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Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina (Idiopatica) Objetivos 1. Conceituar edema generalizado, associando ao seu mecanismo osmótico; 2. Definir síndrome nefrótica, relacionado com a sua epidemiologia; 3. Conhecer as principais causas de síndrome nefrótica, associando com a sua fisiopatologia; 4. Conhecer as manifestações clínicas, relacionando com o seus exames complementares; 5. Analisar o tratamento da síndrome nefrótica, conhecendo seus aspectos gerais e farmacológicos; 6. Entender o prognóstico da síndrome nefrótica. Edema O conceito de edema é o acúmulo de líquido no espaço intersticial, podendo se formar de forma lenta ou brusca. Em relação ao volume, pode variar entre pequenos edemas (muito comuns nas extremidades dos membros) e edemas de grande dimensão, podendo preencher cavidades inteiras. O edema ocorre devido a um desequilíbrio nos mecanismos de controle da distribuição volêmica no espaço intersticial. Para que esse equilíbrio ocorra, duas pressões incidem nos vasos e no interstício. São elas a pressão hidrostática vascular e a pressão osmótica coloide. Pressão hidrostática vascular: força exercida pelo sangue dentro do capilar. O reflexo dessa força é de empurrar o líquido pra fora do capilar; Pressão osmótica coloide: produzida por proteínas plasmáticas, principalmente a albumina. O reflexo da pressão oncótica é puxar o líquido para dentro do vaso, sendo oposta à pressão hidrostática. Porém isso não impede de haver líquido no espaço intersticial. Uma pequena quantidade (5% do plasma) se acumula no interstício para que haja o equilíbrio, como um mecanismo compensatório. Os vasos linfáticos ficam responsáveis por drenar esse infiltrado. O desequilíbrio ocorre quando a pressão hidrostática aumenta e a osmótica diminui, provocando a saída de fluidos para o interstício. O líquido é do tipo transudato (pobre em proteínas). O edema pode ser formado de duas formas: 1. Localizado: cardíaco, periorbital, pulmonar, cerebral, nas extremidades; 2. Sistêmico: subcutâneo (intensificado pela gravidade). Causas Desregulação das forças hidrostática vascular e osmótica coloide (quando o sangue é pobre em proteína); Excesso de sódio; Hipervolemia (aumenta a pressão arterial, fazendo com que os capilares dos membros se rompam e líquido extravase); Insuficiências hepática (causando déficit de albumina) ou renal (desequilíbrio do filtrado); Obstrução linfática (a linfa extravasa para o interstício); Aumento da permeabilidade vascular, eliminando exsudato (rico em proteína). Importante ressaltar que esses mecanismos desequilibrados normalmente são removidos por drenagem linfática e retornam à circulação pelo ducto torácico. O edema será fruto de um desequilíbrio grande, o qual o sistema linfático não consiga drenar. Dependendo do local em que ocorre o edema, o nível de gravidade também varia. Tipos de edema Localizado Membros inferiores: são intensificados pela gravidade; Membros superiores; Pulmonar; Cardíaco; Cerebral: podendo ser citotóxico, vasogênico, intersticial ou de equilíbrio osmótico. Sistêmico O edema generalizado é formado pelo aumento de líquido em vários órgãos diferentes. Os principais mecanismos que causam a anasarca são: Redução da pressão osmótica: pode ocorrer por causa da insuficiência hepática, devido à diminuição da albumina, o que torna o sangue hipotônico; Insuficiência cardíaca: pacientes com baixo débito cardíaco (ativação do sensor renina-angiotensina-aldosterona nos rins), provocando retenção de fluidos e, consequentemente, congestão; Insuficiência renal. Fisiopatologia O movimento dos fluidos através do endotélio foi descrita por Starling, o qual demonstra que quando há alteração nas variáveis, ocorre o edema. Equilíbrio de Starling O fluxo normal de um fluido depende da permeabilidade do endotélio capilar e da diferença entre as pressões hidrostática do capilar e oncótica do meio. Fluxo capilar = Constante de permeabilidade capilar (Kf) x Pressão hidrostática (Pc) – Pressão oncótica (c) No leito arterial, a força prevalente é a hidrostática, empurrando o líquido para o meio, enquanto que no leito venoso, a força predominante é a oncótica, puxando e mantendo o sangue dentro do vaso. