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Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na infância I Objetivos 1. Definir o choque séptico, diferenciando dos demais tipos. 2. Conhecer a fisiopatologia do choque séptico, diferenciando SIRS, SEPSE, SEPSE GRAVE e CHOQUE SÉPTICO. 3. Compreender como ocorre o diagnóstico laboratorial e clínico do choque séptico, relacionando com os sistemas acometidos. 4. Esclarecer como ocorre o tratamento do choque séptico, associando com seu tratamento específico e de suporte. Fisiologia da hemodinâmica Os elementos mais importantes da fisiologia para entender o choque são a pré-carga, a contratilidade do coração e a pós- carga. Esses fatores, quando alterados, podem agravar um quadro de choque. Ionotropismo Contração em si, ou seja, a força de contração ou contratilidade do ventrículo esquerdo. Pré-carga A pré-carga é a pressão do ventrículo esquerdo (VE) ao final da diástole. Há algumas variáveis relacionadas à pré-carga, como a volemia, a quantidade de sangue circulante e ao retorno venoso. Dessa forma, quanto maior o valor de uma das variáveis, maior a pré-carga. A complacência do músculo cardíaco é justamente a dinâmica de afastamento ou aproximação das fibras musculares do tecido cardíaco, quando o volume de sangue aumenta ou diminui. Ou seja, a complacência do músculo cardíaco é diretamente proporcional ao valor da pré-carga. Contratilidade A contratilidade do coração está diretamente ligada ao funcionamento da bomba cardíaca. Se há acometimento da contratilidade, há queda do trabalho cardíaco. O efeito do SNP simpático e as alterações metabólicas podem afetar a contratilidade. Pós-carga A pós-carga é a pressão do VE ao final da sístole e a pressão contra a qual o VE precisa trabalhar para que ocorra a diástole. A resistência vascular sistêmica (VE) e pulmonar (VD) são as variáveis da pós-carga. Ou seja, com o aumento da pós-carga, aumenta a resistência com a qual o coração terá de ir contra, tendo uma queda no volume sistólico. Finalizando, quanto menor a pós-carga, mais facilmente o coração trabalha e ejeta sangue, aumentando o volume sistólico. Frequência cardíaca Ou seja, quanto maior a frequência cardíaca, maior o débito cardíaco, e consequentemente, há um acometimento do volume sistólico. Importante ressaltar que o pico do Volume Diastólico Final é o ponto máximo de um ciclo cardíaco fisiológico. Se a FC ultrapassa esse ponto (160 bpm), há acometimento do volume ventricular. Isso prejudica o tempo de diástole, que causa uma diminuição do volume cardíaco, incluindo o volume sistólico. Finalizando o raciocínio, as variáveis que influenciam o volume sistólico além do pico de volume máximo são, a pré-carga, a pós-carga e a contratilidade do coração. Vascularização Características Sistema Venoso Sistema Arterial Complacência (capacidade de aumentar o volume) Alta complacência; ou seja, com qualquer variação de pressão, as veias dilatam. ALTA ELASTÂNCIA. Pressão Baixa pressão Alta pressão; alto tônus. Capacidade de volume Reservatório sanguíneo de até 70% do volume total Reserva de apenas 30% de sangue. % de O 2 Pobre em oxigênio Rico em oxigênio, o qual nutre os tecidos. Pressão arterial Importante lembrar o conceito de pressão arterial. A pressão arterial varia de acordo com o débito cardíaco e a resistência vascular sistêmica. A resistência vascular sistêmica depende de três fatores: 1. Comprimento do vaso; 2. Viscosidade sanguínea; 3. Tônus vascular (diâmetro). Onde há a ação dos vasopressores. Pressão arterial = débito cardíaco X resistência vascular Débito cardíaco = volume sistólico X frequência cardíaca Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na infância I Choque O conceito de choque é o estado de hipoperfusão tecidual e hipóxia celular por desequilíbrio entre a oferta e o consumo de O 2 . Ou seja, vai