distúrbio subjacente (ex: um defeito congênito na biossíntese) as respostas compensatórias podem ser inadequadas, resultando em hipotireoidismo com bócio