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Fisiologicamente falando, a pressão hidrostática capilar deve ser maior do que a pressão oncótica do plasma. Por causa disso, o fluxo de fluidos ocorre da cavidade intravascular para a intersticial. Quando há perturbação de alguma variável do Equilíbrio de Starling, ocorre o edema. Se envolver apenas um território capilar restrito, forma-se o edema localizado. Enquanto isso, a anasarca é provocada por modificações do mecanismo de controle volêmico. Síndrome Nefrótica A Síndrome Nefrótica (SN) é uma entidade clínica caracterizada pela perda proteica urinária maciça (>50 mg/kg/dia) e/ou hipolbuminemia (<2,5mg/dL). No quadro completo, além desses dois dados essenciais, podem coexistir edema generalizado e hiperlipidemia. Podendo, ocasionalmente, ocorrer hematúria e hipertensão arterial. Esse processo patológico se inicia com a perda da integridade da barreira de filtração glomerular, ocorrendo extravasamento de líquido através do espaço entre os podócitos. Essa ruptura pode ser causada por diversas doenças diferentes, sendo caracterizada em duas, a primária e a secundária, esta última consiste na consequência de doenças associadas, como síndromes metabólicas, infecções, doenças autoimunes ou sistêmicas. Características A síndrome nefrótica idiopática caracteriza-se essencialmente pela presença de: Proteinúria maciça de caráter nefrótico (proteína ≥ 50mg/kg/dia) ou (proteína ≥ 40mg/m 2 /hora); Relação entre proteína/creatinina em amostra isolada, sendo definida como proteinúria nefrótica quando essa relação é > 2 em mg/mg; Hipoalbuminemia (≤ 2,5 g/dL); Edema; Hiperlipidemia; Lipidúria (presença de lipídios em excesso na urina). Epidemiologia Na infância, a síndrome nefrótica é majoritariamente primária, ou idiopática, correspondendo a 80-90% dos casos. Apenas 10% equivalem a causas secundárias como associação com doenças sistêmicas, metabólicas, autoimunes, infecções e drogas. A taxa de prevalência de casos no Brasil é de 16 pessoas por cem mil habitantes, sendo duas vezes mais comuns em meninos. Importante ressaltar que a faixa etária mais propícia à doença é no início da vida. Síndrome Nefrótica Idiopática As principais variantes histopatológicas de SNI na criança são a lesão histológica mínima (LHM) e a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), observando-se o aumento desta variante nos últimos anos. A maioria dos pacientes com SNI (80 a 90%) responde à corticoterapia inicial, obtendo-se remissão completa. Nesses pacientes, portadores de síndrome nefrótica corticossensível (SNCS), o prognóstico é bastante favorável quando comparado com aqueles que não respondem, ou seja, corticorresistentes (SNCR). Síndrome Nefrótica Secundária A SN de causa secundária pode ser decorrente das mais diversas causas etiológicas. Durante o 1º ano de vida, mutações genéticas, infecções bacterianas, virais, parasitárias entre outras causas, constituem etiologia importante de SN. Atualmente, nos casos congênitos, sindrômicos e familiares e nos casos corticorresistentes, cada vez mais se associa a presença de mutações genéticas. Etiologia A barreira filtradora glomerular contém três elementos estruturais que formam a barreira seletiva e produzem o filtrado: 1. O endotélio; 2. A membrana basal glomerular (MBG); sendo esta composta por proteínas de carga negativa, ou seja, com carga igual às proteínas séricas, repelindo-as e mantendo-as dentro