além de hipotensão apenas. É muito mais relacionada ao consumo de oxigênio superando a oferta corporal de O 2 . Importante ressaltar também que a hipóxia pode derivar da disfunção celular e mitocondrial das células e a redução da pressão de enchimento capilar. Síndrome do Choque Circulatório: A síndrome do choque circulatório (ou apenas choque) acomete a circulação sistêmica, causando falência circulatória aguda e oferta deficitária de oxigênio para os tecidos. É tão comum que engloba um terço das internações em UTI. Fisiopatologia O choque, considerado uma condição clínica grave, é causado por um desequilíbrio, de origem cardiocirculatória, entre a oferta e a necessidade de oxigênio tecidual. Esse desequilíbrio gera uma necessidade corporal de realizar metabolismo anaeróbico e acidose láctica. Esses produtos metabólicos se acumulam, principalmente o CO 2 , por haver deficiência em sua excreção (perda da força capilar). O resultado final e preocupante do choque é a deterioração tecidual. Isso piora quando o choque atinge um estado em que os mecanismos compensatórios do próprio organismo não são mais suficientes, o próprio choque gera mais choque, uma vez que a má perfusão compromete de forma geral os tecidos corporais, inclusive o sistema cardiovascular. Os principais fatores fisiológicos envolvidos numa possível patologia hemodinâmica são relacionados ao oxigênio, sendo eles o transporte, o consumo e a extração. Transporte de Oxigênio A quantidade de oxigênio transportado pelo corpo por minuto (DO2) é o resultado da concentração arterial de oxigênio e do desempenho cardiocirculatório, que corresponde ao débito e ao índice cardíaco. A concentração arterial de O2 depende da quantidade de hemoglobina, da saturação arterial de O2 dessa hemoglobina e da pressão de O2 no sangue arterial. O débito cardíaco pode ser medido pela relação entre a frequência cardíaca e o volume sistólico, ou seja, corresponde ao volume ejetado pelo coração a cada sístole. Consumo de Oxigênio O consumo de oxigênio pode aumentar em situações como febre, agitação, hipermetabolismo e taquipneia. Extração de Oxigênio Quando, por qualquer motivo, há uma deficiência no transporte, as células dos diversos órgãos aumentam a extração do oxigênio que circula de forma livre ou ligado à hemoglobina, a fim de manter suas necessidades atendidas. Desse modo, por certo período, o consumo se mantém. No entanto, quando o transporte cai abaixo do ponto crítico no qual a extração já não mais consegue compensar, diminui-se também o consumo de oxigênio celular, gerando sofrimentos teciduais que podem resultar em falência de órgãos. Classificação A classificação do choque pode ser feita de duas formas, mas ambas se relacionam com os mecanismos compensatórios do choque. Essas duas classificações são de acordo com a pressao arterial, podendo ser compensado ou descompensado, e de acordo com o débito cardíaco, sendo o choque quente ou frio. Pressão Arterial Compensado: denomina-se dessa forma, pois os mecanismos compensatórios do organismo conseguem manter a pressão arterial em níveis normais. Com isso, o paciente apresenta os sintomas normais de choque, mas a pressão arterial sistólica é mantida. Descompensado: esse tipo de choque apresenta os mesmos sinais e sintomas que o compensado, porém apresenta hipotensão sistólica. Normalmente ocorre em casos mais graves e acentuados da condição do que o choque compensado. Débito Cardíaco Frio ou hipodinâmico: ocorre devido a queda do débito cardíaco, ocorrendo nos casos de choque hipovolêmico, cardiogênico e osbstrutivo. Devido ao mecanismo compensatório, há aumento da resistência vascular sistêmica (RVS), para auxiliar no aumento do débito. Dessa forma, o sangue é puxado das periferias, deixando os pulsos finos, a perfusão diminuida e a pele fria. Quente ou hiperdinâmico: consequência