dos vasos; 3. Células epiteliais podocitárias. A síndrome nefrótica apresenta etiologia com disfunçãopodocitária (podocidopatia), desorganização estrutural da barreira e perda da eletronegatividade da membrana basal glomerular. A excreção de grandes quantidades de proteína através da barreira de ultrafiltração glomerular (BUFG) seria decorrente de agravos diversos sobre seus componentes, determinando o aumento da permeabilidade às proteínas plasmáticas. Além da ruptura da barreira de filtração glomerular, os fatores que auxiliam a síndrome nefrótica são: Perda de cargas elétricas negativas da membrana basal glomerular (MBG); Mutações e alterações de proteínas dos podócitos, alterando o citoesqueleto da barreira; Disfunção podocitária (podocidopatia); Desorganização ou disfunção dos componentes da fenda diafragmática; Presença de anticorpos, fatores circulantes e diversas anormalidades imunológicas; Desregulação de mecanismos de genes relacionados à maturação e diferenciação de linfócitos T; Impacto de infecções virais no DNA celular. (Podocitos) Os podócitos são células do epitélio visceral dos rins que formam um importante componente da barreira de filtração glomerular, contribuindo para a seletividade de tamanho e mantendo uma superfície de filtração massiva. A principal função dos podócitos é restringir a passagem de proteínas do sangue para a urina. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Fisiopatologia Podocitopatia Esse mecanismo é chamado distúrbio de dois golpes. O primeiro golpe seria a ação de citocinas, alérgenos, toxinas microbianas, os quais induzem a expressão podocitária de CD80. O segundo golpe consiste na disfunção do mecanismo natural que regula e inibe a expressão podocitária, como as células T regulatórias (Treg), o qual determinaria uma limitação na autorregulação do podócitos. Isso reafirma a proteinúria e a injúria glomerular. Além da passagem anormal de proteínas em razão do aumento da permeabilidade da membrana basal glomerular (MBG), outro fator importante que contribui para determinar a proteinúria é a redução da reabsorção proteica pelas células epiteliais do túbulo proximal e uma disfunção da endocitose e da ligação das proteínas com receptores da membrana apical tubular. Betaintegrinas: outro fator que induz a proteinúria é o alto nível sérico de ativadores de plasminogênio. Esses ativadores ativam as betaintegrinas, induzindo processos celulares que modificam o citoesqueleto da barreira de filtração glomerular, o que ocasiona em proteinúria. Disfunção imunológica e fatores circulantes Observa-se participação de citoquinas na patogênese da LHM e do provável papel das células T helper com associação de atopia e alergia, aumento de IgE, indução de c-maf. Tanto os linfócitos como os podócitos estão envolvidos na patogênese da LHM e que ela provavelmente resulte da interação entre fatores humorais e uma disfunção podocitária. Ocorre uma ativação dos linfócitos T na fisiopatogênese da LHM com estímulo direto sobre os podócitos por meio de gatilhos, como infecções virais, bacterianas, alérgenos e citoquinas, promovendo aumento da expressão de CD80 (coestimulador de células T) e desorganização do citoesqueleto dos podócitos, o que gera proteinúria. Além disso, no quadro de proteinúria, a angiotensina II tem papel importante na reorganização do citoesqueleto podocitário e sua inibição por meio do uso de drogas constitui uma estratégia terapêutica. Celular e Molecular Proteinúria, Hipoalbuminemia e Edema A formação do edema na síndrome nefrótica se inicia com a queda nos níveis séricos de proteína, gerando uma proteinúria e uma hipoalbuminemia. Como visto anteriormente, as proteínas séricas são importantíssimas para manter a pressão oncótica plasmática. Com essa queda brusca da pressão coloidosmótica, ocorre a transudação de líquido dos vasos para o espaço intersticial. Enquanto o líquido intersticial é do tipo transudato (pobre em proteína), a urina contém grande quantidade de exsudato (rico em proteína). Essa seria caracterizada como teoria do hiperfluxo. Seguindo outra teoria, chamada de teoria do hiperfluxo, o edema ocorre devido à retenção primária intrarrenal de sódio e água. A resistência ao peptídio natriurético atrial (PNA) associada à ativação dos canais epiteliais de sódio (ENaC) por proteases (como a plasmina) nos ductos coletores promove retenção hídrica e salina que contribui na formação do edema. Hipertensão A redução do volume intravascular diminui a pressão de perfusão renal, ativando o sistema renina-angiotensina- aldosterona, o que estimula a reabsorção tubular de sódio. O volume intravascular reduzido também estimula a liberação de hormônio antidiurético (ADH), o que aumenta a reabsorção de água no ducto coletor. Hiperlipidemia e Lipidúria A hipoalbuminemia estimula a síntese proteica generalizada no fígado, incluindo síntese de lipoproteínas. Dessa forma, as proteínas são utilizadas e os lipídios são secretados na corrente sanguínea. Além disso, o catabolismo lipídico diminui por causa da excreção em excesso da lipase (enzima que quebra as moléculas de lipídeos) na urina. Histológica Lesão Histológica Mínima - LHM À microscopia óptica, os glomérulos são normais, as paredes dos capilares glomerulares são finas e não há proliferação celular ou somente proliferação mesangial mínima. O lúmen do capilar é normal e edema intersticial é raro. A lesão tubular é discreta relacionada ao aumento da reabsorção de proteínas e à presença de lipídios nas células epiteliais tubulares. Os glomérulos raramente mostram baixa fixação de IgM e C3 em mesângio, apesar de haver lesões glomerulares acometendo os podócitos e o mesângio. Mesmo assim, a membrana basal apresenta espessura e estruturas normais. Achados principais: hipoalbuminemia, proteinúria e edema. Não há hematúria, uremia ou hipertensão, e a função renal é preservada; Apresenta recidivas frequentes. Glomeruloesclerose Segmentar e Focal A GESF, por definição, acomete um número limitado de glomérulos. As lesões acometem inicialmente os glomérulos justamedulares, em seguida tornando-se mais generalizadas. Nos seguimentos escleróticos, existe colapso das membranas basais, aumento da matriz mesangial e depósitos hialinos. Com o tempo, ocorre esclerose total dos glomérulos com acentuada atrofia e fibrose intersticial, levando ao colapso total do glomérulo. Além disso, os glomérulos afetados apresentam baixa fixação mesangial de IgM e C3. Já as áreas glomerulares não escleróticas mostram perdas difusas dos pedicelos com desnudamento acentuado, podendo ser focal, das células epiteliais. Encontram-se ainda, material amorfo eletrodenso e grânulos lipídicos nas áreas escleróticas. Clínica Quadro clínico A principal manifestação clínica da SN, embora sua presença não seja essencial para o diagnóstico, é o edema, que, em LHM, geralmente é intenso, mole, frio, depressível, sujeito à ação da (histologia) Os dois achados principais para a síndrome nefrótica idiopática são lesão histológica mínima (LHM) e glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF). A LHM é observada na maioria das crianças e são em 90- 95% dos casos sensíveis à corticoterapia. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina gravidade, em geral insidioso, podendo evoluir para anasarca (quando generalizado). Sinais e Sintomas Edema; Taquipneia (devido à compressão torácica); Derrame pleural; Aumento do volume dos órgãos genitais, principalmente no sexo masculino; Desnutrição; Cabelos escassos, finos e quebradiços; Pele seca, quebradiça, tendenciada a formar estrias; Hipertensão transitória (não ocorre em todos os casos); Hipertensão arterial (principalmente na GESF); Cãibras, parestesias, convulsões (geradas por distúrbios hidroeletrolíticos); Dor abdominal gerada por peritonite primária ou celulites abdominais; Pode ter ou não inflamação glomerular; Processosalérgicos atópicos (nas vias aéreas ou na pele). Quadro Laboratorial O quadro laboratorial da síndrome nefrótica Proteinúria (achado mais importante!) Proteinúria > 50mg/kg/dia ou > 40mg/m 2 /h Proteína +++ (fita reagente urinária) Hipoalbuminemia Albumina urinária > 3,0g/dL/dia Hipoalbuminemia ≤ 2,5mg/dL Proteína por creatinina sérica P/Cr ≥ 2 ou ≥ 300mg/dL Edema focal ou generalizado; Hipercolesterolemia; LDL > 200mg/dL Distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalemia, hiponatremia e hipocalcemia); Uremia (elevação da taxa de ureia no sangue), provocando náuseas, vômitos, cefaleia; não é comum na LHM; Deficiência de vitamina D; Sinais de descalcificação óssea (por causa das alterações do cálcio, fósforo e no metabolismo da vitamina D). Diagnóstico Exames Sedimento Urinário Além de proteinúria, em 25% dos pacientes com LHM, há hematúria, geralmente microscópica. Observa-se cilindrúria (presença de cilindros renais na urina) relacionada às perdas proteicas e lipidúria. Proteinúria Considera-se a proteinúria nefrótica acima de 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m²/hora. Em amostra isolada de urina, valores > 2 são compatíveis com proteinúria nefrótica. O teste com ácido sulfossalicílico a 10% é um método alternativo e útil, principalmente no acompanhamento ambulatorial. Eletroforese de Proteínas Plasmáticas São observados hipoalbuminemia e aumento da fração alfa-2. A IgG, especialmente IgG-1 e IgG-2, apresenta-se muito baixa, e a IgA e a IgM, elevadas. A IgE também pode estar aumentada e observa-se hipogamaglobulinemia na SNI. A presença de hipergamaglobulinemia pode ser indicativa de patologia secundária subjacente. Colesterol Os níveis séricos do colesterol total, triglicérides e lipoproteínas acham-se elevados. A hiperlipidemia é consequência do aumento da síntese hepática de colesterol, triglicérides e lipoproteínas, compensando a hipoalbuminemia; da redução no catabolismo das lipoproteínas decorrente do aumento da atividade das lipases lipoproteicas; da perda urinária de HDL; e da redução da atividade do receptor de LDL. Complemento Apresenta-se normal na LHM e na GESF; a constatação de hipocomplementemia é indicação formal para biópsia renal, podendo estar presente, por exemplo, no lúpus eritematoso, na glomerulonefrite membranoproliferativa, na glomerulonefrite crescêntica e na nefrite do shunt. Ureia e Creatinina Podem estar elevadas na instalação do edema ou em situações de hipovolemia. Na GESF, pode-se encontrar aumento persistente. Devem ser pesquisadas causas secundárias com solicitação de reações sorológicas para HIV, hepatite A, B e C, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e mononucleose. Biópsia Renal (BR) O diagnóstico de LHM é dado para crianças entre 1 e 10 anos, com sintomatologia nefrótica e complemento sérico normal. A criança não tratada ou que não responde bem à terapia apresenta-se adinâmica, evoluindo com ascite e hepatomegalia. Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina Nesse grupo, classicamente, aquelas que não obtiverem remissão clínica e laboratorial após 8 semanas de corticoterapia seguidas ou não de 3 doses de pulsoterapia com metilprednisolona, desde que não estejam infectadas, devem ser biopsiadas, pois provavelmente apresentam outros padrões histológicos. Outras indicações para BR são: Crianças com idade < 1 ano ou > 10 anos; Hematúria macroscópica ou hematúria microscópica persistente; Hipertensão grave; Disfunção renal; Hipocomplementenemia; Sintomas extrarrenais (p.ex., exantema, púrpura); Síndrome nefrótica corticorresistente; Planejamento de introdução de inibidores de calcineurina (ciclosporina, tacrolimo) e