do aumento do débito cardíaco e da baixa resistência vascular periférica. Ocorre principalmente nos choques distributivos,principalmente o anafilático e o séptico. As principais caracteristicas são extremidades quentes, pele ruborizada e pulso filiforme (aumento do pulso periférico). Esse descontrole se deve à preservação da circulação em pele e músculos, mesmo tendo insuficiência em outros tecidos mais centrais. Tipos de Choque Hipovolêmico Caracterizado por redução do volume sanguíneo, sendo o tipo mais frequente de choque. Pode ser causado por hemorragia ou por perda de líquidos, como diarreia e vômitos. Com a diminuição do volume, há uma queda na pressão de enchimento capilar, e consequentemente a diminuição do débito cardíaco. O mecanismo compensatório é a ativação de três mecanismos, contração arterial, contração venosa e liberação de catecolaminas (aumentam a FC e a força da contração). Os sinais clínicos do choque hipovolêmico são claros. Há instabilidade hemodinâmica e, normalmente, quadro diarreico ou hemorrágico. Transporte de O2 = Concentração Arterial de O 2 (mL/dL)) X Índice Cardíaco Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na infância I Cardiogênico No choque cardiogênico há o prejuízo da perfusão sanguínea, resultado do baixo débito cardíaco. A causa principal dessa falência cardíaca é algum acometimento diretamente no órgão, como infarto agudo do miocárdio (necrose da parede ventricular), orovalvopatias, cardiopatias congênitas e arritmias. Igual ao hipovolêmico, há diminuição do débito cardíaco, gerando um mecanismo compensatório simpático. Porém a bomba cardíaca está prejudicada, o que vai gerar no aumento da pressão arterial e da FC. A longo prazo, esse mecanismo de compensação gera deterioração do miocárdio. Distributivo O choque distributivo é gerado pela vasodilatação periférica global, ocasionando a redução da pressão de enchimento circulatório (PEC). O fornecimento de oxigênio aos tecidos fica comprometido. Há preservação do débito cardíaco, porém com hipóxia tecidual sistêmica. Uma característica interessante do choque distributivo é o fato de ser o único choque em que ocorre vasodilatação, pois não há ativação do mecanismo compensatório que gera a vasoconstrição (a musculatura arterial não responde aos estímulos simpáticos, pois está extremamente lesionada). Há quatro tipos de causas que geram a vasodilatação, que dão origem aos quatro subtipos do choque distributivo. Neurogênico: ocorre devido à má perfusão tecidual pela súbita perda de tônus muscular. Esse tônus é garantido pelo sistema nervoso periférico autônomo, sendo necessário para a manutenção da PA e da PEC. A perda do tônus gera vasodilatação, diminuindo a pulsação arterial e o retorno venoso. Causa: acometimento do centro vasomotor no SNC. Isso ocorre por uso de drogas, fármacos, anestesia espinhal, anestesia geral profunda ou por lesão cerebral. Todos esses exemplos causam depressão do sistema vasomotor. Séptico: decorre a partir de uma infecção grave sistêmica (SEPSE). O local mais comum de ocorrer choque séptico é o ambiente hospitalar. Além disso, imunodeprimidos ou pessoas em pós-cirurgia também estão com o sistema imune depreciado e sujeitos ao choque. Os agentes causadores da infecção são produtores de toxinas que induzem à produção de mediadores inflamatórios como interleucinas, bem como a síntese de óxido nítrico. Essas substâncias têm uma potente ação vasodilatadora. Essa resposta inflamatória é crucial para o combate a infecções locais, e a vasodilatação local não causa grandes prejuízos. No entanto, em uma infecção acometendo todo o organismo, uma vasodilatação generalizada diminui a resistência vascular sistêmica e, consequentemente a PA e a PEC. A sepse gera aumento da permeabilidade vascular (perda de proteínas pelos rins), vasodilatação sistêmica, perda de plasma, intoxicação do endotélio (agravando a vasodilatação). Anafilático: a grande causa desse tipo de choque é a alergia. Ao sofrer uma reação alérgica, o organismo do paciente reage com uma interação antígeno-anticorpo, mediada por imunoglobulinas. A partir dos mastócitos, ocorre liberação de histamina, a qual produz vasodilatação. Esse mecanismo diminui o retorno venoso, a resistência vascular periférica, o tônus arterial. Isso além de gerar queda do DC, há extravasamento de plasma e de proteínas séricas. Pode ocorrer edema de glote, causando insuficiência respiratória. Obviamente que raros são os casos de alergias que causam choque anafilático. Isso decorre por causa do nível de hipersensibilidade do individuo ao antígeno ou à distribuição da reação alérgica. Crise adrenal: o choque derivado de uma crise adrenal é resultado da insuficiência nos níveis de cortisol circulantes (o qual é um importante vasoconstritor e mantém o tônus muscular vascular). Com essa função hormonal comprometida, há uma vasodilatação generalizada, gerando uma redução da PEC. As principais causas são atrofia da zona fasciculada do córtex adrenal, hemorragia adrenal ou defeitos congênitos que afetam a síntese de esteroides adrenais (hiperplasia adrenal congênita). Obstrutivo Causado por uma obstrução ou compressão do coração ou dos grandes vasos. Os principais acometimentos são pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco e tromboembolismo pulmonar. Pneumotórax hipertensivo: é uma situação aguda de compressão intratorácica. Os grandes vasos podem sofrer pressão externa, diminuindo seu calibre, e consequentemente, dificultando o ciclo cardíaco e causando o choque; Tamponamento cardíaco: acúmulo de líquido entre as lâminas parietal e visceral do pericárdio. Esse preenchimento líquido gera uma pressão ao redor de todo o coração, comprometendo sua dilatação na diástole, seu volume diastólico final, e consequentemente, há queda do débito cardíaco; Tromboembolismo pulmonar: trombos que se tornam êmbolos e são drenados para os finos capilares dos pulmões não é algo incomum. Quando isso acontece, os êmbolos estacionam e dificultam a hematose, além de não haver retorno venoso para o coração. Com a diminuição de volume chegando ao AE, pouco sangue oxigenado é levado ao organismo. Uma característica que deve ser atentada é a diminuição dos murmúrios à ausculta pulmonar ou timpanismo à percussão. Ocorre mais comumente em pacientes politraumatizados ou em ventilação mecânica. Choque Séptico SRIS A SRIS, ou Síndrome da Resposta Inflamatória Inespecífica, é uma reação do organismo contra traumas, infeções, queimaduras, pancreatite e etc. Para o diagnóstico ser de SRIS, o paciente deve ter pelo menos dois critérios laboratoriais, devendo um deles ser o da temperatura ou da contagem de leucócitos. São eles: 1. Temperatura central > 38,3 ºC ou < 36 ºC; 2. Taquicardia; 3. Frequência respiratória anormal para a idade ou necessidade de ventilação mecânica; 4. Nível de leucócitos aumentado ou diminuído para a idade. Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na infância I Sepse A sepse é o resultado de uma SRIS confirmada, na presença de uma infecção suspeita ou comprovada. Explicando melhor, a sepse é um estado em que pode ocorrer uma incapacidade do sistema circulatório em fornecer fluxo sanguíneo e oxigênio, causada por exacerbação da resposta inflamatória sistêmica (vasodilatação generalizada, aumento da permeabilidade dos vasos e acúmulo de leucócitos), que resulta em incapacidade de manter a pressão arterial e consequente diminuição na perfusão sanguínea para os órgãos vitais. Sepse Grave Quadro de sepse associada a uma disfunção cardiovascular ou a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), ou até mesmo na presença de duas ou mais disfunções sistêmicas (respiratória, renal, neurológica, hematológica