para avaliação periódica de potencial nefrotoxicidade (p.ex., a cada 2 anos). Tratamento Inespecífico Edema Durante fases de edema ou hipertensão arterial, indica-se dieta hipossódica ou assódica, a qual é a primeira medida a ser tomada. Avalia-se também a existência de hipovolemia, taquicardia, pulsos fracos, extremidades frias, hipotensão, hemoconcentração, elevação do nível de ureia e baixa excreção de sódio ( < 0,5%). Manejo: Infusão de solução salina 15 a 20 mL/kg por 20 a 30 minutos e repetir conforme necessário; A infusão de albumina 20% (0,5 a 1 g/kg) é útil para aqueles pacientes que não respondem à expansão inicial; Em casos de anasarca, administra-se diuréticos tiazídicos, como a hidroclorotiazida (2 a 5 mg/kg/dia em 2 tomadas); Evita-se a depleção de potássio usando reposição com cloreto de potássio (2 a 4 mEq/kg/dia) ou espironolactona (1 a 5 mg/kg/dia); Em casos de pacientes resistentes a diuréticos tiazídicos, aplica-se diuréticos de alça, como a furosemida (1 a 5 mg/kg/dia). Específico Corticoides O tratamento específico da síndrome nefrótica consiste em uma corticoterapia. É neste momento em que separa-se os pacientes corticossensíveis dos corticorresistentes. A droga de escolha é a prednisona diária (60mg/m 2 ou 2mg/kg/dia). A dose máxima é a de 60mg/dia ou dose única (sugerido por especialistas), durante 4 a 6 semanas. Se houver remissão, 40 mg/m 2 ou 1,5 mg/kg em dias alternados em dose única pela manhã (máximo de 40 mg/dia) por 4 a 6 semanas. Esse esquema é mantido por 6 meses, com diminuição lenta e progressiva da dose, caso a remissão se mantenha. Corticorresistentes: utiliza-se pulsoterapia adicional com metilprednisolona (MP) à 30mg/kg/dose, sendo o máximo de 1g, em dias alternados, 3 a 6 doses. Se houver remissão completa, mantem-se o esquema por 1 ano, diminuindo a dose lentamente. Vigilância: durante o tratamento, é importante haver controle da pressão arterial, monitoramento da função hepática e renal, e tratamento precoce contra infecções (pois estas podem causar descompensação). Em casos de infecção, utiliza-se corticoesteroide diário na dose de manutenção por 5 a 7 dias. Manejo – SNCR e GESF Em casos de glomeruloesclerose segmentar e focal ou síndrome nefrótica corticorresistente, o tratamento consiste em uma combinação de imunossupressor + corticoterapia (p.ex., baixas doses e em dias alternados) + estratégia antiproteinúrica com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) e/ou bloqueadores do receptor da angiotensina (BRA). Por causa da baixa resposta desses pacientes à corticoterapia, há grande risco de uma doença renal crônica terminal. Exames Lesão Histológica Mínima Glomeruloesclerose Sedimento Urinário Hematúria, cilindrúria e lipidúria - Eletroforese Hipoalbuminemia; Baixa de IgG, mas com IgA e IgM elevadas; Hipogama- globulinemia Hipergama- globulinemia Colesterol Hiperlipidemia Hiperlipidemia Complemento Complemento sérico normal Complemento sérico normal Ureia e Creatinina Uremia (na instalação do edema) Ureia e creatinina séricas com aumento persistente Biópsia Renal Outros padrões de lesão histológica - Nos edemas volumosos e persistentes, associa-se albumina à furosemida, com infusão lenta parenteral para redução do potencial de ototoxicidade, que, proporcionando aumento transitório da pressão oncótica plasmática e do ritmo de filtração glomerular, facilita a liberação do diurético nos locais onde ocorre a reabsorção de sódio, melhorando a resposta natriurética. (Labstix) Esse teste é realizado no exame de urina para checar proteinúria e analisar o avanço no tratamento do paciente. Se o exame dá negativo, o tratamento com prednisona é feito até 6 semanas. Se der positivo, ou seja, corticorresistência, faz o esquema descontínuo (dias alternados até 6 semanas). Desequilíbrios na Infância I Júlia Santos, Medicina