ou hepática). Infecção Infecção suspeita ou comprovada (cultura, PCR) por qualquer patógeno ou síndrome clínica associada à alta probabilidade de infecção. Normalmente, apresenta: Púrpura ou petéquias na presença de instabilidade hemodinâmica; Febre e tosse na presença de leucocitose e/ou infiltrado pulmonar; Abdome distendido e timpânico na presença de leucocitose. Choque Séptico Na pediatria, o choque séptico é definido como um quadro de sepse associado a uma disfunção cardiovascular. Um fator importante para o diagnóstico é a não responsividade do organismo do paciente a administração de fluidos endovenosos (maior ou igual a 40 mL/Kg/h). Os fatores de não responsividade se enquadram nos seguintes pontos: Hipotensão abaixo do percentil 5%; Necessidade de drogas vasoativas para manter a pressão (dopamina, dobutamina, epinefrina ou norepinefrina); Acidose metabólica Lactato arterial aumentado; Oligúria abaixo de 0,5 mL/kg/h; Tempo de enchimento capilar > 5 segundos; Diferença entre a temperatura central e a periférica ser > 3ºC. Clínica O diagnóstico precoce de qualquer tipo de choque é extremamente importante para reduzir as chances de morbimortalidade daquele paciente. Isso pode ser assegurado a partir do conhecimento de potenciais riscos do paciente (alergias, cardiopatias congênitas, neuropatias, histórico de trauma ou diarreia/vômito) e da avaliação clínica dos sinais e sintomas. Importante saber os níveis de ocorrência do choque nas unidades emergenciais, levando em consideração qualquer faixa etária. São eles: 1. Distributivo: 2/3 dos choques são distributivos. Sépticos: 62% Não sépticos: 4% 2. Hipovolêmico: 16% (porém, na pediatria, o choque hipovolêmico é o mais comum). 3. Cardiogênico: 16% 4. Obstrutivo: 2% Diagnóstico Sinais e sintomas (todos os tipos de choque) Paciente não responsivo após 1h da ressuscitação hídrica (avaliação de gravidade); Taquicardia (um sintoma mais precoce); Oligúria; Alteração do índice de consciência; sinais mais tardios! Hipotensão arterial; Vasoconstricção sistêmica; Pele fria, pegajosa e levedo reticular, iniciado nos membros inferiores (principal sinal visual de choque); Tempo de enchimento capilar maior do que 2 segundos; Pulsos finos, com a pulsação periférica mais fina do que a central; PEC baixo; Taquidispneia; Resistência vascular sistêmica baixa (principal indicador de choque séptico); Débito cardíaco aumentado. Importante! A hipotensão arterial ocorre após os mecanismos compensatórios do organismo para manter a pressão arterial falharem (choque descompensado). Como dito antes, o percentil da escala que define a hipotensão na pediatria é o percentil 5. A referência da pressão por idade é: RN < 60 mmHg; Lactentes < 70 mmHg; Crianças > 2 anos: < 70 + (2 × idade). Já a oligúria ocorre devido à má perfusão renal. Considera-se oligúria menor que 1 mL/kg/h. Enquanto as alterações do nível de consciência são efeitos da deficiência na oferta de O2 para o SNC. Sinais e Sintomas (específicos do Choque Séptico) Pulsos filiformes (choque quente); Calor e rubor das extremidades, devido a vasodilatação que a sepse gera; Débito cardíaco mantido ou aumentado; Vasodilatação sistêmica; Taquicardia; Instabilidade térmica; Hipóxia; Hiperglicemia; Diminuição da RVS. Sinais laboratoriais Saturação venosa central de oxigênio menor do que 70%; Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na infância I Hiperlactatemia sérica (aumenta por causa da hipóxia, que vai levar o corpo a um mecanismo compensatório de respiração anaeróbica); o aumento também ocorre por causa da SEPSE; Pressão venosa central diminuída; pH diminuído; Bicarbonato de sódio diminuído; Acidose metabólica. Monitoração Exames laboratoriais Gasometria arterial; Gasometria venosa central (deve ficar entre 65-75% após a extração de oxigênio); Dosagem de lactato sérico (hiperlactatemia é sinal de acometimento hepático e acidose metabólica são sinal de choque); Eletrólitos; Exame de urina (caso haja acometimento renal); LCR (caso suspeite-se de meningite); Hemograma completo; Prova de atividade inflamatória; Prova de coagulação; PCR; Cultura; Exames bioquímicos: dosagem sérica de cálcio e glicose. Exame Clínico Avaliação da ausculta, da frequência e do ritmo cardíaco; Observação do padrão respiratório e da ausculta pulmonar; Observação da coloração da pele e das mucosas; Aferição a pressão arterial; Avaliação da perfusão periférica: temperatura das extremidades, amplitude dos pulsos periféricos e tempo de enchimento capilar; Determinação horária da diurese; Acompanhamento do nível de consciência: frequentemente observam-se irritabilidade e sonolência. Exames hemodinâmicos Na primeira hora do choque, deve conter: Oximetria de pulso; Monitoração cardíaca através de ECG; Controle da pressão arterial; Monitoração da temperatura; Monitoração do débito urinário. Após a primeira hora, acrescentar os parâmetro básicos: Pressão arterial média invasiva por meio da cateterização arterial; Pressão venosa central por meio da cateterização venosa central; Saturação venosa central de oxigênio pela coleta seriada ou pela monitoração contínua; Ecocardiograma seriado para avaliação do débito cardíaco e complacência da veia cava inferior; Ultrassonografia com Doppler do fluxo através da válvula aórtica ou pulmonar; Medida dinâmica do volume intravascular pela variação da pressão de pulso, isto é, diferença entre a pressão de pulso máxima na inspiração e mínima na expiração; Pressão intra-abdominal por meio da sondagem vesical. Tratamento Específico Conceitos principais 1. Oferta de oxigênio adequada; 2. Garantir acesso venoso; 3. Adequação de volemia; 4. Correção de distúrbios metabólicos; 5. Incluir terapia inotrópica e vasopressora. Dependendo do tipo de choque, o tratamento deve ser agressivo, além de o ideal ser o diagnóstico preciso e precoce. Dessa forma, o tratamento do choque deve restabelecer as condições normais de perfusão e oxigenação. Manejo inicial O manejo inicial para qualquer tipo de choque é a ressuscitação. O processo consiste em manter a ventilação e oxigenação através das vias aéreas. Manejo: 1. Aspiração das vias aéreas (suporte básico de vida); 2. Administração de oxigênio através de máscaras não- reinalantes. Além disso, controlar a temperatura e aplicar sedativos e analgésicos para a dor e agitação do paciente, podem auxiliar o manejo; 3. Intubação traqueal (nos casos de hipoventilação, queda do nível de consciência, instabilidade hemodinâmica grave e o aumento da frequência respiratória); 4. Acesso vascular (a mais indicada é a punção de veias periféricas calibrosas). O ideal é dois acessos, um central e um periférico. Uma opção substituta para o acesso vascular é a via intraóssea; 5. Inicia-se então a ressuscitação hídrica. Ressuscitação hídrica Tem o objetivo primordial de adequar a volemia circulatória e restaurar a perfusão tecidual. Critérios para a reposição volêmica: baixa perfusão sanguínea, pele mosqueada, tempo de enchimento maior de dois segundos, pele fria, hiperlactatemia, O 2 baixo e CO 2 baixo. Manejo: consiste em administrar soro fisiológico a 0,9% (bolus de cristaloide), 20 mL/kg em 5 a 20 minutos (porém o ideal é o mais rápido possível). A infusão dessa quantidade se continua na primeira hora de atendimento. Recomenda-se realizar um segundo acesso periférico, para a infusão de drogas vasoativas; Se for recém-nascido, administra-se 10 mL/kg; Júlia Santos, Medicina Desequilíbrios na infância I Outras opções de fluidos cristaloides são o ringer lactato, o ringer acetato e o plasmalyte. Já os fluidos coloides são a albumina, gelatinas e dextranas. A melhor escolha são os cristaloides devido ao menor preço, e dentre eles, o que mais se aproxima da solução orgânica é o ringer lactato. A fluido-responsividadese baseia no critério da curva de volume sistólico por débito cardíaco. Então a cada 500 mL de perfusão de líquidos, gera-se um aumento de 10% do débito cardíaco. Durante o processo de reposição, deve-se checar a frequência cardíaca, a pressão arterial, os pulsos, o tempo de enchimento capilar, o estado mental, a volemia e frequência urinária. Há também a necessidade de checar a pressão venosa central através de um acesso venoso central (e para a administração de drogas vasoativas, se houver necessidade). Importante ressaltar que a ausculta pulmonar é essencial para a checagem da presença de estertores ou ritmo de galope, para identificar se há sinal de sobrecarga volêmica. Expansões de volume Ocorre apenas se o paciente estabilizar e não houver sinais de sobrecarga hídrica. Manejo: continua-se com infusões hídricas, checando a pressão venosa central, a qual deve estar estável entre 8 a 12 mmHg. Drogas vasoativas A administração de drogas vasoativas em pacientes em tratamento de choque só é levada em consideração quando o paciente ainda tiver sinais de choque após a ressuscitação hídrica, ou seja, depois de dois ciclos de 20 mL/kg. As drogas mais utilizadas são a dopamina, a epinefrina, a norepinefrina, a dobutamina e a milrinona. Porém, no caso do choque séptico em crianças, a droga mais indicada é a dopamina em doses de 5-15 µg/kg/min. Os efeitos buscados são a vasoconstrição e o ionotropismo. Quando não há melhora, a segunda droga vasoativa administrada depende do tipo de choque. Crianças em choque frio recebem epinefrina (atua nos vasos), e norepinefrina (atua no coração e nos vasos) em choque quente, devido aos tipos de receptores da droga. Antibioticoterapia A antibioticoterapia precisa ser iniciada na primeira hora de tratamento, logo após a coleta de amostras de sangue, de líquidos e dos locais dos ferimentos (coloração do GRAM na cultura). Importante lembrar que a cultura deve ser feita antes de iniciar a antibioticoterapia, mas o médico não pode esperar o resultado para começar, pois quanto mais rápido possível, melhor o combate contra a inflamação. Se há suspeita de SEPSE GRAVE, a terapia empírica é iniciada imediatamente. O antibiótico escolhido nesse caso varia de acordo com a história clínica do paciente (pneumonia, infecção urinária). Manejo: 1. Administra-se fármacos de amplo espectro para bactérias GRAM positivas e negativas (o maior foco é nas bactérias de GRAM negativas por serem as mais comuns). A amplitude do espectro se estreita com base nos dados da cultura e da sensibilidade; 2. Deve haver a correção de distúrbios metabólicos adjacentes, principalmente em casos de acidose, hipoglicemia e hipocalcemia. Dessa forma, diminui-se o acometimento cardiogênico. 3. Os principais antibióticos usados são ceftriaxona (para a SEPSE), clindamicina (em caso de choque tóxico), e para recém-nascidos, a cefotaxima ou ampicilina. Administração de Corticoides Se não houver melhora com a ressuscitação hídrica e com a administração de drogas vasoativas, faz-se administração de corticosteroides, devido à insuficiência adrenal ou que possam desenvolver choque refratário à catecolaminas. Nesse caso, utiliza-se hidrocortisona em dose de estresse: 100 mg/kg de ataque. Em dose de manutenção, 100 mg/kg de 6/6 horas (no caso de lactentes, administra-se 50 mg). Correção de hipoglicemia e hipocalcemia Glicose A hipoglicemia (abaixo de 40 mg/dL) precisa ser rapidamente diagnosticada e tratada com glicose 25%, 2 a 4 ml/kg em bolo, visto que pode causar danos neurológicos. Cálcio A hipocalcemia é um distúrbio que frequentemente acontece e contribui para a disfunção cardíaca, devendo ser feita a reposição de cálcio à 1 a 2 ml/kg de gluconato de cálcio.
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